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Ir'·,
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1(,. 
o 'psicanalisla Ricardo 
Goldenberg discute·no sau ensaia 
'--0 	problama stico .. decorrenle da 
experi~ncia analltica. A princfpio 
• indUarente a lais,q~astoes, Freud 
101 lavado. a ocupar-sa da ·coisa 
moral" a parlir dos; dilamas subjet!· 
vos dos ssus patientas, 0 alJtor 
comenla ostext'os Iraudiands 
dedicados a esla'. tema, em pari· 
icular aquelss' qua tralamda:" 
rasponsabilidada do sujailo em 
rala~do ao sau inconsciente a· de' 
!!scolha da neurose. Sua aborda- .. 
gem da lilosofia ·Ieva-o ainda a 
ralomar as texloS' fundamentais 
sabre a elica, de·Arisl6leles ale as 
aulores conlempor1ineos. 
Num aslilo ·~o. masmo ta(l1po 
'rigoroso e fiuente" esls el1saio 
levante quasliles, gue concarnem 
nao apanas' aos' 'pralicanles . da 
psicanalise mas. tambem aos 
leitores que por ela sa interessam, 
provenienles de .oulros campos, 
sobreludo da filosofia, com a' qual 
mantem Lim dialogo vivo a 
anriquecedor. 
.
l 
Ensalo sobre 
a moralde Freud 
Ricardo Goldenberg 
,:'i 
,. 
i 
,- i'­
,i -1 
~.' ' ,­ " 
\ 
Colc~lio Discurso Pslcanalltico 
vol. '1: Afenllnllidadti'na P$lcandlise RICARDO DAVID GOWENBERG 
Marcus do ,Rio Teixeira 
vol. 2: Lacan e a f()rmarlJo d<J anqlista no BJ'asll 
Angela Baptista do Rle Teixeira, Aogela Jesuino Ferreuo. 
i Antonio Carlos Rocha, Chl1r1es Melman, Ricardo Goldenberg 
vol. 3: 60 Anos de [>sfcandlls....• 
Do:; pJ'ecunOl'es as perspecllvas noflnal do seculo 
Denise de Oliveira Lima, org, 
Emilio Rodrigue, Maria,lzira Pereslrello, MIriam Chnaiderrnan, 
Octavia Souza, Sym Tahin Lopes 
ENSAIO SOBRE 
A 
MORAL DE FREUD 
i i 
. I 
it, 
,r 
 I 
:·i 
" ' 
© "galma para a lingua portClguesa, 1994 
I' edi~ao:'mar,o de 1994 
Capa 
Dora mendon", 
Composil,iio ElelrOnica 
Alexandre An"ipe Cavalcante 
Impressao 
Grafolilo R, p, Leal 
Dep6sila legal 
Impressa no Brasil/Plinted In Brazil 
Mar,o 1994 
asalma 
Rua Agnelo de Brlto 187 
Centro Odontomedico <Iemi Jl)unanl, sal. 309 
40170-100 Salvador - B"hia, Bnlsil ' 
Tel/Fax: (071) 245-7883 
G618 Goldenberg, Ricardo David. 
Ensaio sobre a moral de Freud I Ricardo 
David Goldenberg. Salvador: Agalma, 1994. 
130 p, (<;Ole>'lo discurso pslcanall'ico, v. 4) 
IncJui blbliografia. 
ISBN 85-85458-04-<1 
I. Pslcan."ilise ~ Ensaios. 2. Etlea - Ensaios. 
3. Freud, Sigmuffil, 1856.1939.. J. Titulo, II. 
Serie 
CDU - 159,9(i4,H7(04) 
CDU 150,1952 
Nadja Fernandes de Souza CRB-S 220 
, 
Agrade,o ao Osmyr Faria Gabbi Jr., que 
acol tteu urn estranho no ninho da mosofia 
e com cujo auxflio inintemtpto e sua 
leitura cuidadosa contei durante cinco 
apos. 
Tambem a PauIa, mae de meu belo mho, a 
quem devo mals do que posso expressar 
Oll retrlbuir" 
., 
., 
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0, 
<'" ~ 11 
, , .;. . I 
I 
I 
I, 
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·c· 
,~ 
iNDICE 
.1 
A'1·, \',' 
·i 
", 	 Prcrncio,9 
"::-~ Capitulo primciro: 
~-: 
Gcncalogia frcudiana da moral, 13 
.... tr' 	
.,:;' L1 - Guilt & blame, 17 
(" 
') 	
1,2 - 0 pal e a culpa do mho, 24 
L3 - A moral da renuncia, 31 
1,4 - 0 Super-eu para Freud e iacan,,3(j 
/ .. 	
('-"pitulo segundo: A ctica da psicanalise ­
('" ., responder pew sintoma, 53 
, 2.1 . Nilo falia isso nem sonhando, 53 
2,2 • Sobre 0 fenomeno da cren,a, 56 
2.3 . A pergunta pela causa, 59 
2.4 - Destino e acidente, 60 
.- 2.5 - 0 ab.ndono da etiologia traum.tica, 64 
2.6 - A casualid.de em Atist6teles, 65 
2:7 - Wlederholungszwallg, 67 
2.8 A felicidade no ptindpio da moral, 71 
2.9 - 0 dever no plindplo d. moral, 74 
2.10- Nossos verdadeiros interesses, 75 
J 
http:casualid.de
2.11- A livre cscolha, 77 
2.12- Um desejo scm obJeto, 80 
2.13- A servidiio volunt:ilia, 88 
Conclusiio, 93 
, 
Bihliografia gcral, 111 
{ 
i~ 
[/ 
k. 
PREFACIO 
Quem diz a verdade, mais ado ou mals 
tarde eopallhodo nela. 
OSCAR lX·)WE 
Edoar<iQl,lkiss, jovem disdpulo italiano de Freud, que 0 consultara sobre 
~ a possibilidade de encaminhar urn determinndo paeieme a Vlena para tratamento, 
rerebe dele a seguinte carta: 
Cam Douler, ' 
(. . .) Como 0 senbor reclama de mim umo avoUa¢o exata do 
caso (do Dr. A), naa quero dei.,ar de direr-I"e jrallcamenle 
mi"INl opi"i80. Creio que etlnl C(Jsa rui~J e, principalnwll(c, que 
naa se presfa Q Un/a aniilise lif/re. FaIJa·/be, para isso, dois lipos 
de elenumto$: em primeiro lugar, a cef"leza de un' conflllo 
doloroso enlre seu f!U It Q que suus pulsiJes e:dgem J POisl 
afinal, no lunda, ele €Sla muitc cOllte11lC consigo mesmo e wire 
afX!l1tlS jX'Ja Tltsistlne/a de cirCUl1SllittciC1s·e:d(!rio~ em segundo, 
Un! caralf./r medio normal deste 1!l1 que pudesse coIaoorar com 0 
allalisla; pula CQfltrtirio, ele eSJorrar-se.a COllStanlt!numte para 
/ograr es/c ullimo, iJudf-lo com mfragt'u$ e dei.'(6-lo de lado. 
Ambos dc/t'ilos COll$IilUem, '10 fundo, apenas urn s6: 0 t1arcis(~",o 
nlDuslmoso de um eu sali.'jelfo consigo mcsmol impCrml'al'f!1 a 
qualqufIT iujlublc/a e que enconlra, per desgrafllJ um apoio em 
wdos os Sl'US la/euios e dulf?$ jJCSSQ(1is. Amso, ellftia, que 1100 sr:ria 
de mmJmma uIilidade para ele t'ir a St'guir comigc au com au/ra, 
9 
ENSAlO SOBM A MORAL DE FRIlUD' 
pes.soa um lralr.mumlo psicana1i1ico. A/unciar nos suas dissipaf.fi(!s 
poderia vir a S(!f" .seu [uJuro. Ainda c possivel que, tal 14m 
Mirabeau, a cujo tipo poderia pet1e1U::er. sq sUj:/ere a si mesmo c 
realize, em bora cOllsenxmdo SffiS vkios; a/gum /eilo dignc de 
nola. Pore,u (sID nao tf ta muito protJiivel (<oJ 
E conch;l Freud, 
Na pier -~as hip6Jes(!$, embtlf'Ci'lntos pe$$~a$ como 0 Dr. A com ani 
pbuco- de tHtweiro para ullramar, digamos para Amrnca do Su'­
e de{xamos que ali bu$quenl q e1U;Qnlrem $8U destino
1 
. 
Quando ainda era esrudame de p:;icanalise em Viena, ennla Theodor, ' 
Reik .. soJicitara a seu mestte conselho sobre um -dilema do tipo (J.mor ou carreira. 
E Freud respondera: 
Eli n80 posso lbe fatar senso cia mi"ba experi'ncia pessoa/. Para 
tomar uma deci$oo de importlit:cia secu'Iuiarla, scmpt'e aebei por 
bem .jJesar com culdado pros e cmrlras. Ao pas$O que para 
assunlos de capfral importllncia, lais como a escolba de uma 
companbeira au de WUa profISSlio, a dec/suo, dtroerd. vir do 
,-.-. inconsc.ienle I do /J.l.tldo de 1I0s mC$nlO$" Para as decisOes 
importantes .da uida privadQ na millba opiniao, deveriamO$ uos j 
deixa~ goucmar senrpre pclas necessidad(!;5 ",ais profundas de 
nossa natureza" 
Como dizer melhor a moral de Freud? AD disdp1,.l1o perplexo que Ihe 
pede conselho sobre 0 modo mais adequado para agir na vida, recomenda 
abdicar da vonlade com' 0 intuito de ir de encontro a seu desejo por ele mesmo 
desconhecido. Ao ourro, desaconselha aeolher 0 pedJdo de rralamento de quem 
faz quesl30 de 030 It alem de sua boa consciencia para reget sua vida. Entre est2 
confjan~ dada a uma razao que se Ignor.! e aquele desprezo "pela ignorincia 
arroganl£ que ~ loma por sabia - como (} sapo da fibula per boi (e se {rata aqu! 
da patoiogia.da insrnncia chamada Eu, nao da pessoa do Dr; A: a prop6sito, em 
que lugat ,de A~rica do Sui pensaria Freud a seu respeito?)' _. este inegave! 
racionalisr.a traca 0 programa de sua eticrt 
t COtmtpcmMncfa FteutVWei:J6, Cllrta de 7 do OO\!embfO de 1920, Gedise, Barcalona. 1979, p. 49:. 
. .2 AEIK Theodor, Ecourer aveclnlToJe/ffmecretlle, Epl SA., PffriS, 1976, P. 5. 
.3 Mom! e 0" terMc com que Cicero \radu:iu do grogo a palm",) titico, s- Frs-ud lllio tat: muIlo (;3$(,1 da 
dlferorn::iar um do outro; porlanto, e;(ceto onde esleJ<t in>:.fkado, usarei indiallrilamaf>le ambos torrnos. 
10 
..... ­
j'REFAcro 
o preseote Emoto propae-se a refietir sobre este projeto freudiano. 0 
texto esti div!dldo em dois capituJos que correspondem. esquematicamente, as 
duas perguntas com as ~u:a.iS acreditei pader circunscrever 0 essenciai da refiexlo 
de Freud sobre a moral. Sio elas: a pergunta pela genese do seoLimemo moral e 
a queslAo da respansabiBdade pelos pr6prios atos,' quando as moth'a~es destes 
alOS fogem, 'em grandeparte, ao dominio com:dente do agente_ 
o primeiro capitulo esta eentrado na constar.a~o dfnica que fo~ara 
Freud a ocupat-se da quesa.o da mornlidade, assurito' pelo qual .rulo sentia a 
menot iocllnacao. Trata-se da constatac~o segundo a qual 0 neurotico age 
movido par uma culpa que ele desconhece e que esla no fundamento das suas 
a~es. Ha aqui uma reteitura parcial da obra canonica de Freud sobre a 
moral idade, Toten; (! tabu. Como se sabe, Freud prete-nde ter esgotado ne!a eSUl 
questAo. Nessa releilura sern felta a partir de dois textos posteriores que, 
pensamos. ilumina!," os problemas levantados em Totem e tabu com nova IUZ: 
Psfco!ogia das massa.f e analise do eu e 0 mal-eslar no civifizQfiio. 
o segundo capitulo est:! dedicado a comentat 0 espfrito de uma intuicao 
iniciat de Freud, da ~poca em que procurava sislematizar a elloiogia das doencas 
mentais: cada um escolbe sua neurose. 0 descobridor do determlnismo 
inoonociente do slntoma neurotico fala, Com efelto, em escoUJa de neuro$e, 
Nada rnaj~ lange da !dt!:la'de urn sujeilo vithna de sell Inconsc!ente, passlvamente 
detentlinado nos sellS atoS. que sorreria os consuangintentos do sintorna como se 
fossem 0 resultado de urn au!' em sua vida. Freud fala, .porutnto, em escolha! 
sem, contudo. abandonar 0 principio dOl detennina~o inconscleme dos atos 
fundamentals do sujeita, Estamos interessados em interrogar ~qui as 
--_ ....._ ... 
Dove (Wtar, conludo, que para Jacquu La-can ~ cuIa leltura de Froud .ocopar-Ii\8.!\ em diVlWHI$ 
QC3$16.as " moral e etica poi:asuem senlidos mui40 dlferentes, cheoande alii a constltuil nlXl0e9 opetHas 
I\(l EHlU di5Gurso. Est/! lansAo entre moral e Mka .ncontra'se mais ptesM!e no meu prOprio '.)(10 do 
que .U letia 005e18OO, nit m"dida em que I"io $e Irata da um 6$\udo especfilea das conc:e~s 
lacenianall ;;ot)te a mOlal. A Quisa de oricnl;a9Ao para 0 htilor nOO IlJ.IDUinrtzado, dioamoll. numa 
primeitO aproxlma9iio. que a momtsarie relative eoa idel'ds que consliluern 0 E'u, enquamo a elies dirla 
respeito is re!~Oeg. do suJeito ('.()1ft seu de!>ejo incoracienle. 
'" 	Veremos rrl<liS adlanln (eapecialmenta no segundo eapfh.llo) que n experM:ncle enalflii?a, MquanlO !al, 
oompar1a urn problema elioo qoe Ihe a cspecllico, e que !I!Jbtonde (de /ecto. oem sempre de jure) all 
P.tirtcipal&.ra!le)(6e$ de Freud sobre 0 moml, CvmPl3 ania4izar, conludo, ~ue. em (fI(.Imonto nlgum, 
FreUd ptelendfflotneeer UIM moral psiC<lnall!lce, quer ela seJa Isorlca ou pUllica; ele $51.!\. QCl.Ij.mdo 
, sperlfts em daf oont8 doptHqu4 dfllimtencia da $flfllimetl/os e prindpios momis nU$ pe$sotJ!J. 
11 
http:QC3$16.as
http:patoiogia.da
( .-' 
ENSAIO SOBRE A MORAL DE PREUD 
oonseqMneias desta conjugacao de Jfberdade com desejo. incotlsciel1le para a 
velha nocao de resporuabilidade, sem voltar ao antigo sonho carresian0 do 
sujelto dono de si e de rodas as dercnnJna-;oes de SU3 consCi&neia, Trata-se. ern 
suma, da rela~o do pacieor.e co~ seu sintoma e do modo COhlO ~ cxperienela 
que Freud Ihe oferece rnodifica esta rela~ao de maneira deelsiva para sua postura . 
de sujeilo frente a seus a!oS. , 
o breve "\exame da t1tic3 arlllS:! e moderna inclufdo neste seguhdo 
capitulo terp meno~ a fmalJdade de situar a psicamllise no seio da mosena mor:al 
que repensar cena;': categorias que parecem definitivameme ultrapass ..das ap6s a 
crillca de Kant:· eudaimollia, por exemplo. Convite nlio a urn retorno a 
Ar[sUSteles! mas a urn certo pensamento que algumas das reflexoes de Freud 
tomat]am passlvel (0 que n~o quer dizet, de modo algum, interpretar Arist6teles 
mediante a pslcamllise - .allude que me parece um erro grosseiro ern qualquer 
circunstancia). 
Embora seja sobre Freud que e~ctevo, 0 ensino de Jacques Lacan 
comparecera de modo lanto expHcito quanto implicJto ao longe, do trabalho. 
Quando for necessario notare:i as elabora~oes propriamente laamianas. Menos 
para dat a ~sar 0 que ~ de cesar '- n110 haveria para mim Freud scm Lacan ~, 
que para nao dlssimulat n radonalidade que orienta mtnha ieitura, Est .. 
advertencia ~ ao mesmo tempo 0 reconheclmento de uma divida e uma 
decla~o para que 0 leiter saiba quem e $CU interlocutor. Nio se lnita de 
autoriut minna leltura sen~o de situa-la. 
O.leitor desta djsseru~lIo poele, enfjm, orientar....se por um fio que a 
percorre por inleiro. A saber, a minh:a frontal oposi)io ao "Preud-explica com que 
a vulga!a psi<.:an..lilica ent:tou no pottugues (para ficar, parece), comt.arlando a 
essAncia de sua ~lica. Quem se setve do froidisplica, com efeito, exprlme sua 
<xmvi~3o de que 0 inconsciel1le seria de alguma mal1eira um" desculpa para nilo 
a:ssumir as conseqGencias pelo que disse ou fez - sob pretexto de que n:to serla 
bem Isso 0 que ele dis&e (00 fez), e que! no rundo, se disse (ou rez) aqullo, na 
vetdade, nlio queria dizer (ou fazer) 0 que, de qualquer maneira. j~ desdisse (ou 
desfez), 
12 
1. GENEALOGIA FREUDIANA DA MORAL 
Freud nunca cansou de lemb!'.r que a psicandlise n~o 
era) nao podia ser, uma visao de mundo. 
Tenbo comigo - coisas corno esta nOo 
podem se,. ditas em voz alia - que algum dia a 
metajisica sera posta de /ado como u1I1a coisa 
intUit, como um abuso do pensanzento e U1J"t 
vestigio do periodo pertencente "il 
Wellallschauur!g retiglom. (Carta a Wemer 
Achelis, 30 de janeiro de 1927') 
Pam eJe a filosofia nao pass.va de participante menor 
(porquanto refenda a um pequeno grupo de iniciados) n. famma 
clas Weltallschauullgcll, cujo membro mais eminente 
reconheda na religmo. Era em nome cia d@ncia que recusava 
enfaticamente qualquer ambi~o tOlaHzadora, racional ou nilo, 
considemndo-a a manjfesta~o sintOlmllica de um ideal, nao 
reconhecido como tal'. 
A Eitingon escreve, em" carta consecutiva a uma paleslTa de 
Chertov: 
o senhor nilo sabe conlO me sao estl"anbas 
essas cogitafOes fllosoflcas, A unica satiifa¢io 
que e:>.traio delas e saber que nao PtJIticlPO desse 
lamentcivel desperdrdo de poden!;; inteleCtliais, Os 
fllosoJos p1Vuavelmente acmdltam que, com esses 
1 CnI1<'1 III Werner Acheli3, 31) de Janeiro de 1927, in Epig/oWrio, Plaza y JMn. BarcelQt\fI. 1984, p. 329. 
2 	 Freud 58 rela!e lIOS sistemas reflOios05 0\.1 liIos6flccs. Nem lOOn liIo50lia, PO/em, e sl$tam~liea. "A • 
elabora¥Ao $l.Icl.ln<l/ule do praduto do Irab.a!no do ,onho e um SKoeteme eX(lmpl0 da natU(eto e dos 
requisi!o& de· um 1li$lemn..( ... ) De lois form~&e$ de sistema n;\o lemos not(cia apenas palos 1100005; 
lamb(im pela, tobi..., (I pen$tl[ oimessillQ C &$Iormas do deliria: (AE, 13, p. ge) 
( 
13 
,1,, 
ENSAIO saBRE A MORAL DE FREUD 
eSludo~, conl1"ibui,iio para 0 desenvo/vimenlo do 
pensamenlo bumano, mas bd um problema 
psico/6gico' ou ate psicopalo16gico pal' lras de 
cada urn de/es. (In Jones Ernest, Vida y Obra de 
S. Freud, Paid6s, SsAs, 1973, vol 3) 
Resulta impresciridlvel, para apredar a posi~o freudiana, 
nilo Imag\nar que pretendesse reduzir a filosofia 11 
pSicopatologia. Como ja 0 fizel''a com a religHio j seu intuito era 
reobjelivar tima Weltanschauung, entendlda como psicologia
i projetada sob're 0 mundo'. Por outras palavras, a religiao tornava 
;1 "obs~rvivel" ao investigador a composi,ilo mesma do aparelho 
pSlquico, e eta a este titulo que Freud se interessava por ela. Nao 
i era questiio de interpretar 0 que jll era de per sl uma 
iflterpreta,ao, maS de enconlrar suas coordenadas fonnais, ele i 
dim: metapsico16gicas.I 
A psicoiogia da reHgiao (e por psic%gia nao devemos
I entender aqui a idiossincrasia do re!igioso, mas uma estrutura de 
, 1 
, , 	 cren,as concreta e observavel que subtende os atos de qualquer 
religioso') e, para Freud, metapsicologia e, enquanto tal, opoe-se ! . ~., a metafisica, que toma como reaUdade extelna 0 que e 
I 
I 
I :3 Nll1Quern meMOS qua Freud podalia $Or acmado de psicologlsmo, Me ace?rOO que hole dame! ao telmo: exlraPQIalJrAo subJelivisla da causalldade dos lanOmenos relaUvos & pt'!soa. FreUd $erve'$e do 
termo psicologia no espfrito do t<lC!onalismoalemao, COin<) '<:lencia dos prooo$SO$ da alma·. J 4 °Acredl1o, de: la\o, que grande: parte da visil.o mi!OlOQica do mundo. que pene1ra e1e as religiCies mals 
modeiMs, nAo 6. nada !'116m de psk;otogfa ProjDtodu 8clmt 0 ml1('1Jjo extemo. 0 "Ic.otIheclmenlo 
v . QbSCl1fO {umn petceP950 endopslquk:a, para dl;tn( ~S$im} de latorns p$lquicos e mlafi5!'1s no 
Inconsclerne 6. espelhado • e diff~1 exptes'lar em O\Jlr09 lefmos. arqUl tern de vir em nOllsa ajuda a 
onalogla qlJ8 a paranoia oIercea • no: constru~ de urns mnlidade $tmronatura/, que a e:ii§neta deve 
altelQr mOIls urnn va:: em Psicmogia do Il'lconscien!e. AlgU6.m poderie aven{umr-se a expliear dease 
modo os milo! do pGralso e do pecado onglnaJ, de Deus, do bem e do mel, ds imortalidade, e aluim 
por dianle, e transformer a tnf!tatfsws em melapsicologm: (PsloopaJologia de 10 vido cclldmn8j AE, G, 
p.2S1). Anln dino, em 1211211897, esc;reve a Fness>'V~ consegua Imagl~r 0 que seJam 'milos 
endops!quicos'? SaO 0 ullirno pfl'.ldulo de mll'u eslo~ menIal. A IEmue percaP9lio Intema do pr6pllo 
aparelho ~fquieo eslimuln 1/lJSae$ de p5nsalnenlo, que, naluralmente, sAo proJelocUls para 0 exlerbr 
a, lipieamente. para 0 fuluro I) 0 alem. A lmorlalidade • .a recompengc$, 0 pt6plio arem s50 eslas iOTlTla$ 
de epl6senl~1lo do nosso Inlerlor psiqliico, Meschugge? Psle:omilologia." (A COrrNpondlhu:is 
oomt:tIefa de Freud para Ffiess, Imago Ed., Rio, 1986, p.2S7: roproduzo &qul, $rn parte, a lradU):oo 
IOlnecida por Qsm)'t F,ahilGabbi Jr, in Cod. NIsi, Fil, CL. Campma.s, Sene 3,1(2): Jukiel'. 1001) 
5 	 '0 ab!smo entw 0 deslDCamenlo do paQn61C<1 e 0 do supelSllei050 e menor do Cjoo palece: (idem. 
ibid.) 
14 
, , 
• 
Gillffi~~FREUD~ADAMOML 
meramente uma proje,ao do pr6Plio aparelho psiquico
6 
• 
As neuroses mostramj POI' um !ado, 
semelbanfas notiiveis e pmfitndas com as 
gmnd(lS pmdufOes socials da arte, a re/igiao e a 
filosojla, e, por oulm, apamcem como 
defOl7llafOes deslas ullinUlS. Algid", podelia 
aventurar a ajlrmctflio de que uma hisfl!l1ia Iff 
uwa caricalura de ~ma Cl'iafiio oltfstica; uma 
neumse obsessiva, de wna religiiio e wn de/fda 
paran6ico, de un> sistema jI/os6jico.' 
Como diz Assoun
8 
, a new"ose e • ratio esscndi da 
psicanalise e a freudismo a ratio <:<>gnoscendi da neurose. Por 
elevado que sej., 0 pensamento humano espedHca-se a partir do 
sintorna. POl'que 0 sintollla e pensamento, e pensamenlo 
rigoroso (Gcdankengang, Cadeia de pensamento). Deste modo, r 
a neurose .parece como 0 campo onde se interroga a verdade 
sintomatica das concep,5es de mundb9• 
I 
E nestes tennos que Freud entra'no debate milenar sobre 
a moralidade humana, inteLTogando-se sabre a necessidade 
psicologica dos sentimentos marais. Nada hii de fHosoHa moral 
na psicanaIise. Ela toma a moralidade como objeto de estudo 
apenas na medida em que a considera um sintolna. Freud s6 se 
interessou pelos ptincipios que. norteiam os atos humanos 
porque fOi obrigado a isso pelo discurso dos seus padentes 
(paluculannente, obsessivos e melanc6Iic6s). A moral, enquanto 
filosona moral, pouco the import.wa. 
... eu Iba cedo ao senbor; a etlca nao me 
6 	 01. 05mYl Faria Gabbi Jr. A origfIm da trWI'3l am psicarnilisc. in Cnd, fIJs!. Fi/, Ct" Campine;s. Sene 
3,1 (2):f2!J.168, jul.doz. 1991) 
7 T(ltem y TabU, AE, 13, p.lS 
e o FreudiSmO, Jorge lahar, Rio, 1991, 
9 	 'Verdada !lJnlom~ica.·. Que 11 Qt$ndlosldade da patevra 'vardade" nAo le\l$ a IfOtf8no: Irala-se, aqul, 
apel'las. do uma 'oulra' r~!on81idade; a rac!onalkll'lde do desala inconscienltl do pensador que dll 
senlklo \aole$ dfret,;!O qlUl fa~ de ser} a :5Iua produ!i'50. Obviamern.e, asia analise nAo poc1e (nem 
cleve) aveliar a dita produ9Ao desde G porno de 'l'i5ta de sua CO'Henclu. !ntema; I!Issim cumo '0 valor 
estell¢:) de urna obfa. de Me noo muda uma vez descobel1as lIUas mo'livat,;ael! Jnconseienles. Pot 
oulllls palavtt\$, eonflecer a 100i¢(!' do pslcose de C... nlor nao eonslilul qualquaf nya!ia~;\o da 
!mporlancia malemalica dolllranslinllos. 
15 
" 
ENSAIO SOBRE A MORAL DE FREUD 
diz ,,,spelto e 0 senhOf'.1i pastor de 'almas.Niio 
quebm !nui/o a minha cabefa em l'eiafiiO ao 
bem e. ao mal,. mas.em geral tenho encontrado 
pouco de "bem.1I nas pessoas. A .maioria ~ 
segu.ndo minha e)"p:en'enda, canalha,' que,. 
plJltenfa aberta ou di'lfarfadamente a .est", 
aque/a ou a nenbuma dotlt1ina moral. (a Osk.r 
Pfister, 9 de outubro de 19181') . 
Uma filosona pode ser dita mat·at quan,lo se da como 
objetivo procurar as fundamentos racio.nais d!:t mOl'alidade11. 
Fundamentos que n~o se reduzam apenas it vontade divina; a 
uma tradi~ao social oU l enfirn, aos genes. 
Ch.im Perelmanl"defende a tese de que OS ilrtpasses das 
reflexoes sobre 0 problema mora! devem-se ao fato de que a'1 /,' 
no~o de. justlficalo'ao tem sido assimilada a no~o de 
I .' demonstra~ao, 0 que e um engano pois alem de nao serem 
Identicas, opoem-se em detenninadas ocasiaes. Esta pendencia .1> otigina-se, segundo elc, numa certa 11u53.o positivista de
1/ in'spjra~~o canesiana. 
Todavia, se houvesse evjdenda em mat~ria de mora)1 as( 
regras seriam ne~essa.riamente admitidas e a no~aQ de 
responsabilidacte perderia seu sentldo. As reglas morais nao' silo 
demonstnlveis como que num teorema. Uma conduta moral 
implica sempre op,oes e escolhas,. Trata-se, em todo caso, de 
justificar, nao de veJificar: por que tellS agido (ou dcixado de 
aglr) do icito que 0 fiZLoste? . 
A moral Ii caracterizada pela nOft1o de 
)ilSto e de justifidivel e niio peia nOft10 de 
verdade ou de falsidade (op. cit. p.206) 
Uma justificar;ao e sempre relativa a uma mUca anterior. E 
um. conduta s6 pode ser cliticavel em fun¢o de regras 
10 Frvtld·PfitJler. Corresp<mdenck1, Fondo ~ eull1m'l6conomiea, Mexica, HiSS. 
111nltOOuc1i<m HlsWtlque Ii is PJlllotuiphfe Momh'. Ed. de \'Univflf1IiUi de BIIJllelllnl. Belgique, 1990, 
12 Ibid. p. 203. 
16 
GENEALOGIA FREUDIANA DA MORAL 
previamente aceitas, as quais obteriam sua legitlmidade de 
valores ideals adquiridos por educa~o OU pOl' habito. Em suma, 
para Perelman 0 problema da mosofia moral reduz-se ao confiito 
entre valores que sustentam regras diversas. 0 Intuito moral selia 
encontrar princlpios pala alern das particularidades locals das 
regras, que valessem para toda a humaoidade. 
Sem entrar no menlO do argumento de Perelman, queria 
apenas guardar sua conclusilo de que nao M fllosofla que nao 
esteja Iigada a julgamentos de valor justificativos de noss. 
cooduta (Idem ibid). 
o que aconteceria com • pergunta pela monl se a 
racionalidade que desse conta dos atos de tlma pessoa (que a 
"j'lStijicasse", nas p.l.vms de Perelman), independentemente dos 
valores que ela subscreve, nao fosse jamais Inteiramente 
inteligfvel para e]a mesma no momento em que age? 
Freud foi levado, .ltaVeS do estudo da resistSncia do 
sintoma (isto 6, 0 siIftoma e resistente)l a elevar esta conjectura ~ 
dignidade de uma hlp6tese, introduzindo' assim 0 problema 
moral do freudismo: a no~o de Schuldgcfuhl, sentlmento de 
culpa.. 
1.1 GuUt & blame 
Um•.culpa que nao se expetimenta como tal, m,s que 
deve postular-se para tomar Inteligiveis os sintomas do sujeilO, 
nao pode ser concebida como um fenameno psicol6gico porem 
como lim teono logico, necessalio para dar coerencia a condutas 
de outra maneira incompreensiveis. Esta culpabilidade nao segue 
ad ato transgressor como sua consequencia, todavia esm na sua 
orfgem como uma causa, e em nada apal'enta-se (a nao ser 
analogicamente) COIn 0 remofSO. 
A psican:ilise fala em delinqiienle por sentimento de culpa 
quando descobre que 0 gesto cdminoso faz parte de um aiJculo 
desconhecido para quem 0 executa e que Ihe escapa b 
http:senhOf'.1i
" 
ENSAJO SOBREA MORAL DE FREUD 
verd.deiro motivo de seu .to. Confessar 0 que constata ter feito 
pode ser urn ~livio para 0 transgressorJ porque Ihe evita 'asslimir 
a responsabilid.de por um desejo que por mals lnconsciente que, 
o jmaginemos nao faz dele um inocente. 
E a jovem esposa acostumou.-se com estecicio pmque linha nol£ldoque aprodu!(ao 
li/eJ'dlia - 0 untco de que cabia aguardar a 
salve'fao na reatide/de -, nunea andava melhot' 
'do que ap6s eles !erem perdido tLldo e penboracio 
ate 0 illtimo /JellL Ck/1u que ela nao compreendia 
o ne.xo. Quando 0 sentimento de cUlpa iJele 
, eslava salisfetto COUt as castigos que ele mesmo se 
impunba, cedla SUa inibi!(iio pam 0 lrabalho, 
per7llilindoese dar alguns iX/SS'OS no call1inho que 
leVCl {to sucesso.
l 
3­
Dest. rnaneil" Freud eXplime-5e sobre 0 jog.dor 
Dostolevski. '0 aClllllUlo de dividas (Schuldc111ast) indiCava a 
culpa (Schuld) que nao podia registrar, porque par" ta.ltO devi~ 
reconhecer a fantasia 14 de paI1iddio que a animava. 
A compulsao de jog.r - seu sintoma -, levando-o il 
faH;nci., explava uma falta, uma falta ignmada: 
o senUmenlo de culpa Ii .m"do iX"'tI '0 
doonle, nao lhe diz que ele Ii cuipado: '0 paciente 
nao se sente culpado mas enjel111o." " 
o pre,o pago oom a puni<;iio ooncreta entm na 
eonmbilidade libidinal 'no haver cia defesa cont,:! a puldo, A 
13 Pr~ud S. AE, 21, p. 16& 
14 Fon'lIsill {/anfnsme, am flancl\!i; PMnfllsy, em i"gltis; phnnl8sia em B!emAo). Termo lecnlco de 
psic:nnAllsa que se relere a umo represetlla~lI.o au cena imaginaria ctmru:iente (de'Ulne+o) (lU 
Inconscienle, que apresenla um au mais ptrsonaoens e que pOa em ceM de tr'!aneira malt> au meOO5 
dhila'9ada um desaJo do sUJeUo. A fll!llasia e 60 mesmo tempo 0 resullado de'um de.aJ() Oflgininlo 
incoI'Isclenle e a malfiz de descjo$ lneonSetenl(l$ aluais, f)e$(lnvoivendo uma kl6ia de Freud em &Ie~ 
:le flllnUI cdtllnflJ. Ltw8n define a hmlnsia como Urn nnlepnro !)emnie 0 RIal. Strr!!;lo (\ Milt aquila que, 
emiXlra asteJa na crigam da sua subjetividade, e indizlvel prua 0 sujeilo. 0 leal e insupol1twel, 0 que 
NO impede que 0 sujeito lope com (lIe 0 Itlmpo Iodo' urn tj$umtl O(IinfAncia, por exemplo, fllHI:Uecldo, 
alnda quO plesenle poi Iras da lela da fMltlsia. 
is FnHid S, Esquema de psic06nalisis, AE, 23 
,',I 
GENEALOGlA FREUDIANA DA MORAL 
colun. do deve, contudo, niio para de 'aumentar porque 0 apelo 
pulsion. I que 0 empurra para 0 abismo nao eede·6 A .,ao 
punitiva tern uma fun<;iio mais itnportante aindo, ela permite 
localizar uma falta ate entao il'representavel, 0 sujelto t0111a-5e 
culpado de um delito especifico, sua f.lta passa a ter um 
.7 
nome. 
