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Felipe Lima Santos – MED 5º SEM DOR SP2 – NEM EXISTE MAIS... Nessa situação problema, temos como objetivo os seguintes pontos: • Compreender a classificação, fisiopatologia, manifestações clínicas e terapêutica da dor neuropática (Anticonvulsivantes); • Definir o mecanismo, quadro clínico e a conduta terapêutica (medicamentosa e não medicamentosa/equipe multidisciplinar) da dor fantasma; • Descrever a conduta de atendimento ao politraumatizado (pré-hospitalar e pós-hospitalar); • Diferenciar anestesia de analgesia; • Entender o mecanismo da Síndrome de Dor Regional Complexa. DOR NEUROPÁTICA A dor neuropática pode ser caracterizada por dor iniciada ou causada por lesão primária ou disfunção ou perturbação transitória no sistema nervoso periférico ou central. A dor neuropática também deve incluir: • Dor e sintomas sensitivos que persistam além do período de cura. • Presença de fenômenos sensitivos negativos e positivos. • Presença também de fenômenos motores positivos e negativos e de fenômenos autonômicos. A dor pode ser classificada em central e periférica, de acordo com sua anatomia, e também de acordo com sua etiologia: Felipe Lima Santos – MED 5º SEM O seu mecanismo segue as classificações anatômicas (periférico e central), podendo serem desencadeados de várias maneiras dentre essas classificações: MECANISMOS PERIFÉRICOS A sensibilização periférica está principalmente vinculada a uma resposta aumentada dos terminais dos nociceptores, decorrente da ação de neuromediadores inflamatórios, o que dá origem a alodinia e hiperalgesia. Isso é consequência, a nível de nociceptores, da diminuição do limiar, indução de descargas ectópicas e aumento na quantidade de canais de sódio. Evidentemente, esse mecanismo é diretamente vinculado à dor nociceptiva inflamatória, porém, em lesões traumáticas, terminais nervosos são geralmente comprometidos, o que produz uma sobreposição de mecanismos inflamatórios e neuropáticos, consequentes à degeneração walleriana do nervo. As descargas ectópicas são constituídas de impulsos elétricos anormais espontâneos evocados e repetitivos a partir de locais incomuns e diferentes das terminações nervosas. As fontes incomuns das descargas ectópicas são constituídas de neuromas (brotamento de novas fibras, no coto proximal do axônio lesionado), axônios desmielinizados por trauma (também ocorre o brotamento de fibras), processos autoimunes (descargas ectópicas causadas por aferentes residuais expostos aos produtos de degeneração e mediadores inflamatórios). O acoplamento simpático-sensitivo é uma expressão especial de quimiossensibilidade ectópica e reflete uma sensibilidade elevada de neurônios sensitivos devido à maior expressão de adrenorreceptores na membrana neuronal, ao lado de proliferação de terminais simpáticos. A excitação cruzada efática é o processo fisiopatológico pelo qual, a partir de fibra nervosa danificada, há o desenvolvimento de curto-circuito elétrico por correntes iônicas com fibras nervosas adjacentes intactas. Outro fenômeno relacionado é a excitação cruzada “não-efática” por mediadores químicos difusíveis, o que pode ser a base da explicação do tic douloureux na neuralgia do trigêmeo. Alterações fenotípicas por expressão gênica modificada de neurônios do gânglio da raiz dorsal e de neurônios do corno dorsal da medula constituem importantes mecanismos de dor neuropática. MECANISMOS CENTRAIS Os mecanismos centrais de dor neuropática são consequentes a lesões periféricas ou centrais e se expressam pelo desenvolvimento de sensibilização central, alterações neuroplásticas e redução ou perda de controle inibitório. Felipe Lima Santos – MED 5º SEM A sensibilização central é resultado de ativação do receptor NMDA, aumento do conteúdo de