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1u n i d a d eu n i d a d e Objetivos de aprendizagem Aprender o que é qualidade. Ver como a gestão da qualidade evoluiu com o passar do tempo. Conhecer as ideias dos principais “gurus” da qualidade. Entender como a gestão da qualidade pode ser aplicada em diferen‑ tes setores. Aprender a importância do planejamento estratégico da qualidade. Conhecer métodos para avaliar se o programa de qualidade está dando retorno. Entender por que a sustentabilidade é importante para a sobrevi‑ vência de uma empresa. Temas 1 – Fundamentos da qualidade A qualidade faz parte da vida de todos nós. Porém, muita gente ga‑ gueja na hora de explicar o que é gestão da qualidade nas empresas. Aqui, você vai aprender o que é qualidade no mundo organizacional e como esse conceito evoluiu com o passar dos anos. 2 – “Gurus” da qualidade No século XX, diversos autores e pesquisadores ficaram famosos no meio empresarial por suas ideias sobre gestão da qualidade. Neste tema, você vai conhecer os principais ensinamentos desses “gurus” da qualidade. 3 – Qualidade por setores Prepare‑se para aprender como a qualidade pode ser colocada em prática em diferentes setores da economia: agricultura, indústria, construção civil e prestação de serviços. Qualidade nas organizações 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 1 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS Gestão da qualidade2 4 – Estratégia, investimento em qualidade e sustentabilidade Um programa de gestão da qualidade que se preze não é im‑ plementado de qualquer jeito, do dia para a noite. É preciso planejar, investir e, por fim, avaliar se o programa está dando retorno. Mas, para que esse retorno seja efetivo e dure muito tempo, é necessário que a organização mantenha seus proces‑ sos de forma sustentável e encare a qualidade e a sustentabili‑ dade como parte de sua cultura. Neste último tema, vamos ver como esses processos funcionam e como eles contribuem para que uma empresa se torne sustentável. Introdução Vamos começar esta unidade falando um pouco sobre futebol. Quem você acha que foi o melhor jogador de todos os tempos? Os argenti‑ nos não têm dúvida de que foi o craque Maradona. Mas, para a maio‑ ria dos brasileiros, a resposta certa é Pelé. No final dos anos 1950 e início dos anos 1960, a carreira de Pelé estava no auge. Com a camisa do Santos, ele ganhou o campeonato mundial. Aliás, essa foi apenas uma de suas muitas vitórias. Ninguém era como ele: das quatro Copas do Mundo de que partici‑ pou, ganhou três. Mas espera aí... Qual é a relação entre essa discussão futebolística e a qualidade? Calma, que a gente chega lá. Aproveitando o sucesso do craque Pelé, a Shell resolveu fazer uma propaganda que ficou bastante famosa na época. A ideia era a se‑ guinte: nos cartazes, Pelé aparecia marcando um gol de cabeça. Logo abaixo da imagem, havia a mensagem da Shell em letras garrafais: “É uma garantia – excede”. O que será que a Shell quis dizer com essa propaganda? Pense comigo. A Shell vende óleo e gasolina, assim como a Esso e a Texaco, por exemplo. Para muitos consumidores da época, não fazia a menor diferença abastecer o carro em um posto da Shell ou em qualquer outro. Era tudo gasolina mesmo, não é? Pois era exatamente esse tipo de pensamento que a Shell queria mudar. E o que o Pelé tinha a ver com isso? Ora, assim como o Pelé, havia milha‑ res de pessoas pelo mundo que jogavam futebol. Porém, ninguém discutia que Pelé era o melhor de todos. Em outras palavras, a quali‑ dade do futebol de Pelé excedia a dos outros – ou seja, ele era 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 2 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS Qualidade nas organizações 3 muito melhor. O objetivo da Shell era mostrar que a qualidade de seus produtos também era superior à dos concorrentes. Com o passar dos anos, outras empresas também tentaram ficar co‑ nhecidas pela qualidade de seus produtos e serviços. Alguns anos atrás, foi a vez da Brastemp mostrar para os consumidores que seus eletrodomésticos não são como qualquer outro. A propaganda pe‑ gou mesmo, e hoje em dia é comum ouvir pessoas falando “mas não é nenhuma Brastemp” na hora de criticar a falta de qualidade de algu‑ ma coisa. Até aqui, falamos de propagandas – iniciativas que têm o objetivo de convencer o consumidor. De agora em diante, vamos discutir o que é qualidade na prática. Durante a leitura, você vai aprender o que uma empresa precisa para melhorar, de verdade, a qualidade de seus pro‑ dutos e serviços. Vamos lá? Fundamentos da qualidade Tenho certeza de que qualidade e gestão são termos que você conhece muito bem. Para começar, pensemos em qualidade. Se alguém lhe perguntar se a comida de um restaurante tem qualida- de, você saberá muito bem o que isso quer dizer, não é? Todos nós falamos de qualidade todo dia. Seja quando reclamamos dos ser- viços de transporte em nossa cidade, seja quando nos queixamos da demora no atendimento do banco: estamos sempre conversan- do sobre a qualidade do que está a nosso redor. A ideia de gestão também não deve soar como novidade para você. No final do mês, muita gente fica sem dinheiro, sem um tostão no bolso. Às vezes, isso acontece porque a pessoa não sabe como fazer a gestão de seu dinheiro: gasta demais com a compra de itens desnecessários e, no fim, acaba endividada. Mas o que exatamente significa gestão? Bem, podemos chamar de gestão a maneira como escolhemos planejar e organizar nossas atividades. A palavra gestão se aplica ao modo como cuidamos de nossos bens, de nosso dinheiro, de nosso tempo, de nossa rotina, mas também se refere a como as empresas gerenciam seus negócios. E o que acontece quando juntamos gestão com qualidade? Ou seja: o que quer dizer gestão da qualidade? Como o próprio nome indica, gestão da qualidade tem a ver com as escolhas que 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 3 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS 4 Gestão da qualidade as empresas fazem para cuidar da qualidade de seus produtos e serviços. Atualmente, a maioria das organizações fala em gestão da qualidade; porém, é um engano pensar que foi sempre assim. Há algumas décadas, antes da Internet e da globalização, esse tipo de gestão era um bicho de sete cabeças para muitas empre- sas, principalmente aqui no Brasil. Aliás, nessa época, as empresas brasileiras nem tinham por que se preocupar em melhorar a qualidade dos produtos e servi- ços: como a concorrência ainda era pequena, era mais cômodo para a empresa deixar tudo como estava. Vejamos o caso da tele- fonia. Hoje em dia, se a concessionária “pisa na bola”, você sim- plesmente cancela o contrato e procura outra empresa, certo? Pois então. Cerca de trinta anos atrás, você não teria alternativa. Se seu telefone fixo não funcionasse, você não tinha para onde correr – era sentar e chorar. Na indústria automobilística, as coisas não eram muito dife- rentes. Até a década de 1980, no Brasil, tínhamos apenas carros das montadoras Volkswagen, Fiat, Ford e GM, as únicas com fá- bricas em nosso país. Bem diferente dos dias de hoje, quando ve- mos um monte de marcas de automóveis desfilando nas ruas. Foi nos anos 1990 que a situação começou a mudar. De repen- te, o Brasil passou a autorizar a importação de mercadorias do mundo todo. Ou seja, abrimos as portas do mercado brasileiro para produtos e serviços estrangeiros. Você acha que as empresas brasileiras gostaram dessa ideia? É claro que não. Afinal, do dia para a noite elas tiveram que enfrentar uma concorrência muitomaior que a de costume. E os consumidores brasileiros? Esses, sim, aprovaram o aumento das importações! Não faltavam bons motivos para gostar da mudança: 1. os consumidores passaram a contar com um número muito maior de opções: quando não gostavam de um produto ou ser- viço, era fácil encontrar outro para substituí-lo; 2. os importados eram mais baratos – e às vezes melhores – que os nacionais. Hoje, boa parte dos produtos que consumimos não é fabricada em nosso país. Além disso, podemos comprar pela Internet em lojas de praticamente qualquer lugar do mundo. Mas como é que ficaram as empresas brasileiras no meio de todas essas mudanças? Muitas não aguentaram o aumento da con- corrência e tiveram que fechar as portas. Outras foram obrigadas 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 4 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS Qualidade nas organizações 5 a repensar seu jeito de fazer negócios. Com tantas opções à dispo- sição, o consumidor ficou mais exigente, levando em conta a qua- lidade e o preço dos produtos na hora de fazer suas compras. Por isso, só sobreviveram as empresas brasileiras que conseguiram produzir mais e melhor – isto é, com qualidade e, ao mesmo tem- po, com custos mais baixos. Conceitos básicos da qualidade Já dissemos que a palavra qualidade faz parte do dia a dia de todo mundo. Ao comprarmos uma roupa, por exemplo, conferi- mos se o tecido é mesmo firme, se suportará uso e lavagens sem deformar, nem perder a cor, se tem bom acabamento etc. Ao com- prarmos um eletrodoméstico, queremos saber se ele tem qualida- de, ou seja, se é prático e fácil de usar, se é durável, se gasta pouca energia, se é seguro, e assim por diante. Quando vamos ao cinema, esperamos que o filme seja de qualidade, quer dizer, que a fotogra- fia seja bonita, a trilha sonora emocionante, os atores convincen- tes, a história interessante, e por aí vai. Todos nós sabemos o que é qualidade e a associamos àquilo que é bom. A qualidade da qual falamos neste livro não é muito diferente disso. Aqui, estamos nos referindo à qualidade total, uma maneira de administrar as empresas surgida no Japão, logo depois da Se- gunda Guerra Mundial. Vamos lembrar o que estava acontecendo por lá nessa época? Como você sabe, o Japão sofreu o ataque de duas bombas atômi- cas durante a guerra e ficou completamente destruído. Quando o conflito terminou, as empresas japonesas tinham um desafio e tan- to pela frente: era necessário não apenas crescer, mas também ter um algo a mais para sobreviver em um mundo onde a concorrên- cia era cada vez maior. Por isso, o Japão não pensou duas vezes antes de colocar em prática a gestão da qualidade total. O resulta- do não poderia ser melhor: até hoje, os produtos japoneses são conhecidos no mundo todo por sua qualidade. Mas que mágica os japoneses fizeram? Como o Japão conse- guiu se recuperar tão rápido e enriquecer novamente? Você já sabe que o segredo dos japoneses é a gestão da qualidade total. Porém, ainda falta conhecer o que é preciso fazer para colocar esse tipo de gestão em prática. Então veja na Figura 1.1 os ingredientes bási- cos da qualidade. Links Para ficar por dentro das novidades no ramo da qualidade, vale a pena ler algumas revistas da área. Visite estes sites para conhecê‑las melhor: <www.banasqualidade. com.br>, <www. qualidadeonline.com> e <www.qualitymag.com>. 