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Noções gerais sobre a origem do estado

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NOÇÕES GERAIS SOBRE ORIGEM DO ESTADO E ESTADO MODERNO. 
Eduardo da Rosa Ramos
1
 
 
INTRODUÇÃO 
Os conceitos de Estado são variados e possuem, cada qual, diversidades referentes às 
correntes doutrinárias ou ao ideário teórico dos que os propõe, bem como o momento histórico da 
concepção, entre outros fatores. Além disto, o Estado é um ente dotado de complexidade extrema, 
podendo ser analisado sob inúmeros enfoques, como político, jurídico, sociológico, etc. 
Neste trabalho pretende-se apresentar noções teóricas e históricas de várias correntes, de 
vários pensadores sobre o tema Estado, sem tentar fechar a possibilidade de futuras e maiores 
discussões sobre o tema. 
 
1. ORIGEM DO ESTADO 
 
 O termo Estado provém do latim status significando, de forma literal, estar firme. Segundo 
definição de Fernando de Azevedo, o referido termo pode ser definido como “fixo, imóvel, 
decidido, regular e constante”
2
, empregado para designar uma condição geral de estado, de ser, 
como, por exemplo, status libertatis. 
 O Estado, hodiernamente concebido, significa uma situação durável de convivência de 
uma sociedade politicamente organizada, ou ainda, citando o conceito da doutrina tradicional, o 
“Estado é a Nação politicamente organizada”
3
. 
 O conceito de Estado mais difundido, segundo Manuel Gonçalves Ferreira Filho é o que 
estabelece ser ele “uma associação humana (povo), radicada em base espacial (território), que 
vive sob o comando de uma autoridade (poder) não sujeita a qualquer outra (soberania)”
4
. Nesta 
noção se encontram presentes os elementos do Estado, quais sejam, povo, território, poder e 
soberania. 
 Salienta Giorgio Del Vecchio que o Estado é “a unidade de um sistema jurídico que tem 
em si mesmo o próprio centro autônomo e que é possuidor da suprema qualidade de pessoa”
5
. 
 Hely Lopes Meirelles compila várias noções de Estado, afirmando, com fundamento em 
vários doutrinadores, que o Estado pode ser conceituado, analisando-se aspectos sociológicos, 
políticos, jurídicos, entre outros. Sob o aspecto sociológico, Estado pode ser definido como 
“corporação territorial dotada de um poder de mando originário (Jellinek)”; sob o prisma político, o 
Estado “é comunidade de homens, fixada sobre um território, com potestade superior de ação, de 
mando e de coerção (Malberg)”; constitucionalmente, o Estado “é pessoa jurídica territorial 
soberana (Biscaretti di Ruffia)”
6
. 
 Para Geörg Jellinek, “o Estado, enquanto ser social é uma realidade histórico-cultural; 
enquanto objeto do Direito, ser jurídico, é uma abstração ideal”
7
, isto é, o Estado possui uma 
personalidade social e uma personalidade jurídica. 
 Hans Kelsen, por sua vez, nega a realidade social, analisando o Estado sob a ótica de 
realidade jurídica, considerando-o “uma pessoa jurídica, ou seja, como uma corporação”
8
; de igual 
forma, Duguit conceitua o Estado como “criação exclusiva da ordem jurídica e representa uma 
organização da força a serviço do direito”
9
. 
 Ao conceituar o Estado, Alexandre Groppali assim se manifesta: “O Estado, 
inegavelmente, significa o domínio dos mais fortes e organiza os serviços públicos, mas seria 
revelar um conceito unilateral da realidade, o de não se admitir que é no interesse da coletividade 
também que esse domínio é exercido e que o Estado, além dos serviços públicos, deve visar 
outros fins mais altos, de natureza ética e social, que perduram no tempo, se não quer 
transformar-se, degradando-se, em um mero órgão técnico de administração”
10
. 
 