glutamato, aspartato e cálcio intracelular, além de ativação também de receptores AMPA e receptores metabotrópicos de glutamato. As alterações da neuroplasticidade que ocorrem na medula espinal dizem respeito a modificações dos terminais de aferentes sensoriais de neurônios do gânglio da raiz dorsal, além de ativação de células gliais implicadas na liberação de citocinas pró-inflamatórias e perda celular no corno dorsal. Outro fenômeno importante na gênese da dor neuropática é a redução ou perda de mecanismos inibitórios tanto locais como descendentes, reduzindo assim a inibição pré e pós-sináptica, expressa também por redução de GABA. A dor central ou encefálica/medular é uma condição decorrente de lesão ou disfunção no sistema nervoso central. As causas mais comuns são doença cerebrovascular, esclerose múltipla e traumatismo medular, com incidências respectivas de 8, 28 e 30%. Os mecanismos de dor central encefálica e medular são variados, os quais sumariamente são: • Desinibição das vias lemniscais mediais e espinotalâmicas; • Ruptura da integração termossensitiva e perda da inibição pelo frio de dor em queimação; • Retirada da inibição do núcleo reticular talâmico e aumento da atividade neuronal oscilatória no tálamo; • Lesão no núcleo ventroposterior e dorsomedial talâmico; • Mecanismos corticais parietais; • Memória da dor e potenciação de longo. Em resumo, a dor central encefálica repousa fundamentalmente em mecanismos talâmicos resultantes de atividade e reatividade neuronais aumentadas ao longo das vias somatossensoriais e de decréscimo dos mecanismos inibitórios, envolvendo aminoácidos excitatórios e receptores. Clinicamente, o resultado dessas lesões é expresso por hipoestesia, hiperestesia, parestesias e disestesias, dor irradiada, latência prolongada de resposta, pós-sensações e somação temporal, as quais podem configurar a hiperpatia. Acerca do tratamento, um passo importante é a identificação dos possíveis sintomas e mecanismos, os quais se apresentam atualmente como alvos terapêuticos. O grande obstáculo é que um sintoma pode representar vários mecanismos, e um mecanismo pode dar origem a múltiplos sintomas. Esse desafio exige então uma definição e escolha, e racionalmente devemos escolher a via dos mecanismos, pois as diferentes drogas usadas visam ao bloqueio dos canais iônicos. Dentre as grandes classes de drogas utilizadas no tratamento da dor neuropática, temos: Felipe Lima Santos – MED 5º SEM • Anticonvulsivantes • Antidepressivos • Opioides • Agentes tópicos e antiarrítmicos Além de outras, tais como: • Gabaérgicos (baclofeno) • Antagonistas de NMDA • Bloqueios anestésicos • L-Dopa, AINHs e neurolépticos Há o tratamento com medicamentos de primeira linha (gabapentina, lidocaína [adesivo], opioides, tramadol e antidepressivos tricíclicos) e os de segunda linha (lamotrigina, carbamazepina e inibidores seletivos da recaptação da serotonina). Os anticonvulsivantes têm seu papel como analgésicos por serem drogas que exercem seu efeito sobre os canais iônicos envolvidos tanto na epilepsia como na dor neuropática. Os canais-alvo para esse efeito são os de sódio e os de cálcio. As drogas bloqueadoras de canais de sódio englobam anticonvulsivantes (carbamazepina, fenitoína e lamotrigina), antiarrítmicos (mexiletina, flecainida e tocainida) e anestésicos locais do gênero lidocaína. A gabapentina é um análogo do GABA, porém seu mecanismo de ação é exercido ao se ligar à subunidade α2δ do canal de cálcio. O mecanismo de ação dos antidepressivos tricíclicos é o de inibir a recaptação pré-sináptica de norepinefrina e serotonina e, também, o de antagonizar receptor-NMDA e bloquear canal iônico, principalmente canal de sódio. Por seus efeitos anticolinérgicos, os antidepressivos tricíclicos devem ser usados com