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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/321307858 A Rainha Vermelha e o Bobo da Corte Article in Ciência Hoje · April 2009 CITATIONS 0 READS 260 1 author: Felipe A P L Costa 93 PUBLICATIONS 45 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Felipe A P L Costa on 27 November 2017. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/321307858_A_Rainha_Vermelha_e_o_Bobo_da_Corte?enrichId=rgreq-93c0c13c53c8337d782ccbf40943f776-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMTMwNzg1ODtBUzo1NjUxOTk4NDczODcxMzZAMTUxMTc2NTU1MjgyNQ%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/321307858_A_Rainha_Vermelha_e_o_Bobo_da_Corte?enrichId=rgreq-93c0c13c53c8337d782ccbf40943f776-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMTMwNzg1ODtBUzo1NjUxOTk4NDczODcxMzZAMTUxMTc2NTU1MjgyNQ%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-93c0c13c53c8337d782ccbf40943f776-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMTMwNzg1ODtBUzo1NjUxOTk4NDczODcxMzZAMTUxMTc2NTU1MjgyNQ%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Felipe_Costa43?enrichId=rgreq-93c0c13c53c8337d782ccbf40943f776-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMTMwNzg1ODtBUzo1NjUxOTk4NDczODcxMzZAMTUxMTc2NTU1MjgyNQ%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Felipe_Costa43?enrichId=rgreq-93c0c13c53c8337d782ccbf40943f776-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMTMwNzg1ODtBUzo1NjUxOTk4NDczODcxMzZAMTUxMTc2NTU1MjgyNQ%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Felipe_Costa43?enrichId=rgreq-93c0c13c53c8337d782ccbf40943f776-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMTMwNzg1ODtBUzo1NjUxOTk4NDczODcxMzZAMTUxMTc2NTU1MjgyNQ%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Felipe_Costa43?enrichId=rgreq-93c0c13c53c8337d782ccbf40943f776-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMTMwNzg1ODtBUzo1NjUxOTk4NDczODcxMzZAMTUxMTc2NTU1MjgyNQ%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf 1 2 • C i ê n C i a H o j e • v o l . 4 3 • n º 2 5 8 biologia evolutiva A Rainha Vermelha e o Bobo da Corte Em 1859, Charles Darwin, um dos idealizadores da teoria da evolução por seleção natural, publicou seu livro mais famoso, A origem das espécies. Para esse naturalista inglês, explicar a multiplicação das espécies – segundo ele, “o mistério dos mistérios” – era um desafio. Como parte das comemorações pelo bicentenário do nascimento de Darwin, o prestigioso periódico científico Science (v. 323, pp. 728-751, 2009) trouxe uma seção especial de artigos que reveem diferentes aspectos do que conhecemos hoje sobre a especiação, o processo que levou à formação de tantas espécies de seres vivos. Em um dos trabalhos, dois modelos, o da Rainha Vermelha e o do Bobo da Corte, são confrontados. Qual deles é o responsável por moldar a diversidade de seres vivos? m un do de ci ên cia B reve contexto histórico. A teo ria da evolução por seleção na tural – talvez, a mais influente de todas as teorias científicas – foi cria da pelos britânicos Charles Darwin (1809-1882) e Alfred Russel Wallace (1823-1913). Um primeiro esboço geral dessa teoria foi divulgado em 1º de julho de 1858, em uma reunião da Sociedade Lineana de Londres. No ano seguinte, Darwin publicaria mais detalhes em seu mais famoso livro, A origem das espécies, versão abreviada e simplificada de um ma- nuscrito inacabado. E a biologia e o mundo nunca mais seriam os mesmos. Ao contrário do que o título pos- sa sugerir, A origem das es pé cies não resolveu de todo o problema da mul- tiplicação das espécies ou espe cia- ção (como uma população dá ori - gem a duas ou mais populações evolutivamente divergentes). O me- lhor que Dar win fez foi insinuar possibilidades, a partir das quais esse e ou tros aspectos do darwinis- mo (corpo de conhecimento estru- turado em torno da evolução por seleção natural, teo ria que vê as mudanças na composição de popu- lações como resultado de diferenças no sucesso re produtivo de seus in- tegrantes) vêm sen do explorados por seus sucessores. Primeiro, o darwinismo original teve de se livrar dos resquícios do lamarckismo (teoria evolutiva que levava em conta mecanismos – ho- je, desacreditados – como o uso e de suso dos órgãos e a transmissão de caracteres adquiridos), surgin - do daí o chamado neodar wi nis - mo. Nas décadas de 1910 e 1920, o darwinis mo aproximou-se grada- tivamente da genética. Nas duas dé- cadas seguintes, com a chamada sín- tese evolutiva, os pa drões macroevo- lutivos, relacionados ao surgimen- to de grupos taxonômicos acima do nível de espécie (gêneros, famílias, ordens etc.), passaram a ser vistos como desdobramentos das mes mas