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Laiane Sousa Fisiopatologia INTRODUÇÃO Glomérulos são tufos de capilares situados entre as arteríolas aferentes e eferentes. A membrana dos glomérulos é formada por três camadas estruturais: uma camada de células endoteliais que revestem a su- perfície mais interna do capilar; mem- brana basal constituída de uma rede de proteínas matriciais; e uma camada de cé- lulas epiteliais que circunda a superfície mais externa do capilar e recobre a super- fície mais interna da cápsula de Browman. A glomerulonefrite é um processo infla- matório que envolve as estruturas glome- rulares, é a segunda causa mais frequente de insuficiência renal em todo o mundo. A glomérulo nefrite pode ser um distúrbio primário, no qual a anormalidade glomerular é o único problema existente; ou pode ser uma condição secundária, na qual a anormalidade glomerular resulta de outras doenças, inclusive diabetes melito ou LES. ETIOLOGIA DA LESÃO GLOMERULAR Os agentes ou eventos causadores de le- são glomerular incluem mecanismos imu- nológicos, não imunológicos e hereditá- rios. Embora várias doenças glomerulares sejam causadas por eventos imunológicos, inúmeros estressores não imunológicos metabólicos (diabetes), hemodinâmicos (hipertensão) e tóxicos (drogas ilícitas e fármacos), tanto sozinhos como associa- dos a mecanismos imunológicos, podem ocasionar lesão glomerular. Doenças glomerulares hereditárias como a síndrome de Alport, apesar de relativa- mente raras, são uma importante catego- ria de doença glomerular, devido à sua as- sociação à perda progressiva da função re- nal e à sua transmissão a futuras gerações. PATOGÊNESE DA LESÃO GLOMERULAR Dois mecanismos imunes foram implica- dos na patogênese da doença glomerular: 1) Lesão resultante de anticorpos que reagem com antígenos glomerulares fixos ou antígenos depositados den- tro do glomérulo. Laiane Sousa Fisiopatologia 2) Lesão resultante de complexos antí- geno-anticorpo circulantes retidos na membrana glomerular Os antígenos responsáveis pelo desenvol- vimento da reação imune podem ter ori- gem endógena, como autoanticorpos con- tra o ácido desoxirribonucleico (DNA) no LES, ou podem ser exógenos, como os an- tígenos da membrana dos estreptococos na glomerulonefrite pós-estreptocócica. Em muitos casos, a origem do antígeno não é conhecida. As alterações celulares na doença glome- rular aumentam as contagens de células glomerulares ou inflamatórias, causa es- pessamento da membrana basal e acarre- tam alterações dos componentes não ce- lulares do glomérulo (esclerose e fibrose). Essa deposição de material acelular denso causa espessamento da membrana basal. As alterações glomerulares podem ser di- fusas, ou seja, envolvendo todos os glo- mérulos e todos os seus componentes; focais, quando apenas alguns glomérulos são afetados; segmentares, quando há en- volvimento apenas de determinado seg- mento de cada glomérulo; ou mesangiais, quando as células mesangiais são afeta- das. TIPOS DE DOENÇA GLOMERULAR São classificadas em cinco grupos: • Síndromes nefríticas • Glomerulonefrite rapidamente pro- gressiva • Síndrome nefrótica • Distúrbios assintomáticos do sedi- mento urinário • Glomerulonefrite crônica As síndromes nefríticas desencadeiam uma resposta inflamatória proliferativa, enquanto a síndrome nefrótica aumenta a permeabilidade do glomérulo. Síndrome Nefrítica Aguda Síndrome nefrítica aguda é o correspon- dente clínico da inflamação glomerular aguda. Em sua forma mais grave, caracte- riza-se por início súbito de hematúria, graus variáveis de proteinúria, redução da TFG, oligúria e sinais de disfunção renal. É causada por processos inflamatórios que obstruem os lumens dos capilares glome- rulares e lesam a parede. Essa lesão na parede capilar possibilita que as hemácias entrem na urina e causa as al- terações hemodinâmicas que reduzem a TFG e com isso uma reabsorção tubular au- mentada de água e sal. Com isso tem uma acumulação de líquidos, e com isso ocorre hipertensão e edema é o termo usado para descrever um au- mento da quantidade de material extracelu- lar nos tecidos me- sangiais, subendoteli- ais ou subepiteliais do glomérulo refere-se à deposição de fibras de colágeno Laiane Sousa Fisiopatologia A síndrome nefrítica aguda pode ocorrer com doenças sistêmicas como o LES (lúpus eritematoso sistêmico) . Entretanto, nos casos típicos, essa síndrome está associada às glomerulonefrites proliferativas agudas, inclusive glomerulonefrite pós-infecciosa. Glomerulonefrite rapidamente progressiva Glomerulonefrite rapidamente progressiva é uma síndrome clínica que se caracteriza por sinais e sintomas de lesão glomerular grave, sem uma causa específica determi- nável. Como seu nome sugere, esse tipo de glomerulonefrite é rapidamente pro- gressivo, em geral no intervalo de alguns meses. A doença consiste em proliferação focal e segmentar das células glomerulares e re- crutamento de monócitos e macrófagos com formação de estruturas com configu- ração de crescentes, que fecham o espaço de Bowman. A glomerulonefrite rapidamente progres- siva pode ser causada por algumas doen- ças imunes, algumas sistêmicas e outras li- mitadas aos rins. Principal ex: Doença de Goodpasture Síndrome de Goodpasture: É uma forma rara e agressiva de glomerulonefrite cau- sada por anticorpos dirigidos contra as membranas basais dos glomérulos (MBG) e dos alvéolos. Os anticorpos anti-MBG têm