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 5 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS 6 Gestão da qualidade À primeira vista, pode parecer maluquice querer, ao mesmo tempo, reduzir custos, aumentar a produtividade e, ainda por cima, satisfazer o cliente. Porém, é exatamente isso que a gestão da qua- lidade propõe – fazer melhor, com menos custo, e entregar ao cliente produtos que atendam ou até superem suas expectativas. Você acha que é impossível? Não se preocupe: ao longo deste li- vro, vamos ver que qualquer organização pode colocar isso em prática. Para começar, a gestão da empresa deve atender três exi- gências principais. A primeira exigência é um compromisso com a ética. Mas o que uma empresa precisa fazer para honrar esse compromisso? O ponto de partida é respeitar princípios morais, como honestidade, integridade e bondade. Por exemplo, quando uma indústria polui o meio ambiente, não garante a segurança dos operários ou deixa de cumprir o combinado com um fornecedor, ela está dando as costas para a ética. Essa preocupação com princípios não vale ape- nas para os chefes, mas para todos os funcionários – todos mesmo, desde o operário do chão de fábrica até o dono da empresa. Os valores éticos devem guiar o comportamento de todos. Nos últimos 20 anos, o consumidor aprendeu a ficar de olho nas organizações. Hoje em dia, muitas pessoas levam em conta a relação Figura 1.1 Conceito básico de qualidade. Aumento de produtividade Conceito básico de qualidade Satisfação do cliente Redução de custos 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 6 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS Qualidade nas organizações 7 da empresa com o meio ambiente e a sociedade na hora de fazer suas compras. A exploração do trabalho infantil e a depredação da natu- reza são práticas que “pegam mal” para a imagem de qualquer orga- nização. A Nike, por exemplo, perdeu inúmeras vendas quando veio à tona que suas fábricas na Ásia empregavam crianças. Para evitar problemas assim, a empresa deve andar na linha. A segunda exigência da gestão da qualidade é não gerar custos, mas reduzi-los. Ora, mas como é que se cortam despesas sem abrir mão da qualidade? Não é preciso fazer mágica: basta tomar algu- mas medidas importantes. São elas: Evitar o desperdício de materiais e mão de obra – quando a empresa se torna eficiente, ela aprende a produzir mais com menos trabalho e menos materiais. Reduzir o tempo de produção – é preciso encontrar o jeito mais rápido de produzir. Gerar menos estresse e mais satisfação ao trabalhador – quando a qualidade é colocada em prática, o número de erros cai bastante. Isso é bom para todo mundo, inclusive para os funcionários, que não precisam gastar tempo com a correção de erros e outros “remendos”. A terceira exigência é o planejamento da qualidade. Você deve se lembrar do velho ditado “prevenir é melhor que remediar”, não é? Pois bem. A gestão da qualidade tem tudo a ver com esse dita- do; afinal, seu objetivo é prevenir os problemas em vez de reme- diá-los. Daí a importância de planejar o produto com todo o cuidado do mundo para evitar dor de cabeça depois. Exemplo A Toyota teve que convocar todos os clientes que compraram carros mo‑ delo Corolla fabricados a partir de 2008 por causa de uma falha na fixação do tapete – ele podia escorregar e se prender no pedal do acelerador, provocando um acidente. Só no Brasil, esse recall atingiu mais de 100 mil clientes. Imagine quanto dinheiro foi gasto para divulgar a convocação, sem falar nas despesas com os consertos e com as indenizações pagas pelos acidentes que já tinham acontecido. Todos esses gastos poderiam ter sido evitados se o produto tivesse saído da fábrica sem defeito. Viu como é importante planejar? 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 7 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS 8 Gestão da qualidade Na Figura 1.2, você encontra as três exigências da qualidade que acabamos de mencionar. Na verdade, dá para resumir as duas últimas em uma palavra só − prevenção. Falar de qualidade total é basica- mente falar da prevenção de erros no desenvolvimento, na produção, na venda e no atendimento ao consumidor de produtos e serviços. Saiba mais David Garvin sistematizou os conceitos de qualidade em cinco abordagens: Transcendental:trata da qualidade como sinônimo de excelência inata. Centrada no produto: a qualidade está na presença de características exi‑ gidas pelo consumidor. Centrada no valor: a qualidade é percebida no preço do produto. Centrada na fabricação: a qualidade está em fazer produtos que aten‑ dam especificações. Centrada no usuário: a qualidade de um produto é condicionada ao grau em que ele atende as necessidades e conveniências do consumidor. Evolução histórica da gestão da qualidade A preocupação com a qualidade não é recente. Vamos viajar no tempo e visualizar a sociedade séculos atrás. A colheita que colocava o pão na mesa dos trabalhadores dependia, em parte, da Figura 1.2 As três exigências da gestão da qualidade. Implica ética. Exigências da qualidade Começa antes da produção. Não gera custos. 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 8 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS Qualidade nas organizações 9 qualidade dos grãos semeados. Os objetos do dia a dia eram fei- tos pelas mãos de artesãos. As pessoas pagavam mais ou menos por essas peças de acordo com sua qualidade: quanto mais habi- lidoso o artesão, maior seu pagamento. E o que acontecia com os objetos ou os alimentos que não fossem bons o suficiente para o consumo? Eram jogados fora. De lá para cá, nossa maneira de avaliar a qualidade dos produ- tos e serviços mudou bastante. Para melhor compreender essa mu- dança, a evolução histórica da gestão da qualidade pode ser dividida em quatro eras: 1) a era das inspeções de produtos; 2) a era do controle estatístico de qualidade; 3) a era da garantia de qualidade; e 4) a era da gestão da qualidade total. Tudo bem até aqui? Então, vamos em frente! As inspeções de produtos No início desta unidade, falamos que “prevenir é melhor que remediar”. Essa lição pode parecer óbvia, mas o homem só a aprendeu recentemente. Durante muito tempo, as empresas deixa- vam os problemas aparecerem para depois corrigi-los. A gestão da qualidade era feita por meio da inspeção de produtos. Essa inspe- ção funcionava como uma triagem: os produtos perfeitos eram separados dos defeituosos. Depois que um produto apresentava um defeito, não havia nada o que fazer com ele a não ser descar- tá-lo. Na melhor das hipóteses, ele era consertado – o que consu- mia tempo e dinheiro das empresas. Mas quais são as vantagens e as desvantagens da inspeção de produtos? Por um lado, a inspeção evita que o produto defeituoso chegue às mãos do consumidor. Porém, ela não identifica o erro que provocou o defeito. Por isso, dizemos que a inspeção não im- pede que outros produtos defeituosos apareçam; ou seja, não evita o desperdício. Quem produz mais em menos tempo: o homem ou a máquina? Não tem comparação, não é mesmo? A máquina já provou que supera – e muito – a capacidade de produzir do homem. Por isso, era fácil fazer inspeções na época em que os produtos eram feitos à mão. Como a produção diária era pequena, o inspetor não tinha muito trabalho. No século XVIII, essa situação mudou: a Revolução Industrial trouxe as máquinas a vapor, que aumentaram muito a capacidade de 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 9 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS 10 Gestão da qualidade produção. As oficinas – onde poucos artesãos dividiam o trabalho – foram substituídas por fábricas, nas quais vários operários produziam uma quantidade enorme de mercadorias. Surgiu então um primeiro desafio: como garantir a qualidade de um número tão grande de itens? Para cuidar disso, mais funcionários foram encarregados de exami- nar os produtos. As peças com defeito eram consertadas ou jogadas fora. O importante é que não chegassem até o cliente. Repare, aqui, que a preocupação continuava sendo apenas eliminar os produtos defeituosos, e não corrigir o erro na produção. Os inspetores usavam gabaritos e modelos-padrão para deter- minar se uma peça estava perfeita ou não. Em algumas fábricas, todas as peças eram examinadas, uma a uma. Em