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1 Métodos executivos de fundações profundas Felipe Jubé de Oliveira – felipejube@hotmail.com Gerenciamento de obras, tecnologia e qualidade da construção Instituto de Pós-Graduação - IPOG Goiânia, GO, 28 de maio de 2014 Resumo Este artigo tem como objetivo o estudo dos métodos executivos das fundações profundas mais executadas na atualidade brasileira, pautado pela NBR 6122/2010 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que estabelece as condições a serem observadas no projeto e execução de fundações de todas as estruturas da Engenharia Civil. A necessidade da elaboração desse artigo, se deve ao fato de que muitas edificações são executadas sem um prévio e mínimo estudo sobre as características e propriedades do terreno e estrutura, obtendo-se assim projetos onerosos, de custos elevados e prazos inexequíveis. Será feita uma abordagem sobre os parâmetros para escolha das fundações estudadas, bem como definições sobre os tipos de fundações profundas e seus métodos executivos, baseado em diversos autores consagrados e renomados no campo da geotecnia e fundações. Ao final do artigo, observou-se que os estudos para escolhas dos tipos de fundações profundas são de grande importância para o sucesso do projeto, visto que essa etapa construtiva não representa grandes impactos nos orçamentos das obras, porém, a correção ou ajuste de algum eventual problema de fundação pode ter um custo extremamente elevado. Palavras-chave: Engenharia civil. Fundação profunda. Sondagem. Estaca. Tubulão. 1. Introdução Nas áreas de geotecnia e fundações, diversos são os estudos sobre os tipos de fundações e suas aplicações. Temos no nosso país uma grande quantidade de especialistas nesse assunto, o que nos qualifica como bons projetistas e construtores. Entretanto, com os prazos de execução e os custos cada vez mais enxutos, a economia e o sucesso de um projeto se inicia desde a fase da concepção do objeto a ser construído, até sua fase de entrega ao cliente final. Qualquer gasto excedente ou não planejado, poderá afetar a viabilidade do empreendimento. Seguindo essa linha de raciocínio, o planejamento e análise das características do solo e estrutura para a escolha dos tipos de fundações profundas, bem como o conhecimento dos principais métodos construtivos utilizados em nosso país, é de suma importância no cenário de um projeto bem sucedido. Analisar os parâmetros mais importantes para a escolha da fundação, incluindo a topografia da área, características do maciço de solo, dados da estrutura, características da obra e dados de edificações vizinhas é objeto de estudo desse trabalho. Além disso, classificar e descrever os tipos e métodos executivos de fundações profundas também serão contemplados. O foco do trabalho em fundações profundas se justifica, pois, dificilmente veremos grandes empreendimentos utilizando fundações rasas, a grande maioria utiliza as fundações profundas, devido à maior capacidade de carga que esse tipo de fundação consegue suportar. De acordo com Azeredo (1998), “fundações são os elementos estruturais cuja função é transmitir a carga da estrutura ao terreno onde ela se apoia”. Para que isso seja possível, é necessário que os elementos de fundações consigam suportar as cargas do carregamento estrutural da edificação, assim como o solo apresentar rigidez e resistência adequadas para não sofrer ruptura, ou apresentar deformações que não foram previstas em projetos. 2 Uma fundação bem projetada corresponde de 3% a 10% do custo total do edifício; entretanto, se o projeto não for bem concebido, o custo pode ser de 5 a 10 vezes o que se gastaria na fundação mais apropriada (HACHICH, 1996). Dessa maneira, é de suma importância o conhecimento dos esforços atuantes sobre a edificação, as características do solo e dos elementos estruturais que formam as fundações, para que se possam analisar as possibilidades de utilizar vários tipos de fundações, em ordem crescente de complexidade e custos (WOLLE, 1993). A seguir, serão apresentados os parâmetros para escolha da fundação mais adequada, classificados os tipos de fundações profundas mais utilizadas em nosso país na atualidade e descritos seus métodos executivos. 