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POLÍTICAS EDUCACIONAIS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA PROFESSORAS Dra. Mara Cecília Rafael Lopes Dra. Vânia de Fátima Matias de Souza Me. Caroline Mari de Oliveira POLÍTICAS EDUCACIONAIS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA 2 Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecília Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional Lilian Vespa, Qualidade Textual Hellyery Agda, Ilustração Bruno Pardinho, Fotos Shutterstock. C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; OLIVEIRA, Caroline Mari de; LOPES, Mara Cecília Rafael; SOUZA, Vânia de Fátima Matias de. Políticas Educacionais e Organização da Educação Básica. Caroline Mari de Oliveira; Mara Cecília Rafael Lopes; Vânia de Fátima Matias de Souza. Maringá - PR.: UniCesumar, 2018. 240 p. “Graduação em Educação Física - EaD”. 1. Educação Básica. 2. Política. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-1023-7 CDD - 22ª Ed. 379 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Minco�, James Prestes, Tiago Stachon, Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho, Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey, Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas, Supervisão de Produção de Conteúdo Nádila Toledo. Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja ser reconhecida como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação continuada. Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar boas-vindas Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Willian V. K. de Matos Silva Pró-Reitor da Unicesumar EaD Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. boas-vindas Débora do Nascimento Leite Diretoria de Design Educacional Janes Fidélis Tomelin Pró-Reitor de Ensino de EAD Kátia Solange Coelho Diretoria de Graduação e Pós-graduação Leonardo Spaine Diretoria de Permanência 6 autoras Professora Doutora Vânia de Fátima Matias deSouza Possui Doutorado em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação pela Universidade Estadual de Maringá-UEM (2014); Mestrado em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá (2009); graduação em Pedagogia pela Fa- culdade Estadual de Educação Ciências e Letras de Paranavaí (2000) e graduação em Educação Física pela Universidade Estadual de Londrina (2000). É professora Adjunta do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá; Professora do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá; Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física Escolar (GEEFE/CNPq) e tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação Física Escolar, atuando principalmente nos seguintes temas: infância, trabalho docente, formação profissional e políticas públicas. Link: <http://lattes.cnpq.br/7642081335847897>. Professora Doutora Mara Cecília Rafael Lopes Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2016). Mestre em Educação pela UEM (2009). Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá (1996). Graduada em Pedagogia pela Unicesumar (2016). Co- ordena o curso de Educação Física Licenciatura e Bacharelado na EAD Unicesumar. Tem experiência na área de Educação e Educação Física, investigando, principal- mente, nos seguintes temas: políticas públicas educacionais, financiamento da educação e as políticas públicas de esporte e lazer. Link: <http://lattes.cnpq.br/5472896495130234>. 7 autoras Professora Mestre Caroline Mari de Oliveira Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Univer- sidade Estadual de Maringá (2013). Especialista em Docência do Ensino Superior pela Faculdade Tecnológica América do Sul (2012). Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá (2010). Atua como Professora no curso de Peda- gogia da Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT - campus de Sinop/MT. É Professora orientadora do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em Docência do Ensino Superior, Educação a Distância e Novas Tecnologias e Gestão Educacio- nal na modalidade a distância (UNICESUMAR) (desde 10/2013). Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas e Gestão Educacional (GEPPGE/CNPq) (desde 2008). Revisora de periódicos da Revista Cadernos de Pedagogia da UFSCar (desde 06/2014) e parecerista ad hoc da Revista Eventos Pedagógicos - UNEMAT/ Sinop (desde 05/2015). Atua e pesquisa nas áreas de Políticas e Gestão Educacional; Educação do, no e para o Campo; Movimentos Sociais e Educação; Organização da Educação Brasileira; Avaliação da Aprendizagem; EAD e Novas Tecnologias; Me- todologia e Técnica de Pesquisa. Tem experiência na Educação Básica; no Ensino Superior e na Pós-Graduação na modalidade presencial e a distância. Link: <http://lattes.cnpq.br/2216258795802689>. apresentação POLÍTICAS EDUCACIONAIS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA Olá, caro(a) aluno(a)! Seja bem-vindo(a) aos estudos sobre Políticas Educacionais e Organização da Educação Básica. Este livro foi organizado de modo especial para você que, no nosso entendimento, tem buscado com excelência compreen- der os desafios que envolvem o setor educacional e que influenciam no processo de ensino-aprendizagem das modalidades de ensino. Agora pare e responda: o que vem à sua mente quando você pensa em políti- ca? E Política Pública Educacional? Supomos, pela nossa caminhada na docência, que muitos adjetivos negativos possam ter invadido seu pensamento, como: difí- cil, chato, complicado; ou algumas imagens, como: livros de legislação, Brasília, Câmara dos Deputados, alguns políticos. Em geral, o tema leva a nos sentirmos incomodados, pois sabemos que o pleno exercício da cidadania pressupõe o co- nhecimento das políticas públicas. Apesar de alguns incômodos com o tema, é bom lembrar que o conheci- mento sobre as políticas educacionais é urgente e que, a partir de nosso estudo e discussão na disciplina, teremos condições mais efetivas de participar das po- líticas educacionais, de cobrar com propriedade as prescrições da legislação, de aprimorar os processos participativos na escola, no município, assim como nos âmbitos estadual e federal. A educação e a política são distintas e possuem especificidades, porém são inseparáveis. A educação depende, para sua materialização, do aporte legal, de financiamento, infraestrutura, plano de educação, entre outros. A política e sua prática dependem da educação para a formação de cidadãos, acesso à informa- ção, desenvolvimento da consciência ecológica, prevenção de doenças, efetivação da democracia, divulgação de propostas políticas, entre outros. Esses comentários, caro(a) aluno(a), foram propositais, para percebermos que a educação perpassa a política e vice versa. Assim, necessitamos de seu co- nhecimento para completar nossa formação, pois a fim de formarmos cidadãos temos, antes, que ser cidadãos; exercer a cidadania para além do ato de votar; participar ativamente das discussões e debates sobre a política educacional, das instâncias colegiadas, num processo constante de luta por direitos. 9 EDUCAÇÃO FÍSICA Lembremos que o fato de a cidadania estar em constante mudança é um fe- nômeno histórico, pois, a partir das reivindicações dos direitos, da participação na formulação, implementação e avaliação das políticas, em períodos específicos, o exercício da cidadania se modifica. Nesse sentido, caro(a) aluno(a), nosso objetivo é levá-lo(a) a um estudo sistematizado acerca do universo das Políticas Educacionais e Organização da Educação Básica, por meio das reflexões que partem das análises e correlações da história política da sociedade para com as ações e organizações no sistema educacional, para que você possa pensar nas ações e sobre as ações cotidianas, re- sultantes dos desafios escolares encontrados, a fim de que possa, assim, ser auxi- liado na busca por alternativas e possibilidades reais de uma atuação que permita desenvolver suas potencialidades de forma autônoma. Este livro é composto por uma introdução, seguida de cinco unidades crite- riosamente analisadas e selecionadas para dar sustentação a presente discussão: Na Unidade I, você trabalhará com o tema “política educacional – conceitos e contextos”, cujos conteúdos de destaque são os conceitos de Estado, governo e de políticas públicas educacionais. Além disso, apresentaremos apontamentos históricos relacionados às Políticas Públicas para a Educação Básica. Na Unidade II, com o tema “aspectos legais das políticas educacionais”, o foco será a Constituição Brasileira, principalmente o Capítulo II que trata da Educa- ção, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (com atualizações) e o Financiamento da Educação. A Unidade III, com o tema “sistema educacional brasileiro: níveis, moda- lidades e os desafios centrais da organização e estrutura da educação escolar”, tem enfoque central nas questões políticas estruturais da educação nacional