1
 EDUARDO DA ROSA RAMOS. Bacharel em Direito pela UNESP/Franca, Mestre em Direito Público pela UNIFRAN. 
Docente do Curso de Direito, Centro Universitário da Fundação Educacional Guaxupé, UNIFEG, Minas Gerais, Brasil 
2
 AZEVEDO, Fernando de. Pequeno dicionário latino–português. 5 ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1953, 
verbete status. 
3
 PAUPÉRIO, Artur Machado. Teoria geral do estado: direito político. 8 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p. 35. 
4
 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 27 ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 45. 
5
 DEL VECCHIO, Giorgio, apud DALLARI, Dalmo de Abreu, Elementos de teoria geral do estado. 20 ed. atual. São Paulo: 
Saraiva, 1998, p. 117. 
6
 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 19 ed. atual. São Paulo: Malheiros, 1994, p. 56. 
7
 JELLINEK, Geörg. Apud CARVALHO JÚNIOR, Clóvis. Teoria do Estado: O pensamento sobre o Estado no século XX, p. 
21. 
8
 KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado. [trad. Luís Carlos Borges; ver. téc. Péricles Prade]. 2 ed. – São 
Paulo: Martins Fontes, 1992 – (Col. Ensino Superior), p. 183. 
9
 DUGUIT, apud MALUF, Sahid. Teoria Geral do Estado. 24 ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 20. 
10
 GROPPALI, Alexandre. Doutrina do Estado. Trad. Paulo Edmur de Souza Queiroz. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 1962, p. 
264-5. 
Desta forma, o Estado é um organismo dotado de multiplicidade, e como tal, deve ser 
conceituado sob vários aspectos: em razão de seus elementos constitutivos, em razão de sua 
forma, ordenação e relações com outros sujeitos de direito e, finalmente, como sujeito de direito. 
Em relação aos elementos constitutivos, Alexandre Groppali salienta que o Estado “é um 
ente social constituído „de um povo organizado sobre um território sob o comando de um poder 
supremo, para fins de defesa, ordem, bem-estar e elevação‟”
11
. Os elementos constitutivos do 
Estado estão todos inseridos no conceito: povo – território – poder de mando – fim. 
Do ponto de vista de sua forma, ordenação e relações, Alexandre Groppali define o 
Estado como “uma ordenação jurídica, na qual um complexo de normas gerais e coercitivas 
regulam os órgãos e os poderes do Estado bem como as relações dos cidadãos entre si e as 
deles com o mesmo Estado”
12
, aqui o Estado atua como limitador das liberdades individuais e da 
própria atuação, impondo normas coercitivas, logo, obrigatórias. 
Como sujeito de direito, o autor define o Estado “como uma corporação territorial ou como 
uma instituição territorial, conforme os cidadãos sejam ou não admitidos na sua administração e 
governo”
13
. 
Assim, Estado pode ser conceituado em razão do momento, jurídico, histórico e social. 
Pelas teorias monárquicas, como objeto de direito; pela teoria monista expressão de direito e, 
ainda, segundo as teorias democráticas, como pessoa jurídica sujeito de direitos. 
 Assim, inúmeras outras definições existem, mas em síntese, o Estado é ordem jurídica, 
dotada de poder soberano, tem como objetivo o bem comum de um povo situado em determinado 
território. 
 Além do conceito, importante ressaltar que, desde o princípio tem se entendido que o 
Estado é uma unidade que compreende pluralidade de funções. “Aristóteles, p. ex., descreveu a 
diversidade das funções do poder estatal nas várias „magistraturas‟, antecipando a moderna teoria 
da separação dos poderes, que foi traçada por Locke e desenvolvida por Montesquieu”
14
, essa 
teoria visava fins liberais.
15
 
 Com a teoria da separação dos poderes, pela primeira vez na história dos Estados 
organizados houve uma cisão entre a atividade administrativa e a atividade judiciária e legislativa. 
 
2. EVOLUÇÃO DO ESTADO 
 
Localizar o ponto inicial, ou o momento de origem do Estado, a exemplo de traçar a 
conceituação mais precisa, é tarefa das mais árduas, tendo em vista o anacronismo encontrado 
entre as mais diversas obras e teóricos do Estado. 
 Não obstante as diferenças encontradas nas obras relativas ao tema, a concepção de 
Estado e sua evolução é vital ao desenvolvimento do tema proposto, tendo em vista que a 
Administração é corolário da organização estatal. 
 O Estado, como hoje entendido, é formação política recente, que sofre evoluções 
constantes, tendo em vista seu caráter dinâmico, “ele porém não se move em uma órbita própria e 
autônoma, mas faz parte de todo aquele complicado sistema deforças que agita e solicita a 
sociedade em sua evolução”
16
, a significar que a evolução do Estado é caracterizada por 
fenômenos históricos, sociais, culturais, econômicos, religiosos, entre outros, que se manifestam 
na sociedade. 
 Pinto Ferreira sintetiza em cinco as fases de evolução sócio-culturais do Estado: “a) o 
Estado latente, em potencial, na organização tribal; b) o Estado primitivo de conquistadores; c) o 
Estado feudal; d) o Estado absoluto; e) e o Estado democrático e constitucional”
17
. 
 As primeiras noções que se tem do Estado, são de cunho histórico, e remontam à polis 
grega e à civitas romana, contudo. Na Grécia antiga, a Estado-cidade era denominado polis, e 
caracterizava-se como monarquia patriarcal. No século VIII a.C., o surgimento da moeda cunhada 
 
11
 Op. cit. p. 265. 
12
 Op. cit. p. 266. 
13
 Op. cit. p. 266. 
14
 FRANÇA, Rubens Limongi – coord. Enciclopédia Saraiva do Direito. V. 33 São Paulo: Saraiva, 1977. Verbete Estado, 
Nelson Saldanha, p. 436-442. 
15
 A respeito da “teoria da separação dos poderes”, Baracho sustenta, como uma gama de doutrinadores, que 
Montesquieu não empregou em sua obra, o termo “separação de poderes”, tão pouco entendeu “que os órgãos investidos 
das três funções do Estado seriam representantes do soberano, acometidos de uma parte da soberania. Não está na obra 
do clássico francês qualquer explicação que leve ao entendimento de que uma teoria da separação dos poderes implica 
separação absoluta de órgãos que exercem a função executiva e a legislativa. Entendia que devia existir uma ação 
contínua dos dois poderes, um sobre o outro, uma verdadeira colaboração. Explicando o que se passava na Inglaterra, 
esclarecia que o Executivo participava na legislação, e o Legislativo exerce controle contínuo sobre o Executivo, e que 
aquele sistema repousa na colaboração constante e íntima dos poderes”. 
 