E, portanto, tao falso acreditar na f,"<iueza da consci@ncia 
moral do crimlnoso) como conduir que seus Climes nao pass::un 
de urn des.flo lan~do ao rosto da lei. Ao eontratio, muitns vezes 
delinqUir e seu modo de lnvocar a ajud. da lei, para que esta '0 
impe,a de continuar na ttilha inexoravel de desttul,ao n. qual se 
eneontra' preso. Apesar do que se im.gina a lei niio prende, 
Iibera. Por isso, e eontra 0 pai Karam.sov, que se .p""". a 
conduir que se Deus mOI1'eu, entao, tudo esta permitldo, 
dh"e1nos: nada estaria perrnitido se Deus estivesse morto. 
A op,ao pelo abandono do coneeito de instinto (Jl1slinkt) 
para t ... tar das, paix6es humanas e uma cias conseqilencias 
te6.icas decorl'entes da descoberta desta curiosa culpa a procura 
de urn crime. Freud prefere, com efeito, pulsao (1iieb) a instinto 
porque este ultimo seria a anula<;iio mesm. do homem "tieo, na 
medid. em que supOe um nao poder dcixar de fa'£er, urn .to 
sem op,ao. E ele, sem jamals abandon.r a hip6tese do 
ineonsciente (nome pr6pIio de sua fe determlnfstlca), nao duvida 
16 Enlernler como elguem pade S6r culpado por Um alo impasslvel de so eometer. sup6e uma I¢Oka que 
"eltsmineremos em outro 100M (el. inlra. p. 97 n.). Dioi'lmGS poi enquanlo. que so inlroduzir 0 eunceilu 
ck!: natciaismo, Freud raoonhece no Eu lnffado de libido uma especie de simulaCl'o de lnceslo 
consumado: quanlo maJor 0 narcisismo, lanlo mats morto es:lara 0 pal in!erditru da mile e mah. cutpaoo 
se senlifli 0 $uleilo pot \6·10 ll$sll$simmo. 
17 Lemos numa nota. do 1¢d&p9 de DosIoieV$ki e opamefdio: '0 propriu DO$(oievski fom(!¢(i-f1O$ e. melhor 
referenda SabiO 0 senlido e 0 conteudo doll seus aUu,u85 qu:mdo eomunica eo '!IOU amigo'Strajov que 
sua irnll'lbilidlJtf$ e depresl/Au ap6s um attl4ue epileplh::u devem-se n que ete va a si proprio cumu um 
etlmi('!oso e nAo tonsegue alal/lar de 51 0 senlimenlo de earrtlgnr cum uma culpa deSconhecldn,. de lor 
comelido um enorme crime que ooprlme." (A,E, 21, p. 184, n.9) 
19 
• >. =44 ...... , i l( ._ 
18 
http:responsabilid.de
! r 
ENSAIO SOBRE A MORAL OEFREUO 
em fala,' ali'de cscolha (Newosenwahl, a escolha da neurose)" . 
i 
Todavia, quando fala de escolba no ponto exalO em que 0 
doente queixa-se de nao poder tomar decis6es Freud esm 
anunciando a necessldade de redennir 0 estatuto conceitual do 
sintoma neur6tico. 0 que ele fa;" aplicando a este conceilo a 
trfplice exigencla da metapsicologia (din~mica, t6pica e 
economica),; 0 sintoma 50l;) tratado, ao mesmo tempoj como 
resulla?O d~ -compromis~o entre 0 'apelo pulsionaJ ~ a defesa 
contm ele, tOino a expres~o dfmd. (dedfclvel, portanto) do 
desejo descoilbeddo do neur6tico e como 0 dnico meio deste 
ulUm~ l:satisfazerll sua puls:lo. 
Everdade que 0 sinton"" de Dostoievski parece opor-se I 
a sua arte - as ataques epUeticos (histerkos) com certeza n~o 
favoredam a eserita e sua paixiio pelo jogo levava-o a uma 
indefinida poslerga,ilo de seu esfo,.,;o de escrever (nem tilo , , 
indefinida .ssim, apenas ate ele perder tudo que tinha). Nao 
oRstante, ainda que 0 talellto litera rio nacla tenha a vel' com a 
Ileurose (Freud e taxativo neste ponto'\ e inegawl que a 
Hteratura representa tambenl lim melD de atender 0 chamado do 
sinloma. 
Freud considera a neurose, isto e, 0 sintoma concebldo 
!:otno dcfcsa, cov3l'dia. Dostbievski nno se ~treve com ,'seu 
desejo assassino, Sua illcursaO nas lelras selia prova de cOIJ.gem? 
Freud parece pens;)r que sim. A obra reslilui 0 desejo a seu lugar 
no discurso. Pennanece I pm'em! a pel'gunta de POt' que ° 
exercfdo -das lett"s nao foi suficiente pal" Dostoievski poder 
1& CL MlSa con<:II1'IIo. A ps~pmoJog;a da vida cofidinmt (1901) e, anles, A mte1pretef8Q dll5 sonho!J 
(1900), do obras cuja flnalidade ll):p!iai1a e demonslrAr a rationalidade que oovema lenom8MS mil 
enllio lidos QOi'no dosprovldos di1l qualqucf l6gb:.:e· como 0$ sonhos, os e1iIquotimenlo" 0$ alos fnlholi, 
e, depois, 0$ ,intom;!$ neu«S!icos em oetal, A hfpOI(i,e de tim psk;ulsmo intOMcienle amplia 0 campo 
de delermlnb.mo, para incluif nele hm6inenos que Ale en!~o nllo rrnHeciam qualqoof alenvilo da pane 
dos denUsta" ~ do Maior Inferesse pMa nO$SlI j)C!squisa OOftanlo, 0 !UO~l aue Freud re$eNOU a 
no,c;5es que parecem ir de enconlfo a IntuJo;ao dehnmlnistll;;a que ele perscgue, n~6es tAt! como 
liberdade, lsspon$QbiHdade II IIsoolha. 
19 'tl<):, eomplil;tlv~lIu dA pes,oo Oosioievsld plnylll'nO$ W, falores, um qul'tfllilalivv e dois qua!ilulivo$: 0 
eX!faQrdinl,llin Ofgndeza de &ua afelividnoo, e disposiyilo pmlonnl pe.rversa que Co empurrav<I " $ef um 
!I(ldoma!Joquisto uu urn defi"qOente, e 0 _Wenio artfBtteo 000 onali..nV1i.'l iAE, 21, 13.117) meu 01110. 
Cu, tarnham: "nl&lizmenle n . .onflll,e tend(l' suas ArMaS ""rante 0 pro'Df&ma do eriador li\etaOo' (AE, ~1, 
13.175). 
20 ,! 
.....' 
• 
GENEALOGIA FREUDIANA DA MORAL 
Udar com sua fantasia, quel' dizer1 por que sua obra nao pel1nitiu . 2. 
ao esctitor eslar em regl'a com seus deseJos . 
Pode-so dizer que Dostoievski nunca 
lfqtiidou a hipoteca que onemva sua 
ronscillncia morcil POI' C(lusa do seu pt'op6sflo 
pardcida. Determinan(e ta~nbem cia sua 
conduta nos outros dois campos em que 0 
v[nculo co'" 0 poi e decisivo: 0 da aUloridade 
po/{tica eo dafo em Deus. No primeiro tenninou 
na mals abje/a submtssiio ao paizinho Czar... 
No campo ",Ugioso ",stou-Ihe, po/tim, ,1m pouco 
mai.s de ·liberdade"" oscilando ate 0 tWimo 
2';nstanle de sua vida entre a Je eo atersmo , 
A consci/}ncia mOl'cI[" t.a1"n(f-nOS covC/rdes, escreve Freud em 
outro lug,1r mns na mesma epoca
22
. Ele Ilao se cOIllp::rdece de 
Dosloievski POI' sua agonia porqueeSla nao passa, na sua 
opiniao, de um recuo perante um gozo obscure. Responde a 
Reik, que Ihe reprovara sua dureza para com os senlimentos 
morals do grande eseritor: . 
...eu niio 8osl0 de Dostoievskl. apesar de 
"'Inba admim~iio pe/a sua for,a e nobmza. De 
Jato, tm:nha pack1ticfa com. OS caracteres 
palol6gicos esgotou-Se no 1I101t trabalho didffo, 
Na aile enil vida niio OS supo110. Este eWIt Im!.'o 
pessoal qlfe em nada comjJJollu7le os oulros. 
20 'De late lima fan!(!$ia 6: basta-nf. desn01teadora )e qlRl ro50 sabem09 onde ordenlt·la, pelo 11110 dela 
oslar 14, !"Ieira na s.ua natureza·de faniMia quO" nllo posSl.li Malidade ,entic de discl1l'8o e nAu e$p9ri!! 
n/lda de sel.tt podeles, maS que demand's a v~s, ela, co!oeArem-se em IGeTa eom 1'I8US de$e]o$.· 
(Lacan J., Eenls, Selli!, Paris. 196ft p. 179) 
21 Fre.ud ibid. 13.135 
22 OmB/~5farna'civiJimfAo, AE, 21, p. 100, n.l 
21 
~ 
j
'. 
~ 
~l ~I ~ 
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i~: 
f:: 
~; 
I~•., 
http:posSl.li
http:delermlnb.mo
, 
pronto a por principio (desculpe;lr", 
qualquer COiSCI ...), mas nao sabe por qull,
j,~" Embora noo tenha felto nada, considera-se 
'culpado " . 
Diverso e as vezes contralio a lodo dlscurso classico sobre.~-. 
23 A m05ica QIHI cahla Rita Hayworth ero Gilda (Put the bfgmo on Msmei, sabre eme mulher a quem s. 
pode responsabililar por ludo <IVa de rolm aeortlece no round!). 4evelia sa; consagratln como <I hino 
da. neurose. 
22 
ENSAlO SaBRE A MORAL DE FREUD 
'Hannah Arendt pen.. em Eichmann quando fala da 
banaliza{:iio ,do mal, Unl" sujeito para \a de norinal, mediocre, 
sem qualquer paixao, sem remorso nem 6dio, apenas um 
burocrata zeloso preocupado em fazerdireito seu servi~o, Ele, 
que teria sido um' pacato funcionario em' t~nipos de pa~, t?mou~ 
se 0 met6c\lco assassino de milh5es nos campos de extermfnio 
do terceirol Reich, Esta ban.liza,li'o comporta uma monstru­
osidade .inda maior, pois elimin. de uma vez, qualquer tipo de 
responsabilidade do agente pelos seus atos, Nos julgamentos de 
Nuremberg, ,os can",scos .leg.ram ser apenas engren.gens de 
um. moquin. que nao eboa ou rna em si: ela funCion. ou m,o, 
Em que sentido estavam eJes; portantti, sendo julg.dos 'como 
crlminosos? Um'servo d. lei rliin question. seus fund.mentos, 
cumpre com seu dever - note-se 0 .parente k.ntismo deste 
.rgumento: a lei e • lei, independente de qu.lqller conting@nci', 
Freud) ao contI-alio l diferenciava as esuutul"as c1inlcas 
.~ pel.s posi,5es eticas assumidas pelos sujeitos: 
- a Paran6ico .presenta-se como 0 
inocente por excelen~a: oS outros acusam·no 
injustamenle, sem ele ler feila nada. 
- a Canalha (the knave) nao neg. sua 
a~o, porem, consldera-se isento np que diz 
respeitti lis conseqiii!ncias, Sua conduta estaria, 
n.' sua opiniao, justificad.,. Nao selia 
~ponsavel. 
- a Ncur6tico, '0 inyes do can.lha, esta 
ai:usar-se 
GENEALOGIA FREUDlANA'DA MORAL 
• moral, Freud insiste sobre a futilidade da renunda em nome da 
vil'tude. Prlmeiro 0 sujeilo renunciaci ·ao gOZQ, depois gozara da 
renuncia I irtstalnndo-se nunla abstiJl~nda que nfto e se~:lo' uma 
ilsatisfa~~o" que se ignora, 
A renuncia nao ~ uma virtude, pqrem, muitas teotias 
mora is consideram melit6ria a renuncia as pu)soes, 0 que as 
torna, no sentido freudiano, mOl",ls fundad"s no recalque. ESIa 
constata~o nao faz do freudismo uma concep~ao • partir d. 
qual se podelia conslruir uma anti~moral - que selia tao arbllral'ia 
em seus p!indpiOS como aquela que ele condenaIia. Freud 
apenas reconhece ~!e 0 sintoma nao pade ser en-adicado pOl' 
raz5es de estrutura , e para expllcilar este fato em termos 
met.lpsicol6gicos inventa Ulna instanda na ,sua segunda t6pica: 0 
SUI,cr-<:u, predsamente, 
Sublinhando a homogeneidade entre a consciencia moral, 
e a pultmo que a alim~nta, Freud tnlla aquela como um sintoma, 
Nao para eliminar a culpa, mas pa!'" remete-Ia a sua fonte: 
o sadismo do Super-eu e 0 masoqllismo do 
Ell 'complementaHl.se um com 0 outro e 
lIssociom.-se para pl'ovocar as mesmas 
conseqtiencias. 56 assim, na minha opiniiio; e 
possrvel comjJltJender 0 por que da "'jJl!Jssiio das 
pulsOes ,-es,llIm' " C011l freqiiencla ou na 
IOlalidade das casas - em 11111 semI/menlo de 
cutpabifidade, eo POI' qlle cia consclencia moral 
torna.,.~se Ulnto mCfis severa. e meiindl'osa quanta 
mals se abs/iver a pessoa de agmdlr as 011/1>:)5. (EI 
problema Economico del masO<l,!ismo, p, 
175/6) 
24 A lIeounda loplQ3 nAo 6 urn dewmeio leofiQO, mas uma (lomp/ela reitdmula"Bo do elfniea pSieanalltlca. 
EnquBnto pensnY", qUD a hOm£ostase era a reQlil, 0 lrauma n.io passBY8 de um desequifiblio 3cidenlal 
~ 0 lIulello que teA."! '$100 um atara<!o no comeyo du vida, pod,;; $I'If rell11orei<fo pelo mal enlxlI'l\fO que 0 
llz.era adoecef. Em compens-acao, lie mID lor 0 p1inefpio do pmzet que ~e 0 3p<!telho p~lqujoo, mns a. 
compul$1Io <1e repetiyoo • repeti9Ao do !nu:a'$o. do <!lI$enconl,o inlolel ", enillo, .a renrllo terop#urfca 
negntiom Ula 3 ream lpda \fez que 0 atmlls'i e5qtJecer,que ninguem pode ffl$llale!t 0 suJeilo do Itauma 
ptifque (!le a ~nsll1lrtiYo de $\,1;'1 svbJelhtldOOe. 0 Imoa$llo dfo CUt" (RTNj e anles de mills nmia, amor 
pelo $Inloma. 0 paeiente nAo $(I de-Ix.., pr!\far impunt'!ma"te dnquilo no qual se J(!alil:a a repe!l9:\o do 
trauma. 
23 
http:complementaHl.se
ENSAIO saBRE A MORAL DE FREUD 
o sentimento de culpa representa 0 mal-estar da 
civiliza~ao pOl'que a exigencia cullural e que 0 sujeito ceda no 
que range a· seu desejo. Pade conservar seu sintoma como 
satisra~ao 5ubslilutiva desde que se abstenha de lIagredir as 
outros", iSla e, de gozar do (no) semelh:lJ1le. A cultura, pete 
men<?s aquela em que Freud vivia e analisava
25
, incrementa a 
culpabilidad~ na sua versao neur6tica. 
Como :,0 sintoma ja e renuncia, a psicanalise nao pade 
proper QU[l'a 'taisa a nao ser cCl1unciac a rcnuncia. ,Isso 11aO' a 
tOlna ci'nica" no sentido de que ela nao exalta 0 gozo proscdto 
(nenhuma apologia dionislaca, ponto fundamental de 
,r>, divergencia cOI,n Breton e as 5uo-ealistas. Freud reCUS3-se·a .tamar 
partido por um clos termos do conflito em detlimento -do Dutro. 
o connito deve apenas ser reconhecido como tal. Pre-condi~a.o 
para. uma solll~:1o nos atos que nao seja contralia a.. verdade 
inconsciente). Crnko e 0 poder quando reprime a verdade que 
retorna do recalcado, CIllIsmo que a pSicanalise expoe 
abertamente atraves do objeto de r.ui~iio que 0 poc;ler reprova. 0 
cinismo freudiano C:lminha' de 111:10S dacIas com um fortissimo 
sentimento de imperativ~ etico, que ainda e mais incondicional 
na medida em que nunca se converte num discurso sobre a 
moral, ou seja, numa filosofia moral (d. Assoun, op. cit). 
Freud desloca definitivamente. 0 ceiltro de gravit.:1~ao Ida 
no~ao de responsabilidade quando introduz este sentimento 
inconscienle de culpa. A libcrdadc, conceito central na moral 
descle 0 sccuio XVII, devera levar em conta este pathos funda­
mental da responsabilidade elica descoberto pela psicanalise. 
1.20 pai c a culpa do filho 
25 Conlardo Calligans suslenla, ale onde sei sem mAiores lundamenlos, uma Interessante hipOlase 
(Clln;cs do socisl, Escule, SP, 1991): no come~o de secul0 0 sinloma social dominante, estudado p~r 
Freud, dizia respaito ao recalque, nesle !inal de seculo e sociedade ImPoria as pessoas 
sinlomalologias relatlvas a Verleugnung, 0 mecanisme de c5eemenUdo prOprio da petverdo, donde 0 
comportamimlo marginal em rela~ao a uma lai cuJa conliabilidade decresce a cada dia. (CI. Sioferdij/c 
Peler, Crftico de La RozOn Cfnlea, Madrid. Taurus, 1989) 
24 
.._ .. - - .. _-,-,-". '~'-'---"-'--~---'---O;--~'~------ ... ---.----.. --. 
GENEALOGIA FREUDIANA DA MORAL 
Os discursos que se prop5em a detenninar em que 
consiste 0 reto agir das pessoas, unia conduta moral, otientam-se 
frequentemente a partir de uma ideia sobre 0 soberano HCDt, 
sem se interrogarem sabre suas pr6prias condi~oes fOlmais de 
produ~o. 0 discul"sO psicanalitico, por sua vez, tern 0 cuiclado 
de nao dizer 0 que deve ser feito, lirititando-sea trazer a tona as 
detel1nina~oes do discl1l"sO que Ihe e oferecicio a analise. Como 
OCOI1"C, por exemplo, com 0 discul"so da antropologia, 
intenogado por Freud em Totem e tabu. E precisamente desta 
fonna que se deve entencier, aCl"Cdito, 0 designio explfcito de 
Freud em Totem e tabu de: 
aplicm' pontos de vista e conclus6es da 
pSicandlise « alguns problemas ainda noD 
reso/vidos da V6Ikelpsycho!ogie" (AE, 13, p.7). 
. 27 
Urn trabalho recente desenvolve a tese de que a 
finalidade de Totem e fabu nao e aplicar a psicamilise a analise 
antropol6gica pOl·que se trata de uma obra metapsicol6gica que 
procura responder uma serie de q1...1estoes deixadas em aberto 
ap6s 0 'abandono da teolia da sedu~o. Neste sentido, pode sel" 
entendido como uma continua~ao da teolia do aparelho 
psiquico presente no capitulo VII da Inlelpretafiio dos sonhos. 
Gostariamos de acrescentar, apenas, que estes problemas 
cia investiga¢o psicanalitica dizem respeito a uma qllestao 
sempre premente para Freud, a saber, a fun~:1o do pai na genese 
dos sintomas neur6ticos
28 
. A exposi~ao cia OIigem do sentimento 
moral e religioso e antes um subproduto desta teoliza~ao 
freudiana do que seu motivo pdncipal. 
Freud procura 0 sentido da religiao decifrando 0 
totemismo - concebido como proto-religiao da humanidacle pela 
etnologia que ele utiliza como referencia. Mediante a analise do 
totemismo, pretende dar conta exaustivamente cIa qllCSL.1.0 do 
tabu, isto e, da moral, dado que 0 tabu nao difere em sua 
26 'Psico!ogfa dos povos', !ambilm. 'psicologia social'. Freud usa 0 termo para ralem-se espec)nlmenlt. 
ao campo de trabalho de entropologia, da etnologia, dos lo!clorislas e dos Jinguislas. 
21 CI. Osmyr Faria Gabbi Jr., 1991, op. cil. 
28 NAo por acaso a teoria da sedw;ao chamava-sa Vsleraarhio/og;e, eri%gis paterna. 
25 
ENSAIO SOBRE A MORAL DE FREUD 
n;;\lllreza psicol6gica do impe1'Olivo CGleg6liCO kanliano, ulna vez 
,"'- , que opera de fonna compulsiva e rejeita motivos conselentes 
(AE, 13, p.8). 
Seu operador te6rico ser.:! 0 comple>.'O de £d;po que val 
instiluir a inoral e dar origem, eventualmente, ao seoliniento 
religioso. Freud lnvette, de certa maneira, suas ptioridades' ao 
longo desta ',analise. On reHgiao -do totem- dedva 0 tabu -ou seja, 
. a moral. T09avia, e da moml ja estabeledda por obI''' do Edipo 
que deriva, '.-como LIm sintoma horrieomorfo com a neUl"ose 
obsessiva, a religino 2:>, 
1.2.1 0 and.mento da conjectura freudiana e 
mais 0 menos 0 segllinte: Freud encontrn, em primeiro 
lugar, uma conexilo entre totemismo e proibi~ao ..do 
incesto. Nexo que Ihe parece enigmntico: POl' que 0 
totem e as regras que protegem a anitnal e regem a 
conduta a se ter com ele, a saber, 0 tabu que pesa sobre 
a totem, estrl1iam relacionados com a pl'ojbi~ao 
fundamental de toda soeiedade, 0 incesto? 
Urn IiVl'O de Robertson Smith, Religion oj the 
Semites, fOll1eco a base para Freud apoiar sua demonstra­
,ao. Nele 0 autor afinna que um feslim dtual fatia parle 
das reHgioes totSmiC2.S, banquete comunita,tio que eslrei­
tava os la,os dos membros do da entre si e reafir-mava 
o seu parentesco com 0 animal. S3Ctifica-se este anim~l 
que e, a seguiJ', praoleado, para final mente ser devoJ's­
doetllre lodos numa fesla. E obdgat6do que todo 0 da 
l' parlieipe tanto do mataIlqa como do pr""IO e do festim. 
:r Resumindo j Freud afinna que 0 animal morlo, lamentado e comido nilo pode ser oUll'O que 0 pai. E 
chega a tal condusilo compal<lndo as hip6tesesi
" 
29 "(F1Cild) quer CMSlwll ¢ ~djpo oorno VIM toIma aprioti em cada ser human~, sem the dar lIenhum 
cootelldo cOlIcrsto, mall como conlunlo de 'Ola~, Ii nbo enquanlo !d6111 mala, para poder conciuiT 
que 'a fonla do Inbu, G illl~im \omWm da eonsciimcia moral, e a ambillalfnciu' Freud a Jl,IJig 
21103l1912)" {FnriLl Gabbi Jr., op. cil, p. 136) 
26 
GENEALOGIA FREUDIANA DA MORAL 
dedutivas de Robertson Smith com seus proprias dadas 
te6licos. A absslvtlfiio de jabias InjanUs e a analise 
deslasfobias em pacientes ja adultos nos ensinaram que 
o anfmal tlJmido 1'fJprosenta 0 pal. (Ibid.) 
Como um blicoleur Freud constroi seu argumento 
recortando e colando elementos pertencentes a disctlrsos 
aparentemente afastadas entre sl e com pouco em 
comum. Freud passa dos dados constmidas pelo antro­
pologo "OS dadas e conceitos que Ihe silo proprios, 
advindos de soU propdo campo,.pam depois perfazer 0 
camillho inverso; da atitude ambivalente, de amor e de 
odio, do menino para com seu pal, ele infere e acredlta 
entender 0 ~ratamento que os primitiv~s davam ao 
animal tot~mJco, cuidado e agredido ao mesmo tempo. 
Freud leva este metodo ate a exaustllo e sugere que para 
provar 0 acertado da conexao entre' tabu e inceS10 
poden"mos refedr-nos. a hipotese darwlniana segundo a 
qual 0 estado 'primordial da sociedade human. teria sido 
a hord•. 
Conjugando a tradtlfi'io do totem 
jornecida pela psicaniilise com 0 jaf<:l do­
banquel2 totemico' e com a hip61ese 
aalwlniana do eslado prim/til)() da 
soc/edade humana, surge pat-a n6s a 
jJossibilidclde de ap,ofimda1'mos nossa 
compmensiio desles pl'Oblemas, a pe1spec­
tiva de. uma hip6tese qtle pode pal¥3Cer 
janttistica, mas que tem a <!Xmlagem de 
. estahelecer uma unidade nunca antes 
suspeilada entm selies de jenomenos aU, 
hoje inconexas. CAE, 13, p.tH) 
Para estabelecer uma tal unidade, Freud superpoe 
as indu,oes .ntropol6gicas as comprova,oes dfnicas da 
psican:llise • pOI' sua vez embasadas nLim campo le6rico 
que d:l a estas comprovaqoes seu estatuto e sua 
pertin,@:nda -, para depois acrescentar a estas ultimas a 
27 
( 
ENSAIO SOBRE A MORAL DE FREUD 
observ",iio etnografica. 0 espal1toso I1,S hipot<!ses e 
menos 0 .specto fantastico dos supostos que as vallaS e 
tor~6es mediante as quais 0 discurso freudiano constitui 
sua especificidade perpassando campos tao dfspares. 
A hip6tese de DafVi!in setve para Freud tecer ;J 
seguinte conjectura: leria havido na OIigem tim ~lj 
oni¢,otente, possuidor nao de uma, mas de toelns as 
f~!m\as da horda. Os filhos exdufdos deddem unir-se e 
•dar 'Cabo do tirano) acabando assiIn COm a horda 
plimo:rdlaI, 
. Que acontece uma vez conslimado 0 ata que 
pOti•. os mhos no lugar do pail Um novo 5:11to 110 
disc-urso, l?tinca Masowl
i
). Freud abnndon~\. com ,efeito, 
a inferencia dmwiniana em. favor da observa~o 
etnografl~: ai,nda os grupos majs -plil11ith'os - :1S hibos 
austraHanas sabre as quais ele jtl l'enelim no comeo;;:o do 
, 	 Iivro - observam a proibi¢o do incesto. CI'mo ('ntender 
que 0 reslllwdo do crime fosse a oposto do esperado, 
interditando cleflnitivamenle aos mhos as mulheres 
aimejadas? 
Para responder Freud introduz um dado de sua 
c1inica que, por sua vez, precisa de explicl~aol a saber, 0 
sentimcnto de culpa. E a explical'iio e a seguinte': as 
filhos am3V3m Q pai e nao St'lbiam, ESle amor m=lI1jfesta~ 
se na culpa que toma conla dos panicidas, uma vez 
satisfeilo seu odio !nediante a violencia, Os mhos eSl~o 
agora lI!lidos como i11n305, num d~, pela for<;a cia culpa 
tardia. E 0 cIa, note-se, 56 exiSle Como tal, como grupo 
organizado que I'econhece llma Hn'hagem comum, ap6s 
a molte do paL E at!'aves do pai marta que os filhos se 
reconhecem irmaOS, islo e, filhos do mesmo paL Poi 
necess~lrio que 0 pai estivesse excluido Como presen~a 
re,l1 pam que ele pudesse operaI' simbolicamente como 
lei fundadora do cli!. Est" obedi~ncia filial p6s-mortem 
30 OSCIlf MAsot\a, Leceiones de ir!1n:n1wx16n It'p$iCMll81lsis, Gedisa.. Bau::elona, 1979, P. t 1.5. TamWm 
ElrrnxJeft)pu{si(lnll/, Allazor,'S$A;, 1980, P. 95. 
28 
J. 
i 
I 
f. ,V 
I 
I I 
GENEALOGIA FREUDIANA DA MORAL 
esta .Ihnentada pela culpa. 
Dasta maneirrt, desde a conscfen­
cia de ct/lpa do filbo homem, (os 
membros da horda) criaram os dOis 
tabus fundamentals do tolemismo~ que 
por isso. mesmo' Goincidem com os dois 
de.sejos recalcados do complro.-o de 
- jl
Ed;po . CAE, 13, p.145) 
A nol'ii 0 de olx!di/}ncia "'Iros/,ecfiva 
(nachtJiiglich) e ulna'pe"fltndumental cia al'c;tbou,o 
freudiano, Eia pennite, de um lado, a!ticular o,tonjLlnto 
dos dados no !ntelior do campo PSlcall,lflico e, de 
QUlrO, dar Ulna dimensao conceituui ao esL'1LlIto 
p<"",cloxal do pai, que constitui lim dos problemas qlle 
levaram Freud a ocupar-se da momlidade 'em prhneiro 
lugar. 
o banquele totem/co, talvez a 
p,imeira .frs/a da humanidade, sfJlia a , I repelifiio e celebre/fao '!Jcon:ia/6I7a 
daquelafafanha ",emoravel e eliminosa 
com a qual C0t11eftl1t'l11't tan/as coisas: as 
olganiZCIrOes SOCtalS, as limUafdes 
etieCls, e CI ",Ugii/o. CAE, 13, p.144) 
A amilise dos neurelicos ensinou Freud a pensar 
no t..'1bu como sintom3 J uma composi~o de opostos, 
ulna fonna9io de compromisso entre 0 paniddio-incesto 
e a culpa expiatod. que restabelece a ful1l'iio paterna e, 
COIn ela, 0 inlerdito do gozo da m5e32. 
o sistema totemico resulta das 
31 Parace tlPOrtllftO lembrer aqui que 0 J:Cmpfe)(o de EdifJlj 6 tun COfICeito maior do lu:lUdisme. urn 
conc:eite metllpsfed6gico. Ele nlie" ftmdamenta analogicamellle na P69S de S6Ioeles; lIO co/'tlr1\rie, e 
esln, ou malhOl', 0 sf!l'ItirnllMo qve iva ence:na~ao contin.ua provocando nns plaltHa'b, que re:aulln 
axplkruia medianle 0 eo,rnpjaxo de ~dlpo. 
32 E!ltell< poi. It'lmpo9 silo a pr¢pliedade do pai cemo eMa. A fvn~o patema e urns funQl'lo de sapm~50. 
Uma fur\9Ao dist';ursiva <III cor1e, e qLlande dlO¢ '<liscu!siva' Ilmendli-$S a separ(l~i\o simb6lica qlle 
oaranie e !llIbJet~oo da (ifian~a no diswrso da mae. 
29 
http:contin.ua
I.', 
ENSAIO SOBRE A MORAL DE FREUD 
condifOeS do complexo de Edipo, tanliJ 
qua nto a zoofobia do pequeno Hans e a 
perverslio de galhineiro do pequeno 
A'JX1d (caso rel.tado por FerenczO. (AE, 
13, p.134) 
Edipo goza da mulher do paL Os mhos do pal 
primevo, nao. ESla diferent;a 1 se nuo oposi~o entre 0 
S6f~cJes e 0 Dalwih fl'eudjanos, nao nos develia impedir 
de apreciar a sua nao tao 6bvia convergenda, A trngedia 
greg.. e a infe,·cnci. antropologica se,vem ao prop6sito 
de estJbelecer 0 es[.,~tuto 16gico .da fantasia infantil 
incollsciente. Do e!imina,ao do p<'i decorre 0 g01.0; da 
elimina,ao do pai decOITe ·a abstjn~ncja. AmbosIt· 
!_r- enunciados, contradit61ios se tomados Conjunbment€, 
reflelem nao obstante clados ciinicos multo famiHares ao 
;,"-, 
psican.lis~1, cuj. 16gica digna de Lewis Ca'TolI Freud nao 
teve outro mcio de sistematizar a n<lo sec recol1'endo ao , milo. 
,~ 
,r'- Porque . 0 . mito introduz 0 tempo, isto e, a 
diacroni3. E a- fantasia em pSicanalise 'sempre se
I
i,-	 manifesta como uma seqG!ncia de atos ou de g.iscurso, 
II,· 	
portanto, temporalmente. Com Edipo-rei Freud mostrava 
que, a nivel da fantasia, panic1dio e gozo da mae "r.m . 
uma e '. meSma coisa. Com a mito da horda Freud ilush'aI
I 'i'-' 	 um movimenlo de sentido i!1verso ao antetior: a' 
perspecliva de incesto hnplicacL~ no pal1icidio J'!t·~: 
consumado transforma-se em apelo ao pai, invoca~ao de 
sua lei e, com isso, em interdic;iio do gozo cujo !lorizonte 
acaba de se,' .berto". Totem. e Tabu vem .ssimIi'~~ 
I r
i1.-. 33 Tomemos, como exemplo, a posh;lIo dita masC<'IulslB (Cr, BUm de Lacan de 16 de janeiro de 19G3),, . 
I 
, J,"_ cht$$h::amenle dl,t!l,trminM1a pelo SUpltf-l,tl,l: 0 ~ulejto pnxurana leu proprio lIo/dmenlo para punlr.se 
pelas aeull des-e/os Inadmissfveis. Ser mel(!cedot de puni/;Ao, conlud'o, impllca qve a lal1a jll fora 
I~ comefida • a lei \rans:gredida " em CIJJo ca50 0 soltimenlo SOM !Bmt>em 0 equlvalenle de um gOlO 
proibido, 0 eolIlmel'l1.o, panamo, irtCrl,tm"n!o III culpa e a conseqOetlle neeessldnde de cllsligo s/M fine,
I Uma efianQn brinea com varios bonee.,s que representnm de mcdo expllcilo 05 membr05 de soa 
'fairnlia. Ap65 jogar longe 0 boneco qul,t ele me5ma corwencionO\l em "hamar de pai, inlelrompe n 
btincacielra e PIl$U e exigif de lieU pal, que us!uva de lalo por porto. Ulna s&tie Inljnil~ de co$tI$. eftr. 