PRECAUÇÃO, principalmente em cardiopatas e idosos. Os principais opioides usados são codeína e morfina (naturais), oxidocone (semissintético) e metadona e tramadol (sintéticos). Todos possuem ação analgésica e têm como efeitos colaterais euforia, depressãorespiratória, náuseas e vômito, prurido, obstipação, retenção urinária e dependência física (em pacientes predispostos física e psiquicamente). Os agentes tópicos utilizados para o controle da dor incluem anestésicos locais (lidocaína) e, principalmente, capsaicina. A lidocaína a 5% é usada na forma de adesivos, principalmente na neuralgia pós-herpética, e a capsaicina tópica tem sido usada em dor musculoesquelética e em dor neuropática Procedimentos físicos, como acupuntura, TENS e cirúrgicos ou invasivos (ablações, bloqueios, radiofrequência, estimulação), têm também seu lugar de forma eletiva no controle da dor neuropática, considerando, entretanto, suas limitações e eficácia parcial. Felipe Lima Santos – MED 5º SEM DOR DO MEMBRO FANTASMA (GHOST LIMB PAIN) O conceito de dor do membro fantasma foi definido no séc. XVI por Ambrose Pare, um cirurgião militar francês como a sensação de dor percebida por uma região do corpo que não está mais presente. PLP foi anteriormente considerada primariamente como uma condição psiquiátrica. Com o avanço das pesquisas sobre o tema, esse paradigma foi modificado para mudanças em diversos níveis do áxis nervoso, especialmente o córtex. Mecanismos periféricos e centrais são hipóteses que ganharam forças e possíveis mecanismos ao longo dos anos. Contudo, nenhuma dessas hipóteses conseguiram explicar de fato este fenômeno. MECANISMO PERIFÉRICO Durante a amputação, nervos periféricos são danificados. Isso resulta em lesões no tecido e nervo, causando stress ao padrão do nervo aferente a cordão espinhal. Isso é seguido de um processo chamado de “desaferência” e a parte proximal do nervo injuriado brota para formar neuromas. Há um acúmulo aumentado de moléculas que fazem a expressão dos canais de sódio nesses neuromas, o que resulta em hipersensibilidade e descargas espontâneas. Estudos atuais: Indicam redução da dor fantasma com tratamento baseado em drogas de bloqueiam os canais de sódio. Infelizmente, isso não explica o mecanismo dessa patologia em pessoas que já nasceram sem membro. MECANISMO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL MUDANÇAS A NÍVEL DO CORDÃO ESPINHAL: Os brotos axonais na secção proximal do nervo periférico amputado formam conexões com neurônios no campo receptivo do cordão espinhal. Alguns neurônios nas áreas do cordão espinhal que não são responsáveis pela transmissão nociceptiva também brotam na lâmina 2 do corno dorsal, que aí sim são responsáveis pela transmissão nociceptiva. Isso é seguido do aumento da atividade neuronal, expansão do campo receptivo e hiperexcitabilidade das outras regiões, no processo chamado de SENSIBILIZAÇÃO CENTRAL. Durante esse processo há também o aumento dos receptores NMDA mediado por neurotransmissores como a substancia P, neuroquininas taquininas no corno dorsal do cordão espinhal. Toda essa cascata é seguida de um fenômeno chamado de “windup phenomenon”, que é um feedback positivo desses receptores locais. Esse processo traz uma mudança no padrão de disparo dos neurônios nociceptivos. Pode haver também a redução nos mecanismos inibitórios intersegmentais locais na espinha, resultando na inibição da inibição que leva os estímulos nociceptivos a chegar nos centros supra espinhais. MUDANÇAS NO CÉREBRO: reorganização cortical talvez seja a razão de dor do membro fantasma mais citada nos últimos anos. Durante essa reorganização, as áreas corticais que representam as extremidades amputadas são dominadas pelas zonas representativas vizinhas tanto no sistema somatossensorial primário