2. Parâmetros para escolha da fundação Diversos itens devem ser considerados para a escolha da melhor fundação. Dificilmente conseguiremos o custo x benefício esperado sem um estudo e uma análise de diversos parâmetros. Segundo o Manual de Estruturas, da ABCP – Associação brasileira do cimento Portland (2009), é preciso analisar os critérios técnicos que condicionam a escolha pelo melhor tipo de fundação. Este manual elenca os principais itens a serem considerados: Topografia da área: dados relativos às informações sobre erosões ou ocorrência de solos moles na superfície e presença de obstáculos como matacões e rochas; Características do maciço de solo: é de grande importância as informações sobre o terreno natural e devem ser levados em conta a necessidade de efetuar cortes e aterros e o perfil geotécnico do maciço de solo. Sem saber sobre qual tipo de solo será construída uma edificação, fica praticamente impossível realizar uma fundação com eficiência e economia. Variabilidade das camadas e a profundidade de cada uma delas, existência de camadas resistentes ou adensáveis, compressibilidade e resistência dos solos e profundidade do nível d’água são imprescindíveis para uma escolha satisfatória. Figura 1 – Exemplo de perfil geotécnico Fonte: MARANGON, s.d. 3 Dados da estrutura: nesta etapa avalia-se o tipo de obra (edifício residencial, casa popular, ponte, barragem), a arquitetura adotada e as cargas atuantes na edificação. Após o estudo preliminar dos parâmetros acima, descarta-se as fundações que oferecem limitações de utilização para a obra analisada. Diversos projetistas de fundação utilizam várias soluções de fundações em seus projetos para que o cliente escolha a opção que mais irá se adequar ao prazo, custo e métodos construtivos da obra. Portanto, para realizar a escolha mais assertiva do tipo de fundação, o responsável pela contratação deve ter conhecimento dos tipos de fundações praticadas no mercado, bem como suas principais características. Em uma abordagem mais técnica, tomando como base as fundações em estacas, Hachich et al., (1998) sugere que os seguintes aspectos devam ser observados: Esforços e cargas nas fundações, procurando enfatizar o nível de cargas nos pilares e outros possíveis esforços que possam influenciar a estrutura (tração e flexão); Características do subsolo, para que não se cometa erros de escolha, como por exemplo escolher estacas pré-moldadas executadas por cravação em solos muito resistentes, ou estacas de concreto moldadas in loco em solos onde argilas muito moles sejam predominantes, ou ainda solos com matacões que dificultam a execução de qualquer tipo de estaca. Características do terreno devem ser observadas, para a viabilidade do acesso de equipamentos e materiais no terreno (acidentado ou não), bem como a limitação de altura para instalação dos mesmos. Ainda há de se observar o custo de transporte desses equipamentos, pois obras muito distantes dos grandes centros oneram o custo dos equipamentos; Características das edificações vizinhas, tipo e profundidade das fundações, existência de subsolos, danos já existentes e quanto as vibrações provocadas pelo método executivo irão interferir nas edificações ao redor. 3. Tipos de fundações profundas Podemos classificar as fundações em diretas e indiretas, dependendo do comportamento e da forma de transferência de esforços da estrutura para o solo onde ela se apoia. Segundo o item 3.1 da NBR 6122/2010 – Projeto e Execução de fundação, temos que: 3.1 Fundação superficial (ou rasa ou direta): Elementos de fundação em que a carga é transmitida ao terreno,predominantemente pelas pressões distribuídas sob a base da fundação, e em que a profundidade de assentamento em relação ao terreno adjacente é inferior a duas vezes a menor dimensão da fundação. Incluem-se neste tipo de fundação as sapatas, os blocos, os radier, as sapatas associadas, as vigas de fundação e as sapatas corridas (ABNT, 2010:5). Fundações indiretas são aquelas que transferem as cargas por efeito de atrito lateral do elemento com o solo e por efeito de ponta (FABIANI, s.d.). 