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Convulsões Neonatais Felícia Silva dos Santos Jacqueline de Andrade Tavares Lucas Corrêa Xavier Rayane Faustino de Souza Suelita da Costa Silva1 Edmar Jorge Feijó 2 RESUMO A ocorrência de crises convulsivas é frequente no período neonatal. Estes episódios podem ser idiopáticos, motivados por patologia orgânica cerebral ou por distúrbios metabólicos. Entre as patologias neurológicas mais freqüentes do período neonatal encontram-se as crises convulsivas, cuja incidência varia entre 1,8-5/1.000 nascidos vivos. No período neonatal as convulsões podem estar relacionadas a diversos fatores etiológicos, que causam lesão permanente ou transitória do sistema nervoso central (SNC).Tendo isso em vista, o objetvo deste estudo foi avaliar os diagnósticos etiológicos e a evolução clínica dos recém-nascidos com convulsões neonatais. Para isto foi realizado um estudo com abordagem descritiva, do tipo revisão de literatura, onde o total foi utilizado 15 artigos publicados em periódicos nacionais sobre o tema em questão nos últimos cinco anos. Realizou-se para a pesquisa dos artigos, a busca eletrônica nas bases de dados BVS, SCIELO E LILACS, a partir dos descritores: Convulsão; neonatal; pediatria; enfermagem. Ao final do artigo, concluiu-se que É necessário realização de ensaios clínicos randomizados para avaliação da eficácia e efeitos laterais dos fármacos antiepilépticos nas crises convulsivas neonatais, assim como estudos prospectivos para avaliação do efeito das crises epilépticas e terapêuticas instituídas no desenvolvimento psicomotor a longo prazo, para assim ser possível efectuar orientações técnicas nesta área a nível mundial. Palavras-chave: Convulsão; neonatal; pediatria; enfermagem. ABSTRACT The occurrence of seizures is frequent in the neonatal period. These episodes can be idiopathic, motivated by organic brain pathology or by metabolic disorders. Among the most frequent neurological pathologies of the neonatal period are seizures, the incidence of which varies between 1.8-5 / 1,000 live births. In the neonatal period, seizures can be related to several etiological factors, which cause permanent or transient damage to the central nervous system (CNS) .To do this, the aim of this study was to evaluate the etiological diagnoses and the clinical evolution of newborns with 1 Graduandos do curso de Enfermagem da Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO. Campus Niterói. 2 Mestre em Enfermagem.Titular da UNIVERSO. E-mail: enflite@gmail.com neonatal seizures. For this, a study with a descriptive approach, of the literature review type, was carried out, where the total was used 15 articles published in national journals on the subject in question in the last five years. For the search of the articles, the electronic search was performed in the databases VHL, SCIELO AND LILACS, based on the descriptors: Convulsion; neonatal; pediatrics; nursing. At the end of the article, it was concluded that it is necessary to carry out randomized clinical trials to assess the efficacy and side effects of antiepileptic drugs in neonatal seizures, as well as prospective studies to evaluate the effect of epileptic and therapeutic crises instituted on long-term psychomotor development. in order to be able to provide technical guidance in this area worldwide. Keywords: Seizure; neonatal; pediatrics; nursing. Introdução O primeiro mês de vida é o período de maior risco para a ocorrência de convulsões, tendo uma incidência de cerca de um a cinco por 1000 nados-vivos. Correspondem a uma manifestação de disfunção neurológica devida, na maioria dos casos, a um evento agudo como encefalopatia hipóxico-isquémica, infecção do sistema nervoso central, alterações electrolíticas e hemorragia do sistema nervoso central. Raramente a causa das convulsões é epilepsia (CAMPILTOL, 2008). Com a melhoria dos cuidados neonatais, a mortalidade nos recém-nascidos com convulsões tem diminuído, mas o risco de sequelas neurológicas tem permanecido praticamente inalterado. A alteração dos circuitos neuronais e a diminuição da neurogénese são alguns dos mecanismos implicados na lesão cerebral, que podem condicionar défice cognitivo e/ou de aprendizagem no futuro. Por outro lado, alguns dos fármacos antiepilépticos