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Dr. Álef Lamark 1 Eosinofilia EOSINOFILIA Eosinofilia: contagem de eosinófilos no sangue periférico > 500/mm3 devido a desordens hematológicas (primária ou clonal), não hematológicas (secundária ou reacional) ou idiopática (sem causa idenitificada) (LIESVELD; REAGAN, 2018b; SANT’ANNA, 2019). Quando a contagem é > 1500/mm3 denominamos essa condição de hipereosinofilia e isso pode estar relacionado a lesões de órgãos-alvo (SANT’ANNA, 2019). Função dos eosinófilos Eosinófilos são componentes do sistema imunitário inato com função de defesa contra as infecções parasitárias e bactérias intracelulares, e modulação das reações de hipersensibilidade. Embora eles sejam tóxicos a helmintos in vitro, não há evidência de que eles eliminam parasitas in vivo. Além disso, eles são menos eficientes que neutrófilos na eliminação de bactérias intracelulares, e podem modular as reações de hipersensibilidade imediata por degradação ou desativação de mediadores liberados por mastócitos, como histamina, leucotrienos (que podem causar vasoconstrição e broncoconstrição), lisofosfolipídios e heparina (LIESVELD; REAGAN, 2018a). Eosinofilia prolongada resulta em lesão no tecido (LIESVELD; REAGAN, 2018a). Produção dos eosinófilos Regulada por células T mediante secreção dos fatores de crescimento hematopoético, GM-CSF, IL-3 e IL-5. Ademais, os níveis diurnos variam inversamente aos níveis plasmáticos de cortisol; pico à noite e queda de manhã (LIESVELD; REAGAN, 2018a). A contagem de eosinófilos pode reduzir com estresse, uso de betabloqueadores ou corticoide e, às vezes, durante infecções bacterianas ou virais, e sua meia-vida é 6 a 12 horas, com a maioria residindo nos tecidos (p. ex., trato respiratório superior, trato gastrointestinal, pele e útero) (LIESVELD; REAGAN, 2018a). Classificação (LIESVELD; REAGAN, 2018a, 2018b; SANT’ANNA, 2019) • Leve: 500~< 1500/mm3 • Moderada: 1500~5000/mm3 • Severa: > 5000/mm3 Uma vez que condições primárias são raras, diante de um paciente com hipereosinofilia, deve-se pesquisar causas secundárias: infecção (verminose, Dr. Álef Lamark 2 Eosinofilia escabiose), alergia (asma, rinite alérgica, dermatite atópica, síndrome DRESS, Churg-Strauss, aspergilose broncopulmonar alérgica), efeito de medicamentos, inflamação (artrite reumatoide, doença inflamatória intestinal), malignidade (adenocarcinomas, linfomas) e alterações metabólicas (insuficiência adrenal). Em paralelo, deve-se pesquisar lesão orgânica e como qualquer órgão pode ser acometido, o quadro clínico pode ser bastante variado (SANT’ANNA, 2019): • Cardíaca: dor torácica, dispneia, palpitações e edema de MMII. • Respiratória: tosse, dispneia e broncoespasmo. • Gastrointestinal: diarreia, hepatoesplenomegalia, dor abdominal, disfagia, náuseas, vômitos e diarreia. • Neurológica: neuropatia, confusão mental, parestesias, perda de memória e alteração comportamental. • Cutânea: rash, prurido, dermatografismo, lesões de pele, miocardiopatia e eritrodermia. DRESS (Drug Reaction with Eosinophilia and Systemic Symptoms) é uma síndrome rara caracterizada por febre, exantema, eosinofilia, linfocitose atípica, linfadenopatia e sinais e sintomas relacionados com comprometimento de órgãos- alvo (tipicamente, coração, pulmões, baço, pele e sistema nervoso) (LIESVELD; REAGAN, 2018b). Caso o paciente com eosinofilia esteja tomando um fármaco que possa aumentar o quantitativo de eosinófilos, o ideal é substituí-los e repetir a contagem com 4 semanas. Medicações: beta-lactâmicos, AINEs, sulfa, ranitidina, alopurinol, aspirina, fenitoína, HCTZ, antirretrovirais (GISMONDI, 2020) e L-triptofano e outros suplementos dietéticos ou ervas (LIESVELD; REAGAN, 2018b). Este último pode causar a Síndrome de mialgia eosinofílica (MENDES, DM et al., 2000). Vermes que podem causar eosinofilia: NASA – Necator, Ancylostoma, Strongyloides e Ascaris. Além desses, Toxocara também pode causar, mas é incomum em nosso meio. Triagem inicial: PTF c/ MIF (3 amostras) (GISMONDI, 2020; LIESVELD; REAGAN, 2018b). PS: Isolamento de Strongyloides e Toxocara é difícil e, para estes, temos a opção de sorologia ou tratamento empírico (GISMONDI, 2020). Tratamento empírico para verminose (GISMONDI, 2020) • Albendazol: NASA e Toxocara, mas pode haver 40% de falha em Strongyloides. • Nitazoxanida: cobertura para Toxocara é ruim. • Ivermectina: cobre bem Strongyloides, mas não cobre Toxocara. Eosinofilia > 1500/mm3 + asma recorrente: HDs de Churg-Strauss e Aspergilose Broncopulmonar Alérgica. Solicitar (GISMONDI, 2020): Dr. Álef Lamark 3 Eosinofilia • Rx Tórax PA + Perfil; • TC de seios da face; • Expirometria; • Imunoeletroforese; • Marcadores sorológicos inflamatórios (VHS, PCR e eletroforese de