4 Figura 2 – Fundação profunda Fonte: Adaptado de FABIANI, s.d. Com relação às estacas, atualmente é grande a variedade do emprego desse tipo de fundação nas obras civis correntes, diferindo-se entre si basicamente pelo método executivo e materiais de que são constituídas. Vários são os critérios para a classificação das estacas, dentre os quais se destacam: Efeito produzido no solo, segundo Caputo (1987): o Grande deslocamento: Estacas introduzidas sem a retirada do solo, provocando um grande deslocamento do solo adjacente à estaca. Temos como principais exemplos as estacas pré-moldadas de concreto, de madeira, estacas Franki, entre outras; o Pequeno deslocamento: Também introduzidas sem a retirada do solo, porém provocando um pequeno deslocamento do solo adjacente à estaca. Refere-se às estacas esbeltas. Temos como principais exemplos as estacas metálicas, as estacas mega, entre outras; o Sem deslocamento: Aquelas executadas sem a retirada do solo adjacente à estaca. Não provocam assim nenhum deslocamento ao redor quando da execução. Temos como principais exemplos as estacas escavadas em geral: trado mecânico, broca (trado manual), Hélice contínua, Raiz, Strauss, entre outras. Processo de execução: o Estacas moldadas in loco: Estacas tipo Franki; Estacas sem lama bentonítica: estacas tipo Strauss, estacas escavadas mecanicamente com trado helicoidal, estacas tipo broca, etc; Estacas tipo hélice contínua; Estacas escavadas com lama bentonítica; Estacas injetadas: microestacas e as estacas-raiz; o Estacas pré-moldadas: Estacas de concreto; Estacas de madeira; Estacas metálicas, etc. Forma de funcionamento: o Estacas de ponta: trabalham basicamente pela resistência de ponta; o Estacas de atrito ou flutuante: trabalham somente por atrito lateral desenvolvido no fuste; 5 o Estaca mista: trabalham pela resistência de ponta e atrito lateral desenvolvido no fuste. Forma de carregamento: o Estacas de compressão; o Estacas de tração; o Estacas de flexão. A seguir, será apresentado os tipos de fundações profundas mais utilizados no Brasil. 4. Características e métodos executivos de fundações profundas 4.1 Tubulões Tubulões são elementos estruturais da fundação que trasmitem a carga ao solo resistente por compressão, através da escavação de um fuste cilíndrico e uma base alargada tronco-cônica a uma profundidade igual ou maior do que três vezes o seu diâmetro (BRITO, 1987). De acordo com a ABCP (2009), tubulão é definido como um elemento estrutural de forma cilíndrica, em que, pelo mesmo na sua fase final de execução, há a descida de operário por dentro deste, para alargamento da base ou limpeza do fundo da escavação, uma vez que nesse tipo de fundação as cargas são transmitidas essencialmente pela ponta. Quando houver risco de desmoronamento, pode-se revestir o furo com alvenaria de tijolo, tubo de concreto ou similares (BRITO, 1987). O metódo executivo desse tipo de fundação consiste em: Marcação do eixo a partir do gabarito e delimitação do diâmetro do tubulão (no mínimo 70cm, para permitir a descida do trabalhador); Escavação até a cota determinada pelo projeto. A escavação pode ser manual (utiliza- se uma pá vanga, balde e sarrilho para retirada de terra) ou mecanizada (utiliza-se aparelho rotativo acoplado a um caminhão que retira a terra); Alargamento manual da base segundo às dimensões de projeto; Limpeza do poço e verificação da geometria in loco, garantindo-se o atendimento ao projeto; Colocação da armadura e pastilhas de recobrimento; Concretagem, lançando o concreto da superfície através de um funil (tremonha), com o comprimento da ordem de 5 vezes o diâmetro do tubulão, evitando-se que o concreto se choque com as paredes do tubulão e se misture com a terra, prejudicando a concretagem (ALONSO, 2012). Figura 3 – Tubulão a céu aberto (planta e corte) Fonte: MOTA (2012) 6 Os tubulões a céu aberto são executados quando a cota de fundo da fundação está acima do nível do lençol freático, ou ainda, quando há a possibilidade e viabilidade de rebaixá-lo. Quando existe água, grandes profundidades de projeto e risco de desmoronamento das paredes, usa-se o tubulão com ar comprimido. Segundo a NBR 6122/2010, a escavação dessa categoria de tubulão é sempre realizada com auxílio de revestimento, que pode ser de concreto ou de aço, perdido ou recuperado. Injeta-se ar comprimido nos tubulões, o que impede a entrada de água, visto que a pressão interna torna-se maior que a pressão da água, sendo empregada no máximo 3atm, limitando a profundidade a 30m abaixo do nível d’água. Para tal, dispõe-se de uma câmera de equilíbrio e um compressor, pois durante a compressão, o sangue dos trabalhadores absorvem mais gases do que na pressão normal. Se a descompressão for feita rapidamente, o gás absorvido em execsso no sangue pode formar bolhas e causar uma morte por embolia. Com a finalidade de evitar tal situação, antes de passar à