I" 
tom cada ",.z Moi, IfadO; e nao 51) IIanqu!!iUl: ate auvlr dusle tlilimo um: cooga! A seqDi!ncia inlelra 
I, 30 
I
I .. 
I. 
I 
I 
• 
GBNEALOGIA FREUDIANA DA MORAL 
"complet.r" . a 16gica do complexo· de Edipo; 
possibilitando dar conta de urn dado clfnieo de oLltra 
maneira incompreenslvel: a obedi~nci(1 a posteriori ao 
pai; • introduc;ao nachlriiglich de sua lei". 
1.3 A rnoral dll rCllullcia 
Depots da inven~iio do coneeito de l1arcisismo, em 1911 
·-passo dedsivo (que seria completado em 1920 com a hipOlese 
de uma pLllsiio de morte) para 0 estabelecimento definitivQ do 
estatuto da libido relalivamente a sexualidnde (1.1mb"m para 
acertar as contas com 0 monlsmo de Jung) -, tonl01.l·SC' qlJase tim 
lugnr comum conceber.o -amor frcudinno como a reln~ao com 
um 'parceiro que ndo passa de imngel'n do Eu do amaro'so, ~1ll1 
Eu tornado libidina Imente como objeto emfun,ao dos ideais 
parentals. 
Esta concep<;iio desconsidera 0 valor constitutivo que 
Freud atdbuia (sobretudo quando se t"'tava de mLllhe..es) ao 
temor do sujeito de se ver pliv-.tdo do .mor do outro" Temor 
originado no desamparo primitivo (HilJlo.<igkcil) que torna a 
erianc;a dependente de urn .uxilio eKtemo num grau absoluto 
(Abha'ngigkeit). 0 enamornmento eseu modelo: se, par mn bdo, 
o objeto amado pode ser assimiJado ao Eu do' sujeito, L:llnbem e 
vetelade que a "mor ,'emete a altelidade de quem e tomado 
como ideal e que de modo algum se reduz • espelhar 0 
apaixonado. 
o excrcito e a igl'eja r as dU3S m(fSS(lS cII1iflciais esttldud1.s 
por Freud em Psicolagia das ;lIassas e aru:ilise do Ell, 
atl'acterizaln-se, anlbas, pelo poder ordenador e pa'dikador de 
---------- ......-~.-------
constUui para 0 psicannlisla 0 desenvolvitnenlo de uma IImln$la culn lOgica 5erfa mnill 01,1 menO$ a 
seguinle: 0 I!:hiliqIJ8 exprime a anguSIla desencndead1'l pel!!. olimino¢io imnginaria do pill, senlimenlo 
que lorlj:a 0 gl'Hoio a agir no senlldo de reslabelecer. ele mesmo. a 1t.1I'\;:50 inlerdilor<l do pai, [.(Itendo­
se negar a sn!lsfll;:ao de seus pedidos impasslvels. 
34 A ideia f~udi<tna de que °reca1cado S(Hip II mem6ria do crime j;lZ !>!In5m quo Q '~OlO', 'am Totem e 
tllb", "If:! no nss1'lu!nato mesmo. Mais um1'l plOvn:. na mjnha oplnlao, de que Freud Ir;a!;a 0 
anstlssinato e 0 IAC",!O (liguta d<l Um gozo lmPQtnl",.lj como uma implienyiio UIC(plOCtt. 
3$ PaeXamp!o: AE, 21, p.120ss. 
31 
! 
I
i. 
http:lmPQtnl",.lj
http:punlr.se
1.1, 
ENSAIOSOmUlA MoRAL DE FREUD 
urn slgnifleanteintroduzldd no lugat.do Idear*. O' efeito do Hder 
sobre os lidetados explita'se menos pelo seu dlrtsma pessoaJ do 
que pela sua fun;;ao;. a saber," homogeneizar as'diferen,as 
natcisicas, fonte da hostilidade 'Sieparadora(i::ada Uti> por si...), e 
permitlr a coesao dos membros numa totaHdade. 
o problema desra hip6tese,e. operar.com a.no\;iio de uma 
libido uniea, resp6nsavel pelo la,o do sujeito tanto consigo 
mesmo 'codlo com oS outros, Sendo urn::' e a mesma 0 
investllhento ',libidinal sobre si pr6prio e sobre os outros ~eci 
inversainen~e'propordonall-donde 0 narcisismo aparecer corrio 0 
inimigo:da Ci\lWza;;ao37. '. 
(' 
Tampouco a realiza;;ao das 'aspira,oes libidinals com uin· 
patCelro, contrarjamente ao que era de se esperar, apresenta-se 
" 	 como· multo amiga da coletividade (um epot/co, dois ebam, 11-es 
e del11<lis... ), A 'solu;;ao encontrada para este impasse, na epoca 
(1921), foi postular uma pulsao ituoida quanto a meta 
(Zielgehemnf). 'A relativa insatisfa;;ao da pulsao -' a libido 
reservada - serviria como for,. de uniiio, cimento para oS tijolos 
do edificio social. 
Esta ide]a, do desejo sexual insatisfeito como motor da 
for~ que une os homens entre si (unHlo entre homens mesmo
j 
as lnu)h~res ,aparecem aqui, de certa maneira, cOJno uma fonte 
, 	 I 
de dispersao que poe em risco a uniaomasculina ao solieitar 0 
desejo dos homens de~ando-os do grupo) era apresentada com 
38 Se eme, chame, a tll~o pam 0 law de que a fun9!0' de !tIeal 6 &Xe«:lda por 4fgW'm. lslo Ii. que 
exiale all uma aUerldade Nfl'll. COrI<!rltla" nAo apenas uma mirtigem;BQOf~ I~o noter quit 0 Ideal , 
uma luf'I{!Ao, talo '. ql1«l .e Irata ~ \.11M operst;liO' llimbOli<!8. Uma funt;liO' opere COm aionlllc.anlell 
("repre$entanlell~. dhin FrelJd). nlio com peSSOOIl, e opera no IrltElriO'r de um disClJI'SO que dil a esses 
(' signUicentes seu alcan~e e 1161.1 \/alor. No casc•.e ttgrusividade ntlfeflliea, inetenle ao Eu ideal 
(relat;lio imsgin6:ria, em telmo. de laca-n) • pr6:prie de rivl'llidade edfpica com 0 progenitor do mnmc 
aexo ., , moderada pela iun~o $lmbOliC3 do ldeai do Eu - onde 0 mho enconlra 0 pal nAo como urn 
rivel mes f:Omo 0 represenilll1!e de urns IInhagemda qual ele m'e$mO', 0 IIIho, pode fuer parte gr~es-a 
,"lie pal. (Para a nOQAo IncanLAnn de si"nilicante ver: L'lnslnnce rh Is ~m dnlU /'if'Conscifmr ou lA 
Raisor'! deppig Fmud. Para as rel~6e, enlle eu id~aVtdea! do flU vllr: R&mSrQue:s Sur Ie rapport de 
Daniel lAglWDe. Ambos 11'j: Eerifs. op. cil.)· . 
37 Se a libido Inv.$t8 0 pr6prlo eU eta nAo se enconlra dlsponlvel para leeer I~ eom os 5emelhanlee. 
VetemO&, m#ls lard ..., como a inttod~Ao ds uma pulaAo de domil'jJl~O (depota ptllSlo d. morta) rellele 
um& mudam;a de oplnil!:o de Freud qU3nt1> so fQponslWel p8\a delHIQreoa$Ao do ~ dB sooteijoos: 
r: 	 . JIJ nAG Ii tanlO' a libido quanlO a3gtesslYidade. 
32 
GENEALOGIA FREUDIANA DA MORAL 
c1areza na qu~rta parte de Totem e·labu: 01.,0 duradouro entre 
os filhos fund.va-sena abstlnenci\l ~ qual eram submetidos pela 
tirania paterna. 
Tof<I-m e tabu pode ser Hdo, neste sentjdo, como um. 
cabula freudiana sobre a origem da sociedade Ii partir do desejo, 
Desejo que j;i fora desenl'aizado de seu solo natural, desde 1905. 
pelo estudo das perversCies e da sexualidade infanti!' Bntendido 
como insatlsfa;;ao essencial, 0 desejo seria ,a interpreta;;ao da 
priva;;ao, da demanda de sacriffdo do gozo (T.tebve.sicbt) 
atribuida ao pai no complexo de Edipo", 
Como este pai ja morreu, sua lei origina-se no retorno do 
significante que 0 representa - em tenTIOS' de Freud, De,' 
Vateranf<IiI, 0 elemento paterno, 0 pai retorna primeiro como 
significante no totem; depois, como 0, deus das religioes. Mas e 
na comida totemica, na. lllcorpoia~ deste signiflcante 
paterno, que se funda a soded.de. Crta-se, diz Freud, um 
kinship, um social£ellowship, por causa de possuirem todos uma 
substat1cia comum " por serem todos feitos do mesmo estofo, A 
!dentifica;;ao com 0 pai e .• qui identidade substanClal, adqllilida 
apos a apropria\;iio de setls atributos, mediante 0 ato de 
absor~~o concrera de sua mate"a. 
A hipotese do narcisismo, no ano seguinte, permite ler 
este canibalismo p.imordial,sob uma nova luz: aIllO-f<I ponJue is 
pa/te de mim. Em 1921 Freud faci do .mor 30 plli uma 
idenlifia,,;ao primaria (primtire [denlijizte,ungJ; alicerce do 
sujeilo. E dois anos mais tarde, eln 0 Eu. e 0 [SSO, este amor 
comparecera como 0 p.incipio mesmo do Super-eu, herdeiro do 
complexo de Edipo, la em 1929 Freud resume sua tese de 1913 
desla maneira: 
Ullla vez StlIIs/olto 0 ooio ap6s a (lg"'SS(IO, 
38 NO' come~G elll$le um pai Pl'ivador, E9.le e (,\ pai amado pelo fIIho • FfelJd nota 0 10;0 homosllexuul 
decorrente de priv~lio das mlJlheres palo pal primevo; ele nlio &alienls, enltellirl!o. que oUla 
homollse-xlJilhd.,de sa refere MiSS de mais nalta a femin!;r..,Ql<> do filho exposlo ao dHoj'O ttG pai. 01. 0 
axe.lenle Irabaillo de Philippe Julien L 'amour du pI1re cheE Freud, In lIU<»e!, 11112. Ed, Erils, PaRs. 
39 gemeinsamen Sub$lanl!. "" 
33 
http:soded.de
http:operar.com
http:lugat.do
ENSAlO SOIlRE A MORAL DE PREUD 
o amor manifest.o-se no rumoJ'so pelo Clime,­
median/ea identlflwfliO com 0 par (0 am(fl) 
inslltuirti 0 Super..,u, investlndo-o do potier do 
palO como puni¢o pelo a/o de agressiio coni ra 
ele: (AE, 21, p. 127) 
o amor pelo p~i engendra um S\lper-eu eonslilufdo por 
identlfjca~ao com os tra~os patenlos: grm.r zero da cuhura, da 
I I' .­Inot';l1~ da 1'~ Igmo, I 
1.3.1 Em 0 mai-esttlr na Civiliz£lflio Freud Irende-se • evideno. de que a fun~o que opera o Idelll 
do Eu41 est:! longe de ser suficiente ~.ra garantir a ~z e 
a concordia entre os homensJ quando nao $e. U'ata mais 
de umn instittjj~ao limiL.1da mas da sodedade cQJno om 
todo. 0 amor, como identinca~i.o simb6lica, nao resolve 
o problema ciado pela ins.'lisfa,ao pulsion.I que gera 
um mn)-e5I."u cronieo no seio do la~o sodaL 
A gcnealogia proposla por F"cud ~ra os 
senlimentos morais vem, portanto, J'esponder a seguinte 
queSl.10: para onde vai 0 gozo rcnunciado ell1 notnc 
doIdcal? 
A rna fe silo as faltas que se disf:lr<;am perante um 
interlocutor que pode ser eng:inado" - a lei e conhecida 
e 0 executor da mesma Lambem. A culpa inconsciente e 
relativa a angusli.~ que provoca urn Outl'O absoluto", 
que tudo ve c sabe, impossivel de ser enganado. 
40 Oie Mnchl des Valers 
41 No texto de 29 Freud nlio dllereneia espacialmanto Super.u do Ideal dG EI.I. Podemos tomar, conluQO, 
o Super-eu COmo a ag6nckl que vela p:lHI que 0 Eu aumpmi com ,un 18fefa de Ilproximm<u 
IUllilltoli<:amenlfi de "1.1 Idaal. 
42 A menUre lem, prua a psicMfllise, LIm 91I1otulO que wrno necessArio nbandonar 0 cri!~fjo do Yerdaae 
como ndeqlll'llft\o, Uma lalsid('ldtl ohJeUv", pode sor a vcfthtde soble mel,! dasa)o ")to recOJ'Ihecldo. 0 
paradoxj) 00 Epim6nides, rom eie\1o. e lal npeM5 sa !!:termos aMltO~b de cl$30 do Stije]!o eMfe um 
proceuo de onuneindo e urn proees3o de eflund~o. Desla maneirtl, 50 etl elirmtlf qUB minlo. me1l 
Inlerltx,;l,J!or tern lodo (/ direilo de D«editar qve eslou htntnndo despilll&-lo, donde pode·se super. aD.Ic~. 
mesmo lempo, D enundndo: "en mittlo- e \'! Ilnuno::rn~Ao: "8U 18 engrmo" Nnnhum pnrtldnoto, pori\'!MO, 
ell &perm$. dlZI\'! 8 verdade sObre mev deseJo de engonar (I 0\JlR) qLlnndo alirm8v3 menllr. .l-. 43 PaM 0 e-one-ella lacanilmo de *01.11(0' 0::1. lnlra p.63,
.j 
·1: 34 
GENEALOGIA FREUDIANA DA MORAL 
Neste ultimo caso, nenhuma renuncia sera 
suf,,;iente para deixar 0 sujeito em estado de gra~a, pelo 
simples fato de Ser a propria abstinencia que, 
promovendo 0 desejo indestrutlvel e ineliminavei, faz 
dele urn pecador. Sera, pois, cui~do de jure, por mai. 
inocente que esteja de facio. Economicamente rolando, a 
grancleza clo Super-eu e dire~~mente propol'cionai a 
salisfa~o pUisional rellllnciada. 
... 0 supet--e" pode ser bijJem.omi 
e' tOl'l1ar-se entao l.lio cruel quanta 
somente 0 [sso pode scr. (El Yo y cl clio, 
p.54/55) 
A moral nao ~ssa, no 
dcslocada. Se a frui~o recusada 
conscienda moral, enLao J dcscjo e 
Dlutwullcntc. 
fundo, de pulsno 
ao T,ieb slIstenta a 
culpa in11)licanl-se 
Como em Kant, lambem a origem do dh-eito reside 
numa uSllrpa~ilo pdmordial inquestionavel. A 
cul~bilidade recfproca pelo panicfdio est." na odgem do 
L1~0 entre os innaos. 0 mal-es~1r nas rela~oes sociais 
(fratenias) revela 0 que, do gozo pulsional, e 
ineliminavel. 
o Super-eu, como qucria Dostoievski, e ao 
mesmo tempo 0 crime (n culpa) e 0 castigo. Acumula~o 
identificat6lia d. autOlidade puniliva e do ranCOr do 
punido contra cia - odio voi~1do contra 5i mesmo por 
causa do amor. Freud prectsa, neste ponto, introduzir 
uma no~o ad boc para dar conla do crrclIlo vicioso 
entre assassinato e culpa: POI' que malarlam, se CilHClm? E 
se ode[am, como explicar os rernorsos? Atr.:tves d3 no¢.io 
de amb{valencia (centf":ti em Totem e (abu), de :lmor e 
odio pelo niesmo pai. ffcdnClH'lOJ"CJ#On, dint, com 
elegancia, !.acan. 
).~ 
35 
http:queSl.10
ENSAIO SOBrucA MORAL DE FREUD 
.'~-
1.40 SUl'crccu.para Freud c Lacan" 
uma natull!Za inlrfganfe que ,trabalba 
com a modalidade do ,ven.IO $!{lU n~nhu1n senh'do 
ajJal'ente, segundo longinquas ordens que nao se 
Ie", odil'lJilo de examinar. 
o soc{alisillo e i,ma coisa baniUl. Pena OS 
janlm-es mfinodos e as be/as lardes dt!: sdbado que 
.bawra que saaificar. 
OSCAR WILDE 
1, . 
o .tenno ()be/cIcb .foi lntroduzido por Freud em 0 eu e 0 
£$so (923). Design. uma instancia diferenciada do Eu e que 
parece lomar conta dele. A ideia de .e pensar uma talinstJincia jii 
estava presente em 1917, quando do estudo do luto palol6gico 
ou meiancolia, estado em que 0 sujeilo se ve cliticar e depreciar. 
Vemos como uma pt~1te do BU op5e~se a IoUlm, julga-a de /01111£1 c,itica e, POI' asslm dizel' 
( loma-a como objelo. " ' 
M.s foi pJincipalmente ao considernr os delitios de auto­
observa~o que Freud se viu conduzido a diferenciar, no .eio do 
aparelho pslCjuico, ·uma verdadeira agenda de controle e 
pUlli<;ao, sorle de parasita mental que hablta 0 sujeito. 
A fun<;ao desempenhada pelo Super-eu foi considerada 
desde muito cedo. Nas obr"s de 1900 eia comparece sob as 
44 Ovando MO haUlIer Qulra Indicat;fio, 85 c11~ecll de Fre\lG oeste ponIo 5 serilo loda$ d(t: EL YO Y EL 
ELW(1li23):AE,19 
4S FREUD $, Dunlo yrnei¥rncQlio, 1917, AE, 14. 
36 
GENEALOGIA FREUDIANA DA MORAL 
especies da ccnsurn. Freud jil sustentava na ocasmo que estn 
censura' podia operar de fonna· lncorisciente - 0 que de saida 
diferenciava . sua concep~o dos pontos de vista dassicos acerc~ 
da consciencia moral. Do mesmo modo, notava que .s aufo­
reclimin3~OeSj na neurose obsessiva, nao eram necessal'iamente 
conscientes46: 
... 0 sujeito que soft" de compulsiJes e 
interdlfOes compO/ta-5e como se eslit.¥JSSe 
dominCido POI' Lim senlimenlo de culpa acerca do 
qual, POll'''', ignora ludo, de lonna que podemos 
chamii-lo senUmento de culpa inconscienle. 
apesal" dn apomnte conlradi¢o dos l.emlOs." 
1.4.1. Como 14'10 M nenhum inatismo em Freud, 
tambem 0 Super-eu e ·uma COllstru~O. Sua fOlll1n<;OO e 
cOl1'elativa do declinio do complexo de Edipo: • clian<;" 
ao renunci.r a satisfa~o dos seus desejos ectipianos 
marcados pela intel'dir;ao j lransfonna seu investimento 
nOS pais em klemlfica~ilo com e)es e inteliori?.a a 
, rd'I~ao " .IIlte ­
A instaUl<lfiio do slIpe/Cell pode 
sa,. conslciertlda Lim ellSO de 
ldentifica¢o ~m·sucedida com a 
inswnC£a poHJlltat'. 
A expresSiio insterncia parental indim por si s6 
que nao se l,.. ta de identlfim,ao co", pessoas: 
o super-.etl dCI CliCO'lfa niio so 
forma a inUigem. dos pais, mas shu it 
46 CI. 0 vell.)lJtc correspon~enle no VccnbUidoo da P$icandlise. de LAPLANCHE E PONTAU$, SI1Q 
Paulo, Marlins Fontes, 1991 
47 FREUD·S, Nuevas cQIlfereJ'lcf8!1intrOdumtuia, 81 psi(;Onn/di$ls, H132. AE. 22 
4S LAPLANCHE E PQNTAUS, Ofl. cit. Tambem FREUD: '0 super-eu ! 0 nerdeiro do complexo dl;l ~dipo 
8 &6 se in$laura depcim dll IiquidllQilo desle: ESQuema dtHptJicOllmflls~, 1938, AE, 23. 
49 FREVO S. Nue~1lS Confemncm$, op, cit 
37 
i . 
'5 
,I ,
ENSAIO SOBRE"A MORAL DE FREUD 
imagem do super-eu deles; encbe-se do 
me5mo contet1do, torna-se' 0 
'''pmsentante da I'radifiio, 4e todos os 
ju(zos de valor qUD subsistem ass;'" 
a/raves das gert1r;:M", 
A genese do Super-eu, assim concebida, esbarra 
com' 0 problema da masC)'linidade e feminilidade 
enqu~nto tals, na medida em que, como herdeiro do 
Ildipo::, passa a estar atremdo ao destino do complexo de 
castra.;ao em ambos os sexos, No menino, 0 Super-eu e 
testemunha de sua capitula~ao" perante a amea,a de 
'castra~o. Na menfna l ao contririo, a certeza da 
castraf,'o empurra-a para denlro do complexo de 
Edipo', com 0 consequente fracasso na fonna,ao do 
seu SupeJ'-eu (que niio poti£ alingir 0 poder nem a i 
independ/Jncia que, do pan/a de vista cultuml, /he seliam 
• ;2.,.
necessatios... ). 	 ' I 
1.4.2. Ao rnesmo tempo sede do ideal do ell e agente 
de vigHancia para controlar que 0 Eu esteja, de fato, a 
altura dll seu ideal, 0 Super-eu e· tido como identico a 
chamada consciencia moral". Qualifica,se para esta 
I 
ftm~o pela sua aplid:io em provocar a renuncia do 
sujeito as suas salisfa,;;e, pulsionais, Donde a pamdoxal 
50 Ibid. 
51 	Com a esperan~ de: teeet>er Uln lilho do pal· oomo eompenS81j:1Io pela /aUa d8 penl$. pare Freud; 
comer prove de $~U 6m0l pot' ala, para U:!cen. ObViamenla. tanlo .e. erla~ mal como 0 orgAo 
rac!alM:oos. 9Ao repre!lent~s Imaoinlltias do fmo. Ell! ma!lmo un'I 91MbOlo de falta, noma proprio do 
desap enquanto lal. 
52 	Ibid. A poi6mlCll. com alguns dOlI !leU' di:Kl(puloQ, ospecilllmente;S. Ferenczi e M. Klein, reliiliva 00 
mOment1'.l de OI'it:Iem desla insh'l.nda n30 h apeno$ acadern~ polquanto eoloes em paula 1'.1 aslalulo a 
o alollDea d1'.l ~xo de. catllI'a~o, 0 e'!lurtlo e I~ vaslo e COf'I'Iple){O que, $e lilesse mal$ do qoe 
mem;ionA-lo aqui, tornar.g&,la Urn livro denIm do INro. Remelt), enlrelan!o. a urn nrtioo ar06nirno 
publleado am Sdlloel" vol 1, Seul!, Paris, 1969. del1(lmlnado: A 'f/IN) /AJicn e " ll/cMCS s/Jbjerivo de 
cmnplsJ(o de caslro9Ao. 
63 "Nao seria de ge -BslranhAt qua enconlrassemos uma in$14ncls pslquica espeeial encarregada de velar 
peln sel[S!ey;\1) narolsl9la do au ideal a que vioiasse conUnuamen!e 0 au alual compamndo-o com 0 
Ideal. Se tal Inslll./'lcia pislir nno nOJl.' 90tpfeandarl nalia de$l;ob(f·!a, pOls teoonlyj~refnO$ no 010 
aquilo a qua dnmo& 0 nome de eon$eiancitl moml. 0 reconhacim~mlo deeta IMI!ncia tscllilu'nM n 
eompreen$;!to da cnamad~ manta ttSl'*CUlativa au de observsQAo .,.' Fraud, 1914. 
GENEALOGIA FREUDIANA DA MORAL 
tesede qUD 0 bomem normal niio s6 emuito mais imoral 
do qUD acwdita, sen&o muito mais moral do qUD saW', 
Por outro lado, e Bem solu,ao de contlnuidade, 
Freud no-Io apresenta como urn tirano, tilo amoral e 
cruel quanta 0 isso, 
Do ponto de vista da limitap!io das 
puls6es, tsto e, da momlidade, pode-se 
dizer do 1ssb qUD ele itotalmente amoml; 
do Eu, que se esforr;:a por SeT manzi, e do 
Super-eu quepode SeT hipernwral e 
tonUlr-se entlio tiio cruel quanto somente 
o Issopade SeT, (p" 54) 
Digamos que 0 Super-eu consiste no gozo 
renunciado: 
P01'8m, a elun-gia do' hlVesti­
metlJo niio efornecida a esses conletldos 
do 'Super-eu (acessiveis ... , consciencia 
mediante as pal.vras) pela percep¢o 
audltiva, a educar;:iio, a Ieilu1'Cl, mas 
pelas fonres do 1550, (p, 53) 
Mais um p.sso e a quintessencia da proibi,iio 
tOl11a-se 0 representante rn€Smo do ptoibido: 
Enquanto 0 Eu eessenciatmente 0 
,ep'rJS8ntante do mundo externo, da 
roalidade, 0 Supel'-f!u enfnmta-se a de 
como advogado do mundo interno, do 
Isso, (p, 37) 
Ninguem obri~a ninSl:lem a gowr, brinca lacan, a 
nilo ser 0 Super-eu 5, Nao" setia exagel'O dizer a seu 
54 A tJ9du~ eda minhs te1lpcinsabilidado. 
55'~ nlssO'mesmO que e1ltA e an§nela dodireilo· lepartir, disuibuil, relfiiruil, 0 que dll reapellO' tlO gOZQ. 
o que A 0 ooze? Aquf ele se reduz a set apeno ums Instanda negativa. 0 OOZO e aqul10 que nao 
serve pam nnda, AI eu aponlo a reserva que irnpliea (I oo.mpo do dlrell(i,-ll(I·gozo. 0 dffalll) nie i 0' 
davar: Noda !¢rye ninouAm a gozar. 3tll\!lo I) SUpel-aU. 0 super-eu A " lmperellvO' do gozo • Goznl' 
LACAN J. Le semiMi(e, livre 20, encore, Seuil, Pall" 1975, p. 10: ed. bta$'; 0 Semm8rio, livro 20, 
39 
r:. 
38 
ENSAIO SOBRE A MORAL DE FREUD 
respeito que tudo que nao esta proibido e obrlgat61io, 0 
que nos deixa de frentepara 0 desel'to da liberdade 
humana. 	 . 
1.4.3. ,Algumas conside...~Oes sobre 0 estatuto do Eu" 
Como SlJT de fionteira, 0 Eu que!' 
Jazer a media¢o ent,,, 0 mundo e olsso, 
tomar 0 IsSo d6cil ao ,hundo e ade<juar 0 
mundo, por meio de suas prOprias af''ies 
muscu/mrtS, ad desejo do Isso, 
Coml)OI'la~se IIa vel-dade CO'lnO 0 
medico dUI·aule' U'I" t,'ala"me"lo 
, ""alUico: com a sua consider(l(;iio pelo 
,mundo real mcomenda-5O ao Isso como 
objeto libidinal e lmla de alm/fpara s/ a' 
libido ,do Isso. Nilo e apends ,w, 
assistenie desle ullimo, mas tambim seu 
va/ele obsequioso, que mendiga 0 a1llor 
de '5ou mesttJiJ. Na medida do passivel, 
tenia manier-50 em boas mlafOes com 0 
Isso, disJalfCInd6 as o,i/ens ics que dele 
prove", com silas racionaliz£IfOes j)CS; 
Jinge que 0 Isso esta moslrando 
abedieneia as admon/fOes da realidade, 
111esmo quando, de' Jato, aquele 
pel711anece obstinado e inflexlvel; 
disfcur;:a OS conflitos do Isso com a 
feclt;dade, e ,5e poss[vel, tamoom os seus 
coriflilOS com 0 Super-eu, Em sua posi¢o 
inte171wdiiiJia entre 0 Isso ea malidade, 
com tnuita Fequl!ncia nmde-se a 
tenlafiio de tomat:-5O com piacente, 
Qpottunisttl e mentiroso~ tal como um 
Ikls, shufg, J,ZE" RJ, 198:? p.11. Eu 5ublitlho. 
66 	NAo me ptlifflc{! qUe, pelo 1alo d¥ estar eoosaornda pelo we, :lela r>eCOl!tsArio eompaeiuar com j) 
lred~ilo obominAve! de da(J 1ch pare" 0 OSlO, que Os bnuileiros eOoIE'lfOlm segulndo Sirach&y. Porianlo. 
eserevoral 'eU' quando sa 'jrale do ptonome e -Eu.R quando for a ifl$l~ncia subslanlivede hwentade 
Por Freud. 
'" 
GENEALOGIA FREUDIANA DA MORAL 
estadista que, percebe a /Jerdade, mas 
p'~tende ganhar os Jav01rtS da opiniiio 
p,lblica. (pp. 5617) 
Esta compal'a,oo entre 0 psicanalista e 0 Eu 
, "D' fparece*nos assaz ClIll0sa. urante' a curn trans ere...se ao 
analista 0 valor llbidinal 'depositado" no [sso - id~ntica 
opera,iio e efetuada regulannente, noS djz Freud, sobre 
o Eu como lnstanda. Gomo entende-hl.? Uma' opera,ao 
que no tratamento seria um meio - 0 .mor pelo anaUsta ­
torna-se, do ponto de vista do Eu, um fim em sl mesmo. 
Ao se propor para .ser amado, 0 Eu consolida-se no 
narcisismo, e a libido acumulada' nao e reconduzida para 
um parceiro exterior. 0 Eu satisfaz-se consigo Illesmo 
como se ele fosse urn objeto libidinal. Os compromissos, 
a trai~ao a si proprio e a mentira· sao outras tantas 
consldera<;~,es eticas que a collt1'a,-io esciarecem a etlea 
>10 analista . 
Enlrementes;, a repeti¢o que semanifesta nos 
sintomas, 'somada ao apego do paciente pelo seu 
sofdmento, levaram Freud a conjectural' uma improvavel 
puJsiio de morte: 
Entl~ as dtLas especies de pu/sOes a 
posifiio do Eu niio e neutm. Med/a nfe 
$0" tmba/ho de identiftcafiio e 
s"blimafiio, ele M assistellcia as 
pulsiJes de. 1IIo,'/e 110 Isso, para elas 
obteretn COllt,-ale sobre a libido, mas, 
assim procedendo, CO/7¥! 0 lisco de 
tonUf1Cse objeto clas puls&>s de mOite e 
57 A.o alirmat que 0 Eu BIola para 0 Isso como 0 ooalltl" pnra 0 paeien!e, Freud tal. mals do que uma 
lIus1ra930 anar6Ql~ ele tlliHza a tela¢o &I"IOlltle.o ~() modelo da slillidade. Plfqulea. Mao que 9'" 
deduza asia dnQuela, Freud parte do princfpio de que a rclaQAo medieo-pacien!e 9s16. oroanizadn polo 
conllito neutilltieo des1e ultimo II elia um disposiltvo adllquado para modiricar 0 dilo conflita InaJdjndo 
naquela or(lonilayao. Na minha opinieo, Frcud ~ctIbia 0 dispositivo anaUlieo e ., sl!6l*nopaf7# como 
'lando homeomorios datllto do CAmpo psican&lflieo. POt tMtlllI pa!alfffiS. nllo BcreOllo ql)e vme tlO9'Ao 
como 'aparelho-da"elme' $9 jusllliql,le fora do campo cOllCtllluale de elo:peti6m;:ia dill pticanAoU&8, 
58 COTTET S, Fre~ e oCesejo ~ an3lisliJ, 1$.189. lahar, AID de Janeiro, p. 133. 
41 40 
" ENSAIO'SOJ3RE AMORAL DE FREUD 
dele prop,to perea?r. A flm de poder 
ajudar desla manei":l, ele leve que 
ac£lmular libido denlro de 51; loma-se 
assim 'f'fJpt-esentante de Eros ~ dOt''CIVClnte, 
quer viver e ser amado. (p. 57, meu 
gtifo) 
! Havena que acrescenta.r: ... mas agora e tarde 
demai~. 0 fei!I,,, voltou-se contra 0 feiticeiro: 0 Eu nao 
manej;'~' ma;s nada, ele me5mo esm entregue a pulsao de 
mOlte,'-' convidada de' pedro pa!'a este banquete. 
Entre!anto, como Seu trabalho de sublima¢o resulta 
'numa .desunJ~o ("desfusao") d.s pulsoes e numa 
libera.,ao das puls6es de agl'essao dentro do Super-eu, 
sua luta contI" a libido expoe-no '0 peligo de maus 
t!'atos e de morte. (ibid) 
De advog.do do 1550, 0 Super-eu passou a 
representante d. pldsao de morte59• Um. agressividade . 
que nao sem de origem libidinal comandll esta auto­
politica do pior, cuia. clinica paradlgm:itica Freud 
encontra na mel.ncolia.. 
o componenie deslruUvo 
deposltam-se no SlIpe,.-eu e volt<lra-se 
conlra 0 Eu. A80m gomma no Super-eu 
como q lie £lm puro cullivo da pulsCio de 
mOlte, que amiude consegue"empU1"/"CIt.· 6 
Ell pm" sua mott-e. (ibid) . 
Uma vez que toma 0 partido do recalque contra a' 
libido, 0 Eu crla as condi,6es de sua pr6ptia de1Tota, 
deixando 0 campo livre it pulsao de morte. A 
idenlifica.,ao com 0 pai nilo trouxe a paz, apenas radlOu 
a fun,ao paterna entre um juiz (0 ideal do eu) e um 
can-aSCO (0 Supet'-eu), lugar de retonlO d. pulsao de 
59 	~O Super-en.! encendrou-ge, sem d(wida, por uma rdentilic:o~ao com {) arquelipo paterno. QU<llquer 
Idenlilica~60 dI'lJJ!$ tipo C<illl\cleriza·se por umD dessexuolizayao Oil, ainda, por uma $ubnm~t\o. Ora, 
pareCi! que por causa do tlomelhanllJ tranllposl,.fio produzosfI lombbm uma deshJlIlIo dos {>uls665..: EI . 
yo y eJ ello. oj). cit, p. 55 ' 
42 
GENEALOGIA FREUDIANA DA MORAL 
morte sobre 0 sujeito. 0 narcisisrno nao protege do mal. 