utilizados também podem condicionar lesão cerebral. O prognóstico está relacionado, sobretudo, com a etiologia das convulsões e com a presença de anomalias no electroencefalograma (CLANCY, 2006). Tendo isso em vista, o objetvo deste estudo foi avaliar os diagnósticos etiológicos e a evolução clínica dos recém-nascidos com convulsões neonatais. Metodologia Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, realizada nas seguintes bases de dados: LILACS, BDENF E MEDLINE, no período de agosto a outubro de 2020, na qual utilizou os seguintes descritores: erros de medicação; convulsão; neonatal; pediatria; enfermagem. Os critérios de inclusão: textos completos dos últimos 5 anos, pesquisas em seres humanos e artigos em português. Os critérios de exclusão foram: teses, dissertações, texto completo indiponíveis. Resultados Realizado levantamento bibliográfico na Biblioteca Virtual de Saúde, onde foram encontrados artigos científicos em português publicados em periódicos e depois de estudados, foram listados e descritos de maneira objetiva no quadro abaixo. Artigos Título, Autores e Ano Objetivo da Pesquisa Metodologia Resultados e Discussão Conclusão Artigo 1 Convulsões Neonatais numa Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais Terciária. Andreia LOPES, Ana VILAN, Maria Beatriz GUEDES, Hercília GUIMARÃES, 2015. Avaliação do diagnóstico etiológico e evolução clínica dos recém- nascidos admitidos numa unidade de cuidados intensivos neonatais terciária com convulsões neonatais Análise retrospectiva dos processos clínicos dos recém- nascidos com convulsões neonatais, durante um período de oito anos. Registaram-se 91 casos de recém-nascidos com crises convulsivas. Setenta e nove (86,8%) doentes receberam medicação anticonvulsivant e durante a crise. Estudos imagiológicos e/ou neurofisiológico s foram realizados na maioria dos recém-nascidos (86,8%) A existência de anomalias na ecografia transfontanelar e no electroencefalogra ma esteve relacionada com a evolução clínica, pelo que continuam a ser os exames de eleição na abordagem inicial desta patologia. Artigo 2 Convulsões no período neonatal. Jaderson Costa da Costa, Magda Lahorgue Nunes, Renato Machado Fiori, 2016. evidenciar características que diferenciam as convulsões neonatais de crises em outras faixas etárias, discutindo criticamente a literatura sobre este tema e a experiência profissional dos autores revisão da literatura atual e de artigos clássicos que contribuíram na compreensão de aspectos clínicos, neurofisiológicos e fisiopatológicos das convulsões neonatais. os autores apresentam características clínicas e eletrencefalográ ficas das crises neonatais, discutem as propostas de classificação, o manejo e o prognóstico. as crises neonatais têm padrão clínico distinto, o que justifica a necessidade de uma classificação própria. A etiologia é predominantemen te sintomática e multifatorial, o tratamento deve seguir uma rotina pré-estabelecida, e o prognóstico parece estar intimamente relacionado à etiologia. Artigo 3 Avaliação das consultas de pré-natal: adesão do pré- natal e complicações na saúde materno- infantil. Pereira, Dídia de Oliveira; Ferreira, Tainara Lôrena dos Santos; Araújo, Daísy Vieira de; Melo, Káthya Daniella Figueiredo; Andrade, Fábia Barbosa de. 2017. Avaliar a correlação entre adesão do pré-natal e complicações na saúde materno- infantil. Trata-sede um estudo quantitativo e avaliativo dos indicadores de morbidade e mortalidade materno-infantil Das mães que aderiram ao pré-natal, 86% não complicaram, ao passo que 13% das grávidas tiveram complicação na gestação, tendo como causas sangramento, convulsão, infecção urinária, diabetes e hipertensão arterial. Destarte o pré- natal como importante para realizar um acompanhamento saudável da gestante e seu filho, prevenindo e/ou tratando as complicações que podem surgir nesse período, concorrendo, assim, para a diminuição dos índices de morbimortalidade materna e infantil. Artigo 4 Alterações funcionais da deglutição em bebês de risco para o desenvolvime nto neuropsicomo tor. Mariza Muniz de Menezes, Izabella Santos Nogueira de Andrade. 