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APG 1 Problema: Distúrbios Hormonais Morfofisiologia das Suprarrenais ANATOMIA: As suprarrenais ou adrenais se localizam no retroperitônio, sobre a face medial dos polos superiores dos rins. A suprarrenal direita tem formato triangular, e se encontra próximo à veia cava inferior. Já a suprarrenal esquerda é maior, localizando- se entre o rim esquerdo e a aorta, próximo à cauda do pâncreas e à artéria esplênica. Cada glândula possui uma cápsula e duas camadas: um córtex periférico, e uma medula mais central. O suprimento arterial deriva das artérias frênicas inferiores, aorta e artérias renais. Sua microvasculatura é crucial, por permitir a comunicação entre o córtex e a medula. Capilares corticais – ricos em cortisol – drenam para a medula onde estimulam a conversão da noradrenalina em adrenalina. A drenagem venosa da adrenal direita é feita para a veia cava inferior, enquanto a da adrenal esquerda se dirige à veia renal esquerda. O córtex não possui inervação, mas a medula é suprida por nervos simpáticos pré- ganglionares, oriundos dos gânglios esplâncnico maior e celíaco, além de outros plexos simpáticos intra-abdominais. HISTOLOGICAMENTE, o córtex possui três camadas. A primeira, mais externa, é a zona glomerulosa, encarregada da produção de aldosterona. A zona fasciculada e a zona reticular se localizam, respectivamente, no meio e na região mais interna, tendo a função de produzir cortisol e androgênios. FISIOLOGIA 1. Esteroidogênese Suprarrenal Os hormônios produzidos pela suprarrenal são chamados de esteroides porque todos derivam de um precursor comum: o colesterol, proveniente tanto da dieta quanto da síntese endógena. Os esteroides adrenais são constituídos por diversos anéis aromáticos e contêm 19 ou 21 átomos de carbono. Os C19- são representados pelos androgênios. Já os C21-esteroides podem atuar como glicocorticoides ou mineralocorticoides. (Ao receberem um radical hidroxila no carbono 17, os C21- esteroides ganham o nome de 17- hidroxicorticosteroides, sendo classificados como glicocorticoides. Na ausência da 17- hidroxilação, os C21-esteroides são classificados como mineralocorticoides.) Os estrógenos (hormônios sexuais femininos) possuem 18 carbonos e NÃO são produzidos pelas adrenais, tendo origem nos ovários ou na conversão periférica de androgênios em estrogênios, por ação da enzima aromatase. Esta enzima se localiza principalmente no tecido adiposo. 2. Transporte no Plasma Cerca de 95% do cortisol circulante está ligado a proteínas, especialmente à transcortina (globulina ligadora de cortisol ou CBG), mas também à albumina. A fração biologicamente ativa é representada pelo “cortisol livre” (5% do total), que é aquele cuja concentração é diretamente Lupébhia Tarlé regulada pelo eixo hipotálamo-hipofisário. O principal determinante do cortisol plasmático total é o nível de CBG. A CBG plasmática varia em diversas situações, tais como o hiperestrogenismo (aumento). Assim, um cortisol TOTAL aumentado não necessariamente significa hipercortisolismo (aumento da fração livre biologicamente ativa). 3. Metabolismo e Depuração Menos de 1% do cortisol livre é filtrado na urina – a maior parte é captada pelos tecidos. O fígado é o principal sítio de metabolização do cortisol. Seus metabólitos são conjugados ao ácido glicurônico, a fim de se tornarem solúveis no sangue e serem eliminados pelo rim. Uma pequena fração do cortisol é metabolizada no próprio rim, pelas células tubulares. Neste caso, o cortisol é convertido em cortisona (metabólito inativo) por ação da enzima 11-β- hidroxiesteroide desidrogenase tipo 2 (11b-HD2). A inativação pela célula tubular impede que, fisiologicamente, o cortisol exerça efeito mineralocorticoide renal (retenção de sódio e água/ secreção de K+ e H+). Condições como as hepatopatias crônicas e o hipotireoidismo diminuem a metabolização do cortisol. Nesse contexto, a administração de doses farmacológicas de glicocorticoide possui uma chance aumentada de causar efeitos colaterais (isto é, maior probabilidade de síndrome de Cushing secundária). Por outro lado, o hipertireoidismo acelera o metabolismo do cortisol. Drogas indutoras do citocromo P450 (barbitúricos, fenitoína e rifampicina) também aumentam a taxa de metabolização. Estes fármacos não influem no cortisol endógeno (que se autorregula por feedback), mas podem reduzir o efeito dos glicocorticoides exógenos. 