nas delimitações dos níveis e modalidades de ensino. A Unidade IV, com o tema “avaliação no sistema educacional brasileiro” ver- sará sobre as principais formas de avaliação do Sistema Educacional, destacando a atuação do Inep, as avaliações nacionais (Ideb, Saeb, Encceja, Enem, Sistema de Avaliação do Ensino Superior) e as avaliações internacionais. POLÍTICAS EDUCACIONAIS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA 10 Na Unidade V, a última, o tema será o “Plano Nacional de Educação (2014- 2024)”, com enfoque central nas metas e estratégias estabelecidas para a educação nacional, contemplando os níveis e modalidades da educação. Por fim, lembre-se, caro(a) aluno(a), que o texto apresentado não esgota todas as possibilidades de pensar e refletir sobre as temáticas abordadas, mas iniciará momentos importantes e oportunos para a compreensão das análises realizadas acerca das temáticas propostas. Para tanto, cumpre destacar que, ao final de cadaunidade, você encontrará uma análise do texto, a fim de facilitar seus estudos e compreensão. Caro(a) aluno(a), como você pôde refletir acerca das Políticas Educacionais e Organização da Educação Básica, sua ação vai além do saber fazer ou do sa- ber exclusivamente técnico-instrumental, uma vez que os saberes historicamente produzidos devem constituir uma ação conjunta, um trabalho coletivo, estabele- cido entre todos os sujeitos pertencentes ao cenário. Por essa razão, acreditamos que o professor deve conhecer e promover espa- ços para o pensar acerca de todos os aspectos políticos e sociais que circunscre- vem o cenário da educação, haja vista que é nesse espaço que estamos formando o homem, o cidadão, o trabalhador, o sujeito que poderá intervir e mudar o con- texto socioeconômico no qual se encontra inserido, transformando as relações sociais estabelecidas e os contextos neles circunscritos. Com esse pensamento, iniciaremos nosso trabalho. Tenha uma ótima leitura e não se esqueça de que esse é só o seu primeiro passo no campo das políticas e da organização do sistema educacional. Faça outras viagens, teça outras teias e con- solide seu conhecimento no campo da formação humana. Vamos aos estudos! sumário UNIDADE I POLÍTICA EDUCACIONAL CONCEITOS E CONTEXTOS 16 Estado, Governo e Políticas Públicas: Concepções e Princípios 22 Reforma da Educação a Partir de 1990 e o Neoliberalismo 30 Organizações Internacionais: Propostas para a Educação Brasileira UNIDADE II ASPECTOS LEGAIS DA POLÍTICA EDUCACIONAL BRASILEIRA 48 A Educação na Constituição Federal de 1988 58 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 72 Financiamento da Educação UNIDADE III SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: NÍVEIS, MODALIDADES E OS DESAFIOS CENTRAIS DA ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DA EDUCAÇÃO ESCOLAR 92 Níveis da Educação Escolar no Brasil: Educação Básica e Educação Superior 114 Modalidades da Educação Nacional UNIDADE IV AVALIAÇÃO NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO 150 Avaliação no Sistema Educacional Brasileiro: Um Foco na Educação Básica 162 INEP e as Avaliações Nacionais da Educação Básica: SAEB - IDEB; ENEM E ENCCEJA 168 Sistema de Avaliação do Ensino Superior: SINAES 172 Avaliações Internacionais UNIDADE V PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (2014-2024) 188 A Estrutura do PNE (2014-2024), Aspectos Legais e Históricos 192 Metas do Pne (2014-2024) com Foco Para a Educação Básica e Suas Modalidades 207 Anexo 241 Conclusão Geral Professora Dra. Mara Cecília Rafael Lopes Professora Dra. Vânia de Fátima Matias de Souza Professora Me. Caroline Mari de Oliveira Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Estado, governo e políticas públicas: concepções e princípios • Reforma da educação a partir de 1990 e o neoliberalismo • Organizações internacionais: propostas para a educação brasileira Objetivos de Aprendizagem • Compreender os conceitos primários da organização das políticas públicas no Brasil: Estado, governo, sociedade e políticas públicas. • Analisar as influências do neoliberalismo na educação brasileira a partir da Reforma Educacional iniciada na década 90. • Compreender as propostas para a educação das organizações internacionais na educação brasileira. POLÍTICA EDUCACIONAL CONCEITOS E CONTEXTOS I unidade INTRODUÇÃO C aro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) à disciplina de Políticas Educacionais e Organização da Educação Básica. Estamos ini- ciando a discussão de um tema relevante e significativo para a prática docente e para as relações cotidianas estabelecidas no diálogo com o campo da Educação Básica. Nesta unidade, trataremos dos conceitos e das relações entre sociedade, Estado e educação, as perspectivas e influências neoliberais nas políticas nacionais e as interferências das organizações internacionais na educação brasileira. Apresentamos vários termos utilizados na política educacional, assim como a ambiguidade de seus significados: desenvolvimento huma- no ou desenvolvimento de capital humano? Educação integral ou, apenas, mais tempo na escola? Participação da sociedade na educação ou dimi- nuição da responsabilidade do Estado com a educação? Formação para o trabalho ou para a cidadania? Igualdade ou equidade? Políticas públicas ou projetos e programas? Regime de colaboração ou responsabilização social? Amigos da escola ou assistencialismo? Calma, discutiremos esses e outros assuntos, mas, antes, iniciaremos com alguns apontamentos históricos para perceber avanços e retrocessos na política educacional no Brasil. Participar da política educacional inicia com o processo de conhecer, ler, discutir, analisar e assumir para si a responsabilidade de contribuir para uma educação democrática, pois a escola não nasceu democrática, e para torná-la, necessitamos estudar, participar e lutar por uma sociedade e uma educação democrática. Traremos uma análise do estudo analítico das políticas educacionais no Brasil com destaque para a política educacional no contexto das po- líticas públicas sociais, bem como a organização dos sistemas de ensino, considerando as peculiaridades nacionais e os contextos internacionais, incorporação dos ideais neoliberais no Brasil, impasses e perspectivas das políticas atuais em relação à educação. POLÍTICAS EDUCACIONAIS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA 16 Estado, Governo e Políticas Públicas: Concepções e Princípios 17 EDUCAÇÃO FÍSICA POLÍTICAS EDUCACIONAIS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA 18 Para compreender as políticas públicas para a edu- cação, assim como a estrutura e organização da Edu- cação Básica, necessitamos entender a relação entre sociedade, Estado e educação. Cabe lembrar que a análise da educação parte do exame do contexto em que ela está inserida. Trataremos, então, de alguns conceitos e definições. Caro(a) aluno(a), cabe aqui uma importante pergunta: em que Estado a política e a legislação educacional foram pensadas? O conceito de Estado, na forma como o entende- mos hoje, é recente, uma definição moderna. Nem sempre o Estado, do modo como o conhecemos, existiu. Foi apenas no início da Idade Moderna (sé- culos XVI-XVII) que tornou-se uma realidade; no entanto, isso não significa que antes da formação do Estado moderno, não existissem outras formas de governo e de poder. Não há uma definição única de Estado, há vários autores, cada um com uma con- cepção diferente. Sendo assim, trataremos acerca de duas visões de Estado: uma pela perspectiva da burguesia e ou- tra pela teoria do materialismo histórico, pois cada qual configura a educação a partir de concepções próprias. Contudo, “Deve ficar claro que qualquer tentativa de definir liberalismo é como buscar um alvo móvel. O significado de “liberalismo” muda não apenas como o seu nível de abstração e com o passar do tempo, mas também de país para país” (BOTTO- MERE; OUTHWAITE, 1996, p. 420). Quadro 1 - Perspectivas teóricas liberais e materialistas Teorias com enfoque liberal Teorias com enfoque no Materialismo Histórico • Baseiam-se numa interpretação feita pela burguesia nos diferentes momentos da história do capitalismo. • Consideram que o Estado é neutro e está acima dos interesses das classes sociais. • Objetivo do Estado: a realização do bem comum e o aperfeiçoamento do organismo social no seu conjunto. • O foco é no indivíduo, proteger a liberdade pessoal e manter a liberdade econômica individual. • O Estado melhor é um Estado menor, chamado de “Estado mínimo”, pois o melhor regulador da ativida- de econômica é o mercado. • Na área social, sustenta a tese de que é a iniciativa privada que deve prover os serviços da educação, da saúde, do trabalho, da seguridade social, entre outros. • Baseiam-se na tese de que o modo de produção - a economia - determina o modo como se vive e se organiza a vida social. Fundamentam-se em uma concepção de sociedade dividida em classes antagô- nicas, com interesses divergentes. • Negam a ideia de um Estadoneutro, voltado para o bem comum. • Apenas no nível aparente, os interesses do Estado apresentam-se como interesses universais, de todo o corpo social. • Esse enfoque constitui-se, desse modo, numa crítica ao enfoque liberal de Estado. • Assume a forma da vontade dominante, ao consti- tuir-se como o resultado do modo material de vida dos indivíduos. • A educação fundamenta-se em estabelecer a ligação orgânica entre a prática e a teoria, no princípio da plena realização humana - homem omnilateral (na qual harmoniza “tempo de trabalho” e “tempo livre”). Fonte: as autoras. 