outras, o inspe- tor escolhia uma amostra e, caso encontrasse algum defeito nela, examinava o lote inteiro. O controle estatístico de qualidade Com o passar do tempo, novas tecnologias permitiram a cria- ção de máquinas ainda mais eficientes, que aumentaram muito a produção. Pouco a pouco, os inspetores perceberam que não con- seguiriam dar conta do recado sozinhos. Foi aí que surgiu o con‑ trole estatístico de qualidade (CEQ), introduzido nas empresas pelo físico norte‑americano Walter A. Shewart, no final da década de 1930. Vamos entender como esse método funciona? Suponhamos, por exemplo, que você seja dono de uma empre- sa que produz 5 mil peças por dia. Para evitar que produtos defei- tuosos cheguem às prateleiras das lojas, você cria uma equipe para cuidar do controle da qualidade. Em vez de examinar todas elas, esses funcionários escolhem apenas duzentas para inspeção. No fim das contas, eles descobrem que 20 peças tinham defeitos. Que conclusão você pode tirar? Você chega a uma estatística: 10% de sua produção tem problemas. Observe que até agora não falamos em prevenir problemas. O objetivo ainda não é encontrar as causas do defeito, mas apenas impedir que produtos com falhas cheguem até o cliente. Isso só começou a mudar na década de 1940, quando Shewart criou o gráfico de controle de processo, uma ferramenta estatística que serve para encontrar erros no processo produtivo. Pela primeira vez, as empresas substituíram a preocupação com a qualidade do produto pela preocupação com a qualidade da produção. Depois 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 10 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS Qualidade nas organizações 11 do fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o controle de proces- so já era bastante utilizado e substituía, pouco a pouco, a inspeção de produtos. Outra novidade que surgiu com a introdução dos métodos es- tatísticos foi a criação de departamentos especializados em quali- dade. Desse modo, o controle de qualidade ficou restrito a um único setor da empresa, isolando-se dos demais agentes do pro- cesso produtivo. A garantia de qualidade Durante a Segunda Guerra Mundial (1939‑1945), os Estados Unidos decidiram concentrar todas as suas forças na produção de armas. Por isso, tiveram que deixar em segundo plano a produção das mercadorias que o cidadão comum consumia no dia a dia. Trocando em miúdos, foi preciso “descobrir os pés para cobrir a cabeça”: enquanto a indústria de armas crescia, a indústria de bens de consumo enfraquecia. Quando a guerra acabou, os Estados Unidos encontraram um problema em casa: as fábricas que produ- ziam bens de consumo – como roupas, alimentos e eletrodomésti- cos – usavam máquinas e métodos que já tinham ficado para trás havia muito tempo. Para atender toda a população, essas indús- trias precisavam produzir uma quantidade maior de produtos e abrir mão da qualidade. O Japão, pelo contrário, seguia firme no caminho da qualidade. Suas fábricas já tinham aprendido que era “mais jogo” prevenir os problemas do que corrigi-los. Foi nessa época que surgiu o con- ceito de qualidade total. Ao mesmo tempo, a qualidade deixava de ser obrigação de apenas um departamento: cada vez mais, as em- presas criavam sistemas de qualidade, um esquema de trabalho de “formiguinha”, em que todos os funcionários dividem a tarefa de cuidar da qualidade. Agora pense comigo: o que sai mais caro para uma empresa – ter ou não ter qualidade? Muita gente se engana ao acreditar que é mais barato produzir sem qualidade. Durante muito tempo, os do- nos das empresas também pensavam assim. Isso só mudou quando as organizações colocaram na ponta do lápis os custos de consertar ou jogar fora as peças com defeito. No fim das contas, saía mais barato prevenir os erros do que remediá-los. Em outras palavras,a qualidade faz com que as empresas gastem menos dinheiro. 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 11 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS 12 Gestão da qualidade As empresas japonesas recebiam essas ideias como o solo res- secado recebe água – os princípios da gestão da qualidade eram absorvidos na mesma hora e colocados em prática nas indústrias. Com toda essa dedicação, o Japão conseguiu se recuperar rapida- mente da Segunda Guerra Mundial, fabricando produtos – como câmeras, carros e computadores – que ficaram conhecidos no mundo inteiro por sua qualidade. A gestão da qualidade total Nos anos 1970, os Estados Unidos e outros países industriali- zados ficaram assustados com o sucesso das mercadorias japone- sas e decidiram que estava na hora de fazer alguma coisa. Mas o que fazer para recuperar o terreno perdido? Coloque‑se no lugar do dono de uma empresa norte‑americana. Nos últimos anos, você perdeu inúmeras vendas por causa da concorrência com o Japão. O que você faria para contra‑atacar? Ora, o ponto forte dos japo- neses é a qualidade. Para recuperar seus clientes de volta, é preciso mostrar que suas mercadorias têm mais qualidade que as japone- sas, certo? Foi assim que teve início o período conhecido como era da gestão da qualidade total – uma época marcada pela queda de braço entre Estados Unidos e Japão para mostrar quem produ- zia com mais qualidade. Vamos parar um pouco e recapitular o que já estudamos. Até agora falamos em inspeção de produtos, controle estatístico de qualidade e garantia de qualidade. O objetivo da inspeção e do controle estatístico é impedir que mercadorias com defeito che- guem até o cliente. Ou seja, o produto é o foco desse tipo de ges- tão. Já a garantia de qualidade serve para corrigir os erros que provocam o defeito. Por isso, dizemos que o foco da garantia de qualidade é a produção. E a gestão da qualidade total? O que ela tem de tão especial? É claro que a gestão da qualidade total também se preocupa com a qua- lidade da produção e dos produtos. A diferença é que seu foco princi- pal é o cliente. Aqui, a ideia é pensar todas as atividades da empresa – desde a escolha da matéria-prima até o atendimento pós-venda – com base nos desejos e nas necessidades do cliente. Na gestão da qua- lidade total, não dá para “tapear” melhorando apenas uma ou outra atividade da empresa. Como o próprio nome indica, a qualidade deve ser total, marcando presença em todos os departamentos da organização. 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 12 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS Qualidade nas organizações 13 Não adianta, por exemplo, fabricar produtos de qualidade e colocar nas lojas vendedores que não sabem atender bem o cliente. Também não é suficiente ter a melhor equipe de vendas do mundo se o produto é ruim. A gestão da qualidade só é total quando todas as atividades da empresa funcionam bem. Quer um exemplo? Suponhamos que você vá a uma loja de eletrodomésticos para comprar um computador novo. O que você leva em conta na hora de escolher uma marca? Além de conferir o preço, você provavelmente pergunta ao vendedor se o computador da marca “X” dura bastante, dá defeitos com frequência e é rápi- do. Além disso, você procura saber de quanto tempo é a garantia. Agora imagine que você descubra que a assistência técnica da mar- ca “X” costuma deixar os clientes na mão. E aí? Você ainda assim compraria o computador da marca “X”? Talvez não. Provavel- mente, você compraria o computador da marca “Y”, que, além de ter boa qualidade, vem com garantia de dois anos e um serviço de assistência técnica muito eficiente. Afinal, muitos clientes não querem apenas um produto bom: eles querem também ser bem atendidos se precisarem de alguma ajuda da empresa. Como você pode ver, cada detalhe tem que ser planejado com cuidado para responder – e até superar – às expectativas do cliente. Ganha a preferência do consumidor o produto que tem qualidade total. Como o Japão já estava bem adiantado, ele continuou em pri- meiro lugar no ranking da qualidade, ficando sempre à frente dos outros países. Era uma questão de experiência. Os operários japo- neses já estavam “carecas” de saber o que era preciso para aumen- tar a qualidade das atividades da empresa. Por isso, toda vez que surgia uma nova ideia, eles tinham mais facilidade do que os ou- tros para aplicá-la na prática. Durante as décadas de 1980 e 1990, a gestão da qualidade virou parte do dia a dia de muitas empresas. Porém, cada organização fazia esse tipo de gestão à sua maneira. Surgia, assim, um proble- ma: o que era de boa qualidade para uma empresa poderia ser con- siderado ruim por outra. Afinal, a qualidade pode ter significados diferentes para as pessoas – algumas colocam a aparência do pro- duto em primeiro lugar; outras não dão a mínima para a aparência, mas fazem questão de fabricar mercadorias resistentes, que não quebram a toda hora. O que não faltam são opiniões sobre o que é qualidade. Para que essa história não virasse bagunça, a ISO (In‑ ternational Organization for Standardization, ou Organização 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 13 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS 14 Gestão da qualidade Internacional para Padronização, em português) criou as normas ISO 9000 na década de 1980. O objetivo desse conjunto de regras é orientar a gestão da qualidade nas empresas. Com base em tudo que acabamos de discutir, podemos notar que, do início do século XX para cá, o conceito de qualidade mu- dou bastante, conforme mostra a Figura 1.3. “Gurus” da qualidade Os Estados Unidos e o Japão mergulharam de cabeça no uni- verso da qualidade: durante todo o século XX, não paravam de surgir novas teorias sobre como a qualidade deveria ser aplicada nas empresas. Todas essas ideias eram rapidamente colocadas em prática nas organizações, que buscavam ansiosamente maneiras de melhorar seus produtos e serviços. Com o passar do tempo, alguns autores e pesquisadores ficaram famosos no meio empresa- rial. Aqui, você vai conhecer um pouco da história de alguns de- les. Vamos falar de W. Edwards Deming, Joseph M. Juran, Philip Fique atento Falaremos mais detalhadamente das normas ISO 9000 na Unidade 4. Figura 1.3 Evolução do conceito de qualidade no âmbito organizacional. • Conformidade do produto com um padrão. • Inspeção do produto acabado, sem análise do processo. Inspeção Controle estatístico amostragem. responsáveis pela qualidade. estatísticas para detecção de variações no processo produtivo. Garantia da qualidade de defeitos. todos os setores da empresa. de qualidade. qualidade total. Gestão da qualidade total integral da empresa. expectativas do cliente. normas ISO.