Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Agentes anti-inflamatórios Anti-inflamatórios esteroidais A síntese e liberação dos glicocorticoides do córtex da suprarrenal é controlado pelo hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), produzido na adeno-hipófise. Este hormônio consiste em um peptídio de 39 resíduos, derivado do precursor pró- opiomelanocortina pelo processamento proteolítico sequencial. Atua no membro MC2 da família dos receptores de melanocortina. Além disso, o hormônio também tem ações anti-inflamatórias por si só, por meio da ativação de receptores macrofágicos (melanocortina) MC3. Ações: Estímulo da síntese e liberação de glicocorticoides Ação trófica nas células do córtex da suprarrenal e regulação dos níveis de enzimas esteroidogênicas mitocondriais. A secreção do ACTH, de natureza pulsátil, é regulada pelo CRF liberado pelo hipotálamo e pelo ADH liberado pela neuro-hipófise. A liberação tanto de ACTH quanto de CRF, por sua vez, é inibida reflexamente pelo consequente aumento nas concentrações sanguíneas de glicocorticoides. Os peptídios opioides também exercem um controle inibitório tônico na secreção de CRF, e fatores psicológicos, calor ou frio excessivos, lesões ou infecções, também podem afetar a liberação de ADH e CRF. Esse é o principal mecanismo pelo qual o eixo HHSR é ativado em resposta a ameaças detectadas no ambiente externo. Adrenocorticosteroides Os hormônios adrenocorticais de ocorrência natural consistem em moléculas de esteroides sintetizadas e liberadas pelo Farmacologia Por: ANA CLARA MELO ´ córtex da suprarrenal. Podem ser classificados como esteroides que exercem efeitos importantes no metabolismo intermediário e na função imune (glicocorticoides); esteroides que possuem principalmente uma atividade de retenção de sal (mineralocorticoides); e aqueles que apresentam atividade androgênica ou estrogênica. O principal glicocorticoide é o cortisol, e o mineralocorticoide mais importante é a aldosterona. Do ponto de vista quantitativo, a desidroepiandrosterona (DHEA) em sua forma sulfatada é o principal androgênio suprarrenal. Glicocorticoides endógenos O cortisol é sintetizado a partir do colesterol. No adulto normal, e na ausência de estresse, são secretados 10 a 20 mg de cortisol por dia. Após serem sintetizados, não são armazenados na suprarrenal e são liberados de forma pulsátil para a corrente sanguínea. Embora eles sejam continuamente liberados, existe um ritmo circadiano bem definido em sua secreção nos humanos sadios, cuja concentração sanguínea é maior durante a manhã e sofre redução gradual ao longo do dia, alcançando o ponto mais baixo à noite. O precursor biossintético dos glicocorticoides é o colesterol. Regulada pelo ACTH, a conversão inicial de colesterol em pregnenolona é a etapa limitante da velocidade do processo. A metirapona impede a β-hidroxilação em C11 e, portanto, impede a formação de hidrocortisona e corticosterona. A síntese é bloqueada no estágio do 11- desoxicorticosteroide, e, como essas substâncias não exercem efeitos no hipotálamo e hipófise, ocorre aumento significativo de ACTH no sangue. O cetoconazol, um agente antifúngico, também inibe a esteroidogênese e pode ser útil no tratamento especializado da síndrome de Cushing. A superfamília a qual pertencem os receptores de glicocorticoides também inclui receptores de mineralocorticoides, de esteroides sexuais, de hormônios tireoidianos, de vitamina D3 e de ácido retinóico. Os glicocorticóides são ésteres lipofílicos que difundem para o citoplasma celular e, após ligação com os receptores glicocorticóides, deslocam as proteínas de choque térmico, permitindo a dimerização dos receptores glicocorticóides e sua migração para o núcleo. Lá, ligam-se a elementos do receptor de glicocorticoides (GRE) nos promotores dos genes responsivos. Além de sua ligação ao GRE, o receptor ligado ao ligante também forma complexos com outros fatores de transcrição e influencia sua função, como AP1 e fator nuclear capa-B (NF-κB) no compartimento citosólico, que atuam sobre promotores que não contêm GRE, contribuindo para a regulação da transcrição de seus genes responsivos. Esses fatores de transcrição exercem amplas