Quanto 'rnais inflado de amol' est:l 0 Eu, t.1nto rn.is 
inenne se encon~r'd perante a puIsao de morte, doravante 
cindida qe ·Eros. 
Aopadecer ou ainda ao suc£lmblr 
sob os alaques do Super-eu, a E" sofre 
Ullla satre semelbante ii dos pmiozochios 
qw< silo des/,."idos peIos produtos da 
decomposf<;iio qw< eles mesmos e,ial'am. 
Do panta de visla econolllico, a 
mo,,,,lidade que funclona nO Supm'-eu 
pal'lJCIJ ser £lm pmdulo de decompasifiio 
semelba nte. (ibid.) 
1.4.4. 0 Super-cu COIDQ voz 
C'e una voce nella mia vita 
che avveitCi nel punto que mUOl'e 
voce stanca, voce smanita, 
col tremito del batticuOl'e 
voce d'un'accorsa anelante 
che ai poveri labbri si tocca 
pel'dir mnte cose e po! mnte 
rna piena di terra ha la boca 
Glovannil'ascoli 
. 0 SUplJ1'-eu nilo pode negar que, tanlo 
como 0 Bu, en~ontra sua origem em coisas 
ouvidas (...) Po",;"" a enetgia do invesUmenl() 
nilo iff fornecida a esses conteLidos do Slfper-eu 
pela pefcepfiio auditiva, a educa<;iio, a 
ieitut'tl, maspelas fontes do Isso. 
P1'Imd (p.53) 
http:advog.do
" 
ENSAlO SOBRE A MilRAI, DE FREUD 
As incursOes de \;lean no SupelCeu freudiano 
estiveram j em gerai, voltadas ao desenvolvim-ento de 
dois pontos que, Ihe pareciam essenciais e ,que teliam 
sido deixados um pouco n. sombl;l pOl' um Freud talvez, 
demaslado preocupado com • questllo patema. Estes 
dols pontos dizem respeito a li\lguagem enquanto 
habitas:1a pOl' eorpos vivos e '0 estatuto problem"tico do 
gozo destes ultimos. 
~.ra .bordar esta segunda quest.o \;lean chalna a 
aten~'o· para 0 fato de que ja desde 0 p6stumo Entwurf 
(895), ,0 futuro Super-eu apal'ece ligadoa foni., .0 som 
pl'Oduzi!'lo pel. voz humana, A necessidade da vida (Not 
des Lebens) produz um incremento na tensao ate • 
Clian~a fieaneduzida a iman~ncia 'da infonna~iio visceral 
(fome, sede). 0 unico sinal que adqulre um teor 
'qualitatlvo, provoeado por este estaclo, sem 0 grito. 
o glito, a voz 11 soil" dara .0 apelto vital uma 
esptkie de lIobjetividade", menos por si Ine~Hno que pelo 
fato de !nduzir·o semelhante a .gir em provelto do 
injatlS .bandonado. N.d. mals seu do que esse som 
que Ihe escapa clo fundo, da garganta e, no entanto, 
nada mais .Ihelo. Tornado apelo pela resposta recebida, 
o glito introduz a dimensiio da alteridade. Freud nunca 
perclera esta intui~ao inidat, a saber, que 0 unico 
elemento comum as experiencias oliginais da dol' e d. 
satisfa,.o no recem-nascido e 0 gIito enquanto foni•. 
Sinal do desampal'o radical cia crian~a, 0 grilo 
instaura no mesmo tempo Q onipotencia do Ontro 
absoluto de quem ela deperide"'. FI'Cud eneontra!'a uma 
e outra vez esra aJ'bitl"ariedade PUt'S, ale terminal' fazendo 
60 '0 dese]o e8 esboytl na mmgem em que a demanda se de5laca d4 ne!;(iuh:fade ( ...) margem que, por 
r 	 !lnaM que saja. deixa GpnNlcer sua yel'ligem, par poueo que ela nAo saJe IQcoberta palo piaoleio de 
alefame do cBpricho do 001/'1), Eesse capricho que Intt¢dul 0 fantl'lsma da Onlpott\neia niio do su~ito, 
mes do OUlro onde ,e Instahl 5\1$ demanda all Ii hom denlJ eneh6 !mbecil sar, de limo v.;qX.lr lodes, 
e porlodot, posto no seu devido lu~r}. II: com esse fanl<lsm a nacessldootf do sell r(lbellmenlo poll! 
leV (LACAN. EedIs, Seu!l, Paris, 1966, p, 814.) Fantasma",fllnt6mq ~N. d09 E.) 
i,I",' ,<" 
GENEALOGlA FREUDlANA DA MORAL 
dela a raiz de todas as motiva,6es morals". A nossa voz 
iuterior mereceser qualificada de unheimlich e ainda 
que possa ser reconduzida. emphicamente. a uma 
origem no exterior (minh. volo telia sido a voz cle meu 
pai, ,por exemplo) tambem se pO~i dizer que a voz 
abolea distin,ao entre dentro e fom . 
His' master's voice rna se confunde com suas 
inen&1gens, eomo bem nos lembra a figura incomparavel 
cia cachorrinho nas antigas etiquetas dos discos cia RCA. 
Nao e raro ela se interpor entre 0 ouvinte e a mensa gem 
em detrimento desta ultim.. 0 bel canto, desde as 
'sereias passando pelas baleias ate a 6pera, pouco tem a 
ver com a fala. 
Quando um adulto Ilengrossall com uma crian~, 
'seu urro 'pode lomar-se um tillumapara ela. A aian~ 
,setite a' injuri,iio; 0 peso da intllnlda,ao parental, sem, 
: contudo, compreender a que se refere a interdi,ao 
'veiculacla pot est. voz grossa. '0 sentido perde-se por 
, t.iis do'ruido e a tnrefa dos sintomas sem restabeledl-lo: 
fazer desla' ordem insensata, uma verdadeh;l lei que 
possa ser obedecida. 
1.4.4.1 No cinema, quando 0 espectador nao 
conhece 0 agente de uma voz que est.1 em off na 
cena, diz-se dessa voz desencamada que ela e 
,a.cusnu:itlca". Aquela que vai tomando conta d'e 
Nonnan Bates em Psicose de Hitchcock, por 
exemplo. Embora nem sempl'e atenoriwnt€, ulna 
81 A bem de vertlade. pouw kantianamen!e,'e a proptie hifflo$igkeil ql.1"E! Froud QQloea nit base da fuluro 
moralidade. Quem 060 se submeter 'ao eaPfletto do Qulro- de quem deponde COlte It risco de relomar 
no desamparo irU¢iai, . 
62 Depemiamfo do' ponlo de vlsla, I.) grito tantO abole quanta inslaul3 e op05i'tlo extollO(nrnerior. cuJa 
ra!sa lJVidAncle a ps!can6Iis(! qU$sll<ma como um IOlllro mm::lslsla (0 eorpo-eslera) prohmdamenle 
enralzado no penssmenkl deeda 0$ Of(!Ip. 
63 CHI,ON M",hel, La Volx ZlJu CfnilMtf, Ed. de l'Etoile, POlIn" 1982, 
45 
.~~--"---.-~ 
44 
http:v.;qX.lr
". 
ENSAIO SOBRE' A MORAL DE FREUD 
voz acusmatica Ii invaoavelinente lnoomoda par.l. 
quem assiste.' 
Os P'!ic6ticos alucinam com freqO€ncia vozes vindas 
do al<!m, que par.l.Sitam e atordQam os doenres com 
'insultos, char.l.das e enigmas. Oraculo soez e 
~bsceno. Detoto'; de conversas antigas que 
~etomam na alucina~iio.Fragmentos de mensagens 
~ue ja nada querem dizer, mas que 0 destinamoo se 
cbnsidera. incumbido de interpretar, dando a elas. as 
fonnas conhecidas'do delirio. . 
1.4.4.2, ·Para OS judeus Ii familiar 0 mugido, poe 
tr~s vezes repetido, do Shofar que encem a 
celebra~iio de Rosh Hashanah. O· chifrede bode 
- 'conheddocomo Widde-J'hom em alemiio ~ 
bullroarer em ingl@s. A Blblla refere-se 
explicitamente il.. "voz do Shofar': 0 som 
comovente (estarrecedor?) que ap6s a cerimonia 
, . 	 de recolhimento lembraaos fleis a vig~nda e a 
for91 da alian91 com lawh. Para todos os 
efeitos, eles ouvem • voz d~' Deus. Voz isolada, 
'0 mesmo tempo vazia e plena de sentido _ 
tanto, que basta para renovar 0, pacta -, ela 
possui 0 sentido absoluto da alian91: voz caida 
diretamente do real"', 
1.4.5. 0 supc..-cu rom~ olh.al', ofasdlm... 
Quando se diz de ·alguem que se encont"" 
fascinado por algum outro, 0 que se evoca .e 0 
passarinho rigido sob 0 olhae da serpente que se 
64 Pam 0 eon«li!Q t;k Msi YeT supra n, 14 It inba p. 71 
(. 46 
, 
GmmMOG~FREUD~ADAMORAL 
aproxima para devora-lo. A Mequsa, segundo 0 mlto 
geego, era uma mulher que Mo podia sec encarada sem 
que 0 temerano que a fltasse Fosse petrUlcado. 0 . mau­
olhadb 'consiste na influllnda nefasta exerdda sabre 
otitrem mediante a for91 do olhae. A palavra mvej.. tem 
ali a sua ,ralz: inv/detri!, olhar torto para alguem. 
. Niio e necessario chegar ao extremo do delfrio 
paran6ico de ser vigiado para apreeiae a rela9-\o estrelta 
que ha entre a ideal e a vlsiio. A representa,ao chlsslca 
da eonsciencia moral e· um olhae vigilante que segue 
cada um dos nossos passos. Deus tudo. vll e tudo sabe .. 
E pCir falar ern passes, IiIcan eomenta uma 
passagern de 0 ser " o. na,da!Om que Sartre nota como, 
em determinadas dr<:unslilhcias, (} olhae do outro sabre 
n6s pode tomar-se vis!';eL Os elcemplos de Sartre nile 
sao, ci.lrlosamente, do Campo da "lilao mas do ouvldo: 0 
barulho repentirlo de. f61has .que a ca91dor o",ve 
enquahto espreita sUa presa ou um ruldo de passos no 
cOrtedot no momento em que 0 ~r se dispunha a 
olhar pelo buraco da fechaduta. 
Urn olhar 0 su'preende na funflio 
de voyeur; 0 desorienta, 0 tiesmonla, eo· 
. . -'- nb 65
trJduzao senl"nento .-Wlgo a. 
A rela,ao entre set visto, ser surpreendido, e a 
dimensiio do saber e tilo estrelta que raramente 
reparamos nela. Te conozco mascarita, ainda se diz em 
Buenos Aires - recorda~Oes da epoca em que havla 
mascarados no camavaL Te conozco mascalita. Quem 
asslm faJa enxerga atraves do disfaree do outro que se 
toma transparente sob seu olhae. Ate uma determinada 
ldade, as crlan\?lS imaglnam que os adultos conheeem 
seus pensamentos mais Intimos sem que elas tenham de 
comunicl-los. Noo se denomina clarivldcnda (ver com 
6S LACAH J. Ut Semfno/re, UYle H, Sau!!, Poinls, Pans, 1913, Po 98; ed. bra •.: 0 Semin4Fio. llvtc 11, 
JU.-] RJ, 1979, p.84,· . 
47 
" 
·EN5AIO SOBRIi A MORAL DE FREUD 
c1areza), por acaso, 3. aptidao· paraconhecer com· 
antecedencia 0 porvlr?!l 
Com. efeilo 0 que. e a conscitincia 
moral (j:;ewi$.sm.)? Confomw a propria 
lingl"'gem testermmha, faz partq 
daquilo .que se sabe com a mdxima 
cerUilZa «ml gewlssestm. welssm.); em 
muitas Ilnguas, 0 terrlln que a designa . 
apenns s;rdifernncia do da "censciencia" 
-. (1Jewussleflt), Cim.sdencia moral 6 a 
percep¢o interior de que' descar.tamos 
determinadas mOfOes de desejo existentes 
em nas; ora, deve-se salientar 0 fato de 
que esse descarte nao precisa invocar 
coisa alguma ahim dele p,.,5p,;o,pois f?Std 
. certo·rgewlss).de sf mesmo~ ISta se toma· 
ainda mais nitido no caso da 
consciencia de culpa, a percejJ¢o do 
juizo adverso (V.n'UJ"tei/u1lg) interior 
. sobre aqueles alos mediante os quais 
realizamos· deierminadas mOfiJes de 
desejo. Aqu( porece inutil procurar urn 
fundamento; quem liver consciencia 
moral nao pode menos que registrar 
dentro, de sf a justiflcafao desse juizo 
adverso e a reprovafao da <l'fao 
Vi
consumada • 
Ap6s ler esras Iinhas adrnil'aveis de Freud, e difkil 
nao evocar aquela hist6ria arabe que' recomenda ao 
rnarido esbofetear a mulher. assim que ele megar em 
casa a <:ada dia, ja. que 5e ele nao sabe 0 por qu~, ela 
sabe, 0 Super-eu segue iI risca, corn rela~ao ao Eu, este 
preceJto arabe, e a SUlP'endente denornina~ao de 
.conscicllcia inconsclente de culpabilidade revela-se 
.de estrita pertin@t;lcla cllnloa. 
96 FREUD S. T6tItm.y Tsbcl. 1913.AE, 12, p. 73 
GENEALOGIA FREUDIANA DA MORAL 
Urna rnulher chega a .5Ua sessao lornada pela rnals 
inlensa ang1istia .. Esta convicta de, sem querer, deixar os 
outros peliCeberem seu sintoma e leme que isse aoabe 
prejudicando-a nos seus estudos. Tal· professor, pOr 
exemplo, nao poria ela para fora do curso se conhecesse 
sua "parologia' (0 'conleudo' do sinloma em questao 
nao tern a menor lmporu1ncla, pode ser qualquer coisa 
que ela considere patol6gica segundo 0 padrao do 
outro)? Sera ela tranSparente aos seus olhos? 
Urna afirrna~o paterna, ouvid" muitos anOS antes, 
esta associada, para ela, a este episOdio: ninguem pode 
alegar Ignorancia da lei para justifioar sua viola~o 
eventual. Outra associa~ao Ii! a lembran~ da vergonha 
ex:perimentada na escola primaria ap6s ter perguntado 11 
professora, que acab"", de apagar,a lousa, por que razllo 
perma:necia no lnelo do quadro negro urn risco branco 
. resifltente ao apagador - i1Usao criilda por urna fenda na 
madeira cheia dep6 de giz. . 
A ang1istia e a certeza de sua culpa: a maroa 
indeJevel, impossfvel. de ser apagada e que, no mals, 
esti na cam. Nada teria sido mais errado que tentar 
advogar por sua inocencia. Nao 0 fiz. J;I na saida, ap6s 
nao receber resposta por algo que me pergunta, 
confessa que, as vezes, niio consegue evitar perguntar 
coisas cujas respostas elaji conhece. Eia finge ser 
ignorante para que nao apare~ que e 0 Outro que nao 
sabe. Qual e a sua culpa?Ter destituldo 0 pal de sua 
pretensao de sabio universal, ao dewr de sustentar 
mediante sua pr6pria credulidade 0 saber paterno. 
1.4,6, 0 Super-eu sena 0 vestfgio paiquico, slntornatico, 
da solu~o encontrada para 0 conflito edipico entre a ,.,: 
;:realiza~ do incesto e sua impossibilidade. Na' Jeitura 
(0 
que os anaJifltas fazem deste conflito reside 0 porno da 
49 
http:certo�rgewlss).de
http:j:;ewi$.sm
" ENSAlO saBRE A MORAL DE FREUD 
'­discOrdia. 0 modo como ". desClito, 'ate pelo pr6prio 
Freud; leva a pensar que se tratil de opor ao deSejo 
incestuoso uma lei que'o intel'dita, quando' na verdade e 
a'introdu","o da proibi","o que fa2'.· surgir, a posteriori, 0 
tal desejo iilcestuos'o67. Porque proibe 0 que e de poc si 
imposslvel, a lei paterna transfOlma esta impossibilidade. 
em impotilnda. 
. A lei e solid~ria com 0 desejo, 0 Super-eu n~o"". 
•Ele 	 ~s!.O. em disjun","o com a lei, poi isso ordena 0 
impoSlllvel69. Embora 0 verbo "poder" n~o se conjugue 
.no imperativo'·, enquanto a lei dill'.: nao devest 0 Super­
eu profere: podell Freud 6 f("mula deste modo: Assim 
como opal tu deves (niiodeves) ser. 
o sujeito sal do EdlpO divldldo contra sl meSmo. 
Freud nile dissimula sua perplexid.ade aoconsiatar nos 
sintomas a a~ao de urn verdadeiro chamado do abismo, 
aiusa n~o 'apenas de afli",o e dor como das a,oes mais 
absllrdas contratodo e 'qualquer born sensa e ate contra 
seus melhores interesses. Eu e Super-eu sedam os dois 
termos desta clsao do sujeito na sua rela",o com a leI. 
. Freud denomina' "incesto" (Lacan, jouissance) a 
inj~n,iio irresistlvel do 1550 que incita 0 Eu a violaI' t~das 
as fronteiras para' ir . dissolver-se num ilxtase que 
670 $uper-au mpresnnt$ 0 fmcaslJO de melfdora qU,e, sob 0 nome d, ldetd do tlU (0 pai ed:lpiano), unit 0 
deseJo AleI. Para con'ceber$tlmelhenle ,millo, imllgina-se um muro brenco, imnculado, 8m cuJo centro 
.elgul§m &l!C!'el1ere, pmlbldo pJxlJr. Para quam por ere passor a indilerfln98 eslA el'lclufda • quer obedeoa 
fI nfio manche, que, I'Ilo, elilarA lIampro suleito it ordem do io1. A lnie/dlo~o pot 81 86 baslaria para 
dellJ"li10r mtle um deBelo dlli gm/Ift-lIm, podemos dlzer, mel'lrrlO Ie nunca enles Ilveta e menor 
in~in~ B mBfl~h8r pmedes. 
S8 '0 super-eu 6, no Tl)fiSrrtO tempo, e lei e sue de$trui~o ..~ 6: ums lei In'50n581a, quo ~h&ga ao ponto d~ 
fief 0 desconi1eclm(lnto de lei" {LACAN, 0 Semlrnftlo, Ilvro 1, Rio, Zahe.r, 1985, p. 199) 
69 FilUt spM quvir q sin(ll SOfIOtc, diz a orav~ da uH.:relArla eletr6nlce, 0 alnal. (pode ~onle~el) e 
traco, nAo a8 fl5CU\8. SfI nAo fala" eslar. em la1\a. 5e 0 flur, penssr.'t Ier'lIe .adlar;lado ou atrilliado (I 
nem mesmo ¥abe de qoenlO t1'lffil)Q dillpOt, J8 que entram.nt.ee terti delMado ItMl!I(!or/er vnllosos 
segundos na vlilt8pera de ume (lUlorl13900 que de lodes modos nlo ~heoar(l;;. A oldem d8 seCIGllllia 
elelr«liell nAG ealll no reglltl", do mal<omandido ma. do enlimdldo mau sempre (0 que 8bo!e qualquer 
sermatezj 0 mni-effiemfldo mstabeleCfl 0 relnado da pal1lVfa. ondc a ,singulartdade do deseJo pod.e 
f$z(N·(I(I r.(l)f)h~;. ESTAC<>lCH1C AI~, Irebelho lnAditG. 1983 
70 'Poda(' $igniiioo 1fti' ~slbilidlld(l, dillpa( de nutolldade ou tlUlOllz.tllf!o.e possulr capaeid8d$, 1910 e, 
fOfQil para v.r-6$. 
.. , 
GENEALOGJA FREUDlANA DA MORAL 
ultrapassa qualquer prazer na medlda em que comporta 
sua perdi~ao. Trata-se do Super-eu como porta-voll'. do 
lsso, que nao apenas pennite pedir 0 impossivel (CP. 
Paris, 1968: Stifam realistas, perra", 0 impossivelO como 
exige ir para Iii a qualquer custo. E a neur6tico aquiesce, 
ainda que isso comporte amiUde a perqa do que Ihe e 
mais caro. Sorte de capitilo Ahab, al't'asrando a ttipuJa","o 
para sua perdi~ao na empl'eitada alr.ls de Moby Dick, a 
balei. branca que se tomara sua rauo de viver . 
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2 A EnCA DA PSlCANAuSE: RESPONDER 
PELO SINTOMA1 
Va; 0 Kaiser ao banheil'O? Eis' uma questao que 
tile ocupa 0 tempo todo.''Entao .eu. cqntJ pam 
miriha miii:. Tuvas acabat' nill).;deia, dlz minha 
mae. Quei' dim que (;> KaW' nao val ad 
bariheil'O. 
EIINEST TOLLER 
(fuventude na Alemanha, 1933) 
2.1 Nlio faria lsso nem sonhando . 
Parece que um precavido imperador optou por !\1llndar 
cortar a cabe~ de U(ll siidito que sonhara que cortava a sua, 
Freud menciona esta hist6rla em A inlerfJr'!!ta¢o dOs sonhos 
(1900), sugenndo que, ao reconhecer eficicia ao Wunsch que 5e 
articula no 5O~ho, o· soberano demonstraria estar melhor 
posidonado que muitos medicos que se Iimitam a ignonl-lo. 
Freud 'nunca retoroa a esta anedota, nem sequer num 
texto seu de 1925 - concebido como urn apendice ao Iivro de 
1 	 Rafeltncla de !altura: ALGUNA.S NOTAS ADlC10NALES A LA iNTERPRETACION DE LOS SUEOOS 
EN sf.! CPNJUNrO (1925): Ai;, 19. p, 123 b. te ....~Udud mOta!· par .. cool:enldo de 10.
4Ueno. 	 ' 
53 
'.< 
ENSAIO SOBRE A MORAL DE FREUD 
1900 - que parece 	redigido. de prop6sito pam comenta-la: A 
responsamlidade moral pelo contrudo dos sonbos. 
A estmtegia deste artigo e instigante. Acolhe primeiro 0 
ponto de vista do leitor, pam melhor subvette-lo depois. Come,a 
por concordar que 0 conteudo s6rdido dos sonhos nao seria um 
motivo para s~ colocar ressalvas na retidao dos prindpibs marais 
I 
do sonh~dor. ~ao porque sD,nhar seja uma atividade insensata 
senao porque ,~? verdadeifo assunto do sonho nao e 0 que 
aparece: 0 conteudo latente revelado pela analise em nada se 
assemelha ao manifesto. 
o soberano 1130 seria, pais; um freudiano avant la lettre, 
na medida e!l1 que: identifica 0 relata.- do sonno com· ;as reais 
inten~6es do seu sudito. Mesmo se. for de ·lesa-majestade 0 
sonho interpretado, ainda cabetia - aflIma Freu.cl, 0 recurso a 
Platilo que dizia que 0 homem honmdo_se contenta com sonhar 
o que as malfeitores realizam (embora 1130 seja muita 
con'vincente como argumento para livrar 0 infeliz sonhador do 
ean-asco). 
A seguir; 0 texto inverte 0 problema apresentado, 
demonstrando que os termos em que ern coloeado deixavam de 
lado 0 essencial, porqu-anto; 
... a ma':01ia,dos sonbos - os inocentes, os isentos de 
afeto e 6s sonbos de angtistia - l"evelam-se, apos 
fennos desfeito as desfigural;:Oes da censum, como 
1.'f!alizafOes de mOfDes de desejos im01'C1is - ego[stas, 
sddicos, pe1Ve1sos, incestuosos.3 
o que, em outras palaVl'3S, quer dizer, n'em mais nem 
2 	 FREUD S. A.E., 5. Capitulo 7 
3 	 'La mayo ria da 109 suaftos • 109 inocenles, los axcenlos da aleclo y 108 sue~os de anguslia - se 
revelan, despues que uno deshlzo las desliguraciones de la CBll9ura, como cumplimjen\05 d.a. 
mcciones de desaos inmorales· egorslas, sadicas, parvarsss, incestuosss.' (p. 134). 
54 
. A ETICA DA PSICANAl.ISE: RESPONDER PELO SlNTOMA 
meI?os, -que 0 rei nao pode, saber Gom anteced@ncia a· 
.verdadeira natureza de urn sonho, e ·se fizer' questfto de a 
conhecer, .ted de analisar todos '05 ' sonhos sonhados no reina, 
a'te as mais singelos'- 0 que se revela uma tarefa improvavel, ate 
para um monarca. 
Em seguida, e lan,ada a conclu&ao, cuja simplicidade 
resulta ainda rilais admiravel, se pensannos nas dimensoes do 
passo que esta sendo dado em rela¢.i.o a etiea classica: 
Sem duvida, temos de nos considera,' responsdveis 
~ios impuisos mattS dentm dos pivP,ios sonbos. 
Que mais· se pode fazer cb7ij eles? A menos que 0 
contelida do sonbo - con-etd71iente enibidido - sija 
inspi;"do por espfliios esiranhos;' ~k fclZ pd'te de 
nosso p,vP'io ;n.. .Se p,'i!iendo ~lassificar as 
aspira,fOes que enco~iro em mtm cC?~o /;x;as ou mas, 
segundo padr6es sociais, entao devo assutiz.ir a 
• 	 responsabllidade pelas duas categ07ias; e, se para 
me' defender digo que 0 desconbecido inconsciente, 
1'f!calcado,' que ba em nzim niio emeu 1£" I~ enta~, 
nilo estatei me coloeando ·dentm do campo dapsicandlise, riiio terei aceito suas. conclusOes, e talvez 
a ctitica dos. meus pn5ximos, as perlu,bafOes da 
minba conduta e a con/usdo dos met-IS sentimlmtos 
ensinem.-me melbor. Aprenderei, talveZ, que. estou 
repudiando alqo que niW apenas estti em wtm, 
como muitas vezes tambem p.-oduz efeitos desde 
. wtm, (p.135) 
~ote-se que o. tenno Eu, 'que aparece no padgl'3fo entre 
aspas, esta assim designado pelo seu autor. Stmchey observa que 
no contexto ~quivale ao selfingles. Portanto, ninguem mo.ls pode 
dizer, d~sde"que existe a psjcan~lise: tbe unknown in me it's not 
myself. Quem assim fizer, secidesmentido' pelos efeitos de urn 
55 
http:assutiz.ir
'.< 
ENSAIO SOIlRE A MORAL DE FREUD 
sintoma' que-.se farao sentir sabre seu rrieio social, retomando 
sabre ele cama um enigma. Mas a que selia algw!m que fasse 
exdufdo do campo anaHtico? Nao, evidentemenre, uma pessoa 
que evitaria as efeitos reais sint9maticos do seu inconsdente, 
pOl"que eles nao dependem da sua aquiescencia e podem ate ser 
provocados p~!la sua recusa. Deve tratar-se, portaBto, de alguem 
que rejeita naG> apenas"a no~ao de inconscie.nte como tambem 0 I 
enigma e. ale a. existencia mesma do sintoma que resulta de tal I 
• , ~ 4 . 
reJel~ao . '_. 
Ii 
Af:} 'falar de conteudo do sor.zho co,.,"elD-lIlellte elltelldido J , 
Freud pressupoe ja ,0 novo campo cria.do. por ele, porque apenas 
dentro desse campo e passivel ler um sanha da maneira cama 
",' ele 0 faz. Em outras' palavras, n~:o exisre' um conteddo objetivo, 
intelpretavel fora da reta~ao transferencial entre aquele que 
relata 0- sonho e seu ouvinte. 
Se um rei tivesse condi~oes de decifrar qualquer outra 
significa~ao alem de um regiddio, ele nao· seria um rei - como 
uemonstra a pratica antiga de mandar executar os mensageiros 
partadares de mas naticias (haje ·em dia a recus" limita-se ~s 
a,6es judiciais pl'Opastas contra as jamais que as publicam). 
Um astucioso livrou-se do destino teselvado ao 
mensageiro ao responder ao soberano que exigia dele um 
discursa publica de elagia: Your Higfmess, tbe Klllg is 'lOt a 
subject. E precisamente por sua pretensao de desvencilh31'-se cia 
pr6pria subjetividade depasitanda-a do. lada do. semelhante que 
o tirano esta. excluido do campo analftico. 
2.2 Diw~.ssao sobre o·fenomeno da cren~a 
Cree nolo e um fenomeno fntimo, um sentimento plivado, 
-40 Dr. A de carla de Freud a Weiss (cr. eu~ra, prehicio) 
A ETICA DA PSICANALISE: 'RESPONDER PELO SINTOMA 
intetior:· a cren~a materializa-se nas atividades efetivas do sujeito 
(Zizek, 1988, p. 184). A pena de marte c1ecretada sabre a 
mensageiro, por exemplo, pennite ao monarca preselvar sua 
cren~a de que tudo COlTe confonne sua vontade, sem para isso 
ter de re.nundar a tomar as devidas providencias [rente ?ts 
novidades recebidas que desmeiltem essa cren~a - 0 que selia 
nefasto para a politica do re"ino. Nao e elimin.acla a infonlla~aO 
senao 0 infol111ador, que paga 0 pre~o no tugar do tirano para 
que este possa assim continuar a ignorar 0 que sabe. 
Urn check:.up de saude totineiro pode t01113r-se uma 
ten'fvel prova~ao para uma mulher como aqu~la de cuja analise 
falava no. capitula anteliar (supra p 52). Mais radical que Sua 
Majestade, quando o~ve 0 profissional conflrmar sua _saucIe, iSlo 
e, que os exames nao acusam nada de anonnal, ela e~tra de 
imediato no. 111aior desespero. ·Quais as raz6es desta angustia 
i"ilexpliciveI."perante a boa notfcia? Ell sei que ntio. lenho nada, 
eia diz a si· Inesma, porem, 1lUff aC1"edilo5. FonnlIla~ao 
deslumbrante que lembra esta autra, cuja impassibilidade discute 
Recanati', the cal is on the mat bul J don 'I believe il. A realidade 
contradiz a fantasia? Pior para a realidade. 
Quanto aos medicos, pOllcos dentre eles resistem ?t 
tenta¢o de son~gar as infonna~6es referentes a lIm pessimo 
prognostico. da ?oen~a de um paciente. Para pr~selvar a 
ignorancia n:1o vacilam em tecer uma inttiga com a cumplicidade 
culpada das familiares do. enfenna: 0 facyltativa seria assim a 
mensageiro infernal. Mensageiro que nao precisa de um rei para 
identificar-se com a mensagem da qual e portador -- e que 
desmente a sua cren~ na onipatencia do saber medico. Antes 
5 Pere eta conlinue e ester em peula sua recusa ao saber absorulo no Outro que comenlnram09 no 
eapUulo anterior. A duvide .quanto a sue saude responde a cer1eza incontesillver do saber medico 
eobre ale. Em oulra ocaelAo ela dir·me-ll que as vezes age como se livessa a convlc~!lO de que B8 
lele da ri.alureza funciOllPlTl com tod08 mona. com era. 
S REGANATI F. La Iransparencia 't ra enunciacl6n 
56 57 
http:check:.up
" 
ENSAIO SOBRE A MORAL DE FREUD 
can'egar a culpa pela morte do doente que'reconhecer impotente 
o conhecimento que faz dele tim medico. 
Ese 0 paciente se suicidar ao saber? Era 0 receio de um 
medico com queni conversava sobre a co~venie.ncia de transmiu'r 
o progn6stico ao intel'essado. Pade suicidar~se, com efei~o, 
pOl'elTI, se ble nao lhe con tar, ViVe1'3 por a'caso? Manter 0 Dutro 
nas t\evas ~ salva-o de que? Nilo da doell,a, claro, mas d. 
signiflca9ilo .~de sentenI'" de morte adquilida pelo diagn6stico. 
Signillcas:ao que 56 pode ser um problema IX"", 0 medico, 
porque as op~es do doente restnngem-se a escolher 0 modo de 
moner, 
I
II. Se a lfngua mesma chama 0 morlbundo de condenado ­
I,' isto e, alguem pi.mido POl' um Clime' -, nilo e de se sUlpreender,:11 
que 0 mediCo considere-se convidado aocupar a cadeira de juiz,;J 
Quando se amite, contudo, 0 que acelta e a transferencia ~obre 
":Ij 
si da l'esponsabilidade do suposto suicida por cujo ato im.gina­
,,1:1.. se responsavel - to blame -, quando mio culpado - guiUy,
i'
U, Quem sabe 0 voto de curar da medidna miQ tenha' a 
mesma raiz que a maxiina crista: de "ama!" 0 proximo como a si , 
mesmo"? Segundo Fi'eud (1927) este mandamento se ap6i~ no" 
recalque do desejo de merle volta do contra 0 semelhante. Nao 
que 0 moribundo seja um inocente. Ao compactuar com' 0 logro, 
entrega-se de bta\'OS aberto. il forina mais d:lssica do 1'1'0 social 
baseada na. aen~. Assim, 0 docente tinge ensinar1 0 aluno 
aprender, etc. Seria demasiada lngenuidade imaginar que ap6s 
Ihe terem imposto quimio e radjo-terapia alguEhn possa continuar 
a acredllar que seu tumor e benigno, COmo Ihe disseram, 0 que 
seria lln~ paciente deS(}n.ganado se nao aquele que nao tmis 
pode agir C0l110 iludido? 
Tanto 0 medico quanto 0 paciente sabem. Existe j contudo, 
alguem que contin.ua sem saber. Predsamente; aquele que lacan 
58 
, 
AETICA DA PSICANALISBI RESPONDEKPELO'SINTOMA 
denominava ,fAutl'6!, 0 QUtro' , ,-, inspirado,<,;no "A,lder2 
Scbauplatr, "a ouira ceoa (palco)", ondeFreud via desenvolver­
se a cena do sonho. Sobram as provas onto16gicas deste Outro. 