4. Eixo Hipotálamo-Hipófise- Suprarrenal O cortisol é regulado pelo ACTH, um hormônio produzido na adenohipófise. O hipotálamo produz CRH (hormônio liberador de corticotrofina), que estimula a secreção de ACTH após ser transportado pelo sistema porta-hipofisário. O ACTH estimula principalmente as zonas fasciculada e reticular, promovendo secreção de cortisol e androgênio. De forma limitada, ele também estimula a secreção de aldosterona pela camada glomerulosa (mas o controle desta última é feito primariamente pelo sistema renina- angiotensina). O ACTH se liga a um receptor de membrana, ativando a primeira enzima da esteroidogênese. Tal enzima cliva a cadeia lateral do colesterol, convertendo-o em pregnenolona (no interior da mitocôndria), e representa a etapa limitante de todo o processo da esteroidogênese. O colesterol provém principalmente do LDL plasmático, mas também pode ser gerado de novo dentro da própria adrenal. É possível ainda que partículas de HDL sejam utilizadas na síntese de hormônio. O ACTH possui efeito trófico sobre a glândula: na sua ausência ocorre atrofia do córtex, e no seu excesso, hiperplasia. Na ausência de ACTH (insuficiência adrenal “secundária” – ex.: uso de glicocorticoide exógeno), a aldosterona continua a ser secretada (controle pelo SRAA). Já nos casos de insuficiência adrenal “primária” (doença na própria glândula), todos os hormônios suprarrenais se tornam deficitários. O eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal contém uma alça de feedback negativo. O cortisol inibe a síntese de ACTH pela adeno- hipófise e de CRH pelos neurônios hipotalâmicos. 5. Fisiologia dos Glicocorticoides Qual é o papel fisiológico do cortisol??? Regular o metabolismo intermediário, o sistema imunológico e a função cardiovascular. No metabolismo, o cortisol tem efeito catabólico e hiperglicemiante (“contrainsulínico”). Ele nos protege durante da hipoglicemia de jejum, estimulando a degradação de proteínas e lipídios para a geração de substratos da gliconeogênese (síntese hepática de glicose). Também estimula a glicogeniogênese (armazenamento hepático de glicose). Em relação ao sistema imunológico, representa um importantíssimo modulador: reduz a ativação exagerada desse sistema. Sem a secreção de cortisol em resposta a insultos inflamatórios/ infecciosos, a capacidade “destrutiva” do sistema imunológico afetaria em larga escala não apenas o agente invasor, mas também os próprios tecidos do hospedeiro. Ainda utilizando o exemplo da “resposta ao estresse”, podemos entender o papel do cortisol na função circulatória: o cortisol estimula a expressão de receptores para catecolaminas no coração e nos vasos sanguíneos! É o chamado efeito permissivo. Sem ele, o sistema cardiovascular não responderia adequadamente à ativação adrenérgica aguda! Por exemplo: diante de um agravo inflamatório/infeccioso sistêmico (que tende a reduzir a pressão arterial ao promover vasodilatação generalizada), mesmo na vigência de altos níveis de catecolaminas, não haveria sustentação da pressão arterial, pois sem o efeito permissivo do cortisol, o coração e os vasos não estariam “aptos” a responder às catecolaminas. É por este motivo que muitos pacientes em choque séptico (onde é comum o surgimento de insuficiência adrenal “relativa”)necessitam de glicocorticoide exógeno em associação à reposição volêmica e aminas vasoativas. Como o cortisol atua nas suas células- alvo? Todos os hormônios esteroides compartilham um mecanismo de ação semelhante. Por serem extremamente lipossolúveis, eles transitam sem impedimento através das membranas celulares! Ao entrarem na célula, encontram receptores intracitoplasmáticos de alta afinidade. No caso do cortisol, existe um receptor específico de Glicocorticoide (GR). O complexo “cortisol- -GR” penetra então no núcleo, onde se liga a regiões de controle da transcrição gênica. O resultado é a ativação (ou inibição) da síntese de uma série de proteínas! Cortisol no Ciclo Sono-Vigília Fisiologicamente, as secreções de CRH e ACTH são pulsáteis, oscilando, ao longo de 24h, num padrão denominado ritmo circadiano. A finalidade desse “ritmo” é adequar a secreção hormonal às necessidades do organismo e, por conseguinte, deve respeitar o ciclo sono- vigília. Tal dado é imprescindível para a correta interpretação das dosagens hormonais no