ações sobre a regulação de fatores de crescimento, citocinas pró-inflamatórias, entre outros, e medeiam, em grande parte, os efeitos anti crescimento, anti- inflamatórios e imunossupressores dos glicocorticoides. Pode haver diferentes populações de receptores, incluindo receptores ligados à membrana, os quais podem também transduzir ações rápidas, explicando a supressão inicial do ACTH hipofisário por retroalimentação. Os efeitos dos glicocorticoides são principalmente devidos a proteínas sintetizadas a partir do mRNA transcrito por seus genes-alvo. Alguns dos efeitos dos glicocorticoides podem ser atribuídos à sua ligação aos receptores de mineralocorticoides. Com efeito, os MR ligam-se à aldosterona e ao cortisol com afinidade semelhante. O efeito mineralocorticoide dos níveis mais elevados de cortisol é evitado em alguns tecidos (p. ex., rim, cólon, glândulas salivares) pela expressão da 11β- hidroxiesteroide desidrogenase 2, a enzima responsável pela biotransformação ao derivado 11-ceto (cortisona), que possui ação mínima sobre os receptores de aldosterona. Podem ser administrados por via oral, sistêmica ou intra-articular, ou para aplicação tópica, tal como por aerossol diretamente no trato respiratório ou no nariz, ou como gotas oftálmicas. Podem ser formulados como cremes ou pomadas para aplicação na pele ou como enema de espuma para o trato GI. A administração tópica reduz a possibilidade de efeitos tóxicos sistêmicos, a não ser que sejam empregadas quantidades muito grandes. No plasma, o cortisol liga-se às proteínas circulantes: CBG e albumina. A globulina de ligação dos corticosteroides (CBG), uma α2 globulina sintetizada pelo fígado, liga-se a cerca de 90% do hormônio circulante em circunstâncias normais. O restante encontra-se na forma livre (cerca de 5 a 10%) ou frouxamente ligada à albumina (cerca de 5%), estando disponível para exercer seus efeitos nas células-alvo. Quando os níveis plasmáticos de cortisol ultrapassam 20 a 30 mcg/dL, ocorre saturação da CBG, e a concentração de cortisol livre aumenta com rapidez. A CBG aumenta durante a gravidez e em caso de administração de estrogênio, bem como no hipertireoidismo. Ocorre diminuição da CBG em consequência de hipotireoidismo, defeitos genéticos em sua síntese e estados de deficiência de proteína. A albumina tem grande capacidade de ligação, porém baixa afinidade pelo cortisol, e, para fins práticos, o cortisol ligado à albumina deve ser considerado livre. Os corticosteroides sintéticos, como a dexametasona, ligam-se, em grande parte, à albumina, e não à CBG. A meia-vida do cortisol na circulação normalmente é de cerca de 60 a 90 minutos, podendo aumentar quando se administra hidrocortisona em grandes quantidades, ou na presença de estresse, hipotireoidismo ou doença hepática. Como pequenas moléculas lipofílicas, os glicocorticoides provavelmente entram nas suas células-alvo por simples difusão. Apenas 1% do cortisol é excretado em sua forma inalterada na urina como cortisol livre; cerca de 20% do cortisol é convertido em cortisona pela 11-hidroxiesteroide- desidrogenase no rim e em outros tecidos, dotados de receptores de mineralocorticoides, antes de alcançar o fígado. A maior parte do cortisol é metabolizada no fígado. Cerca de um terço do cortisol é produzido diariamente é excretado na urina como metabólitos de di- hidroxicetona. Muitos metabólitos do cortisol são conjugados com ácido glicurônico ou sulfato nas hidroxilas C3 e C21 no fígado; a seguir, sãoexcretados na urina. → Efeitos metabólicos e sistêmicos gerais Os principais efeitos metabólicos ocorrem no metabolismo de carboidratos e proteínas. Os glicocorticoides estimulam a gliconeogênese e a síntese de glicogênio em jejum e são necessários para a ocorrência de ambos os processos. Estimulam também a fosfoenolpiruvato-carboxicinase, a glicose- 6-fosfatase e a glicogênio sintase, bem como a liberação de aminoácidos durante o catabolismo muscular e síntese reduzida de proteínas, o que pode levar à atrofia do tecido. Os glicocorticoides aumentam os níveis séricos de glicose e, portanto, estimulam a liberação de insulina e inibem a captação de glicose pelas células musculares, ao mesmo tempo em que estimulam