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GLOMERULOPATIAS As glomerulopatias podem ser classificadas de acordo com a presença ou ausência de doença sistêmica, por sua apresentação clínica ou quanto ao seu modo de instalação e progressão. A patologia primária pode ser no rim ou pode ser uma consequência de distúrbios sistêmicos. Quando aparecem isoladamente, são classificadas como primárias e, quando associadas a doenças sistêmicas (p. ex., lúpus eritematoso sistêmico (LES), hepatites virais ou diabetes melito), secundárias. As principais consequências da agressão glomerular são proteinúria, hematúria, cilindrúria, queda de filtração glomerular e retenção de sódio. Os sinais e sintomas em geral mais apresentados são edema, hipertensão, urina escura e uremia. SÍNDROME NEFRÍTICA X SÍNDROME NEFRÓTICA A síndrome nefrótica caracteriza-se por proteinúria maciça (> 3,5g/dia) e lipidúria (p. ex., gordura livre, corpúsculos ovais ou cilindros gordurosos) com hipoalbuminemia (< 3g/dℓ), edema generalizado e hiperlipidemia (colesterol > 300 mg/dℓ) associados. A síndrome nefrótica não é uma doença glomerular específica, mas um conjunto de manifestações clínicas resultantes do aumento da permeabilidade glomerular e da perda de proteínas na urina. Na síndrome nefrótica, a lesão glomerular causa um aumento da permeabilidade da parede capilar à proteína. Já na síndrome nefrítica, contém inflamação glomerular, reduzindo a taxa de filtração glomerular (TFG), proteinúria subnefrótica, edema e hipertensão (secundária à retenção de sódio), bem como hematúria com cilindros hemáticos. – FISIOPATOLOGIA DA HD Síndrome nefrítica aguda é o correspondente clínico da inflamação glomerular aguda. Em sua forma mais grave, caracteriza-se por início súbito de hematúria (microscópica ou macroscópica com cilindros hemáticos), graus variáveis de proteinúria, redução da TFG, oligúria e sinais de disfunção renal. É causada por processos inflamatórios que obstruem os lumens dos capilares glomerulares e lesam a parede capilar. Essa lesão da parede capilar possibilita que as hemácias entrem na urina e causa as alterações hemodinâmicas que reduzem a TFG. Acumulação extracelular de líquidos, hipertensão e edema ocorrem em consequência da TFG reduzida e da reabsorção tubular aumentada de sal e água. Na síndrome nefrítica, há uma ruptura estrutural da membrana basal glomerular. A barreira de filtração glomerular (GFB) é formada por uma malha de laminina, proteoglicanos e colágeno tipo IV. Permite a filtração de água e solutos de pequeno e médio porte. As três camadas da barreira de filtração glomerular são o endotélio, a membrana basal glomerular (GBM) e os podócitos. Os podócitos fazem parte da camada visceral da cápsula de bowman, são células epiteliais cuboidais que formam extensões citoplasmáticas que envolvem a membrana basal dos capilares. Possui um corpo celular, formado por processos primários e secundários. Os pedicelos formam um diafragma em forma de fenda que é seletivo quanto ao tamanho e carga das substâncias que filtra. Na síndrome nefrítica, o GFB pode ser danificado por vários mecanismos: • Dano direto à camada de células endoteliais • Deposição de complexo imune no espaço subendotelial, subepitelial e mesangial • Ruptura da membrana basal glomerular por doenças renais primárias ou doenças sistêmicas secundárias • Danos à camada celular dos podócitos PROTEINÚRIA Na fisiologia glomerular, proteínas de baixo peso molecular podem ser filtradas pela barreira de filtração, mas logo são reabsorvidas pelos túbulos proximais por isso não são identificadas em exames de urina normais. O endotélio é uma barreira bastante permeável, possuindo as fenestras; já a membrana basal glomerular (MBG) é uma rede com carga elétrica negativa, que apresenta grande quantidade de poros pequenos, denominados poros discriminantes, e baixa densidade de poros grandes, chamados poros não discriminantes. Essas características fazem com que ela seja altamente permeável a água e moléculas pequenas, como ureia, creatinina, glicose etc., e praticamente impermeável a macromoléculas (p.ex.,imunoglobulinas). O podócito, célula que recobre a membrana basal glomerular, tem pedicelos unidos por um diafragma, que são bastante seletivos à passagem de proteínas, constituindo-se a principal barreira à passagem de proteínas. Lesões nos podócitos podem causar grandes proteinúrias. Outro fator que influencia bastante a permeabilidade a proteínas é a carga elétrica negativa da barreira. A albumina plasmática, por exemplo, apresenta raio molecular de 33 Å e, quando em solução no plasma, tem carga negativa. Pelo seu tamanho, ela poderia atravessar a membrana basal glomerular; porém, o fato de apresentar carga negativa faz com que ela seja repelida pela membrana basal glomerular e sua passagem por essa membrana seja desprezível. Nas glomerulopatias, existem perda de cargas aniônicas e aumento da densidade de poros não discriminantes da membrana basal glomerular, o que leva ao aumento da sua permeabilidade com consequente proteinúria. Nas glomerulopatias em que ocorrem apenas lesão podocitária e perda de carga (glomerulonefrite por lesões mínimas), as proteínas encontradas na urina são basicamente de baixo peso molecular, como a albumina e a transferrina, considerando-se a proteinúria seletiva, enquanto naquelas em que ocorre aumento da densidade de poros não discriminantes da membrana basal glomerular (NM, GNMP, GESF), além de albumina e transferrina, encontram-se também proteínas de maior peso molecular, como imunoglobulinas, constituindo-se