pressão normal, os trabalhadores devem sofrer um processo de descompressão lenta (no mínimo 15 minutos) numa câmara de emergência (BRITO, 1987). Figura 4 – Tubulão com ar comprimido Fonte: USP, s.d. 4.2 Estacas pré-moldadas As estacas pré-moldadas são constituídas por um único elemento estrutural, ou pela associação de dois desses materiais, quando então será denominada estaca mista (ALONSO, 2012). Quanto ao método executivo, segundo a ABCP (2009), podem ser cravadas no terreno natural pelos seguintes processos: Percussão: é o principal método de cravação empregado, o qual utiliza-se pilões em queda livre ou automáticos. O barulho é um dos inconvenientes desse método; Prensagem: quando há a necessidade de evitar barulhos e vibrações, utiliza-se esse método, onde macacos hidráulicos reagem contra uma plataforma com sobrecarga, ou contra a própria estrutura; Vibração: martelo dotado de garras (para fixar a estaca) com massas excêntricas que giram com alta rotação, produzindo vibrações de alta frequência à estaca. Esse método 7 é empregado tanto para cravação como para remoção de estacas. Transmite vibrações para os arredores, o que pode ser um inconveniente. As estacas pré-moldadas mais utilizadas são de madeira, metálica ou aço e de concreto. 4.2.1 Estacas de madeira As fundações em estacas de madeira, se caracterizam por serem usualmente utulizadas em obras provisórias, principalmente em pontes e obras marítimias (ALONSO, 2012). São troncos de árvores, em peças retas, roliças e descascadas, cravados com bate-estacas de pequenas dimensões e martelos leves. São econômicas, de fácil cravação e fácil transporte.A NBR 6122/2010, prevê que a ponta e o topo devem ter diâmetros maiores que 15 cm e 25 cm, respectivamente e o segmento de reta que une os centros das seções da ponta e do topo deve estar compreendido integralmente no interior do perímetro da estaca. Quando houver necessidades de penetrar ou atravessar camadas resistentes de solo, a ponta da estaca deve ser protegida por ponteiras de aço. Além disso, o topo das estacas devem ser protegidos por cepos ou capacetes menos rígidos para minimizar danos durante a cravação. Quando, durante a cravação, ocorrer algum dano na cabeça da estaca, a parte danificada deve ser cortada. O comprimento das estacas variam de 5,00m a 8,00m e o dâmetro da seção podevariar de 18cm a 35cm. Emendas podem ser feitas até 12m. A vida útil desse tipo de estaca é praticamente ilimitada, quando mantida permanentemente abaixo do nível d’água. Por se tratar de um material natural, deve receber tratamento contra ataque de fungos, bactérias aeróbicas, termitas, etc (ABNT, 2010). As madeiras mais utilizadas são: eucalipto, aroeira, ipê, peroba do campo, etc. As madeiras devem ser certificadas e atender à NBR 7190/1997 – projetos de estruturas de madeira. O controle de execução deve ser rígido nos seguintes itens: Locação do centro das estacas; Profundidade de cravação; Desaprumo da estaca; Nega Proteção da cabeça das estacas (colocação do capacete metálico). 4.2.2 Estacas metálicas As estacas metálicas são de grande utilização na construção civil. São constituídas por perfis metálicos laminados, soldados, trilhos ou estacas tubulares. Podem assumir variadas seções: I, H, circulares, quadradas, retangulares, entre outras. Figura 5– Exemplo de seções de perfis metálicos Fonte: MOTA (2012) 8 As vantagens desse tipo de estaca é que podem ser cravadas em quase qualquer tipo de terreno, possui grande capacidade de suporte, possui facilidade de corte e emenda, trabalham bem à flexão, rápida execução e, quando utilizadas em serviços provisórios, podem ser reaproveitadas diversas vezes. Deve-se atentar e tomar os devidos cuidados contra a corrosão do material metálico, para se garantir a vida útil do material. A NBR 6122/2010 normatiza quanto à execução das estacas metálicas da seguinte maneira: A cravação de estacas pode ser feita por percussão, prensagem ou vibração. A escolha do equipamento deve ser feita de acordo com o tipo, dimensão da estaca, características do solo, condições de vizinhança, características do projeto e peculiaridades do local. O sistema de cravação deve estar sempre bem ajustado e com todas as suas partes constituintes, tanto estruturais quanto acessórias, em perfeito estado a fim de evitar quaisquer danos às estacas durante a cravação e deve ser dimensionado de modo a levar a estaca até a profundidade