2016. descrever as alterações funcionais da deglutição em bebês de risco para o desenvolvimen to neuropsicomot or. utilizou-se estudo do tipo individuado, observacional e referência temporal transversal. dentre os resultados, verificou-se que todos os bebês apresentaram alterações funcionais na sequência da deglutição. No que concerne aos fatores de riscos, constatou-se a prematuridade como maior prevalência (40,7%), acompanhada em ordem decrescente por hipóxia neonatal (35,2%), síndrome do desconforto respiratório (25,9%), convulsão (22,2%), sepse (18,5%) e hemorragia peri- intraventricular (7,4%). As alterações funcionais da deglutição mais encontradas durante a avaliação clínica foram escape anterior (71%) e tosse (72,5%) para a consistência líquida. Na consistência pastosa, foram observados escape anterior (76,9%), tosse (64,1%) e aumento do tempo do trânsito oral (56,4%). existe uma associação entre os fatores de riscos para o desenvolvimento neuropsicomotor e as alterações Artigo 5 Impacto das crises convulsivas neonatais no prognóstico Avaliar o prognóstico clínico- neurológico de crianças Realizou-se um estudo transversal em uma coorte histórica de recém- nascidos que O grupo com seguimento foi constituído por 12 meninos e 10 meninas O estudo evidenciou alta incidência de epilepsia após crises convulsivas neurológico durante os primeiros anos de vida. Baggio, Bruna Finato; Cantali, Diego Ustárroz; Teles, Rodolfo Alex; Nunes, Magda Lahorgue. 2016. que apresentaram crises convulsivas no período neonatal, verificando a incidência e o impacto da ocorrência de epilepsia pós- neonatal em relação ao desenvolvime nto neuropsicomo tor e qualidade do sono. apresentaram crises convulsivas com idade variando entre 2 e 6 anos. Dez pacientes (45,5%) apresentavam epilepsia pós- neonatal. Todas as crianças com epilepsia apresentaram resultado anormal ou questionável no teste de Denver II. neonatais e associação de epilepsia com indicadores de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. A qualidade do sono apresentou- se de forma regular na amostra estudada. Artigo 6 Crises epilépticas no período neonatal: análise descritiva de uma população hospitalar Investigar a incidência e a letalidade de crises epilépticas neonatais e as condições associadas à sua presença. Estudo retrospectivo observacional de base hospitalar Foram identificados 6.600 nascidos vivos de 6.483 partos, encontrando-se 61 casos incidentes de crises epilépticas neonatais (0,9 por cento). A primeira crise ocorreu até 12 horas após o parto em 45,3 por cento dos neonatos. Das mães analisadas, 32,8 por cento apresentaram síndromes hipertensivas. A incidência de crises epilépticas no período neonatal identificada neste estudo foi três a quatro vezes superior à incidência relatada em hospitais de países desenvolvidos, embora as características dos casos fossem semelhantes. A letalidade foi de 47,4 por cento e a asfixia grave foi a condição patológica intraparto mais frequente. Artigo 7 Brandon DH, Coe K, Hudson-Barr D, Oliver T, Landerman LR. Effectiveness of No-Sting® skin protectant and Aquaphor® on water loss and skin integrity in premature infants. Journal of Perinatology, Comparar os efeitos dos protetores de pele No- Sting® e Aquaphor® sobre a perda de água transepidérmi ca e integridade da pele nas primeiras duas semanas de vida do RNPTEnsaio Ensaio clínico randomizado Não houve diferenças significativas comparando os grupos Aquaphor® e No -Sting em 14 dias nos dois sítios corporais avaliados (p=0,36 e p=0,08 ) O protetor de pele No-Sting é tão eficaz quanto o Aquaphor® na diminuição da perda de água transepidérmica e manutenção da integridade da pele, sendo mais facilmente aplicado 2015. Artigo 8 Mouser T, Helder. D.Skin matters: effectiveness of a Non- Petrolatum emollient cream in pediatric care. Ostomy Wound Management, 2016 Documentar a eficácia do Sween® (Superior Moisturizing Skin Protectant Cream, Coloplast Corp. Marietta, Ga) usado uma vez por dia na redução de xerose Estudo descritivo Nos três casos houve melhora da qualidade da pele relativo à hidratação após três semanas de uso, proporcionando uma pele com aparência saudável e elasticidade melhorada. A aplicação uma vez por dia foi conveniente e eficaz, sem os efeitos adversos esperados com o uso de creme emoliente não petrolato. Artigo 9 Hu X, Zhang Y. EFfect of topically applied sunflower seed oil in preterm infants. Pediatric critical