proteinúria não seletiva. A maior parte das glomerulonefrites é mediada pelo sistema imune, quer pela deposição de imunocomplexos circulantes, quer pela reação antígenoanticorpo in situ. Essas reações podem ativar o sistema complemento, o que, direta ou indiretamente, leva ao aumento de permeabilidade da MGB, resultando em proteinúria. Nas diferentes glomerulonefrites experimentais, existe aumento da pressão hidrostática dentro do capilar glomerular, o qual representa outro fator importante na gênese da proteinúria. HEMATÚRIA O conceito mais aceito atualmente refere-se ao fato de que, no curso da agressão renal, acabam ocorrendo soluções de continuidade na membrana basal glomerular que, associadas ou não a reação inflamatória local com vasodilatação, possibilitam a passagem de hemácias para o espaço de Bowman. Essa passagem se faz pela diapedese, o que provoca intensa alteração da sua forma e, por isso, a maior parte dos eritrócitos encontrados na urina de pacientes com glomerulopatias apresenta- se dismórfica. A hematúria glomerular resulta de pequenas falhas na membrana basal glomerular que permitem o extravasamento de eritrócitos para o espaço urinário. Isso pode ocorrer na parede do capilar periférico, mas ocorre com mais frequência na membrana basal paramesangial, particularmente em doenças que envolvem a lesão do mesângio (mesangiólise). Enquanto os túbulos renais estiverem intactos, pequenas quantidades de proteínas séricas perdidas junto com os eritrócitos nos glomérulos lesados podem ser totalmente reabsorvidas, resultando em micro-hematúria “isolada”. RETENÇÃO DE SÓDIO, EDEMA E HIPERTENSÃO O edema presente nos pacientes portadores de nefropatia tem sido explicado por dois mecanismos diferentes – underfill e overflow. O mecanismo de underfill se dá nos pacientes portadores de síndrome nefrótica, nos quais ocorre proteinúria maciça acompanhada de hipoalbuminemia, a qual tem sido responsabilizada pela formação do edema. Nesses casos, há perda de proteínas pela urina, com consequente hipoalbuminemia, e diminuição da pressão oncótica do plasma. Essa diminuição leva ao extravasamento de líquido do intravascular para o interstício, com formaçãode edema. A retração do intravascular, com hipovolemia relativa, ativa diferentes sistemas de retenção de sódio (sistema renina-angiotensina, sistemasimpático e diminuição do fator natriurético), agravando o edema e formando um círculo vicioso. O paciente portador de edema secundário a esse mecanismo se apresenta com palidez cutânea e taquicardia (resultado da ativação simpática) e hipotensão postural (resultado da hipovolemia efetiva), além de hipoalbuminemia importante, frequentemente inferior a 2,5 mg/dℓ. Nos pacientes portadores de nefropatia sem hipoalbuminemia importante, o edema se dá por mecanismo de overflow, ou seja, o edema tem sido imputado à retenção primária de sódio pelo rim lesado. O segmento tubular do rim doente que absorve mais sódio, comparado ao rim não lesado, é o distal e a reabsorção patológica está ligada à hiperatividade das fosfodiesterases e a menores índices celulares de GMP-cíclico. Com o sódio, há retenção de água, com aumento da volemia, aumento da pressão hidrostática intravascular e extravasamento de líquido para o interstício, com consequente aparecimento de edema. Nesses casos, os pacientes podem apresentar hipertensão, edema, hipervolemia e sinais de insuficiência cardíaca congestiva. Nos últimos anos, têm surgido evidências de que se deva questionar a teoria do underfill. Algumas provas disso são que menos de 50% de pacientes portadores de analbuminemia congênita apresentam edema; a volemia de pacientes com síndrome nefrótica está normal ou aumentada em 70% dos casos; a concentração intersticial de albumina nos pacientes nefróticos encontra-se em níveis semelhantes à concentração plasmática e, portanto, não existe a diferença de pressão oncótica entre o intravascular e o interstício; e, nos pacientes que apresentam remissão da síndrome nefrótica, a excreção urinária de sódio antecede o aumento da albumina plasmática. Além disso, tem- se demonstrado que, em animais de experimentação com nefropatia unilateral, apenas há retenção de sódio no rim lesado. Por esses motivos, hoje se acredita que, mesmo nos pacientes com hipoalbuminemia, sobretudo nos adultos, na maioria dos casos a origem do edema está ligada a maior retenção tubular de sódio provocada pela própria lesão renal, e não como consequência das alterações sistêmicas. QUEDA DA FILTRAÇÃO GLOMERULAR Vários fatores, como a retração dos podócitos (que ocorre em pacientes com síndrome nefrótica, independentemente do tipo histológico), a infiltração de neutrófilos, os depósitos de imunocomplexos e as proliferações endocapilares, podem ocluir as fenestrações do endotélio e diminuir a área filtrante da membrana basal glomerular, o que explica a queda aguda do coeficiente de permeabilidade da membrana basal glomerular em algumas glomerulopatias. Proliferações extracapilares observadas nas glomerulonefrites crescênticas com colapso do tufo glomerular também podem ser responsáveis pela queda aguda da filtração glomerular por diminuírem a área total disponível para filtração. As alterações lentas e progressivas da filtração glomerular observadas em alguns pacientes portadores de diferentes glomerulopatias podem se responsabilizar pelo desenvolvimento de insuficiência renal crônica terminal e estão geralmente mais relacionadas com o grau de lesão tubulointersticial do que com as lesões glomerulares. ALTERAÇÕES METABÓLICAS O nível de