:; ,.., j ,.' ",j" .• ' .'., •• ,' , 
A erianl'"' que, ho canto (infahtil?), deliurida a so]Jemna nudez, 
desfaz (, pacta que Ilga 0 rei a6s ~1~.EsSe pacto de 
fihgimento'milttio que tamb<!1l1 une 0 pal a sua riiha que ja nao 
mais e virgem; 0 medico a seus pacientes tenninais, etc. . 
o desejo inconsclente nao e uma abstra9ilo psicol6gica, 
Acabamos'de notar sua eficlcia na cren,a, Os'sintomas mesmos 
nao sao outra cois. que a expresSiio ,censurilth, de urn desejo 
nao reconheddo (0 desconhecido incorlsciente e "eca/cado de 
que Freud fala). A respohS~bmdad'; tno;;;(pelo~~ritetldo dos 
sonhosJ que Freud hos anima a.'assLill)1~, ·na~. ~1~ ~ que a 
responsabilidade pel6 deSej6 .Incortsciehte ..1'odavh, ;, que Freud 
espera . do, neur6tico? Que siota' como pr6pria a exigellcia de 
reconhecer-se no que the e estrangeiro. Que ao escutar 0 recado 
que 0 mensageiro Ihe traz, tenha presente que, como diz Lacan: 
de alia it, <>ratione, tua .-es agitur - as palavras que 0 Outro 
profere silo da tua incui:nbi!ncia, Nile apenas nao avilta nossa 
grandeza moral ,(se a tivermos) recorihecelme-nos no desejo 
~nadmissrvel que 0 sonho faz vir a tona, C01no) numa inversao 
que merece ser destacada, deixar de faze-lo; fingir ignorar0 
W'u1I.scb que nos agita, torna-se, para Freud j ~ unica covardia 
moral verdadeira. 
2.3 A pergunta pcia causa 
Entre 1895 'e 1898 Freud oeupa-se em elucidar a etiologia 
da neurose. E verno-Io anaIisar, com esta finaBdade, todo tipo de 
fatores que podem funcionar como uma serle causal pasSivel: as 
condi,oes universais biol6gicas, as contingencias acidentiHs eas 
detenniha,OeS especlficas singulai'CS. Concluira afinnando 0 
59 
I
I 
http:contin.ua
" 
ENSAlO SOBRE A MORAL DE FREUD 
carater· detenniilante do sexual, sua bern conhecida" [eolia da 
sedu,ao'. 
Freud parece tentar en~ender, como clinica, 0 que ha de 
ell"3.do com s~us pacientes, porque adoecem: l1ada mais natural. 
ExamiI1ando mais de pelto seu~ relat61ios de casas, no entanto, 
vemos que s~o as doentes mesmos. que se intel'l"ogam pela causa 
de seu sofIinlento. Sen~ se limitar a artamne_se, Freud acompanha'. " 
as conjecturaS do paciente sabre a Oligem de seu mal. Seus 
raciodnios, n~ci eie, sao quase sempre do tipo post ,hoc, ergo 
propte~ hoc -depois de, portanto a causa de
8 
, 
Um dado constante nos depolmentos e a despropOl',ao 
manifesta que existe entre 0 motivo declarado, muitas vezes 
banal, e a rea,ao blUtal que the segue. Esta falta de adequa,ao 
indicatia um hiata entre a causa e seu 'efeito. II n y a de cause 
que de ce qui cloche, dil'a Lacan, s6 hi causa daquilo que nao 
anda. E quando algo nao anda bem, com efeito, que se come,a 
a procurar as motivos por que a coisa desandou. Em· suma, a 
pesquisa etiol6giCa leva 0 psicanalista a interessar-se pelo desejo 
de quem se pcq,'llnta peJa causa. 
2.4 Destino e acidente 
Entendemos que nad" lidamos na psicanalise cont 
uma ullica disposifiio, mas com urn numeFa 
infinito delas, desenvolvidas e fi.'>:adas por forra dos 
acidentes do desUno. A disposifiio e; por ass;m 
dize1; polimotfa (..) A questlio de saber 0 que e mais 
7 A· marca pslqulca decorrente da violencla ei6tica solrlda pelos pacienles • segundo seus relatos • 
quando crianl,~s a que 56 se lorna elicaz na ado!esdincla, FREUD S, LtJ eriolog/B de la hisleria, AE, 
III, 8sAs, 1973, p. 201. 
B Racioclnlos cuja laillcie Hume Iii demonslrara com cuidado. e:. simples htl:bito concluir que quando a um 
acontecimenlo A 9ucede urn oulro aconlecimenll:l"B, anlAo, A 1I B cause de B, sendo que 0 unico q~e 
e516 damomitrado 1I sua sllcessividede. 0 quel4!'e lorna por uma relQ~lio causal nAo paSSB, segundo 
Hums, de yme eoojun9lio eon.tant.. 
,60 
A ETICA DA PSICANAuSE: RESPONDER PELO SINTOMA -. . 
imp01tante, a constituifiio ou a expmiencia, qual 
dos dois elementos dEcidE a j>e1sonalidadE, s6 pode 
ser ''eS/Jondida, a meu vet; com daimotl kat luche 
(destino e acaso) e nlio com um ou outro. Por que 
havetia de ser 0 contrario se a constituiftlO nlio e, 
depois de tudo, rnais do que 0 sedimento das 
e:>..periencias de tlma longa smie de ancestrais? Por 
que niio conceder aexperi~cia itulividual 0 lttgar 
que [he cabe junto a expel'e"cia ancestml (,.)? Se 
nosso trabalho analitico .se concentra mais nas 
infi,wncias acidentais do que· nos fato,-es 
constitutivos, e. (.:.) P01que· .com base· em nossa 
expetiencia conhecemos algo destes ultimos, 
enquanto que sobre as p,imeiras sabemos tanto 
quanta os niio analistas (.. .). Somos da opiniiio 
tamWm que ao avaliar a importiincia do acidental 
estamos no caminho cetto:para a compreensao da 
constituiriio ( ..). 0 que perinanecer ine.xpliciivel 
ap6s um estudo do acidental pode sel' imputado a 
constitUiftl09 •. 
Esra carta deve pennitir-nos refletir sobre as raz5es que 
levarain Freud a definir 0 campo psicanaiftico como sendo 0 do 
acidental, ao passo que desde a Psicopatologia da vida 
cotidiana tinha con~agrado este ca.mpo a urn detenninismo 
estrito onde nao existe 0 acaso, 
Contra tudo que se imagina sobre ela, a psicanalise lida 
com acidentes (Zufallen) - a tuche mencionada por Freud. 
Quanto ao daimon, rarribem evoca.do - e que se refere aqui a 
constitui¢.io hereditaiia -, achamos por bern resgarar 0 dcmonio 
que nele se oculta, 0 demonio de cada um (com certeza Freud 
nao esquecera a voz do demo de· Socrates, ·seu conselheiro 
9 Cerle de Freud a Else Voiglliindsr In Episrolario, carla de 1/10/1911. PIBze y Janes, MBdr.id, 1972) 
61 
http:constitui�.io
http:evoca.do
http:ell"3.do
" 
ENSAIO SdBRE A MORAL DE FREUD 
particular?), com 0 intuito de contrapor sua ,;ingularidade - a do 
da/mon -_a -universalidade proplia das disposi~oes herdadas da 
especie. 
Este demonio retomara sob • pen. de Freud nove' .nos 
mais larde: 
o que -1' psicandliSe nos moslra nos fenamenos de 
trnnsfeftmcia dos neututicos pock dar-s<! no _curso 
da vida-de pessoas nao-neululicas (sic), dando-lhes 
;. imp'fJS5iio' de -que um destillo muUiflco 
pet'segue-aiil, de que um u'ulio demolliaCO estd 
p,'eset.te em suas vidas 
10 
( .. J•Niio nos su.preende 
tanto esse Iletemo teto1?'iO do mesmo" quando se 
trata de um compottamento ativo do suje/to ( ..J. 
Multo mais sup.i!endentes sao aqueles casos em que 
os acontecimenlos pm"cem estar f01'a do alcance da 
afiio do Indimduo e que ele soft", paSsillamellte, a 
repel/fao do mesmo destino. Tome-s<!, porexemplo, 0 
,ct.so daquela mulher que, casada por /:ti,s vei;es, 
asSistiu logo clepois, um ap6s-ouIm, aO adooclmento 
dos Idis rllIJIridos, tendo de cuidardeles are a 
11
m01re. 
- 12
Fon-ester agudamente cila Lady Bracknell : quem percle 
um- parente proximo sofre ulll infortunio, quem perde dois' 
parece ser multo descuidado e quem perde trlls pode 
encomendar-se a Deus porque um demonic est;i em a,ao_ A 
explica"o psicol6gica Imaginaria um desejo onipotente da 
mulher (a"mha) que teria dado cabo dos tres maridos_ 0 
ocuitisia procuralia 0 deslgnio orulto por tdis da' diSIt/chia, do 
10 ...verfolgendan 5chiexsCI9. oin.e& dSmonlad'len luges in ihrem Erleben. MElu onto. 
11 FREUD S. Mal enlI de) principII) d{)1 placer, AE, XViII. 
12 FORRESTER J, SeduyOtfS dis psir;tv;ttlise, P.llpin.l3, C4n'!pfM', 1 geo, p. 191. 
62 
,-- . 
.:. 
• 
, A ETICA DA PSICANALISE:RESPONDER PELO SINTOMA 
I 
mau encontro". Ao pSicanaliSIa .Freud propOe atender i ! 
subjetiva"o· do reiterado acidente: a interpreta"o que 0 
infortunado faz dOl repeti"o como uma sina_ A causa que 
inte!-essa i pSicanalise est;i na resposla _iI pergunla: por que me i 
aconteo? isto? Sem entrar no merito d. causalldade em geral, \ 
fa~amos obselvar que para Adstoteles CElia. a Eudemo) • sorte 
nilo se limila a uma lnvestiga~o cosmologlca Oll melafisica, 
sen~o que faz parte de lima diseussao etiea. 
Na carla de 1911, dlada adm.; Freud inclui a sorte, 
aristotelicamente, no campo do destino14: Dalmon laai It/che_ 
Nao e questiio de decidlr entre um ou outro. 0, campo de 
opera~o d. pSicamllise sen! 0 - "acidenlal lncluido nn 
regulaiidade do destino", as' -maquina,Oes deum' "destlno 
acidenlal" (Forrester). No texto de 1920,' entretanto; 0 acldente 
deixa de seT tal porquanto repetid,o. Fica descaractelizado pelo 
efeito sinistro darepeti"o, e confund~-se com 0 destino, isto e, 
com 0 demonfaco . 
Lacan, que costum. inventar - borgianamente - seus 
antecedentes, Ian," m~o da luche alistotelica para ralar do azar 
como causa. 0 infortUnip, tomado como causa pelo ser falame; 
Este alar que esm na origem da neurose de destino's diz-nos 
respeito como causa de psiquismo, nno como causa eflciente 
13 Ao chllm<ID'l'lO, falalldade A re!lera;;ilo do $(llden!e. fmaglnamos que- 0$ latOll ooonl\'WWoo by Cfltln"C"e 
exprimem ume necessidade Cttl'!tinhtj. 0 dS1'IIirio sera. d8st3 talta; I) q1.J8 8 cads um Ihe toea! e 90rte, 
contemne ammciado ou pradlto palos OI'8cum. 
14 A bam da \l'ftrdade, Anst6!eles diferancia " e<:9S0 9 1'1 rortunll (contlngentes) do fado ou destine 
(prede!ermlnado, MC11IssArio).' Entrelanto; alnda que uma bQa vida (eVdnimome) dependa de vah.»"s 
fundamanlois que $lio fins em 91 masm!», etta$ v(llmes sao ineoneebfveia em uma vide que nAG 
flstlvesse e:q:lO$la II ~C05, caiencia$O fiml\ft9601h am 1'IUIllU, axposla 11 &Orltt e ao aUlr.Adl!elenyfJ. de 
Ktlnl, paro quell'!" unnnnso dOli "'-l;1lore, morals e 1m9nll" aoa assallos da tOl'hU'l4. Aril'l~ras n!D pense 
que 0 Gujeilo possa des!llCumbir·sl'l, na suo rellexao bllce, das oOl'lseqtt6nl;:iM IDttuitlls que 
trtOdiITcaron'! ;!IUB vida pelo {3tO delas nAD ielem dependido da sua vontacle. A sone 6 um fawr causal 
(nl<> Gpenll1'l casual) eulct eleitots .dD reais (quem gMMf a !ole sarti IIfetado pela posse de SUtl 
fortuna}, e 0 suleilo nao pode dab:ru de inclulr esle, elellos na posjUf" 61i~ quo t8ije SIU! 'lid&. 
,15 Woo doVe $ar eonrundid .... a fepelf~ signiliean!., do ttauma (a C8M,de sed~o que comanda 0 
deselo em qu!lfquar fantasia, por exemplo) com a dlmons.lio tl'aumallca do aur (caso dtl MUrO'M de 
de!lllno}. A primolra ropelil;ilo esiA govemada pelo ptinclplo do prazer. a aegunda n~o. 
63 
http:P.llpin.l3
http:p,'eset.te
.... 
"ENSAlO SOBRE A MORAL DE FREUD 
da ,?cOlrencia de sucessos detenninados do "mundo ou dos 
objletos" Pode ser Udo como cilusa apenas de uma particular 
d",tenni)1a,ao do psfquico. 0 a>:ar toma..se destino (Schicksals) e 
obra como uma assombra<;ao, uma inten~ao'" Jnah~fica qw.'! deve 
ser eOiljurada. 
, " 
2.5. 0 nbandono cIa etlOlogia traum!l.tica 
Tambe'lll' para Freud a sorte, OU I antes, 0 azart nab se 
Iimita a. um acc,ntecimento fortuito que 0 sujeito telia soflido 
passlvamente. Ele esm inter~ado' em saber eomo se engaja a 
responsabilidade do" padente no acidente que 0 fez adoee..,r. A 
reflexao freudian. sobre 0 trauma nlio e somente epistelno.. 
logica mas tambem etica. 
Em pSicanal1se, trautna define-se como uIn evento 
inassimilavel pelo pslquismo,6. Para descrever este" proces'so 
Freud usa uma metlifora fisica" 0 aparelho rno cia corita de ligar 
o exeesso de enelgia de um estimulo, e a represental'lio do 
evento estimulador perm.nece nllo Iigada em relal'lio ao sistema 
de l'epresenta~e;es. Em outras· palavras1 Q acontecimento n~o 
consegue integrar-se ~ subjetividade, pennanecendo em uma 
altelid.de radical com respeito a ela. 
N. primeira con"cep,ao etiologica (a Vatedlliologle), a 
origem do estlmulo telia sido uma sedu,"o precoce sofrida pel. 
erian,a" Etiologia abandonada quando Freud eonstata a eficida 
da fantasia na'detennina9fio do sintoma, Alguns aCl"editaram ver 
na OPI'1lo pela funtasia nao sei que covardia. moral da parte de 
16 Normelmel'l!1l $of} rtlm f\umn r!lprllsen!a~ impo«slvel de !lor inleQttlda 1m rede de repr8senl~s que 
OOI'lSllluBm.o pslqUismo. Falo em 'W&l'Ito" \Nlf$ deixar em 01>$110 S8 n!o at lroill ante& de um 
Inepr8911hllJ,v91. Sele como lor 0 85senclol aqui, e "10 pono IbUr nnds litem da menclona·1o, Ii a 
outra lempora.lldttda que eS\a leoria axlge _(c!. 0$ desenvolvlmenlos de Lacan sobre a "oyllo de 
NtJchtrifgfichkeil de Freudl . 
64 
A ~TICA DA PSICANN.ISE: RESPONDER PELO SINTOMA 
Freud17,"TodaVia, ao fazer dO"trauma unlll fantaslaj Freud eSlava 
dando 0" passo decisivo para fun.:L~r .oma c1fnica propriamente 
p~ican31(tica . 
Sui oPl'lio era tanto heutfstica quanta etica. Heutfstlca, 
porque eom a mntasia Freud possui tim iustrumcnto" que 
organiza a tl'ansferencia e pennite-lhe comprometer 0 paciente 
" 
, 	 COIn 0 processo anaHtko, doravante homog~neo ao sintoma (0 
analisante ocupa na cUra a mesma posh;ao que tena tido na 
suposta cena do trauma). ~tica, porque postular a a,lio eficaz de 
uma fantasia mio pennite 30 padente refugiar-se na inoe@ncia de
l 	 seu lugar de vftlma: Que culpa tenho eu se na minha infClncia ful
i atacado pe/o meu pail Podetia eu acaso tllt/dar 0 passado? 0
!' sujeito rno pode mals deslncumblr-se da causa de seu mal, 
responsabilizando a futalidade de seu nasdmento ou qualquer 
outro azar de sua vida pregressa" 
2.6 A casuallcIade em Arist6tclcs18 
Atist6teles pensava que as coinddencias l1ao eram 
causadas'9 , Nero tudo que acontece telia uma causa. A 
coincidencia selia uma eonjunl'lio acidentlll de futol"es cuja 
associa~ao nao explica nada de per sl. Ele n1l0 hesit3 em fular de 
"causas acidentais" (Meta! vi 2)" Um encontro feliz «({PO tuches, 
evento afortunado), como, por exemplo, andar na rua e dar de 
cara com alguem que nos devia dlnheiro e que aprovelt. 0 
17 MOUSSAIEFF·MASSON J. Afenlado 8 vB-ronde 
la No que diz respGit<l it enu9ulidade, sleeria ari&loh~lIc::a concabe qualro CSlJsas como qualto modQs de 
••pliCll~ das eoisas (slias, 09 Ilnieos moOos de explie8<;uo). Atlst6leles nuncs afirmn. conludo. qua 
lode expliea¢0 $ef4 de natureza sUogf$lica, emoorll chome 8 ~:tIen9iio que, para a.plicar M verdades 
univet90is de (l/6ncia, dave demottStrllr,:ul que sao necesshrlas pot dl!rivejiiio a partir das premi5'llos. 
Oas Qualro, Q (laos .. fins] inliHeua-rJQs espeClalmen!e ne medlda em qua inlrodlJ2 a q~stBO eliea. 
Oivema dan oulras Irh (efici8nhP, /()rmalou nmtetiaJ). II cqU$a final relere·so $0 PfopOsil0 da eol,&, 
isla i. a eeu bem singfJlar. ' 
19 A95es podem multo bem 'fit uma causa scm por 1$$0 setem necessaria'S (poderiam nunca ler 
acnnleeido au lidO' um oulre dasfecho). As learlas mQtiemas tendem $ «IrIoClat cauS$ $ ol(pllCaoi1o, 
pO'r um lado, a nacess!d,ade e leis, por O'ulta, 
65 
http:altelid.de
"'--. 
,--. 
r. 
.~. 
.---. ' 
- ! 
" 
ENSAIO SOBRE A MORAL DE FREUD 
ensejo para'reembolsar-nos a quantia'd...evida, pade ser atlibufdo 
a sorte, mas e apenas.. uITI' modo:tde se chamar; ulna causa 
acidental (meta! V30)20. 0 prop6sito que me [azia estar na rua 
nada tem· a ver com 0 de lneu devedor. As duas seIies sao 
~ndepend~ntes. entre si. Cada uma delas esta detelminada e 
ambas ;.se interseptam em um ponto a~ acaso. 0 encontro em" si 
mesmo; naa possui qualquer causa. 
Comparem-se estas duas perguntas: Por que tinha que 
chqverJusto 1'0 meu QlliVel'sti,-io? Por que tinha que chover 
n:aquele d;a? A plil11eira naa- tem resposta: pOl"que sim, foi uma 
coincidencia, .ao passo que a segunda pade ser respondicla 
(eventualmente) pela meteorologia. A ·psicanalise preocupar-se-a 
naa com as "causas (inexistentes)· cia coincidencia nias com a 
crcn~a que a primeira pergunta revela. C1"en~a sustentada por 
um desejo cuja racionalidade pode ser elucidada pelo trabalho 
da analise. 
Aristoteles denomina Tuche e automaton (capitulos 4,5 e 6 
do livro II da Ffsica) as causas acidentais. Tuche e traduzido por 
"sortell.ou IIfortuna"; Automaton, por "acidenteU Oll por "resultado 
casual ou fortuito". 
...quando ltm agante causal qualquer produz 
aCidentalmente um efello nao peJtencente a seu 
can1jJo de aplicClfiio atlibubno-lo aoautolllaloll; e 
J 
nos casas espedais em que um tal 1"(!slIltado advent 
de· uma afiio delibera-da (ainda qLle sua meta 
tiwsse sido outm)porpm·te de Uln ser cajJQz de 
escolber, podemos dize,· que eflUto da tucb,,21. 
~o ~ claro qua a Botte mesma, tomada ,como causa, Ii a noma qua damos II causa~ilo acidental pr6pria II 
09;\0 daliberada, dotado de um lim, que conduz enlrelanlo a um acontecimenlo qua chamamos de 
alortunado. E os resul1ados signilicativos de tais causas sAo ditos ·advirem da sorte·. (ARIST6TELES, 
Physics, II, Y, 197 a6-6). 
21 AAIST6TELES, Physics. II, ~i, 197 bl-3; 19·24. Loe~ Classical Library, London, Heinemann, 1934. 
66 
,. 
I 
I 
! 
A ETICA DA PSICANAuSE: RESPONDER PELO SINfOMA 
A Tuche e, portanto, uma .subclasse_. ¢o . automaton_ 
Apenas seres capazes de bem e de mal, tanto,_ ,no sentido de 
sentir-se como de agir,_.seres capazes de escolher, esmo. sob- a 
jurisdi~o da tuche - uma a~o deliberada onde nao se produz 0 
-resultado desejado". 
2.7 Wicdcrholungszwang 
o problema e que uma vez retirada de Arist6teles para a 
pSicam'ilise, a no~o de tuche muda de um- modo decisivo. 
POI·que entre Atist6teles e Freud encontra-se Descartes, e com 
ele foi intr?duzida no pensamento uma no~o inexistente na 
filosofia atistotelica, a saber, a no~o modema de sujeilo. 
Quando" Lacan re~011"e as no~6es alistotelicas de tuche e 
automaton para intenogar Freud em rela~o ao estatuto do 
trauma, ele est:i almado com quest6es que n~o sao em absoluto 
as que 0 proprioAtist6teles colocava-se, porque sao problemas 
que pressup5em 6 sujeito cal'tesiano. 
Ali onde Freud e fOl"l'"do a reconhecer um nucleo 
traumatico impossivel de ser subjetivado, que se encontraria fora 
da reguial'ao do principio do prazer, Lacan propoe diferenciar do 
simb6lico 0 real que, como tal, nao consegue integrar-se ao 
campo da representa~ao do sujeitoi entendendo por 
representa-~ao uma tranla de significal1tcs. 
o automaton de que fala Arist6teles diIia respeito, na 
opiniao de L1can, a esta trama de sjgnificantes que evoca uma 
ordem oilde cabema probabilidade e a previsao propIias de uma 
combinat6Iia. Mas 0 trauma causador da neurose nao selia 
relativo a regulalidade de nenhum automatism6 combi_naloJio 
senao a emergencia do real, imprevislvel e arbitrfiJio. Por obl:a da 
22 Lacan observa expllcitamenle que /ucht! e au/oma/on teriam sido incorretamenle Iraduzidos como fe 
hlJzitrd e fit fortune. 
67 
http:sortell.ou
,...: 
,~ .. 
ENSAIO SOBRE A MORAL DE FREUD 
Ii
!..~. 
".. 
representa,ao que dele se faz, este encontro fOl1Uito (tucbe) 
parecen1 1 para quem 0 sofre, menos unracidehte'que d Itetemo 
retOlTIO' de um cicio regular". 0 real' apresenta-5e pois 
disfar,ado coni a mascara do jalum, como 0 confronto com 0 jii' 
esclito de nossas vidas". Em suma, a ztlcbe e51.1 sempre recoberta 
pelo auton1a,ton . 
\ 
A descoberta de um nucleo ilTedutivel do sintoma \igado 
ao u-autm na6 pennite ao can1l)O psicallalltico limltar~se a rede 
de significantes regida pelo principia do prazer. 0 real do tt'auma 
anulna a esperan,a freudiana de dar conta integralmente do 
sintom~ mediante a interpreta9io e exige uma reavalia,ao do 
campo desta prru:is pal'a incluir nele a· Wiederholungszwang, a 
compulsao de repeti9io, que se encontra .Jem do plincfpio do 
pl'azer. Este reavalia,iio comporta· tanto uma l'efonnula9io da 
teOlia das pulsoes (a introdu9io da pulsao de morte), como uma 
decisiva mudan", na c1inica, j:1 que 0 instrumento m6r <festa, a 
ihterpreta9io, P9r estar ligada ao automatismo significante, nao 
podera ja dar conta do nucleo real traumatico que se el1contra 
no cerne do sintoma. Esse real, cuja emergencia intt'oduzimos ao 
tratar dos aCidentes1 a tuch8! nUJ;1ca compatece enquanto tal, mas 
at.raves da d<2Sordem pl'Oduzida na t.rama simb6lica do sujeito. I 
Esta repeti,ao do trauma nilo Se Iimita ~ reprodu9io de 
tra~os fixos, sempre .os mesmos j maneiras de ver.o mundo ou de 
conduzir-se na vida. Esta l'epeti9io que'mal se ve como pode';. 
considerar-se repeli¢o quando se refere a circunSk1.ncias 
sUl'preendentes que desconcertam e desmticulam 0 sujeito. Esta 
repeti9io, digo, deve ser considel'ada 0 nucleo d. subjetividade, 
o Kern unseres wessen, exigindo da psicana!ise uma profunda 
reconsidem9io dos Iimit~ e da fin.lidade de seu exerdcio. 
23 Freud mllsmo nao p&tManeeau, (11:;0$0, duranle ru;(\! lob 0 lasefnio dna prevlsOe$ 
matemaliella do de1llino lorllacldas por FlieS! 9. pariU <:\1)$ eieb$ mneutil'oO! t1 femininI)G? 
24 A figura mflsma do fllvuta;Ao dusta desfgnlo, desle dl"1J1o {eilo cOJ1lt(t 0 $uleito e0' orneulo. 
pl/eudo­
68 
A ETICA DA PSICANALiSE: RESPONDER PELO SINTOMA 
E dificil evItar o • .rgumento ad hominem quando se tt'ata 
de explicar alguma coisa. Deve~se observar, conludo, que toda 
explica9io e relativa ao tipo de pergunta que deve ser 
respondida. Quando advogados debatl'm a causa do fogo, por 
exeniplo, elespodem conhecer ja a explica9io(que foi devido a 
um clgalm jogado e ao vento que 0 reacendeu). Decidir sobre 
uma causa pode' nao ser uma questiio de explIca\,oes t mas de 
saber se como neste caso l 0 vento pode ser tido como 
r • 25 
justlfica9io plll'a exonel'ar 0 homem que Jogou 0 clgaITo . Sob 
que condiq6es pode 0 agente ser considerado nao responsive! 
pel0 seu ato? 
AIist6teles define a vontaoe negativamente, como ausencia 
de pl'etextO: somos Iivres quando nao ignoramos as condl,oes 
de nOSsa a,ao (voce que sabe.. it~ up to you) e nao fomos 
amlstados por for,.s extemas. Medo e paix1lo. C61era e luxiJlia. 
What is up to him depends on what his natU1'IJ can bear. 0 seu 
exemplo deve resultar evocativo para OS psicanaHstas: 
voluntaliamente P0550 golpear um homem sem saber qlle el'a 
meu pai... (Nic6maco) 
Liberdade e vontade (Oll responsabilidade) nilo sao 
. no<;oes identicas. Sorabji define a responsabilidade como: to be 
liable to justified praise or blame; portanto, momlmente (Sombji, 
p. 250, 11.,16). 0 problema de isentar ou nao 0 agente da 
responsabiiidade moral pelo seu ato depende do. que 
entendamo.s por "for", maiolM Para AIlst6teJes, 0 diJema• 
argentino da "obediencia devida' (carrascosmilitareS de civis que 
nao precisaram responder ctimina1menr€ na justi\,a por est.:1.rem 
sob ol'dens supetiores) nac, seria em absoluto um problema 
etlco. Os subordinados estilo para Seus ofie;als supeliores como 
2SS0RABJI A, Neeo:u:1ty. cause and bfama, CoInsl! unW~",ity press, IIhaca, '980, p.111"1.17 
69 
http:p.111"1.17
I 
·r 
.~ 
ENSAlO saBRE A MOI<AL DE FREUD 
o barco para a tempeSlade. Freud abandonou a teona traumatica 
precisamente per recusar~se tl considerar 0 inconsciente uma 
for(;<l maior, no sentido de que dispensalia 0 sujeito de assumir 
as consequendas de sua a~o compulsiva: 
Falta de liberdade e lim defeito, ausencia de 
responsabilidade, nao necessaria mente. A respon~bilidade pelos 
pr6p~ios alos i~nplica a presen(;<l de outras pessoas, ao passo que 
':i .hberdade nao. Somos responsive is nilo apenas por ficannos 
bebados pOl' nass. livre escolha, mas pelos desmandos 
comelidos enq~anto permanecermos naquele eSlado no qual j. 
naa somos 111::\15 hvres, Em Arist6teles, a lllibel'dade polftica" nao 
se opOe it "necessidade da a~oll. PelQ contrario, ele campara as 
estrelas, que sempre voltam ao 1Uesmo ]ugar, com 0 homem livre 
a quem nao lhe e pe1'mitido agir a toa como as escravos ou os 
26
animais . Para OS antigos, pOl-tanto, a pergunta pela causa era 
insepan,vel do problema etic0
27
• . 
,. Mislatele.s opunha a sorte ao fado, no sentido de que este 
ultuno est.'1va Ja escdto e era, portanto, reaL Ao induir 0 
aci~ente no ~em~~laco, ao fazer do de-stino um enigma a 
declfrar, a pSlcanahse nao noS intima a oIientar nossa 3o;-ao 
levando em coma 0 POl1CO de real a que possamos ter' acesso? 0 
que nos remete de novo ao dedmon. Apenas de um homem livre 
pode ser dito que passui um bom dem6nio (eudaimonia) isto e 
que e feliz. !1 
. Na anligi.iidade a reta>'!o com os maculas eslava longe de 
ser d~ ~rdem da eren,'1. Nilo se tratava apenas de uma 
rnoblhzapo da dimens~o imaginalia da represenla~o. 0 que os 
26 :ae~n. nollldnmetlle, defme aua calegoria d# Real com a mesme tefel'l'Icia de Arisl.6leles aO$ nslros' 
aqullo que vol1(1 $empte tlO mltlJrt\O IUg9" (SemjnAfIo d-e 1'9541S5).. . 
27 Foi mUI:o dePQis que a palavrll. 'causa' passou II. signitiear e prodw;:oo de algo e<lnlorrtlfl certa no a 
01.1 8 fel que rllge IA! oconloolmen!o, 01.1 ;;16 ;J ltansmissl}.o de pro""ie"-d•• d • .....~. rm ,seQ d t1. - eJ • .... ...., ~ ...., ... COIS;J A OI.dre 
I.m 0 ce () prm pro. 0 que asrova PO! Iro disso !!.Ido era a ()Qnvic~ae de qu~ Md.., vem -'- , 
Ex nihllo nfhiJsuMI. ., "'" na o. 
A ETICA DA PSICANIDSE: RESPONDER PELO SlNTOMA 
antigos Ham no voo das aves, ou nas vlsceras do animal 
sacnficado, implicava Ulna certeza que nao cornporlava qualquer 
d6vida subjetiva. Urna serie de sinais nefastos era tida como uma 
resposta ceru! da divindade sobre 0 eslado das coisas. A 
rnodemidade . nao apenas nos da· uma' outra concep,ao de 
liberdade como nos afasta Irremediavelmente deste real que fala 
para jogar-nos nas trevas da fe e da crenp. Se laam pOde dizer 
que a verdadeira fannula do ateismo n~o era 0 "Deus ,esti 
mOitoll de Nietzsche. sen;lio "Deus e, inconsciente" e porque alit 
no inconsclente - que, para todos oS efeltos, e tilo exterior 
como 0 seriam para os antigos as mallifcsm~Oes divinas 
mediatizadas pelos or"d.Culos - encontramos, hole em dia, nossa 
211 
via de acesso para0 real que nos concerne . 
2-f1 A felicidade no prillefpio da moral 
Na etlca de Aristateles29 agalon, 0 bonum, era concebido 
como aquilo que em cada caso era born para 0 indlviduo, seu 
bern, aquilo com 0 qual seu querer podia satlsfazer-se 
plena.mente. Aquilo, em outras palavl'OS, que 0 fazia feliz. A eliea 
modelna ao contr:itio, tanto em Kant como no utilitarismo, 
t 
ocupa-se das normas enquanto validas para LOdos. Se a 
pergllnla dos antigos era: 0 que eu quero mestno para mim 
(entenda.se: confonne rninha natureza)? Ados modemos ii: 0 
que devo fazer COin respeito ao outro? Porque para 0 anligo 
conduzir-se bern e apenas conhecer 0 seu lugar, nilo M conflito 
interno para quem sabe onde deve estar. E a modemldade que 
introduzo debate intimo ao introduzir, junto com a no~o de 
28 Fa!ando sohre os <leu!e, gregos (Semin(lIiO de 1960161) lucan lel observer que eles eslavnm flO teal, 
Par que no retln Por qUIl nAo no lmaQin6rio cu, em locto CHO. no Blmblllico1 Nilo esU:uia ale ~ 
plJMeooo naqueht anconlro. «Imo qlHl por ;waso. que depois leoriUMia mediame tlJ(:M e tJlJlomttlolfl 
Ao "0$ ptopor olander 0 deIDonloco em "6$, nAo ilIslS $uoerindo que dam09 Q mesmQ panO que os 
. an\igo·, dsvam ao eonllultar um on\culo? 
29 TVGENOHATEff!llt, Problemas de III tWctJ, Edilori.lI ctltiea, Barcelona, 1988 (1984) 
71 
,. 
i.• _ . 
70 
http:Edilori.lI
http:entenda.se
(~ 
( 	
F. 
ENSAIO SOBRjl A MORAL DE FREUD 
( subjetividade, uma concepr;ao de liberdade que recusa, antes de 
.mais nada, a predetennin'a~ao dos lugares. 