care medicine, 2015. Avaliar a terapia tópica com óleo de semente de girassol na melhora da barreira cutânea e sua eficácia na proteção contra infecções no pré-termo Estudo retrospectivo comparativo longitudinal Pacientes tratados com óleo de semente de girassol demonstraram menos dermatite do que os pacientes tratados com óleo Johnson®, e ambos tiveram um resultado melhor do que o grupo controle após 14 dias (p<0,05) Neste estudo, o óleode semente de girassol mostrou-se melhor do que o óleo Johnson Artigo 10 O’Neil A, Schumacher B. Application of a pectin barrier for medical adhesive skin injury (epidermal stripping) in a premature infant. Journal of wound, ostomy and continence Descrever o uso de hidrocolóidefin o como proteção a ser posicionada entre a pele e um adesivo reflexivo de fixação de sonda de temperatura, evitando formação de área circular eritematosa Estudo retrospectivo comparativo longitudinal Utilizou-se uma fina placa de hidrocolóide (barreira de pectina) entre a pele do RN e a cobertura de prata reflexiva, prevenindo lesões de pele causadas pelo uso de adesivo de fixação de dispositivos Evitou-se lesões de pele através da proteção com a placa de hidrocolóide, sendo possível segurar a sonda de temperatura com sucesso. nursing, 2015. na superfície da pele de um RN Artigo 11 Morris LD, Berh JH, Smith SL. Hydrocolloid to Prevent Breakdown of Nares in Preterm Infants. MCN:The American Journal of Maternal- Child Nursing, 2015 Determinar a eficácia de uma barreira dupla de hidrocoloide (colocada entre a cânula nasal e narinas) para impedir a ruptura da pele em RN de muito baixo peso recebendo O2 aquecido e umidificado viacânula nasal de alto fluxo Estudo retrospectivo comparativo longitudinal Não houve diferenças significativas na condição da pele das narinas entre os grupos (p=0,18) ou ao longo do tempo (p=0,45) A não diferença estatística entre os grupos pode ter sidoocasionada pela maior vigilância dos enfermeiros da UTIN diante do risco de trauma na pele. Além disso, a substituição do CPAP nasal pelo oxigênio aquecido e umidificado via cânula nasal de alto fluxo, que exerce menospressão sobre os tecidos das narinas, está se tornando mais comum e já foi comprovada na literatura ser menos lesiva. Artigo 12 Cisler-Cahill L. A protocol for the use of amorphous hydrogel to support wound healing in neonatal patients: an adjunct to nursing skin care. Neonatal network, 2016 Descrever o uso de um protocolo de prática sobre a utilização de hidrogel amorfo como modalidade de tratamento para feridas neonatais iatrogênicas. Estudo descritivo s feridas incluídas no protocolo foram lesões por infiltração intravenosa, incisões cirúrgicas, estomas de traqueotomia, lesões por pressão, abrasões mecânicas e químicas, e escoriação perianal. Das 35 feridas que completaram a cicatrização no âmbito do protocolo, 97% não apresentaram cicatrizes visíveis. Os resultados deste projeto comprovam a eficácia do hidrogel para tratamento das lesões de pele dos bebês, mas suscitaram novas questões: Qual a duração do tratamento com hidrogel? O tratamento deve ser interrompido se houver prescrição de medicamentos tópicos? Artigo 13 Quinn D, Newton N, Piecuch R. Effect of less frequent bathing on premature Avaliar o efeito do aumento de espaçamento de tempo entre os banhos, considerando Ensaio clínico randomizado Apesar da presença de patógenos nas culturas de pele, nenhuma das crianças desenvolveu quaisquer É seguro reduzir a frequência de banho para cada quatro dias em prematuros na UTIN. Alterar frequência de banhos é um infant skin. Journal of obstetric, gynecology and neonatal nursing, 2015. a flora da pele de recém- nascidos prematuros. sinais ou sintomas de infecção método de reduzir a exposição à manipulação e estresse causado pelo frio Artigo 14 Kienast A, Roth B, Bossier C, Hojabri C, Hoeger PH. Zinc- deficiency dermatitis in breast-fed infants. European journal of pediatrics, 2017 Descrever dez casos de neonatos, em amamentação exclusiva, com deficiência de zinco que foram inicialmente diagnosticada s com impetigo ou eczema Ensaio clínico As lesões de pele decorrentes de deficiência de zinco começarama sumir 24h após o início da terapia oral com sulfato ou gluconato de zinco, desaparecendo completamente após 14 dias de terapia. Os