albumina sérica do paciente com síndrome nefrótica refere-se ao resultado de um balanço em que os fatores mais importantes são a intensidade e a duração da perda urinária de proteína e a capacidade de síntese hepática. Outro fator que influencia esse balanço é o aumento do catabolismo proteico. Em condições normais, a pequena quantidade de albumina filtrada é reabsorvida pelos túbulos proximais. Quando há aumento dessa filtração, ocorre também aumento da reabsorção tubular e de seu catabolismo. O catabolismo e aperda urinária contribuem para a hipoalbuminemia. As alterações lipídicas encontradas na síndrome nefrótica decorrem de dois mecanismos principais. O primeiro relaciona-se diretamente com os níveis de albumina plasmática. A hipoalbuminemia é um estímulo para o aumento da síntese proteica pelo fígado, o que leva à maior síntese de lipoproteínas de baixa densidade e de muito baixa densidade. Como as primeiras são carreadoras de colesterol e as segundas de triglicerídios, ocorrem hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia. O segundo mecanismo se deve à inibição da lipólise pela redução da atividade da lipase lipoproteica ou perda urinária dessa enzima, com consequente redução no catabolismo dos lipídios. Outra alteração metabólica encontrada nos pacientes com doenças glomerulares é a hipocalcemia. Como parte do cálcio plasmático está ligada à albumina, pode-se explicar a hipocalcemia parcialmente pela queda da concentração plasmática dessa proteína. É possível observar também queda do cálcio iônico, explicada pela perda urinária de proteínas ligadas ao metabolismo desse íon: 1,25(OH)2 colecalciferol e 24,25(OH)2 colecalciferol. A glomerulonefrite pós-estreptocócica ocorre após dor de garganta ou impetigo cutâneo por cepas nefritogênicas de estreptococos do grupo A. Os anticorpos são produzidos contra antígenos nefritogênicos de estreptococos do grupo A. O complexo imune formou depósitos dentro ou ao redor da membrana basal glomerular. Ele ativa a cascata do complemento, resultando no recrutamento de células do sistema imunológico, como células T, células plasmáticas e macrófagos. A cascata de coagulação também é ativada, resultando em microtrombose. Glomerulonefrite pós¬infecciosa aguda. Em geral, a glomerulonefrite pós infecciosa aguda ocorre depois da infecção por algumas cepas de estreptococos ߬hemolíticos do grupo A e é causada pela deposição de imunocomplexos de anticorpo e antígenos bacterianos. Isso também pode ocorrer depois de infecções por outros microrganismos, inclusive estafilococos, vírus (p. ex., vírus da hepatite) e vários parasitos. A fase aguda da glomerulonefrite pós infecciosa caracteriza-se por crescimento difuso e hipercelularidade dos glomérulos. A hipercelularidade é causada por infiltração de leucócitos (neutrófilos e monócitos) e pela proliferação das células endoteliais e mesangiais. Também há edema das células endoteliais. A combinação de proliferação, edema e infiltração por leucócitos fecha os lumens dos capilares glomerulares. Também pode haver edema e inflamação do interstício, e os túbulos comumente contêm hemácias. Nas primeiras semanas da doença, a microscopia de imunofluorescência geralmente mostra depósitos granulares de IgG e componente C3 do complemento no mesângio e ao longo da membrana basal (Figura 41.12). Os pacientes RPGN têm uma alta prevalência de certos alelos HLA, por exemplo, HLA-DR 14 e HLA- DR 4, sugerindo uma predisposição genética à autoimunidade. Na síndrome de Goodpasture, os autoanticorpos são contra um peptídeo da membrana basal glomerular (GBM) dentro da porção não colágena da cadeia α3 do colágeno tipo IV. O mecanismo exato que desencadeia a formação desses autoanticorpos não está claro. No entanto, a exposição a vírus ou certos solventes de hidrocarbonetos em tintas e corantes foi implicada em alguns pacientes. Vários medicamentos também podem causar autoanticorpos. Além disso, certas doenças malignas também estão implicadas. A púrpura de Henoch-Schönlein (HSP) frequentemente ocorre após infecções do trato respiratório superior. Estreptococos do grupo A, vírus parainfluenza e parvovírus B19 estão comumente implicados em sua patogênese. A deposição de imunocomplexos contendo IgA no mesângio desempenha um papel central na patogênese da HSP. Ele induz a proliferação celular, o recrutamentode leucócitos e a liberação de grandes quantidades de citocinas e quimiocinas. A reação inflamatória causa danos endotelial e podocitário. Na glomerulonefrite pauci-imune, a maioria dos pacientes tem anticorpos circulantes citoplasmáticos anti-neutrófilos (ANCAs) que produzem um padrão de coloração citoplasmática (c-ANCA) ou perinuclear (p-ANCA). Pode haver um componente de vasculites sistêmicas, como granulomatose com poliangiite (anteriormente conhecida como granulomatose de Wegener) ou poliangiite microscópica. Em muitos casos, a vasculite é limitada aos rins (idiopática), e cerca de 90% dos pacientes idiopáticos têm c-ANCAs (específicos para a proteína proteinase-3 do grânulo de neutrófilos) ou p-ANCAs (anti- mieloperoxidase de neutrófilos) no soro. O potencial patogênico dos anticorpos ANCA foi estabelecido recentemente com estudos em camundongos onde a transferência de anticorpos contra a mieloperoxidase (o antígeno alvo da maioria dos p-ANCAs) induz uma forma de RPGN. A ruptura da barreira de filtração glomerular na síndrome nefrítica permite que glóbulos vermelhos, albumina e moléculas grandes sejam filtradas na urina, resultando na síndrome nefrítica. Os eritrócitos dismórficos - uma característica