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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE ENFERMAGEM KAREN LUDIMYLLA BEZERRA LIMA ASSISTÊNCIA MEDICAMENTOSA AOS IDOSOS RESIDENTES EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA EM BOA VISTA, RORAIMA BOA VISTA–RR 2017 KAREN LUDIMYLLA BEZERRA LIMA ASSISTÊNCIA MEDICAMENTOSA AOS IDOSOS RESIDENTES EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA EM BOA VISTA, RORAIMA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como pré-requisito para obtenção de diploma em Bacharel em Enfermagem na Universidade Federal de Roraima – UFRR. Orientadora: Profa. Me. Raquel Voges Caldart Coorientadora: Profa. Dra. Jackeline da Costa Maciel BOA VISTA–RR 2017 KAREN LUDIMYLLA BEZERRA LIMA ASSISTÊNCIA MEDICAMENTOSA AOS IDOSOS RESIDENTES EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA EM BOA VISTA, RORAIMA Trabalho de Conclusão de Curso desenvolvido como pré-requisito para obtenção do título de Bacharel em Enfermagem pela Universidade Federal de Roraima – UFRR. Defendido no dia 31 de outubro de 2017 e avaliado pela seguinte Banca Examinadora: ____________________________________________ Profª Raquel Voges Caldart Orientadora/Curso de Enfermagem – UFRR ____________________________________________ Profª Cíntia Casimiro Curso de Enfermagem – UFRR ____________________________________________ Profª Andrea Nicoletti Curso de Enfermagem – UFRR DEDICATÓRIA Dedico a minha mãe Maria Lucineide por todo o carinho, esforço e apoio nessa jornada. Serei eternamente grata pelo seu amor e pelo seu esforço para minha criação. Devo tudo o que sou e o que me tornei! Eu a amo para todo sempre. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, pelo dom da vida, pelas oportunidades durante o meu percurso, por me proporcionar uma vida de bênçãos e sempre me amparar com seu eterno amor. Agradeço a minha mãe, Maria Lucineide Bezerra Lima por todo o incentivo aos estudos, por me mostrar o caminho e por sempre estar apta a percorrê-lo comigo, pela sua proteção e por ser meu apoio e refúgio. Aos meus tios, Sálvio Lóz e Edileusa Lóz que são um presente de Deus na minha vida e tornaram com certeza essa jornada bem mais fácil, enchendo-me de amor e me incentivando aos estudos. Ao meu primo Igor Lóz, que sempre me tirou boas risadas e trouxe alegria e carinho para minha vida e em especial Rafaela Lóz minha mais querida prima, amiga e futura parceira de profissão, você não é só um exemplo de profissional, mas também um ser humano maravilhoso, a pessoa mais integra que eu conheço, sou imensamente grata a ti, por milhões de coisas e em especial pelo teu amor, por me apresentar a enfermagem e por estar sempre ao meu lado. E ao meu querido amigo, Renato Dantas por todo carinho, amizade e risadas. A minha irmã Maria Luthielle por ter o coração enorme, pelo incentivo, cuidado, proteção e amor, as minhas sobrinhas Bruna, Ana Luísa, Maria Eduarda e Giulia por encherem minha vida de luz e alegria e ao meu cunhado Emerson Bruno pela sua paciência, companheirismo e carinho. Aos meus amigos do curso de enfermagem que sempre estiveram comigo e tornaram esse tempo o mais especial possível, seja por conversas, conselhos, incentivos ou boas risadas. Em especial Amanda Braga e Victória Câmara, espero que essa amizade dure o resto da vida e que tenhamos sucesso na nossa profissão. Agradeço a minha orientadora Profª Raquel Voges Caldart, por todo o incentivo a pesquisa, paciência e atenção. Obrigada por aceitar o meu convite e por ser tão competente, prestativa, dedicada e por todo o apoio durante a realização de outras atividades e trabalhos na graduação. Admiro-a muito como profissional e espero ter um dia todas essas qualidades. A Profª Jackeline Maciel que me inseriu na pesquisa cientifica, proporcionou-me experiências incríveis durante a graduação e por todo apoio na pesquisa me ajudando incontáveis vezes. Eu tenho um carinho imenso por você e uma enorme gratidão. E por fim, agradeço a todos os meus professores do curso de enfermagem, que através dos seus ensinamentos foram essenciais para minha formação profissional e pessoal. “Por isso não tema, pois estou com você; não tenha medo, pois sou o seu Deus. Eu o fortalecerei e o ajudarei; eu o segurarei com a minha mão direita vitoriosa”. Isaias 41:10 RESUMO O presente estudo buscou descrever a assistência medicamentosa realizada pela equipe de enfermagem em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos em Boa Vista, Roraima. Utilizou-se o método quantitativo e qualitativo, a primeira abordagem teve como objetivo realizar a caracterização sociodemográfica, clínica e farmacoterapêutica e os dados foram coletados de prontuários e prescrições médicas referentes ao período de dezembro de 2016 a maio de 2017. Já a segunda abordagem analisou a assistência de enfermagem na terapia medicamentosa, bem como o conhecimento dos profissionais acerca farmacoterapêutica oferecida aos idosos da ILPI por meio de entrevistas realizadas com os profissionais de enfermagem. Entre os idosos participantes do estudo, observou-se uma idade média de 81,03 (±8,19) anos e um tempo de institucionalização de 6,99 (±6,75), no que concerne às doenças houve uma média de 2,73 (±1,20) diagnósticos e quanto à quantidade de medicamentos houve uma média de 12,53 (±4,37) fármacos prescritos por idoso. Para a análise e categorização dos dados qualitativos buscou-se a teoria de Bardin, as categorias foram divididas para interpretações e organizadas da seguinte forma: i) elevado número de medicações prescritas e de uso contínuo; ii) cuidados no preparo dos medicamentos; iii) cuidados na administração; iv) cuidados após a administração e; v) responsabilidade sobre os efeitos da medicação. Os resultados demonstraram uma quantidade elevada de fármacos utilizados pelos idosos, a existência de polifarmácia e uma necessidade de educação continuada para atender essa população melhorando a assistência no que tange a administração de medicamentos. Logo, torna-se necessária capacitações relacionadas assistência de enfermagem na terapia medicamentosa, pois sabe-se que essa faixa etária apresenta características específicas e diferenciadas de outras populações, além de ser a que mais cresce em todo o mundo. Deste modo, sugere-se um aperfeiçoamento em relação a terapias medicamentosas aos idosos e que as unidades de saúde busquem debater com suas equipes e também motivá-las para uma busca contínua do conhecimento. Descritores: idosos; polifarmácia; administração de medicamentos, enfermagem. ABSTRACT The present study aimed to describe the medical assistance performed by the nursing team in a Long Stay Institution for the Elderly (ILPI) in Boa Vista, Roraima. A quantitative and qualitative method was used. The first approach was to perform sociodemographic, clinical and pharmacotherapeutic characterization where data was collected from medical records and prescriptions from December 2016 to May 2017. The second approach analyzed nursing care in drug therapy, as well as professionals’ knowledge of the pharmacotherapy offered to the elderly by the ILPI through interviews with the nursing professionals. Among the elderly participants of the study, a mean age of 81.03 (±8.19) years and an institutionalization time of 6.99 (±6.75) was observed. In regards to diseases, there was an average of 2.73 (±1,20) diagnosesand an average of 12.53 (±4.37) drugs prescribed to the elderly. Bardin's theory was used to analyze and categorize the qualitative data. The categories were divided into interpretations and organized as follows: 1) high number of medications prescribed and continuously used; 2) care in preparation of medicines; 3) care in administration; 4) care after administration and; 5) responsibility for the effects of medication. The results showed a high amount of drug usage by the elderly, the existence of polypharmacy, and a need for continued education to attend this population, further improving the assistance in the administration of medications. Therefore, it is necessary to provide nursing care related training in drug therapy, since it is known that this age group has specific and differentiated characteristics from other populations, in addition to being the fastest growing in the world. Through this method, it suggests for an improvement in drug therapies for the elderly and that health units seek to discuss with their teams and motivate them for a continuous search for knowledge. Keywords: elderly; polypharmacy; drug administration, nursing. LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Dados demográficos e informações de saúde de idosos residentes em uma Instituição de Longa Permanência do município de Boa Vista-RR, dezembro- maio, 2017. ............................................................................................................ 26 Tabela 2 - Caracterização clínica dos idosos residentes em uma ILPI no município de Boa Vista/RR, 2017. ..................................................................................................... 28 Tabela 3 - Distribuição dos principais medicamentos prescritos aos idosos de uma ILPI, segundo o 1º nível de classificação Anatômica Terapêutica Química ATC da Relação Nacional de Medicamentos Essências (RENAME) de 2017, Boa Vista- RR, 2017. ............................................................................................................... 