19 EDUCAÇÃO FÍSICA Nesse sentido, o Estado capitalista desenvolve, como parte da sua função, a manutenção da ordem interna, a garantia do direito à propriedade e os contratos esta- belecidos no mercado. Poulantzas (2000) aponta que o Estado não pode ser visto como um poder externo imposto à sociedade, ele é um produto de uma so- ciedade em determinado estágio de desenvolvimento. Os dois conceitos de visão do Estado estão pre- sentes nas políticas educacionais em um palco de disputas pela hegemonia do Estado. Dessa forma, a educação escolar no contexto capitalista monopolista pode contribuir tan- to para a reprodução das relações sociais de produção como para transformá-la. As pro- postas educacionais são elaboradas, portanto, tanto na ótica do capital como na do trabalho (NEVES, 2010, p. 208). Segundo Christopher Ham e Michael Hill (1993), o Estado pode ser definido tanto a partir das institui- ções quanto das funções que as instituições desem- penham. As instituições constitutivas do Estado são os órgãos encarregados de suas funções executivas, legislativas e judiciárias: Ministérios, Secretarias e Departamentos governamentais; Assembleias parla- mentares e instituições subordinadas voltadas à ela- boração de leis; e todo o sistema de cortes judiciais e órgãos associados, responsáveis por obrigar o cum- primento da lei e por aperfeiçoá-la. O Estado, nesse sentido, se constitui de instituições permanentes, órgãos legislativos, tribunais, Exército, entre outros. O Estado pode ser definido como o “[...] conjun- to de instituições permanentes [...] que possibilitam a ação do governo” (HÖLFLING, 2001, p. 31). Ne- cessitamos, assim, de uma conceituação de governo: grupo responsável pelo planejamento e condução de determinadas políticas e do conjunto de programas e ações durante certo período. O governo é transitório, formado por grupos que se alternam no poder e “[...] assume e desempenha as funções de Estado por um determinado período” (HÖLFLING, 2001, p. 31). O Estado não pode ser reduzido à burocracia pública, aos organismos estatais que concebe- riam e implementariam as políticas públicas. As políticas públicas são aqui compreendidas como as de responsabilidade do Estado – quan- to à implementação e manutenção a partir de um processo de tomada de decisões que envol- vem órgãos públicos e diferentes organismos e agentes da sociedade relacionados à política implementada. Neste sentido, políticas públi- cas não podem ser reduzidas a políticas estatais (HÖLFLING, 2001, p. 34, grifos nossos). Em geral, dizemos que as políticas de Estado são for- temente institucionalizadas, conseguem ultrapassar o período de um governo e são de difícil mudança. As políticas de governo não são tão fortes em sua institucionalização e possuem menor durabilidade. O conceito de Estado é fundamental, pois nos per- mite exercer a crítica à medida que compreendemos suas contradições. Como esclarece Bourdieu (1996), o Estado é dotado de “mão direita” (defensora dos interesses privados) e “mão esquerda” (interesses públicos e sociais). O que podemos observar, nesse sentido, é que temos um Estado que age, de forma significativa, atendendo ora às necessidades provenientes da so- ciedade civil, ora às demandas mercadológicas e/ou da globalização, para estabelecer as diretrizes e leis que vão normatizar as relações que são estabelecidas no contexto educacional, no que se refere ao finan- ciamento, como na gestão e administração escolar. Agora sim, caro(a) aluno(a), podemos definir políticas públicas: POLÍTICAS EDUCACIONAIS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA 20 Políticas públicas são aqui entendidas como o “Estado em ação”; é o Estado implantando um projeto de governo, através de programas, de ações voltadas para setores específicos da socie- dade (HÖLFLING, 2001, p. 31). Então, políticas públicas sempre viriam do Esta- do ou governo? As políticas públicas são autua- das pelo governo quanto à sua implementação e manutenção, mas emergem da sociedade, dos pro- blemas ou demandas que podem ser econômicos, políticos ou de bem-estar. As políticas públicas são o resultado de uma interação complexa entre o Estado e a sociedade. O processo de definição de políticas públicas para uma sociedade reflete os conflitos de inte- resses e os arranjos feitos nas esferas de poder que perpassam as instituições do Estado e da sociedade como um todo. Um dos elementos importantes deste processo diz respeito aos fatores culturais, àqueles que, historicamente, vão construindo processos diferenciados de representações, de aceitação, de rejeição, de in- corporação das conquistas sociais por parte de determinada sociedade. A relação entre sociedade e Estado, o grau de distanciamento ou aproximação, às for- mas de utilização (ou não) de canais de co- municação entre os diferentes grupos da so- ciedade e os órgãos públicos – que refletem e incorporam fatores culturais, como acima referidos – estabelecem contornos próprios para as políticas pensadas para uma socieda- de (OFFE 1984, p.41-42). A educação, no campo das políticas públicas, é ca- racterizada como uma política social: E políticas sociais se referem a ações que deter- minam o padrão de proteção social implemen- tado pelo Estado, voltadas, em princípio, para a redistribuição dos benefícios sociais visando a diminuição das desigualdades estruturais produzidas pelo desenvolvimento socioeconô- mico. As políticas sociais têm suas raízes nos movimentos populares do século XIX, voltadas aos conflitos surgidos entre capital e trabalho, no desenvolvimento das primeiras revoluções industriais (HÖLFLING, 2001, p. 31). Políticas educacionais são aqui entendidas como o processo que envolve negociação e luta entre diferentes grupos, configuradas no âmbito da in- ternacionalização do capital. Portanto, para com- preendermos políticas educacionais, é necessário analisarmos o projeto social do Estado. A educa- ção, como parte da política social, é apresentada com uma aparência humanitária com apelo ao voluntariado, o que mistifica a própria educação como um direito social de todos. É importante entendermos o significado da educação, já que, para Ney (2008, p. 16), “a educa- ção não é neutra, pois é o Estado ou o educador que traça valores, princípios, objetivos e políticos espe- rados para a educação!”. Logo, o educador precisa compreender que: Visão de mundo: é o conjunto de ideias sobre o homem, a sociedade, a história e sua relação social com a sociedade e a natureza. Ela é cons- tituída de acordo com a situação e os interesses de grupos e classes sociais em que o indivíduo está identificado. Todos nós temos uma. Valo- res: significam princípios, normas ou padrões sociais aceitos ou mantidos por indivíduos, grupos, classes e sociedades. São padrões éticos que norteiam nossas vidas. Crenças: são ideias, pensamentos, dogmas, etc., em que acredita- mos (NEY, 2008, p. 17). 