da hematúria glomerular, acantócitos e cilindros eritrocitários são patognomônicos de glomerulonefrite. Os cilindros de hemácias são formados quando deformados, e hemácias e glóbulos brancos distorcidos são envoltos pela proteína Tamm-Horsfall (THP). O THP é secretado pelas células tubulares renais e excretado na urina normalmente. Síndrome de Goodpasture. É uma forma rara e agressiva de glomerulonefrite causada por anticorpos dirigidos contra as membranas basais dos glomérulos (MBG) e dos alvéolos. Os anticorpos anti¬MBG têm reatividade cruzada com a membrana basal dos alvéolos pulmonares e são responsáveis pela síndrome de hemorragia pulmonar associada à insuficiência renal. A alteração patológica típica da glomerulonefrite por anticorpos anti¬MBG é a coloração linear difusa das membranas basais para IgG (Figura 41.13). A etiologia dessa síndrome é desconhecida, embora tenham sido implicadas infecções por vírus influenza, exposição aos hidrocarbonetos solventes (encontrados nas tintas e nos corantes), vários fármacos e câncer em alguns casos. Acredita¬se que a síndrome de Goodpasture tenha predisposição genética, mas isso não está comprovado. O tratamento inclui plasmaférese para remover os anticorpos anti¬MBG circulantes e imunossupressores (i. e., corticoides e ciclofosfamida) a fim de inibir a formação de mais anticorpos. Glomerulonefrite rapidamente progressiva Glomerulonefrite rapidamente progressiva é uma síndrome clínica que se caracteriza por sinais e sintomas de lesão glomerular grave, sem uma causa específica determinável. Como seu nome sugere, esse tipo de glomerulonefrite é rapidamente progressivo, em geral no intervalo de alguns meses. A doença consiste em proliferação focal e segmentar das células glomerulares e recrutamento de monócitos e macrófagos com formação de estruturas com configuração de crescentes, que fecham o espaço de Bowman. A glomerulonefrite rapidamente progressiva pode ser causada por algumas doenças imunes, algumas sistêmicas e outras limitadas aos rins. Entre as doenças associadas estão distúrbios imunes complexos como LES, vasculites de pequenos vasos (p. ex., poliangiite microscópica) e uma doença conhecida como síndrome de Goodpasture. PATOGENIA A patogênese da GNPE (Figura 1) não está elucidada, evidências sugerem associação com resposta imunológica com ativação do complemento, recrutamento de leucócitos, aumento do fator de crescimento e citocinas, inflamação e dano glomerular. Os depósitos imunes típicos são: IgG, C3, properdina e C5. O C3 volta aos valores de normalidade após 6-8 semanas. A gravidade e a duração da nefrite são variáveis, porém, a maioria dos casos se resolve em 2-3 semanas e menos de 1% evolui para doença renal crônica. ETIOLOGIA A síndrome nefrítica pode ser decorrente de glomerulonefrite proliferativa aguda (pós-infecciosa e associada à infecção), glomerulonefrite crescente e glomerulonefrite lúpica proliferativa. - Em crianças, a causa mais comum de glomerulonefrite aguda é a glomerulonefrite pós- estreptocócica. O início súbito da síndrome nefrítica ocorre 7 a 10 dias após uma infecção estreptocócica ou 2-3 semanas após uma infecção cutânea (impetigo). O patógeno mais comum envolvido são os estreptococos hemolíticos do grupo A-beta. Mais de 90% dos pacientes apresentam infecção prévia com estreptococos tipos 12, 4 e 1, que são identificados pela proteína M das paredes das células bacterianas. - Uma forma semelhante de glomerulonefrite (associada à infecção) pode ocorrer em associação com certas infecções, por exemplo, infecções bacterianas (meningococcemia, endocardite estafilocócica e pneumonia pneumocócica, etc.), infecções virais (principalmente hepatite B, hepatite C, caxumba, infecção por HIV, varicela e EBV causando mononucleose infecciosa) e infecções parasitárias (malária e toxoplasmose). A classificação das doenças glomerulares primárias associadas à síndrome nefrítica, são complexas, porque algumas doenças são identificadas pela: - Histologia (nefropatia por IgA); - Outras, pela sorologia e histologia (vasculite ANCA associada e nefrite lúpica); - E outras, pela etiologia (GN pós-infecciosa). GLOMERULONEFRITE RAPIDAMENTE PROGRESSIVA Na glomerulonefrite rapidamente progressiva (GNRP) a lesão glomerular é tão aguda e grave que a função renal se deteriora em questão de dias ou semanas. O paciente pode se apresentar em emergência urêmica, com síndrome nefrítica que não é autolimitada, encaminhando-se para rápida falência renal, ou com uma rápida deterioração da função renal enquanto são investigadas doenças de origem não renal (muitos dos padrões de GN associada à GNRP ocorrem como parte de uma doença sistêmica imunológica). O padrão histológico da GNRP é a GN crescêntica. A resposta proliferativa celular vista fora do tufo glomerular, mas dentro do espaço Bowman, é conhecida como um «crescente» devido a sua forma em um corte histológico transversal (Fig. 16-8). O tufo glomerular também mostra necrose segmentar típica, ou GN necrotizante segmentar focal; isto é particularmente característico das vasculites. O termo GN rapidamente progressiva é também frequentemente utilizado para descrever a deterioração aguda da função renal em associação à nefrite crescêntica. Infelizmente, nem todos os pacientes com sedimento urinário nefrítico e IRA apresentarão esta síndrome. Por exemplo, a IRA pode também ocorrer em formas mais suaves da doença glomerular, se for complicada por hipertensão acelerada, trombose da veia renal ou necrose tubular aguda. Isso enfatiza a necessidade de se obter a confirmação