29 Tabela 4 - Medicamentos mais prescritos aos idosos (n=30) com categorias usadas pelo 1 nível de ATC, grupamento anatômico, em Boa Vista-RR, no período de dezembro maio de 2017.......................................................................................................... 30 Tabela 5 - Quantitativo de profissionais de enfermagem da ILPI, Boa Vista-RR, 2017. ........ 33 Tabela 6 - Distribuição dos profissionais da equipe de enfermagem de uma ILPI segundo o sexo e faixa etária. Boa Vista-RR, 2017. ............................................................... 34 Tabela 7 - Tempo de formação, atuação profissional e tempo de trabalho na ILPI. Boa Vista- RR, 2017. ............................................................................................................... 35 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11 1.1 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 12 1.1.1 Objetivo Geral ............................................................................................................... 12 1.1.2 Objetivos Específicos ..................................................................................................... 12 1.2 HIPÓTESE ........................................................................................................................ 12 1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................. 12 2 REFERENCIAL TEMÁTICO ........................................................................................... 14 2.1 TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA E EPIDEMIOLÓGICA ................................................. 14 2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENÇÃO A PESSOA IDOSA ......................................... 15 2.3 CONCEITOS PRÓPRIOS DO ENVELHECIMENTO ...................................................... 17 2.4 TERAPIAS MEDICAMENTOSAS ................................................................................... 17 2.4.1 Polifarmácia e idosos ..................................................................................................... 17 2.4.2 Segurança do paciente .................................................................................................. 18 2.4.3 Cuidados na administração de medicamentos ............................................................ 19 3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 21 3.1 TIPO DE ESTUDO ............................................................................................................. 21 3.2 LOCAL DO ESTUDO ........................................................................................................ 21 3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA ............................................................................................. 21 3.4 COLETA DE DADOS ........................................................................................................ 22 3.5 ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................................... 23 3.6 ASPECTOS ÉTICOS .......................................................................................................... 24 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 26 4.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA, CLÍNICA E FARMACOTERAPÊUTICA DOS IDOSOS ........................................................................... 26 4.2 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA TERAPIA MEDICAMENTOSA .................... 33 4.2.1 Participantes do Estudo ................................................................................................ 33 4.2.2 Categorização dos Dados .............................................................................................. 37 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 54 REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 56 APÊNDICES ........................................................................................................................... 64 ANEXOS................................................................................................................................. 66 11 1 INTRODUÇÃO A redução da taxa de fecundidade e o aumento da expectativa de vida fizeram com que a proporção de pessoas com 60 anos ou mais aumentasse de forma crescente, tornando-se um fenômeno que atinge todo o mundo (BATISTA et al., 2011). Em relação à população brasileira, seu processo de envelhecimento ocorreu de forma rápida e com ele surgiu múltiplas doenças, especialmente as crônicas, expondo a população idosa a uma demanda maior por medicamentos. Estes indivíduos constituem o grupo etário mais medicamentado do segmento social, cerca de 50% dos usuários de vários medicamentos (GIACOMIN et al., 2012). Logo, a existência do termo polifarmácia quando se refere a essa população, tornou- se algo frequente e sua definição diz respeito ao consumo de cinco ou mais medicamentos por paciente. As interações ainda podem ser classificadas conforme o grau de complicação em menor, conceituado como efeitos leves que podem passar despercebidamente; moderado levando a deterioração da situação clínica, necessitando associação de tratamento; e maior no qual os efeitos são potencialmente ameaçadores a vida, podendo produzir um dano permanente (SILVA et al., 2012). Os idosos são mais vulneráveis aos efeitos adversosdos medicamentos devido a muitos fatores, como o uso abundante e simultâneo de diversos fármacos, administrações erradas e as alterações fisiológicas no organismo que modificam a farmacodinâmica e a farmacocinética (PAULA et al., 2012). Um estudo realizado na Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) do estado de Roraima apontou que 92% de idosos consumiam cinco ou mais medicamentos, tornando a polifarmácia uma característica entre estes idosos, podendo ocasionar um maior risco de interações medicamentosas e reações adversas (LIMA et al., 2015). Com isto, o presente trabalho buscou caracterizar a população institucionalizada do único abrigo do estado de Roraima, conhecendo o perfil sociodemográfico desta população, as doenças prevalentes e os fármacos mais prescritos, bem como a existência ou não de polifarmácia e seus possíveis riscos. Compreende-se também que a equipe de enfermagem é responsável pelo o cuidado prestado 24 horas ao paciente e, além disto, sua assistência medicamentosa está estreitamente relacionada a um bom resultado no tratamento. Desta forma, percebeu-se também a necessidade de conhecer a assistência de enfermagem na administração de medicamentos e o conhecimento da equipe de enfermagem, no que concerne a terapia farmacológica. Levantando as questões: Como é feita a assistência medicamentosa aos idosos residentes na 12 ILPI de Boa Vista, Roraima? A equipe de enfermagem possui conhecimento sobre a assistência medicamentosa específica à idosos? 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Objetivo Geral Analisar a assistência de enfermagem prestada aos idosos residentes em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos no município de Boa Vista, Roraima. 1.1.2 Objetivos Específicos Realizar a caracterização sociodemográfica, clínica e farmacoterapêutica dos idosos residentes na ILPI; Conhecer a assistência de enfermagem prestada na administração de medicamentos aos idosos residentes na ILPI; Verificar o conhecimento dos profissionais acerca do tratamento farmacoterapeutico. 1.2 HIPÓTESE Os idosos da ILPI de Roraima utilizam múltiplos medicamentos e a equipe de enfermagem aplica parcialmente as práticas seguras recomendadas na administração de medicamentos. 1.3 JUSTIFICATIVA A motivação para realização desta pesquisa surgiu a partir da participação em um projeto de pesquisa, na modalidade iniciação científica, que teve como objetivo traçar o perfil epidemiológico relacionado ao uso de medicamentos psicotrópicos por idosos institucionalizados no município de Boa Vista-RR. Com esse estudo, observou-se que os idosos residentes na ILPI faziam uso de uma quantidade excessiva de medicamentos, em 13 média 10,2 medicamentos por idoso, consumo superior quando comparado com prescrições de idosos estudadas em outras instituições que tinham o número de doenças semelhantes (LIMA et al., 2015). Esse dado motivou ao desenvolvimento de uma análise mais aprofundada sobre o tema, buscando abordar o conhecimento da equipe de enfermagem sobre essa problemática, tendo em vista que esses profissionais são responsáveis pela administração dos medicamentos e consequentemente pela prevenção da ocorrência de interações medicamentosas e reações adversas, bem como a identificação das mesmas, caso ocorram. Desta forma, entende-se a importância deste estudo, pois a população idosa em questão está diariamente exposta a vários medicamentos e aos seus riscos. A enfermagem tem como responsabilidade oferecer uma assistência de qualidade e livre de danos ao paciente. Diante disto, não só a análise dos dados referentes aos medicamentos se fez necessária, mas também a avaliação do cuidado realizado pelos profissionais na administração medicamentosa proporcionando uma reflexão da assistência prestada. Logo, é de interesse para todos os envolvidos na assistência obter maior conhecimento sobre esta população e de como pode ser possível melhorar a qualidade de vida desses idosos por meio da utilização racional dos medicamentos. 