21 EDUCAÇÃO FÍSICA Ressaltamos que a escola é uma instituição social e que, portanto, recebe diferentes funções de acordo com as diversas concepções de sociedade, em con- textos históricos diferentes, ou no mesmo contexto; logo, a compreensão quanto ao papel da escola não é a única que gera diferentes propostas para as polí- ticas educacionais. Quadro 2 - Funções da escola pública Orientação capitalista-liberal Orientação dos movimentossociais • Garantir a unidade nacional e legitimar o sistema; • Contribuir com a coesão e o controle social; • Reproduzir a sociedade e manter a divisão social; • Promover a democracia da representação; • Contribuir com a mobilidade e a ascensão social; • Apoiar o processo de acumulação; • Habilitar técnica, social e ideologicamente os diver- sos grupos de trabalhadores para servir ao mundo do trabalho; • Compor a força de trabalho, preparando, qualifican- do, formando e desenvolvendo competências para o trabalho; • Proporcionar uma força de trabalho capacitada e flexível para o crescimento econômico. • Transformar a sociedade, de modo a eliminar as divisões sociais estabelecidas; • Desbarbarizar a humanidade, no que concerne aos seus preconceitos, opressão, genocídio, tortura etc.; • Conscientizar os indivíduos, tendo em vista uma formação de sujeitos críticos, autônomos e emanci- pados; • Desenvolver uma educação integral, que permita o desabrochar das potencialidades humanas; • Apropriar-se do saber social; • Formar para o exercício pleno da cidadania. Fonte: Oliveira (2009, p. 238). Assim, as políticas educacionais precisam ser pen- sadas, implementadas e avaliadas com base em um projeto social que atenda aos interesses da maioria da população, que se efetive como um direito uni- versal básico e um bem social público. A educação é “condição para a emancipação social e deve ser concebida numa perspectiva democrática e de quali- dade [...]” (OLIVEIRA, 2009, p. 238). Os alunos que possuem condições materiais aprenderão na escola e fora dela, pois possuem acesso à cultura, arte, aos li- vros, cursos, viagens, entre outros, mas, “[...] para os trabalhadores, a escola se constitui no único espaço de relação intencional e sistematizada com o conhe- cimento” (OLIVEIRA, 2009, p. 237, grifos nossos). Escola de qualidade é aquela que possui clare- za quanto à sua finalidade social. Percebemos duas forças conflitantes que defendem, respectivamente, a manutenção ou a transformação social por meio da educação. No quadro a seguir, João Ferreira de Oliveira (2009) aponta as seguintes finalidades para a educação escolar com orientação capitalista-liberal e pelos movimentos sociais (a maioria da sociedade). POLÍTICAS EDUCACIONAIS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA 22 Reforma da Educação a Partir de 1990 e o Neoliberalismo 23 EDUCAÇÃO FÍSICA POLÍTICAS EDUCACIONAIS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA 24 A crise econômica mundial, do final dos anos 1970 e início dos anos 1980, marca o ponto de partida da ascensão da hegemonia conservadora como força político-ideológica e ocorre a desqualificação dos “velhos” ideais com base progressista e socialista e a valorização do pragmatismo da vida econômica, marcada pelas forças do mercado (SHIROMA; MO- RAES; EVANGELISTA, 2007). No contexto da crise econômica, o Estado é responsabilizado, compreendido pelos neoliberais como burocrático, lento e ineficiente, ou seja, um entrave para o desenvolvimento, o qual, em gran- de parte, é responsável pela crise, pois atravessa a sociedade. Nesse sentido, concluímos que todos os processos que apresentam obstáculos, controlam ou suprimem o livre jogo das forças do mercado terão efeitos negativos sobre a economia, o bem-estar e a liberdade dos indivíduos. Dessa forma, os neoli- berais sustentam a ideia de que o intervencionismo estatal é antieconômico e antiprodutivo, não só por provocar uma crise fiscal do Estado e uma revolta dos contribuintes, mas, sobretudo, porque desesti- mula o capital a investir. Nesse momento, o Estado, a sociedade civil e o mercado são vistos como parceiros no processo de desenvolvimento. A estrutura de funcionamento da Reforma do Estado caracteriza-se por meio do processo da reforma dos sistemas de previdência social, busca-se racionalizar recursos, diminuindo o seu papel no que tange às políticas sociais; saúde e educação; desregulamentação na economia; privati- zação; abertura de mercados, procedentes da incor- poração de diretrizes neoliberais. [...] a reforma do Estado deve ser entendida dentro do contexto da redefinição do papel do Estado, que deixa de ser o responsável direto pelo desenvolvimento econômico e social pela via da produção de bens e serviços, para for- talecer-se na função de promotor e regulador desse desenvolvimento (BRASIL, 1995, p. 12). No documento citado, a administração pública ge- rencial passa a considerar o cidadão cliente dos seus serviços, para isto, exige formas flexíveis de gestão e de descentralização. Na busca pela qualidade e efeti- vidade dos serviços prestados, institui uma avaliação sistemática dos serviços prestados, como no caso da educação, por meio das avaliações nacionais. O desenvolvimento deixa de ser um projeto conduzido apenas pelo Estado-nação e passa ter como base o mercado mundial conforme as orien- tações do Consenso de Washington, que estabelece seus dez mandamentos: “disciplina fiscal, priorida- des na despesa pública, reforma fiscal, liberaliza- ção financeira, taxas de câmbio, liberalização do comércio, investimento estrangeiro direto, priva- tização, desregulamentação e direitos de proprie- dade” (TEODORO, 2008, p. 25). Em relação ao Consenso de Washington: Trata-se dos resultados dos encaminhamentos tratados nas reuniões de economistas do FMI, do Bird e do Tesouro dos Estados Unidos re- alizadas em Washington D.C. no início dos anos 1990. Foram provenientes dessas reuniões recomendações dos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento, para que estes ado- tassem políticas de abertura de seus mercados (SANDRONI, 1999, p. 123). 25 EDUCAÇÃO FÍSICA Portanto, o que aparentemente seria uma proposta de “Estado mínimo, configura-se como realidade de Estado mínimo para as políticas sociais e de Estado máximo para o capital” (PERONI et al., 2006, p. 14). O Estado é máximo para o capital, porque além de ser chamado a regular as atividades do ca- pital corporativo, no interesse da nação, tem, ainda, de criar um “bom clima de negócios”, para atrair o capital financeiro transnacional e conter (por meios distintos dos controles de câmbio) a fuga de capital para “pastagens” mais verdes e lucrativas (HARVEY, 1989, p. 160). O Brasil, nesse contexto, vem implementando, desde a década de 90, políticas de ajustes para se inserir no mundo globalizado. O discurso de modernização põe em evidência o progresso tecnológico e o cientí- fico, assim como a otimização dos processos produ- tivos, aliados à implementação de novas formas de gestão do trabalho. Esse conjunto de medidas faz-se presente nas políticas educacionais, no discurso da modernização educativa. Assim, observa-se, nas reformas educacionais, implementadas na década de 90, a racionalidade presente na própria reforma do Estado brasileiro. A reforma educacional teve como principal obje- tivo a expansão da escolaridade, com foco no En- sino Fundamental, por meio de políticas de pla- nejamento e financiamento. A etapa da Educação Básica que teve recursos seguros no governo FHC foi o Ensino Fundamental. A escola republicana francesa, voltada à forma- ção do cidadão, que destaca o saber não somente pelo seu valor profissional, mas por seu valor social, cultural e político, está, agora, sendo substituída por uma escola voltada à formação de “capital humano”, ou seja, de conhecimentos apreendidos pelos indiví- duos desde que sejam valorizados economicamente - uma escola que cada vez mais se insere na ordem competitiva de uma economia globalizada. “Na nova ordem educativa que se delineia, o sistema educati- vo está a serviço da competitividade econômica, está estruturado como um mercado deve ser gerido ao modo das empresas” (LAVAL, 2004, p. 20). O conhecimento passa a ser visto como eixo da produção, dessa forma, adquire “força produti- va” quando produzido e incorporado aos processos produtivos, possibilitando o aumento da produtivi- dade, o rendimento e assegurandoa acumulação de capital. Esses conceitos privados passam, também, pelo âmbito da educação, no qual a escola privada torna-se modelo para a escola pública. A crise da sociedade capitalista que eclodiu na década de 1970 conduziu à reestruturação dos processos produtivos, revolucionando a base técnica da produção e conduzindo à substi- tuição do fordismo pelo toyotismo. O modelo fordista apoiava-se na instalação de grandes fábricas operando com tecnologia pesada de base fixa, incorporando os métodos tayloris- tas de racionalização do trabalho; supunha a estabilidade no emprego e visava à produção em série de objetos estandardizados, em larga escala, acumulando grandes estoques dirigidos ao consumo de massa. Diversamente, o modelo toylorista apoia-se em tecnologia leve, de base microeletrônica flexível, e opera com trabalha- dores polivalentes visando à produção de ob- jetos diversificados, em pequena escala, para atender à demanda de nichos específicos do mercado, incorporando métodos como o just in time que dispensam a formação de estoques; requer trabalhadores que, em lugar da estabili- dade no emprego, disputem diariamente cada posição conquistada, vestindo a camisa da em- presa e elevando constantemente sua produtivi- dade (SAVIANI, 2007, p. 427). POLÍTICAS EDUCACIONAIS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA 26 A denominação utilizada no âmbito econômico e político é “neoliberalismo”, uma retomada atualiza- da dos princípios do liberalismo do século XIX, sob o signo ultraliberalismo, de Friedrich Hayek, e do monetarismo, de Milton Friedman. Hayek herdou pensamentos de John Stuart Mill e Ludwig von Mi- ses, no qual enfatiza o caráter abstrato e generalista da teoria diante do elevado grau de complexidade dos assuntos econômicos, o alvo de suas críticas foi o pensamento keynesiano (socialdemocracia). Mil- ton Friedman (1912-2006), economista liberal (con- servador), representa a escola de Chicago com The- odore Schultz e Gary Beckerque. Friedman atuou no Departamento de Economia da Universidade de Chicago, recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 1976. O ponto fundamental para nosso estudo na obra de Friedman são as sugestões direcionadas na área educacional. Os indivíduos devem ser responsabilizados pelo custo de seu investimento e receber as re- compensas. [...] Uma agência governamental poderia financiar ou ajudar a financiar o trei- namento de qualquer indivíduo [...] Em troca, o indivíduo concordaria em pagar ao governo [...] (FRIEDMAN, 1984, p. 99). Percebemos as ideias privatizantes na educação, pois, para o autor anteriormente citado, o Estado não deve manter a oferta de educação, a responsabilidade deve ser de cada indivíduo, já que a educação é compreen- dida como investimento em capital humano indivi- dual, no qual possibilita ao indivíduo se tornar em- pregável. O Estado progressivamente retira-se da área social, modifica seu modo de intervir com “[...] me- nos responsabilidade direta, mais pilotagem à distân- cia em parceria com os atores da sociedade civil, mais avaliação da eficácia e da eficiência da ação pública” (TARDIFF e LESSARD, 2011, p. 54-55). Quando se utiliza a expressão “liberal” no continente europeu, o que se tem em vista é aquele pensador ou político que defende as ideias econômicas do livre mercado e cri- tica a intervenção estatal e o planejamento. São aqueles que se opõem ao socialismo, à socialdemocracia, ao Estado de bem-estar social, mas a palavra “liberal” nos Estados Unidos quer dizer quase o contrário: ela se aplica principalmente a políticos e intelectuais alinhados com o Partido Democrata e que apoiam a intervenção reguladora do Estado e a adoção de políticas de bem-estar social, programas que os neoliberais recusam. Fonte: Moraes (2001, p. 3). SAIBA MAIS O quadro a seguir apresenta, com base em catego- rias, o projeto de modernização neoliberal. 27 EDUCAÇÃO FÍSICA Quadro 3 - Neoliberalismo de mercado Paradigma da liberdade econômica, da eficiência e da qualidade. Tendência capitalista-liberal concorrencial e elitista-conservadora que imprime um projeto de modernização caracterizado por: Economia Economia de mercado autorregulável: livre concorrência; fortalecimento da iniciativa privada, com ênfase na competi- tividade, na eficiência e na qualidade de serviços e produtos; Estado Estado minimalista, com três funções: policiamento, justiça e defesa nacional; projeto de desestatização, desregula- mentação e privatização; desqualificação dos serviços e das políticas públicas; Democracia Ideal de democracia indireta (Tocqueville: governo repre- sentativo); ênfase na democracia formal (refere-se à forma de governo); Educação Ênfase no ensino privado, na escola diferenciada/dual e na formação das elites intelectuais; formação para o atendi- mento das demandas/exigências do mercado; Seleção dos indivíduos Seleção dos melhores, baseada em critérios naturais de aptidão e inteligência; elitismo psicocultural (seletividade meritocrática); Direito Ênfase no direito privado, na propriedade privada; na lei como instrumento de igualdade formal; Governo Governo limitado; Princípios Ênfase na liberdade, na propriedade, na individualidade (direitos naturais), na economia de mercado autorregulável. Fonte: Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 100-101). O papel do Estado fica em segundo plano, ao prio- rizar a concorrência de mercado por meio da ini- ciativa privada, o que corresponde à desobrigação paulatina do Estado com a educação pública. Com um olhar crítico e reflexivo sobre as políticas educa- cionais na atual realidade, percebemos a prioridade do Estado na inserção do país no mercado globali- zado, à medida que incorpora em sua política social os ditames neoliberais segundo os quais a educação deve responder ao desenvolvimento da economia. Caro(a) aluno(a), agora que já conhecemos um pouco sobre os ideais neoliberais, cabe a seguinte questão: como as políticas neoliberais interferem na educação? São vários aspectos a serem colocados. A transferência dos referenciais econômicos para a educação - atualmente a educação se orga- POLÍTICAS EDUCACIONAIS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA 28 niza sob o “paradigma da liberdade econômica, da eficiência e da qualidade” (LIBÂNEO, 2003, p. 92). Assim, a competição deve regular o sistema escolar, o que evidencia os mecanismos de controle de quali- dade, realizados por meio das constantes avaliações nacionais, e estas apresentam os resultados em for- ma de ranking, estimulando o mérito, a competição e o mercado educacional. A ótica neoliberal visa ao “preparo polivalente apoiado no domínio de conceitos gerais, abstratos, de modo especial aqueles de ordem matemática” (SAVIANI, 2007, p. 427). A partir das avaliações nacionais, disciplinas são privilegiadas na escola, como o caso de português e matemática, consequen- temente algumas escolas se tornam um “cursinho”, que treina os alunos para as avaliações. A educação é entendida não mais como um di- reito social, mas como uma mercadoria a ser con- sumida individualmente, portanto, quem tiver mais poder econômico “compra” uma educação de me- lhor qualidade. [...] Daí a crise do sistema público de ensino, pressionado pelas demandas do capital e pelo esgotamento dos cortes dos recursos dos orça- mentos públicos. Talvez nada exemplifique me- lhor o universo instaurado pelo neoliberalismo, em que “tudo se vende, tudo se compra”, “tudo tem preço”, do que a mercantilização da educa- ção. Uma sociedade que impede a emancipação só pode se transformar em shopping centers, funcionais à sua lógica do consumo e do lucro (SADER apud MÉSZÁROS, 2005, p. 16). A retórica neoliberal adota a adequação do ensino à competitividade do mercado internacional, e é conforme a demanda do mercado de trabalho que se estabelecem os objetivos e currículos educacio- nais. Assim, podemos observar que o atual momen- to estimula a formação de técnicos, pois o foco é no trabalhador. Temostambém a contradição centralização X descentralização; “centralizadora do controle pe- dagógico (em nível curricular, de avaliação do sis- tema e de formação docente) e descentralização dos mecanismos de financiamento e gestão do sistema” (GENTILI, 1998, p. 25). A descentralização é utili- zada como estratégia de racionalização de recursos, e a centralização incorpora também as orientações dos organismos internacionais para a educação. O olhar dos autores neoliberais para a educação é, a princípio, responsabilizar o Estado, escola e o pro- fessor pela ineficiência e falta de qualidade. Os sis- temas educacionais contemporâneos não enfrentam, sob a perspectiva neoliberal, uma crise de democrati- zação, de acesso e permanência dos alunos na escola, de falta de recursos, mas uma crise gerencial. A grande estratégia do neoliberalismo consis- te em transferir a educação da esfera da política para a esfera do mercado, distorcendo, assim, seu caráter de direito do cidadão e reduzindo-a a sua condição de propriedade. Gentili (1999) denomi- na esse processo de “mcdonaldização da escola”; a educação como mercadoria oferecida deve ser produzida de forma rápida e de acordo com nor- mas de controle da eficiência e da produtividade, ou seja, racionalizada. A noção de privatização da educação é extre- mamente relevante na compreensão dos aspectos neoliberais na política educacional. Lembre-se, ca- ro(a) aluno(a), de que a privatização constitui uma estratégia global da reestruturação capitalista, nesse sentido, a educação é privatizada de forma similar a das empresas estatais e dos serviços da área social. Gentili (1999, p. 109) aponta três aspectos da priva- tização educacional: 29 EDUCAÇÃO FÍSICA O Observatório da Educação tem como objetivo produzir e disseminar informações, promover a pluralidade de opiniões no debate público sobre educação e subsidiar os meios de comunicação, agentes educacionais e mo- vimentos sociais na promoção da educação como direito humano. Caro(a) acadêmico(a), no site, a seguir, você pode conhecer o mapa da privatização da educação no Brasil. Disponível em: <http://www.observatoriodaeduca- cao.org.br/mapas/#/>. Fonte: as autoras. SAIBA MAIS 1. Fornecimento público com financiamento privado (privatização do financiamento); 2. Fornecimento privado com financiamento público (privatização do fornecimento); 3. Fornecimento privado com financiamento privado (privatização total). O Estado vai, assim, reduzindo sua responsabilidade com a educação, pois transfere esta para os indivíduos, a família e as empresas. Como exemplo temos: o apa- drinhamento de escolas; a privatização de formação de professores; a compra de materiais “prontos” para a escola pública, entre outros. No Paraná, o