16
 GROPPALI, Alexandre. Doutrina do Estado.[trad. Paulo Edmur de Souza Queiroz] 2 ed. São Paulo: Saraiva, 1962, 95. 
17
 FERREIRA, Luís Pinto. Teoria Geral do Estado. 1 v. 3 ed. ver. amp. e atual. São Paulo: Saraiva, 1975, p. 174. 
fortalece o comércio, acabando com o isolamento das aldeias, iniciando-se, assim, a dissolução 
das linhagens tribais, a sociedade passa a ser mais complexa. O comércio passa a ser exercido 
em praça pública, assim como as discussões sobre a vida e a defesa da cidade é feita pelos 
cidadãos (homens, adultos, nacionais e livres). Os assuntos públicos deixam de ser monopólios de 
pequenos grupos e a religião torna-se acessível a todos, gerando, todos estes fatos, uma 
revolução política e do próprio pensamento humano, causando uma evolução da polis, que passa 
a ser uma associação política, limitada pela intervenção do povo (demos) nos assuntos de 
interesse estatal e aplicação da justiça. A polis tem como principal característica a prevalência do 
logos, isto é da razão, da palavra e do poder de convencimento dos oradores
18
. 
 O conceito de civitas, por sua vez, não é muito diferente do conceito da polis grega. 
“Civitas, átis, s. f. cidade; povo da cidade; direito de cidadão; estado; pátria; nação”
19
. 
 O Estado romano tem como núcleo original a família, na qual o poder é exercido pelo 
pater família. O elemento constitutivo da sociedade era a gens (associação de patrícios, gentes 
regime da sociedade), constituída por um grupo de pessoas unidas por vínculos de parentesco e 
práticas religiosas. 
Cumpre ressaltar, inicialmente, que cidade e urbe não designava, para os romanos, a 
mesma coisa. “A cidade era a associação religiosa e política das famílias e das tribos; a urbe, o 
lugar de reunião, o domicílio e sobretudo, o santuário dessa sociedade”
20
. 
 Groppali rechaça as teorias patriarcal e matriarcalista, afirmando que “o Estado não surgiu 
com o aparecimento de nenhuma das agregações sociais por elas respectivamente indicadas, 
mas sim resultou da fusão dessas agregações em uma unidade superior. Para que o Estado 
possa surgir como essa autoridade superior, é indispensável a pluralidade dos grupos 
heterogêneos que, por necessidades mais elevadas, saem do seu estado de isolamento, para 
formar uma agregação mais vasta”
21
. 
 Ainda segundo Groppali, esta agregação mais vasta, tem como ponto de partida fatores 
vários, entre eles, o aumento do número de componentes do clã, fazendo com que se dividissem e 
partissem em busca de novos territórios, mantendo, contudo, os laços familiares e as práticas e 
sentimentos religiosos, formando-se, assim, “aquele agregado mais vasto que se chama tribo”. 
Salienta, ainda, o autor, que fator que ensejou o surgimento do Estado foi a guerra e a 
necessidade de manutenção da paz. “A necessidade de defesa, sobretudo, levou os grupos 
primitivos a associar-se e a submeter-se a uma autoridade unitária, tendo sido a determinante do 
aparecimento do Estado”
22
. 
 Dalmo Dallari afirma que o termo Estado a significar “uma situação permanente de 
convivência e ligada à sociedade política, aparece pela primeira vez em O Príncipe, de Maquiavel, 
escrito em 1513”
23
. 
 Clóvis de Carvalho Júnior, contudo, ressalta, quanto à origem do Estado, que, “embora 
possamos rastreá-lo em sua origem, dando como marco inicial o Império Romano à época dos 
Antoninos, sua disseminação deu-se, em termos europeus, a partir dos Tratados de Westphalia 
datados de 1648”
24
. 
 A maior parte da doutrina afirma que as teorias sobre a origem do Estado, tal como hoje é 
concebido, têm sua origem na Idade Média. A palavra stato surgiu na Itália, durante a Idade 
Média, contudo, seu significado era vago. A expressão Estado, com o significado de ordem pública 
constituída, passou a ser utilizado na Inglaterra, no século XV e na França e Alemanha, no século 
XVII. 
 Como já salientado, Maquiavel (1469 – 1527) utilizou o termo Estado, de forma científica, 
pela primeira vez, ao escrever “O Príncipe”, em 1513. Afirmava, o autor, que Estado seria todo 
domínio que exerce império sobre o homem, ressaltando, ainda, que seria justificável a utilização 
de todo e qualquer meio com o fim de manter, o príncipe, seu Estado
25
. 
 