sangue. Veja bem: os níveis de cortisol tendem a ser máximos entre a 6ª e a 8ª hora de sono (por volta de 5-6h da manhã) e mínimos ao final da noite (antes de dormir e no início do sono) – ou seja, ele é máximo pouco antes do indivíduo despertar, e mínimo quando ele começa a dormir. Mas o conhecimento que você não pode deixar de ter é: o cortisol plasmático da meia-noite deve ser muito baixo ou indetectável. SÍNDROME DE CUSHING Síndrome de Cushing é o conjunto de sinais e sintomas decorrente da exposição crônica do organismo a um excesso de glicocorticoide. Seu diagnóstico costuma ser elusivo, pois além de muitas vezes sequer ser considerado (haja vista o caráter inespecífico de suas manifestações clínicas), a “aparente complexidade” do algoritmo investigativo desestimula os médicos não endocrinologistas no esforço de tentar entender. A causa mais comum é iatrogênica (exógena), sendo as etiologias endógenas bastante infrequentes na prática (cerca de dois a três casos novos para cada um milhão de habitantes-ano). As causas de Cushing endógeno são divididas em dois grandes grupos, em função dos níveis de ACTH. As formas ACTH-dependentes se relacionam a doenças do eixo hipotálamo- hipofisário, ou tumores diversos secretantes de ACTH/CRH. Já as formas ACTH- independentes ocorrem em consequência a doenças primárias da suprarrenal. Clínica: Dados relativamente específicos que nos fazem pensar em síndrome de Cushing 1- Desenvolvimento SIMULTÂNEO dos múltiplos sinais e sintomas, com piora progressiva de todos eles ao mesmo tempo. 2- Presença de: fraqueza muscular proximal (cintura escapular e pélvica), atrofia cutânea, estrias violáceas largas (> 1 cm de largura) e aumento do panículo adiposo na região supraclavicular. A obesidade centrípeta progressiva (face, pescoço, tronco e abdome) é um dos mais importantes marcos da síndrome. Comumente as extremidades estão consumidas (“braços e pernas finos”), devido ao hipercatabolismo muscular. Também ocorre acúmulo interno de gordura: no mediastino, canal espinhal e até mesmo no espaço epidural (raramente provocando sintomas neurológicos por compressão). A adiposidade retro-orbitária promove exoftalmia em até 5% dos casos. Em CRIANÇAS, obesidade generalizada e retardo no crescimento são uma constante. Manifestações clínicas: Manifestações Gerais Obesidade centrípeta progressiva. Face de lua cheia (facies cushingoide). Gibosidade dorsal e supraclavicular. Retardo no crescimento linear (crianças). Cutâneas Fragilidade capilar acentuada. Pletora facial. Estrias cutâneas “largas” (> 1 cm). Hiperpigmentação (somente no excesso de ACTH). Musculoesqueléticas Fraqueza muscular proximal. Osteopenia/osteoporose (fratura vertebral e de ossos longos). Osteonecrose. Metabólicas e Cardiovasculares Diabetes mellitus. Alcalose metabólica hipocalêmica. Hipertensão arterial. Trombofilia (maior risco de TVP e TEP). Neuropsiquiátricas Insônia. Depressão (com frequência “atípica”, “agitada”). Labilidade emocional. Euforia. Psicose. Deficit cognitivo. Alterações Sexuais Oligo/amenorreia e anovulação. Virilização/puberdade precoce (hiperandrogenismo associado – carcinoma suprarrenal). Impotência. Diminuição da libido em homens. Face de lua cheia, pletora, adiposidade supraclavicular. “Corcova de búfalo”, calvície temporal. Estrias violáceas largas, obesidade centrípeta. Farmacologia do Corticoide Mineralocorticóides: aldosterona •Regulação do balanço hidroeletrolítico Glicocorticóides: cortisol •Metabolismo da glicose, das proteínas e das gorduras •Potente efeito antinflamatório e imunossupressor Esteróides sexuais: estrógenos e andrógenos • Caracteres sexuais secundário. Estudo de caso: Um homem de 19 anos queixa-se de anorexia, fadiga, tontura e perda de peso de oito meses de duração. A médica que o examina constata hipotensão postural e vitiligo (áreas despigmentadas da pele) moderado e solicita exames de sangue de rotina. Ela verifica a presença de hiponatremia, hiperpotassemia e acidose, fazendo-a suspeitar de doença de Addison. A médica realiza um teste de estimulação-padrão com ACTH 1-24, que revela uma resposta insuficiente do cortisol plasmático, compatível com insuficiência suprarrenal primária. O diagnóstico de doença de Addison autoimune é estabelecido, e o paciente deve iniciar uma reposição dos hormônios que ele não consegue produzir. Como esse paciente deveria ser tratado? Que