a lípase sensível ao hormônio e, portanto, a lipólise. A secreção aumentada de insulina estimula a lipogênese e, em menor grau, inibe a lipólise, com consequente aumento efetivo na deposição de gordura, em conjunto com aumento na liberação de ácidos graxos e de glicerol na circulação. Os glicocorticoides tendem a produzir balanço negativo de cálcio, por reduzirem a absorção de Ca2+ no trato GI e por aumentarem sua eliminação pelos rins. Juntamente com o aumento da quebra das proteínas da matriz óssea, esse processo pode causar osteoporose. Em concentrações não fisiológicas, leva à retenção de Na+ e à perda de K +, possivelmente por sobrecarga da 11β-hidroxiesteroide desidrogenase e ação nos receptores de mineralocorticoides. → Efeitos de retroalimentação negativa na adeno-hipófise e no hipotálamo Os glicocorticoides endógenos e exógenos exercem efeito de retroalimentação negativa na secreção de hormônio do crescimento, hormônio estimulante da tireoide, hormônio luteinizante, CRF e ACTH, inibindo a secreção de glicocorticoides endógenos e, potencialmente, levando à atrofia do córtex da suprarrenal. → Efeitos anti-inflamatórios e imunossupressores Os glicocorticoides endógenos mantêm um nível baixo de tônus anti-inflamatório e são segregados em quantidades crescentes em resposta a estímulos inflamatórios. Circulam constantemente no sangue e estão aumentados durante os episódios inflamatórios, ou mesmo por antecipação a um evento estressante. Os glicocorticoides exógenos são os fármacos anti-inflamatórios por excelência e, quando administrados terapeuticamente, suprimem as manifestações do sistema imune tanto inato como adaptativo. Revertem praticamente todos os tipos de reações inflamatórias causadas por patógenos invasores, por estímulos químicos ou físicos ou por respostas imunes desencadeadas inadequadamente, como ocorre na hipersensibilidade ou na doença autoimune. Quando usados profilaticamente para inibir a rejeição de enxertos, os glicocorticoides são mais eficazes ao inibir o início e a propagação da resposta imune do que ao inibir as manifestações de uma resposta já estabelecida, na qual a proliferação clonal já ocorreu. As ações sobre as células inflamatórias incluem: Menor saída de neutrófilos dos vasos sanguíneos e redução da ativação de neutrófilos, macrófagos e mastócitos, seguida de redução da transcrição gênica de fatores de adesão celular e citocinas; Redução geral da ativação de células T- helper (Th), redução da expansão clonal das células T, e “troca” da resposta imune do tipo Th1 para Th2; Redução da função dos fibroblastos, menor produção de colágeno e glicosaminoglicanos e, em algumas circunstâncias, diminuição da cicatrização e reparo. As ações nos mediadores das respostas inflamatória e imune incluem: Produção diminuída de prostanoides por meio da expressão reduzida de ciclo-oxigenase II e supressão da liberação de substrato de ácido araquidônico; Produção reduzida de várias citocinas, incluindo IL-1, IL-2, IL-3, IL-4, IL-5, IL-6, IL-8, TNF-α, fatores de adesão celular e GM-CSF, em grande parte devido à inibição da transcrição gênica; Redução da concentração de componentes do complemento no plasma. A ativação do complemento não é alterada, porém seus efeitos são inibidos; Produção diminuída de óxido nítrico pela isoforma induzida da sintetase 2 do óxido nítrico (NOS2); Redução da liberação de histamina e de outros mediadores pelos basófilos; Redução da produção de imunoglobulina G (IgG); Síntese aumentada de fatores anti- inflamatórios, como IL-10, receptor solúvel de IL-1 e anexina-1. → Outros efeitos Promovem a redistribuição da gordura do corpo, com aumento da gordura visceral, facial, da nuca e supraclavicular. A deficiência de cortisol resulta em comprometimento da função renal (particularmente da filtração glomerular), aumento da secreção de vasopressina e capacidade diminuída de excretar uma carga hídrica. As alterações estruturais e funcionais que ocorrem nos pulmões próximo a termo, incluindo a produção do material ativo sobre a superfície pulmonar necessário para a respiração (surfactante), são estimuladas pelos glicocorticoides. Supressão da resposta a infecções ou lesões. Têm sido associados ao