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O CASO DO DANO AMBIENTAL

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O CASO DO DANO AMBIENTAL 
 
 Uma grande porção de terra na Amazônia Legal, contendo “mata nativa” e “espécies raras”, foi alvo de um incêndio provocado por interesses imobiliários e especulativos. O proprietário do latifúndio agora se defende em juízo da acusação de crime ambiental, mas se defende alegando atender a “função social da propriedade”, conceito extraído da Constituição Federal de 1988, para poder torná-la produtiva e, inclusive, para evitar invasões, dada a instabilidade social da região. 
 A promotoria ambiental alega a necessidade de proteção de mananciais, flora e fauna, e danos ambientais causados pelo método agrícola da queimada, com a poluição ambiental e degradação do solo, utilizando-se da mesma Constituição Federal de 1988, que procura promover a “proteção ao meio ambiente”. 
 A região é fundamentalmente agrícola, de população pobre e/ou indígena, os meios de sobrevivência são difíceis e as oportunidades de trabalho sempre muito rústicas. Os proprietários têm grande influência política nas Câmaras Municipais, e os vereadores atuam diretamente em favor dos interesses ruralistas, havendo ameaças à vida contra magistrados e promotores na região. Não por outro motivo, em geral, as decisões tendem a ter inclinação em favor dos grandes proprietários de terra. 
 No processo judicial, a discussão jurídica fundada na legislação gira em torno da definição de “manejo sustentável”, com base no inciso VII do art. 3º da Lei n.12.651/2012 ( Código Florestal) onde se pode ler:  
“Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por: (...)VII - manejo sustentável: administração da vegetação natural para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo e considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies madeireiras ou não, de múltiplos produtos e subprodutos da flora, bem como a utilização de outros bens e serviços”.  
 A controvérsia de posições se instaura no âmbito da interpretação do conceito de “manejo ambiental”, tendo-se presente os interesses divergentes entre os pólos da ação, de um lado, o Ministério Público do Meio Ambiente e a fiscalização ambiental pela proteção do meio ambiente, e, de outro lado, o fazendeiro e os interesses de exploração da terra. Assim: 
1- Elabore a interpretação da Constituição e da legislação, tendo como centro o conceito de “manejo sustentável”, considerando os interesses do proprietário; 
A construção do conteúdo da função ambiental da propriedade está inserida no macro conceito “função social da propriedade” que parte da própria Constituição Federal, especificamente nos dispositivos contidos no Capítulo I do Título II (dos direitos e deveres individuais e coletivos), do Capítulo I do Título VII (dos princípios gerais da atividade econômica), do Capítulo III do Título VII (da política agrícola e fundiária e da reforma agrária) e do Capítulo VI do Título VIII (do meio ambiente).
O Código Civil Brasileiro o artigo 1.228, § 1o, traz o seguinte:
 (…) § 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. § 2o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.
Ainda assim, como visto alhures, a Constituição Federal Brasileira não conceituou o que chamou de função social da propriedade, de modo que se intui ter o legislador constituinte, no afã de construir uma constituição forte, deixado de engessar institutos a par de promulgar um documento histórico e ao mesmo tempo, propiciando à sociedade o preenchimento dos conceitos de acordo com o seu tempo.
O movimento constitucionalista atual busca, dentre outros objetivos, o desenvolvimento econômico e ambiental. Desta forma, impossível se apresenta a concretização de um direito dissociado da necessária preservação ambiental, ao passo de chegar-se à conclusão que é da essência do sistema brasileiro que o direito de propriedade só seja reconhecido pela ordem jurídica do Estado se for cumprida a função social, dentro dela a função ambiental.
Nesta senda, quando se diz que a propriedade privada tem uma função social ambiental, na verdade está se afirmando que ao proprietário se impõe o dever de exercer o seu direito de propriedade, não mais unicamente em seu próprio e exclusivo interesse, mas em benefício da coletividade, sendo precisamente o cumprimento da função ambiental que legitima o exercício do direito de propriedade pelo seu titular. Nesses termos, ao estabelecer no art. 186, II, que a propriedade rural cumpre a sua função social quando ela atende, entre outros requisitos, à preservação do meio ambiente, na realidade, a Constituição Brasileira está impondo ao proprietário rural o dever de exercer o seu direito de propriedade em conformidade com a preservação da qualidade ambiental. E isto no sentido de que, se ele não o fizer, o exercício do seu direito de propriedade será ilegítimo.
Com o intuito de esclarecer a coexistência entre o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, corolário do direito à vida, juntamente com o direito real à propriedade privada, objetivou-se analisar duas frentes do direito, quais sejam, a de direito público e de direito privado para extração da posição prevalente sob a luz dos mecanismos de interpretação das leis.
Sob a ótica do direito eminentemente privado o instituto propriedade não mais é o mesmo. O Código Civil Brasileiro de 2002, em seu artigo 1.228, parágrafo primeiro, assevera que “o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas”.
Por seu turno, o direito público brasileiro, capitaneado pela Constituição de 1988 é categórico em afirmar que “a propriedade atenderá a sua função social”, ex vi legis do art. 5º, XXIII, da CF e que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”, art. 225, caput, da CF.
A função social da propriedade não se confunde com os sistemas de limitação da propriedade. Estes dizem respeito ao exercício do direito, ao proprietário; aquela, à estrutura do direito mesmo, à propriedade [ ] Com essa concepção é que o intérprete tem que compreender as normas constitucionais, que fundamentam o regime jurídico da propriedade: sua garantia enquanto atende sua função social, implicando uma transformação destinada a incidir, seja sobre o fundamento mesmo da atribuição dos poderes ao proprietário, seja, mais concretamente, sobre o modo em que o conteúdo do direito vem positivamente determinado; assim é que a função social mesma acaba por posicionar-se como elemento qualificante da situação jurídica considerada, manifestando-se, conforme as hipóteses, seja como condição de exercício de faculdades atribuídas, seja como obrigação de exercitar determinadas faculdades de acordo com modalidades preestabelecidas. Enfim, a função social se manifesta na própria configuração estrutural do direito de propriedade, pondo-se concretamente como elemento qualificante na predeterminação dos modos de aquisição, gozo e utilização dos bens.
 