precauções ele deve tomar? Os hormônios adrenocorticais de ocorrência natural consistem em moléculas de esteroides sintetizadas e liberadas pelo córtex da suprarrenal. Tanto os corticosteroides naturais como os sintéticos são utilizados no diagnóstico e no tratamento de distúrbios da função suprarrenal. São também empregados – com mais frequência e em doses muito mais altas – no tratamento de uma variedade de distúrbios inflamatórios e imunológicos. A secreção dos esteroides adrenocorticais é controlada pela liberação hipofisária de corticotrofina (hormônio adrenocorticotrófico, ACTH, de adrenocorticotropic hormone). A secreção de aldosterona, o hormônio de retenção de sal, é influenciada principalmente pela angiotensina. A corticotrofina exerce algu- mas ações que não dependem de seu efeito na secreção adreno-cortical. Entretanto, sua importância farmacológica como agente anti- inflamatório e seu uso na avaliação da função suprarrenal dependem de sua ação secretora. Adrenocorticosteroides O córtex da suprarrenal libera uma grande quantidade de esteroides na circulação. Alguns apresentam atividade biológica mínima e atuam principalmente como precursores, ao passo que outros ainda não tiveram sua função estabelecida. Os esteroides hormonais podem ser classificados como esteroides que exercem efeitos importantes no metabolismo intermediário e na função imune (glicocorticoides); esteroides que possuem principalmente uma atividade de retenção de sal (mineralocorticoides); e aqueles que apresentam atividade androgênica ou estrogênica. Nos humanos, o principal glicocorticoide é o cortisol, e o mineralocorticoide mais importante é a aldosterona. Do ponto de vista quantitativo, a desidroepiandrosterona (DHEA, de dehydroepiandrosterone), em sua forma sulfatada (DHEAS), é o principal androgênio suprarrenal. Entretanto, a DHEA e dois outros androgênios suprarrenais, a androstenediona e o androstenediol, são androgênios fracos, já o androstenediol é um potente estrogênio. A androstenediona pode ser convertida em testosterona e estradiol nos tecidos extrassuprarrenais. Os androgênios suprarrenais constituem os principais precursoresendógenos do estrogênio nas mulheres após a menopausa e em algumas pacientes mais jovens com deficiência ou ausência da função ovariana. → GLICOCORTICOIDES DE OCORRÊNCIA NATURAL; CORTISOL (HIDROCORTISONA) Farmacocinética O cortisol (também denominado hidrocortisona, composto F) exerce uma ampla variedade de efeitos fisiológicos, incluindo regulação do metabolismo intermediário, função cardiovascular, crescimento e imunidade. Sua síntese e secreção estão estreitamente reguladas pelo sistema nervoso central (SNC), que é muito sensível à retroalimentação negativa dos níveis circulantes de cortisol e glicocorticoides exógenos (sintéticos). O cortisol é sintetizado a partir do colesterol. No adulto normal, e na ausência de estresse, são secretados 10 a 20 mg de cortisol por dia. A velocidade de secreção segue um ritmo circadiano, governado por pulsos de ACTH que alcançam um pico nas primeiras horas da manhã e após as refeições. No plasma, o cortisol liga-se às proteínas circulantes. A globulina de ligação dos corticosteroides (CBG, de corticosteroid-binding globulin), uma α2 globulina sintetizada pelo fígado, liga-se a cerca de 90% do hormônio circulante em circunstâncias normais. O restante encontra-se na forma livre (cerca de 5 a 10%) ou frouxamente ligada à albumina (cerca de 5%), estando disponível para exercer seus efeitos nas células--alvo. Quando os níveis plasmáticos de cortisol ultrapassam 20 a 30 mcg/dL, ocorre saturação da CBG, e a concentração de cortisol livre aumenta com rapidez. A CBG aumenta durante a gravidez e em caso de administração de estrogênio, bem como no hipertireoidismo. Ocorre diminuição da CBG em consequência de hipotireoidismo, defeitos genéticos em sua síntese e estados de deficiência de proteína. A albumina tem grande capacidade de ligação, porém baixa afinidade pelo cortisol, e, para fins práticos, o cortisol ligado à albumina deve ser considerado livre. Os corticosteroides sintéticos, como a dexametasona, ligam-se, em grande parte, à albumina, e não à CBG. A meia-vida do cortisol na circulação normalmente é de cerca de 60 a 90 minutos, podendo aumentar quando se administra hidrocortisona (a preparação farmacêutica do cortisol) em grandes quantidades, ou na presença