histológica do diagnóstico clínico MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os sintomas clássicos da síndrome nefrítica são: • Edema periorbital e periférico. • Hematúria com urina vermelha ou cor de coca- cola. • Proteinúria subnefrótica (ou seja, inferior a 3,5 g/dia). • Pode causar urina espumosa quando a proteinúria é alta. • Hipertensão ou pressão arterial (PA) mal controlada em pacientes com PA previamente controlada. • Oligúria (redução da produção de urina) e azotemia, devido à diminuição da taxa de filtração glomerular (TFG). Azotemia - presença de altas concentrações de ureia, creatinina, ácido úrico e proteínas, no sangue, soro ou plasma. Os sintomas clínicos podem ter curso variável. Eles podem se apresentar com: • Curso progressivo crônico causando insuficiência renal crônica (adultos normais com GN pós-infecciosa e RPGN) ou • Doença autolimitadaaguda (crianças normais com GN pós-estreptocócica). • O curso fulminante agudo geralmente é visto em todos os pacientes com glomerulonefrite crescente. A clássica apresentação da síndrome nefrítica é aquela observada na GN pós-estreptocócica aguda nas crianças: • Início rápido de oligúria. • Ganho de peso. • Edema generalizado durante alguns dias. • A hematúria resulta em urina marrom em vez de vermelha, e coágulos não são vistos. • A urina contém proteínas, hemácias e cilindros hemáticos. • Uma vez que a proteinúria raramente está na faixa nefrótica, a concentração de albumina sérica geralmente é normal. • Hipertensão arterial - volume circulante aumenta. • Edema pulmonar sem evidência de doença cardíaca primária. IMC: 30kg = 30kg = 18,40. 1,28 X 1,28 1,63 Fonte: BRASIL. Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde. Caderneta de Saúde da Criança: Menino. Saúde da Criança. 12ª edição. 2019. História natural da doença O quadro clássico de GNPE corresponde ao aparecimento súbito de edema, hipertensão e hematúria. O edema ocorre em 65-90% dos pacientes e se mantém de 7-10 dias. Em geral, ele precede a hematúria, que é macroscópica em um terço dos casos e tem duração de 1-3 semanas, porém a hematúria microscópica pode persistir por meses até 2-4 anos. A hipertensão arterial é observada em 60-80% dos pacientes e ocorre por retenção hidrossalina. Pode evoluir para emergência hipertensiva com encefalopatia, insuficiência cardíaca e/ou edema pulmonar, com resolução em cerca de 10 dias. A redução da taxa de filtração glomerular pode ocorrer em cerca de 50% dos casos (raramente anúria), com normalização em 3-4 semanas após o início da doença. Além disso, podem ocorrer acidose metabólica e hipercalemia, particularmente nos pacientes oligúricos. Entre as alterações do sedimento urinário, destacam-se: hematúria com dismorfismo eritrocitário, cilindros hemáticos, cilindros granulosos e presença de proteinúria discreta (nefrótica em cerca de 5% dos casos). Diminuição dos níveis de CH50 e C3, pela ativação preferencial da via alternativa do complemento, sendo tal dado observado em 90- 100% dos casos de GNPE, com normalização em 6- 8 semanas, na maioria dos pacientes. A confirmação de infecção estreptocócica por cultura de orofaringe ou pele tem baixa sensibilidade. Os títulos de antiestreptolisina O (ASLO) estão elevados em cerca de 80% das glomerulonefrites após faringite, sendo baixos nos casos após piodermite. Nos casos após infecção cutânea, observa-se elevação de anti-hialuronidase e anti desoxirribonuclease B (anti-DNAse B) em 80- 90% dos pacientes. Os casos clássicos da glomerulonefrite pós- estreptocócica começam depois de uma infecção estreptocócica 7 a 12 dias antes. Esse é o intervalo necessário à produção dos anticorpos. Em geral, a infecção primária afeta a faringe, mas a pele também pode ser afetada. Uma das primeiras manifestações clínicas é oligúria, que ocorre à medida que a TFG diminui. Proteinúria e hematúria vêm em seguida como consequência do aumento da permeabilidade das membranas dos capilares glomerulares. As substâncias na urina destroem as hemácias, e urina marrom escura pode ser o primeiro sinal dessa síndrome. A retenção de sódio e água causa edema (principalmente da face e das mãos) e hipertensão. Entre as anormalidades laboratoriais significativas estão aumentos dos títulos de anticorpo antiestreptocócico (ASO), redução das concentrações séricas de C3 e outros componentes do sistema complemento e formação de crioglobulinas (i. e., imunocomplexos grandes) no soro. CONDUTA DIAGNÓSTICA ANAMNESE Perguntar ao paciente ou responsável: Apresenta inchaço periorbital geralmente no início da manhã? O edema nas pernas costuma ser mais perceptível à noite? Observou mudança na cor, odor, consistência ou produção de urina? Trato respiratório superior ou infecção cutânea recente Tem apresentado febre? Sentiu cansaço ou sensação de fraqueza? • Hemoptise e dispneia podem estar presentes na síndrome de Goodpasture (devido a anticorpos de reação cruzada para o epitélio alveolar) e na granulomatose de Wegener (se os pulmões forem afetados). História de doença viral ou exposição a hidrocarbonetos pode ser eliciada nesses pacientes. EXAME FÍSICO → Palidez. → Pressão arterial elevada. Os sinais de sobrecarga de fluidos podem estar presentes, incluindo: → Distensão jugular. → Edema depressível. → Crepitações na ausculta torácica. Exame cafalo-caudal – a procura de outros sinais que possam indicar diagnósticos diferenciais, como por exemplo úlceras e erupção nas extremidades para descartar vasculite. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS As seguintes doenças renais têm uma apresentação clínica semelhante à síndrome nefrítica: • Síndrome nefrótica. • Nefrite familiar. • Hematúria idiopática. • Anafilaxia. Sopro cardíaco → pacientes com endocardite infecciosa. Púrpura palpável e articulações doloridas e inchadas → doenças sistêmicas como vasculite, púrpura de Henoch-Schönlein e LES. Púrpura de Henoch-Schönlein afeta os pequenos vasos sanguíneos da pele, das articulações, dos intestinos e dos rins. É mais comum antes dos sete anos de idade. Os sintomas incluem manchas vermelhas arroxeadas nas extremidades inferiores, inchaço e dor nas articulações, dor abdominal ou sangue na urina. Pielonefrite aguda → a clínica de disúria e polaciúria, associada a exame físico com Giordano positivo, corrobora a hipótese de pielonefrite aguda, confirmada pela urocultura. Caso contrário, proteinúria, hematúria e leucocitúria podem ser consequências do dano glomerular. Nos casos de glomerulonefrite difusa aguda pósestreptocócica, lombalgia com Giordano duvidoso pode estar presente por distensão da cápsula renal, consequência da inflamação glomerular. EXAME COMPLEMENTARES Exames Laboratoriais Análise da urina é o primeiro exame feito na avaliação da síndrome nefrítica. O limite superior da excreção normal de sangue na urina é de 3 eritrócitos / HPF. • Mais de 5 eritrócitos / HPF junto com acantócitos, cilindros eritrocitários dismórficos e células vermelhas do sangue (eritrócitos) e, em alguns casos, cilindros de leucócitos (leucócitos). • Urina de cor acastanhada (cola). • Eritrócitos dismórficos e pelo menos 1 em cada 20 células é um acantocito na hematúria glomerular. • Piúria na ausência de infecção do trato urinário. • Os cilindros celulares são menos comuns que os acantócitos na hematúria glomerular, pois os cilindros estão presentes na doença grave. • Proteinúria geralmente varia na faixa subnefrótica (menos de 3,5 g / dia), mas pode ir até a faixa nefrótica. Um ensaio de proteína urinária de 24 horas é necessário se houver suspeita de síndrome nefrótica concomitante. Funções renais devem ser avaliadas medindo os níveis plasmáticos de creatinina e uréia. Os níveis de creatinina plasmática podem estimar a TFG para determinar o estágio da doença renal crônica. Na síndrome nefrítica, a excreção de ureia e creatinina é prejudicada devido à interrupção do GFB. Isso resulta em azotemia, nível elevado de creatina e redução da TFG. Hemoculturas – pacientes com febre persistente e sinais de infecção crônica. A biópsia renal fornecerá a causa subjacente definitiva da síndrome nefrítica. Os achados histopatológicos da biópsia renal são descritos na seção de histopatologia acima. Os testes sorológicos a seguir devem ser realizados para descartar a doença imunológica renal subjacente. • ANA: anticorpos antinucleares para descartar doenças autoimunes • Níveis de complemento C3 e C4 no soro: Os níveis de complemento são baixos em doenças em que háuma ativação da cascata inflamatória resultando na deposição de complexos imunes no glomérulo. As condições incluem glomerulonefrite pós-estreptocócica, endocardite infecciosa e LES. • Títulos ASO: Altos níveis de anti- estreptolisina O, títulos de anticorpos anti- DNase B indicam uma infecção estreptocócica recente. • ANCA: Os níveis de anticorpos citoplasmáticos anti-neutrófilos (ANCA) citoplasmáticos e periféricos são avaliados para descartar vasculite sistêmica (ou seja, granulomatose com poliangiite, poliangiite microscópica) • Anticorpos anti-dsDNA: Altamente sensíveis para o diagnóstico de lúpus eritematoso sistêmico. • Anticorpos anti-membrana basal glomerular: para descartar a síndrome de Goodpasture. • Antígeno de superfície da hepatite B e anticorpos anti-HCV: para descartar infecção por hepatite B e C. • Eletroforese de proteínas séricas e imunofixação sérica: Para identificar distúrbios de células plasmáticas e níveis de proteínas monoclonais. • Fator reumatoide: para triagem de crioglobulinemia em pacientes suspeitos. Certos testes sorológicos também são úteis. Estes incluem anticorpos antinucleares e anti-DNA para o lúpus; crioglobulinas e fator reumatoide sugerem crioglobulinemia; anticorpo antimembrana basal glomerular (antiMBG) sugere doença de Goodpasture; anticorpo anticitoplasma de neutrófilo (ANCA) para vasculite e antiestreptolisina O ou teste da estreptozima para glomerulonefrite pós-estreptocócica. A eletroforese sérica e urinária pode detectar cadeias leves monoclonais ou cadeias pesadas, e ensaios para cadeias leves livres no soro ou na urina podem ajudar na sua quantificação, como na amiloidose associada ao mieloma ou doença de depósito de cadeia leve. Os testes para a detecção de infecções bacterianas ou virais em curso também são úteis. Eles incluem hemoculturas e testes para hepatite B, hepatite C e infecção pelo vírus da imunodeficiência (HIV). Mensurar a ativação da cascata do complemento através das dosagens séricas de C3, C4 e CH50 (50% da dose hemolisada do complemento) costuma ser útil para limitar os diagnósticos diferenciais (Tabela 15-1). Exames de imagem Ultrassonografia – é recomendada para verificar a presença de dois rins, descartar obstrução ou anormalidades anatômicas e para avaliar o tamanho renal. O tamanho dos rins é frequentemente normal nas GN, apesar de rins grandes (> 14 cm) serem observados nas síndromes nefróticas associadas a diabetes, amiloidose ou infecção por HIV. Rins grandes podem ocasionalmente ser vistos em qualquer GN aguda severa. A visualização de rins de tamanho pequeno (< 9 cm) sugere doença renal crônica avançada (DRC) e deve limitar a indicação e a de realização biópsia