14 2 REFERENCIAL TEMÁTICO 2.1 TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA E EPIDEMIOLÓGICA A população brasileira vem crescendo a passos largos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualmente a população total do país é de aproximadamente 206.826.911 brasileiros. No entanto, além deste crescimento houve também outras mudanças demográficas principalmente em relação às estruturas etárias (LÓZ, 2012). Como exemplo pode-se observar que a faixa etária de idosos é a que mais cresce no mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde em 2050 cerca de 2 milhões de pessoas, ou um em cada quatro terá mais de 60 anos. A expectativa voltada para a população brasileira, não se distancia disto, pois, a mesma afirma que nos próximos 20 anos, ultrapasse 30 milhões de pessoas e represente aproximadamente 13% da população ao final deste período (IBGE, 2016; OMS, 2015). Na atualidade, verifica-se que a população vive quase 10 anos a mais que os 65 anos previstos quando da promulgação da constituição federal de 1988. Relacionando isto a queda de natalidade, significa que a população envelhece cada vez mais e os idosos passam a ser um tema de enorme relevância tanto para o Estado quanto para a sociedade (CEDENHO, 2014). O termo transição epidemiológica surgiu há mais de 30 anos por Abdel Omran que tem como definição, a modificação nos padrões de morbidade, invalidez e morte que designa uma população, ocorrendo em conjunto com outras transformações de âmbito demográfico e social (DUARTE; BARRETO, 2013). As mudanças na configuração da população trouxeram modificações socioeconômicas de grande impacto, entre elas, o aumento da demanda por serviços sociais e de saúde, considerado até então uma característica exclusiva de países desenvolvidos (OLIVEIRA; NOVAES, 2013). No Brasil é evidente essa transição epidemiológica, as doenças infecciosas que antes representavam 46% do total de óbitos na década de 1930, agora apresentam uma taxa menor que 5 % (CHAIMOWISC, 2013). Segundos dados do DATASUS, o país no ano de 2015 apresentava um número de 1.907.639 diabéticos e 6.992.098 hipertensos cadastrados na atenção básica, sendo que em Boa vista/RR tem-se um total de 10.752 mil pessoas portadoras de algumas dessas doenças 15 crônicas, mostrando um número elevado e consequentemente seu aumento na população de todo o país e também na realidade local. Nota-se, desta forma, que as doenças passaram a apresentar um novo perfil de adoecimento, decorrentes de modificações estruturais e funcionais do organismo humano, refletindo no aumento do número de enfermidades próprio dos idosos. Entre elas destacam-se as crônico-degenerativas, sendo as doenças cardiovasculares, psiquiátricas e locomotoras as mais prevalentes (PAULA et al., 2012). Nesse contexto, surgem as Instituições de Longa Permanência de Idosos mantidas pelo governo, por associações religiosas e beneficentes ou pelos idosos e familiares, com o objetivo de atender às necessidades sociais da sociedade moderna (OLIVEIRA; NOVAES, 2013). Deste modo, entende-se que o setor da saúde, assim como os demais, precisa estar preparado para atender as pessoas idosas que o país já possui, e as tantas outras que em pouco tempo farão parte deste grupo (LÓZ, 2012). 2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENÇÃO A PESSOA IDOSA Na constituição do Brasil em 1988, houve um fato histórico, o direito universal e integral a saúde foi conquistado e confirmado, posteriormente, com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), através das Leis Orgânicas de Saúde (8080/90 e 8142/90) (BRASIL, 2010). Com isto, o estado passou a se responsabilizar em prover assistência à saúde para todas as pessoas, de forma igualitária e universal sem excluir nenhum segmento social (LÓZ, 2012). O objetivodas políticas públicas de saúde é garantir atenção a toda população com medidas promoção, prevenção e recuperação da saúde, assegurando uma atenção integral, considerando as realidades e necessidades de saúde de toda a população (BRASIL, 2010). Em prol do aumento da parcela populacional idosa e respeitando os direitos previstos na constituição de 1988, foi declarada em 1994 a Política de Atenção do Idoso (PAI) regulamentada, anos depois, pelo decreto Nº 1.948/96.6. Esse decreto tem por finalidade garantir direitos sociais assegurando a promoção da autonomia, integração e participação efetiva do idoso na sociedade, de forma que ele possa exercer sua cidadania (FERNANDES; SOARES, 2012). No ano de 1999, foi estabelecida a Política de Saúde da Pessoa Idosa (PSPI) pela Portaria Ministerial nº 1.395/99, a mesma determina que, os órgãos do Ministério da Saúde (MS) envolvidos no tema promovam a elaboração e adequação de planos, projetos e ações em 16 acordo com as diretrizes e responsabilidades nela determinadas (BRASIL, 2010). Esta Política afirma que o problema que pode afetar o idoso é principalmente a perda na sua capacidade funcional, como habilidades mentais e físicas necessárias para realização das atividades básicas diárias (BRASIL, 2006). Em 2002, como forma de avaliação, supervisão, acompanhamento e controle da assistência à saúde é sugerida a organização e implantação de Redes Estaduais de Assistência à Saúde do Idoso (Portaria GM/MS nº 702/2002) (LÓZ, 2012). A mesma tem como base a condição de gestão e a divisão de responsabilidades, definidas pela Norma Operacional de Assistência à Saúde, NOAS 2002, (BRASIL, 2010). Um ano depois, é aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pelo Presidente da República o estatuto do Idoso pela lei nº 10.741, julgada uma das maiores conquistas sociais dos idosos, aumentando a resposta do estado e da sociedade para as necessidades desta faixa etária (BRASIL, 2010). O Estatuto também é responsável por garantir ao idoso o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e a vivência familiar e comunitária (BRASIL, 2003). No capitulo IV da lei, fala-se especificamente sobre o papel do SUS na garantia da atenção à saúde da pessoa idosa de forma integral e em todos os níveis de atenção, tratado no artigo 15: É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde - SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos (BRASIL, 2010, p. 20). Com o acelerado crescimento da população idosa e visando corresponder de forma mais eficaz a necessidade deste grupo, foi aprovada a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), uma atualização da portaria de 94 (BRASIL, 2010). Em conformidade com o SUS, esta política objetiva direcionar medidas individuais e coletivas em todos os níveis de atenção à saúde do idoso (BRASIL, 2009). Uma das diretrizes da Política, diz que deve haver formação e educação permanente dos profissionais do SUS que atuam na área de Saúde do idoso, esta premissa é reafirmada através das estratégias da política, entre elas, destaca-se a realização de curso de educação à distância sobre envelhecimento e saúde as pessoas idosas-EAD (BRASIL, 2009). Verificou-se também que existe uma estratégia voltada para o acesso e uso racional de medicamentos, pois se sabe que nos idosos os medicamentos atuam de modo diferente, elevando os riscos de intoxicação e de efeitos indesejados (BRASIL, 2015). 17 2.3 CONCEITOS PRÓPRIOS DO ENVELHECIMENTO Compreender o processo de envelhecimento, não exige somente o entendimento do significado da palavra na concepção linguística do termo, no qual se diz que, envelhecer é de forma gradual chegar a um período mais avançado da vida acompanhado de significativas perdas das habilidades cognitivas, entende-se a partir disto que, o processo é apenas uma simples mudança de fase da vida ignorando, deste modo, as inúmeras variáveis tão presentes no envelhecimento (DÁTILO; CORDEIRO, 2015). Verificou-se também que na sua definição a OMS utiliza bases cronológicas para definir se um indivíduo é idoso ou não, como exemplo, pode-se citar a determinação da faixa etária de idosos nos países em desenvolvimento (idade de 60 anos ou mais) e nos países desenvolvidos (idade igual ou superior a 65 anos) (OMS, 2015). Nesses países, acredita-se que o processo de envelhecimento ocorreu de modo diferente, ou seja, nos desenvolvidos esse fenômeno dá-se de forma gradual, portanto a sociedade tem mais tempo para se preparar para a transição social. Ao contrário dos países em desenvolvimento, que apresentaram uma acelerada mudança impondo grandes desafios, pois apesar das pessoas viverem mais, a qualidade de vida não segue esta evolução (BATISTA; LANCMAN, 2011). Biologicamente o envelhecimento está vinculado ao acúmulo de uma enorme variedade de danos tantos moleculares quanto celulares. Ao longo do tempo, esses danos desencadeiam uma perda gradual nas reservas fisiológicas, aumento do risco de contrair diversas doenças e um declínio geral intrínseco do indivíduo e por último o falecimento. No entanto, estas mudanças não são constantes nem tão pouco lineares, mas apenas uma vaga associação da idade de uma pessoa em anos (OMS, 2015). 2.4 TERAPIAS MEDICAMENTOSAS 2.4.1 Polifarmácia e idosos A polifarmácia é definida como a utilização de no mínimo cinco medicamentos por pessoa. Os idosos são mais favoráveis a apresentar mais doenças e a serem expostos a um consumo maior de fármacos e, com isto, aos riscos de seu uso excessivo (SILVA et al., 2012). 