casos descritos foram previamente avaliados com diagnóstico diferente do real e subtratados com medicamentos tópicos inadequados. Os autores alertaram que apesar de lactantes apresentarem níveis séricos adequados da substância, por vezes o leite materno não possui níveis suficientes para as necessidades do bebê. Os autores sugerem verificar rotineiramente os níveis de zinco sérico em prematuros em amamentação exclusiva que não recebem suplementação regular de zinco oral Artigo 15 Sinclair L, Crisp J, Sinn J. Variability in incubator humidity practices in the management of preterm infants. Journal of Determinar a opinião e a prática dos enfermeiros em relação ao uso de umidificação em incubadoras na assistência prestada a prematuros internados Estudo descritivo Todas as UTIN usavam umidade suplementar no cuidado aos RNPT, sendo que 77% tinham protocolos sobre essa prática. A idade gestacional e o peso ao nascer A grande variação nas práticas de umidificação, especificamente intensidade e duração da umidificação ideais, reflete a escassez de paediatrics and child health, 2016. nas UTIN da Austrália e Nova Zelândia foram os critérios mais utilizados para o uso de umidade. Os benefícios percebidos pelos enfermeiros com relação à umidificação das incubadoras incluíram: melhoria na termorregulaçã o e integridade da pele, equilíbrio de fluídos e eletrólitos e redução da perda de água transepidérmica evidências e a necessidade de futuros estudos. Discussão Numa análise global, a causa mais frequente de convulsão neonatal sintomática foi a hemorragia, porque foram incluídos na análise os recém-nascidos prematuros. Se analisarmos estes dois grupos (recém-nascidos prematuros e de termo) separadamente, no grupo dos recém-nascidos de termo a encefalopatia hipóxico- isquémica foi a etiologia mais frequente, o que está de acordo com a literatura (TEKGUL, et.al, 2006) A ecografia transfontanelar foi efectuada em 86,8% dos nossos recém-nascidos. Na nossa opinião, a ecografia transfontanelar continua a ser o exame de neuroimagem de primeira linha na avaliação de doentes com convulsões neonatais, pela sua acessibilidade, facilidade de execução e baixo custo. A realização do electroencefalograma é mandatória na avaliação inicial de uma convulsão neonatal. Mesmo quando o diagnóstico clínico é inequívoco, o electroencefalograma pode fornecer informações adicionais na caracterização da crise, na identificação da etiologia e no estabelecimento do prognóstico (BARTHA, 2007). Este exame foi realizado no nosso estudo em 72,5% dos recém-nascidos. Apesar de o electroencefalograma convencional continuar a ser o gold standard, tem algumas limitações como o facto de não estar disponível 24h por dia, sete dias da semana. Nos últimos anos, o uso de nova tecnologia na monitorização cerebral, como o electroencefalograma de amplitude integrada tem vindo a colmatar esta falha. Estudos recentes sugerem a realização de vídeo-electroencefalograma contínuo ou electroencefalograma de amplitude integrada para distinção entre crises epilépticas e eventos não convulsivos (p.e. tremores, espasticidade, rigidez, movimentos distónicos), assim como na identificação de estados convulsivos sem tradução clínica. Os resultados destes exames têm implicações na investigação subsequente e atitudes terapêuticas, mas não existem ainda consensos quanto à sua necessidade de utilização generalizada. Na nossa perspectiva a monitorização cerebral contínua com electroencefalograma de amplitude integrada ou vídeo-electroencefalograma em recém-nascidos de risco neurológico, deve fazer parte do protocolo de procedimentos de uma unidade de cuidados intensivos neonatais. A investigação etiológica permanece essencial. As alterações encontradas na ecografia transfontanelar e no electroencefalograma estiveram, no nosso estudo, associadas ao prognóstico. Assim, parecem ser excelentes métodos a utilizar na avaliação inicial de qualquer recém- nascido com convulsões (BASSAN, 2008) No entanto, também nos parece essencial a realização de tomografia axial computadorizada para melhor definição de quadros hemorrágicos e a ressonância magnética cerebral nos recém-nascidos com convulsões confirmadas, uma vez que pode fornecer informações importantes como a identificação de disgenesia cerebral ou de