renal ou terapias imunossupressoras agressivas. Biópsia As indicações de biópsia são: • Hematúria macroscópica com duração superior a quatro semanas; • Hematúria microscópica com duração superior a 1-2 anos; • Oligoanúria por mais de 48-72h; • Piora progressiva da função renal; • Hipocomplementenemia ausente no diagnóstico ou mantida por mais de oito semanas; • Proteinúria nefrótica inicial (>6 semanas) ou proteinúria não-nefrótica persistente (>6 meses); • Presença de sinais de doença sistêmica e/ou histórico familiar de doença renal. Histopatologia Os achados microscópicos de diferentes etiologias são: Glomerulonefrite pós-estreptocócica: a imagem da microscopia de luz mostra que os glomérulos estão difusamente aumentados com proliferação endocapilar e infiltração de neutrófilos. A microscopia de imunofluorescência mostra um "padrão de céu estrelado" devido à deposição granular "irregular" subepitelial de IgG e C3. A microscopia eletrônica irá demonstrar os depósitos imunológicos subepiteliais "irregulares". Depósitos mesangiais também podem ser vistos em alguns pacientes. Glomerulonefrite estafilocócica: A maioria dos pacientes tem glomerulonefrite endocapilar focal com oclusão capilar periférica devido à proliferação de células endoteliais e infiltração de neutrófilos. Os tufos capilares podem mostrar necrose. Depósitos imunológicos subepiteliais "irregulares" são vistos. Em alguns pacientes, a glomerulonefrite proliferativa mesangial (também chamada de glomerulonefrite membranoproliferativa ou NMPM) pode ser observada com proliferação mesangial marcada e depósitos imunes granulares dentro da membrana basal. Glomerulonefrite Crescente: A crescente é formada pela proliferação de células epiteliais na camada parietal da cápsula de Bowman. Macrófagos, exsudatos de fibrina, fibroblastos e produtos do complemento podem ser vistos presos no mesângio e no espaço da cápsula de Bowman. Além disso, outras características de lesões específicas do distúrbio podem ser observadas em diferentes doenças. • Na síndrome de Goodpasture, há uma deposição linear de anticorpos IgG e C3 ao longo do MEMBRANA BASAL GLOMERULAR. • A nefrite lúpica tem um "padrão de casa cheia" com depósitos imunes IgG, IgM, IgA, C3 presentes difusamente no mesângio, subepitélio e subendotélio. • Anticorpos anti-GBM ou complexos imunes não são detectados por imunofluorescência e microscopia eletrônica na glomerulonefrite crescente pauci- imune. Vasculite pode ser observada na biópsia renal. ATENÇÃO!!! Acantócitos, hemácias dismórficas e cilindros de hemácias presentes na análise de urina são patognomônicos da inflamação glomerular. CONDUTA TERAPÊUTICA O tratamento na síndrome nefrítica é principalmente de suporte. Não farmacológico Restrição da dieta: Se possível o paciente deve seguir uma dieta restrita com baixo teor de sódio, potássio e fosfato planejada pelo nutricionista. A redução da ingestão de sódio e potássio ajuda a reduzir a retenção de água. Alimentos ricos em potássio: abacate, banana, folhas de coloração verde escura e peixes. Restrição de líquidos: para aliviar o edema existente e minimizar o risco de desenvolver edema, é recomendada a restrição de líquidos. Repouso no leito: os pacientes são aconselhados a reduzir a atividade física durante o tratamento. Conduta farmacológica O tratamento consiste em: • Anti-hipertensivos: os anti-hipertensivos são administrados em pacientes com pressão arterial elevada, apesar do sal na dieta, restrição de líquidos e diuréticos de alça. Em casos graves, a hipertensão é tratada com inibidores da ECA, ARA e nifedipina. • Diuréticos: diuréticos de alça podem ser administrados para excretar o excesso de sódio e água retidos no corpo. Ajuda a diminuir a retenção de líquidos no corpo. A carga reduzida de fluidos nos rins ajuda a acelerar o processo de cicatrização. • Corticosteróides: ajudam a aliviar a inflamação nos rins e promovem a cura. • Imunomoduladores: drogas imunossupressoras reduzem e bloqueiam os efeitos antigênicos dos agentes desencadeantes. É mais útil para glomerulonefrite rapidamente progressiva. O uso de corticosteroides e imunomoduladores é controverso em certas causas da síndrome nefrítica, incluindo endocardite estafilocócica. Pode agravar a sepse e resultar em aumento da mortalidade. • Antibióticos: Pacientes com GN pós- estreptocócica com evidência de infecção estreptocócica recebem penicilina. A eritromicina é preferida para pacientes alérgicos à penicilina. O tratamento precoce da infecção estreptocócica com antibióticos reduz a gravidade e a incidência de glomerulonefrite. • Diálise: em alguns casos, a doença tem um curso fulminante que leva à insuficiência renal. Nesses casos, é realizada terapia de substituição renal com diálise. Pacientes com hipertensão arterial sistêmica moderada ou grave, oligúria e/ou complicações, como insuficiência cardíaca congestiva, encefalopatia hipertensivae lesão renal aguda, devem ser hospitalizados. A avaliação diária de peso, pressão arterial, sintomas cardiovasculares, débito urinário e acompanhamento do edema e estado geral são fundamentais. A glomerulonefrite pós-estreptocócica é uma doença de evolução autolimitada e benigna na maioria dos casos. CONDUTA EDUCACIONAL O paciente deve ser educado para saber realizar o monitoramento cuidadoso do seu estado, sabendo reconhecer os sintomas de alerta e efeitos adversos gerados pela medicação. EPIDEMIOLOGIA As glomerulonefrites são a 3ª principal causa de doença renal crônica (DRC) no mundo, responsabilizando-se por cerca de 13 a 15% de todos os casos