Nao que' este tema central da etica modelna estivesse 
ausente na antigilidade, apenas nao era abordado pelo vit~s do. 
bom mas do belo: 10 kalon, PIatao CAs leis) inclui as boas a<;6es 
que dizem respeito a vida social entre as pums fornms que 
. constituem a essen cia das coisas belas: que, contemplamos. Os -r 
(" greg~s na~':evitaram a pergunra sabre c~mo conduZir-se na vida, 
apenas na~- a desvincularam do interesse iI1dividuai como 05 
modemos. A feliddade pessoal estava no centro da sua 
preocupac;:io etica, e 0 moral, i~to e, 0 belo e 0 justo, estava-lhe 
subordinado, 
Para Aristoteles uma conduta nao e autonoma se nao esm 
c-, 	 orientaq.a para 0 proprio interesse. Aq:mte.ce, pOl'em, que 
podemos nao ter certeza do que realmente queremos, como 
atesra 0 simples fato de as vezes pedinTIos conselho a outrem 
pam poder escolher Cum prato de comida, por exemplo),," 	 Arist6teles considera necessano, pOl·tanto, distinguir as. 
verdadciras satisfa~Ocs das falsas, Tese que exige uma medida 
db bom e do melhor independente daquilo que 0 individ,lO de 
fato almeja. Es~~ critedo .sugere a ideia de um perfeito 
desenvolvimento de si mesmo, um telos que' Oliente 0 desejo 
para ele nao se extraviar perseguindo miragens. 
A fclicidadc dos gregos, eudainlOnia, literalmente, possuir 
um. bam demonio, denota um "viver bem para homem", Um 
,," human jloulishing30 , resultante de se exercer uma conduta 
confonne a propda virtude, amte. Virtudc no sentido em que se" diz de uma erva que ela tem "virtude sedativa". A virtl:1de de 
alguma coisa e propriainente seu bem; nao um bem supremo e 
geraI, senao seu bem mais singular e intransferfvel. Aquilo que 
30 N.U55BAUM Marlha, The Fmgililyof Goodness, Cambridge University Press, New York, 1986, p.6 
72 
,r"' 
A ETICA DAPSICANAuSE: RESPONDER PELO SINTOMA 
faz com que ela seja 0 que e, 
o tenno ar-ete, excclcncia, esti profundamente ligado ao 
habito, ao modo de scr de alguma coisa. Atist6teles distingue, 
quando se trata do homem, entre viltudes eticas e dianoeticas, 
A~ ptimeiras dizem .respeHo a moral, as segundas, ao intelecto. 
Esras ultimas sao desenvolvidas mediante 0 ensino e a 
expeliencia, aquelas se devem ao habito; 
Sendo, pais, de duas especies a viltude, intelectual e 
moral, a pdmeira par via de ·l-egra., gel"Cl-se e cmsce 
graras ao ensino· - por t"sso mquer e:..pe"liencia e 
tempo; enquanto a vi1tude mOl"Cl1 e adquil'ida em 
resullado do bdbito, donde.se ler foimetdo 0 seu 
nome (l!lbtke) POl' lima pequena mOdificar;<Cio da 
palavm bdbito (l!lbos), POl' ludo isso se evidencia 
tambem que nenhuma dcis vii tudes morais sUlge em 
n6s POl' nalureza; com efeito, nada do que e.'riste 
natLl1"Cllt~ente pocle Jonna';· um. hiibito contn1"1io a 
sua nalureza(.,.) 
Nilo ~, pOis, por nalumza, nem cOnlt"Cl1'iando a 
natU1-e~a que as viltude,s silo geradas em n6s. Diga-. 
se antes que somos adaptados POl' natureza a 
recebe-Ias e lomamo-nos petfeitos pelo bdbito, POl' 
olllro ,!ado, de todas as coisas que nos vem pOl' 
na~ul"(Jza, pJimef.ro adquilimos a polencia e mais 
tarde e.."I.·leliorizamos os atos. (Etica a Nic6maco, 
livro n, 1103 a, 15, 20, 25) 
As excelencias individLl3is sao disposic;5es de cal<lter que 
deve~n ser posra.s. em ato mediante 0 habito, visando sua perfeita 
realizac;ao. A moralidade resulta, portanto, inseparavel, da 
realiza~o da verdadeira natureza de cada um, sua virtude, e com 
isso, da sua felicidade. Nao se trata, como na modernidade, de 
73 
http:pJimef.ro
http:donde.se
http:Aq:mte.ce
\~ 
ENSAIO saBRE A MORAL DE FREUD 
um3 coneep,ao passiva do bem'estllr. A nO<;3o de eiidaimonia 
refere-se menos 30 estado de contentamento do que ao fato de 
se ler alcan,ado 0 bem singular, por se ter encontrada a reta 
lugar. 
TodaYia, na medida em que 0 homem pode deixar-se 
levar por' faIsos valores, desconbecer a sua arete e e11''ar seu 
camlnho (e pennaneeer no lugar enado), pala que sua ohm 
esteja ad~quada aos fins, telos, e necess1lia uma educa,iio 
correta, Apenas quem qucr de uin 111000 adcquado, isto e, 
. collfol1nc a propria vi11ude, pode ser reahnente feliz. E seu aglr 
seJ'~! em cohsequencia t Jut/on, moral. 
2.9 0 <lever 110 prindl>lo da mor.. l 
Ao cdntrtitio da etica antiga, a mode111a refel-e~se quase 
com exclusividade ao problema moral, deixaodo de lado a 
. pergunta pela feHeldade individual. Este abandono·, segundo 
Tugendhat, e solidalio da exig~ncia de fonnaliza<;3o radical 
introduzida por Kant. Com efeito, ao passo que posso detenninar 
com objetividade e validade universal 0 que devc ser feit9, nao 
tenho como fundamenttr uma exigencia sClnelhante quando se 
trata daqullo que me apl'2z. 
Para lentar ·semelhante fundamenta<;ao selia necessalio 
Qrientar-se, como fez Arlst6teles, com a no~o de uma natureza 
perfeila ou, antes, com· a de um perfeito desenvo]vimento de si 
meSmo, Beco sem saida, na opiniiio de Kant, para quem 
introduzir 0 eoneeito de perfei,~o em etica" seria como dar it 
vontade uma detennina.;ao heter{)noma, e ela deve· ser 
aUl6noma pOl·que livre. 
Nao ha, pais) como ava1iaf objetivamente a fcIicidade. 
A ETICA DA PSICANALISE: RESPONDER PELO SINTOMA 
Uma a<;3i:> boa para todos pode fundamentar-se. Uma .,ao boa 
para mim, n. qual se Slltisfaz meu querer e desejar, nao. 0 
estndo sensivel de satisfu<;3o subjetiva nao pode ser lcgislado, 
como no ambito da m9r:aJ 3Z anele. existem regras objetlvas de1 
conduta de validade universal. 
Na etica modema, a questao rel:niva ao intrinsecamente 
querido nao apenas esui submeHda ao dever como em geraJ mi.o 
"l' coloca. 
O. problelna nao e s6 mos6fieo,. tambem e poillico . 
Ninguem tem 0 dil'cita de intelvit' na autonomia do incllvfduo. 
Isto se deduz do imperativ~ categ6lico. Esta gl'2vado a [elm e 
fogo no COI'2<;30 do libe,alismo burgues que. se deve deixnr a 
cada qual deddir sobre sua vida a sua mnneira. Acrecilt,ar· em 
plindpios objetivos para a configu,,"u;iio de uma vida equivaJe i1 
. " esl3r a U111 passo de uma ditadura moral . 
2.10 Noss<>s vcrdadclros illtcrcsscs 
A modemidade dislingue-se da antigOid3de pela 
rndicaIiza\:1O des CJilchios de demonstra0io dos ;ujzos l(lnto 
te61icos como prnticos. 
Uma PJ'oposift"io mOl'al, no qual n(;o se e~'t.]fii11e 0 que 
queremos sancio 0 que dal)emos fi:iZet~ nc70 pode s(~r u1l1a 
proposiflio empi1'1:ca, datle set; enltlO, uma p1T)posir;tio te6riCtl/ e 
nlio de deaer - pois no CCiSO terfcfmos cometido tlquUo que em 
ingles conhece-se COIlIOIUllul-aUsticfallacy3'.32 ArislOteles nunca ~ns1derou 0 ¢Q$!ume tXlfl'lO nQlma!ivo: aqUllo dado de aotemi\o !'lao p¢<:Ie 
tXlnsitlerl'lf'se bom e ecmelo 1>*10 simples InU) tie ser j(!I dooo, S8m qlmlquer luodM'lf!nlayl\o, Nito a ler 
eneontmdo nao sfonillea tltf faouru::iado a a13. (Tugendhat. op. cit., p.47) 
33lbitl. p. 54 
.c 34 Tugandha! felere·sa OIqui l'IO erlo de deriver ~,¢ri~e3 a parlir de descti¢es. E.m oullas palav:as, de 
IJm e, IS, nao cabe derival lim d«l..,e, ooghf. Porqde alOuem ilQe de ltd ou quel modo • fnlo que 3e pode 
deserevar • nao !Ie segue IOgicamenle que se dey;; ;;gll doll mesma forma. A eltprell$ao e de MOOIf! 
(Principia 6th/en), usnda pUra d&l\uneiru 0 erro que 5e comete quando se prooede tI deflnlr 
75 74 
i 
ENSAIO SOIlRE A MORAL DE FHEUD 
POItanto, s6 pode eS!Clr baseade< em UlIUI decistio - e 
no caso ntio se podelia jundmllenlar de ttm mocjp 
gemi -, OU, enlfio, dew poder jundmnen!4Ne a 
priOlt - a p,ton jo"nal, natum/menle, nao metclj<­
sico. Fa;, pOltanlo, Stili mdlCtllizada pre/ensilo de 
ju"da1llenttlftio que {coou Kant ao seu pltncfpio 
moral apriO'lislico-jomwl. (Tuget/dbal, op. cit. pA9) 
1'13 ·CtiUca da Raziio PI'tillctl, no enta:nto, a pr6plio Kant 
define a felicidacle como 0 estado subjetivo daquele a quem as 
coisas Ihe vilo bem segundo seu descjo e sua vontade. Claro que 
nao e a vontade que se moUva pelo beni-estaf senao} ao 
cOlltrario, a bem-estal' que se alcan~a quando a vontade atinge 
seu alvo pOI" dircito pr6pI"io. Embora Kant deboche da idei. dos 
gregos de que somos Celizes quando .gimas moral mente .- pelo 
conteudo positivQ e fimllistico do bem presclito -, a questao 
pemlanece senda saber como deve estal' constitufda nossa no~a@ 
de fclicidade, se ela deve incluir a moraJidade: 
o fonnalismo no princ[pio permite desincumbir-se nao s6 
do conteudo do moraimenle presclil~ como! principalmenle, da 
motiva~ao moral - ou seja I do obscuro objcto do dcscjp, sern 
cOlltudo esclarecer seu problematico statLlS. Esta obscuridade 
nao remete a outra coisa que ao velho problema do 
verdadeiramente quetido j dos interesses bem entendidas e, emu 
isso, da verdadeira felicidade. Como refonTIular a pe'llunta pel. 
satis.f61~o3S sem cair na solu~o antiga nem ;ttolar-se na Cr1lica 
kantiana da perfei~'io? Que pode querer dizer equivocar-se 
quanta aos nossos intel'esses v€l'dadeiros au. necessldades 
aulenticas? 
plopri~3dll$ como '80m', '!USkl', ale" em \lumo$ de p!opriedodos naturals. Por axamplo, ufiuT",r que 
aqUila que me 1M! bam (no sMtldo-de '6 pre%1!roso parn mim') e bom. A folacin inl/elsa nil6l! menM 
lreqlienle, a stlber, ptJ9Utlr do doever no Nr e que so chama fl.1lricin idelllisltJ, 
35 Veremo5 como a p,h::ilrn!ilise mudn essenci<llmenle n QuoiliAo do Stllhtlayio dos '<lpeliles' <10 
deslocar 0 problema <lpelilivo p~ra 0 do eumprimanlo do doseJ¢ (WVrtSchedu/lMg). 
76 
A ETICA DA PSICANAIJSE:·RESPONDEH PELO SINTOMA 
Tugendhat argument;; que para conceber a feHcidade de 
um modo puramente formal e preciso acreclitar na possibilidade 
de um crite.io segundo 0 qual a uma pessoa vilo-Ihe bem ou maJ 
as coisas, independentemente de seu bem-estar factual presente 
ou futuro. Para os gregas, 0 organismo fOl11eci. um cdtedo 
objetivo do estar bem, independente da vontade, e que se podia 
lOlnar como normativo. 
Partem e1es do pdncipio de que seda irracion,al querer 
estar doente au soffer dar sem motivo. Donde 0 usa da sallde 
ffsk:a como modelo, como se V~, m~jto mais que uma simples 
analogia. A no~ao de fun~ao, e'1;gon, tOl11a-se capital e a 
enfermidade pode definir-se como a menoscabo da capacidade 
de funcionamenEo do COlpO como organismo. A sat'ide
t 
por sua 
vez, estalia na hannonia e no equilfb.io das fun,aes. 
ObselVemos, pais, que tada vittude ou excelencia nao 56 
coloca em boa condi91o a coisa de que e excelencia como 
tambem faz com que a fun910 dessa coisa seja. bem 
desempenhada. (Etica a Niromaco, livre lI, 1106 a, 17) 
A questao e se e de que maneil"l1 ou ate que ponto 
podemos seguir ainda hoje os gregos, estendenclo 0 conceito ·de 
fundonamento a alIna, na proCUl'a' de um conceito formal de 
saude psiquica: saude como hannonia e equilibtio, tanto dentro 
como fora do corpo: mens sana in co/pore sano. 
2.11 A livre escolha 
Tugendhat Sl1stenta que a psicandlise pellnite "enovar a 
vellia questao gl'ega da e"da/monia. Retomar 0 problema sem 
abandonar a exigencia de fonnaliza,ao que llie parece, a justa 
titulo a meu vcr, um ganho in-enunci.:ivel da rellexilo fiIosofica 
modema. 
77 
I 
V 
I 
I 
I 
I 
http:equilfb.io
http:crite.io
ENSAIO SOIlRE A MORAL DE FREVD 
Com que conceito de' saude animlca opera a psicamlllse? 
o slntoma, de seu ponto de vJsta, define um sujeito cujo agir 
deixou de ser autonomo, Na neurose obsessiva (Zwangsneumse 
- literalmellte, neurose de compulsao). por exemplo, 0 doente 
age sem liberdade de nao agir Sua falta de autonomia, note:-se, e 
relativa ao fluerer, nao a f"dzaO. 
Tugendbat acredlt. ter encontrado nesta zwanghcift. no 
conduta corripulsiV3 j a resposta para ·sua prOCUf"ol de um cJ'it(~rio 
formal de ,06en", pslquica que nao se' reduza a capacidade 
funcional do IncUviduo, Tl"Atar·se·ia do menoscabo da 
capacidade de exercicio do querer (p.63), Do ponto de vista do 
desejo. haverja aqui um;) norma independente rus tnetas em 
cada caso subjetivas do querer. 0 normativo sel'ia que, como 
seres volitlvos, als lft"ollende., no senLieio de !!livres eleitol'es'" 56 
podClllOS qucrcl' nao, (."Smr llnutados nu nossa capacidadc de 
cscolbcr. Nas suas palavras: 
De pmxe naci conhecemos a medida da 
compulsividade de nosso quere/~ mas conhecendo-a 
smia il1"tlcional querO-la - assl1n como e l:rl'tfcional 
quer~r estar doenle -, e a 1rJlaf{lo eaqul ainda mais 
intiH1a~ .polquanta qU81'er estat' dOlmt.e nc70 e 
ciesejcivel apenas em sij podan:amos ler bons motivos 
pa.ra quemr astar doonles como meio para outros 
fins, ponim, jamals para nao quemr escolber 
j6
livremente.
Tugendhat segue aqui um psic:analista, I..~wrence Kubie", 
que considera impossivel recusar a libe"dade de escolbel'. Se a 
patologia do desejo esul na 'dificukl1de para seu exerdcio. a 
saude esrara na livre disposl~o que tiverI110s de nos mesmos. 
3$ Tugendhn!, op. cit. p. 64. Eu 9roo­
31 KVBIE lnwrenee S., The p,y·chr.Hln"alili¢ quarterly, 23, 1954, cllndo poi TugarnlMt. 
A ETICA J)A PSlGANAUSE: RESPONDER PELO SlN'IDMA 
·f 
o problema deste argumento, contudo. .. que deixa 
transparecer uma concep,"-o de representa,"-o anterior it critiea 
freudiana da mesma l afastando-se, com isso, de Freud e da 
pSicanalise num ponto decisivo. A compulsao de que Tugendhat 
nos fala nao pode ser devidamente ~aprecjada sem abandonar 0 
pressuposto de que a consci1!ncia acompanna todos OS 
"pensamentosl! e que mediante urn esdarecimento adequado 0 
neurOtico poderia ter uma repfeSenta~ao "con'eta ll do objeto. de 
seu- desej6. Mas esta e precisamente a Crr~iCl freudiana: a 
~presenta~aoj iSlo. e, a consciencia, nao se ~onhece a s1 pr6pIia 
e nem nunca se . conhecer::i. E aqur reside todo 0 problema: 
como I apesat' disso, continuannos a falar. em desejo, libercbde, 
responsabilidadeJ etc, elc? 
Malgrado 0 nome, 0 inconsciente freudiano nao e um 
inacionaJ a ser conquisrndo pela' raz.;o. 0 inconsciente e antes 
uma razao que radodna sem 0 sujetto aperceber-se disso1 0 que 
e bem diferente. E a ques~~o e 'Ineno" conlunicar ao neurolico 
um 'conhecimento de que careceria - basicamente, porque unla 
vez infonuado pelo analista nada mud.,;! quanta ao ess,encial, 
ele cOI:Hinuara agindo COlTIO se nao soubesse ~, que' introduzir 0 
sl!jeito nesta rnlio que pensa sem ele. 
e sintoma nao se' limita it ignol'llnda do neurotico quanto 
a seu desejo. Tanto nao se Iimita que foi a Ineficicia cl~ 
interpret.1.~o, ate enta~ con~ebida como l,llTI aCl'escimo de 
infollna~ao, que levou Freud a tnudar sua cHnica e sua teoda J 
intl'ocluzindo a no~ao de reslstencia, plimeit'O, e, pl'ecis::Il11eme l 
de compuisao de repeti~ao (I'f'iedeJhoiurlBszuxm{j)depois, 
Embolo:t 'Tugendhat tenha 0 cuidado de notar que a 
referenda a verdadeiros interesses nao itnpHca em absoluto que 
exiSt3ffi obje~os adequados ao desejo, e que vcrdadciro deve 
se~ entendido em sentido adverbial nao adjetlvo. iSIO e, ql.e 0 
"verd.adeirQu refere-se nao :ls. metas do desejo sen~o· ao como 
79 
'.' .' 
I: 
78 
I 
. :: 
ENSAIO SOBRE A MORAL DE FREUD 
(Wie) do querer, ainda .ssim eIe v@-se levado a atrelar, junto 
com OS existencialistas, a libel'dade il pura fOlma do desejo. 56 
escolhe de verdade quem escolhe livremente, E livremente quer 
dizer, n~o vejo como entende-Io de outro modo, senTIOS donos 
d.s determina<;6es de nossa eseolha, OU, no minimo, conhece-Ias 
com antecooencia. 
:, , • UPl; pslcanalista, . entretanto, manteria uma certa l'eserva 
frente ao b.~lo tel1no "Ilberdade', Nao precisa ter presente • La 
Boetie para que sua pratiCl ensine-Ih" a aptidiio do homem para 
a servidao. Veremos a seguir que esta tendenda it su!)servi@ncia 
nao e, longe disso, um defeito contingente do ear.lIer de alguns, 
mas uma decolTenda 16giCl do fato de nao haver para 0 desejo 
hu;nano um objeto natural 4t,e 0 satisfu<;:i, 
2.12 Urn deseja sem objet<> 
Sob sua Janna p,;meira, quando Jot dada aos 
homens pelo p1'I5p.;o De~, a linguagem era um 
signa lias eoisas abso/utamenle celtO e 
lranspmrmle, porque se Ihes assemel/)ava. Os 
names eram depositados sabre aqullo que 
'riest'gnavant, assii1l como a f01'f« estd esclita no 
CotpO do ieiio, a 1'r!aleza no olhar da agtlia1 como 
a injluencia dos planetas esta 11JaI'cada na fronte 
dos /)omellS: pela Jomla da s';",i/Ilude. &sa 
tmnspariinela Jm desl1uida em Babel para 
punifetO dos h017lens. As lingu!,s Jomm sepm'Cldas 
umas dc,s oulras e se tOl'rlttrClm itncompatrvet's, 
somente na medida em que an.tes se t!JJCigou essa 
80 
.\ 
,1 
A ETICA DA PSICANAuSE: RESPONDER PELO SINTOMA 
semelhanfa com as cmscis que havia sido a 
p'imeira razao d~ lingu(fge11l~, 
MICHEL FOUCAULT 
Ale 0 seculo< XIX a linguagem nao e cancebida coma um 
sistema arbitl'iilio, faz parte da natureza. A pr6pria coisa esconde 
e manifesta seu enigma como linguagem e a palavra propoe a si 
meSlna como coisa a decif~'ar. 
Que 0 mundo possa tornar-se inteligrvel, que 30 homem 
Ih,e seja dado ter acesso a sua sintaxe, demonstl'a que em cerla 
medida a cdatura palticipa dos designios do criador. 
Esta parlicipa9io 1130 e contemplaliva apenas, 0 criador 
nao somente pode saber 0 que eSpel'<lr da natureza, como 
tambem incidir sobre 0 ,decurso dos aconlecimentos natura is. A 
efidcia do tit? revelaria. 0 estrelto parentesco entre a alma e a 
ordem c6smica, Um ritual e um procedimento que invoca este 
parentesco pa",< agir sobre 0 munda manipulando a linguagem, 
Trata-se de uma lingua que fala diretamente com as coisas ao 
estabelecer os Ia,os entre 0 desejo e as fenomenos naturais, 
Tanto a O1QU.f,tetU1i:l como a medic/.na arcaicas, 
como a mineraflio, a cerami~ e a Unluratia, 
ba~a1·-se-iam. na cllmfa ~e que a alma humana 
poder/a pallicipar dos design/os dos det/S6S e 
demonios 1-epeltndo tiLualfsUcamenl.e suas afOOs, ou 
1'Oubando-/hes OS segl"dos, amm assegurando a 
slmulfaneidade entre a aft70 do tecnico milico ea 
ordem c6smica39. 
38 fOUCAUL T MichffJ, As pn!aV(8S (! S$ caislt$, Martins fon!(!s, SAo Paulo. 1985 (19M), p. 52. 
:39 ALfONSO GOtDFAAB Ana Malia, Da alqull1lfa 6 qU!I1l!t':a, Nova 51eUa, UJp, SAo Paulo, 1981, prelru:1o 
deMo VaIOM. 
81 
http:medic/.na
ENSAIO somm A MORAL DE FlmUD 
A esperan\3- de encontmr na m<1tematica 0 genne de" uma 
,lingua universal (Leibniz) ,revela, no f'lndo, a mesma nostalgia 
pela hannonia perdida, 0 mesmo desejo de I'eden,iioque 
pennitiria I'etornar para antes de Babel, a incsma pl'ocura ql,.le 
caracteriza 0 sonho alqulmico) a saber: UIll real d6cil a 
linguagc~n_ 
(...), Mircea Eliade lIloslm que a cret/,a de que os 
!lIeldis gemvam-se nels pmfimdl.',zas da term, da 
mes111a Jonna qua clrJsciam os jeJos no 1}(Jntm dCls '" 
"Ina/heres, domlncwa 0 pensCl1J1ento milleo. (,.) A 
arte lee/J".? dos cl1qulmis/Cls :;iericl, ClssinI, de'(I 
t'f?j)lvciuzir em slias oflcinas os mesmos processos, 
embora (lce/eracios, POl' que passcni£Hh os mlnrJrios 
ria terra~ em sua lenta Uvoillfc70 ate atingir a /017110 
deflniliva dos ."e/au;. Como, no seiO da terra, os 
metals impulTJs aimejllliam. e allngil'iJ'cnn, C01Jl 0 
passar do teillpo, a /(J/ma i ncon"ptfvel do olil'O, 
asst:m Icon-biiln) simultaneamenle com CI opus 
alclJimica., a alma do a/qui"mis/{f atil1glJia CI 
,.r,' ­mesmap(!"Jje/.~ao '" '. 
Este ouro alquimico que seria a resposta derradeira' do 
real, signo da ha.rmonia perfeita da alma com a matelia e com 0 
divino, da fenda por fim superada entre as palavras e as cois.s, 
este ouro, digo, revela um beJ,o ben; menos esplcndido do que 
.era de se esperar, dado 6 statlls a que diegou de flgur~ SUprema 
do poder e sfmbolo meslllo do valor. 
Sabemos que Freud seguiu seu raslro alraves das.funtasias, 
ate a merda com que as cl'ians;as pequenas <lcreditam presentear 
suas m:les, que deJa deverilo fazer seu maior tesollro. Joia suti! 
ou dejeto fedorento, 0 objeto libidinal adquire sua' nobte 
4(llllld. 
82 
,.-', 
A liTICA DA PSICANAuSE: RESPONDER PELO SlNTOMA 
investidura no deconer das pl'imeiras trocas entre 0 recem­
nascido e quem toma conta dele. 
Nao existe na pslcanalise 0 menor pronunciamento sobre 
o estatuto da coisa-em-si, problema metarrsico do qual Freud 
desincumbe-se, Esta omissao nao implica, longe. elisso, uma 
profissiio de fe naturalista que basea,ia na biologia 0 aralbou,o 
do que depois sera considerado incumb€:ncia da psicologia. 
Sempte que Freud Ian", mao da biologia fa-Io em desespoil" de 
cause, para superar um deficit conceitual que nao lile pel1nile 
Ihnitar ciaramenle 0 campo de aplicaqao dos seus conceitos. 
A op¢o epistemologica fundamental da psicandlise leva-. 
a mover-se, desde 0 inicio, na dimensao da linguagem. 0 ponto 
de partida. para quaJquer reflexao psic:malitica sobre 0 sujeito 
sera sernpre a linguagem, jamais 0 mundo natural. Para a 
psicam\lise, os objetos do mundo silo tais apenas por serem 
signifl~tivos! nAo por sel'em rea is. 
Acreditar numa ordem natUl'" e uma fic,iio, pOl'que ainda 
assim esta natureza reria necess{uiamente que ser refel'id::l a 
lingua gem para tennos acesso'a ela, A i1usao naturalisLa consiste 
em esquecer que entre nossa percep9ao e a consciencia que 
temos do mundo encontra-se ineinediavelmente a Hnguagem 11, 
A conseqGi!\ncla disto e a desnatumliza¢o do mundo. ISIO 
oao significa 'descorporificar 0 homem mas desnaturaHzar seu 
crupo, 0 que e inteiramente diverso. 0 COlpO e diesele 0 come1'0 
41 	Emtxlra mOll' olhos, como 6tQ!os, funcionern da me9ma forma que os d05 esquim6" para· -'nxorgoar' 
a enorme vsrledade do OOrn. q~ eles deelarl'lm ver na palsagem polnr, /) necessluio que eu 8pnmdn 
8 sua IIngua,(e.t\so con1rarkl, para mim aerA judo npenas branco. 
83 
<, 
ENSAlQ saBRE A MORAL DE, FREUD 
apossa<lo pelo, simbqlico, e nao M outro C«>IPO' que nilo aquele a 
que Ghamamos eCOgcnQ, 
o COJpo pulsio",,/' 1140· eurn desvi:o do COJPfJ natural 
(animal), assim cornD a ptt/siio, (Tlieb) w;1o e urn 
desvio 40 instinJ;o t;InstinktJ Pu/Siio niio Ii! desvio do 
inslinto, e diferel1~. Fazer cia. pu/siib ttm desvio do 
inst!nte e Jaze,. da orc/{?m hum",no. uma ordem 
desVlante da ordem ru,tum/, qttl! Iet;a nesta tUtima 
suae.:>:plica,iio. A ordem burnt"''' e caracterizada 
pela linguagem e esta, em. rela,iio ao ru,lut·"I, e 
d ;r, - A~~,' 42 .pum I;etrm§t!, nao ,.",,,)10 . 
Mas a Iinguagem mesma naQ e uma cob,.a 'mordendo seu 
p1"6p~'io rabo. There is nO meaning of in.eanin,g, QU, H1elhol") 0 
wnko significado dO' significadO', se for COITeto afinnar que a 
linguagcm e pUla diferen~", e a car<'lnela de umB; slgnlfica~aO' 
ultima t () hiato entre as palavras e as caisas. Vazio que nenhl.ltn 
. Qbjeto Stlti! viri jamuls a cQlina,.", 
I 
Se a meta do desejo humano, Caino no animal, Fosse um 
objeto natural, momenta~ealnenteausente, poder~se*ia dizer que 
esla [-alla de objeto· detel1nina 0 desejO'. NaG obstante, se 
aceit:aI'IDOS que 0 "apetite1f essencial do sel' humane e, 
42 GJ\ACiA-ROZA Lwz ·Alfmoo, 0 vazJo tI til fllJtli, in Aml/mo dB psicamiiWv, 19!H, Ed. Relu:me·Dumllf~, 
Rio de ]Sl¥IiIO, 1991, p. 108. Uma crfilca da tlOI;<'lo de An/e.h/nlr.g, apolo, dfW&ri&.!'Ill mihila opinil'lo, 
Pilr1w dnquL 
43 au seJn, por nao. exislif umn p;tlevra que seJn n dermdeira {urn s~nil!came so define como eonoo 0 
quo'os-outros.n1\:o siio, donde tods 1IjoniflC~ {Omeles n lJmn bUll!'! signilhwq.'io dernlo dn rede dbll: 
signincames, lndellnidn e circuialmerne}. Cf. DE SAUSSURE, Ferdll'li'.ll\d. CcWll' dB LillgIJitI'IiqUfl 
gtim!raNte"a !eiturn de lacan, FIJlly.'W 8_c.tJmpb dbMJtwm e db lirlglitlg9m (0 denom;tlooo "dfSeU($O d('! 
Rnm<l:'}.:. . -r 
44 Urns critloa nama senlido 5e fILl necessMa qulUldO vamos tonto& annlisll.ls snlandofl!!m <"J pulstio, qOe 
f!reud dellne como urn eotll::eJt04lmUtt enlm 0 P*1qulmno 0 0 aomtUIoo. como um' obltl1o, 
l!tsrnlmeme, pslCO-!lomMlcol 
! 
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t! 
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1,;, 
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~ ,-------~ -'I~-~-" ­ 4 ... t.' ,.>.. 
A :RTICA DA PSICANAuSE: RESPONDER PELO SlNTOMA 
hegelianamente, lIapetiteU pelo desejo de um outro ser humane e 
nao por um objeto que b satlsra~a, neste caso, 0 que Inl 
"preencher" 0 vazlo do desejo nao sera um objeto mas um outro 
vazio, Nada falta ao Wunsch, nem real nem imaginadamente. 0 
vazio e-Ihe inerente. Um desejo humano nilo "quer" nada alem 
de permanecer desejando. Ele serla, neste senti do, intransitivo, 
Uma vez defmida deste modo a finalidade do desejo 
loma-se problematico 0 estatuto da satisfa~ao porque, 
supostameme, ao satlsfazer-se 0 desejo extingue-se, Ora, embora 
a meta do desejo confunda-se com seu pr6pdo movlmento, nada 
Indica que este movimento seja indetenninado ou ao acaso. 
Veremos que ele esta, ao contrado, detenuinado do modo mals 
precisQ. 
Concordo, pois, com Tugendhat, quando idemilka no 
como. do desej" a saida te6dca para sua exig@ncia de 
formalismo, Minha obje.,ao e que ele va procurar a detennina~ao 
deste "oomo" na Iiberdade. Selia esta ultima, em todo case, que 
depende daquele, do modo como 0 ser desejante apropda-se 
cias coordenadas significantes particulares que definem 0 vazio 
que 0 faz desejame. Em termos freudJanos, a pulsilo detenuina 0 
vazio (0 "objeto" faltante) em tomo do qual se organizara 0 
desejo. 
Este objeto-vacuo esta para 0' desejo cO'mQ q pco pam 0 
dintaro de que fala Heidegger: 
(0 oleim) niiO'Jai7Jica em sentidO' proprio 0' diritam. 
EIE dti Jonna a argila. Que digo? EIE cld Jomla ao 
vazio. E peto vazio, eneIE e Q'pattir delE que molda 
85 
! 
I 
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I 
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I 
http:annlisll.ls
ENSAIO saBRE A MORAL DE FREUD 
a argila para fazer com ela' uma coisa .que tern 
forma. 0 oIeiro apreende em primeiro lugar e s6 
apreemk 0 inapreens{vel do vazio, f= dele um 
continenle e da-Ibe a forma de um vasa. 0 vazio do 
canlan) determina todos os gestos da sua produ¢o. 
Isso que f= do vasa uma coisa nao reside em modo 
algu,m na materia que 0 constitui, mas no vazio que 
'r45 . 
,contem . 
o ge1;to do oieiro, provavelmente 0 primeiro ,rtesao de 
que se lenlla notlei" e 0 gesto humano por excellilncia. Contra 
tudo que se nos ensina, que nad. sai de nad., e dali que 0 
oleiro tira sua obm, do puro vazio. Este vacuo assim fOrjadO ex 
nlbilo tern urn estatuto multo peculiar. N~o e nem ser nem nilo­
ser. Emborn seja 6bvlo que nao €Stamos falando de urn ser, uma 
especie de vazlo em-si, metafisico, iampouco podemos dizer que 
esta v.wid.de seja simplesmente n.d,: ela e algo. Canmcia de 
SlJr, sim, porem, carencia que define a essenci. do desejo tanto' 
quanta 0 oco pode ser pensado como 0 essencial do vasa. 
E ambos, a carllncia e 0 oco, definem 0 humano porque 
sao produto da linguagem e nao existiJi.m sem ela. Poder;se-ia 
dizer que 0 sentido mesmo de conter e de verter (urn l1quido) 
niio preexiste ao ato do artesiio, que sua Obl'a furida.tais sentidos 
n. oposi,iio que os caracteriza. Lamn aproveita este cintaro 
l)eldeggeliano pam nos apresentar seu significante desde urn 
angulo nilo lingulstico. 0 vaso, como oco enformado, seda 0 
significante. Cheio/vazio, os significados que ele gem. 
Inten'ogado acerca de sua ontologla, Lacan responde 
mediante a elabora,ao conceitual do V'.lzio, do carecimento, do 
hlalo e do cOlte. 