proteínas); • ANCA; • IgE para Aspergillus. Dessa forma, recomenda-se realizar exames complementares direcionados para a sintomatologia do paciente: troponina, ECG, ECO, expirometria, broncoscopia e eletroneuromiografia (SANT’ANNA, 2019). Outros exames complementares que podem ser úteis, incluindo no paciente assintomático (GISMONDI, 2020): • Troponina • VHS, PCRt • Eletroforese, imunoeletroforese • Vitamina B12 • ANCA • Ige total e para Aspergillus • Bioquímica, cortisol sérico, hepatograma e triptase sérica • PTF com MIF Se hipervitaminose B 12 ou anormalidades no esfregaço do sangue periférico, pensa-se em distúrbio mieloproliferativo subjacente, solicitar punção e biópsia de medula óssea com estudos citogenéticos (LIESVELD; REAGAN, 2018b); Se a eosinofilia for persistente e/ou progressiva, associada à pesquisa de causa secundária negativa e/ou à pesquisa de lesão de órgão-alvo positiva, a investigação de desordem hematológica está indicada. Havendo presença de rearranjos genéticos, faz-se o diagnóstico de neoplasia mieloide/linfoide com eosinofilia e rearranjo PDGFRA, PDGFRB, FGFR1 ou PCM1-JAK2. Casos com aumento de blastos na medula óssea (5~19%) e/ou anormalidades citogenéticas/moleculares específicas podem representar leucemia eosinofílica crônica (SANT’ANNA, 2019). Além dos supracitados, também se pode solicitar (LIESVELD; REAGAN, 2018b): • DHL • Função hepática (lesão no fígado ou distúrbio mieloproliferativo) • ECO • Expirometria Dr. Álef Lamark 4 Eosinofilia Tratamento da eosinofilia Quando toda investigação é negativa, considera-se Síndrome Hipereosinofílica Idiopática se presença de disfunção orgânica, ou Hipereosinofilia Idiopática se ausência de disfunção orgânica. Casos idiopáticos sem repercussão clínica são candidatos à conduta expectante. Se houver sintomatologia associada, pode ser feita corticoterapia em dose imunossupressora se ausência de evidência para infecção grave, sendo que, em geral, a contagem de eosinófilos cai expressivamente (até mais de 50% do valor inicial) nas primeiras 24 horas (SANT’ANNA, 2019; LIESVELD; REAGAN, 2018b). Além mais, fármacos conhecidos por estarem associados à eosinofilia devem ser suspensos e causas identificadas devem ser tratadas. Por exemplo, pode-se tratar asma mediada por eosinófilos com anticorpos contra IL-5 (mepolizumabe, reslizumabe) ou contra o receptor da IL-5 (benralizumabe); se a causa base não for detectada, o paciente poderá ter complicações (LIESVELD; REAGAN, 2018b). O corticoide tem efeito na eosinofilia secundária e esse tipo de tratamento é indicado se a eosinofilia for persistente e progressiva na ausência de causa tratável (LIESVELD; REAGAN, 2018b). Ele suprime a concentração de óxido nítrico em asmáticos, diminuindo a eosinofilia por sensibilização do receptor Fas; inibe a proliferação, sobrevivência e ativação dos eosinófilos, interferindo com GM-CSF, IL- 3 e IL-5, e induz apoptose das células (MENDES, DM et al., 2000). REFERÊNCIAS 1. SANT’ANNA, LP. PEBMED. Meu paciente apresenta eosinofilia,o que devo fazer? - PEBMED. 30 de out. 2019. 2. GISMONDI, R. PEBMED. Eosinofilia: abordagem ao paciente com aumento de eosinófilos - PEBMED. 23 de set. 2020. 3. LIESVELD, J; REAGAN, P. MSD. Produção e função dos eosinófilos - Hematologia e oncologia - Manuais MSD edição para profissionais (msdmanuals.com). dez. 2018a. 4. LIESVELD, J; REAGAN, P. MSD. Eosinofilia - Hematologia e oncologia - Manuais MSD edição para profissionais (msdmanuals.com). dez. 2018b. 5. MENDES, DM et al. Eosinofilia (sbai.org.br). Arquivo de Asma, Alergia e Imunologia. v. 23, n. 2. mar-abr. 2000. https://pebmed.com.br/meu-paciente-apresenta-eosinofilia-o-que-devo-fazer/ https://pebmed.com.br/meu-paciente-apresenta-eosinofilia-o-que-devo-fazer/ https://pebmed.com.br/abordagem-ao-paciente-com-eosinofilia/ https://pebmed.com.br/abordagem-ao-paciente-com-eosinofilia/ https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/hematologia-e-oncologia/dist%C3%BArbios-eosinof%C3%ADlicos/produ%C3%A7%C3%A3o-e-fun%C3%A7%C3%A3o-dos-eosin%C3%B3filos https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/hematologia-e-oncologia/dist%C3%BArbios-eosinof%C3%ADlicos/produ%C3%A7%C3%A3o-e-fun%C3%A7%C3%A3o-dos-eosin%C3%B3filos https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/hematologia-e-oncologia/dist%C3%BArbios-eosinof%C3%ADlicos/produ%C3%A7%C3%A3o-e-fun%C3%A7%C3%A3o-dos-eosin%C3%B3filos https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/hematologia-e-oncologia/dist%C3%BArbios-eosinof%C3%ADlicos/eosinofilia https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/hematologia-e-oncologia/dist%C3%BArbios-eosinof%C3%ADlicos/eosinofilia http://www.sbai.org.br/revistas/Vol232/eosino.htm
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