18
 ABRÃO, Bernardette Siqueira, org. História da filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 1999. Col. Os Pensadores. 
19
 AZEVEDO, Fernando de. Pequeno Dicionário Latino –Português. 5 ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1953, p. 
37, verbete civitas. 
20
 COULANGES, Fustel de. A Cidade Antiga. [trad. Jean Melville]. São Paulo: Martin Claret, 2002, p. 145. 
21
 GROPPALI, Alexandre. Doutrina do Estado.[trad. Paulo Edmur de Souza Queiroz] 2 ed. São Paulo: Saraiva, 1962, 79. 
22
 GROPPALI, Alexandre. Doutrina do Estado.[trad. Paulo Edmur de Souza Queiroz] 2 ed. São Paulo: Saraiva, 1962, 80. 
23
 DALLARI, Dalmo de Abreu, Elementos de Teoria Geral do Estado. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 51. 
24
 CARVALHO JÚNIOR, Clóvis. Teoria do Estado: O pensamento sobre o Estado no século XX, p. 2. 
TRATADOS DE WESTPHALIA ou VESTEFÁLIA – tratados concluídos em 1648 em Monastério (Münster, Alemanha) e 
Osnabruque entre o imperador germânico, a França e a Suécia, para por fim à Guerra dos Trinta Anos. (SÉGUIER, Jaime, 
coord. Dicionário Prático Ilustrado.vol. III Porto: Lello & Irmãos Editores, 1963, p. 1934, verbete Vestefália. “Ficava 
reconhecida a soberania dos Estados alemães do Sacro Império Romano; os Países Baixos e a Suécia foram dec larados 
repúblicas independentes e ficava garantida a liberdade religiosa para calvinistas e luteranos na Alemanha. A Suécia 
obteve o oeste da Pomerânia e Stettin, a França ficou com Alsácia, Metz, Toul e Verdum, e Brandemburgo obteve o leste 
da Pomerânia” (Grande Enciclopédia Larrouse Cultural, v. 24. São Paulo: Nova Cultural, 1998, p. 5929, verbete Vestefália). 
25
 MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Nova Cultural, 1999, Coleção Os Pensadores. 
 Uma das teorias mais remotas sobre a origem do Estadoé a denominada teoria da origem 
familiar que situa o surgimento do Estado no desenvolvimento e crescimento da família, contudo, 
esta teoria é de aceitação limitada, tendo em conta que confunde a origem do Estado com a 
própria origem e evolução da humanidade, segundo ensinamentos de Darcy Azambuja
26
, tese 
sustentada de forma semelhante por Groppali. 
Outra teoria, também remota, é a da origem violenta do Estado, a sugerir que o Estado 
nasce, sempre, da submissão dos mais fracos pelos mais fortes, Bodin, “admitia que o Estado ou 
nasce da convenção ou da violência dos mais fortes”.
27
 A inspiração desta teoria é darwiniana (a 
sobrevivência o mais forte), pelo que, era comparada ao maquiavelismo. Hobbes foi “o principal 
sintetizador dessa doutrina no começo dos tempos modernos”
28
, para o autor, o Estado se 
apresentava em duas categorias distintas, o Estado real e o Estado Racional, o primeiro se forma 
por imposição da força e o segundo provém da razão. 
Said Maluf aponta, ainda, as teorias teológicas ou religiosas, pelas quais os Estado e seu 
fundamento encontram-se no direito divino, traduzido como a vontade de Deus. 
 A teoria com maior número de adeptos é a teoria da origem contratual do Estado, 
denominadas também, de teoria racionalista ou pactista. 
Sustentavam os defensores da teoria contratual, que o Estado surgia através de um 
acordo de vontades, isto é, através de um contrato social. Atreves deste contrato, os homens 
abririam mão de uma gama de direitos em prol do bem comum. São exponentes desta teoria, 
entre outros, Hobbes (1588 – 1679), Spinoza (1632 – 1677), Grotius (1583-1647), Kant (1724 – 
1804), Locke (1632 – 1704) e Rosseau (1712 – 1778). 
Os ingleses Hobbes e Locke são considerados precursores da Teoria Clássica da 
concepção de Estado. De acordo com esta teoria, o Estado se originou de um acordo entre os 
indivíduos, que ameaçados pela desagregação, buscaram uma forma de manterem-se seguros, 
assim como a suas propriedades considerados, como hoje, direitos essenciais à subsistência da 
vida em sociedade. 
Thomas Hobbes, em sua obra mais importante, Leviatã, distingue duas categorias de 
Estado – O Estado racional, originário da razão humana e o Estado real, baseado nas razões da 
força
29
. O poder absoluto do Estado justificava-se a partir da assertiva de que o homem não é 
naturalmente sociável, ao contrário, o homem é o maior inimigo do homem – homo homini lupus. 
John Locke, também contratualista, introduzia à Teoria do Estado um novo conceito, o de 
ideal da liberdade burguesa, daí porque é considerado o precursor do liberalismo na Inglaterra. 
Caberia ao Estado, tão somente, regular as relações da vida social, reservando ao homem os 
direitos inerentes à personalidade humana, as liberdades fundamentais e o direito à vida, direitos 
estes, por definição, anteriores e superiores ao próprio Estado. 
Spinoza sustentou as idéias de Hobbes, chegando, porém a conclusão diversa, qual seja, 
os homens abrem mão de uma parcela de seus direitos para que o Estado alcance objetivos 
almejados por todos, quais sejam, a manutenção da paz e da justiça, caso o Estado não consiga 
manter ou alcançar estas metas, deve ser dissolvido, posto que originário de um contrato, sendo 
necessário, desta forma, a formação de um novo Estado. 
Para Hugo Grotius o Estado é “uma sociedade perfeita de homens livres que tem por 
finalidade a regulamentação do direito e a consecução do bem-estar coletivo”
30
. 
Rosseau, igualmente contratualista, afirmava que o Estado era fruto da vontade geral, 
consubstanciada na soma da vontade da maioria dos indivíduos, o que se sobrepunha à vontade 
do rei. O governo era instituído com o fim de promover o bem comum e era suportável enquanto 
fosse justo. 
Rosseau não reconhecia a existência da separação dos poderes, teoria desenvolvida por 
Montesquieu (legislativo, executivo e judiciário), posto que colocava, acima de todo poder, o poder 
da assembléia (aqui entendida como a vontade geral)
31
. 
Said Maluf enumera, ainda, a Escola Histórica, segundo a qual o estado não é fruto de um 
contrato, e sim produto da evolução histórica de uma determinada sociedade, tem em Edmundo 
Burke o principal expoente. Além da escola Histórica, Maluf enumera ainda a Teoria de Leon 
Duguit (1859 –1928), segundo a qual o Estado origina-se na diferenciação entre governantes e 
governados, segundo a qual os governantes impõem sua vontade aos governados através da 
força. 
 