quando no córtex motor. Felipe Lima Santos – MED 5º SEM Outro mecanismo proposto é baseado no conceito de “body schema” (homúnculo), que pode ser pensado como o desenho do corpo inteiro no cérebro, e, qualquer mudança no corpo (como amputação) resulta na percepção dessa dor patológica. A melhor definição no estudo do body schema necessita do conceito de neuromatrix e neuroassinatura. A neuromatrix pode ser conceituada como a rede de neurônios cerebrais que recebem numerosos sinais de diversas áreas, incluindo somatossensorial, límbico, visual ou talamocorticais. No resultado de mudança de padrões que evocam dor ou outras experiencias significativas. O termo “neuroassinatura” refere a padrões de atividade gerados no cérebro que continuamente são atualizadas baseadas na consciência previa do corpo. A privação de impulsos dessa parte ausente a neuromatrix causa uma neuroassinatura anormal que resulta na doença. A outra hipótese sobre isso deriva de pesquisas de percepções ilusórias. Foi mostrado que os lobos parietais e frontal também estão envolvidos além do córtex somatossensorial primário na percepção de fenômenos somatossensoriais anormais. MECANISMO PSICOGÊNICO: a hipótese dessa patologia ter origens psicológicas não é suportada na literatura recente mesmo que com stress, ansiedade, exaustão e depressão sendo capazes de exacerbar a doença. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO ANALGESIA E ANESTESIA PREVENTIVA: o uso preventivo desses medicamentos durante o período pré-operatório é acreditado que previne estímulos dolorosos no lugar de amputação por prevenir o disparo de mudanças hiperplásticas e sensibilização do sistema nervoso central, o que pode impedir futuros impulsos nervosos desse local. Estudos atuais: Diminuição da doença até 6 meses depois da amputação quando há analgesia epidural ou o paciente controlado com analgesia intravenosa que começou entre 48 antes ou depois da cirurgia. AINES: Os AINEs inibem as enzimas necessárias para a síntese de prostaglandinas e diminuem a nocicepção tanto periférica quando centralmente. OPIÓIDES: analgesia sem a perda de sensibilidade somáticas como propriocepção ou consciência. Ele também pode atuar diminuindo a reorganização cortical. Foi mostrado benefícios no tratamento de opioides em detrimento a antidepressivos tricíclicos e gabapentina, apesar dos opioides serem associados a MAIS EFEITOS COLATERAIS. ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS: medicações mais comuns pra vários tipos de dor neuropática. A ação analgésica se baseia principalmente impedindo a reabsorção de serotonina, antagonistas do receptor NMDA e reabsorção dos canais de sódio. TERAPIA DO ESPELHO: o paciente assiste o reflexo do seu membro não amputado se mexendo num espelho posicionado onde estaria o membro acometido. Isso Felipe Lima Santos – MED 5º SEM acontece devido a estudos sobre a existência de neurônios espelho no cérebro que são disparados ao mesmo tempo em diversas ações. Biofeedback, métodos comportamentais e integrativos, biofeedback de temperatura pode ajudar a sensação de queimação da doença. Hipnose e acupuntura também podem ajudar INTERVENÇÃO CIRÚRGICA: são utilizadas quando os outros métodos não funcionam. Terapia eletroconvulsiva também já foi utilizada. ATENDIMENTO AO POLITRAUMATIZADO Um paciente politraumatizado é considerado aquele que apresenta lesões em dois ou mais sistemas, sendo necessário que pelo menos uma, ou uma combinação dessas lesões, represente um risco vital para o doente. Geralmente, há três picos de morte por trauma, explicados a seguir: 1º Pico: segundos ou minutos após o trauma, geralmente relacionado a lacerações no cérebro, corda espinhal alta, coração ou vasos calibrosos; 2º Pico (Golden hour): recebe esse nome pois o atendimento hospitalar imediato interfere de maneira significativa na sobrevida. São mortes que acontecem dentre minutos a horas após o trauma, geralmente ocasionadas por hematomas subdurais e epidurais, hemopneumotórax, ruptura de baço, laceração de fígado, fraturas pélvicas ou outras lesões que geram perda significativa de sangue. 