desenvolvimento de úlcera péptica, possivelmente pela supressão da resposta imune local contra o Helicobacter pylori. Síndrome de Cushing Osteoporose: influenciam a densidade óssea, tanto pela regulação do metabolismo de cálcio e fosfato quanto pelos efeitos na produção e degradação do colágeno. Eles reduzem a função dos osteoblastos (que depositam a matriz óssea) e aumentam a atividade dos osteoclastos (que digerem a matriz óssea). Hiperglicemia Inibição do crescimento em crianças No SNC, a insuficiência suprarrenal provoca acentuada redução do ritmo alfa do eletrencefalograma e está associada à depressão. Em quantidades aumentadas costumam produzir no início insônia e euforia; posteriormente, depressão. Além disso, podem aumentar a pressão intracraniana (pseudotumor cerebral). Glaucoma em pessoas com predisposição genética e aumento da incidência de catarata. Observação: a retirada abrupta desses fármacos após terapia prolongada pode resultar em insuficiência aguda da suprarrenal, devido à supressão da capacidade do paciente para sintetizar corticosteroides.8 Devem-se seguir procedimentos cautelosos para a retirada em estágios. A recuperação da função total da suprarrenal demora aproximadamente 8 semanas, embora possa levar até 18 meses ou mais após tratamento prolongado com doses elevadas. A dexametasona pode ser usada no teste de supressão para avaliar a função do eixo HHSR. É administrada uma dose relativamente baixa, em geral à noite. Espera-se que isso suprima o hipotálamo e a hipófise, resultando em secreção reduzida de ACTH e produção diminuída de hidrocortisona no plasma cerca de 9 h depois. A falta de supressão indica hipersecreção de ACTH ou de glicocorticoides (síndrome de Cushing). Glicocorticoides sintéticos São sintetizados a partir do ácido cólico obtido de bovinos ou de sapogeninas esteroides encontradas em plantas. Quando administrados por via oral, os corticosteroides sintéticos são, na maioria dos casos, absorvidos com rapidez e de modo completo. São transportados e metabolizados de forma semelhante aos esteroides endógenos. A introdução de alterações na molécula de glicocorticoide influencia sua afinidade pelos receptores de glicocorticoides e de mineralocorticoides, bem como a afinidade de ligação às proteínas, a estabilidade da cadeia lateral, a taxa de eliminação e os produtos metabólicos. Em alguns casos, o agente é administrado como pró-fármaco; por exemplo, a prednisona é rapidamente convertida no produto ativo, prednisolona, no organismo. Se ligam a proteínas receptoras intracelulares específicas e produzem os mesmos efeitos dos glicocorticoides endógenos. FármacosHidrocortisona (Acetato de Hidrocortisona®, Androcortil®, Otosporin®, Cortisonal®, etc.): fármaco usado para substituição de cortisol, quando há déficits na sua produção normal. Quando biotransformada, é inativada. Cortisona: tem efeitos mineralocorticóides acentuados. Dexametasona (Maxtrol®, Decadron®): pouco efeito mineralocorticóide. O Decadron® é bastante utilizado, juntamente à adrenalina, para tratar edema de glote secundário à reação anafilática. Betametasona: pouco efeito mineralocorticóide. O Diprospan® (dipropionato de betametasona + fosfato dissódico de betametasona) é um corticóide de absorção rápida utilizado para casos emergenciais de reações alérgicas do tipo anafilactóide. Prednisona: para se tornar ativa, deve ser biotransformado pelo citocromo P450, convertendo-se em prednisolona. Prednisolona (Predsim®): primeira escolha na inflamação sistêmica. Consiste no metabólito ativo biotransformado da prednisona. Metilprednisolona Budesonide: usado na pele (creme) e como aerosol na asma e rinite alérgica. Beclometasona: usado na pele e como aerosol na asma e rinite alérgica. Quanto à potência: Hidrocortisona → potência semelhante ao cortisol. Deflazacorte → 3 vezes mais potente que o cortisol. Prednisolona → 4-5 vezes mais potente que o cortisol. Prednisona → 4-5 vezes mais potente que o cortisol. Triancinolona → 5 vezes mais potente que o cortisol. Metilprednisolona → 5-7.5 vezes mais potente que o cortisol. Betametasona → 25-30 vezes mais potente que o cortisol. Dexametasona → 25-30 vezes mais potente que o cortisol.
Compartilhar