de estresse, hipotireoidismo ou doença hepática. Apenas 1% do cortisol é excretado em sua forma inalterada na urina como cortisol livre; cerca de 20% do cortisol convertido em cortisona pela 11-hidroxiesteroide- desidrogenase no rim e em outros tecidos dotados de receptores de mineralocorticoides antes de alcançar o fígado. A maior parte do cortisol é metabolizada no fígado. Farmacodinâmica A. Mecanismo de ação Os efeitos conhecidos dos glicocorticoides são mediados, em sua maioria, por receptores de glicocorticoides amplamente distribuídos. Essas proteínas são membros da superfamília de receptores nucleares, que incluem os receptores de esteroides, esterol (vitamina D), hormônio tireoidiano, ácido retinoico e muitos outros receptores com ligantes desconhecidos ou inexistentes (receptores órfãos). Todos esses receptores interagem com os promotores dos genes-alvo e regulam a sua transcrição. Na ausência do ligante hormonal, os receptores de glicocorticoides são principalmente citoplasmáticos, encontrando-se em complexos oligoméricos com proteínas de choque térmico. O hormônio livre no plasma e no líquido intersticial penetra na célula e liga-se ao receptor, induzindo alterações na conformação, que possibilitam a sua dissociação das proteínas de choque térmico. B. Efeitos anti-inflamatórios e imunossupressores Os glicocorticoides reduzem radicalmente as manifestações da inflamação. Essa propriedade resulta de seus efeitos profundos na concentração, na distribuição e na função dos leucócitos periféricos, bem como de seus efeitos supressores nas citocinas e quimiocinas inflamatórias e em outros mediadores da inflamação. A inflamação, independentemente de sua causa, caracteriza-se por extravasamento e infiltração de leucócitos no tecido afetado. Esses eventos são mediados por uma complexa série de interações de moléculas de adesão dos leucócitos com aquelas que se encontram nas células endoteliais, que são inibidas pelos glicocorticoides. Após a administração de uma dose única de glicocorticoide de ação curta, a concentração de neutrófilos na circulação aumenta, ao passo que ocorre redução dos linfócitos (células T e B), monócitos, eosinófilos e basófilos. As alterações tornam-se máximas em seis horas e dissipam-se em 24 horas. O aumento na contagem de neutrófilos é devido ao seu maior influxo para o sangue a partir da medula óssea e sua migração diminuída dos vasos sanguíneos, com consequente redução no número de células no local de inflamação. A redução das contagens de linfócitos, monócitos, eosinófilos e basófilos circulantes resulta de seu movimento do leito vascular para o tecido linfoide. Os glicocorticoides também inibem as funções dos macrófagos teciduais e de outras células apresentadoras de antígeno. Verifica-se uma redução na capacidade dessas células de responder a antígenos. O efeito nos macrófagos é particularmente acentuado e limita a capacidade de fagocitar e destruir microrganismos, bem como de produzir o fator de necrose tumoral a, a interleucina-1, as metaloproteinases e o ativador do plasminogênio. Tanto os macrófagos como os linfócitos produzem menos interleucina-12 e interferon gama, que são indutores importantes da atividade das células Th1 e da imunidade celular. Além de seus efeitos na função dos leucócitos, os glicocorticoides influenciam a resposta inflamatória ao inibir a fosfolipase A2, reduzindo, assim, a síntese de ácido araquidônico, o precursor das prostaglandinas e leucocitrienos, e do fator de ativação das plaquetas. Por fim, os glicocorticoides diminuem a expressão da cicloxigenase-2, a forma induzível dessa enzima, nas células inflamatórias, com consequente diminuição da quantidade de enzima disponível para a produção de prostaglandinas. Os glicocorticoides provocam vasoconstrição quando aplicados diretamente à pele, possivelmente ao suprimir a desgranulação dos mastócitos. Além disso, diminuem a permeabilidade capilar ao reduzir a quantidade de histamina liberada dos basófilos e mastócitos. Os efeitos anti-inflamatórios e imunossupressores dos glicocorticoides decorrem, em grande parte, das ações anteriormente descritas. Nos seres humanos, a ativação do complemento não é alterada, porém seus efeitos são inibidos. A produção de anticorpos pode ser reduzida por grandes doses de esteroides, embora não seja afetada por doses moderadas (p. ex 20 mg/dia de prednisona). Os