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Desenvolvimento corporal na adolescência Psicologia do Desenvolvimento: Adolescência Prof.: Bruno Carrasco “Numa sociedade em que não há divergência, ou na qual a divergência não é permitida, a palavra adolescente perde o sentido.” (E. Z. Friedenberg) Adolescência é um momento de crise? O conceito de adolescência vem do latim “ad”, que significa “para”, e “olescere”, que significa “crescer”, sendo o sentido de adolescência, o “crescer para”. Porém, o modo como ele é entendido hoje surge por volta do início do século XX. Apesar que a questão do jovem como “problema” existe há muito tempo e acompanha toda a evolução da civilização ocidental. Do ponto de vista do mundo adulto, o adolescente é um ser em desenvolvimento e em conflito. Atravessa uma crise que se origina basicamente em mudanças corporais, outros fatores pessoais e conflitos familiares. E, finalmente, é considerado “maduro” ou “adulto” quando bem adaptado à estrutura da sociedade, ou seja, quando ele se torna mais uma “engrenagem na máquina”. Entendimento da adolescência de crise ou ativa É assim que encaram a adolescência muitas das teorias que pretendem estudá-la. Essas teorias defendem a preservação do sistema do qual eles próprios se originam. Afinal de contas, o novo, o questionamento e o conflito são muito perigosos… então, nada melhor que enclausurar todas essas ameaças em um período da vida do indivíduo, aplicar-lhes um rótulo de “crise normal” e definir a adaptação às regras vigentes como “cura” ou “resolução” da crise. Talvez possamos, em vez disso, explicar esse fenômeno como a passagem de uma atitude de simples espectador para uma outra ativa, questionadora. Que inclusive vai gerar revisão, autocrítica e transformação. E que será, portanto, fundamental tanto para o desenvolvimento da sua própria personalidade quanto para o aperfeiçoamento da sociedade em que ele vive. Será que o jovem sempre se acomoda, depois de uma certa idade? Será que é seu “dever social” fazer isto? E o adulto, por acaso lhe é vedado protestar, tentar transformar o que acha errado? Não existe um adolescência, mas várias Não existe uma adolescência, e sim várias, o próprio conceito de que ela é um fenômeno universal é muito duvidoso. Existem sociedades nas quais a passagem da vida infantil para a adulta se faz gradativamente; a criança vai recebendo funções e direitos até que atinja plenamente a condição de adulto, o que faz desaparecer as características que chamamos de “crise da adolescência”. Em outras sociedades, existe um ritual de passagem, geralmente quando começam as transformações físicas da puberdade, após o qual se confere ao indivíduo todos os direitos e responsabilidades do adulto. Esses rituais envolvem muitas vezes intenso sofrimento psíquico e físico. Mas eles podem facilitar a integração no modo de vida “adulto” e favorecer o desenvolvimento da auto estima e segurança no jovem. Adolescência = ser em transformação No adolescente, corpo, ideias, emoções e comportamento sofrem as consequências do processo de transformação. Alguns optam por reproduzir a vida e os valores da família e da sociedade, há os que contestam, rejeitam e querem mudar; os que fogem, os que lutam, os que assistem, os que atuam… enfim, existem inúmeras escolhas. “O primeiro grande salto para a vida é o nascimento. O segundo é a adolescência.” (Eduardo Kalina) Mudanças no nível físico e corporal Um ser que pensa e sente como criança pensará e sentirá de modo bem diverso como adulto. Ele tem outro corpo, outro astral. Interage com o mundo de outra maneira, passa a receber as exigências diferentes do ambiente que o cerca. Quanto às mudanças no nível físico, corporal do adolescente, até onde sabemos, elas são universais (com algumas e importantes variações). Mas o mesmo não acontece no nível psicológico e das relações do indivíduo com o ambiente. Os padrões de comportamento são muito variáveis: de cultura para cultura, de grupo para grupo numa mesma cultura, e de indivíduos para indivíduos num mesmo grupo. Puberdade e transformações do corpo A puberdade é apenas um fenômeno que ocorre durante a adolescência e tem limites bem precisos e estreitos. É o período da vida em que o indivíduo se torna apto para a procriação. Um dos primeiros eventos a se manifestarem é o crescimento em altura: o chamado “estirão da adolescência”. Ele aparece primeiro nas meninas, em torno dos onze-doze anos, e em torno dos doze-quatorze anos para os meninos, porém a idade pode variar. Num processo paralelo, a musculatura se desenvolve com rapidez, enquanto o mesmo não acontece com o tecido gorduroso, o corpo torna-se menos flácido e mais musculoso. Nos homens o crescimento muscular é mais intenso que nas mulheres. O crescimento não se dá por igual Os ossos crescem, se