2- Elabore a interpretação da Constituição e da legislação, tendo como centro o conceito de “manejo sustentável”, considerando os interesses de proteção ao meio ambiente. 
O artigo 225 da Constituição Federal demonstra a preocupação do constituinte com o desenvolvimento sustentávelno ordenamento jurídico pátrio, pois prevê o direito de todos indivíduos ao usufruto do meio ambiente saudável, considerando o dever do Estado de intervir quando houver dano a esse direito coletivo. A previsão alcança a geração presente e a futura, sendo exatamente essa a grande causa de defesa do desenvolvimento sustentável, a preservação do ecossistema que precisa permanecer vivo para as futuras gerações.
Manejo Florestal Sustentável é a administração da floresta para obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo e considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies madeireiras, de múltiplos produtos e subprodutos não-madeireiros, bem como a utilização de outros bens e serviços florestais.
Explorar produtos e serviços florestais em áreas tropicais, é uma tarefa de elevada complexidade e, de fato, a ciência ainda não avançou o suficiente para responder a muitas questões envolvidas neste tema. O maior desafio da conservação das florestas tropicais é o manejo sustentável dos recursos, ou seja, explorá-los de uma forma tão meticulosamente planejada que esta exploração não afete a biodiversidade existente.
A aplicação das técnicas de manejo florestal busca reduzir os impactos da exploração e garantir a sustentabilidade da produção florestal por meio do planejamento da colheita e do monitoramento do crescimento da floresta.
Dessa forma, o manejo se baseia nos princípios de distúrbios naturais, que estão ligados à dinâmica de mosaicos de florestas secundárias, de forma que as florestas manejadas devem seguir uma evolução semelhante às florestas originais.
Assim, o manejo florestal sustentável é a forma para cuidar e utilizar a floresta para que continue crescendo e produzindo todos os bens e serviços florestais que possam ser explorados nesta área.
Um sistema de manejo envolve múltiplas atividades inter-relacionadas, como os processos de colheita de produtos florestais madeireiros e não-madeireiros, os tratamentos silviculturais e o monitoramento da floresta remanescente, visando melhorar sua qualidade, produtividade e, sobretudo, perpetuá-la.
A eficiência e sustentabilidade do manejo das florestas tropicais naturais estão associadas à qualidade das operações de colheita da floresta e dos tratamentos silviculturais, bem como à conservação da base de recursos florestais que lhes dão sustentações ecológica, econômica e social.
A aplicabilidade de um plano de manejo está relacionada diretamente ao conhecimento da composição florística, da estrutura fitossociológica e das distribuições diamétrica e espacial das espécies.
O primeiro passo para a exploração da área é a elaboração do Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS), o qual pode ser interpretado como um plano do uso sustentável da floresta. Nele, são apresentadas as técnicas florestais para a extração dos produtos e/ou uso dos serviços florestais, estabelecendo como será feita a administração e o gerenciamento da atividade, sempre optando pela escolha de técnicas que causem o mínimo de danos ambientais e os maiores benefícios para a floresta e para os trabalhadores.
Portanto observa-se a forte presença de um dever ao desenvolvimento sustentável; o mesmo começa no Estado e deságua individualmente em cada cidadão. A sustentabilidade é o meio de assegurar o Direito à vida, à dignidade da pessoa humana, à liberdade e ao meio ambiente saudável. É ao mesmo tempo direito do povo e também seu dever.
A sustentabilidade é caminho de mão dupla, cabe ao Estado, às empresas, aos indivíduos, representa o atalho para uma vida melhor, onde seja possível experimentar o Direito trazido na Constituição Federal em sua forma mais pura.
É fundamental integrar esses conhecimentos para manejar a floresta para uma estrutura balanceada que possibilite harmonizar os conceitos de fitossociologia, produção sustentável de madeira e as regras impostas pela legislação florestal e ambiental.
Os responsáveis pela colheita devem considerar o aspecto social da floresta e as práticas de regeneração, além da biodiversidade para que o manejo sustentável das florestas naturais se mostre passível de ser alcançado.
Assim o plano de manejo florestal transforma-se gradualmente numa ferramenta de manejo em substituição a um simples requisito oficial. Comunidades, indústrias e governos têm apresentado interesse crescente na promoção de sistemas florestais que incluam, além da exploração madeireira, produtos e benefícios derivados das florestas de forma a conservar os ecossistemas.
O conceito de Manejo Florestal passa assim a resgatar a atividade do homem e das futuras gerações com base no desenvolvimento sustentável, indo além do fluxo contínuo de produtos através dos tempos.
O direito à sustentabilidade atinge várias obrigações legais, como a de preservar a vida, não apenas humana, mas em sua diversidade. A preservação da vida inclui defender a utilização racional dos meios naturais; pois conforme o artigo 225, caput da CRFB/88, é competência do Estado e de toda à coletividade a defesa dos recursos naturais, pois são bens de domínio público e de uso comum.

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