prevista sem danificá- la. Para essa finalidade, o uso de martelos mais pesados e com menor altura de queda, é mais eficiente do que o uso de martelos mais leves e com grande altura de queda. A folga do martelo e do capacete não deve ser superior a 2,0 cm em relação às guias do equipamento.O formato do capacete deverá ser adequado à seção da estaca e possuir superfície de contato plana, com encaixes com folga inferior a 1,0 cm, sendo periodicamente verificadas e corrigidas eventuais irregularidades. Suas dimensões externas devem ser compatíveis com as do martelo, de forma que a carga transmitida seja centrada. A cravação é normalmente executada com martelo de queda livre, devendo o peso do martelo ser, no mínimo, igual a 50% peso total da estaca, e não menor do que 10 kN. No uso de martelos automáticos ou vibratórios, deve-se seguir as recomendações dos fabricantes (ABNT, 2010:26). Durante a execução, é importante garantir os seguintes itens: Locação do centro das estacas; Profundidade de cravação; Emendas; Nega. Figura 6 – Exemplo de estaca sendo cravada em terreno natural Fonte: HACHICH (1996). 9 4.2.3 Estacas Pré-moldadas de concreto Segundo a ABNT (2010), as estacas pré moldadas de concreto podem ser de concreto armado ou protendido, vibrado ou centrifugado, com qualquer forma geométrica de seção transversal, devendo apresentar resistência compatível com os esforços de projeto e decorrentes do transporte, manuseio, cravação e eventuais solos agressivos. Em consequência dos problemas relativos ao transportes e aos equipamentos necessários para execução, essas estacas possuem limitações de comprimento, sendo fabricadas em segmentos, o que ocasiona a formação de grandes estoques e necessitam de armaduras especiais para o transporte e içamento das peças. Para isso, costumam ser fabricadas em firmas especializadas, com suas rsponsabilidades bem definidas, ou no próprio canteiro, sempre num processo sob controle rigoroso (BRITO, 1987). Costuma-se utilizar o processo de cravação dinâmica, utilizando o bate-estaca por gravidade, o que promove um elevado nível de vibração e pode danificar as edificação próximas à obra. O processo de cravação só é finalizado quando a estaca que esteja sendo cravada penetre no terreno, em decorrência da ação de um certo número de golpes. In loco, mede-se a nega da estaca, através da média de comprimentos cravados nos últimos 10 golpes do martelo. O objetivo de verificação da nega para as diferentes estacas é a uniformidade de comportamento das mesmas (ALONSO, 2012). Deve-se atentar para a altura de queda do martelo (ideal é entre 1,5 e 2,0m), para não causar danos na cabeça da estaca e/ou fissuração na mesma. Não é recomendada a utilização dessas estacas em terrenos com matacões ou camadas pedregulhosas. A vantagem dessa fundação é que pode ser utilizada abaixo do nível d’água. Durante a execução, deve-se controlar: Locação das estacas; Profundidade de cravação; Ocorrência de fissuras; Verticalidade; Nega; Altura de queda do pilão; Execução de emenda (podem ocorrer desde que resistam a todas as solicitações que nelas ocorrem durante o manuseio, a cravação e utilização das estacas). Cota de arrasamento das estacas; Proteção da cabeça das estacas. Figura 7 – Exemplo de estaca pré-moldada de concreto Fonte: MOTA (2012) 4.3 Estacas moldadas in loco 10 As estacas moldadas in loco caracterizam- se por serem construídas no campo. O processo construtivo exige equipamentos e tecnologias adequadas aos tipos de terrenos, profundidades das fundações e tipos de estacas. 4.3.1 Estaca Franki Segundo a NBR 6122/2010, definimos estaca Franki como: Estaca moldada in loco executada pela cravação, por meio de sucessivos golpes de um pilão, de um tubo de ponta fechada sobre uma bucha seca de pedra e areia previamente firmada na extremidade inferior do tubo por atrito. Esta estaca possui base alargada e é integralmente armada (ABNT, 2010:6). O processo executivo consiste em: Crava-se no solo um tubo de aço, cuja ponta possui uma bucha de brita e areia aderida na mesma e estanque à água. Essa bucha é fortemente comprimida sobre as paredes do tubo e, a medida em que se apiloa a bucha, o tubo é arrastado impedindo a entrada de água ou solo; Atingida a cota de apoio, segue-se com a expulsão da bucha, por golpes de pilão e fortemente socada contra o terreno para que a base alargada seja formada; Após a formação da base alargada, coloca-se