forças microevolutivas que atuam no in terior de espécies e populações. E as coisas continuaram mudan- do. Na década de 1950, as ino va ções da incipiente genética molecular começaram a ser in cor po radas à teoria da evolução. Em seguida, a abordagem molecular encontrou os biólogos de cam po (ecó logos, pes- quisadores do comportamento ani- mal etc.), e dessa conjunção surgi- ram inovações im portantes, incluin- do definições mais rigorosas para vários conceitos da biologia. Atual- mente, há quem fale em favor de uma revisão na síntese evolutiva. Mas essa é outra história... Como parte das comemorações pelo bicentenário e também pelos 150 anos da primeira edição de A origem das espécies, a Science de 5/2/2009 trouxe uma seção especial com cinco artigos de revi são sobre diferentes aspectos do processo de especiação. Por limitação de espaço, vamos comentar aqui apenas um desses trabalhos, embora a edi ção como um todo traga algumas das discussões mais efervescentes da biologia evolutiva contemporânea. O artigo escolhido tem um título peculiar: ‘A Rainha Vermelha e o Bobo da Corte: diversidade de espé- cies e o papel de fatores bióticos e abióticos ao longo do tempo.’ Nele, Michael J. Benton, da Universidade de Bristol (Inglaterra), examina até a b r i l d e 2 0 0 9 • C i ê n C i a H o j e • 1 3 mundo de ciência exemplo, não mudam, ao longo do tempo, em função de serem ou não consumidos por seres vivos. Per- turbações no ambiente físico po- dem exigir a evolução de novos níveis de tolerância, mas isso não desencadeia uma sucessão de ajus- tes mútuos entre seres vivos e ele- mentos não-vivos. E quem seria, portanto, o gran - de responsável por moldar a di ver- sida de das espécies, a Rainha Ver- me lha ou o Bobo da Corte? Na opi - nião de Benton, os dois modelos não são ne cessariamente exclu- dentes. Eles apenas parecem ope - rar em escalas (espaciais e tempo- rais) dis tintas. As sim, enquanto competição, predação e outros fa- tores bióticos mol dariam a evolu- ção no interior de ecossistemas locais por períodos relativamente curtos de tempo, fatores abióticos, como mu danças climáticas e even- tos tectôni cos ou oceânicos, pode- riam mol dar padrões de evolução em larga escala e por milhares ou milhões de anos. Como afirma o autor, resta saber se essa visão plu- ralista do processo evolutivo vai facilitar o diálogo entre as diferen- tes escolas de pensamento envolvi- das com o estudo da diversidade biológica. Felipe A. P. L. Costa Biólogo e autor de Ecologia, evolução & o valor das pequenas coisas (2003) e A curva de Keeling e outros processos invisíveis que afetam a vida na Terra (2006) que ponto fatores bióticos (modelo Rainha Vermelha) e fatores abióti- cos (modelo Bobo da Corte) seriam responsáveis por moldar a diversi- dade de espécies. O primeiro modelo, cujo nome faz alusão à Rainha Vermelha, per- sonagem do livro Alice através do es pelho, de Lewis Carroll (1832- 1898), foi sugerido pelo biólogo nor te-americano Leigh Van Valen, em 1973. Segundo esse modelo, as interações entreos seres vivos seriam os principais condutores da mudança evolutiva. É o que ocorre, por exemplo, quando um novo tipo de defesa surge em uma popula - ção de presas. Com isso, o surgi- mento de todo e qualquer tipo de contra-ataque por parte dos preda- dores passa a ser algo extrema men- te vantajoso. Não há soluções pro - priamente definitivas para es sas ‘cor ridas armamentistas’, pois a evo lução de novos tipos de defe sa (ou de ataque) produz reper cus- sões que vão e voltam. Assim, a exemplo do que ocorre no livro de Car roll, as espécies estão sempre ‘correndo para permanecer no mes mo lugar’, isto é, as linhagens mais bem-su cedidas simplesmente persistem, enquanto as outras vão desaparecendo. O modelo ‘Bobo da Corte’ [Court Jester, no original em inglês], pro- posto pelo paleontólogo norte- americano Anthony D. Barnosky, em 2001, ressalta a importância evolutiva das perturbações ambien- tais promovidas por fatores abióti- cos, como mudanças climáticas e soerguimento de montanhas. Mais especificamente, a história das li- nhagens dependeria, em boa medi- da, de suas respostas às mudanças imprevisíveis que ocorrem no am- biente físico, lembrando o compor- tamento caprichoso dos bobos da corte dos tempos medievais. Cabe ressaltar, porém, que não há ‘corri- das armamentistas’ entre linhagens de seres vivos e elementos não-vi- vos do ambiente, pois estes últimos são evolutivamente inertes – fótons de luz e moléculas de água, por ilu sT r A çã o f Er n A n d o c h A m A r El li View publication statsView publication stats https://www.researchgate.net/publication/321307858
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