18 O risco e a gravidade tanto das reações adversas a medicamentos (RAM) quanto como às interações medicamentosas (IM) estão estreitamente associadas à polifarmácia, principalmente entre os indivíduos com 60 anos ou mais, tendo risco de 58% no uso de cinco agentes e aumenta para 82% nos casos em que são consumidos sete ou mais medicamentos (SECOLI, 2010). No entanto, os objetivos primordiais das associações medicamentosas são a potencialização dos efeitos terapêuticos, limitação dos efeitos adversos e doses terapêuticas, bem como a prevenção as resistências, obtenção das ações múltiplas e disponibilização de um maior bem-estar ao paciente (GIACOMIN et al., 2012). Diversos estudos apontam que cada idoso toma em média quatro a seis medicamentos e que este número só aumenta com o avançar da idade, sendo os agentes cardiovasculares, psicofármacos, anti-inflamatórios, analgésicos e gastrintestinais os medicamentos mais utilizados por esta parcela da população (PAULA et al., 2012; SECOLI, 2010). Esse grupo etário é o segmento social mais medicamentado, constituindo-se mais de 50% dos usuários de múltiplos medicamentos (GIACOMIN et al., 2012). Para evitar e prevenir os problemas decorrentes da polifarmácia, além de tratar possíveis complicações o profissional de saúde que atende o público geriátrico, precisa conhecer as alterações orgânicas próprias do envelhecimento, que vão influenciar no metabolismo das drogas, bem como a farmacologia das medicações prescritas, seus efeitos adversos e interações medicamentosas (SILVA et al., 2013). 2.4.2 Segurança do paciente O tema segurança do paciente está em evidencia desde o ano de 2008, graças ao movimento social que resultou na Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do paciente (REBRAENSP), com o objetivo de cuidados seguros (CASSIANI, 2010). Em 2013, houve a criação da portaria n⁰ 529, considerada uma ação conjunta do MS com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) dando origem ao ProgramaNacional de Segurança do Paciente (PNSP) que tem por finalidade contribuir para a qualificação do cuidado em saúde em todos os estabelecimentos de saúde do território nacional (BRASIL, 2013). Ao se discutir segurança do paciente, há a necessidade de atenção para o sistema de medicação, pois os erros relacionados aos medicamentos são considerados um problema de saúde pública que afeta principalmente os pacientes hospitalizados (GIMENES et al., 2010). 19 Os erros de medicação podem causar diversas consequências para o cliente, como: agravos no estado de saúde e alterações clínicas; para o sistema de saúde pode elevar o tempo de internação e aumentar os custos com procedimentos (ANACLETO, 2010). Os erros que estão relacionados às medicações podem ser classificados como eventos adversos evitáveis e está muito presente na realidade hospitalar, a média é um erro, pelo menos, em um paciente por dia (SILVA; SILVA, 2012). Estudos afirmam que os erros de medicação ocorrem em uma proporção de um para cada cinco eventos, posicionando-os nos que mais acometem os pacientes no ambiente de serviços de saúde (PEREIRA et al., 2016). Nesse contexto, a equipe de enfermagem destaca-se como sujeito ativo nos ambientes hospitalares e último elo da cadeia, podendo evitar possíveis erros medicamentosos (CAMERINI, 2011). 2.4.3 Cuidados na administração de medicamentos O enfermeiro é apto a desempenhar diversas funções, entre elas destaca-se a função técnica, considerada uma das mais tradicionais. O mesmo tem como responsabilidade a administração de medicamentos, incluindo os conhecimentos sobre farmacologia, planejamento de estoque e armazenamento, orientação da equipe, pacientes e familiares, avaliação geral do paciente antes, durante e após a medicação e cuidados com o preparo e administração do medicamento (MARCOLAN; URASAKI, 1998). O medicamento é toda substancia que tem um objetivo terapêutico ao ser introduzido no organismo (COREN, 2016). A administração de medicamentos é considerada a fase em que a enfermagem está mais favorável ao erro, não apenas por ser uma fase que depende de etapas anteriores, mas por ser a última oportunidade de detecção de um possível erro, no qual a única barreira para deter o mesmo é o enfermeiro e o paciente (SILVA; CAMERINI, 2012). A regra dos nove certos é considerada uma prática que pode garantir a segurança do paciente quando se fala em manejo com medicamentos, as regras incluem: 1. usuário certo; 2. dose certa; 3. medicamento certo; 4. hora certa; 5. via certa; 6. anotação certa; 7. orientação ao paciente; 8. compatibilidade medicamentosa , 9. o direito do paciente em recusar a medicação (TEXEIRA E CASSIANI, 2010). 20 As ILPIs têm normas e rotinas que direcionam a organização dos serviços prestados como: alimentação, higiene das pessoas e ambiente e ao controle do fluxo tanto de pessoas como dos objetos. (FREITAS; NORONHA, 2013). No entanto, a prática da administração de medicamentos em instituições de saúde deve estar inserida em protocolos de normas e rotinas sendo que este procedimento deve ser atribuído a profissionais capacitados, pois entende-se que não se trata de um cuidado mecânico resumido apenas ao ato de administrar os fármacos sem considerar as precauções associadas a estes (FREITAS; NORONHA, 2013; LIMA, 2012). 21 3 METODOLOGIA 3.1 TIPO DE ESTUDO Considerando os conceitos de pesquisa qualitativa e quantitativa, observa-se que a qualitativa enfatiza os aspectos dinâmicos, holísticos e individuais dos fenômenos humanos para aprender a totalidade, e a quantitativa tem como base o pensamento positivista lógico, que salienta o raciocínio dedutivo, as regras da lógica e os atributos que são mensuráveis do aspecto humano. O presente estudo está inserido neste contexto, compreendendo que a pesquisa conjunta permite obter mais informações do que isoladamente (GERHARALT; SILVEIRA, 2009). Foi realizado um estudo descritivo e observacional com abordagem quantitativa e qualitativa. 3.2 LOCAL DO ESTUDO A pesquisa foi realizada em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos do estado de Roraima, de administração estadual, com capacidade para abrigar aproximadamente 30 idosos e tem como finalidade prestar assistência aos idosos que apresentam vulnerabilidade social, como: abandono familiar e condições precárias de moradia. A estrutura física comporta uma área de lazer, quartos e banheiros coletivos, cozinha, refeitório, lavanderia, área administrativa. Os idosos residentes na ILPI contam com atendimento de uma equipe multidisciplinar composta por assistente social, psicólogo, fonoaudiólogo, nutricionista, farmacêutico, fisioterapeuta, médicos e cinco equipes de enfermagem (um enfermeiro e três técnicos ou auxiliar de enfermagem em cada equipe) responsáveis por assistir o paciente diariamente. 3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA Para realizar a caracterização sociodemográfica, clínica e farmacoterapêutica dos idosos residentes na ILPI, foram analisados os prontuários e prescrições médicas daqueles que residirem na ILPI há, pelo menos, um ano, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 60 anos. Foram excluídos da pesquisa os idosos que deixaram de residir na ILPI, durante o 22 período da coleta dos dados por motivo de transferência, restabelecimento de vinculo familiar, hospitalização ou óbito. Para conhecer a assistência de enfermagem prestada na administração de medicamentos a esses idosos e verificar o conhecimento dos profissionais acerca do tratamento farmacoterapêutico na ILPI foram entrevistados profissionais da equipe de enfermagem, dentre eles: enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, que atuavam na instituição em questão por um período mínimo de 3 meses e que estavam diretamente envolvidos na assistência medicamentosa desses idosos. Foram excluídos os profissionais que na ocasião da coleta dos dados estavam ausentes por motivo de férias, licença ou outro motivo que o afastasse do trabalho. 3.4 COLETA DE DADOS Para atender os objetivos de realizar a caracterização sociodemográfica, clínica e farmacoterapêutica dos idosos residentes na ILPI, utilizou-se um formulário, elaborado exclusivamente para esta pesquisa, no qual continha os dados obtidos através dos prontuários e prescrições médicas dos idosos, a saber: i) dados sociodemográficos (idade, sexo, naturalidade, estado civil, escolaridade, benefício, forma de entrada e tempo de institucionalização); ii) dados clínicos (diagnósticos médicos) e; iii) dados farmacoterapêuticos (tipo, dose, posologia dos medicamentos, via e horário de administração, profissional responsável pela administração). Foram analisados os prontuários e prescrições médicas referentes ao período de dezembro de 2016 a maio de 2017. Por se tratar de dados secundários retirados dos prontuários idosos não houve necessidade da aplicação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), no entanto a pesquisadora assinou o Termo de Compromisso de Utilização dos Dados (TCUD) se comprometendo a manter sigilo dos dados coletados dos prontuários e prescrições dos idosos. Para conhecer a assistência de enfermagem prestada na administração de medicamentos a estes idosos e verificar o conhecimento dos profissionais acerca do tratamento farmacoterapêutico na instituição em questão, foram entrevistados os profissionais da equipe de enfermagem que atuavam diretamente na assistência medicamentosa desses idosos. A coleta dos dados ocorreu da seguinte maneira: primeiramente foi realizado um levantamento dos participantes do estudo a partir da escala de serviço do setor, em seguida se traçou uma programação para realização das entrevistas, a partir da disponibilidade dos 23 profissionais, de forma que não interferia na rotinade trabalho. Aos profissionais foi apresentado o TCLE e aqueles que concordaram em participar da pesquisa assinaram o TCLE em duas vias. O instrumento de coleta de dados foi uma entrevista semiestruturada composta por questões norteadoras a respeito da assistência medicamentosa oferecida aos idosos. Realizou-se um pré-teste com o objetivo de validar o instrumento da pesquisa, avaliando a fidedignidade, aceitabilidade, pertinência, organização, clareza e entendimento das questões. O mesmo se aplicou a uma pequena amostra de participantes com características semelhantes ao público alvo, porém esses não fizeram parte da amostra final. Um gravador foi utilizado para melhorar o registro e propiciar maior fidedignidade dos dados, pois desta forma preservou-se o conteúdo original e, identificou-se elementos de comunicação, como pausas de reflexão, dúvidas e entonação da voz. A coleta dos dados foi realizada no período entre março e junho de 2017. 