26
 AZAMBUJA, Darcy. Teoria Geral do Estado. 4 ed. Porto Alegre: Editora Globo, 1962. 
27
 BODIN, apud AZAMBUJA, Darcy. Teoria Geral do Estado. 4 ed. Porto Alegre: Editora Globo, 1962. 
28
 MALUF, Sahid. Teoria Geral do Estado. 24 ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 56. 
29
 HOBBES, Thomas. Leviatã. [Trad. João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva]. São Paulo: Nova Cultural, 1999. 
Coleção Os Pensadores. 
30
 MALUF, Sahid. Teoria Geral do Estado. 24 ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 66. 
31
 ROSSEAU, Jean Jacques. O contrato Social. [Trad. Lourdes Santos Machado]. São Paulo: Nova Cultural, 1999. Coleção 
Os pensadores. 
A Revolução Francesa (1798) teve como pano de fundo as idéias dos liberalistas do 
século XVIII e traçou as seguintes máximas: “todo governo que não provém da vontade nacional é 
tirania; a nação é soberana e sua soberania é una, indivisível, inalienável e imprescritível; o 
Estado é uma organização artificial, precária, resultante de um pacto nacional voluntário, sendo o 
seu destino o de servir ao homem; o pacto social se rompe quando uma parte lhe viola as 
cláusulas; não há governo legítimo sem o consentimento popular; a Assembléia Nacional 
representa a vontade da maioria que equivale à vontade geral; a lei é a expressão da vontade 
geral; o homem é livre, podendo fazer ou deixar de fazer o que quiser, contanto eu sua ação ou 
omissão não seja legalmente definida como crime; a liberdade de cada um limita-se pela liberdade 
dos outros indivíduos; todos os homens são iguais perante a lei; o governo destina-se à 
manutenção da ordem jurídica e não intervirá no campo das relações privadas; o governo é 
limitado por uma Constituição escrita, tendo esta como partes essenciais a tripartição do poder 
estatal e a declaração dos direitos fundamentais do homem etc”
32
. Segundo o autor, “instituia-se, 
assim, o Estado liberal, baseado na concepção individualista”
33
. 
O Estado liberal é marcado pelas conquistas e ideais da Revolução Francesa, quais 
sejam, liberdade, igualdade, legalidade, entre outros. Assim, o ideal do Estado liberal é a menor 
intervenção na economia, com a adoção de políticas de câmbio-livre no comércio externo, bem 
como as garantias individuais, e observância da legalidade, com fulcro a limitar o poder do Estado 
sobre a esfera privada, afirmando-se, assim, o Estado liberal, como Estado de Direito. 
Adam Smith (1723 - 1790), pai do liberalismo econômico, revendo as proposições de 
Locke, preconizava a necessidade de manter no Estado, o sentido ético, isto é, admite um Estado 
voltado para a realização do bem estar coletivo, mas sob o auspício de outros fundamentos. 
Smith considera que a harmonia social só podia ser obtida através do egoísmo, entendido 
como o interesse pessoal de cada homem, salientando que o Estado não pode intervir na 
economia de mercado. Concorrência passa a ser expressão corrente, a assegurar o equilíbrio 
entre o mercado, estimulando o progresso, resumindo o papel do Estado ao estabelecimento da 
justiça, à manutenção das instituições não lucrativas e ao controle de emissão de moedas, o 
economista condenava a política mercantilista e a intervenção estatal na economia e no câmbio. 
Sieyés (1748 – 1836), visou desenvolver um processo representativo restrito, com fincas a 
adaptar as concepções liberais econômicas de Adam Smith, que propunha que a “solução dos 
conflitos sociais encontravam-se na livre concorrência de mercado”34
 conciliando-as com a 
realidade francesa do pós Revolução. Sua proposta pugnava pela igualdade do Terceiro Estado 
em relação ao clero e à nobreza, ordens privilegiadas (que, por exemplo, eram excluídas da 
política fiscal), “estruturando sua perspectiva jurídico-política de caráter unitário de nação”
35
. 
Para Sieyés cabia à Nação “uma autoridade anterior de estabelecer a ordem jurídica”
36
, 
contudo, o autor esbarrou na contradição existente entre o trabalho e as funções públicas, que até 
então eram atributos exclusivos da aristocracia. 
Hegel (1770 - 1831), por sua vez, introduz na Teoria do Estado, uma visão liberal 
tecnocrática. Para o doutrinador, o Estado se sobrepõe aos interesses particulares, colocando a 
salvo o que há de essencial em cada interesse, isoladamente considerado, impondo princípios de 
racionalidade à sociedade. 
Para Hegel, “não são a família e a sociedade civil que são condição de existência do 
Estado mas é o Estado, enquanto idéia da comunidade moral, que se divide em duas esferas, as 
quais deságuam nos indivíduos”
37
. A família e a sociedade, em Hegel, condicionam-se à idéia de 
Estado. 
Opõe-se ao pensamento de Hegel, Marx, com sua crítica marxista, que levaram a uma 
nova e revolucionária concepção de Estado, que pode ser entendida, como uma teoria econômica 
da origem do Estado
38
, apoiada, ainda, por Engels e Lenine. 
A teoria marxista, sinteticamente analisada, parte da constatação de que a sociedade, que 
compõe o Estado, encontra-se dividida em duas classes sociais – a dos capitalistas e a dos 
operários -, sendo o Estado, o elemento de dominação de uma classe sobre a outra, isto é, para 
Marx, “O Estado apenas representa o instrumento de dominação de uma classe sobre a outra, é 
 