3º Pico: Dias e semanas após o trauma, relacionada especialmente a sepse e falência múltipla de órgãos e sistemas. Acompanhamento cuidado é super importante nessa fase. Conhecendo as definições sobre politrauma, temos que entender como é feito o atendimento, que consiste em 4 fases: exame primárioe ressuscitação, exame secundário, reavaliação e tratamento definitivo. EXAME PRIMÁRIO E RESSUSCITAÇÃO Essa primeira etapa é realizada ainda no local do acidente, obedecendo a indicações de segurança do local e consiste basicamente no ABCDE do trauma: • A (Airways – Vias aéreas e controle da coluna cervical); • B (Breathing – Respiração e ventilação); • C (Circulation – Circulação e controle de hemorragias); • D (Disability – Incapacidade neurológica); • E (Exposure/ Enviromental Control – despir o paciente e protege-lo da hipotermia) Nas literaturas atuais há o XABCDE, que inclui o tratamento primeiro das hemorragias graves (Exsaguination). Felipe Lima Santos – MED 5º SEM A – VIAS AÉREAS E CONTROLE CERVICAL: Busca ativa por sinais de obstrução das vias aéreas (corpos estranhos, fraturas na face) e estabelecimento de via aérea definitiva, sendo mais comum o uso da intubação endotraqueal, contudo, em casos contraindicados (lesões na face) é mais indicado o uso da cricotireoidostomia de urgência. Em casos de politrauma, sempre deve-se suspeitar de lesão cervical, com isso, inserindo um colete para imobilização do pescoço, que só deve ser retirado no momento em que a suspeita de lesão cervical for descartada, ou caso haja a necessidade temporária da remoção, um membro da equipe deve ser responsável por manter a estabilidade da região manualmente. B – RESPIRAÇÃO: Análise da função do pulmão através da ausculta, percussão, palpação e inspeção, tentando descartar pneumotórax hipertensivo, contusão pulmonar maciça e pneumotórax aberto. Casos como hemotórax, pneumotórax simples, fratura de arcos costais e contusão pulmonar comprometem a ventilação, porém em menor grau. C – CIRCULAÇÃO E CONTROLE DA HEMORRAGIA Toda hipotensão em paciente politraumatizado deve ser considerada como hipovolêmica em origem, até que se prove o contrário. Os três parâmetros que em segundos nos fornecem informações essenciais são: • nível de consciência – a consciência diminui com a diminuição da perfusão cerebral, contudo, deve-se atentar que mesmo paciente consciente pode ter perda de sangue importante; • coloração da pele – cianose nas extremidades e face pode indicar hipotermia; • pulso - pulso fraco e rápido é sinal precoce de hipovolemia, enquanto um pulso irregular pode significar disfunção cardíaca; • sangramento - o sangramento externo rápido e volumoso pode ser controlado primariamente por pressão manual ou digital; nunca usar torniquete, que pode lesar os tecidos e causar isquemia distal. É nesse momento também que se utiliza de técnicas rápidas para identificar líquido em cavidades, os FAST e eFast, além de iniciar a reposição volêmica. D – INCAPACIDADE NEUROLÓGICA Avaliação neurológica rápida, utilizando a escala de coma de Glasgow. A diminuição do nível de consciência tanto pode ser provocada pela diminuição da oxigenação e/ou perfusão cerebral, como pode ser consequência de lesão cerebral traumática. Só depois de excluirmos hipóxia e hipovolemia é que podemos atribuir a mudança no nível de consciência ao trauma cranioencefálico. Lembrar que o álcool e outras drogas também podem ser os responsáveis pela alteração do nível de consciência. Felipe