• Inspeção por • Setores • Ferramentas • Foco na prevenção • Envolvimento de • Criação de sistemas • Conceito de • Foco na gestão. • Envolvimento • Superação das • Surgimento das 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 14 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS Qualidade nas organizações 15 Crosby, Armand V. Feingenbaum, Kaoru Ishikawa e Genichi Ta- guchi − os chamados “gurus” da qualidade. W. Edwards Deming W. Edwards Deming nasceu em 1900, nos Estados Unidos. Foi o primeiro dos estudiosos de qualidade a ir ao Japão para treinar os empresários de lá no uso da estatística para controlar a qualida- de. Suas ideias foram muito aceitas pelos japoneses. Deming cri- ticava bastante seus próprios conterrâneos – ou seja, os empresários norte-americanos. De acordo com ele, as organizações dos Esta- dos Unidos não tinham um compromisso real com a qualidade de seus produtos. Ele acusava essas empresas de oferecerem apenas o nível de qualidade necessário paramanter as vendas. “Para que melhorar se os negócios vão bem do jeito que está?” − segundo Deming, era assim que os norte-americanos pensavam. Lembra que dissemos que nem todo mundo vê a qualidade da mesma forma? Então, para evitar as diferenças na avaliação da qualidade, Deming criou um padrão para medi-la. De acordo com ele, a avaliação deve considerar três aspectos: 1) o produto; 2) o clien- te (com suas expectativas e o uso que faz do produto); e 3) o aten- dimento a esse cliente (instruções de uso, assistência técnica etc.). A Figura 1.4 mostra esses três aspectos. Figura 1.4 Três aspectos da qualidade, segundo Deming. Produto Qualidade Atendimento ao cliente (instruções de uso, assistência técnica) Cliente (expectativas e uso que faz do produto) 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 15 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS 16 Gestão da qualidade Uma das contribuições mais famosas de Deming para os es- tudos sobre a qualidade foram os 14 pontos do método Deming para a melhoria. Esses 14 pontos formam uma lista de dicas que serviram para treinar funcionários nas empresas japonesas e, mais tarde, para transformar a indústria norte-americana. Vamos conhecê‑los? 1. Manter objetivos permanentes para melhorar os produtos e serviços, ou seja, pensar em metas que a empresa deve cumprir a longo prazo. Isso inclui criar novos produtos e métodos de produção para o futuro, sem falar no treinamento dos funcio- nários e na melhoria constante dos projetos. Tudo isso deve ser feito com as expectativas dos clientes em mente. 2. Adotar a nova filosofia, quer dizer, a filosofia da qualidade, pois, se não fizer isso, a empresa fica para trás. 3. Não depender apenas da inspeção em massa, pois ela ocorre tar- de demais. A inspeção é boa para identificar os defeitos, mas não corrige os problemas. Por isso, ela não impede o desperdício, afinal, os produtos defeituosos continuam indo para o lixo. Além disso, os funcionários são obrigados a repetir as tarefas, e a em- presa acaba gastando mais com a produção. 4. Não aprovar orçamentos com base apenas no preço, já que o barato pode sair caro. Um fornecedor deve ser escolhido pela qualidade do produto que fornece. 5. Melhorar constantemente o sistema de produção e de serviço. A qualidade começa no início, quando a gestão ainda está pla- nejando os produtos e os serviços. Depois, a empresa deve continuar melhorando a qualidade do processo de produção e do próprio produto. Além de conquistar novos clientes, esse aumento de qualidade ajuda a diminuir as despesas. 6. Oferecer treinamento para que os funcionários e a administra- ção, em especial, conheçam toda a empresa. 7. Adotar e instituir a liderança. Aqui, é importante reforçar que um bom líder não serve apenas para fiscalizar os empregados e dizer o que cada um deve fazer; também é função do líder ajudar pessoas e máquinas a cumprir melhor suas tarefas. 8. Afastar o medo, pois ele impede que as pessoas coloquem em ação todo seu potencial e trabalhem com qualidade. 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 16 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS Qualidade nas organizações 17 9. Incentivar os diferentes setores a trabalhar juntos. A ideia é fazer com que os funcionários sintam na pele quais são os pro- blemas e os desafios que os outros departamentos enfrentam. 10. Eliminar slogans, advertências e metas de produtividade. Muitas empresas apostam em slogans, advertências e metas de produtividade para motivar seus funcionários a trabalhar com mais dedicação. Porém, frequentemente o tiro sai pela culatra: muitos trabalhadores ficam frustrados quando não conseguem atingir as metas cobradas pela empresa. Além disso, essas exi- gências dão a impressão de que os diretores não sabem dos problemas que os funcionários enfrentam no dia a dia. 11. a) Eliminar as cotas numéricas por mão de obra. Muitas em- presas acham que seus funcionários produzem mais quando têm uma cota a cumprir. Em uma fábrica, por exemplo, os fun- cionários podem ser obrigados a produzir uma determinada quantidade de peças por dia. O dono de uma loja, por sua vez, pode cobrar cotas de venda: só ganha bônus de R$ 500 no sa- lário o funcionário que vende mais de R$ 10 mil por mês. Para Deming, não faz o menor sentido criar cotas por dois motivos: 1) elas não respeitam o ritmo de produção de cada um; e 2) elas fazem com que os funcionários fiquem acomodados depois que a cota é alcançada. b) Eliminar objetivos numéricos para a administração. Os res- ponsáveis por administrar a empresa também não devem ter objetivos numéricos, como aumentar as vendas em tantos por cento, ou cadastrar uma determinada quantidade de clientes no- vos. Em geral, a maioria dos gerentes não coloca fé nesse tipo de cota. Sejamos práticos: se a empresa como um todo melho- rar, os resultados de cada equipe também ficarão melhores. Não adianta tentar “forçar a barra” com objetivos numéricos. 12. Remover as barreiras que impedem que os trabalhadores sin‑ tam orgulho de seu trabalho. Todo mundo gosta de elogio, não é mesmo? Quem não gosta de receber “parabéns” quando faz um bom trabalho? Por isso, as empresas devem permitir que todos os funcionários saibam o que deu certo, o que deu errado e qual a sua contribuição para isso. As pessoas não têm orgulho de realizar um trabalho que parece ter pouca importância ou não fazer sentido. Fique atento Slogans são frases fáceis de memorizar que podem ser usadas com diferentes objetivos. No marketing, por exemplo, o slogan serve para fixar uma marca na cabeça do consumidor. Por exemplo: “Marabraz, preço melhor ninguém faz” ou “Hellmann’s, a verdadeira maionese”. Nas empresas, o slogan é utilizado para expressar a meta da empresa e motivar os funcionários a atingi‑la. 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 17 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS 18 Gestão da qualidade 13. Estimular a formação e o aperfeiçoamento dos funcionários com programas de educação. Ninguém gosta de sentir que pa- rou no tempo. Muito pelo contrário: todo mundo sente prazer quando “anda para frente” e se aprimora na profissão. Aliás, isso é bom para a própria empresa, que passa a contar com funcionários mais competentes. 14. Concretizar a transformação. A administração da empresa deve colocar em prática todos os treze princípios que estuda- mos até aqui. Joseph M. Juran Joseph M. Juran nasceu na Romênia, em 1904, e foi para os Estados Unidos aos 8 anos. Era formado em Engenharia e Direito e foi professor na Universidade de Nova York. Em 1979, fundou o Instituto Juran, uma das maiores instituições do mundo voltadas para o estudo da qualidade. Assim como Deming, Juran foi rece- bido de braços abertos no Japão, onde aplicou nas empresas suas teorias sobre qualidade. Mas o que era qualidade para Juran? Sua definição não era simples. Se resumirmos bastante suas ideias, podemos dividi-las em três eixos centrais: A qualidade relacionada ao desempenho do produto – ou seja, a qualidade que deixa o cliente satisfeito com o produto que comprou. De acordo com Juran (1992), um produto deve ter qualidade igual ou maior que a de seus concorrentes. A qualidade relacionada à ausência de defeitos – A presença de defeitos deixa os clientes insatisfeitos com os produtos. Essa insatisfação pode prejudicar as futuras vendas da empresa. Ausência de defeitos não é garantia de vendas – Para Juran, a empresa pode lançar um produto perfeito e, mesmo assim, não conseguir vendê‑lo. Isso ocorre quando a concorrência tem um produto com qualidade maior ainda. De acordo com Juran, a qualidade pode ser aplicada a qualquer tipo de produto ou serviço, a qualquer tipo de empresa e ao dia a dia de qualquer trabalhador, seja ele o diretorde uma multinacio- nal ou um simples faxineiro. Então, o que é preciso fazer para colocar em prática a qualidade? Por onde começar? É aí que entra a trilogia Juran para a qualidade − três processos fundamentais para quem quer cuidar da qualidade em uma organização. Essa trilogia está resumida na Figura 1.5. Saiba mais Além dos 14 pontos, Deming criou as 7 doenças mortais da qualidade e os 12 grandes obstáculos a serem enfrentados. Entre as doenças estão, por exemplo, os exageros na busca de obter lucros rapidamente, as avaliações de desempenho e a administração que só leva em conta os resultados financeiros. Entre os obstáculos ele cita: acreditar que dá para melhorar a qualidade e a produtividade do dia para a noite, ignorar que a qualidade é um aprendizado que não tem fim e apostar na ideia de zero defeito, que você vai conhecer daqui a pouco. 