A ETICA DA PSICANAUSE: RESPONDER PEW SINTOMA 
com que nos aparece de saida 0 inconsciente como 
fenomeno - a descontinutdade, na qUal alguma 
coisa se manifesta como vacifa¢o. Om, se essa 
descontinuidade fern esse an-dter absoluto, 
inaugr.'raJ, nO caminbo da descoberra de Freud, 
sera que devemos coloca-Ia - como fbi em seguicla a 
tendllncia dos ana/istas - sob,,!! 0 fundo de uma 
totalidade? 
Sera que 0 um Ii an/e.ior a descontinuidade? Penso 
que nlio, e tudo que ens/net esses Ultimos anos 
lendia a revirar essa exigencia de um um fecbado ­
mirage", aqual se apega a ref€1incla ao psiquismo 
de erw6Jucro, urna especie de duple do organisnio 
onde resldiria essa falsa unidade. Voces 
concordatiio comigo em. que 0 um que Ii 
introduzido pela experihJcIa do inconscien/e Ii 0 
um da jimda, do tmfG, da ·n.pmm.46 . 
Um e diferent" de uno. A unid-ade conrovel, que pode 
adicionar-se ad infinitum, nao e identim ao conjunto tOlnado 
'em sua toralid-ade, unillcado. Psicologicamente partimos do Wl0, 
do continuo, do todO representado pela imagem de noSSO COlpO. 
Estruturnlmente devemos pa.tir d-a lingl.lagem, iSlO e, d-a cadeia 
discreta do significante, do urn, portanto. Qualquer no~o de 
global depende da linguagem composra, por sua vez, de 
unidades discretas. Esra diferen.,a pennlle opor it apreensilo 
imagimhia·do corpo Como Gestalt, como continente fechado, 0 
ihconsctente definido pela fenda, 0 corte, 0 i:r3.,O, a 
discontinuld-ade, enfim, pelo vazio. 0 inconsciente nilo nos deve 
remeted., fulta de conceilo (como q preflXO 'in' levalia a pens,") 
mas ao conceito de fulra. 
A descant/nil/dade, esta. e entfio a forma essencial ,, 
48 LACAN J4CquH. Ut&tmfnm, ftv,. xi, Seuil, POinl9, Parill, 1973, p. 34; ed. bres.: 0 Semirtoric, Iivm 
45 HEIOEGGER Mar1Jn, La Ch~8e, in £$$s,fs et confsrence.. G(lt!!mard, PariS, 1Q5fI Xl, J.l..E., R.J.. 191$, p.30.. , 
86 87 
http:n.pmm.46
http:v.wid.de
ENSAlO SOBRE A MORAL DE FREUD 
Aqui bIota, uma Jonna desconhecida do il1l1, 0 UII do 
UlIbewusste. Digamos que 0 li~nite do Ullbewusste e 0 
47
UllbegliU - niio 0 niio-conceito, mas 0 conceito da/alta . 
2.13 ~A scrvidao voluntiiria 
B,:istil'tnos, a quem seni que se destina? 
CAEI'ANO VELOSO 
Talvez seja· uma negligencia da pSicanalise 0 fato de se 
conti.nuar a fal;u em tennos de "rela~6es de objet.q". 0 conceito 
de. rela~~o objetal imp6e de imediato a no~ao de uma 
completude, de uin preenchimento, 'contra 0 pano de fundo de 
uma troea simetliea entre·.o sujeito e ~eu objeto.. A cllnica. 
psieanaHtica. funda-se por irrteiro na decisao te6lica. de 
abandonar aquela referencia em prol da convic~a6 de' qu.e a 
subjetividade humana esta constiluida precisamerite pela falta de 
objeto (a pulsiio e Objeklloss). 
Em todo caso, e pelas mesmas raz6es que levaram os 
psicanalistas, durante anos, a conceituali~rem esta constilui~ac 
em tennos de ftlJstra~ao e de .pIiva~ao, i.SlO e, referenciada a um 
objeto tido e perdido, a subjetividacle de. cad. qual inscreve 
regulannente esta ausencia de objeto em seu proprio debito. Em 
outras palavr~s, COITIO notava Descartes, a .criatura· considera-se a 
.macula na perfei~ao do cliador. Como de um ser perreito 
odgina-se alguem tao cheio de falhas? Nao fosse por mim Ele 
47 Id., ibid. A brincodeira ~nl'e 0 unlranc6s e 0 Un olemdo, entre 0 1 do unidade e 0 'in' de inconscienle, 
prelende Ber conceiluol: 0 .elltotulo do lnconsciente deve lIer procurodo ns rolla que atete 0 objeto do 
conhaclmento e esta, por sua vez, resulla da a~oo do signilicante so~re 0 sujeito cognoscentI!. 
A ETICA DA PSICANAuSE:RESPONDER PELO SINTOMA 
-f 
selia perfeito. Ter nascido tOlna-me culpado pela imperfei~ao 
divina48. 
A expressclo de· Caetano, citada em exergo, e a pergunta 
mattiz de toda religiao. Revela a nostalgia do ser faltoso, voto 
inevirnveJ que empurra 0 sujeit6 a apelar a urn Outio, com nOli 
majusculo, ~upostamente capaz de diIigir a sua vida. 0 Fuhrer, 0 
-\ 	 guia, assume seu mandata sempre por delega~a.o dos que iraQ 
servf-lo. Nada, na verclade, tOlna-o gabatitado para mandar49, a 
nao ser a cren~a compartilhada de que ele esta autorizado por 
aquele Outro eln pessoa. Que este Outro nao exista, que seja 
uma entidade imagimhia construlda pelo desejo do sujeito, nao 
muda nada enquaQto se acreditar nele. £~istinnos destina-se a 
ningue11l, esta selia a resposta que uma pSieamllise (qualquer 
psicanalise) dalia ~ pergunta de Caetano. 
50Laean nao vacilou' em qualifitar de deli1"t1nte a concep~ao 
Illodenla de liberdade. Quanta mais nos imaginannos livres e 
mdependenles, isto e, quanta mais recusannos nossa 
delGllnina~o significante; tanlo mais atrelados estaremos a 
suposi~ao de queaquele COIpUS a ser decifrado, com. que nos 
defrontamos ao vir ao mundo, esta habitado. 
No ·nfvel 'em que 0 significante acalTeta a significa¢.io ­
nao no nfvel sensoIial do fen6meno -, ouvir e falar sao como 0 
direito e 0 avesso. Escutar as palavras, acomodar 0 ouvido a sua 
modula~ao, e ja ser mais ou menos obediente a elas. Ouvir (e 
48 Aeliro-me A determimi~o:do ~ujeilo pelR linguagem. Nesta perspective, 'pai' 0 'mAe' soo dUBS 
liguras de que nos servim05.para lalar ~as relR¢es de estrulura enlre a crian~a e a lingua quo ola vern 
8 habitar. Para evitar eni:.a~nl!r a eslruturs lacan inventa uma especla de 'Algebrs', uma nola~o em 
lelras que pretende mostrar as reln~Oes sem substnnciolizb.·la,. 0 plobiema, na minha opinilio, e que 
o que se ganhs com ela perde-se com a rigidez e 0 automslismo no uso das lelros, que terminn 
comprometend~, as vezes de modo irrevorsrvel, a tran9mi9s~0 do conceito. Em todo caso, para 
aqueles ramiliarizados com esta nOla~o lacaniana, digamos que neste capitulo Irata·se dB dilereni;3 
, anlre 0 sujeito como (a) e 0 S(A), e no eopltulo anterior Iratava·se do su/eito como menos phi e 0 A.' ,­
49 ImpOs·se uma nuani;3, nem todo mundo consegue ser "der. Selin multo inleressanle esludat as 
condi~oos que lazem posslve! pars alguem ocupar este lugar de suporie do! Identirico~Oes. 
50 LACAN, OS6minlirio, livro 3, As Psicoses, Znhar, Rio de Janeiro, 1985 (1981), p. 159. 
I 
88 
I 
http:significa�.io
-
~ . 
ENSAlG. saBRE A MORAL DE FREUD 
entender) e ja uma fonna,. de obedillncia.: Nem e mesmo 
necessario que alguem noS inande, a dimensao imperativa ,que 
inaugura nossa posi~o original de subselviencia ja se encontra 
na lingua. 
Jakobson mostrou que um Idioma se define merlOS 
pe/P que ele pemlile dizer, do que por aquilo que 
obl?ga a dizel' . 
" 
Cada vez que imag;namos alguem instalado no lugar do 
Outro (suposi~o lmpllcita na 16gica de nosso diScul'so, com 
celteza nao e necessano acreditarmos njss:o de um modo 
manifesto) amaino-Io e suometemo·nos aos seus O1andamentos. 
Dormimos enquanto Ele vela por n6s. "Ele manda em mim" 
deveria ser entendido COlno lIiss() me comandau, e a pslcamilise 
ensina que cada um pode aprender a localizar desde onde !sso 0 
comanda. ''1sso" e um significante e Sua oOscura autoridade 
.origina-se no luga< vago do objeto do desejo.· Nao e racil 
perceber este vaiio de poder, contudo, pOI'que 'minha fantasia 
cria as condi~oes para que alguem possu, em nome deste 
significante, preencher imaginariamente a vaga do objeto causa 
do desejo, provocando assim minha incondicional selvidao 
voluntaria. 
Tugendhat achava um aosurdo. e um oontrasensa que 
alguem pudesse nao querer ser livre de escolher (ver supra p 
83}. A menor expelienaa analilica demonstt'a, nb entant<:>1 que 
esta Ii a plimeira Iiberdade de que q neur6lico aore n1.~O: Dm 
conforulvel fiasco e as vezes preferfvel as incertczas do gozo 
pa!'a 0 qual a fantasia 0 empun'3. 
Quem e, pergunta Kierkegaard, que a/gwna vez nao 
51 BARlHeS R., AU/D, Culll])l. Silo Paulo, p. 13. 
90. 
A ET1CA DA PS1CANAuSE: RESPONDER PELO SINTOMA 
pego" com aspn5prias ",aos na lampada magica e, 
a despeito dissO, viu seu gozo ewalr-se por terem-se 
apagado de tepenle todos seus desejos/' 
E lacan: 
.; 
·f 
Quem niio S<lbe, par e.xper;encia, que podemos nao 
quet'ergozai:? Quem niio sabe dis/o, POl' e.,-"pe1iencia, 
para saber esse 1'eeuoque i1l1POO a cada ",n, no que 
ele compor/a de at'mzes promessas, a abordagem do 
gozo como tal? Quem niio sabe que podemos niio 
quererpe'lSal:? ­ clf estt:i, para nos da,./eslemunho 
disto, todo 0 co/agio IInfwl"" dos pm/assoms. Mas 0 
que pade signiflCcl1' lllio qUe/"e," desejat·? Toda a 
e:>.pedi?ncia ana/fUca ­ que nao /az m(lis aqui do 
que dar/onna ao que estd para cada Unt na luiz 
mesma de slIa B..'\:j)eriencia - nos testemu11ha que 
nao querer dese}",,' e dese}m; silo a mesma coisa C.') 
Niio qUIJ,fJI' desejm; eque,.",. nao desejar.53 
,,.,. 
E Bmthes: 
Um mandarim estava ap£(i..\'onado POt" uma cOlfesii. 
lfSemi sua, disse ela, quando Ut'er pClsse/do cem 
noites a me esperar senl.ado nllm banquinho, no 
meu jcnriim) embtd:.>.;o da tninha janela" Na 
nonageslma nona noite~ 0 mandatim se !evanlou, 
pos a banqllinho embClixo do brafo e se fo/.54 
52 KlERKEGAARO S. In vine vsrit.u. Guadnfrmna, Madrid, 1976, p.34 
53 LACAN, 1913, op. til.. 1'. 261, ed. bl'M,: p.222. 
M BARlHES R. Fmgmenl09 de um discvmo D11/M')$C, liv. F. Alves editcfa SA, Aio de janeiro. 1981, 2n 
ed. 
91 
! 
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ENSAlO somus A MORAL DE FlillUD 
Nilo e, pois, nem um absul'do nem um contrasenso 
imaginal' quealguem possa nao querel' 0 quedeseja ou, ao eon­
t"ilio, desejar aquilo que nao queI'. Basta distinguil' eom Freud 
entre 0 dcscjo incollscicntc e a vontadc atrclada ao c~u, 
"Exisle em ti um desejo. que sej" tlla vontade?" Esla 
poderia sefla injun<;ao que 0 sujeito reecbe do slgniflc1nle em 
posl<;il.o de iSenhor c Amo. Figura de seu prop'iO desejo, no 
medida' em q.ue este desejo e para ele, antes de mais nacia, Ulll 
enigma. Chegado 0 caso, tel' de responder (pOl') este enigma 
pode reSllllar insupo,tivel. Con~1ram-me a s'olu,"oardilosa que 
encontl'ou uln homem - um neuI'6tico obsessivo, segul'"amente ­
para imaginar a respost.., que d3ria ao genio da lfimpada miigica 
quando este Ihe endere<;asse apel'gunla fatal. Di,;a: "Eu quem 
aquilo que 0 senhor sabe muito bem que eu quero ... 1! 
Epreeisamente pOl' vivenciar seu desejo COmo algo alhelo 
qt.le o. sujeilo apl-es&1r-se~~ a se.guir ale as plores sugestoes 
(prinCipal mente as pio ..es) do pJ'imeil'O que aparecer com ares de 
sabet 0 que Ihe convem. Nenl1~m ,tiro-no se apresenlou ;arnais 
Como alguem que pretendesse submeter os outros' a sua 
von lade. Multo pelo cOlllriilio, ele 1l~0 passa, segundo diz" de 
um zelador de nosso bem, um deposit.1rio dos nossos 
'Vcrdaddros interesses. Como nosso .gente ele gamnte-nos ° 
cumprimento de nosso desejo, que sera satisfc1to no seu devido 
momento, a" condi~ao de que, entremenles, contlnuemos' 
ttnbaillando. 
I 
t 
pARA CONCLVIl1 
Tudo comefou com tim engano. 0 
teliifone tocando Idis vezes na calada da 
noite e a voz na oulm panta do fl.o 
pel'gunfandoPOl' algutim que nao era ele. 
Muilo mais fal'de. quando fosse r::apaz de 
pensal' nas COrSC!S que lhe Uf/ham 
ar::ontecido. chagmiC/ aconciusc7o de que 
nC/clC/ fo; mal excelo a SOlt'/. 
PAUL AUSTER 
Unm vez urn pSicmaiista Jan,ou pam Sua plateia a f6l1nul. 
de que 0 proprio dOl psicanalise era ter uma lletica OC<lsionnl ll 
(sic). Ao que the foi ..ell11cado que talvez nao eSlivesse 
anunciando com isso nada aiem. de seu proprio oporlunlsmo 
poHtico.' Ele quer;a dizer, claro, que ° esperavel de um 
psicanaUsta era que aproveitasse a ocasiiio que 0 discurso 
oferece p:!m devolver '0 locutor suo pr6pria palavra, que ele 
pod~n1 assim apreciar no seu justo valor. Mas) nao foi isso 
meS1110 que . fez quem 0 contestou,aproveitando-se da 
ambigUidade do tlocasion~t111 para at.acar 
. confinnando nao obstante sua tese em ato? 
0 confel'encislrt 
1 AUSTER Paur, Trilogfll de Nue...n York; JIICM, Mndrid, 1991, p.13 
93 
-...''­
.:-. ­
92 
ENSAIO SOllHE A MORAL DE FREUD 
o intuito do psicanalista e tentar pegar pelos cabelos a 
op01tunidade que, sabe-se, s6 tem cabelos na frente e e careca 
pOl' tl-aS. N~o acredito, como meu colega, que sua etica 1"0= ser . 
reduzida a iSS?1 pOl'em, com toda certeza esta aqul a estl'ategia 
fundamental de sua polltica. A politica da pSicanalise, e preciso 
dize-l0, nilo ~e reduz aos avatares da vida institutional· "da 
comunidade dQs analistas. 
o poHtie~" da psicanalise e. inerente a seu exerc1cio'. A 
pratica da regra' de livre associa~ao, POl' exemplo, estabelecida' 
no com~~o de seculo como 0 meio pal" fazer vir a tona uma 
verdade que eSl~ .aiem da boa ou m<1 conscienci. do paciente. 
Gar"ntir a. assoda>,!o. livre, contudo, nao e suficieme. Ainda faz­
se necess,bio atentar para as consequ<;ncias da reviravolta dos 
anos vinte, quando OS fracassos ter;~peuticos levaram Freud a 
reconhecer que 0 suj~ito nunca se Hvral'1a de seu demonio 
intelior, e que melhor Faria se contasse com ele na hora de 
culdar dos seus Inlel'esses. 
o critel"io de CUI" muda decislvamente face a esla 
descoberta. Nao ha escolha no que tange ao sintoma. Melhar 
ainda, 0 sujeito deve ser levado a perceber que nao the e 
possivel furtar-se a uma escolha ja feila - pcrque a neurose (ou 
psicose, ou perversao) e a polltica de um simoma q~e se ignora. 
Os rerursos laUcos (ou tecnieos) de um psiam:liista devel-ao 
estar olientados estrategicamente de modo a facilltar ao sujeito 
em anallse a descoberta de que uma outra l)()l1tica do silltonla 
e possiveL 
:::1 D.lmos com 151>0 a r.<t~lio DOS" que sempre crillCtltam $1)11 lndileruOI;:a em materia de politico, 
qualllknndo·a de pritlicn 11 servj~ dos inlereS$e~ da bur(Juesla mai$ rclrograda? Nile dames, nem 
dODlnms de d;lf. Esle nfio \\ 00$$0 debate. A particlpalj;ao dOG psictln;)li$\oS oos acontecime-n!os 
conjunturais tin hi6loria pede (e deY(;l) ser cobrada, e. nos maimO!! '.rmas que a de qualquer O\.jlrn 
etllegoria proUssional que Sa, prelenda omibr de lomar partidO em nome tie sei !{t q\lal to:tra< 
~. lenitoriolidade an sun dliiclpHrm. . " 
< 
PARA CONCLUIR . 
Depois de uma psicanaHse, quem liver feito a experiencia 
pode.." dizer, COmo a persona gem de Paul Auster na Tlilogia de 
Nova Jorqlle, que nada fo; ,-eat excato a SOlie. Os eventos ao 
acaso - by chance- que precipitamm sua a~ilo e 0 desfecho de 
seu rrdrama pessoal lt , poderao ser tomados como necessarios
J 
sem que para isso ele deva acreditar que esta necessidade 
origina-se em qualquer outro Jugar a nao ser na sua proptia 
decisilo de proceder 'desta maneira. 
Maquiavel, segundo .Althusser', coneebe os lances da 
"fortuna" como oportunidndes para 0 Principe· exercer "politica 
que convem aos sellS interesses, Tambem' 0 neurotico faz da 
"fortuna ll oClsiao para inscrevel' a propliti subjetlvidade. Apenas, 
ele nao percebe que se U"ta de uma politica, de sua poliLlca. 
Sobretudo depois de atingidos os fins buscadospelo de",jo :... 
. ITIuitas vezes para hon'or do seu Uagentell -, quando sOlte e 
cilculo tOlnam-se indisce111lveis. 
t 
Acredito que 0 fascinio dos analist.~s, desde Freud, pela 
tragedia deve-se menos .os temas (parric1dio, incesto, etc.) do 
que It posi>,!o da person.1gem trugic" frente a seu destino.· 0 
heroi nao duvida que 0 or-kulo manifeSIa um real que Ihe 
conceme e que ele deve agir em consequencia. A palavra 
oracular - ponto no qual se enlrt,a a luche (real) com 0 
automaton (simb6Iico) - e a condi>'!o necessaria par" 0 her6i 
tdgico salr ao encontro de sua sorle. E.l)te ir ao encontro faz do 
f.talisma da tragedi. nlgo diferente de uma resigna~iio passiva 
pe'''l1te a fado. 0 hel'6i nilo espel" por seu desLino, [,-10
I acontecer. 
T~davia, 0 que isso tudo lem a ver com 0 neur6tico? Sera 
qut? aJguem acredila seriamenle, no hCl'oismo ttigico do 
neurotleo? E pouco provavel. Dig,unos que tomar 0 destino 
3 At. THUSSER lovis:. D MUltl dlJllJ muilo temp<:.. Cottlpanhla dns l.elfm;:, Si'lo Paulo, 1992 p.213 
94 
", -. 
ENSAlO SOBRE A MORAL DE FREUD 
esta fig"ra do· silltoma - ·nas proprlas maos nao consta dos 
pianos .de quem solicita lima analise. Pelo menos.. nao no 
. ~', 	 come90, A posiqao inlclal eslil. represenwda antes pela queixa 
que denuncia uma desordem' com. qLlal 0 sujelto n~o pode 
ainda ,se corhprometer. 
Preud !)lio duvidou em qualilkar de inoralmente valdosa 
esta poslur •. , Ele denomina voidade moral qualquer pretensao de 
valora¢o "tiea que faqa 0 sujeito imagil)ar que pode 
deslncumbir-se de tudo de lui,,!, que bd no 'sso·, sem precisa!' 
responsabilizar 0 Eu pOl' esses conteudos, 0 conhecido lema: Wo 
. es UMU: solt feb Welden, nno quer direr outra coisa. 0 Ell deve 
poder levar em consideraqao conte(ldos que Ihe escapam pOl' 
definiqao, 0 problem. consiste em saber no que se torna este Eu 
uma vez que toma para sl tudo de lUi", que hd no isso, 
'Embora aquele candidato ao diva de Weiss, 0 senhor A 
(cf. nossa introdu¢'o); 'sej~ ~I'; caso e~tremo dest:! void"de 
0101<11, ate 0 ponto de Freud considel-ar inutil qualquer tentaliva 
de engaja"lo numa' psicamllise, sua POSlul-a nao Ii muito difere11le 
da provocada pel. culpabilidade nelll'otica em geraL Com efeito, 
nao apenas 0 senlimento de culpa n.'io implic.1 qualquer 
responsabilidade no que tange 30 inconsciente, como pode 
aconteee,. que seja precisamente esta culpabilidade (relativa ao. 
narcisismo) que impede ao sLljeito I'esponsabilizar-se pelo seu 
descjo (cuja condi¢o to a I'entmcia a posiq<10 imaginaria de falo 
malemo), A culpa e i responsabilidade sao noqoes anlinomicas 
para a pSicanalise. 
POl' que enrubescemos ao sermqs surpreendidos POl' um 
ml)SO, conl0 se livessemos side flagrados menlindo? Nno j como 
"A fe~pon$nbilldru:la moral pele com.eiltfo dos sonhos, op. eiL, \'0119. 
96 
! 
I ,I 
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PARA CONQUIR 
se poaetia .creditar, pOl' tenTIOS revel.do· um:desejo oculto, 'Utn 
chiste 'mostr" 'lim. 'desejo ocullo semenvergonhar nlnguem, 
Antes,. pelo·· contralio, '.0 sair' Com lllTI graccjo, 0 sujeito faZ"se 
representar por'algo que Ihe vem do inco'nsciente, ao passo que 
no lapso ele' apaga-se : nO"momento" da emergencia' do 
signi6amte de seu desejo;' no· qual nii'O se reconhece, A 
vergonha expdme a culpa pela, sua cl.udiCa\Oao, Ele nao eswva 
onde devetia: no lugar onde falade verdade, Ao faltar aS5im com 
.'~ua pal.v", 0 locutor revel. ler 6pta.do pdo'narcisismo faljco, 
encontl'ando-se desta feita em' debilo com seu 'pai simbolicoS• A 
, .' I, 6 : ' 
partir desse momento, como lembra Didi~r-Weill, ele passa • 
viver sob a inipressao de estar sempre mentindo e de ter que fie 
justificar per-dnle urn tdbunal' que Ihe formula a pergunta. 	 . . 
aten-adora: a titulo de qu@ voce fala? Em nome de quem? 
, . ," , ,. . . . . 
o objeUvo do sonho e precisamente tramitar 0 mesmo 
slgnificante que no .Iapso deixara pasmado 0 sujeito, Sonhamos ­
esta e a lese cenlral da Traumdeutllng pat<l redarguir, com 
efeilo rewrdaao, umaquestiio que ·nos interpeJara e que nao 
soubemos replicar na hOra. Ao sonllar voltamos ao ponto em 
que fomos surpreendidos pel. pergunta, a'6m de restabelecer, 
mediante 0 sonho, nossa. conUnuidade s"bjetiva, de certo modo 
inlelTOmpida a pattiI" do momento em quefical'amos sem fala, 
isto e, scm representa¢o, 
A resposta do sonho, conludo, levanta para Freud uma 
questaq eliea, pois, embora a questiio desconcertante esteja 
respond ida , nem por isso 0 sonhador .corda mais implieado nela 
do que 0 estivera na .vespera. Porque 0 soollo responde de vies. 
Graqas ao mecanisme .<lenominado. de:do;:amento' 0 sooho 
$ Temos urna dfvida: lIiinbOlioo com 0 pel qve nos sepalO\! dB rollin pos$ibltllRndo-n~ e:iIIslir C'omIO 
'!,IjeUos, nAo ape1'!DS como ap40dicu IAUeos. deia. Conlnrdo eallignris proP6e lolar em cn!di1D-ptllemD,prscisamenle para mtirar da divida 0 senlido de eulpabiffd3de que 0 lotrna <llltfOUfI. ' 
fi OIDIER-WEllt Alain, Funde mna 0011#119, ffnnlidode dnpsl(;;(lnJtlit;e, lahar, Rio, '993, p.23. 
7 0 sonho 5e org~mila em to/flO de uma tepleSenle.~o sem Imporlttneil.l, I;vJo valor S6 origins no 
Ironslenlncia de vllior de oulrl'l fopresenillvao, esta leca!cada; assoclada cOin ela. 
97 
http:revel.do
"
ENSAIO SOmlll A MORAL DE FREUD 
forneee esUt l'esposta ,:oblfqua, '"destinada 'a evitar 0 ponto 
problemallco. Sonhando:da-se conla de uma .questiiotratllnatica 
para 0 Eu ao mesmo tempo que se mamem sua posi\;iiosem 
modiflc'1~6es8. Ao analisar seus sonhos, Freud propoe-se a deter 
o desloca1l1ento, e,' ao dar a conhecer est.'l analise, propoe·nos 
uma nova e}ica que mlo seja de censur:a, 
A no~ilode responsabilidade apareee .aqui·· bern 
especi(icada;',elu consiste em pamr de se deslocar para relornar e 
penTI3f!.eter' 'no ponlo' em que fom interpe!ado, ilSSuJ<nindo as 
conscquencias desta interpela\;iio? Podemos dizer que 0 
neurOtlco toma-se responsavel quandp pode produzir uma 
resposta metaf6rlca (por substitui,Jo) e nao .penns metonimica 
(por deslocamenlo), Um novo sillnificanCe no qual.o sujcito 
al~-sc a nlvel da pcrgWICl. pcla sua .......(><>SCI.1•. 
.'. «-<f, 
~'. 
NeUI'OStmllXlhl, a cscollla da.. llcurose, e uma expressao 
que Freud nunca' l'enegou
ll 
• Podemos excluir dela qualquer 
. :ilusao ao livre arbftrio. Nao se tl'~tt'.(l 'de "optal' por- um entre 
divel'sos possiveis igualmente presentes". Aluz do detennini~mo 
absoluto invocado POl' Freud, est. expressiio sugere, a 
necessidade de um. Implica¥io (POl' nao dizer um ata) do sujeitO 
para que os dife.l'entes fatores historicos e coristilucionais 
8: 	 Algum Incldente dOl vespera convocou um deM)o ree-ale-ado que pede: para set afeodido. Como um 
zelQdor que reeeb~i$o ume: monsoaam tem ocolda:r nu palfllo, 0 !>ooho aovsa fe(;ibo de:ste deseJo 
sem Que 0 5uleno dava Incomodat-sa pi:)( $ua 001.1$11: Depo'l$ dQ $00110 0 de$$Jo conlilltle ree-ak:ado e 0 
sonhndof p6rmnnae-a no mestr\O desconheclmenlo a seu respeilo em que se enconif<lVa enlas <lo 
Incide:nle que fez Iri~o da de:;pel1l1Ao, ~ oqw Flautl qwril'l di~r. nI'I minha opinllio, quando nolava 
Que 0 sonho allJndlJ MW& de mlli. nnd3 ao denio de dorm«, 
9 A primelra consequencla 6: que 0 Eu d5huuA de eelnr onde 6elava. {OU de ear 0 qua era_) Quando u:;a 
aqueln imogem tOpogf6:!ice p;Jf<l llusbel .ua mtOOme fWo u wnr".); 0 "meno' do !SSO pelo Eu, Freud 
pareee acredllar que 0 Eu dOV(II .air lral'lsfotlf)!\do de a.pefl6nchl antdAica. Ele nao pode manler ar. 
mesmas posig3es uma v8llendO lllel'ldl(\'o 0 .:hamado de eeu deselo incOO$cienle_ 
10 OlOlER-WEllL .Alain, Incoos:clot\ls freu<llullO (II ltMSml••Ao da psicanillise. lahar, Rio, 1990. 
11 Cf. C;!Il1a iii FlWsa <Ie- 2010511896, e Aprodhlp04lip40 IWm (j neUIOS6 00se5Si1l8 (1913} 
PARA CONCLUJR 
evidenciados pela psicanalise assumam seo valor.motivador. 
COlil ce,teza e a causa do neurose que F~eud intcrroga 
quando frll" em escolh~. Por vez eJe faJa em Ilnalidade do 
sintoma, eni outra~ oportunidades refere-se' ao 'motivo da 
neiJrose1 e ainda em ouhns ocasioes usa a expre~b lfrefugio na 
doen",". Sell voaibulaiio e quase sempre teleoJ6gico e se.ve 
tanto para falar do dese.icadeamento como da manuten¥io da 
enfermldade. Parece haver tUna celta estrategia n~ abord"gem da 
eliologi. da neurosc. Freud pergunta-se em primeiro Jugar pela 
fin.lidade da doen", psiquica. Pam, s6 depois, intcl'essar-se pel. 
delermiml~O do tlpo neur6Uco. Nao sao a meSJU;! questao. 
Enquanto uma pergunta: por que se adoecc? a ~gunda inque,,~: 
por que tal neurose e nao tal Qt.tra? Por que histclia antes que 
obscSSllo? 
POl' que se acioece, e~tiio? A enfennidade, penSlI Freud, 
&1Lisfaz de algum modo 0 .doenle~ 0 neurolico Urn prov~ito no e 
do fato de estar acioent"do, Existe urn' ganho inerenle ~ doen", 
(lxmtftciOprimalio), e uma acomoda\;iio social 'posterior qtie Ihe 
pel'lnite "tir,lr ptirtido" de Sua condi\;iio (/:xmejlcto secunda/to), 
Enconlrdmos esta nose # em 1893 (Estudos $ObiT! hlstelia) e aind" 
continua ali em 1924 (Inlbi,tio, sintomd e imgliSiia). Tomamos a 
encolllra-la em 1932 (NoIXIS conftJ1~ncias fnt;odll/(hfas) e, llh1;S 
uma vez, em 1937 (Anaffse tenllfnaw/ e in/,mll/naw/). 
Aproveitahdo a ambigliidade do "de" na expresmla 
freudinnn, podemos tamar 0 si~tagma uescolha da neurosell elU 
dois senUdos diverses. 0 mois ill1ediato: h:\ que eseolher 0 tipo 
de neurose. 1! um outro: haveria sempre lima alternativa 
problelmltica (quando nao impossivel) embutida na origem de 
tada neUl'ose. Pam tom:tr apenas as cas9s mais conhecidos que 
Freud aprescn..t3, Dora chega a analise com uma reivindialfs110 
endere9J,da ao pai, que cleve Opl.1r entre sua rtJ11..1.nte ou eIa, sua 
mba, 0 Homem dos ralos come", seu tratamento sem sabel' que 
99 98 
.1 
" ENSAIO SOl31m A MOHAL Dn FREUD 
~nulhecdeve escolhl'r panl c.'1sar,· se o' bom partido Oll '3 ucklma 
~os seLl.s pensmn~nlosl'J. No dcco.rnir dos U'atamentas est.'lS 
altern..~livas simples, ~m "apm-enda, 'deixanl seu, ~ug..'1r a Olll~S 
mais compiexas en;ais. fllndamenLais. No caso de Dora tt'atar-se­, . . . 
ia da impossihiHdade de apt.'lr entre 0 "P.'\i e um, outro ht?m~m.. 
P,U':t 0 HQ'!nel~l dqs. mlOS lr&l.;l~se de escolher entre seu pal e um,a 
mulher. qjque eSll~~H:':lSOS l(!J1) em comum e a postur'.a do sujeilo 
pe"lnte a. bIleI11';{iva que se Ihe impoe: ele reeua: Existe um~ 
dc,-:isao a t~mar e 0 ncltl'oLico a evita. Evita-a porqlle decidir-~e 
hnplic:I, .ein renundar ;1 um dcnlre as do~~ lcnllOS dn a1tel11ativ~ 
em.'jbgo, e qex:.Hamenla iss?: que 0 neur6ticd naa quer. me naQ 
quer pClder nndn. 
Freud descobre que por llftsdos termos ap'"~nlemente. 
em jogo, esconde-~ 0 conOilo edipico. Como 0 classico: 0 penis 
Oll a mae, por exemplo, .escolha fOl",da que indica 0 imp<lS5e 
-'1'" .
edfpko no r:i1cn~no -. A ncurose apreSC'tlla-Se semp,'e como 'lim 
colllpronusso entre 3tUbos teOl10s rut altclllativ3..De urn modo 
gcral, digamqs que,' mila nE;lIro~e 'e uma co,nposi¢o, entre a 
pu1s:1o c' a dcr~s~\ 13: pn gozo no sint~l1lj e este e. ~ beneflcio 
ptiin{.l'io cia doen",. Nol,,-se q~e, qual um delclive de Chan~lIer 
que se pcrgunLal"a aqucrn beneficia. a criine. freud suspe~ci\ que 
encomraremQS 0 respot:'lsiivel peJa cloen~4 se prOCUf:411noS seu 
benclki;:\rio. 
A qUC'111 bcn"ncia Q sioloma? Um moo relat:tdo por Helen 
Deutsch pcrmite-nos come91f ~ pcns<l~lo. 0 padente lembra 
hOI";:15 feJJzes com Still m,le: {Unl.o1S _vezcs a viJ'u no" galinheiro 
ap::IJpando t:om dcleite a doaca das galinllns. Quaillo interesse 
clemo·n';t,,, pdo pmduto dest,,; bichos simpaticos. A galinha 
inlcl"cssa mUlto a mfie, e ele comc~:1 a bl'inc..11" de g~linha. 