Lima Santos – MED 5º SEM Com essa avaliação rápida e objetiva, podemos identificar quatro graus de gravidade num TCE, cada um deles com planos diagnósticos e terapêuticos específicos. E – EXPOSIÇÃO DO PACIENTE O paciente deve ser completamente despido, geralmente cortando-se as suas vestes, para facilitar o exame, tendo-se o cuidado de protege-lo da hipotermia. Perdas significantes de calor podem ocorrer com temperaturas moderadas (15 a 20 graus centígrados) se as vestes estão molhadas ou se está presente a vasodilatação provocada por álcool ou outras drogas que comprometem a habilidade do paciente em preservar calor. A partir do momento que o exame primário e ressuscitação é feito, deve se atentar a pontos básicos: • Monitorização eletrocardiográfica: arritmias podem ser sinais de contusão cardíaca; • Cateter urinário e sonda nasogástrica; • Parâmetros Fisiológicos: frequência ventilatória, pulso, pressão arterial, pressão do pulso, gasometria arterial, temperatura corporal e débito urinário. EXAME SECUNDÁRIO Consiste na avaliação completa do paciente, avaliando-se cuidadosamente cada região do corpo e incluindo um exame neurológico completo. Os procedimentos especiais também são obtidos nesta fase, como lavado peritoneal (nos hospitais que não dispõem de aparelho de ultrassom na sala de reanimação ou próximo a esta) e exames radiológicos e colheita da história do paciente. REAVALIAÇÃO O paciente Politraumatizado deve ser reavaliado constantemente em busca de novos achados ou deterioração dos sinais e sintomas já detectados. A monitorização contínua dos sinais vitais e do débito urinário (em torno de 50 ml/hora) são essenciais. A analgesia efetiva deve ser oferecida a todo paciente, evitando-se drogas que possam mascarar os sintomas neurológicos. TRATAMENTO DEFINITIVO Após esta fase, onde identificamos todas as lesões e tratamos as condições que impunham risco imediato de vida ao paciente, inicia-se a fase do tratamento definitivo. ANESTESIA X ANALGESIA A palavra ANESTESIA traduz um estado de insensibilidade geral que pode levar a inconsciência, ao pé da letra, significa perda dos sentidos; pode ser Felipe Lima Santos – MED 5º SEM produzida através da ingestão de drogas ou pode ser sintoma determinante de moléstia. Enquanto analgesia é a condição em que se percebem estímulos dolorosos, que não são interpretados como dor, ger. acompanhada de sedação sem perda da consciência. SÍNDROME DA DOR REGIONAL COMPLEXA (CRPS) Síndrome da dor regional complexa é uma dor neuropática crônica que ocorre após lesão de tecido mole ou ósseo (tipo I) ou lesão de nervo (tipo II) e persiste com intensidade e duração desproporcionais à lesão do tecido original. SENSITIZAÇÃO CENTRAL A sensitização central pode ser desencadeada de duas maneiras: disparos nociceptivos persistentes ou intensos resultando em dano ao tecido OU aumento da excitabilidade dos neurônios nociceptivos do cordão espinhal. Esse fenômeno (sensitização central) é mediado pela liberação de neuropeptídios (ex.: substância P, bradicinina e a excitação do glutamato) induzida pela nocicepção atuando nos receptores do ácido n-metil-d-aspartato. Como resultado desse fenômeno, há um padrão de respostas exageradas no estímulo nociceptivo (hiperalgesia) e permite que sensações não dolorosas ativar vias nociceptivas (alodinia). Uma medida objetiva associada com esse fenômeno é o “windup”, que é refletida em aumento da excitabilidade dos neurônios do cordão espinhal, que é evocado repetidamente em estimulações mecânicas ou térmicas que ocorrem numa frequência similar aos disparos nociceptivos. Não é conhecido se a sensitização central precede, ocorre simultaneamente ou concorre com os outros sinais e sintomas da CRPS. A teoria mais forte é que a sensitização central pode contribuir para