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 18 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS Qualidade nas organizações 19 Philip Crosby Philip Crosby nasceu em 1926, também nos Estados Unidos. Era engenheiro e começou a trabalhar no ramo da qualidade em um cargo técnico. Com o tempo, mostrou que tinha talento e cres- ceu na carreira, ocupando por muitos anos cargos importantes na gestão de grandes empresas. Em 1979, fundou a Philip Crosby Associates, empresa de consultoria e treinamento em qualidade. Para Crosby, um produto ou um serviço só é de qualidade quando se encaixa em alguns padrões. Depois de planejar o produ- to de acordo com esses padrões, a gestão não pode se acomodar. A partir daí, é preciso verificar constantemente se o produto conti- nua mesmo dentro do padrão definido. Crosby também chamou a atenção das empresas para alguns erros muito comuns em relação à qualidade. São eles: Muita gente acha que qualidade é uma virtude, um valor das coisas. Para Crosby, essa definição de qualidade é muito ruim, pois permite que cada pessoa entenda a qualidade do seu jeito. Outro erro comum é acreditar que não é possível medir ou cal- cular a qualidade de um produto ou serviço. Figura 1.5 Trilogia Juran para a qualidade. • Determinar o que é necessário fazer para sempre melhorar a qualidade. • De�nir projetos de melhoria e escolher os responsáveis por esses projetos. • Treinar, motivar e apoiar as equipes. • Ver se a qualidade está presente nas atividades da empresa. • Comparar o que a empresa conseguiu fazer com o que se planejava fazer. • Sugerir medidas para corrigir erros, quando necessário. Aperfeiçoamento (propor patamares de qualidade cada vez mais altos) Controle de qualidade (identi�car erros ou acertos no processo) Planejamento (considerar a qualidade desejada e encontrar um jeito de alcançá-la) • Identi�car as necessidades dos clientes. • Projetar produtos adequados a elas. • Planejar processos adequados aos produtos. 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 19 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS 20 Gestão da qualidade É um engano abrir mão da qualidade para economizar. Ao con- trário do que muita gente pensa, sai mais barato produzir com qualidade do que sem. É um erro jogar toda a culpa dos problemas de qualidade nas costas do setor de produção. Pense comigo: se um produto não se torna um sucesso, é possível que haja algo de errado com vários departamentos, como o de vendas, o de planejamento ou o de marketing, por exemplo. O setor de qualidade não tem uma fórmula mágica para melho- rar os produtos e os serviços da empresa do dia para a noite. Crosby sempre defendeu que qualidade é uma questão de so- brevivência para as empresas, e ficou conhecido no mundo inteiro quando inventou um programa chamado Zero Defeito. A ideia desse programa pode ser resumida em uma das frases mais conhe- cidas de Crosby (1990, p. 179): “Fazer o trabalho direito logo da primeira vez”. Para ele, essa história de que “nada é perfeito” é “conversa fiada”. As pessoas podem, sim, evitar os erros. Basta buscar mais conhecimento e ter mais atenção na hora de fazer as tarefas do dia a dia. Por outro lado, é claro que nenhuma empresa consegue melho- rar a qualidade dos produtos e serviços de um dia para o outro. De acordo com Crosby, esse processo leva tempo e pode ser dividido em catorze etapas: 1. A gerência deve assumir um compromisso verdadeiro com a qualidade. 2. A empresa precisa criar uma equipe de melhoria da qualidade, formada por pessoas de departamentos diferentes. 3. A qualidade deve ser medida em todos os departamentos. Os erros e os defeitos também devem entrar na conta. 4. A empresa precisa calcular quanto custa não ter qualidade. Isso mostra para a direção que sai mais barato produzir com qualidade. 5. É necessário conscientizar todos os funcionários da empresa, estabelecendo uma comunicação direta e proveitosa entre todos os departamentos. 6. É preciso corrigir todos os problemas que surgirem. 7. Um grupo de funcionários deve ficar responsável por estudar e colocar em prática o programa Zero Defeito. A função desse grupo é explicar o programa para os outros trabalhadores. 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 20 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS Qualidade nas organizações 21 8. É necessário treinar os gerentes de forma que eles não só co- nheçam bem o programa, mas também saibam explicá‑lo para suas equipes. 9. É importante criar o Dia Zero Defeito, para marcar o início de uma nova fase da empresa. 10. É preciso criar metas para cada departamento. Essas metas precisam ser bem claras e verificáveis. Uma meta é verificável quando conseguimos calcular com precisão se ela foi alcança- da ou não. Quer um exemplo de meta não verificável? “Os funcionários devem ser mais dedicados à empresa.” Como é que se faz para calcular dedicação? Difícil, não é? Um funcio- nário bem desleixado pode jurar para seu gerente que se dedica de corpo e alma à empresa. Para ele, dedicação pode ter um significado diferente. Agora vejamos um exemplo de meta ve- rificável: “Todos os funcionários devem ligar para 150 clientes por dia”. Com uma meta assim, nenhum funcionário pode “en- rolar” o gerente. 11. Toda causa de erros deve ser eliminada na mesma hora que for encontrada. Nada de “varrer problemas para debaixo do tape- te”. Em alguns casos, esses problemas podem ser uma máqui- na desregulada, um formulário inadequado ou um equipamento quebrado, por exemplo. 12. A gestão da empresa deve reconhecer os esforços dos funcio- nários para contribuir com os objetivos do programa. 13. É preciso manter reuniões regulares entre as pessoas do departamento de qualidade e os chefes de equipe, criando uma espécie de conselho de qualidade. 14. Depois que o programa entra em ação, é importante comemo- rar seu aniversário no Dia Zero Defeito e recomeçá-lo, for- mando novas equipes de trabalho. Armand V. Feingenbaum Armand V. Feingenbaum nasceu em 1922, portanto, é da mes- ma geração de Crosby. Sua principal obra, escrita em 1951, é Total quality control (publicada no Brasil como Controle da qualidade total), de onde vem a sigla TQC. E o que significa controle da qualidade total para Feingenbaum? Segundo ele, o TQC é um sistema que serve para criar, manter e aperfeiçoar a qualidade em uma empresa. O objetivo é permitir que os departamentos de mar- keting, engenharia, produção e serviço cortem despesas e, ao mesmo 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 21 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS 22 Gestão da qualidade tempo, atendam melhor os consumidores. Muita gente acha que é impossível cortar despesas sem deixar de lado a qualidade. Mas você já sabe muito bem que qualidade e redução de custos andam de mãos dadas. Para Feingenbaum,qualidade é um conjunto de características do produto que conseguem satisfazer as necessidades do cliente. Vamos entender isso melhor? Suponhamos que você vá a uma con- cessionária para comprar seu primeiro carro. Seu objetivo é adqui- rir um automóvel com quatro portas, banco de couro, rádio e MP3 player, vidros e travas elétricas. Na concessionária, você encontra um carro do jeito que você quer. Satisfeito, não pensa duas vezes e resolve comprar logo o automóvel. Alguns meses depois, você se arrepende amargamente de ter fechado negócio. Os bancos de couro ficaram desgastados rapidamente com o uso. O automóvel “bebe” mais combustível do que o previsto, e o motor já dá sinais de que não está muito bem. Para piorar ainda mais as coisas, a garantia não incluía uma série de reparos que você precisava fazer. Situações assim são exemplos do que a empresa não deve fazer. Para satisfazer seus clientes, é necessário o controle da qualidade total sugerido por Feingenbaum. Mas como é que esse controle funciona na prática? Para começo de conversa, a organização pre- cisa entender que a qualidade deve estar presente em todas as ativi- dades – desde o planejamento da produção até os serviços de manutenção, atendimento ao cliente e assistência técnica. Todos os departamentos devem fazer sua parte. Quando isso ocorre, os pro- dutos e serviços da empresa melhoram e os custos da produção diminuem. Mas como é que esse “milagre” acontece? Ora, quando os funcionários fazem tudo direito logo na primeira vez, a produ- ção fica mais rápida, não é mesmo? Além disso, o número de pro- dutos defeituosos cai, o que evita o desperdício de materiais. Trocando em miúdos, podemos dizer que qualidade é um modo de gerenciar a empresa com o objetivo de satisfazer os clientes, aproveitar ao máximo os recursos (eliminando o desper- dício) e diminuir os custos. Porém, o controle da qualidade total não pode ser feito de qualquer jeito. De acordo com Feingenbaum (1994, p. 287‑289), é preciso seguir dez princípios. São eles: 1. Qualidade é um processo extensivo a toda a empresa. 