a armadura e inicia-se a concretagem do fuste, em camadas socadas pelo pilão, tirando-se o tubo a medida em que a concretagem avança, observando-se para que seja deixada no tubo uma quantidade suficiente de concreto para impedir a entrada de água e solo. Figura 8– Método executivo da estaca Franki Fonte: MOTA (2012) Segundo Brito (1987), as estacas tipo franki podem ser executadas a grandes profundidades, não sendo limitada pelo nível do lençol freático. Além disso, outra vantagem é a grande capacidade de carga desse tipo de estaca. Entretanto, produzem muitas vibrações no solo durante a execução, requerem área necessária para operação do bate-estacas e deve-se atentar para possibilidades de alterações do concreto do fuste, por deficiência do controle. Sua execução deve sempre ser realizada por empresa especilizada. 11 Figura 9– Método executivo da estaca Franki Fonte: USP, s.d. A cravação de estacas tipo Franki pode provocar o levantamento das estacas já instaladas devido ao empolamento do solo circundante que se desloca lateral e verticalmente. A estaca danificada pode ter sua capacidade de carga prejudicada ou perdida devido a uma ruptura do fuste ou pela perda de contato da base como solo de apoio. (ABCP, 2009). 4.3.2 Estaca Strauss A estaca Strauss é uma fundação executada pela perfuração do terreno utilizando uma sonda ou piteira e camisa metálica, onde o concreto é lançado simultaneamente com seu apiloamento e a retirada da camisa metálica. Para a execução dessa fundação, utiliza-se um tripé de madeira ou aço, guincho acoplado a motor, sonda de percussão, soquete de aproximadamente 300kg, tubos de aço rosqueáveis (2,00 a 3,00m de comprimento), guincho manual para retirada dos tubos, roldanas, cabos e ferramentas. Primeiramente, abre-se um furo no terreno de até 1,0 a 2,0m de profundidade para a colocação do primeiro tubo, dentado na ponta inferior, denominado “coroa”. Após isso, aprofunda-se o furo com golpes seguidos da sonda de percussão, retirando-se o solo abaixo da coroa. Quando necessário, é rosqueado o tubo seguinte e prossegue-se com a escavação até a profundidade de projeto. Atingida essa profundidade, é lançada água no interior dos tubos para sua limpeza. A água e a lama são totalmente removidas pela piteira e o soquete é lavado (APEMOL, s.d.). De acordo com a NBR 6122/2010, o concreto é lançado através de funil no interior do revestimento, em quantidade suficiente para se ter uma coluna de aproximadamente 1,0 m que deverá ser apiloado para formar a ponta da estaca. Continuando-se a execução da estaca o concreto é lançado e apiloado com a simultânea retirada do revestimento. A retirada do 12 revestimento deve ser feita com guincho manual de forma lenta para evitar a subida da armadura, quando existente, e a formação de vazios, garantindo-se que o concreto esteja acima da ponta do revestimento. A concretagem deverá ser feita até a superfície do terreno. Não se deve executar estacas com espaçamento inferior a 5 diâmetros em intervalo inferior a 12 horas. Esta distância refere-se à estaca de maior diâmetro. Figura 10–Tripé para execução de estaca Strauss Fonte: USP, s.d. As vantagens desse tipo de fundação se refere à simplicidade dos equipamentos envolvidos no processo executivo, podendo ser aplicada em espaços confinados ou locais acidentados, além do fato de causar poucas vibrações no terreno, minimizando problemas com edificações vizinhas. Sua capacidade de carga, entretanto, é menor que a das estacas franki e pré- moldadas de concreto e ainda possui limitações com relação ao nível do lençol freático. 4.3.3 Estaca Raíz Dessenvolvida na Itália, no final da década de 50 e com o intuito de reforçar fundações, a estaca Raíz é definida como uma estaca de pequeno diâmetro moldada in loco, escavada com perfuratriz, executada com equipamento de rotação ou rotopercussão. A perfuratriz é responsável por descer o tubo de revestimento através de rotação e o material escavado é retirado através de uma corrente fluida de fluxo contínuo (água, lama bentonítica ou ar) injetada no interior do tubo que expulsa o material de dentro do tubo entre a parede externa do tubo e o terreno (Hachich et al, 1996). Finalizada a perfuração, arma-se a estaca e concreta-se a medida em que o tubo de perfuração é retirado. Segundo a NBR 6122/2010, preenche-se o furo com argamassa com o auxílio de uma bomba de injeção, através de um tubo