32
 MALUF, Sahid. Teoria Geral do Estado. 24 ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 126. 
33
 Op. Cit. 
34
 VIEIRA, José Ribas. Prefácio à obra A Constituição Burguesa – O que é o Terceiro Estado? – Emmanuel Joseph Sieyès. 
Rio de Janeiro: Líber Juris, 1986, p. 27. 
35
 VIEIRA, José Ribas. Prefácio à obra A Constituição Burguesa – O que é o Terceiro Estado? – Emmanuel Joseph Sieyès. 
Rio de Janeiro: Líber Juris, 1986, p. 27. 
36
 VIEIRA, José Ribas. Prefácio à obra A Constituição Burguesa – O que é o Terceiro Estado? – Emmanuel Joseph Sieyès. 
Rio de Janeiro: Líber Juris, 1986, p.26. 
37
 CARVALHO JÚNIOR, Clóvis. Teoria do Estado: O pensamento sobre o Estado no século XX, p. 41. 
38
 FERREIRA, Luís Pinto. Teoria Geral do Estado. 1 v. 3 ed. ver. amp. e atual. São Paulo: Saraiva, 1975, p. 143 
um simples meio de exploração das classes dominantes sobre as classes dominadas, surgindo à 
medida em que se estrutura o regime da propriedade privada”
39
. 
Karl Marx contestava o Estado Liberal, que se tornara incapaz para resolver os conflitos 
de classes – capitalistas e operários. Caberia ao Estado buscar, além da igualdade jurídica, a 
igualdade econômica. Ou seja, o Estado era um “mal necessário”, pelo que, deveria ser transitório, 
isto é, deveria ser extinto como governo de pessoas, para dar lugar a um sistema de 
administração de coisas comuns. 
Além de contestar, Marx critica o Estado burguês, afirmando que ele “surge como 
elemento catalisador” do conjunto produção humana e divisão do trabalho, “o que se exterioriza 
por intermédio da força organizada (as forças armadas, a polícia) e o monopólio da administração 
racional (a burocracia e justiça)”
40
. 
Esse confronto, segundo Carvalho Júnior, “gerou uma série de guerras menores que 
desaguaram na 1ª Grande Guerra Mundial e levaram o Estado burguês de Direito ao colapso, 
marcado pelas crises públicas e as revoluções dos anos entre 1910 e 1930”
41
. 
No final do século XVIII, mercantilismo e absolutismo entram em crise, que eclodiu com a 
Era das Revoluções, que abrange o período compreendido entre o final do século XVIII e o início 
do século XIX, neste período ocorreram a Revolução Francesa, a Revolução Americana, a Guerra 
de Independência hispano-americana. Estes movimentos revolucionários fundamentavam-se na 
idéia de Estado-Nação e soberania popular, que tem suas origens em Rosseau, fulminando nas 
noções de nacionalismo e centralização. 
Além dos fatos relacionados com as revoluções Francesa, Americana e de Independência 
hispano-americana, a Revolução Industrial, iniciada em 1770, na Inglaterra, gerou uma nova 
realidade social. Produziu não só o operário, mas principalmente, o desemprego, transformando, 
desta forma, o trabalho humano em mercadoria, e como tal, sujeita às leis de mercado, sobretudo, 
à lei da oferta e procura. Em razão do desemprego crescente, os salários tornaram-se ínfimos e 
homens e mulheres foram relegados à situações de miséria, passando a depender da “caridade 
pública”. O Estado liberal não estava apto a lidar com tais situações, posto que seu objetivo era 
manter a ordem pública, assegurando aos homens a paz social, a liberdade e a igualdade de 
direitos. 
A situação fática levou à reação da Igreja, através da Encíclica Rerum Novarum, de Leão 
XIII, de 15 de maio de 1891, descrevendo a situação vivida pela sociedade, bem como analisando 
suas causas e orientando o Estado sobre como deveria agir em relação aos problemas sociais 
que dominavam toda a Europa. A partir da Encíclica Rerum Novarum o Estado liberal passou a 
intervir na economia
42
. 
Preleciona, ainda, Maluf, que onde o Estado liberal mostrou-se frágil ante os problemas 
sociais, ocorreram revoluções violentas, como na Rússia, na Itália, na Alemanha, na Polônia e em 
outros países. Quando o Estado liberal atuou, transformou-se, “de maneira pacífica evoluindo para 
a forma social-democrática, através de reformas constitucionais e medidas legislativas. Tornou-se 
evolucionista, intervindo na ordem econômica, colocando-se como árbitro nos conflitos entre o 
capital e o trabalho, superintendendo a produção, a distribuição e o consumo.”
43
 
 
3. ESTADO MODERNO 
 
Considera-se que a fase inicial do Estado Moderno correspondia ao absolutismo 
monárquico, intimamente relacionado com o mercantilismo. O Estado liberal é, considerado, um 
segundo estágio do Estado Moderno, passando-se, posteriormente aos chamados Estados 
Constitucionais e Sociais. 
Rogério Medeiros Garcia Lima, sobre esta evolução salienta que “O Estado moderno é o 
tipo histórico de Estado característico da Idade Moderna e Contemporânea (séculos XVI ao XX), 
definindo-se pelo aparecimento do próprio conceito de Estado na acepção hoje adotada. Costuma-
se dividi-lo em subtipos, a saber, Estado Corporativo, Estado Absoluto, Estado liberal e Estado 
constitucional do século XX”
44
. 
Segundo Lima, o crescimento do Estado corporativo levou ao fim o feudalismo no plano 
político; o Estado absoluto (séculos XVII – XVIII), quedou no pós Revolução Francesa, moldando-
se, na seqüência, os aspectos do Estado Liberal; o Estado liberal é um subtipo do Estado 
Moderno, com início no século XVIII, apogeu durante o século XIX e declínio na primeira metade 
do século XX; de igual forma, o Estado constitucional é um subtipo do Estado Moderno. 
 