Projeto Qualidade do Ensino Público e os cursos de formação de professores, realizados em Faxinal do Céu, foram, em grande parte, empreendidos por empresas edu- cacionais privadas. Em Maringá, durante a gestão do ex-prefeito Ricardo Barros (1989-1992), temos como exemplo “escolas cooperativas”. O modelo, chamado de “cooperativo”, privatizou as escolas municipais. Com a redução do Estado, o setor privado passa a explorar a área social, por meio das inúmeras insti- tuições que compõem o denominado terceiro setor. Isto é, o terceiro setor é constituído por organiza- ções sem fins lucrativos e não governamental, que têm como objetivo gerar serviços de caráter público. Os principais “personagens” do terceiro setor são: fundações, empresas, ONG, dentre outros. Caro(a) aluno(a), o importante é pensarmos so- bre o processo de privatização, considerar que quem defende a privatização, a defende como uma solução para os problemas econômicos e de gestão, as con- sequências seriam: maior eficiência, oferta de pro- dutos e serviços com uma melhor qualidade, preços mais baixos, a possibilidade de ter um caixa para re- duzir dívida e juros, diminuição da distribuição de cargos nas empresas públicas, geralmente distribuí- dos por interesses políticos e não por competência, e a diminuição da própria corrupção (como exemplo, na diretoria da Petrobras). Já para os que criticam as privatizações, elencam algumas consequências, como: a transferência do patrimônio público para as mãos de empresas pri- vadas, a redução do poder do Estado de promover o bem comum nas ofertas dos serviços que são pú- blicos e de direito de todo cidadão, como no caso da educação. O dinheiro público, no caso da educação, iria para as empresas privadas e isso não garante a melhora da qualidade da educação, visto que uma empresa privada objetiva o lucro e, para isso, redu- ziria os gastos. Privatizar não, necessariamente, oferece a livre concorrência, pois pode existir cartas marcadas nes- se processo e o aumento do monopólio do serviço prestado; quando um setor deixa de ser público, não há a necessidade de concurso, como no caso dos professores, isso pode trazer contratações tempo- rárias, menos qualificadas e com salários menores. E você, aluno(a), o que pensa sobre o processo de privatização da educação? POLÍTICAS EDUCACIONAIS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA 30 As reformas educacionais no Brasil e na América Latina realizaram-se sob forte impacto de avalia- ções diagnósticas, relatórios e documentos, gerados no âmbito dos organismos internacionais, como as agências que compõem a ONU: BIRD – Banco Mundial (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento); CEPAL – Comissão Econômi- ca para a América Latina e Caribe; FMI – Fundo Monetário Internacional; OIT – Organização In- ternacional do Trabalho; Instituições voltadas para a cooperação técnica, como o Programa das Na- Organizações Internacionais: Propostas para a Educação Brasileira ções Unidas para a Educação, Ciência e a Cultu- ra – UNESCO, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, o Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi- mento – PNUD, entre outras. Trabalhos produzidos por autores, tais como Oliveira (2004), Rosemberg (1998; 1999; 2000), Mello e Costa (1995), Torres (2001), Coragio (1996), entre outros, apontam as influências das organizações multilaterais (OMs) na política para 31 EDUCAÇÃO FÍSICA educação brasileira, e tais influências se originam da subordinação do Estado a esses organismos, pois dependem de seus financiamentos para proje- tos na área educacional; em contrapartida, devem estar em sintonia com as ideologias e recomenda- ções dessas organizações internacionais. Ao realizar empréstimos, os organismos inter- nacionais propõem os ajustes estruturais, que são diretrizes econômicas e políticas, elaboradas pelas organizações multilaterais e recomendadas como modelo ou receituário a ser seguido pelos países en- dividados. No entanto, ajustes estruturais implicam cortes de verbas em áreas sociais, tradicionalmente atendidas pelo Estado, como a educação. Como for- ma de compensar os cortes no orçamento destinado às áreas sociais, definem-se programas focalizados na população mais pobre (SOARES, 2000). As políticas focadas na população extrema- mente pobre não garante cidadania porque propõe o mínimo necessário. Mas estas po- líticas não contribuem para a diminuição da desigualdade social? Fonte: Abranches (1998). REFLITA É preciso entender, caro(a) aluno(a), que as or- ganizações multilaterais possuem como objetivos principais definir e estabelecer os direitos de pro- priedade dos atores internacionais. De acordo com Rosemberg (2000), para alguns países é preferível financeiramente participar de uma organização multilateral a ter representação diplomática em todos os países. O principal evento diretamente relacionado com as políticas educacionais foi a Conferência Mundial sobre Educação para Todos (1990) e, em sequência a ela, a Conferência de Cúpula de Nova Delhi, Índia (1993), e Cúpula Mundial de Educação para Todos, Dakar (2000), com os objetivosde avaliar e modifi- car os termos definidos na Conferência de Jomtien que é, ainda hoje, o documento de referência para as políticas educacionais dos países pobres e em desen- volvimento, como o Brasil. O Banco Mundial, por sua vez, elabora regularmente relatórios técnicos so- bre suas atividades. Os documentos originados des- sas conferências, assinados pelos países membros, e as orientações políticas e técnicas do Banco Mundial, vêm servindo de referência às políticas educacionais do Brasil: Plano Decenal Educação para Todos (1993- 2003), Plano Nacional de Educação (2014-2024), LDB de 1996 e outras diretrizes para a educação. Cabe registrar que, no Brasil, as orientações interna- cionais são assumidas pelo Movimento Todos pela Educação (SHIROMA; GARCIA; CAMPOS, 2011). O marco da Conferência Mundial sobre Educa- ção para Todos (1990) por iniciativa e patrocínio dos organismos internacionais - UNICEF, UNESCO, PNUD E BM - serviu de marco para o delineamen- to, planejamento e execução de políticas públicas educativas em nível global. A partir da conferência e o próprio documento “Declaração Mundial de Educação para Todos”, os governos utilizam e assu- mem os conceitos, interpretações e orientações que são traduzidas em políticas e programas. Entretanto, o “modelo de educação para todos” possibilita di- ferentes interpretações. A Educação para Todos foi se voltando para os enfoques minimalistas, o curto prazo, a solução fácil e rápida, a quantidade acima da qualidade (TORRES, 2001, p. 29). POLÍTICAS EDUCACIONAIS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA 32 Quadro 4 - Educação para todos Educação para todos PROPOSTA RESPOSTA 1. Educação para todos; 2. Educação básica; 3. Universalizar a Educação Básica; 4. Necessidade básicas de aprendizagem; 5. Concentrar a atenção na aprendizagem; 6. Ampliar a visão da Educação Básica; 7. Educação básica como alicerce de aprendizagens posteriores; 8. Melhorar as condições de aprendizagem; 9. Todos os países; 10. Responsabilidade dos países (organismos gover- namentais e não governamentais) e da comuni- dade internacional. 1. Educação para meninos e meninas (os mais po- bres dentre os pobres); 2. Educação escolar (primária); 3. Universalizar o acesso à educação primária; 4. Necessidades mínimas de aprendizagem; 5. Melhorar e avaliar o rendimento escolar; 6. Ampliar o tempo (número de anos) da escolarida- de obrigatória; 7. Educação básica como um fim de si mesma; 8. Melhorar as condições internas da instituição escolar; 9. Os países em desenvolvimentos; 10. Responsabilidade dos países. Fonte: Torres (2001, p. 29). A visão minimalista proposta está vinculada à sig- nificativa influência dos organismos internacionais, demonstram um modelo com ênfase nos aspectos administrativo por vias da descentralização, tanto do sistema escolar como da capacitação de docen- tes. A aprendizagem, em geral, é interpretada como resultado, por isso a proposta de avaliar constante- mente e remunerar os docentes conforme a aprendi- zagem de seus alunos. Saviani (2007), denomina esse processo de neo-es- colanovismo, que tem como lema “aprender a apren- der”, tão difundido na atualidade. Como resultado, te- mos várias mudanças no eixo do processo educativo: [...] do aspecto lógico para o psicológico; dos conteúdos para os métodos; do professor para o aluno; do esforço para o interesse; da disciplina para a espontaneidade, configurou-se uma teo- ria pedagógica em que o mais importante não é ensinar e nem mesmo aprender algo, isto é, assimilar determinados conhecimentos. O im- portante é aprender a aprender, isto é, aprender a estudar, a buscar conhecimentos, a lidar com situações novas. E o papel do professor deixa de ser o daquele que ensina para ser o de auxiliar o aluno em seu processo de aprendizagem (SA- VIANI, 2007, p. 429). Essa crítica ao “aprender a aprender” também está presente nas pesquisas de Newton Duarte, no livro Vigotski e o “aprender a aprender”: crítica às apro- priações neoliberais e pós-modernas da teoria vi- gotskiana. A análise de seu livro teve como fonte o relatório da comissão internacional da UNESCO, conhecido como Relatório Jacques Delors e o volu- me I dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Em seu livro, evidencia qua- tro posicionamentos valorativos contidos no lema “aprender a aprender”. 