plástico descido até a ponta da estaca. O preenchimento deve ser feito de baixo pra cima, até a expulsão de todo fluido de circulação presente no interior do revestimento. Durante a concretagem, o tubo deve permanecere revestido. Após o preenchimento do tubo de perfuração, é montado um tampão em sua extremidade superior e a coluna de perfuração é extraída ao passo que se aplica ar comprimido (BRITO, 1987). Dessa maneira, o método 13 executivo desse tipo de fundação, confere à estaca uma adequada resistência estrutural e boa aderência ao terreno, garantindo elevada capacidade de carga (NACIONAL, s.d.). Figura 11 – Método executivo de estaca Raíz Fonte: NACIONAL, s.d. Segundo a NBR 6122/2010, a argamasse injetada deve ter as seguintes propriedades: Fck ≥ 20 MPa; Consumo de cimento não inferior a 600kg/m³; Fator água/ cimento entre 0,5 e 0,6; Agregado: areia e pedrisco. Segundo Hachich et al. (1996), as estacas injetadas diferem dos demais tipos por poderem ser executadas com maiores inclinações (0º a 90º), apresentar resistência de fuste bastante superior, se comparada aos demais tipos de estaca com mesmos diâmetros, e resistir aos esforços de compressão e tração, desde que convenientemente armadas, com a mesma eficiência, pelo fato de resistir à carga de trabalho praticamente apenas por atrito lateral. Podem ser aplicadas nos seguintes casos: áreas de dimensões reduzidas, locais de difícil acesso, solos com presença de matacões, rochas ou concretos, estabilização de encostas, reforço de fundações, execução de fundações em terrenos com blocos de rocha ou antigas fundações, execução de fundações em alto mar (“offshore”), etc. 4.3.4 Estaca Hélice contínua Considerada uma das estacas mais executadas atualmente em nossa região, essa tipo de fundação pode alcançar grande produtividade com segurança e economia. A NBR 6122/2010 define esse tipo de fundação como estaca de concreto moldada in loco, executada pela perfuração por um trado helicoidal contínuo, por rotação e injeção de concreto pela própria haste central do trado simultaneamente com a retirada do mesmo. A armadura é colocada após a concretagem da estaca. 14 A referida norma estabelece, na tabela abaixo, as características mínimas que os equipamentos deverão apresentar, além de torque compatível com o diâmetro da estaca e a resistência do solo a ser perfurado, de forma que o desconfinamento do solo seja minimizado durante a perfuração. Tabela 1- Características mínimas dos equipamentos de perfuração Fonte: ABNT (2010) O processo executivo desse tipo de estaca, segundo a ABNT (2010), consiste em: Perfuração: primeiramente, o terreno deve estar plano e nivelado, para que a perfuratriz consiga adentrar ao local de trabalho. Posiciona-se e nivela-se o equipamento para garantir a centralização e o prumo (verticalidade) da estaca. É importante verificar o diâmetro do trado e adequá-lo à realidade do projeto. A ponta do trado é dotado de uma tampa metálica, recuperável, que deve se manter fechada durante a escavação para evitar o entupimento da haste. A perfuração se dá de forma contínua por rotação, até a cota de projeto. É possível a utilização de prolongador, para se alcançar dimensões maiores de perfuração, desde que o solo no trecho do prolongador esteja estável; Figura 12 – Método executivo de estaca Hélice Contínua Fonte: MOTA (2012) Concretagem: O concreto é bombeado pelo interior da haste, a medida em que ela é retirada. A tampa metálica da haste é aberta pelo peso do concreto, no início da concretagem, que deve ser contínua. A pressão do concreto deve ser sempre positiva para evitar a interrupção do fuste e é controlada pelo operador durante a concretagem (até a superfície do terreno). Segundo a ABCP (2009) recomenda-se utilizar concreto 15 com maior tempo de pega possível, consumo de cimento mínimo da ordem de 400kg/m³ e abatimento da ordem de 22±3cm; Colocação da armadura: A armadura, em forma de gaiola, deve ser colocada imediatamente após a concretagem. Sua descida pode ser auxiliada por um vibrador ou peso e a armadura deve ser enrijecida para facilitar a sua colocação. Durante o processo executivo, os seguintes parâmetros devem ser monitorados pelo operador da perfuratriz, a partir de sensores instalados na perfuratriz: nivelamento do equipamento e prumo do trado, pressão no torque, velocidade de perfuração, rotação do trado, cota da ponta do trado, pressão de concreto durante a concretagem, sobre-consumo do concreto, velocidade de extração do trado e o seguinte gráfico é obtido: Figura 13 – Gráfico resultante domonitoramento das estacas, durante a execução Fonte: MOTA (2012) Devido a alta produtividade desse tipo de fundação, é recomendável que haja uma central de concreto próxima ao local de trabalho. Esse sistema pode ser empregado na maioria dos tipos de solo, exceto em locias onde há presença de rochas e matacões. É recomendável uma maior análise para o caso de estacas muito curtas ou que atravessam materiais extremamente moles. 