3.5 ANÁLISE DOS DADOS Os dados quantitativos foram tabulados em uma planilha do programa Microsoft Excel 2010. A análise descritiva dos dados foi efetuada mediante frequências relativas e absolutas, bem como medida de tendência central (média) e dispersão (desvio padrão), utilizando o software Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão 23.0. Para classificação dos dados farmacoterapêuticos foi utilizada a Classificação Anatômica Terapêutica Química (ATC), que consta na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) de 2017. Os dados qualitativos foram analisados de acordo com método de análise de conteúdo proposto por Bardin (2006) que considera o sentido comum e contínuo nas falas (MINAYO, 2009). A sequência de passos preconizada por Bardin (2006) divide a análise em três etapas, sendo (I) a pré-análise, (II) exploração do material, (III) tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Com isso, essa pesquisa teve como base essas fases, em que na pré-analise organizou-se o material analisado, ou seja, as ideias iniciais foram sistematizadas. Conforme Bardin (2006), dentro desta fase existem ainda quatro etapas como: a leitura fluente que se tem o contato com o material coletado e consequentemente o conhecimento do texto; escolha dos documentos que consiste na seleção do que servirá como análise; formulação dos 24 objetivos e hipótese e inferência e referenciação dos índices e elaboração de indicadores, a partir de cortes no texto analisado se têm a determinação de indicadores. A segunda fase, denominada, exploração do material, significa explorar os dados através de categorização, a categoria tem como conceito elementos ou aspectos com características comuns que se relacionam entre si. Esta etapa possibilita as diversas interpretações e inferências. No qual é considerada a fase de descrição analítica do material coletado que será submetido a um estudo aprofundo orientado pelas hipóteses e referenciais teóricas. Tendo como base a codificação, a classificação e a categorização (MINAYO, 2009). E por fim a terceira fase, dos resultados, inferência e interpretação, nela se tem a condensação dos dados e o destaque de informações para análise, atingindo as interpretações inferenciais, é ainda a ocasião da análise reflexiva, crítica e intuitiva (BARDIN, 2006). 3.6 ASPECTOS ÉTICOS O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Roraima sob o parecer nº 2.005.189, conforme a Resolução CNS n° 466/2012. Para a coleta sobre a assistência de enfermagem prestada na administração de medicamentos e o conhecimento dos profissionais acerca do tratamento farmacoterapêutico foram disponibilizadas duas vias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (ANEXO 2) assinado pelos envolvidos na pesquisa e contendo informações do pesquisador, garantindo a confidencialidade das informações. Para a coleta dos dados dos prontuários e prescrições dos idosos o pesquisador assinou também o Termo de Compromisso de Utilização dos Dados (TCUD) (ANEXO 1) se comprometendo a guardar sigilo das informações contidas nesses documentos. Vale mencionar que será mantido o anonimato de todos os envolvidos na pesquisa (idosos e profissionais). Referente aos idosos foram coletados somente as iniciais do nome de cada um e no que se refere aos profissionais, para fins de relatório de pesquisa, cada entrevista foi identificada pela letra E (inicial de enfermeiro), TE (inicial de técnico de enfermagem) e letras AE (inicial de auxiliar de enfermagem) seguida por um número arábico, conforme ordem de inserção dos profissionais no estudo, da seguinte forma: E1, E2,... TE1, TE2,... AUX1, AUX2,... Quanto à avaliação dos riscos e benefícios desta pesquisa, destaca-se como possíveis riscos a insegurança por parte dos idosos quanto ao sigilo das informações contidas nos seus respectivos prontuários e prescrições médicas e por parte dos profissionais de enfermagem 25 quanto ao sigilo das informações fornecidas através do formulário a ser respondido e possível constrangimento por acreditar que seu trabalho na instituição esteja sendo avaliado. Quanto aos benefícios, destaca-se que a pesquisa poderá fornecer informações para discussão da assistência medicamentosa prestada aos idosos e, consequentemente uma reflexão para a melhoria na qualidade de vida dos idosos institucionalizados. 26 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Esse capítulo inicia-se com a apresentação dos dados quantitativos, na oportunidade utilizou-se falas dos profissionais de enfermagem para complementar a informação discutida. Na sequência, realizou-se a análise dos dados qualitativos referente à assistência de enfermagem prestada na administração de medicamentos e o conhecimento dos profissionais acerca da assistência medicamentosa aos idosos da instituição em questão. 4.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA, CLÍNICA E FARMACOTERAPÊUTICA DOS IDOSOS Durante o período do estudo a ILPI contava com uma população de 33 idosos institucionalizados. Destes, 91% (n=30) atenderam aos critérios de inclusão e 9% (n=3) tinham um tempo de institucionalização inferior a um ano e foram consequentemente excluídos da análise. Dessa forma, a amostra foi formada por 30 idosos, sendo o percentual de homens 90% (n=27) superior ao de mulheres 10% (n=3) (Tabela 1). Essa informação vai ao encontro de um estudo realizado no ano de 2015, com a mesma população, no qual também demonstrou a predominância de homens 85,7% na instituição. Ainda que, a maioria das pesquisas que analisam o perfil de idosos em instituições informe que há uma presença significativa de idosas, justificada pela expectativa de vida maior das mulheres em relação aos homens, o número elevado de homens no abrigo em questão continua incompatível com os demais estudos analisados, podendo ser esta uma característica local (ALENCAR et al., 2012; NETO et al., 2011). Tabela 1 - Dados demográficos e informações de saúde de idosos residentes em uma Instituição de Longa Permanência do município de Boa Vista-RR, dezembro-maio, 2017. Características Valores (%) Nº total de idosos 30 100,0 Nº de homens 27 90 N° de mulheres 3 10 Idade em anos (M ± DP)1 81,03 ± 8,19 - Tempo de institucionalização em anos (M ± DP)1 6,99 ± 6,75 - N° de doenças diagnosticadas por idoso (M ± DP)1 2,73 ± 1,20 - Nº de medicamentos utilizados por idoso (M ± DP)1 12,53 ± 4,37 - Fonte: autoria própria (2017). 1M: média; DP: desvio padrão. 27 Logo, surgem diversas suposições para esclarecer essa peculiaridade no estado de Roraima, como: a presença de pessoas, principalmente homens, que mudaram para a região em busca de melhores condições de vida com a atividade no garimpo. Segundo Sousa (2016), a migração para o estado teve seu auge na década de 1980com o garimpo, pois o mesmo era visto como uma possibilidade de enriquecimento através da extração mineral, ou seja, neste período houve ondas migratórias que se direcionaram para Roraima e tinham como ponto de apoio Boa Vista, influenciando também na urbanização da cidade. Os garimpeiros vinham de vários estados e tinham uma longa permanência em áreas interioranas, sendo uma ocupação episódica de homens sozinhos e não de famílias. Fundamentando deste modo, o provável motivo para a presença da maioria de idosos do sexo masculino institucionalizados em Roraima (BARROS 1995, apud SOUZA, 2016). Quanto à idade, estudos da literatura que apontam idosos longevos com 78,6 (± 9,2) caracterizando idosos com idades mais avançada e semelhança nas informações encontradas. Pesquisas apontam ainda que os idosos têm como características a longevidade, devido às inovações farmacoterapêuticas e mudanças comportamentais (FERREIRA et al., 2012). Entre os participantes do estudo, observou-se uma idade média de 81,03 (± 8,19) anos e um tempo de institucionalização de 6,99 (± 6,75), semelhante ao observado no estudo de Lima et al. (2015). Em relação às doenças que afetam os residentes houve uma média de 2,73 (± 1,20) diagnósticos e quanto à quantidade de medicamentos verificou-se uma média de 12,53 (± 4,33) fármacos prescritos por idoso (Tabela 1). No que diz respeito ao perfil clínico do grupo pesquisado, percebeu-se que os problemas de saúde que mais acometem esta população estão relacionados às doenças do aparelho cardiocirculatório (41,2%) e aos transtornos mentais e comportamentais (15,6%). As doenças diagnosticadas apresentaram uma média menor do que a verificada no ano de 2015 com a população de idosos na mesma ILPI de Boa Vista, que eram em torno de 3,0 (±1) (LIMA et al., 2015). Desta forma, pode-se perceber uma diminuição no número de doenças diagnosticadas nos idosos. Os principais diagnósticos na ILPI foram Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) (28,0%), Acidente Vascular Encefálico (8,43%) e demências (7,2%). A HAS foi a doença mais frequente entre os idosos deste estudo 28,0% (n=23) (Tabela 2). Em um estudo desenvolvido por Zattar et al (2013), no