39
 FERREIRA, Luís Pinto. Teoria Geral do Estado. 1 v. 3 ed. ver. amp. e atual. São Paulo: Saraiva, 1975, p. 143. 
40
 CARVALHO JÚNIOR, Clóvis. Teoria do Estado: O pensamento sobre o Estado no século XX, p. 45. 
41
 Op.cit. p.46. 
42
 MALUF, Sahid. Teoria Geral do Estado. 24 ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 129-132. 
43
 Op. Cit. 
44
 LIMA, Rogério Medeiros Garcia. O Direito Administrativo e o Poder Judiciário. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 22. 
O Estado Moderno implica “centralização do poder”, fundado no “princípio da 
territorialidade, da obrigação política” e da “progressiva aquisição da impessoalidade do comando 
político”, pode ser conceituado como “forma de poder historicamente determinada e, enquanto tal, 
caracterizada por conotações que a tornam peculiar e diversade outras formas, historicamente 
também determinadas e interiormente homogêneas, de organização de poder”
45
. 
Weber (1864 – 1920), ao discorrer sobre o fenômeno da centralização do poder, afirma 
ser o mesmo “monopólio da força legítima”. Segundo o autor, o surgimento do Estado Moderno se 
confunde com a história da tensão existente entre a descentralização do poder, ou policentrismo 
do feudalismo e a centralização do poder do Estado territorial “concentrado e unitário”
46
, ou ainda, 
com a ampliação do espaço público, em detrimento do privado. 
A passagem do sistema feudal – policentrismo – para o Estado moderno – centralizado e 
unitário – decorreu, inicialmente, da cisão entre a Igreja e a política , ou seja, decorreu da ruptura 
da unidade político-religiosa que vigia na época pré-moderna, que pode ser situada entre os 
séculos XIII e XVI. 
Contudo, a própria Igreja fortaleceu o sistema político centralizado, pois com o fim de 
fortalecer o primado religioso, a Igreja, corporificada na pessoa do papa, reconhecia a autonomia 
da política, oferecendo terreno onde essa organização política podia sediar-se e fortalecer-se 
econômica e socialmente.Essa realidade confrontava-se com a realidade dos feudos, qual seja, 
propriedade delimitada de propriedade dos senhores feudais, fundadas na economia de 
subsistência do próprio feudo, consistente em atividades agrícolas e, no máximo, de troca, de 
organização social rígida e estática. Esse reconhecimento da autonomia política levou à 
passagem do “Estado para associações pessoais ao Estado territorial institucional”.
47
 
Após a transformação gradual do Estado de associações para o Estado institucional 
seguiu-se a passagem do senhorio terreno à soberania territorial
48
. 
O poder passa a ser político e o Estado adquire atributos inerentes a esta nova condição, 
“mundaneidade, finalidade e racionalidade” com o fim de adquirir “a imagem moderna de única e 
unitária estrutura organizativa formal da vida associada, de autêntico aparelho de poder, 
operacional em processos cada vez mais próprios e definidos, em função de um escopo concreto: 
a paz interna do país, a eliminação do conflito social, a normalização das relações de força, 
através do exercício monopolístico do poder por parte do monarca, definido como souverain 
enquanto é capaz de estabelecer, nos casos controversos, de que parte está o direito, ou, como 
se disse, de decidir em casos de emergência”
49
. 
O Estado passa a ser considerado como a “organização das relações sociais (poder) 
através de procedimentos técnicos preestabelecidos (instituições, administração), úteis para a 
prevenção e neutralização dos casos de conflito e para o alcance dos fins terrenos que as forças 
dominadoras na estrutura social reconhecem como próprias e impõem como gerais a todo o 
país”
50
. 
Todo poder demanda de um aparelho administrativo, a fim de que suas determinações 
sejam executadas. Para Weber, o Estado moderno tem como característica primordial o fato de 
constituir-se de um sistema de administração e de leis, modificáveis somente através de legislação 
específica, o que direciona as atividades coletivas de um quadro executivo, aqui considerado 
como centro de autoridade sobre toda e qualquer atividade exercida no território sobre o qual se 
exerce dominação, entendida como probabilidade de obediência a um determinado mandato. 
Dominação, em Weber, pode ter como fundamento diferentes causas de submissão, entre elas os 
costumes, reunião de interesses comuns, entre outras, contudo, para ser legítima, a dominação 
deve fundamentar-se em bases jurídicas, dividida, assim, em três espécies básicas: a dominação 
legal, decorrente de lei, ou de estatuto, através do qual os direitos podem ser criados ou 
modificados, caracteriza a denominada dominação burocrática, pela qual existe uma regra, que 
estatui um quadro administrativo de funcionários, com formação profissional, a dominação 
burocrática ou legal tem base do funcionamento técnico a disciplina do serviço; a dominação 
tradicional, que advém da crença na santidade das ordenações e no poder dos senhorios, é 
denominada dominação patriarcal e, finalmente, a dominação carismática, que decorre de 
 