espessam, tornam-se mais robustos. Os ombros se alargam nos meninos, enquanto que nas meninas é o quadril que se amplia mais, preparando-se para receber um futuro bebê. Porém o mais curioso, e talvez o mais dramático, é que esse crescimento não se dá por igual. Quem não teve (ou tem) uma certa sensação de desajeitamento, talvez lá pelos treze, quatorze anos? Além de ser difícil lidar com o próprio corpo em mutação, o alongamento dos braços, das pernas, do pescoço, aparece primeiro que o do tronco. Isso traz uma sensação estranha e desagradável, pois muitas vezes um lado do corpo cresce antes que o outro. Seios, testículos, mamilos, pêlos, ... Na menina, começa o desenvolvimento dos seios. No menino crescem os testículos, que tinham praticamente o mesmo tamanho dos do bebê. Ele pode também experimentar um certo aumento dos mamilos, o que é perfeitamente normal e tende a regredir. Logo em seguida começam a aparecer os pêlos das regiões genital (pubianos) e axilar em ambos, e mais tarde em outras regiões do corpo. Enquanto na menina acontece a menarca (primeira menstruação), no menino aumenta o tamanho do pênis e começa a produção de espermatozóides. Primeiros ciclos menstruais Os primeiros ciclos menstruais podem acontecer a intervalos irregulares, que depois se estabilizam em torno de vinte e oito a trinta dias. Esses primeiros ciclos são muitas vezes acompanhados por sintomas desagradáveis, como cólicas, nervosismo, inchação, dor de cabeça, problemas de pele e até depressão, que podem inclusive durar muito tempo. Eles dependem não só de fatores físicos, mas também de como a adolescente se relaciona com a própria menstruação. Isso é determinado em grande parte pela ideia cultural sobre a menstruação do grupo social em que vive a adolescente. Menarca e tabu Muitas adolescentes chegam à idade da menarca sem sequer saber que ela existe, por que, para que e o que significa. Afinal, na nossa tradição, corpo é relacionado a sexo, e sexo é um tabu. Diante de tudo isso, a adolescente pode se envergonhar, temer e até rejeitar um fenômeno biológico totalmente saudável e normal, muitas vezes até “somatizar” esses sentimentos sob a forma de sintomas físicos. Mas se ela for bem informada e esclarecida a respeito da sua menstruação, aceitando-a como parte de um processo positivo de crescimento, ela pode aprender a lidar melhor e se relacionar melhor consigo mesma. Desenvolvimento do corpo Na mulher, a vagina, o clitóris e a vulva se desenvolvem e se transformam. No homem, surge a barba, ou o projeto dela; a voz engrossa, no início insegura e cheia de falsetes. Logo estão ambos por horas frente ao espelho, espremendo terríveis cravos e espinhas, observando atentamente sua nova imagem, meio sem saber o que fazer com ela, Os meninos e meninas experimentam um grande desenvolvimento da altura e do tamanho dos órgãos genitais, o que em muitas culturas pode gerar dificuldades com relação a autoconfiança. Em algumas situações podem sofrer comparações com outros colegas já mais desenvolvidos e se sentirem inferiorizados. Dificuldades, angústia e preocupações Além disso, alguns podem ser marginalizadosem atividades esportivas, por não terem desenvolvido o mesmo grau de força muscular e altura que seus colegas. Podem também ser excluídos de atividades que envolvem o relacionamento com o sexo oposto, por não terem ainda o mesmo grau de maturidade sexual. Essas dificuldades podem ser reforçadas por adolescentes mais precocemente desenvolvidos, e até por adultos mal orientados. Para alguns adolescentes isso pode gerar vários problemas, inclusive se afastar do convívio social, para evitar a desaprovação e sentimento de inferioridade. O fato de ver seu corpo diferente dos outros pode gerar também angústia e preocupações excessivas. Autoimagem Em nossa cultura, os adolescentes costumam ser muito sensíveis para com sua imagem corporal. Situações como obesidade, uso de óculos, acne, excesso de pêlos, aumento passageiro dos mamilos (nos homens), seios muito grandes ou muito pequenos (nas mulheres), entre outras, podem fazer com que se sintam desvalorizados, levando-os à inibição, ou até mesmo à depressão. Referências Bibliográficas BECKER, Daniel. O que é adolescência. São Paulo: Brasiliense, 1999. BOCK, Ana Mercês Bahia. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. Por: Bruno Carrasco Professor de filosofia e psicologia, graduado em psicologia, licenciado em filosofia e em pedagogia, pós-graduado em ensino de filosofia e em psicologia existencial humanista e fenomenológica, pós-graduando em aconselhamento filosófico. www.brunodevir.blogspot.com www.instagram.com/brunodevir www.fb.com/brunodevir http://www.brunodevir.blogspot.com http://www.instagram.com/brunodevir http://www.fb.com/brunodevir
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