sul do país, que teve como objetivo descrever a prevalência de HAS em indivíduos a partir dos 60 anos, identificou que em cada dez idosos mais de oito apresentava pressão arterial elevada. Aproximando-se da realidade do município de Boa Vista, pesquisa realizada no ano de 2015 com uma população de idosos residentes na 28 mesma instituição também demonstram a liderança da HAS 26, 3% (n=20), entre as doenças crônicas que mais acometem esta faixa etária (LIMA et al., 2015). A literatura fala ainda sobre os problemas que acometem os idosos por sistemas, destacando: o sistema cardiovascular (82,5%) e nervoso (54,6%) (OLIVEIRA; NOVAES, 2013). Como observado, no presente trabalho os transtornos mentais também indicaram um número significativo 15,6% (n=13) de idosos portadores dessas doenças. Mais uma vez, os resultados obtidos não são isolados frente às pesquisas realizadas, considerando que a demência, após as doenças cardiovasculares, tem uma taxa de prevalência considerável (LINI et al., 2016; NETO et al., 2011). Tabela 2 - Caracterização clínica dos idosos residentes em uma ILPI no município de Boa Vista/RR, 2017. Fonte: autoria própria (2017). Quando entrevistado, os profissionais de enfermagem que atuam na ILPI também abordaram em seus discursos uma frequência maior desses distúrbios mentais, como visto a seguir: Doenças diagnosticadas No de casos % total Doenças do aparelho cardiocirculatório 34 41,2 Hipertensão Arterial Sistêmica 23 28 Acidente Vascular Encefálico (AVE)/Sequelas de AVE 07 8,43 Cardiopatias 04 4,81 Transtornos mentais e comportamentais 13 15,6 Demências 06 7,2 Depressão 05 6,0 Outras 02 2,4 Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas 07 8,4 Diabetes Mellitus 06 7,2 Anemia 01 1,2 Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo 07 8,4 Osteoporose 03 3,6 Artrite/Artrose/Reumatismo 02 2,4 Outras 02 2,4 Doenças do aparelho geniturinário 05 6,0 Doença renal 05 6,0 Outras doenças 17 20,4 Total 83 100 29 "É... muitos já têm processo de demência, né?! De Alzheimer, Parkinson, então eles estão aqui..." (E1) "Eles sentem muita solidão, né?! Então, e... Com o tempo eles vão cada vez mais ficando mais triste ainda, entendeu?" (TE2) Segundo Lini (2014), em sua pesquisa foi detectado um número prevalente de demências nos idosos institucionalizados, e para o mesmo a demência pode ser considerada preditivo para institucionalização. Embasando mais uma vez a questão da demência em idosos que residem em ILPI. Em relação aos medicamentos prescritos aos idosos, foi observada uma média de 12,53 (±4,37) medicamentos por idoso. No período de dezembro de 2016 a maio de 2017, foram prescritos 105 medicamentos diferentes de uso oral ou parenteral. Houve um maior percentual de medicamentos com ação no sistema nervoso (24,8%), sistema cardiovascular (18,0%) e trato metabólico (18,0%) (Tabela 3). Tabela 3 - Distribuição dos principais medicamentos prescritos aos idosos de uma ILPI, segundo o 1º nível de classificação Anatômica Terapêutica Química da Relação Nacional de Medicamentos Essências (RENAME) de 2017, Boa Vista-RR, 2017. Classificação ATC 1º nível N % Sistema Nervoso 26 24,8 Trato Alimentar e Metabólico 19 18 Sistema Cardiovascular 19 18 Anti-Infecciosos Gerais para uso Sistêmico 14 13,3 Sistema Musculoesquelético 13 12,3 Aparelho Respiratório 7 6,8 Sangue e Órgãos Formadores de Sangue 3 2,9 Preparados Hormonais Sistêmicos, Excluindo Hormônios Sexuais e Insulinas 2 1,9 Sistema Geniturinário e Hormônios Sexuais 1 1 Dermatológico 0 0 Vários 1 1 Total 105 100,0 Fonte: autoria própria (2017). Em relação aos medicamentos mais prescritos, separou-se os três principais das regiões anatômicas segundo o 1⁰ nível de ATC, mais prevalentes e o principal das 30 subsequentes, e verificou a prevalência dos mesmos na população idosa. Logo, os medicamentos que mais foram prescritos são os do Sistema Nervoso: dipirona (n=24), memantina (n=12) e risperidona (n=12); Sistema Cardiovascular: losartana (n=16), AAS (n=12) e sinvastantina (n=12); Trato Alimentar e Metabólico: omeprazol (n=17), carbonato de cálcio (n=10) e dimeticona, escopolamina e metoclopramida (n=4), entre outros, como elencados na tabela a seguir (Tabela 4). É importante ressaltar que foram desconsiderados fármacos de uso tópicos, vitaminas e sais minerais, suplementos alimentares e fitoterápicos na pesquisa, em decorrência de ser pouco relevante na classificação da ATC. Mas não se pode deixar de mencionar a significativa prevalência desses medicamentos prescritos. Tabela 4 - Medicamentos mais prescritos aos idosos (n=30) com categorias usadas pelo 1 nível de ATC, grupamento anatômico, em Boa Vista-RR, no período de dezembro maio de 2017. MEDICAMENTOS PRESCRITOS N % Sistema Nervoso Dipirona 24 80,0 Memantina 12 40,0 Risperidona 12 40,0 Sistema Cardiovascular Losartana 16 53,3 AAS 12 40,0 Sinvastatina 12 40,0 Trato Alimentar e Metabólico Omeprazol 17 56,7 Carbonato de Cálcio 10 33,3 Dimeticona/Escopolamina/metoclopramida 4 20,0 Dermatológico Fluconazol 10 33,3 Anti-Infeccioso para Uso Sistêmico Ceftriaxona 8 26,7 Sistema Musculoesquelético Ibuprofeno 5 16,7 Sangue e Órgãos Formadores de Sangue ÁcidoEpsilon –aminocaproico 4 13,3 Aparelho Respiratório Prometazina 4 13,3 Preparados Hormonais Sistêmicos Finasterida 2 6,7 Fonte: autoria própria (2017). 31 Com a pesquisa, pode-se verificar que os idosos utilizam uma quantidade elevada de medicamentos, tornando-os mais suscetíveis às complicaçõesdesse uso e caracterizando a polifarmácia. Segundo Bjerrum (1997), a polifarmácia no seu conceito pode trazer duas classificações, a primeira diz respeito ao uso simultâneo de dois a quatro medicamentos denominado polifarmácia menor, e uso concorrente de cinco ou mais medicamentos classificados como polifarmácia principal. A polifarmácia em idosos institucionalizados não é algo inédito deste estudo, outras pesquisas com semelhantes temáticas já evidenciam o uso de vários medicamentos entre esses idosos (LUCCHETTI, 2010; REIS; JESUS, 2017). Um estudo realizado por Lima et al. (2015), com essa mesma população, já trazia uma quantidade elevada de medicamentos utilizados por idosos, aproximadamente 10,2 (±4,4), e evidenciava consequentemente o uso de cinco ou mais medicamentos em 92,8% dos idosos residentes na ILPI, no período do estudo. Reis e Jesus (2017), observaram que 69,7% dos idosos de uma ILPI faziam uso de cinco ou mais medicamentos, caracterizando a polifarmácia. Porém, esse dado não pode ser atribuído à prevalência de múltiplas doenças, visto que apenas 15,8% apresentavam mais de cinco patologias. No entanto Fochat et al. (2012), afirmam que a presença de múltiplas doenças também é um fator determinante para a utilização de múltiplos medicamentos, a população na sua pesquisa apresentava uma média de 6,0 ± 3,0 medicamentos por idoso. No presente estudo, nota-se uma média elevada de medicações 12,53 (±4,37), sendo que 89,9% dos idosos fazem uso de mais de 5 medicamentos de forma concomitante. De modo que, as doenças sejam atribuídas como justificativa para esse resultado se pode perceber também que houve uma diminuição no número de doenças diagnosticadas nos idosos. Contudo, continua elevada a quantidade de medicamentos prescritos sendo até maior do que o observado no ano de 2015. Segundo Secoli (2010), as RAM e IM estão estreitamente relacionadas à polifarmácia, principalmente em indivíduos idosos, e o risco de uma dessas complicações vai se tornando mais alta conforme o uso de medicamentos, sendo que o idoso que utiliza mais de sete agentes tem 82% de chance de apresentar uma complicação em decorrência da sua farmacoterapêutica. Realizando uma análise mais aprofundada desses medicamentos, notou-se que os mais usados fazem parte principalmente sistema nervoso, trato alimentar e metabólico e sistema cardiovascular. 32 Considerando a relação das diversas doenças com a utilização de medicamentos, verificou-se que a maior prevalência é de doenças do sistema cardiovascular, em contrapartida o maior número de prescrições de fármacos é do sistema nervoso. Ressalta-se que o número de medicamentos do sistema cardiovascular é expressivo, mas não se sobrepôs ao do sistema nervoso. Com a atual pesquisa houve uma concordância em relação à sequência de fármacos mais prescritos com outros estudos. Segundo Fochat et al. (2012), o sistema nervoso lidera a categoria de medicamentos mais prescritos. Ivo e Ferreira (2005), também colocam os medicamentos do sistema nervoso no topo de mais prescritos (44%), na sequência sistema cardiovascular e medicamentos do trato alimentar. Ou seja, os sistemas mais prevalentes desta pesquisa estão em conformidade com as pesquisas anteriormente comentadas. Outro fato observado em relação às prescrições é o aumento do probiótico (Saccharomyces cerevisiae) no mês de fevereiro prescrito para 5 idosos (16,6%). O probiótico em questão é um medicamento destinado ao tratamento dos distúrbios da microbiota intestinal fisiológica causados por germes patógenos, ou pelo uso de antibióticos (ANVISA, 2016). A recorrência deste fármaco pode indicar que esses idosos foram expostos ao mesmo agente patogênico ou outros fatos desencadeantes, havendo a necessidade da inserção desses medicamentos nas prescrições dos indivíduos desse período. A ocorrência do mesmo também é percebida pelos profissionais, como identificado nesta fala: "Pelo fato de um gripar, quase todos gripam, né?! Se um pega uma pneumonia quase todos pegam uma pneumonia (...)" TE4 Logo, percebe-se que a utilização excessiva de medicamentos é algo preocupante entre os idosos da ILPI em Boa Vista, e que independente dos fatores que propiciam um maior risco para uma IM e RAM, como o envelhecimento devido às mudanças funcionais, principalmente em decorrência do envelhecimento e os que possibilitam um maior consumo de medicamentos como as múltiplas doenças, a média de 12,53 (±4,37) medicamentos por idoso, torna a situação do público estudado alarmante necessitando uma atenção e métodos para tornar a assistência medicamentosa mais segura. 