45
 BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política, v. 1. 12 ed. Brasília: UNB, p. 
426. 
46
 WEBER, Max, apud BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política, v. 1. 12 
ed. Brasília: UNB, p. 426. 
47
 MAYER, Theodor, apud BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política, v. 1. 
12 ed. Brasília: UNB, p. 426. 
48
 BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política, v. 1. 12 ed. Brasília: UNB, p. 
426. 
49
 BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política, v. 1. 12 ed. Brasília: UNB, p. 
427. 
50
 Op.cit. 
devoção afetiva a pessoa de dotes sobrenaturais, com revelações de poder intelectual, heroísmo 
ou oratória, por exemplo. 
Weber dimensionou o fenômeno administrativo ao afirmar que a burocracia supera as 
demais formas de administração
51
. Definia a burocracia, grosso modo, como uma forma de 
organização humana, baseada na racionalidade, entendida como adequação dos meios aos 
objetivos e fins pretendidos, a fim de garantir a máxima eficiência possível. A burocracia é tida, 
ante estes conceitos, como forma de poder
52
. 
Importante ressaltar que nesta fase a diferenciação entre fins e competências do Estado 
passou a ser primordial, considerando, Ataliba Nogueira, que “o Estado é um simples instrumento, 
é um simples meio de aperfeiçoamento físico-moral e intelectual do homem, o Estado é um 
instrumento do progresso humano e não um fim em si mesmo”
53
. Assim, os fins do Estado são 
permanentes, enquanto a competência é efêmera e extremamente “variável de acordo com a 
situação social, o grau de desenvolvimento econômico e cultural da sociedade”
54
. 
Darcy Azambuja esclarece a celeuma sobre fins e competência do Estado ao afirmar que 
é “a atividade do Estado no que diz respeito aos negócios e às pessoas sobre os quais ele exerce 
o seu poder” e o fim do Estado “é o objetivo que ele visa atingir quando exerce o poder”
55
. 
 Para a realização de seus fins o Estado tem, necessariamente, que se valer da 
Administração Pública e, por conseguinte, dos serviços públicos, observando as suas 
competências, as necessidades sociais e o aumento da dependência da sociedade em relação às 
atividades desenvolvidas pelo Estado. 
 Segundo Clóvis de Carvalho Júnior, “a legitimação burocrática qualificava o Estado de 
Direito como momento maior de racionalidade do exercício do Poder. Essa racionalidade, baseada 
em regras fixas de conduta, conflita com a “racionalidade dos resultados” que se obriga a compor 
as demandas e necessidades do meio-ambiente imutável com a lógica do sistema legal 
existente”
56
. 
 Assim, as necessidades sociais clamam que a administração, aqui compreendida em 
sentindo amplo, rompa com a racionalidade burocrática, passando a ser dinâmica, a fim e 
acompanhar os anseios do novo Estado Social e as peculiaridades da população. 
 Ainda segundo Clóvis de Carvalho Júnior, a crise do Estado Social de Direito, ou seja, do 
Estado atual, tem como fonte justamente os conflitos “entre as aspirações, interesses e 
necessidade de liberdade de pessoa de um lado e a necessidade de racionalizar a produção e, 
por conseqüência, criar uma rede de vigilância e controle que além de custos muito altos oprime 
os indivíduos, as pessoas, levando-as a contestar a legitimação de qualquer governo que se 
instale no Estado”
57
. 
 O Estado Social de Direitos pode ser definido, de forma simplista, com um Estado que 
assegure aos seus cidadãos, alimentação, saúde, educação, habitação, trabalho e renda, 
proteção contra a violência, enfim, uma série de direitos sociais e políticos, que oneram os cofres 
públicos.O Estado Social de Direito trás, em si, a ideologia social democrata, que pode ser 
traduzida como um compromisso com a democracia, fundada em bases políticas liberais e no livre 
mercado, visando a ascensão e a organização das classes sociais menos favorecidas, que 
constituem a maioria da população. A pedra fundamental da social democracia é a proteção e a 
valorização do cidadão, o que reclama a intervenção do Estado. 
 Para a manutenção destes direitos garantidos, em geral, por Constituições, o Estado 
necessita de aparatos, serviços, funcionários, etc. O Estado contemporâneo, neo-liberal ou social 
democrata, encontra-se em crise justamente por sua incapacidade de mediar os conflitos 
existentes entre a sociedade e o próprio Estado e ante sua incapacidade de suprir às demandas 
sociais. 
 Além das insuficiências do Estado, o ideal democrático foi consumido pelo capitalismo, 
que não tem ideologia alguma e funciona por si. Segundo Paulo Arantes, “existe mais verdade e 
 
51
 WEBER, Max, apud FARIA, José Eduardo. Eficácia Jurídica e Violência Simbólica: O Direito como Instrumento de 
Transformação Social. São Paulo: Editora Universidade de São Paulo, 1988. 
52
 WEBER, Max, apud MOTTA, Fernando C. Prestes, PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. Introdução à Organização 
Burocrática. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 1981. 
53
 NOGUEIRA, Ataliba, apud FERREIRA, Luis Pinto. Teoria Geral do Estado. 3 ed. rev. amp. e atual. São Paulo: Saraiva, 
1975, p. 197. 
54
 FERREIRA, Luis Pinto. Teoria Geral do Estado. 3 ed. rev. amp. e atual. São Paulo: Saraiva, 1975, p. 198. 
55
 AZAMBUJA, Darcy. Teoria Geral do Estado. 4 ed. Porto Alegre: Editora Globo, 1962, p. 139. 
56
 CARVALHO JÚNIOR, Clóvis. As modificações do Estado no século XX. Tese Livre docência – São Paulo: 1994, p. 
169/170. 
57
 Op. cit. , p. 167. 
menos ideologia no mundo contemporâneo”
58
, salientando que a ideologia é necessária para 
suplantar crises. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O Estado é um ente jurídico, criado pelos signatários do contrato social e institui-
se por meios de ordenamentos. O Estado também se caracteriza por ser senhor da ordem jurídica, 
posto que elabora, executa e aplica as leis. As regras, criadas pelo Estado, são superiores às 
regras sociais, de cortesia ou morais. Em geral, as regras sociais não dispõem de sanção exercida 
por particulares ou por autoridades públicas. O ordenamento jurídico estatal, contudo, é impositivo, 
atribuindo às autoridades o poder de, compulsoriamente, exigir o respeito, observada a legalidade. 
O Estado, mesmo que esteja no comando ou como guardião da ordem jurídica, 
não é ou não deve ser titular de poderes absolutos. Age e reage, somente, se os poderes de agir e 
reagir estão nas leis, defesa e proteção dos interesses sociais. 
 
 
58
 ARANTES, Paulo. Capital abriu mão de ideologia, diz filósofo. Folha de São Paulo. 15 de outubro de 2003, Caderno 
Ilustrada, p. E 3.

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