33 EDUCAÇÃO FÍSICA [...] são mais desejáveis as aprendizagens que o indivíduo realiza por si mesmo, nas quais está ausente a transmissão, por outros indivíduos, de conhecimentos e experiências. [...] Não dis- cordo da afirmação de que a educação escolar deva desenvolver no indivíduo a capacidade e a iniciativa de buscar por si mesmo novos conhe- cimentos, a autonomia intelectual, a liberdade de pensamento e de expressão. [...] trata-se do fato de que as pedagogias do “aprender a apren- der” estabelecem uma hierarquia valorativa na qual aprender sozinho situa-se num nível mais elevado do que a aprendizagem resultante da transmissão de conhecimentos por alguém (DUARTE, 2001, p. 36). Passa a ser mais importante o aluno desenvolver um método de aquisição do conhecimento do que aprender os conhecimentos descobertos historica- mente. Aprender sozinho na perspectiva do “apren- der a aprender” é mais importante do que a apren- dizagem resultante da transmissão de conhecimento por outra pessoa (DUARTE, 2001). São, portanto, duas ideias intimamente asso- ciadas: 1) aquilo que o indivíduo aprende por si mesmo é superior, em termos educativos e sociais, àquilo que ele aprende através da trans- missão por outras pessoas e 2) o método de construção do conhecimento é mais importan- te do que o conhecimento já produzido social- mente (DUARTE, 2001, p. 37). O terceiro posicionamento valorativo analisado pelo autor se refere a atividade educativa do aluno, a qual deve ser impulsionada e orientada conforme os inte- resses e necessidades da própria criança, uma educa- ção funcional, com base na concepção de educação funcional de Claparède (1954). O quarto posicionamento valorativo “[...] é o de que a educação deve preparar os indivíduos para acompanharem a sociedade em acelerado processo de mudança” (DUARTE, 2001, p. 37). Os alunos de- vem ser preparados para um mundo mutante, de- senvolver habilidades, competências para se adaptar e ser flexível, ajustando-se às condições de trabalho ou desemprego. Qual relação podemos fazer sobre neoliberalis- mo, os organismos internacionais e o “aprender a aprender”? Os organismos internacionais utilizam das ideias neoliberais e pós-modernas em seus do- cumentos e orientações. A concepção pós-moder- na de sujeito híbrido, plural e centrado na expe- riência imediata da vida valoriza o conhecimento cotidiano, não mais o conhecimento construído historicamente e sistematizado na escola. Portan- to, as teorias pedagógicas do “aprender a aprender” devem ser analisadas “[...] como parte de um pro- cesso ideológico mais amplo, o de avanço do pen- samento neoliberal e de seu aliado, o pós-moder- nismo” (DUARTE, 2001, p. 71). Em suma, o pensamento pós-moderno e neo- liberal apresenta um “recuo da teoria” o que torna ilusório a apropriação do conhecimento objetivo; pressuposto básico para a formação de sujeitos polí- ticos, críticos que lutem pela possibilidade de trans- formações sociais. Caro(a) aluno(a), cabe nos questionarmos: que visão de sociedade e de indivíduo essas teorias pe- dagógicas do “aprender a aprender” assumem e pro- pagam na escola? Para Duarte (2003, 2004, 2006 e 2007), teorias pedagógicas do “aprender a aprender” propagam argumentos, como: POLÍTICAS EDUCACIONAIS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA 34 • O conhecimento importante é o conhecimen- to espontâneo, imediato e particularizado; • O conhecimento espontâneo é o extraído do cotidiano; • O conhecimento aceito é o que tem utilidade imediata; • O conhecimento aceito é o que funciona na prática; • O conhecimento valorizado é o que foi ad- quirido naprática. Quais são as fragilidades desses argumentos apre- sentados? • A apropriação do conhecimento universal, da riqueza intelectual produzida historicamente e sua socialização, como função social da es- cola, não é considerada como fundamental na formação dos alunos; • A história dos homens é desprezada, ocorre um afastamento da vida objetiva, do olhar amplo de cada problema social; • O cotidiano e a experiência passam a ser a verdade e não mais a ciência; • O objeto de trabalho do professor deixa de ser o conhecimento e passa a ser as interações humanas; • As questões teóricas (fruto da própria práxis) são substituídas pelas questões práticas; • O método e o processo de aprendizagem são mais importantes do que o conteúdo, o patri- mônio cultural. Nesse sentido, as pedagogias do “aprender a apren- der” negam a escola tradicional e, com isso, negam seus métodos, seus conteúdos e suas práticas. Não estamos dizendo aqui que a educação tradicional era um modelo adequado, mas negá-lo por com- pleto é, também, negar uma parte da nossa histó- ria. Para os seguidores de Piaget, a escola passa a ter um papel de organização das atividades edu- cativas para estimular o processo de construção dos instrumentos de assimilação e aprendizagem do conhecimento. Onde está, nessa proposta, o co- nhecimento científico? O conhecimento sistemati- zado? A história construída coletivamente? Nosso questionamento é sobre os fundamentos das pro- postas do “aprender a aprender” e seu caráter utili- tário e pragmático. 35 considerações finais C aro(a) aluno(a), na Unidade I, o objetivo foi tratar conceitos básicos da disciplina a partir da relação entre sociedade, Estado e educação; a interferência neoliberal na educação, os organismos internacionais e suas propostas para a educação brasileira. Ao longo da história da educação no Brasil, os objetivos educacionais são redefinidos, adaptam-se aos modos de produção e organização do trabalho e da vida. Ao sintetizarmos aspectos históricos da educação, observamos as tendên- cias educacionais em cada período. Percebemos, caro(a) aluno(a), que no contexto da reestruturação do capi- tal - a globalização, a reforma do Estado, a política neoliberal e os organismos internacionais - a educação é culpabilizada por uma crise que é da estrutura social e é convocada a responder ativamente para a saída da crise, atendendo às demandas do mercado. As inúmeras políticas e projetos educacionais nas últimas décadas colocaram, para o sistema de ensino, aquilo que ele, por si só, não é capaz de resolver. Nós, educadores, precisamos ter clareza da função social da escola em socializar o saber sistematizado historicamente, o saber científico. Esteja atento(a), caro(a) aluno(a), às tendências postas pelo mercado para a educação, elas são sedutoras, tratam a desigualdade social como natural, como se o sucesso escolar e profis- sional dependesse apenas de cada um. Não estamos afirmando que os esforços individuais não sejam elementos fundamentais, mas a estrutura social é o fator básico para garantir os direitos de cidadania. Portanto, a educação deve ter como objetivo a formação integral do ser hu- mano, que permita o conhecimento e desenvolvimento de suas potencialidades, ancoradas nos conhecimentos historicamente acumulados pela humanidade. To- dos os indivíduos devem ter a oportunidade educacional de se ttornarem cons- cientes e críticos do mundo em que vivem. 36 atividades de estudo 1. De acordo com a discussão abordada nesta unidade, reflita sobre a seguinte questão: a reestruturação econômica interfere de que forma na educação a partir da década de 90? 2. Apresente as principais características do ideá- rio neoliberal e sua influência nas políticas pú- blicas educacionais. 3. Explique a influência dos organismos internacio- nais nas políticas públicas educacionais no Brasil. 