de DRC terminal, atrás apenas da nefropatia diabética e das lesões renais associadas à hipertensão arterial. Quando se consideram as glomerulopatias como um todo, incluindo a nefropatia diabética, estas são a principal causa de DRC no mundo. A síndrome nefrite e a síndrome nefrótica, foram registradas como a 9ª causa de morte nos EUA no ano de 2017. O número relatado de mortes devido à síndrome nefrítica, síndrome nefrótica e doenças renais foi 50.633 de um total de 2.813.503 mortes no ano de 2017. A taxa de mortalidade aumenta com o avançar da idade. As mortes por síndrome nefrítica e nefrótica foram maiores nas mulheres, em comparação aos homens. Nas mulheres, foi a nona causa principal, respondendo por 1,8% do total de mortes, enquanto nos homens, não figurou entre as dez principais causas. O protótipo da síndrome nefrítica é a glomerulonefrite pós-estreptocócica (GNPE). A GNPE é a causa mais comum de nefrite aguda em crianças - em todo o mundo, sendo a principal complicação não supurativa da infecção pelo estreptococo do grupo A de Lancefield. Nas últimas três décadas, mudanças significativas ocorreram em sua epidemiologia: A doença é hoje rara nas nações industrializadas e estima-se que a maioria dos casos ocorra em regiões do mundo com baixo nível socioeconômico. A estimativa mundial de ocorrência de casos novos é de 472.000 casos por ano, destes, 404.000 ocorrendo em crianças. O risco de GNPE é aumentado em pacientes idosos e em crianças entre 5 e 12 anos de idade, sendo incomum em crianças com menos de três anos de idade e duas vezes mais frequente em homens que em mulheres. Geralmente ocorre como um caso esporádico ou durante uma epidemia de infecção de pele ou garganta por estreptococos do grupo A. FATORES DE RISCO Crianças de 5 a 12 anos Sexo masculino Certos medicamentos e toxinas podem causar doença glomerular, incluindo anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) e interferon na doença por lesões mínimas (DLM); penicilamina, AINEs e mercúrio (p. ex., em cremes para clareamento da pele) na nefropatia membranosa; pamidronato e heroína na GESF; e ciclosporina, tacrolimus, mitomicina C e contraceptivos orais na SHU. Infecções recentes ou persistentes, especialmente infecção por estreptococos, endocardite infecciosa e certas infecções virais podem ser associadas a várias doenças glomerulares. PROGNÓSTICO O prognóstico da síndrome nefrítica depende da etiologia subjacente e da idade dos pacientes. Geralmente, as crianças apresentam um curso autolimitado agudo de glomerulonefrite e o prognóstico é bom. O prognóstico é muito bom, com recuperação completa para a grande maioria dos pacientes. Em geral, a diurese retorna ao habitual em uma semana a partir do início do quadro e os níveis de creatinina costumam retornar aos basais em 3-4 semanas. Anormalidades mínimas (microalbuminúria e/ou hematúria microscópica) podem ser observadas na vida adulta em menos de 10-20% dos pacientes com glomerulonefrite pós-estreptocócica. Assim, ressalta-se a importância de acompanhamento com nefrologista pediátrico. A presença de complemento normal no início do quadro, proteinúria nefrótica e crescentes epiteliais em biópsias na fase aguda, conferem pior prognóstico, com potencial de evolução para doença renal crônica. Os adultos geralmente têm um curso fulminante crônico. A doença não é resolvida em 20 a 74% dos adultos. Nesses pacientes, o distúrbio da função renal persiste e resultará em insuficiência renal crônica. A gravidade dos sintomas clínicos no momento da apresentação determina o prognóstico da doença. Pacientes com oligúria grave, azotemia e nível de creatinina elevado no momento da admissão têm pior prognóstico. Complicações A síndrome nefrítica pode agravar comprometendo seriamente a função renal e levar às seguintes complicações. ➢ Insuficiência renal aguda e progressão para RPGN. ➢ Hipertensão não controlada. ➢ Azotemia. ➢ Hipercalemia. ➢ Hiperfosfatemia ➢ Hipocalcemia. ➢ Insuficiência cardíaca. ➢ Encefalopatia hipertensiva - que se apresenta com convulsões e consciência alterada. Outras complicações relativamente comuns na síndrome nefrótica, como tromboses ou infecções repetidas, decorrem, pelo menos parcialmente, da perda urinária de fatores antitrombóticos e de imunoglobulinas, respectivamente. Atenção especial deve ser prestada à trombose de veia renal em pacientes portadores de glomerulopatia membranosa, cuja prevalência pode chegar a 48% dos casos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde. Caderneta de Saúde da Criança: Menino. Saúde da Criança. 12ª edição. 2019. GROSSMAN, Sheila C.; PORTH, Carol Mattson. Fisiopatologia. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. HASHMI, MS; PANDEY, J. Nephritic Syndrome. 2020 Aug 26. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2021 Jan. PMID: 32965911. JOHNSON, Richard; FEEHALLY, John; FLOEGE, Jürgen. Nefrologia clínica: abordagem abrangente. 5ª ed. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. KASPER, Dennis L. Medicina interna de Harrison. 19 ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2017. RIELLA, Miguel Carlos. Princípios de nefrologia e distúrbios hidreletrolíticos. 6ª ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. Sociedade de Pediatria de São Paulo. Síndrome Nefrítica. Recomendações Atualização de Condutas em Pediatria. Departamentos Científicos SPSP. Departamento de Nefrologia, junho 2019. Tratado de pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria. 4ª ed. Barueri, SP: Manole, 2017.
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