2. Qualidade é o que o consumidor julga ser. 3. Qualidade e redução de custos são aliadas, e não inimigas. 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 22 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS Qualidade nas organizações 23 4. Qualidade exige zelo individual e conjunto. 5. Qualidade é uma maneira de gerenciar a empresa. 6. Qualidade e inovação dependem uma da outra. 7. Qualidade é ética. 8. Qualidade exige aperfeiçoamento contínuo. 9. Qualidade é o caminho de menor custo para a produtividade. 10. Qualidade é um sistema total, que inclui a participação de clientes e fornecedores. Outra grande contribuição de Feingenbaum foram os estudos sobre os custos da qualidade. Ele dividiu esses custos em quatro grupos principais (Feingenbaum, 1994, v. 4, p. 300): Custos da prevenção – despesas com o planejamento da qua- lidade e a prevenção de erros e defeitos. Custos da avaliação – não basta planejar e prevenir. A empre- sa também precisa avaliar se seus produtos são mesmo de qualidade. Custos das falhas internas – mesmo com todo o cuidado do mundo, a empresa pode cometer erros, não é? Quando isso ocor- re, o que deve ser feito? Dependendo da situação, os funcioná- rios devem refazer o trabalho, jogar fora o produto defeituoso ou tentar consertá-lo. Tudo isso gera despesas para a empresa. Custos das falhas externas – às vezes, os produtos defeituosos chegam aos clientes. Quando isso acontece, a empresa tem que bancar as despesas necessárias para resolver o problema. Em alguns casos, pode ser necessário trocar o produto defeituoso por um perfeito, devolver o dinheiro do cliente ou até indenizá-lo. Kaoru Ishikawa Desde o começo deste livro temos falado na revolução da qua- lidade no Japão e em como a indústria japonesa se reergueu, de- pois da Segunda Guerra Mundial, com a ajuda de especialistas como Deming e Juran. Porém, até agora não citamos o nome de nenhum japonês. Chegou a hora, portanto, de você conhecer Kao- ru Ishikawa, um japonês que nasceu em 1915 e se formou em Química pela Universidade de Tóquio. Ishikawa foi um dos grandes “tradutores” das teorias sobre qualidade que vinham dos Estados Unidos. Durante muito tempo, ele adaptou as ideias norte-americanas à realidade das empresas japonesas. Ishikawa ensinou‑as a utilizar ferramentas de controle 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 23 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS 24 Gestão da qualidade da qualidade, como o gráfico de Pareto, os histogramas, os gráfi- cos de controle etc. Porém, ele ficou mesmo conhecido por expli- car para os japoneses os círculos de controle da qualidade (CCQs) e por criar o diagrama de Ishikawa. Vejamos com mais detalhes suas contribuições: Círculos de controle de qualidade (CCQs) – são pequenos grupos de funcionários que se oferecem para cuidar do controle de qualidade em uma área da empresa. Sua função é ajudar o setor a resolver problemas e aumentar a qualidade de suas ati- vidades. Os objetivos dos CCQs são aperfeiçoar a empresa dia após dia, melhorar o clima entre os funcionários e deixar fluir a criatividade dos trabalhadores, que passam a encarar o desafio de resolver problemas e aumentar a qualidade na organização. Diagrama de Ishikawa (também chamado diagrama de causa e efeito, ou espinha de peixe) – é usado para identificar as causas de um problema. Na hora de construir o diagrama, é necessário considerar os 6Ms, que são as principais causas de problemas: mão de obra (pessoas), materiais (componentes), máquinas (equipamentos), métodos, meio ambiente e medição. Genichi Taguchi Até agora, falamos de cinco “gurus” da qualidade: Deming, Juran, Crosby, Feingenbaum e Ishikawa, certo? Quando analisa- mos suas ideias, percebemos algumas diferenças aqui ou ali, po- rém eles dizem mais ou menos a mesma coisa. Genichi Taguchi, por sua vez, apresenta ideias bem diferentes das de seus colegas, a começar por sua definição de qualidade: para Taguchi, qualidade tem a ver com a perda que um produto causa à sociedade quando é colocado à disposição dos clientes. Vamos deixar isso mais claro? Suponhamos que você seja dono de uma empresa e siga direitinho a cartilha do controle da qualidade total. Que tipo de produto você coloca à venda? Apenas produtos que se encaixam no padrão de qualidade da empresa, certo? Como seus produtos são de boa qualidade, seus clientes fi- cam sempre satisfeitos. Segundo Taguchi, isso significa que seus produtos não provocam perdas para a sociedade. Agora, vamos imaginar que seu concorrente não seja tão cuidadoso com a quali- dade de suas mercadorias. Os consumidores sempre se decepcio- nam quando compram produtos desse concorrente: os aparelhos não funcionam direito e quebram rapidamente. Nesse caso, Tagu- chi diria que houve perda para a sociedade. 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 24 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS Qualidade nas organizações 25 Essa definição de qualidade é bem diferente de tudo o que vi- mos até agora, não é? Aliás, Taguchi também acha que só dá para entender o que é qualidade quando levamos em conta a ideia de custo. Mas o que significa custo para Taguchi? Segundo ele, custo é a perda causada à sociedade antes que um produto seja colocado à venda. À primeira vista, essa definição pode parecer esquisita, mas ela faz todo sentido. Imagine, por exemplo, uma confecção onde não há preocupação com qualidade. As costureiras erram bastante na hora de fazer o acabamento e perdem um tempo enorme consertando as roupas de- feituosas. Tudo isso faz com que a confecção produza menos do que poderia. Além do mais, as despesas com tecido são mais altas que o necessário, porque muitas peças vão para o lixo. Repare que a falta de qualidade aumenta os custosda confecção. Ora, mas o dono não é bobo de bancar sozinho esses custos: quando as despesas aumen- tam, o preço das roupas também sobe. Ou seja, o dono repassa os custos ao consumidor – que faz parte da sociedade. Agora dá para entender que Taguchi “acertou na mosca” quando disse que os cus- tos são perdas causadas à sociedade, não é mesmo? Que conclusão podemos tirar disso tudo? Afinal, qual é a relação entre qualidade e custo? Pense comigo. Para reduzir os custos (ou seja, o desperdício e o retrabalho), a empresa precisa aumentar a qua- lidade. Quando isso é feito, diminuem as perdas causadas à socieda- de. A Figura 1.6 deixa bem clara a relação entre qualidade e custo. Figura 1.6 Relação entre qualidade e custo, segundo Taguchi. a perda que um produto causa à sociedade quando é colocado à venda. quando não é colocado à venda. Custo é Qualidade é 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 25 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS 26 Gestão da qualidade Confira o Quadro 1.1, que resume tudo o que falamos sobre como Taguchi vê a relação entre custo e qualidade. Qualidade Custo Quando um produto é colocado à venda? Quando está em conformidade com padrões determinados. Quando um produto que foi colocado à venda cau‑ sa perda? Quando ele não funciona adequada‑ mente ou não atende as expectativas do cliente. Para quem esse produto causa perda? Para o cliente (que faz parte da sociedade). Quando um produto não é colocado à venda? Quando ele não foi produzido em conformidade com padrões determinados. Quando um produto que não foi colocado à ven‑ da causa perda? A partir do momento em que gera desperdício ou retrabalho. Para quem esse produto causa perda? Para a em‑ presa (em última instância, para a sociedade). Quadro 1.1 Relação entre custo e qualidade, segundo Taguchi. Outra importante contribuição de Taguchi para a questão da qualidade é a ideia de projeto robusto. Na hora de planejar um produto novo, a empresa deve tentar prever os defeitos que podem surgir. Assim, fica mais fácil inventar maneiras de deixar o produ- to mais resistente, evitando que esses defeitos apareçam no futuro. E o trabalho da empresa não acaba por aí: segundo Taguchi, tam- bém é necessário prever o mau uso que o cliente pode fazer do produto. Seu objetivo é aumentar ainda mais a qualidade dos pro- dutos para que eles não quebrem mesmo que os clientes façam algo errado na hora de utilizá-los. Saiba mais Vicente Falconi Campos é referência para os estudos sobre gestão da qualida‑ de no Brasil. Para ele, a preferência do cliente é o maior “prêmio” que um pro‑ duto ou serviço pode receber, pois é prova de que a empresa fez algo de qualidade. Em outras palavras, se o cliente prefere meu produto, é porque ele é o que melhor atende suas expectativas. Uma das obras mais importantes de Falconi é o livro TQC: controle da qualidade total no estilo japonês, no qual ele explica os conceitos e mostra como pôr em prática o controle da qualida‑ de total. 