16 4.3.5 Comparação entre os tipos de fundações profundas O Manual de Estruturas da ABCP (2009) comparou as fundações profundas nos seguintes aspectos: Produtividade; Capacidade de carga; Profundidade máxima; Vibrações causadas. Como resultado, temos a tabela abaixo: Tabela 2- Comparação entre os métodos executivos de fundações profundas Fonte: ABCP (2009) 17 5. Conclusão O estudo e o planejamento que irão culminar na escolha do tipo de fundação profunda mais adequada é de grande importância no custo final. Somente com um bom planejamento e análise de todos os fatores apresentados ao longo desse artigo (cargas da estrutura, fatores topográficos, maciços de solos, aspectos técnicos, executivos e econômicos, influência nas edificações vizinhas e outros) é que alcançaremos os menores desvios entre o planejado e o realizado, eliminando assim os imprevistos que possam vir a onerar determinadas escolhas. O custo de determinado tipo de fundação é função do prazo de execução e dos parâmetros técnicos, que viabilizam, ou não, a escolha da fundação. Portanto, afirmar que determinada fundação é mais econômica que outra, depende de cada projeto. Partindo da análise de um mesmo projeto, podemos tirar algumas conclusões a partir do estudo de cada método executivo de maneira genérica, como por exemplo: As estacas pré-moldadas são uma das soluções mais econômicas, porém no caso das estacas pré-moldadas de concreto, causam grandes vibrações no terreno, podendo abalar edificações vizinhas; As estacas do tipo raiz apresentam alto custo, porém não produz vibrações capazes de afetar edificações vizinhas e é possível executá-la em áreas de dimensões reduzidas; Os tubulões são soluções viáveis quando utilizados acima do nível do lençol freático e com profundidade entre 4m e 6m; As estacas tipo hélice contínua alcançam altos índices de produtividade, o que fez aumentar a opção por esse tipo de fundação, havendo então uma progressiva redução de custos ao longo dos anos; Portanto, concluímos que cada projeto é único e deve ser analisado de maneira ímpar. Além disso, não se deve poupar esforços e recursos na fase da concepção do projeto, visto que é nessa fase que escolhas que irão impactar no sucesso do empreendimento serão tomadas. 6. Referências bibliográficas ABCP – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND. Manual de Estruturas – Fundação. Rio de Janeiro, 2009. ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122/2010: Projeto e execução de fundação. Rio de Janeiro, 2010. ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7190/1997: Projeto de estruturas de madeira. Rio de Janeiro, 1997. ALONSO, Urbano Rodriguez. Dimensionamento de fundações profundas. 2ed. São Paulo. Ed. Edgar Blucher Ltda., 2012. APEMOL – Associação Paulista de Empresas Executoras de Estacas Moldadas no Local – Sistema Strauss. Especificação de execução de estacas tipo Strauss. São Paulo, APEMOL, s.d.. AZEREDO, Hélio Alves de. O edifício até sua cobertura. São Paulo. Ed. Edgar Blucher Ltda., 1977. BRITO, José Luís Wey de. Fundações de edifícios. São Paulo, EPUSP, 1987. 18 CAPUTO, Homero Pinto. Mecânica dos solos e suas aplicações. Vol. 2. 6 ed. Livros Técnicos e Científicos Editora, São Paulo, 1987. FABIANI, Breno. Fundações. s.d.. HACHICH, Waldemar et. al. Fundações: Teoria e Prática. 2 ed. São Paulo. Ed. Pini Ltda, 1996. MARANGON, M. Considerações sobre fundações profundas – Geotecnia de fundações. s.d.. MOTA, Neusa Maria Bezerra. Tecnologias produtivas de fundações – Notas de aula IPOG. S.d.. NACIONAL – Engenharia de fundações e solos Ltda. Tecnologia em estacas do tipo raiz. São Paulo, Nacional, s.d.. USP. Notas de aula, fundações. PCC 435. São Paulo, EPUSP, s.d.. WOLLE, Cláudio Michael. Fundações - Exercícios resolvidos. São Paulo: EPUSP, 1993.
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