reatividade cruzada com a membrana basal dos alvéolos pulmonares e são res- ponsáveis pela síndrome de hemorragia pulmonar associada à insuficiência renal. A alteração patológica típica da glomerulonefrite por anticorpos anti-MBG é a coloração linear difusa das membranas basais para IgG. Sindrome Pulmão-rim: Hemoptise + Glo- merulonefrite. Tratamento ➔ Corticoide +-ciclofosfamida ➔ Plasmaferese Síndrome nefrótica ➢ Proteinuria > 3,5 g/dia (ou > 50 mg/kg/d em crianças), mesmo sem qual- quer sinal e sintoma ➢ Outros achados • Hipoalbuminemia: tendência a ficar hi- povolêmica e hipotensa, pois o líquido saiu do vaso e foi para o tecido. • Edema periorbital e matutino – a noite o líquido se acumula na face. Laiane Sousa Fisiopatologia A síndrome nefrótica não é uma doença glomerular específica, mas um conjunto de manifestações clínicas resultantes do aumento da permeabilidade glomerular e da perda de proteínas na urina. PATOGÊNESE Qualquer aumento da permeabilidade da membrane glomerular possibilita que pro- teínas saiam do plasma e entrem no fil- trado glomerular. O resultado disso é pro- teinúria maciça, que acarreta hipoalbumi- nemia. O edema generalizado marca ca- racterística da síndrome nefrótica , é cau- sado pela redução da pressão coloidosmó- tica do sangue, com acumulação subse- quente de líquidos nos tecidos interstici- ais. Os pacientes com síndrome nefrótica po- dem ter dispneia causada por edema pul- monar, derrames pleurais e compressão diafragmática pela ascite. A hiperlipidemia nos pacientes com ne- frose caracteriza-se por níveis altos de triglicerídios e lipoproteínas de densidade baixa (LDL). Os níveis das lipoproteínas de densidade alta (HDL) geralmente estão normais. Em razão da elevação das con- centrações das LDL, os pacientes com sín- drome nefrótica estão mais sujeitos a de- senvolver aterosclerose. A maior parte das proteínas perdidas na urina é representada por albumina, ainda que globulinas também sejam perdidas. Por essa razão, os pacientes com nefrose podem ser suscetíveis às infecções, princi- palmente às causadas por estafilococos e pneumococos. Essa resistência reduzida às infecções pro- vavelmente está relacionadacom as per- das urinárias de imunoglobulinas e com- ponentes de baixo peso molecular do sis- tema complemento. Algumas proteínas de ligação também são perdidas na urina. Por essa razão, os níveis plasmáticos de deter- minados íons (ferro, cobre e zinco) e hor- mônios (tireóideos e sexuais) podem estar reduzidos. As anormalidades glomerulares com a ne- frose podem ser primárias ou secundárias às alterações causadas por doenças sistê- micas como diabetes melito e LES. Entre as lesões glomerulares primárias que acar- retam síndrome nefrótica está a doença de lesão mínima (nefrose lipoídica), a glo- merulosclerose segmentar focal e a glo- merulonefrite membranosa. A frequência relativa dessas causas varia com a idade. Na faixa etária abaixo de 15 anos, a síndrome nefrótica quase sempre é causada por doenças glomerulares idio- páticas primárias, enquanto nos adultos geralmente é um distúrbio secundário. Laiane Sousa Fisiopatologia Hematúria ou proteinúria assintomática Alguns casos de glomerulonefrite causam doença assintomática branda, que não é diagnosticada ou não motiva o paciente a buscar atendimento de um profissional de saúde, razão pela qual o diagnóstico não é estabelecido. Exames de triagem populacional demons- traram que a disfunção renal evidenciada por proteinúria, hematúria, TFG reduzida ou uma combinação dessas anormalidades ocorre na população em geral. Doenças como a púrpura de Henoch-Schönlein fre- quentemente regridem sem danos renais irreversíveis, enquanto outras como a ne- fropatia por IgA e a síndrome de Alport podem evoluir para disfunção e insuficiên- cia renais crônicas. Nefropatia por imunoglobulina A: A do- ença caracteriza-se pela deposição de imunocomplexos contendo IgA no mesân- gio do glomérulo. Depois da deposição nos rins, os imunocomplexos causam inflama- ção do glomérulo. A nefropatia por IgA é mais comum nos homens e é a causa mais frequente de ne- frite glomerular nas populações asiáticas. Nefrite da púrpura de Henoch-Schönlei : é uma vasculite de pequenos vasos que causa erupção purpúrea localizada predo- minantemente nos membros inferiores, artrite ou artralgia, dor abdominal e dis- função renal idêntica à da nefropatia por IgA. Síndrome de Alport: é uma doença here- ditária da MBG que acarreta hematúria e pode evoluir para insuficiência renal crô- nica. Tende a estar associada às malforma- ções das orelhas e dos olhos e é causada por mutações do colágeno do tipo IV. Glomerulonefrite crônica A glomerulonefrite crônica representa a fase crônica de algumas formas específicas de glomerulonefrite. Certos tipos de glo- merulonefrite aguda (p. ex., glomerulone- frite pós-estreptocócica) regridem por completo, enquanto outros progridem a taxas variáveis para glomerulonefrite crô- nica. Alguns pacientes com glomerulone- frite crônica não referem história de do- ença glomerular. Esses casos podem re- presentar o resultado final das formas re- lativamente assintomáticas de glomerulo- nefrite. Ao exame histológico, a forma crô- nica caracteriza-se por rins pequenos com glomérulos esclerosados. Na maioria dos casos, a glomerulonefrite crônica tem evo- lução insidiosa e, em alguns, progride len- tamente para doença renal crônica.
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