33 4.2 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA TERAPIA MEDICAMENTOSA 4.2.1 Participantes do estudo Participaram do estudo os profissionais da equipe de enfermagem da Instituição de Longa Permanência para Idosos que atuavam na instituição por um período igual ou superior a três meses e que não estavam afastados durante o período das entrevistas. Totalizando 14 profissionais entrevistados. Tabela 5 - Quantitativo de profissionais de enfermagem da ILPI, Boa Vista-RR, 2017. Profissionais da equipe de enfermagem Total profissionais (%) profissionais N Amostra (%) Amostra Enfermeiros 07 33,3 03 42,9 Técnicos de enfermagem 09 42,9 07 77,7 Auxiliares de enfermagem 05 23,8 05 100 Total 21 100 15 71,4 Fonte: autoria própria (2017). Em relação ao quantitativo de enfermeiros, verificou-se que a instituição possui 07, que corresponde a 33,3 % do total de profissionais da equipe de enfermagem. A amostra contou com 42,9% de enfermeiros (n=3), destes apenas 28,5% (n=2) foram entrevistados, 14,2 % (n=1) recusou participar da pesquisa e 57,1% (n=4) foram excluídos da pesquisa por não atenderem aos critérios de inclusão e/ou estavam ausentes do trabalho no período de coleta dos dados devido licença e férias (Tabela 5). Com o elevado percentual de enfermeiros afastados observa-se que algumas equipes atuam sem a presença deste profissional. De acordo com a lei n⁰ 7.498 de 1986, que dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras providências. No artigo 15 diz que: "As atividades referidas nos arts. 12 e 13 desta lei, quando exercidas em instituições de saúde públicas e privadas, e em programas de saúde, somente podem ser desempenhadas sob orientação e supervisão do enfermeiro (BRASIL, 2017)." Os artigos 12 e 13 fazem menção das atividades desenvolvidas pelo técnico e auxiliar de enfermagem deixando clara a obrigatoriedade do enfermeiro nas instituições. Portanto, nota-se que há a necessidade da presença do enfermeiro em todos os lugares que esteja sendo prestado serviço de enfermagem (COREN SP, 2013). Além disto, a resolução COFEN n⁰ 543 34 de 2017 que estabelece parâmetros para o dimensionamento do quadro de profissionais de enfermagem nos locais em que são exercidas atividades de enfermagem, recomenda a presença de no mínimo um enfermeiro por turno de trabalho. Como consequência da ausência do enfermeiro, observado a partir da caracterização dos profissionais de enfermagem, entende-se que os técnicos e auxiliares trabalham sem a supervisão do enfermeiro, levando-os a um exercício irregular da profissão podendo causar prejuízos tanto para o usuário quanto para o profissional. Dos 14 profissionais entrevistados, verificou-se que a maioria é do sexo feminino 78,6% (n=11), e que apenas 21,4% (n=3) são do sexo masculino (Tabela 6). Esta característica não é uma singularidade das equipes da instituição, pois a classe da enfermagem ainda é uma profissão preponderantemente feminina. Pesquisa nacional realizada pelo Conselho Federal de Enfermagem em 2011 mostrou que a maioria dos profissionais de enfermagem (87,24%) era do sexo feminino, e no que concerne a região do país, essa distribuição foi praticamente uniforme, sendo a regiãonordeste aquela com mais profissionais do sexo feminino. Em termos de idade, a mesma pesquisa, demonstrou que a faixa etária predominante foi entre 26 a 55 anos (COFEN, 2011). Desta forma, os dados corroboram com os resultados encontrados neste estudo, no qual foi observada uma predominância de profissionais na faixa etária entre 40-49 anos (35,7%) conforme demonstrado na Tabela 6. Tabela 6 - Distribuição dos profissionais da equipe de enfermagem de uma ILPI segundo o sexo e faixa etária. Boa Vista-RR, 2017. Fonte: autoria própria(2017). Sobre o tempo de formação dos profissionais, 50% (n=7) afirmaram que tem entre 10 a 19 anos de formação (Tabela 7). Uma pesquisa feita para avaliar se a formação acadêmica é suficiente para desempenhar as funções durante a prática profissional, evidenciou que aproximadamente 53,8% dos enfermeiros consideram que a formação recebida não atende às Faixa etária/Sexo M F Total N (%) N (%) 30-39 anos 2 14,3 2 14,3 4 40-49 anos 1 7,1 4 28,6 5 50-59 anos 0 0 4 28,6 4 60-69 anos 0 0 1 7,1 1 Total 3 21,4 11 78,6 14 35 necessidades de sua atividade de trabalho (ORTEGA et al., 2015). A atuação na área da enfermagem obteve os mesmos valores de porcentagem e tempo. Ou seja, a educação continuada ainda é vista como ferramenta fundamental para uma assistência de qualidade. Tabela 7 - Tempo de formação, atuação profissional e tempo de trabalho na ILPI. Boa Vista- RR, 2017. Formação dos profissionais Anos N % Tempo de formação 10-19 7 50,0 Tempo de atuação 10-19 7 50,0 Tempo de trabalho na ILPI 0-2 7 50,0 Fonte: autoria própria (2017). Segundo Pedott (2012), na área da saúde, a educação continuada é algo extremamente importante para os profissionais, principalmente pelo seu papel de renovar e atribuir maior conhecimento para atuação no campo profissional. Os seus benefícios não se restringem apenas aos profissionais, mas a comunidade e toda a população é beneficiada com a melhoria do serviço e otimização dos cuidados prestados graças aos programas de educação que são desenvolvidos nas unidades de saúde. Quando questionados sobre a experiência em saúde do idoso, mais da metade 64,2% (n=9) disseram ter alguma experiência. Destes profissionais, 55,5% (n=5) dizem ter adquirido na própria ILPI. O tempo de trabalho na instituição de longa permanência teve como parâmetro de 0 a 2 anos (Tabela 7), no qual 50% (n=7) estão dentro desse período. Em contrapartida, apesar dos objetivos desta pesquisa não abordarem a educação continuada, a mesma pode ser considerada uma necessidade na instituição, de acordo com a citação de uma das entrevistadas: "E... Na verdade esses anos todo que eu administro medicação nunca teve ninguém para me... para estar me orientando a nada. Eu sempre faço tudo só, né?! Nunca teve ninguém pra estar me orientando." (AUX1 ) A educação continuada tem que existir, pois o processo de envelhecimento é algo atual e dinâmico e por vezes pode ser considerado básico devido à fisiologia do envelhecimento, entretanto, muitas informações vão sendo atualizadas em relação ao envelhecimento e medicamentos. A área da saúde vem sofrendo constantes mudanças e 36 avanços no conhecimento, através de estudos, pesquisas, inserção de novas tecnologias, entre outras. Em decorrência disto, é fundamental que os profissionais da saúde, se atualizem e complementem sua formação, objetivando ofertar uma assistência de qualidade e uma prática baseada em evidências científicas (ORTEGA, 2015). Outro dado encontrado foi que metade dos profissionais 50% (n=7) tem como tempo de serviço na instituição no máximo 2 anos (Tabela 7). Então, surgiu também o questionamento: Quais os critérios para lotação/alocação dos profissionais na ILPI? Levando a uma reflexão sobre o motivo de locação, ponto de questionamento durante os discursos. Obteve-se como resultados que 42,8% (n=6) foram direcionados pelo próprio concurso; 35,8% (n=5) optaram por ser transferidos do local de trabalho anterior para a ILPI pois, acreditam que o trabalho na ILPI tem uma carga de trabalho menor, possibilitando maior tranquilidade e somente 21,4% (n=3) relataram afinidade com a área de saúde do idoso. Logo, os profissionais não foram designados para a ILPI por terem formação ou experiência na área de gerontogeriatria, o que não significa afirmar que o profissional só pode trabalhar em lugares onde já tenha alguma experiência. Pois isto possibilitou o contato com esse grupo populacional que mais cresce em todo o mundo e que futuramente pode liderar o público que mais necessita de cuidados. A enfermagem precisa estar preparada para atender essa nova demanda. Os profissionais precisam estar capacitados, para ofertar uma assistência qualificada. Além do que é necessário que se tenha uma capacitação na sua área de atuação, a saúde sofre constantemente mudanças e atualizações em prol de uma saúde de melhor qualidade, cabe ao profissional e aos órgãos de saúde buscarem conhecimento e incentivá-lo, respectivamente. No entanto, a percepção dos discursos sugeriu uma inexperiência por parte de alguns profissionais, pois grande parte dos entrevistados não utilizou termos técnicos e associações com embasamentos científicos, evidenciando certa insegurança sobre a assistência medicamentosa aos idosos. "De medicação na verdade, eu não conheço!" (AUX1) "Mas muita coisa assim de medicação num conheço, né?! Conheço a medicação porque tô dia a dia mexendo, sei pra que serve e tudo assim, né?! Ma nunca fiz assim, nem um... curso de farmácia, assim sabe?!" (AUX1) 37 "Eu acho bacana... Eu gosto. Num sei se tá certo, né?! Mas (risos). Eu sempre fiz, né?! (AUX1) "Nossa, pergunta difícil (risos)... AHHH... pros idosos, né?! Eu não sei responder isso não." (AUX2) "Por exemplo, idoso ele toma qualquer medicamento até porque os médicos preferem dar medicamento aos idosos como se eles fossem uma criança. As doses, são doses infantis, né?!" (AUX4) 4.2.2 Categorização dos Dados Para a análise e categorização dos dados, utilizou-se o modelo proposto por Bardin que considera o sentido comum e contínuo nas falas (BARDIN apud MINAYO, 2009). As categorias foram dividas para interpretações e organizadas dentro das seguintes categorias: i) elevado número de medicações prescritas e de uso contínuo; ii) cuidados no preparo dos medicamentos; iii) cuidados na administração; iv) cuidados após a administração e; v) responsabilidade sobre os efeitos da medicação. 