4. Com a nova ordem mundial, desde a década de 90, a educação brasileira obtém, como direcio- namento, as políticas de ajustes, para atender as exigências dos padrões internacionais. O sis- tema educativo deve atender à competitividade econômica (LAVAL, 2004). Esses ideais de mu- dança de paradigmas estão pautados no neoli- beralismo. A partir das concepções neoliberais para a educação, analise as afirmativas a seguir: I. Para assegurar o acúmulo de capital, o co- nhecimento passa a ser compreendido como uma produção da economia, ou seja, é necessário instigar a competitividade entre os alunos, a flexibilização, para que se au- mente a produtividade. II. Com a proposta de descentralização do Esta- do, é possível verificar a proposta de privatiza- ção da educação, pois deve ser de interesse do indivíduo investir em sua formação, para se in- serir no mercado de trabalho posteriormente. III. A ênfase da educação passa a ser os conheci- mentos valorizados economicamente. Desse modo, a formação do aluno tem como objeti- vo atender às exigências do mercado. IV. O ensino público, na perspectiva neoliberal, ganha destaque. O neoliberalismo indica que o Estado deve ser o único responsável para garantir ações que visam priorizar a educação gratuita. Está correto apenas o que se afirma em: a. I e II. b. I, II e III. c. III e IV. d. I, II e IV. e. II e III. 5. Diversos organismos internacionais vêm exercendo uma influência significativa nas po- líticas educacionais, em países emergentes, como o Brasil. Nesse sentido, leia as afirma- tivas a seguir: I. Para a educação brasileira, as influências se originam da subordinação do Estado a esses organismos, pois dependem de seus financia- mentos para projetos na área educacional. II. Uma orientação dos organismos internacio- nais é a descentralização, utilizada como es- tratégia de racionalização de recursos. III. Os organismos ou agências internacionais trazem a abordagem da educação integral, apoiada na responsabilidade do Estado na oferta exclusiva da educação. IV. Documentos do Banco Mundial apresentam orientações educacionais aos países em de- senvolvimento. Está correto apenas o que se afirma em: a. I e II. b. I e III. c. II, III e IV. d. III e IV. e. I, II e IV. 37 LEITURA COMPLEMENTAR O Doutor Pablo Gentili da Universidade do Estado do Rio foi um dos participantes da Cimeira Internacional de Educação, realizada na Cidade do México, que analisou as consequências para os sistemas educativos da adoção de políticas neoliberais. Segue parte da entrevista. [...] P: Então, o que dá origem à crise escolar? R: Segundo os neoliberais, a crise é produzida pela expansão desordenada e anárquica que os sistemas educativos vêm sofrendo nos últimos anos. É uma crise de qualidade, derivada da improdutividade que caracteriza as práticas pedagógicas e da gestão admi- nistrativa na grande maioria dos estabelecimentos escolares. P: Se é assim que o neoliberalismo vê a qualidade no ensino, onde nos leva esta ideia? R: A que a existência de mecanismos de extensão e de integração escolar são o resulta- do claro e direto da própria ineficácia da escola e da profunda incompetência dos que nela trabalham. Isto é totalmente inaceitável do nosso ponto de vista. Podemos dizer que do ponto de vista neoliberal se trata de uma crise da administração e gestão e não da democratização da escola. P: Tal concepção que consequências têm na escola? R: A subordinação da democratização da escola a uma reforma administrativa do siste- ma escolar orientada apenas pela necessidade de introduzir mecanismos que regulam a eficácia, a produtividade, etc. P: Isso soa a tecnocracia, a discurso retórico. Parece que o neoliberalismo entende a qualidade educativa ao mais puro estilo mercantil. R: Efetivamente, do ponto de vista neoliberal — mesmo considerando os países mais po- bres — não faltam escolas: faltam melhores escolas; não faltam professores: faltam pro- fessores mais qualificados; não faltam recursos econômicos para facilitar políticas que favoreçam a educação, só falta umamelhor distribuição dos recursos existentes. 38 LEITURA COMPLEMENTAR P: Esse discurso parece-me que predomina tanto na América Latina como na Europa e, pelo visto é divulgado em vários fóruns internacionais política como aplicada mundialmente. Com tudo o que acaba de dizer, o que é para o neoliberalismo a transformação da escola? R: Já aqui foi comentado que para o neoliberalismo isso é uma transformação gerencial a implicar uma mudança substancial nas práticas pedagógicas, bens mais eficientes. Reestruturar o sistema educativo para flexibilizar a oferta educativa; promover uma mudança cultural não menos profunda na gestão; redefinir o perfil do professor, requa- lificando-o de novo, e além do mais levar a cabo uma ampla reforma curricular. P: Insisto. Como explica o neoliberalismo a crise do sistema educativo? R: Defende que a escola funciona mal por ausência de um verdadeiro mercado educa- tivo. Construir tal mercado constitui um dos grandes desafios das políticas neoliberais no campo educativo. A competência interna e o desenvolvimento de um sistema que tenha como base o mérito e o esforço individual podem promover os mecanismos fun- damentais que garantam a eficácia dos serviços que oferecem. P: Mas isso é reduzir tudo ao mercado. Onde estão os valores sociais, a solidariedade...? R: Efetivamente, para eles tudo é mercado, e a crise é o produto da disfunção da noção de cidadania já que esta, ao basear-se no conceito universal e universalizante dos di- reitos humanos (políticos, sociais, econômicos, culturais, etc.), gerará um consumo de falsas promessas. P: Então, para os neoliberais quem são os verdadeiros culpados da crise educativa? R: Bem, citarei uns diretos e outros indiretos. Em primeiro lugar, o Estado assistencial, apoiado pelos sindicatos e todas aquelas organizações que defendem o direito iguali- tário a uma escola pública de qualidade. Os principais: os sindicatos dos professores. Podemos afirmar, portanto, na perspectiva neoliberal, que o Estado e os sindicatos são os principais responsáveis da crise, mas a sociedade não fica à margem, já que é culpada na medida em que as pessoas aceitam como natural e inevitável o “status quo” estabelecido pelo sistema improdutivo do Estado intervencionista. 39 LEITURA COMPLEMENTAR De forma clara e simples: a escola funciona mal porque as pessoas não reconhecem o valor do conhecimento; os professores trabalham pouco e não se atualizam, são pre- guiçosos; os alunos fingem que estudam quando na realidade perdem o tempo, etc. Enfim, para os neoliberais trata-se de um problema cultural provocado pela ideologia dos direitos sociais. P: Durante a Cimeira, comprovamos que existe um consenso estratégico entre políticos, tecnocratas e intelectuais conservadores sobre como defrontar a crise educativa. Pode resumir as receitas que propõem? R: Em resumo, os objetivos são a necessidade de estabelecer mecanismos de controle e evolução da qualidade dos serviços educativos; a necessidade de articular e subordinar a “produção educativa” às necessidades estabelecidas pelo mercado de trabalho; e a estratégia de flexibilizar as formas de contratação e as retribuições salariais dos docen- tes, mas ao mesmo tempo, desenvolver sistemas estatais de evolução. O Neoliberalismo deixou as nações mais pobres, mais excluídas e mais polarizadas. P: Como se repercutiram estas políticas na América Latina? R: De uma forma terrível, já que deixaram nações mais pobres, mais excluídas e mais polarizadas. Isto está a provocar um confronto de todos contra todos para alcançar a sobrevivência numa sociedade dominada pela economia, que favorece o excessivo pagamento dos interesses da dívida externa, em prejuízo dos salários e da qualidade da vida da população. Estas políticas incrementam ou incrementaram a desigualdade social, racial e sexual, re- produzindo os privilégios das minorias. Agravam o individualismo e a competição sel- vagem, quebrando assim os laços de solidariedade coletiva e intensificam um processo antidemocrático de seleção natural onde os melhores triunfam e os mais frágeis perdem. Com todo este panorama, podemos dizer que a resposta do neoliberalismo é simplista e enganosa, já que promete mercado, quando na realidade, é na própria configuração do mercado que se encontram as raízes da evolução das desigualdades. O neoliberalismo não diz nada de como atuar contra as causas estruturais da pobreza, pelo contrário, atua intensificando-as. Fonte: Polo ([2017, on-line)1. POLÍTICAS EDUCACIONAIS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA 40 Apresentação: em 1995, teve início a Reforma da Gestão Pública, iniciada pelo MARE, que existiu entre 1995 e 1998. Nos primeiros quatro anos do governo FHC, enquanto Luiz Carlos Bresser-Pereira foi o ministro, a reforma foi executada ao nível Federal. Disponível em: <http://www.bresserpereira.org.br/Documents/MARE/PlanoDiretor/planodi- retor.pdf>. Liberalismo e educação em debate Organização: José Claudinei Lombardi; José Luís Sanfelice Editora: Autores Associados Sinopse: o livro reúne as conferências de dois ciclos de debates promovidos pelo Histedbr, Comunicações em história da edu- cação e Colóquios de filosofia e história da educação, ocorridos na Unicamp ao longo de 2001 e 2002. Os autores partem do pressuposto da existência de uma estreita relação entre o libe- ralismo com os paradigmas educacionais. Trata-se de uma obra que faz uma análise polêmica, crítica e profunda de temas candentes de nosso tempo, como liberalismo, neoliberalismo, marxismo e educação. 41 referências ABRANCHES, S. H. Política Social e Combate à Pobreza: A teoria da prática. In: Política Social e Combate à Pobreza. 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