malformações estruturais (SILVERSTEIN, 2010). A evolução clínica esteve relacionada com a etiologia e com a presença de anomalias na ecografia transfontanelar e no electroencefalograma, o que está de acordo com a literatura. Estudos anteriores relacionam alterações no electroencefalograma (único ou seriado) e/ou na ecografia transfontanelar com atraso no desenvolvimento psicomotor, morte, défices visuais ou auditivos e aumento do risco de epilepsia. Conclusão O padrão clínico das crises convulsivas neonatais é distinto de outras faixas etárias, pois reflete a imaturidade anatômica, química e fisiológica do cérebro em desenvolvimento. Isso implica a necessidade de uma classificação própria para esta faixa etária. Ao classificarmos as crises neonatais em relação à sua etiologia, observamos que a maioria delas são sintomáticas, 1/4 criptogênicas e poucas ficam na categoria idiopática. Esse achado é característico do período neonatal, pois fatores etiológicos são mais facilmente identificáveis nesta faixa etária. As crises neonatais geralmente ocorrem em cenáriomultifatorial, não sendo rara a associação entre um ou mais fatores potencialmente lesivos ao SNC (asfixia, hemorragia e hipoglicemia, por exemplo), sendo importante o pronto reconhecimento de cada um destes fatores e seu tratamento específico. O prognóstico das crises convulsivas neonatais parece estar mais relacionado ao fator etiológico do que a severidade, duração ou freqüência das crises convulsivas. As crises eletrencefalográficas sem manifestações clínicas devem ser tratadas com drogas antiepilépticas, sendo algumas vezes necessária a politerapia devido a sua refratariedade A investigação etiológica permanece essencial para a avaliação do prognóstico. As alterações encontradas na ecografia transfontanelar e no electroencefalograma estiveram, no nosso estudo, associadas ao prognóstico. Assim, parecem ser excelentes métodos a utilizar na avaliação inicial de qualquer recém-nascido com convulsões. É necessário realização de ensaios clínicos randomizados para avaliação da eficácia e efeitos laterais dos fármacos antiepilépticos nas crises convulsivas neonatais, assim como estudos prospectivos para avaliação do efeito das crises epilépticas e terapêuticas instituídas no desenvolvimento psicomotor a longo prazo, para assim ser possível efectuar orientações técnicas nesta área a nível mundial. Referências Bibliográficas Andreia LOPES, Ana VILAN, Maria Beatriz GUEDES, Hercília GUIMARÃES.Convulsões Neonatais numa Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais Terciária.2016. Bartha A, Shen J, Katz KH, Mischel RE, Yap KR, Ivacko JA, et al. Neonatal seizures: multicenter variability in current treatment pratices. Pediatr Neurol. 2007. Bassan H, Bental Y, Shany E, Berger I, Froom P, Levi L, et al. Neonatal seizures: Dilemas in the workup and management. Pediatr Neurol. 2008. Campiltol J. Convulsiones neonatales. Protocolos de Neurologia 2008. Clancy R. Summary proceedings from the neurology group on neonatal seizures. Pediatrics. 2006. Jaderson Costa da Costa, Magda Lahorgue Nunes, Renato Machado Fiori. Convulsões no período neonatal. 2015. Kwon J, Guillet R, Shankaran S, Laptook AR, McDonald SA, Ehrenkranz RA, et al. Clinical seizures in neonatal hypoxic-ischemic encephalopathy have no independent impact on neurodevelopmental outcome: secondary analyses of data from the neonatal research network hypothermia trial. J Child Neurol. 2011. Mariza Muniz de Menezes, Izabella Santos Nogueira de Andrade. Alterações funcionais da deglutição em bebês de risco para o desenvolvimento neuropsicomotor. 2016. Silverstein F, Jensen F, Inder T, Hellstrom-Westas L, Hirtz D, Ferriero D. Improving treatment of neonatal seizures: National Institute of Neurological Disorders and Stroke Workshop Report. J Pediatr. 2008. Soniza Vieira Alves-Leon , Ieda Lucia P. Bravo , Ana Maria Pontes , Gustavo Medeiros de A. Figueira , Isabella D’Andrea Meira , Luiz Claudio S. Thuler. Crises epilépticas no período neonatal: análise descritiva de uma população hospitalar. 2016. Tekgul H, Gauvreau K, Soul J, Murphy L, Robertson R ,et al. The current etiologic profile and neuroldevelepment outcome of seizures in term newborn infants. Pediatrics. 2006.
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