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 26 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS Qualidade nas organizações 27 Qualidade por setores Você já sabe o que é qualidade e o que os principais estudiosos do tema pensam sobre ela. Agora está pronto para aprender como tudo isso pode ser colocado em prática em diferentes setores da economia: na agricultura, na indústria, na construção civil e na pres- tação de serviços. Tudo bem até aqui? Então vamos em frente! Qualidade na agricultura Nos temas anteriores, vimos que a gestão da qualidade ajuda a reduzir os custos da produção e, consequentemente, os preços co- brados do consumidor. Isso se aplica também à agricultura? Afinal, a chuva, o calor e a seca – que influenciam a qualidade da colheita – não podem ser controladas pelo agricultor. E aí? Será que a gestão da qualidade serve para a agricultura? Para responder a essa pergun- ta, vejamos como era a agricultura no início do século XX, quando as discussões sobre qualidade ainda estavam tomando corpo. Heinrich Eduard Jacob ficou famoso por sua obra Seis mil anos de pão, publicada pouco antes da Segunda Guerra Mundial. Nesse livro, ele conta a história da evolução do alimento mais importante para o homem — o pão. De acordo com Jacob, em 1850 eram ne- cessárias quatro horas e meia para cultivar um alqueire de milho , ao passo que em 1940 isso era feito em apenas 16 minutos (Jacob, 2003, p. 419). Esse aumento da produtividade nas plantações de milho não foi resultado de um passe de mágica: ele só foi possível graças à melhora da qualidade. Desde a criação dos fertilizantes e a invenção das primeiras máquinas agrícolas, a qualidade na agri- cultura avançou muito. Hoje em dia, até sementes de vegetais são modificadas em laboratório para aumentar a produtividade da la- voura – são os chamados transgênicos. Esses avanços não significam apenas maiores colheitas, mas também maior resistência a pragas, transporte mais adequado, re- dução de perdas e muitas outras coisas que envolvem a otimização do setor produtivo agrícola. Você deve lembrar que o planejamento é uma parte muito im- portante da gestão da qualidade total. Uma produção agrícola de qualidade não foge à regra. Ela deve ser planejada com todo o cuidado, desde a escolha do solo e das sementes ou mudas até o trans- porte para os centros de distribuição, passando pela colheita e pelo armazenamento. Fique atento No Brasil, há diversas normas de qualidade que são obrigatórias para determinados setores. Instituições como o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) são responsáveis por garantir a qualidade e a segurança dos produtos para o consumidor brasileiro. Link Para saber mais sobre o Inmetro e as normas de qualidade para os setores, visite o site <www.inmetro.gov.br>. 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 27 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS 28 Gestão da qualidade Vamos a um exemplo. O Vale do São Francisco fica à margem do rio São Francisco, nos estados de Minas Gerais, Bahia e Per- nambuco. Pouca gente sabe que essa região produz cerca de 99% das uvas de mesa consumidas no Brasil. Esse número é impressio- nante, não? Como será que os agricultores do Vale do São Francis- co conseguiram esse resultado? Graças a um planejamento bem completo, que levou em conta as espécies que seriam cultivadas, um sistema de irrigação adequado e um sistema de colheita, arma- zenamento e distribuição. Tudo isso feito para garantir a qualidade das uvas que chegariam à mesa dos brasileiros. Agora pense comigo. As uvas são produtos muito sensíveis: qualquer tombo é suficiente para esmagá‑las. Por isso, os produto- res do Vale do São Francisco tiveram que planejar um esquema de transporte que garantisse a qualidade dessas frutas até sua chegada às prateleiras dos supermercados. Afinal, eles sabem que uvas es- tragadas ou de aparência ruim não são vendidas. A qualidade na agricultura não é diferente da qualidade em qualquer outra área. Porém, o produto agrícola carrega uma ex- pectativa a mais dos consumidores: a de que seja um produto se- guro e saudável. Ou seja, os clientes costumam ficar sempre de olho na qualidade dos produtos agrícolas que consomem. Por falar em saúde e agricultura, vale a pena mencionar a ques- tão dos transgênicos. Conforme vimos há pouco, dizemos que uma fruta, uma verdura ou um legume é transgênico quando sua semente passou por mudanças genéticas em um laboratório. Essas mudanças podem ter diversos objetivos: servem para deixar o pro- duto com uma aparência mais vistosaou tornar o produto mais resistente a pragas. O problema dos transgênicos é que ainda há desconfiança quanto aos efeitos que eles provocam em nossa saúde . Por isso, muita gente prefere não arriscar, deixando esses produtos fora de sua lista de compras. A preocupação com a saúde também tem levado o consumidor a procurar cada vez mais produtos orgânicos. Dizemos que um produto é orgânico quando é cultivado sem a ajuda de pesticidas ou fertilizan- tes químicos. Mas como o consumidor tem certeza de que o produto é mesmo orgânico? Ninguém consegue perceber se está comendo um tomate cheio de agrotóxicos. Para evitar dúvidas, o consumidor pode procurar a certificação do produto – um selo que garante que a mer- cadoria é segura e saudável. Um exemplo bem conhecido de certifica‑ ção é o selo de pureza da Associação Brasileira da Indústria do Café Link O site da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária <www. embrapa.br> é um “prato cheio” para quem busca informações sobre a agricultura, especialmente sobre as novas tecnologias que podem ser usadas no setor. 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 28 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS Qualidade nas organizações 29 (Abic). Desde que foi lançado, em 1988, o selo diminuiu de 30% para 5% o número de marcas de café no Brasil que contêm impurezas ou adulterações. Afinal, todos os produtores de café querem ganhar o selo da associação. Mais recentemente, em 2009, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil (Mapa) lançou o selo de produto orgânico. Esse selo permite que o consumidor tenha certeza de que o produto é mesmo orgânico. Saiba mais Um dos selos de qualidade mais antigos do Brasil é usado no setor de pecu‑ ária. Estamos falando do carimbo do Serviço de Inspeção Federal (SIF), que desde 1915 atesta que os produtos de origem animal estão de acordo com as leis do país e são apropriados para o consumo. Exemplo O programa Produção Integrada de Frutas (PIF) foi lançado pelo Mapa em parceria com o Inmetro. Ele apresenta um conjunto de normas para a produ‑ ção de frutas em nosso país. Um dos objetivos do PIF é ajudar o produtor brasileiro a satisfazer as exigências do consumidor estrangeiro e, consequen‑ temente, aumentar a exportação. O PIF considera diversas características da fruta, como sabor, textura, aroma e valores nutricionais. Também leva em conta algumas questões ligadas à produção, como o impacto sobre o am‑ biente e as condições de trabalho. Qualidade na indústria A preocupação com a qualidade nos acompanha desde os tem- pos em que os produtos eram feitos à mão, um a um. A invenção da primeira máquina foi uma tentativa de aumentar a qualidade das indústrias, tornando a produção mais rápida e precisa. De lá para cá, muita coisa continuou se transformando. Porém, duas mudan- ças merecem atenção especial, porque revolucionaram completa- mente nossa maneira de produzir. São elas: a invenção das máquinas movidas a energia elétrica; o desenvolvimento da informática e da automação. Link O site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento <www. agricultura.gov.br> é fundamental para quem quer saber mais sobre a gestão da qualidade na agricultura. 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 29 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS 30 Gestão da qualidade Depois dessas duas novidades, a indústria nunca mais foi a mesma. Em primeiro lugar, as fábricas tornaram-se capazes de produzir uma quantidade muito maior de produtos. Ora, com mais produtos à disposição, as pessoas também passaram a consumir muito mais do que antes. Vamos parar um pouco para pensar sobre isso. Antigamente, geladeiras e televisões duravam mais de uma década. Hoje, muita gente troca esses produtos por novos como se fossem descartáveis. Mas o que motivou essa febre de consumis- mo? Por que as pessoas sentem necessidade de comprar coisas novas? Será que elas realmente precisam de tudo isso? No passado, as necessidades da sociedade estimulavam a pro- dução das fábricas. Ou seja, as fábricas produziam os itens de que as pessoas precisavam para viver. Hoje, acontece o contrário: a produção passou a estimular o consumo. Em outras palavras, a in- dústria incentiva as pessoas a consumir mais do que realmente pre- cisam. Porém, é preciso ter um bom salário para comprar carros, televisões ou celulares sofisticados. Mas a indústria já deu um jeito de resolver esse problema: hoje, se não temos dinheiro para com- prar um objeto de desejo, como um iPod, a indústria nos oferece uma série de produtos parecidos. A qualidade desses itens é meio duvidosa, mas os preços são muito convidativos. Ficou tão fácil comprar qualquer produto, que muita gente não se pergunta mais se realmente precisa de tanta coisa: simplesmente sai comprando. E onde fica a qualidade nessa história? Para pensar nisso temos que analisar todo o ciclo de produção, da extração da matéria‑prima até o pós-venda. Nessas horas, é útil lembrar a ideia de perda pro- posta por Taguchi. Que perdas a sociedade está sofrendo por causa da fabricação desses produtos? Aqui, as perdas não se referem apenas ao desperdício de tempo e de materiais. Elas também in- cluem os impactos do produto sobre o meio ambiente e a sociedade. Será que essa produção está destruindo a natureza? Será que os ope- rários que fabricaram o produto estão sendo explorados? Nas indústrias, as máquinas são cada vez mais rápidas e preci- sas. Não resta dúvida de que a tecnologia evoluiu muito nos últi- mos anos, mas a que preço? Praticamente destruímos a natureza, e nosso planeta agora pede socorro. Você acha que isso é evolu- ção? Será que nossa indústria tem mesmo qualidade? Antes de responder a essa pergunta, vamos recapitular o que é qualidade. Nas últimas páginas, concluímos que qualidade significa aumen- tar produtividade, reduzir custos e deixar os clientes satisfeitos. Saiba mais Procure assistir, no YouTube ou em qualquer outro site que o disponibilize, a um vídeo chamado A história das coisas (The story of stuff, em inglês), que trata justamente das relações entre o consumo e a cadeia produtiva. É muito interessante. Outra dica bacana é sobre a questão ética na indústria farmacêutica − trata‑se do filme O jardineiro fiel, do diretor Fernando Meirelles, baseado no livro do inglês John Le Carré. 