12 EscoihnIOfvndi1, porque optnr pcla mAe represenlt\ percler Uin e oulln. S6 res~" por1nn!o. /) IMUncia 
flO gozo mAlilttlO, 
13 EVldenlltltNlnte ~e n denm~i\o do lelmo <lereM now & 0 mesma em 1886 OU em 19:<7, If)aa n lese 
permnnece a rJl!~smn. 
i 
PARA CONCLUIR .I 
+ 
Inmginemos a felicidade· de ambos.. 0 paeiente costumaVa fazer~ 
se apalpar pel" nme no sitio cia oodom:a cdm -a finaliclacle de 
averiguar -seiestava -prestes a ·por·um ovo. 'Ihclusive ·chegoll·a 
surpreender-sede· que 0 repravasse quando come,ou a espalhar 
pela casn· seus oVos fecals. Dm dia, poreml'seu itm~6 pega-o pOl' 
tra. e ;, defronta'o ·com a conclusiio 16gica de ·sua fantasia, "Eu 
sou 0 galo" diz-Ihe, enquanto 0 prende pela cintura, .. e voce e a 
galinhal" Este inddente in"ugura a neurase infantil do paciente: 
uma fobia as galinhas. 0 sintoma insmla-se quando 0 sujeito e 
confrontado com uma fonna de csatlsfa"io que exige dele 
assumil' sua posi~o objeml, isto e, de·'objetoa sel' gozado por 
um outro, aqui pelo innilo galo". Nao obsmnle 0 despl'3zer 
evidente desta crian", em tudo 0 relalivo a e5t..'lS ·aves a partir cia 
instaJa~o da fobia; Freud nilo hesilat'. em ver ainda ali. 0 
cumplimento .do plincipio do pl"zel'. A fun,ao desta 
transfonna,ilocia gallnha de objeto.de identlflca~o em objeto 
fobico, angustiant"l, e pennitir ao pacienle continuar gozando da 
mesma posi~" 'passiva' em que estava, sem que 0 Eu deva ali 
dizer: presente! Se 0 sintoma decifra-se como oulm maneira de 
satisfazer uma pulsiio (anal, no caso), devemos conciuir que a 
no~o mesma de sntisfa~o muda ao incluinnos a pulsno e a 
sintaxe inconscieote, 
Entre os ICX[oS As·neumpsicoses de defesa (1894) e Analise 
t",mlnavel e intel1,,;navei (1937) Freud inlroduz ainda uma outra 
ide!a relativa as fonnas de satisfa,ao dos neul'Oticos. Em Ate", do 
princfplo do pramr (1920) ele discute exemplos nos quais nao 
parece mais passivel reduzir 0 sintoma a um p,,,zer sexual que 
nao se reconhece como tal. 0 mal-estar provocado pelo sintoma 
na? se limitalia a encobrir um gozo pll]sionn) como seria ele 
mesmo, 0 sofrimento, uma particular modalidade de gozo. Gaze 
masoquista que snUsfaz a necessidade de alsUgo do sujejto e 
14 Note-se que a bIlncru.feita fraleltl$ niio fez ';'ais do que oo$V&,&t.(J, ..etdadQ 110 Idlllo lnoeento anile a 
mAe e seu Illho ~\,Ila: este S8 olereda comQ obJlI1Q para (I (lOlO dRquala. 
101 
100 
-, 
" ENSAIO SOBRE A MORAL DE FREUD 
que culmina na tlJafl.10 tempeulica negal/va15.: Se· se comprova 
que em detenninadas drcunslilncias'o "progresso"da ,cum pode 
fazer:,udoecer ainda lnais 0 paciente
16
,: a COt1Slata~o invcI,:sa de 
que, uma desgm~ ou uma caLlistt'Ofe real cancela os sintomas 
nem6ticos ievou ,Freud' a condusiio de que 0 inforttmio ern 
necessalio P!1I''d 0 sujeito, 0 sofrimento do' sintoma;- para atem do 
que dele se 'pCCifm, ocupada esse lugar'J,l'or isso um golpe de 
azar cOllc,'eto,em sua vida pode dispensal' 0 neur6tico de fab.icar 
silltomas, A sa.tlsfa~ao lleur6tica 'desdobra-se entre 0 p'aze,' e seu 
al6m, entre beneffcio e autopuni~o, I'm em Altim do plinciplo do 
pmzer um recado essendal para OS 'psicanalist:ls: sust:lr um 
sintoma nilo apenas pode resultar ,n.~is complicado do que 
parece,ia a lu;; da primeira topica, como introduz tmnb,:;m 
algumas reserv.s deontol6gicas de pesoIS, 
A escolha da neurose e " paltido que 0 sujeito tomarn no 
que dl" respeito a seu gozo. E. a cu." propost. pela ps]caniilise 
consiste em pOr novamejlt~ em pauta esta escolha no cmnpo cia' 
transferencia, 0 pademe sera levado il mcsma encri.lzllhada que 
o fizera adoecer, desta vez de um modo quase experimental. 
Colette Soler" opimi que um" psic1l1iillse develia dar ao 
neur6tico a oportunidade de escolher, no sentido pr6prio' do 
tellllo, ou seja, de tomar possivel 0 ab'lIldono da sua pretensiio 
de nilo percler nada e de the permitir optar pela relldnda 
15 Em 0 Eu f1 0 /"0 (1923) Freud BSCrBVB soble O'llietn'J!nlll':l<:m pad.nl," pale os quais 'qlll'liquef 
fe&olU9lio pruclnl que daveril'l lef romo consl!Qveneln uma rtUtlllotin 00 um de:soparecimenlo 
pnSlln!,Wllo dOli 1iintomcs -e que lem elelivamenle (I'm 01.111011- pOVOClI nelelO um fflforQO momenlaneo 
do lIohimen\O; 0 SEW flsfudo agrava-se no'decormr <to Iral1imento em Vat de meu,or;u: 
18 '0 fato decisivo ~ que os meronismoa de deleso penmte onligos p6liOOS ralmnnm n~ CUIO como 
fealatO:nclrui no re:alnbelecimenlc. Desembocando-se nislc: n wle mesme elrnln:da pelo EU'et\mo um 
pliHigO novo." {AE, 23,p,240) 
11 •... DUlllnte 0 hob.-lIho an.alitlco nao M impressoo mnl$ k-rtn dns rnslst&nci«s do ql.le a de umn lorya 
qUII !Ie defende pOIlooos 00, meios colilfil,Q CUra e 0 qutllquef cuslo prelende egnrraNH' a(joenQB e BO 
pooecimenlo: (AE, 23, p.244) Ct. SLlpll1. ctlpHulo 2, MlI$e1'l telle>:6as aobm 0 Supor-ou, 
18 Como, pot exemplo, ate que porilo e !ldlo Irnb~lhnr no !lenticio de elimins.r um sinioma qLlando pode 
(It(lnlecer que a tatta deale sinlomo Blunde 0 pa<,;:lente numa !lolda eindn pior, no dirOQ80 do 
·$fil.lls!<l~er' 0 I'f\lI!lQ(19l$mo ligado III aulopunit;50? 
19 SOI..EA Cololle, 'LD elecci6n de la,neurosia~ in,Finales de nntfll$i$, Mann.~ul. BsAs, 1991: 
PARA CONCLUIR 
(necessaria) de um dos tennds do conflito'O, 0 problema da 
op~o neur6tica e menos saber qual dos tennos pode ser 
preservado do que reconhecer a qual deles deve-se renunclar, 
Quanto a escolha do tipo de neurose, 0 outro aspecto da 
preocupa~o etiol6gica de Freud, a queslilo que se coloca e 
outra porque, ao nao ser contingente. 0 tipo nao depende dos 
avatal"s da vida, Ele e universal e n:;o e afetado na sua essencla 
pelos acidentes, pela tw:;hii, Freud acredJtou encontrar um 
criterio etiol6gico para cada neurose na flxa~o da libido a um 
estagio pulsional determinado. Baseado nesta conce~o. tentou 
seliar as neuroses em rela~o a, Ulna especie de genetlca 
pulsional (assim, a histeria selia relaliva a uma flXa~o na fase 
,oral; a neurose obsesslva. na fase anal. etc.), 0 tipo dependeria. 
enta~, de um maPo prlvilegiado de gozar do sujeito, 
Isto ,posto, resta saber qual sera 0 lugar do particular que 
caracteriza as interven~oes validas de um analista sobre uma 
neurose e nao sobre outra do mesmo tipo, Nao h:i interpreta~o 
padl'ao da histena ou da neurose obsessiva, Nenhum analista 
ousa.ia afinnar que a an~lise de um obsessivo resume-sc a trazer 
il. tona seu gow anaL 0 'que intel'essa a uma psicamilise e 
determinar 0 sentido Shlgular que ligao simoma menos ao tipo 
universal do que il esttategia palticular deste sujeito para (ou 
para nilo) satisfazer-se, pulsionalmente falando, Em outras 
palavras, 0 que especlfica a inse~ao de um determinado 
individuo num tipo neur6tico e 0 modo de se defender do seu 
gozo pulsional. Uma das descobert:ls freudianas fundamentals e 
que sao sempre oS mesmos conteddos edfplcos que se recalcam 
qualquer que seja a neurose em paut:l, 0 que muda de uma para 
outra 6 a modalidade da defesa", 
20 Pare Urn dia podor chegar a canl;u <fo oatO', esta menmO' de qLl(l nO$ lela H. Deu~ft l'lio PodOl 
pretendsr pre$erver as ~fJrivil6g[O$' 11\C$:l11.lOfJOO da sun paslum de oallone. 
21 0 obje11Vo dn del.esa e sempre 1Jm3 puhlCo e () mO'lI~ ., /l(IQV$lie de eastrayAo: nem Om r'lem ouiIo 
<felermirmm (I tipo. 
103 
I 
I 
I 
102 
http:tlJafl.10
" 
ENSAIO 501\1\E A MORAL DE FREUD 
Perdoa-mepor me Imires! 
NELSON RODlUGUES 
No fund!:), aquele que se descobre executor do desejo do 
Outro", ,;m.a v~z deseI"\camada esta figura da alte!idade, quando 
nenhum semelhante eneon!r"-se ja habilitado para fazer as vezes 
de seu Senhor e mio hll ninguem a quem culpar pela Ingratidao 
do destino, 0 "pecador" nao exprime nem arrependimento nem 
revolta em rela,ao aos atos originados a partir deste desejo, que 
agora pode ser chamado de 'seu" por !nais que para ele seja 
sempre um desejo estranho. Nao eo caso do rei Edipo qU'e ate 0 
fim consldera-se umjoguete dos deuses". Seus OillOS vazados e 
seu . destell"O exprimem sua culpabilldade, nio sua 
responsabHidade. Ele avan", para sua morte como um inocente. 
, --. Inocencia que, por outra parte, rceusa a seus dois 'filhos, a quem 
roaldiz". 
Nilo e 0 caso de Edipo, entilo, mas e 0 caso de Francisc.o 
Maldonado da Silva, filho de um cristilo novo que resolveu aban­
donar a posi,ao socialmente confol'tliveJ que a conversao for~ada 
do pai facili~1ra-lhe, para enfren~1f sua condi,ao de 1Ilat'rr:mo, 
iSlO e, de judeu enrustido. Acerca dele Marcos Aguinis diz; 
~2 A primltilA fioura dene OutfO, como S(J $6"" • II mile. A seounda, 0 pei edlpioo. 
23 Ele mallllllseu pol!. 'tNalll com 91.1a mAe como a.pose sem saber nemqverer, Nl:io $6 considers 
r6spon&Avel pot i$$O polque esse eUI tev dullno. It~o pe!Qf,I deus8s. 'Avn~ POtti l"I'IinhO mor1e'~ 
.It dil, 'de maneifa Inteirameole: 10000nl>8.· 
24 No que, dloa~e. demonstra eX81'U!1r melhor do que podella Imaginar-58, dadas a5 cf.tC1Jnsldnelo$. sua 
palemidade 00 negar .a seLlS IlIholi EleCiCle$ a Pol/nlce$ a jl,l91ilicatlva de om d(ls!ino em lelayik> BO 
qual 61es pudee;sem colocar-~e como inoeente5. Nao Int;:O &qui !)enhUma apologia de .ua pos!l,lra 
obeoeo.du que reclmo 0 perdilO quando ellle aindo e po591...el, epenll'S quero notor que dei1ttl1 aoor1.a 
para $eU$ Woos rn~ldllosa oP'Yfto do ,eivindicorem a pr6pris Inoeeneia OU, ent~o, oS$umirem a 
re9poMobitidade peto que lizorem (a ueurpay1lo do 1.01'\0 p{lterrtO nJjroveilanOO 0 dlnhnro de ~dipo}. A 
mesma ,osponsobilidade quo ole proprio .vita no que lru'lge M pal'licld"1O e ao lnee910. 
104 
t 
I 
I 
I 
I 
I 
I 
+ 
r 
PARA CONCLUIR 
Hacia doce <dios que 10 babian enten'Cldo 
en las .carceles seC1'etas. Lo babfan sometido a 
intermgalolios Y plivaciones. Lo enjrenlalOn con 
eruditos en sono,",'s controVfJ1sias. Lo bumillaron 
Y amenazem)n. Pem Fmncisco Maldonado cia 
Silva no cede. Nt a los dolores fisicos ni ala. 
p,¥?SIones esp/rUuales. Los lenaces inquisidores 
sudan mbia pO/que 110 quie1"tm elll)ia.·1.0 a 14 
. i i ,~bogutn·a sin m~·epeJl.lJm ellJo tl tetllor , 
A inqulsi,ao sabe melhor que ninguem a diferen", que 
existe entre uma confissao verdadeira e um reles mea culpa. Os 
inquisidores nilo estilo nem urn pouco interessados em extorqulr 
do reu uma verdadeque ja conhecem, na medida em que sabem 
de antemao que 0 acusado e um herege. Eles querem uma 
verdadeira confissao 1 a saber, que 0 feU renegue flde cora~of1 
suas eonviCl;,6es, que abrace a fe dos inquiSidores antes de 
. queima-Io. Na confissao verdadeira 0 sujeito nao pretende' 
explic.'1r-se senaa tamar sabre 51 as conseqli~ncias de seu ato. 
Nao se trata de se justificar peranle o' juiz senao de se p6r 11 sua 
merce e esperar pela senten,a considemda merecida. 1! 0 metl 
culpa e nao a confissao que estli atrelado ao pedido de perduo e 
11 ideia de se restltulr ao estado de gra",. A confissilo, que se 
relaciona com 0 pecado original, diz mais re"peito ao castigo que 
ao perdao e exclui de cara qualquer inoc~ncia. 
Fazer llm met! culpa desloca a fun~o do reconheci­
mento dos fatos j destes e de suas conseqUencia.s para uma 
henneneutica justificat6lia. Explico-me· sabre 0 que aconteceu 
para ser inocent<'1do: Hfiz wl coisa pol' tal outra, agora eu set, 
nunca mais rarei", 0 Eu neste caso se afasta cada vez mnis do 
2SAGU1NIS Marcos, La g$$!ndel mammo, Plsneta, SsAs, 1991, p.l1 
105 
http:obeoeo.du
I \\ ...
. j' '; ENSAIO SOBRE A MORAL DE FREUD 
.~. 
slIjeilo do desejo que, como ja deve tel' Cicado claro, e o,proplio· 
sujeilo da respons.~bilidade, MlIitas vezes, demasladas vezes, a 
psicanalise em fun~o henneneutica tem sido usada para expIicar 
os fatos de que se quer dar c0nta, jogando-os numa SOlte de 
universal 'pasteUlizado, asc€tico, depurudo ~ aos olhos do Eu, 
que encontra ali seu alibi - do desejo que por mais inconsciente 
que 0 hnll~inemos define e determina osujeito. 
•Malci,t?mldo da Silva cUl11pre com :a inqlljsi~o e contra eIa 
a vonlade. de seu pai, renuncirtndo a conversao que herdal"2 e 
afirmando sua dignidade de sujeito para alem de qualquer bem 
estar; induida sua propria vida, que d~jxaria de ter sentido caso 
renunciasse a est,,1. conviq;<lo. Recusa qualquer inocencia ao fazer 
valer pemnte 0 Santo Ofielo 0 desejo desle pai que teria aceito a 
con;versao como Ulna saida pat'3 presetvar 0 bem estar e a vida 
dos seus. Salda d. qual 0 mho resolve abdicar, abandonando 
.•ssim a cuJpabilidade que' 0 pai deixal"a como heran<;a em 
reia,ao II sua verdadeh"a fe, dispondo-se, pal"a tanto, a assllmir as 
conseqliendas sem' me,do nem 3n'ependhnento, isto e, sem 
culpa, Qualqller outra op~o estava-lhe interc1ilada porque telia 
significado entt'''dr no universo da inquisi~a9! fazer seus os 
, . 
princfpios da rnesma ~ mOlTer em seu norrie. Seu tonnenlo l tel'ia 
side em vUo, A "teimoslall que 0 leva- 3C? fiml entretanto, faz de 
sua morle 0 corte definitivo em rela,ao ao Santo Ofielo, 
U", estudo. uutobiog'<dj"zco (925) mastra 
como a psicaniitise lomotl-se 0 conteudo de 
minha vidal e parece-me justo obsen'Clr a esse 
1'(!spei/o que nada do que me tenha 
ocontecido pessoalulente interessa 58 niio se 
. r-,. fe/ere aos meLis v[nculos com· a ciencia . 
FREUD (AE., XX, p, 67) 
PARA CONCLUIR 
Como poderia uina moral ser prescrita sem contl'ariar 0 
fund.menlo desta polltica do singular? Tanto a safda de Kant -, 
,uma moral apriorfstico-fonnal que OIiehtasse universal mente 0 
reto agir -, como a de Arisl6leles - atrelar a felicidade individual 
ao encontl'O de um bem positivo -, eslilo exclufdas para a 
psicanalise: A ultHna porque a fanha vazia do objeta do desejo 
presta-se mal a figural' urn bern supremo, A primeira porque a 
fonnalidade simb6lica do sintoma resuita impensavel fora do 
COlpO vivo do pacient~ interagiIido com oulros, Inclui, portanto, 
uma detennin.,ao patologica. 
Dll'emos, pois, que a psicanalise deve pennaneeer amoral? 
Con tanto que noo seja confundido, como em vida de Freud, 
l1 amoraJ" com IthnoraP' (0 que ja supoe uma fantasia que 
administre 0 bern e 0 mal aos quais 0 sujelto consagra-se) poder­
se-ia dizer que sim, Seria, contudo, mais honesto com a hist6r1. 
do movimento psicanalitico (e lnais prudente do ponto de vista 
acad"mjco) evitar fOnnulas deste tipo, POl' mais sedutoras que 
possam pare eel', Digamos, melhor, que a psicamllise abster-se-a 
de legislar em materia de moral. E nao se trata aqul da saida da 
nIposa, que desisle das uvas inalcan¢veis POl' "estarem verdes", 
Simplesmente, sua meta flaQ inclui- uma moral definitiv3, 
universal e freudiana, I 
+ 	 A moral de Freud so pode aspi""r a universalidllde no 
momento em que revel. sua maxima slngularidade, seu eSlalulo 
- pOl' que. nao, dizer? -, de sintol1ll1, E uma moral para uso do 
I 	 paciente, nOo do psicanalista, Nao se enfatiza 0 suOdente que a 
psican.Jise foi inventada pOl' Freud em posi~o de analisando", 
e que 0 lugar do analista surge rell'oativamente como 0 suporte 
I 	
. 27 
logico desla taref" . 
26 Que sao 09 livros fundadores (A inJe1pr6tl1~ rJ&s sanhos, A pSic<Jp{ttokJ!}ra cia vlds caiidiarltl, 0 T 
chis/a () $00 mrafAo com " inconscienle) $eni\o 0 depoimen!o delalhado a hmd:lmenlado till i elCpllrienelli de 1I.;,.aIiS$ndo de FrlllJd e -de sUes C(lt)diyOe$ de posSibilldalle? ' 
21 Pcds-so obJelar qua nao hit, por hlp6!e5e, il1'l81l$la sam enflllse, -que lodo aoalisl3 Jfi. eslaria (00 
107 106 
" 
ENSAIO SOBRE A MORAL DE FREUD 
No come,o, na epoca de sua splendid isolation, e em parte 
por provocaqao, Freud convida a quem quiser fazer _como ele e 
analisar as pr6prios,sonhos. Aparte 0 fato de que nao e possrv~l, 
resta que ele oferece-se para ser imitado preciS3mente no que 
tem de inimitavei: seu sintoma. Como fazer 0 que sugere de 
Dutra mane;ira, que mio se tonlando urn analisando como ele foi? 
Optando p·pr ,.uma etica, ,em suma, que nao Fosse de censura. 
Nao cedendo ao silenciamento do que insiste em ~er dito, muitas 
vezes para n05SO hon"or e n055a vergonha. 
~sta aqui 0 ensinamento mOlal de Freud, ou melhor, 0 que 
a mOlal de- Freud ensina; 0 que nela Pdde considerar-se 
exemplar. Fazer da dif~culdade uma nova oportunidade, e do 
sinlom3 que ~os 355ombl'a 0 fundamento dos pr6pdos atos. 
Pode ser uma op,ao etica. Talvez a unica digna do noine que se 
possa pensar dentro do campo psicanaIrtico. 
sAo PAULO, 2 de setembro de 1993 
deveria eslar) ariolisado. Sabemos, no anlanlo, qua se mirer no elCemplo dos 'Ja analisados' nunca 
levou a ne-da. A elCperii!ncia e a hisl6ria demonslram que sempre hovera alguns mals 'analisados' do 
que oulros, e que a suposla 'lalla de onallse' (dos outros) sera'lide como um deleilo 'morel'. A hisl6ria· 
apo;lConol'lte de '0 comilli' -grupo secrelo 'ormado por Freud, Rank, Ferenczi, Jones e Abraham. 
destinado a oerir a polflica do movimento psicanelrUco- e um espanloso exemplo disso. Nas car1as 
circulere5 entre Freud e seus disclpulos lalo·se da 'analise insulicienle' como sendo a rezAo sulicienle 
(e <1 Justirica~Ao) da condutas em qualquer outro luger inadmiss(veis entra co!egas a amiQos. A 
pru~i!ncio de nao Idealizar a chegoda (0 llirmino de anblise) em delrimento do percurso. nAo pode ser 
suticientemente recomondodo. cr. JONES Ernest, Vida yobm de S.Freud, vol. 2, Poido5, BsAs., 1973. 
Tambl!m GROSSKURTH Phylli9. Oc(rcu/o seere/o, Imago, Rio,1992 
108 
BffiUOGHAFJA GEnAL 
I. SOBHE A MORAL 
I.i It etica filos6fica 
AIUST6TELES. Col.os Pensadores I, II, Ed. Abril Cultural, 
Sao Paulo, 1990. 
GOLDSCHMIDIT. A mligiiio de Platiio, Direl, 1970 
KREMER-MARIETII Ang~le. A BUca, Papiius, Campinas, 
1989 
NUSSBAUM Martha C. The fragility oj goodness, 
Cambridge University Press 
PERELMAN Chaim. Introduction histOlique a Ia 
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PLATAo. Didlogos, Os Pensadores, Abril, Ed. Nova 
Cultural, Sao Pauli::>, 1989 
SORABJIRichard. Necessity, cauSf! and blame, perspectives 
on Alistot/e's theolY, CorI?-ell University Press, Ithaca, New 
York,1980 
109 
",
ENSAIO SOBRE AMORAL DE PREUD 
Ui. A Moral De Descartes 
ALQUIE Feldinand. A Filosofia de Descmtes. Ed. 
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IT'ipos libidinales, El Porven!r de Una llusi6n, vol. 21 
'. 
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35), Por que la guerra?, Un trastolPO de memoria en 
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Psicopatologia de la vida cotidiana, vol. 6 
Tres ensayos de teolia sexual, Fragmento de analisis 
... (caso Dora), vol.? 
.~. El chiste y su relaci6n can el inconciente (Cap. III), 
vol.8 
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sexual cultural y la nerviosidad moderna, I.a 
indagatoria fOl·ense, Camcter y erotismo anal, Carta 
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Contribuciones para un debate· sobre el onanismo, 
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T6tem y Tabu (cap. Ii), EI interes por el 
psicoanalisis, vol. 13 
Conllibuici6n a la historia ... , Introducci6n del 
Narcisismo, Duelo y melancolfa, Un caso de 
paranoia .... , De guerra y muerte, Algunos tipos de 
caracter ... , Ia represi6nJ vol. 14 
Conferencias de introducci6n al pSicoanalisis, 
vo1.15/16 
Pegan a un nifio, La ominoso, vol. 17 
Mas alia del pIincipio del placer, Psicologfa de las 
masas y analisis del yo, Dos articulos de 
enci~lopedia, Pr610go a Putnam, .... homosexualidad 
femenina, celos, 	 paranoia, homosexualidad, 
vo1.18 
El yo y el ello, Algunas notas adicionales a la 
Interpretaci6n de los suenos... , El problema 
econ6mico del masoquismo, Algunas consecuencias 
psfquicas de la diferencia sexual anat6mica. Breve 
infonne sobre psicoamilisis, las resistencias contra 
el psicoanalisis, EI sepultamiento del complejo de 
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excelente edi~ao "pirata" deste seminal'io, comentada e 
editada pelo grupo "Stecrlture"); 1973, voL 11; 1991, vol. 
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118 
enundac16n 
119 
A Coie9~o Psieanaiise da Cr1an98 dedlca este numero 
a um tema do;! importimcia crucial tanto para a PSicanalise 
quanto para a.Medicina. Os autores trazem suas contribui­
<;oes recentes aO estudoda psicossomatica, fundamentan­
do-as em numerosos relatos clfnicos. 
A partir de urn caso de psor{ase Henry Frignet aborda 
o fenlimeno psicossomatico na sua rela<;ao com 0 Real, 0 
Simb6lico e 0 Imaginario. Valentin Nusinovici discute varlos 
casos de retocolite hemorragica e doen9a de Crohn. Pas­
cale Belot-Fourcade toma exemplos da literatura e da cUni­
ca para falar sobre a Bsma. Tarelsio Matos de Andrade toma . 
a asma para falar sobre a rela<;ao entre Psicanalise e 
Medicina. Finalmente, Lia Freire de Carvalho expoe a opi­
niao da Medicina sobre a puberdade preeoee, acerca da 
qual ainda nos falta urn estudo psicanalftico sobre os seus 
componentes imaginarios. 
Neste numero agalma inclui artlgos de dols medicos 
(embora um deles seja tambem psicanalista) pois Eft para 
os consult6rios destes que se dirigem, pelo menos num 
prlmeiro momento, as pessoas acometidas de afec<;oes 
dill!s psicossomaticas:lnauguramos asslm a pubJlca<;ilo de 
artigos de outros profissionais nao-analisll!s Jlgados aos 
temas edill!dos. . 
Neste mlmero agill.ma pratanda Iratar de outra fOrma 
as quest6es referent"" ao Pai a II Mila com 0 au.Rio dos 
textos dos colegas OOlgas a franceses: Martine Laruda: 
. "Pela feliaidsde dss oriam;as ou Como awrapia de crian­
'las poda algumas \IeZ9S parmitir o. eraseimanlo das 
. pais"; Ellana P. Van-Dleran: "Da uma prasaro;a mataman­
la a uma eu§Maia matarna"; Roland Chemama: "A refa­
renaia ao pai na psiaan81ise: passe a impasses"; Marie 
Christine lBznik-Penot; "as 'niios' do pai" e PatrlCk Da 
Nauter: "Pal Real, inoesta e davir sexuel de menllla", 
Cerna asslnaia Christiane LacOta, a mae cleve ser 
designada como Outro Real, a qua nos evooarla coorda­
nadas estruturais I!ffilugar das ldealiza<t6eS das figuras, 
sejam alas rnaiemas 00 patarnas pois, em Uican, a Outro 
nao enem bam, nemmau, nem Deus, nem dlabo. . 
http:agill.ma
:~-
it. ,i p--. 
i 
i 
i 
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I 
D.os textos classicos de S.· Freud sobre o. 
Edipe feminino as f6rmulas da se?Cua9so pro­
posllis.por J..Lacan nos anos 70, 0 autor retoma 
o que· a psicanalise tem a dizer .acerca do 
devir-mulher. 0 continente negro de Freud e 
sua indaga9ao sobre "0 que quer uma mulher'?" 
: desdobram-se nas COI0c890es de Lacan sobre 
. 0 gozo feminino. 
Nao faltamtambem referencias as contribui­
90es mais recentes de autores contempora; 
neos. As questoes que atrave.ssam os estudos 
desses analistas sao as mesmas: 0 que signifi­
. - . 
, , ca para a sujeito estar inscrito do lado feminino 
! da reparti<;:ao das seres sexuados'? Epertinente 
. em·termos psicanaliticos falar de uma essencia 
da.femlnilidade? A sua idealiza<;:ao pelo nomem 
, seria a medida mesma da sua aliena9ao? 
Estas e outras quest6essao discutidas pelo 
autor, que em outros ensaios trata ainda da 
forma9ao dO,analista e datrllnsmissao da psi­
canalise no Brasil, da rela9aote.ori!llpraticaede 
outros lemas relevantes ,Cia psicanalise. 
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Lacan it sem duvida bOje em dia um' nome 
em rela9~0 ao qual nao se pode ficar indiferen­
te~ provocando 'rlla90es tao intensas quanto , 
• precipitadas, dividindo 0 meio analftico em 
"cohtra" e "a favor". Oesde 'a sua chegada ao 
nosso pais, hl! cerca de duas decadas,ate os 
dias' atuais, sua teo ria, tomou a dimensao de 
'uma verdadeira moda intelectual,seus aforis­
mos tornando-se uma presen9a quas'e obriga­
t6ria nas cita90es dos analistas brasileiros. 
Poremate que ponto asta populariza9iioja 
nao veicularia Uma distor9ao do seu ensino? 
Qual 0 verdadeiro alcance deste significante: 
"Iacaniano"? Que impliCa¢es podemos extrair 
da multiplica9ao das institui¢es que 0 recla­
mam como um titulo exclusivo? 
A convite de agalma ,cinco. analistas bra-I 
sileiros e estrangeiros contribuem com suas 
reflexoes, a partir. da sua experiencia, sobre os 
efeitos da difusao do ensinolacaniano na pra­
tica e na forma9ao dos, analistas brasileiros. x 
Trata-se de abordar as vicissitudes da forma­
980 analftica' a·partir da chegada de Lacan a 
estas terras brasileiras. 
TA~~~ 
E A FORMA~IAO DO ANALISTA 
~~ BR..ASIL 
==--M===A=RCUS DO RIO TEIXEIRA, ORG=,=:-1 
ANGELA BAPTISTA DO RIO TEIXEIRA 
ANGELA JESUINO FERRETIO 
ANTONIO CARLOS ROCHA 
CHARLES MELMAN 
RICARDO GOLDENBERG 
, 
~.. 
. No infcio dos anos 3D, 0 psiquiatra e etn610go 
Arthur Ramos reunia-se com umgrupO de medI­
cos ~ intelectuais mi Bahia para estudar a obra de 
S .. Freud, publicando inumeros textos sobre a 
teorid. psicanalitica e mantendo inclusive corres­
pond~ncia com 0 pr6priofundador da psicamfdise. 
, Ao'resgate deste momenta pouco conhecido 
de hisi6ria do movimenlo pslcanalftico no Brasil, 
somam-seos estudos sobre a inserc;ao de psica­
nalise na sociedade contemporanea e as suas 
perspectivas futuras.Este livro abrange estes mo­
mentos hist6ricos .da pslcanalise: 0 seu passado, 
o seli presente 'e 0 seu futuro. . . 
Marialzlra P erestrello relata a contribuic;ao dos 
precursores da Bahia na difusao da pslcanalise 
desde 0 sec. XIX; Syra LOPEls faz um apanhado 
nist6rico sobre 0 sonho, a 'partir da sua teoria do 
Res(o ae Sonho; Miriam Ghnaiderman trac;a um 
painel da socledade brasilelra,relacionando psi­
canalise e CUItUfl3; Denise de Oliveira Lima discute 
as relac;oes entre l6gica e psicanalise e 0 manejo 
da teorla na ,pratica pslcanaHtlca; Octavlo Souza· 
parte do texto freudiano "Psicologia de Mlissas 
e Analise do Ego" para pensar a ideia de nar;ao; 
Emmo Rodrigue toma 0 reveillon do ano 2000 
como ponto.de partida para urna reflexiio sobre a 
pSicanalise e anossa cultura. Este volume inclui 
ainda a correspondencia inedlta de S. Freud diri­
gida a Arthur Ramos. . 
http:ponto.de
v 
l 
I 
PROXIMOS LANCAMENTOS 
Coler;ao PSicamilise .da Crianr;a n2 6 
"Autismo Infantil" 
Marie-Christine Laznik-Penot. ~rg. 
Seleyao de artigos apresentados no congresso 
promovido pela Fondalion Europeene pour la Psychanalyse. 
I reunindo especiallstas no tema. 
"Dicionario de Psicanalise - Freud e Lacan" 
A obra crileriosa realizada pela 
Association Freudienne Internationale • 
. abordando os conceilos fundamentais da leoria 
freudiana e lacaniana. Cada verbele eescrito por um 
anallsta ou um cartel de analistas, resullado de estudos e 
pesquisas sistematicos. Nesle primeiro volume, artigos sobre 
. Associayao (Charles Melman), Fixa9ao (Marc Nacht), 
. No Borromeu (Henry Frignet et allii). Transferencia 
(Thierry Lebrun at allii), dentre varios outros .. 
Coler;ao Os Libertinos vol. 1 
uA filosofiana Alcova", Marques de Sade 
A obra polernica de Sada, 
comentada por Lacan no seu·Seminiuio 7, ' 
A' elica da PSicanalise, agora em nova traduQiio de 
Ellane Robert Moraes. 
Coler;ao Os Libertinos vol. 2 
uGamiani", Alfred de Musset 
Coler;ao Extemporaneos 
Autores a frente do seu tempo 
Coler;ao DeCalr;as Curtas 
Os primeiros anos de vida da crian\ia 
- texlos de mooicos e psicanalistas. 
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