4.2.2.1 Elevado número de medicações prescritas e de uso contínuo Esta categoria trata da percepção dos profissionais acerca da quantidade de medicamentos prescritos aos idosos e sobre seu uso de forma intermitente. A medicina prevê que o envelhecimento propicia um maior consumo de medicamentos prescritos ou não. No entanto, sabe-se que as mudanças fisiológicas próprias do envelhecimento tendem a modificar significativamente a farmacocinética e a farmacodinâmica de vários medicamentos tornando-os mais suscetíveis aos efeitos adversos ou terapêuticos de maior intensidade (SILVA et al., 2012). Associa-se ainda a essas alterações a situação de que alguns idosos são acometidos por mais de uma doença, tomando várias medicações ao mesmo tempo, além da cultura da automedicação, o que colabora ainda mais para o surgimento das reações adversas, muitas vezes em decorrência das interações destas medicações (MANSO; BIFFI, 2015). Como exemplo de alterações do envelhecimento, pode-se citar: a diminuição da quantidade de água no organismo, e como muitas drogas passam pelo processo de diluição na 38 água e existe menos água ofertada para sua dissolução, essa droga atinge níveis mais elevados de concentração. Há também uma diminuição da funcionalidade dos rins em excretar drogas da urina e o fígado tem sua capacidade de metabolizaçãodiminuída. Deste modo, a droga passa mais tempo no organismo do idoso. Com isso, acredita-se que a prescrição de doses menores deve ocorrer ou em menor número de doses diárias (MERK, 2002 apud FLEMING E FERREIRA, 2005, p.122 GOODMAN, 1996 apud FLEMING E FERREIRA, 2005, p. 122). Entretanto, os idosos institucionalizados tendem a apresentar um risco maior para o consumo excessivo de medicamentos por terem mais doenças limitantes, tendência à fragilidade e à baixa funcionalidade (LUCCHETT et al., 2010). Uma pesquisa feita com idosos institucionalizados em Boa Vista, no ano de 2015 já trazia dados preocupantes em relação ao uso contínuo e excessivo de medicamentos. O mesmo estudo comparou a média de pesquisas realizadas em outras regiões do país com a local e verificou que apesar de 75% dos idosos institucionalizados no país fazerem uso de 6 ou mais medicamentos, o que já é considerado alarmante, esses valores são ainda menores do que os observados no abrigo do estado, embora a quantidades de doenças sejam semelhantes (LIMA et al., 2015). A pesquisa em questão observou um aumento na média de medicamentos (12,53 ± 4,37) por indivíduo quando confrontado ao estudo supracitado; além disso, pode-se perceber que as falas dos entrevistados reafirmam a ideia de que muitos idosos fazem uso concomitante de medicamentos: "(...) O que eu sei?! Que eles tomam muitas medicações porque têm patologias crônicas, né?!'' (TE1) "No meu ponto de vista, eles tomam muitos remédios que eles, [eles] são muitos...''(TE2) "É, é... às vezes é a patologias de cada um que exige, as vezes a gente por mais que subjetivamente ache muito, mas a gente tem que olhar, do olhar do médico se ele passou é por que precisa.'' (TE6) "Muitas medicações! Sempre mais de seis, sete tipos medicações diferentes devido ele ter várias patologias.''(AUX5) 39 ''(...) a gente tem que ter um cuidado redobrado, entendeu?! Com eles porque, é... eles usam muita medicação, uma medicação contínua, né?!'' (E2) É interessante notar que os participantes da pesquisa fazem a associação do uso excessivo de medicações pelos idosos com as diversas doenças que eles apresentam. As doenças que estão estreitamente relacionadas com a idade, como diabetes, hipertensão, dislipidemia e depressão, com frequência requerem o uso de muitas drogas caracterizando o que se chama de polifarmácia (RODRIGUES; OLIVEIRA, 2016). Apesar das doenças crônicas se destacarem, discursos sobre a incapacidade, incontinência e imobilidade dos pacientes foram tratados de forma mais superficial e pouco responsabilizadas pela exigência de múltiplos medicamentos. Contudo, o tratamento para essas situações que afetam os idosos, principalmente os institucionalizados, podem resultar na polifarmácia (termo inexistente durante as entrevistas), agravando o quadro do idoso. Diversos estudos têm realizado pesquisas sobre a utilização de medicamentos e a presença de polifarmácia em idosos hospitalizados ou não, mas a relação de idosos institucionalizados e uso de medicamentos ainda é escassa. De modo que, permite-se verificar os fatores de risco e promover uma ação para evitar a polifarmácia (GAUTERIO et al., 2012). Quando se fala em polifarmácia, é preciso considerar alguns aspectos, como o número de médicos consultados, a falta de perguntas sobre as medicações em uso e automedicação. No entanto, apesar de idosos utilizarem mais de cinco medicamentos, estes podem ser considerados necessários e não são todos os casos que podem caracterizar uso irracional (MANSO; BIFFI, 2015). Falas seguindo essa mesma linha de raciocínio acrescentam que, independente das patologias apresentadas, não haveria a necessidade do uso de múltiplos medicamentos, como visto a seguir: ''Eles tomam muitas medicações que, às vezes, a gente acha que nem tem tanta necessidade, para você ter uma ideia tem idoso aqui que tem três prescrições, quatro prescrições de medicação, entendeu?! E a gente acha assim, que não tem tanta necessidade de tanta medicação, mas infelizmente eles tomam esse monte de medicação.'' (TE4) ''(...) eles tomam muito medicamento, na verdade eles tomam muito medicamentos que... [que...] acabam no final das contas, ao meu ver, comprometendo humm... beneficia por um 40 lado, mas prejudica pelo outro. Então, tem medicamento demais, eles tomam muito medicamento.'' (AUX1) ''(...) a gente tem que ter um cuidado redobrado, entendeu?! Com eles porque, é... eles usam muita medicação, uma medicação contínua, né?!'' (AUX2) A possibilidade de um número menor de medicamentos é tão enfatizada nas falas que (E1) volta a afirmar em seu discurso: ''Aqueles casos mais acentuados, mais pontuais. É... porque tem muita coisa que dá pra se evitar, de... prescrever uma medicação. Eles tomam muito medicamento mesmo.'' (E1). Isto remete ao conceito do Ministério da Saúde sobre o uso racional de medicamentos em que: Entende-se que há uso racional de medicamentos quando pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condições clínicas, em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para a comunidade (BRASIL, 2011). O profissional tem que estar apto a conhecer aspectos individuais do paciente para iniciar um tratamento de forma adequada, ou seja, que correspondam as verdadeiras necessidades do indivíduo, no qual o tratamento não cause consequências e interfira no seu bem-estar. O público estudado, apesar de abordar a utilização excessiva de medicamentos administrados nos idosos, pouco citou em suas falas uma preocupação sobre as consequências deste uso, como: reações adversas, interações medicamentosas e as iatrogenias já que os mesmos acreditam que há mais medicamentos prescritos do que o idoso realmente precisa. Outra definição no âmbito da farmacoterapia é a cascata iatrogênica, que ocorre quando o idoso passa a utilizar outros medicamentos com o objetivo de evitar o efeito adverso do medicamento que toma (MANSO; BIFFI, 2015). Em pacientes submetidos à polifarmácia, o risco de uma reação adversa aumenta de três a quatro vezes, podendo imitar síndromes geriátricas ou acelerar quadros de confusão, quedas e incontinência. E o uso simultâneo de seis ou mais medicamentos pode aumentar o risco de interação medicamentosa graves em 100% (SECOLI, 2010). 41 Entretanto, ainda não existe um consenso em relação à polifarmácia em idosos, podendo ser definida na forma quantitativa de cinco ou mais medicamentos, o mais visto na literatura. Contudo, dependendo do fármaco, o uso simultâneo de dois já pode causar um grave problema (MANSO; BIFFI, 2015). Os riscos de uma IRA e RAM são algo preocupante, pois os fármacos fazem parte da rotina dos idosos que geralmente necessitam de múltiplos medicamentos para controlar doenças que são mais prevalentes com o envelhecimento. No entanto, o profissional deve ter um olhar mais sensível para o que diz respeito aos intervalos das drogas e aos sinais e sintomas de uma dessas complicações, promovendo assim uma assistência de qualidade e livre de dano (SECOLI, 2010). O uso contínuo também foi algo presente nos discursos, e por vezes associado ao excesso de medicamentos: ''(...) Mas tem medicação que infelizmente a gente acha, no caso eu pelo menos, pessoalmente acho que não tem necessidade de tomar tanto tempo essas medicações contínuas, mas...''(TE6) ''Relacionada à medicação que ele tomou? Não, porque a medicação deles é o seguinte, são medicações de rotina que eles já tomam há um mês, um ano, entendeu?!'' (TE7) ''(...) usam muita medicação, uma medicação contínua, né?! A maioria dos idosos são hipertensos, diabéticos. Então, são medicações específicas, né?! Daquela patologia que ele tem." (E2) A chance da ocorrência de uma IM e RAM pode ser aumentada com uma