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 30 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS Qualidade nas organizações 31 Todo mundo sabe que a produtividade aumentou muito. Isso nin- guém pode negar. Mas e a redução de custos? E a satisfação dos clientes? Nesses dois quesitos, nossa indústria ainda deixa muito a desejar. Não dá para dizer que reduzimos custos se a produção tem custos ambientais e sociais tão altos. Olhe à sua volta. A po- luição do ar que respiramos é um dos custos ambientais da indús- tria. Os acidentes de trabalho e os salários baixos são os custos sociais da indústria. A insatisfação dos clientes é outra prova de que a indústria ainda não é de qualidade. Quer ver só? Pergunte a seus amigos se estão satisfeitos com todos os produtos que com- praram recentemente. É provável que você escute muitos nãos como resposta. Qualidade na indústria química e petroquímica Nos anos 1970 e 1980, Cubatão, na Baixada Santista, litoral de São Paulo, tinha o título nada honroso de cidade mais poluída do mundo. Todo dia, toneladas de poluentes eram liberadas no ar, nos rios e nos manguezais, o que prejudicava o meio ambiente e a saú- de da população. Felizmente, no final da década de 1980, a pre‑ feitura uniu forças com órgãos ambientais e com as indústrias para mudar a situação.Em aproximadamente dez anos a poluição dimi- nui cerca de 90% e o meio ambiente se recuperou. A diferença foi tão grande que em 1992 Cubatão recebeu o Selo Verde da ONU, transformando-se em símbolo de recuperação ambiental. Ainda bem que a história teve final feliz. Porém, é importante que você entenda por que, no passado, a situação de Cubatão era tão ruim. Ainda hoje, a cidade abriga muitas fábricas, boa parte delas do ramo químico e petroquímico – o que nos dá uma pista sobre a capacidade de poluição desse setor. As atividades dessas fábricas produzem algumas substâncias tóxicas, que podem con- taminar o meio ambiente e fazer mal à saúde do homem. Para piorar, até o final da década de 1980 essas indústrias não se esfor- çavam para diminuir seus efeitos negativos. Mas o que fez o setor químico e petroquímico brasileiro mudar de atitude? Será que eles ficaram “bonzinhos” do dia para a noite? Claro que não. Você deve lembrar que no início desta unidade fala- mos sobre a abertura comercial dos anos 1990. A partir daí, a con- corrência com produtos estrangeiros aumentou em todos os setores, inclusive no setor químico e petroquímico. José Luiz Carvalho e 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 31 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS 32 Gestão da qualidade José Carlos de Toledo (2000, p. 179) contam que não havia outra saída: aumentar a produtividade e a qualidade das fábricas era uma questão de sobrevivência. O resto da história é fácil de adivinhar: para aumentar a qualidade e a produtividade, a indústria química e petroquímica brasileira teve que terceirizar serviços, fazer cortes de mão de obra e comprar máquinas mais modernas. Além disso, teve que imitar os padrões de qualidade e segurança das concorrentes estrangeiras. Os programas de qualidade ISO 9000 foram adotados pela indústria brasileira, mudando da água para o vinho seu jeito de trabalhar. Mais tarde, quando a família de normas ISO 14000 sur- giu, a gestão ambiental também passou a ser considerada. Qualidade na indústria automobilística Muita gente diz que o brasileiro é apaixonado por carro. Al- guns preferem adquirir um bom carro a comprar uma casa ou fa- zer viagens para o exterior. Pode ser por isso que, de todos os setores da indústria, um dos que mais cresceram foi o automobi- lístico. Mesmo do outro lado do mundo, no Japão, o setor automo- bilístico é o “queridinho” da economia. Quando a revolução da qualidade japonesa aconteceu, a indústria automobilística foi uma das que mais melhoraram sua produção. Até hoje, os carros japo- neses são símbolo de qualidade e alta tecnologia. Mas o que torna diferente a gestão da qualidade nesse setor? Você já sabe que a qualidade deve incluir toda a cadeia produ- tiva, certo? Agora vamos imaginar um automóvel. O que o torna diferente de outros produtos? Ora, um carro possui um monte de peças e materiais. Mesmo para construir o modelo mais básico, a montadora precisa contratar uma série de fornecedores. Entre bancos, tapetes, carpetes, vidros, peças do motor, pneus e outros componentes de um veículo, há uma lista sem fim de fornecedores – cada um responsável por um “pedacinho” do carro. Considere, por exemplo, um tapete de carro, desses simples, de borracha. A borracha foi fabricada por uma empresa, certo? Depois, outra empresa comprou essa borracha e a transformou em tapete. A montadora comprou esse tapete e o usou na montagem do automóvel. A Figura 1.7 ilustra a cadeia produtiva do tapete do automóvel. Observe que pelo menos dois fornecedores são neces- sários para que o tapete chegue até a montadora. Dá para imaginar o tamanho da cadeia de fornecedores necessária para montar um Link A Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) criou um programa chamado Atuação Responsável, que oferece orientações importantes para que as indústrias do setor aumentem a qualidade sem descuidar do meio ambiente e da sociedade. Hoje em dia, a implementação do programa virou passaporte para quem quer entrar na associação: só fazem parte da Abiquim as fábricas que já o colocaram em prática. Para mais informações, visite o site <www. abiquim.org.br>. Fique atento Quando utilizamos a expressão indústria automobilística, não estamos falando apenas das montadoras de automóveis, mas também de todas as empresas que fabricam peças e outros materiais para as montadoras. 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 32 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS Qualidade nas organizações 33 automóvel inteiro? Agora pense comigo: antes de contratar cada um desses fornecedores, a montadora precisa assegurar que as pe- ças que eles vendem são mesmo de qualidade. Afinal, quando você compra um carro da Ford, da Volkswagen ou da Chevrolet, por exemplo, você não procura conhecer todos os fornecedores da montadora. Você simplesmente confia nas escolhas que ela fez na hora de montar seu carro, não é? Então imagine como deve ser difícil garantir a qualidade total em uma indústria desse tipo. Figura 1.7 Representação simplificada de uma parte da cadeia produtiva do automóvel, apenas no que diz respeito ao tapete. Montadora Venda do automóvel, com tapetes, para o consumidor final Empresa 2 Venda dos tapetes para a montadora Empresa 1 Venda da borracha para a empresa 2 Fabricação da borracha Compra da borracha Fabricação dos tapetes Compra dos tapetes Colocação dos tapetes Um fornecedor de peças para automóveis não tem vários clien- tes. As montadoras, em geral, são poucas e gigantescas. Logo, os fornecedores não podem se dar ao luxo de perder clientes. No pas- sado, cada montadora inventava sua própria maneira de cuidar da qualidade total de seus carros. Então seus fornecedores eram obri- gados a atender uma série de normas diferentes, o que tornava a produção de peças mais cara e difícil. Mesmo depois da década de 1980, quando foram criadas as normas ISO 9000, as montadoras não abriram mão de seu jeito de gerenciar a qualidade. Mais tarde, elas se uniram e criaram suas próprias normas de qualidade. No Brasil, há fábricas de automóveis de diferentes nacionali- dades. Por isso, era difícil para os fornecedores de peças dar conta 00 - Gestao da qualidade - Book.indb 33 11/23/11 3:44 PM © PE AR SO N ED UC AT IO N TO DO S OS D IR EI TO S RE SE RV AD OS 34 Gestão da qualidade de várias normas diferentes. Esses fornecedores só puderam respi- rar aliviados quando finalmente a ISO e as montadoras criaram a especificação técnica 16949 para todo o setor automotivo. Qualidade na indústria siderúrgica O Brasil é o maior exportador de aço da América Latina. Isso mostra o quanto a indústria siderúrgica é importante para nossa economia. No território brasileiro, o que não falta é minério de ferro. Por isso, siderúrgicas de outros lugares do mundo vieram para cá disputar espaço com empresas brasileiras. Com tanta con- corrência, a gestão da qualidade é fundamental para quem quer se destacar nesse setor. Antes de começarmos a falar da indústria siderúrgica, vamos aprender um pouco sobre como ela funciona. Em geral, podemos dividir suas atividades em três grupos principais: 1) redução; 2) re- fino; e 3) laminação. A Figura 1.8 nos ajuda a entender, ainda que de maneira bem simplificada, como funciona uma indústria desse tipo. Figura 1.8 Esquema simplificado do funcionamento de uma siderúrgica. REDUÇÃO (ALTO-FORNO) REFINO (ACIARIA) LAMINAÇÃO Minério de ferro Ferro-gusa Aço Altas temperaturas Altas temperaturas + carbono Equipamentos para laminação Tratamentos térmicos e químicos para alterar as propriedades do aço, conforme a necessidade (torná-lo mais duro, mais dúctil, mais resistente à corrosão etc.) Ferro-gusa Aço Lâminas, chapas, barras de aço etc. + +
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