efeitos anti-inflamatórios e imunossupressores desses agentes são amplamente úteis do ponto de vista terapêutico, porém são também responsáveis por alguns de seus efeitos adversos mais graves. C. Outros efeitos Os glicocorticoides exercem efeitos importantes no sistema nervoso. A insuficiência suprarrenal provoca acentuada redução do ritmo alfa do eletrencefalograma e está associada à depressão. Os glicocorticoides em quantidades aumentadas costumam produzir distúrbios do comportamento dos seres humanos: no início insônia e euforia; posteriormente, depressão. Os glicocorticoides em grandes doses podem aumentar a pressão intracraniana (pseudotumor cerebral). Os glicocorticoides, quando administrados de forma crônica, suprimem a liberação hipofisária de ACTH, hormônio do crescimento, hormônio estimulante da tireoide e hormônio luteinizante. Os glicocorticoides em grandes doses têm sido associados ao desenvolvimento de úlcera péptica, possivelmente pela supressão da resposta imune local contra o Helicobacter pylori. Além disso, promovema redistribuição da gordura do corpo, com aumento da gordura visceral, facial, da nuca e supraclavicular. Parecem antagonizar o efeito da vitamina D na absorção de cálcio. Os glicocorticoides também exercem efeitos importantes no sistema hematopoiético. Além de seus efeitos nos leucócitos, eles aumentam o número de plaquetas e de eritrócitos. A deficiência de cortisol resulta em comprometimento da função renal (particularmente da filtração glomerular), aumento da secreção de vasopressina e capacidade diminuída de excretar uma carga hídrica. → CORTICOSTEROIDES SINTÉTICOS Os glicocorticoides tornaram-se agentes importantes no tratamento de inúmeros distúrbios inflamatórios, imunológicos, hematológicos, entre outros. Essa aplicação estimulou o desenvolvimento de muitos esteroides sintéticos com atividade anti-- inflamatória e imunossupressora. Farmacocinética Os esteroides farmacêuticos em geral são sintetizados a partir do ácido cólico obtido de bovinos ou de sapogeninas esteroides encontradas em plantas. Modificações adicionais desses esteroides levaram à comercialização de um grande grupo de esteroides sintéticos com características especiais, que são importantes do ponto de vista tanto farmacológico como terapêutico. Quando administrados por via oral, os corticosteroides sintéticos são, na maioria dos casos, absorvidos com rapidez e de modo completo. Embora sejam transportados e metabolizados de forma semelhante aos esteroides endógenos, existem diferenças importantes. Farmacodinâmica As ações dos esteroides sintéticos assemelham- se às do cortisol. Eles se ligam a proteínas receptoras intracelulares específicas e produzem os mesmos efeitos, porém apresentam diferentes razões entre potência glicocorticoide e mineralocorticoide. Síndrome de Cushing – A síndrome de Cushing costuma resultar de hiperplasia suprarrenal bilateral secundária a um adenoma hipofisário secretor de ACTH (doença de Cushing); todavia, em certas ocasiões, é causada por tumores ou por hiperplasia nodular da glândula suprarrenal, ou pela produção ectópica de ACTH por outros tumores. As manifestações são aquelas associadas à presença crônica de glicocorticoides em excesso. Quando a hipersecreção de glicocorticoide é pronunciada e prolongada, os aspectos mais notáveis consistem em face pletórica e arredondada e obesidade do tronco. A perda proteica pode ser significativa e inclui debilitação muscular; adelgaçamento da pele, estrias de cor púrpura e equimoses fáceis na pele, cicatrização deficiente de feridas; e osteoporose. Outros distúrbios graves incluem transtornos mentais, hipertensão e diabetes. Esse distúrbio é tratado por remoção cirúrgica do tumor produtor de ACTH ou cortisol, irradiação do tumor hipofisário ou ressecção de uma ou de ambas as glândulas suprarrenais. Esses pacientes devem receber grandes doses de cortisol durante e após o procedimento cirúrgico. No dia da cirurgia, podem ser administradas doses de até 300 mg de hidrocortisona solúvel, na forma de infusão intravenosa contínua. A dose precisa ser reduzida lentamente até níveis normais de reposição, visto que uma rápida redução da dose pode provocar sintomas de abstinência, incluindo febre e dor articular. REFERÊNCIAS: - Farmacologia básica e clínica – Katzung 13°ed. - Apostila MED Curso
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