o desenvolvimento tardio da CRPS, ainda a ser testado. SENSITIZAÇÃO PERIFÉRICA Mesmo que estímulos nervosos persistentes após lesão tecidual induzida a sensitização central, o trauma tecidual inicial por si só também evoca a sensitização periférica. Após o trauma do tecido, fibras aferentes primárias na área lesada liberam pró-nociceptivos neuropeptídeos (substancia P, bradicinina) que aumentam os disparos de nociceptores, aumentando os disparos a resposta de estímulos dolorosos e diminuindo o limite de disparos para sensações térmicas e mecânicas. Esses últimos dois efeitos contribuem para a hiperalgesia e alodinia que são pontos chaves no diagnóstico da CRPS. Levando em consideração que a sensitização periférica é disparada pelo trauma tecidual primário levando a dor persistente, é provável que é presente em pacientes com CRPS bem no iníciodo desenvolvimento da patologia. No entanto, seu papel no desenvolvimento da CRPS ainda não foi diretamente testado. Felipe Lima Santos – MED 5º SEM ALTERAÇÕES NA FUNÇÃO DO SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO Historicamente, é aceito que ferramentas autonômicas do CRPS, como frio, cianose de membros são resultados da vasoconstrição que reflete excessivo feedback do sistema nervoso simpático e manutenção da dor em pacientes com CRPS. O papel hipotético do feedback excessivo no SNS é característica chave da doença que tradicionalmente são pensadas no uso clinico de bloqueadores simpáticos seletivos para dor e alívios dos sintomas nesses pacientes. Possíveis razões para a ligação entre CRPS e atividade do SNS são sugeridas. Estudos atuais em animais sugerem que depois do trauma no nervo, receptores adrenérgicos são expressos em fibras nociceptivas, provendo um mecanismo que qualquer feedback do SNS pode diretamente criar sinais dolorosos. Expressão de receptores adrenérgico em fibras nociceptivas pós lesão pode contribuir para acoplamento simpato-aferente, um fenômeno demonstrado em vários estudos em humanos. Por exemplo: frio no pescoço (que ativa a vasoconstrição do SNS) e uma injeção intradérmica de norepinefrina ambos podem aumentar significativamente a intensidade da dor do CRPS. PAPEL DAS CATECOLAMINAS CIRCULANTES Mudanças no padrão dos sinais e sintomas da CRPS enquanto a condição muda da fase aguda para a fase crônica pode em parte refletir a progressão de mecanismos catecolaminérgicos. Estudo evidenciam que, apesar de evidencias que pacientes com CRPS crônica geralmente apresentam vasoconstrições exageradas ao frio no lado afetado, apesar disso exibem níveis menores de norepinefrina que o lado afetado em comparação com o não afetado. Esses leveis menores de norepinefrina podem implicar em diminuição local do feedback do SNS. Esses achados em conjunto sugerem que a vasoconstrição exagerada observada em pacientes com CRPS crônico podem ocorrer mesmo em contextos de diminuição da resposta do SNS. É acreditado que esse padrão paradoxal pode ser o resultado do receptor de feedback negativo a diminuição da resposta do SNS é percebida com antecedência na CRPS aguda e assim o organismo gera um mecanismo compensatório aumentando a densidade de receptores adrenérgicos periféricos. A supersensibilidade a catecolaminas circulantes pode levar a suor excessivo e vasoconstrição e, portanto, a característica fria, cianótica, suada da extremidade do paciente que apresenta CRPS crônico. PLASTICIDADE CEREBRAL Uma recente revisão de literatura baseado em neuroimagens concluíram que há pouco suporte a teoria de que há uma “rede da dor” distinta associada com a dor neuropática nem um padrão de ativação cerebral associado a alodinia (característica clínica chave da doença). Da mesma forma, vários estudos de Felipe Lima Santos – MED 5º SEM neuroimagem em pacientes com essa patologia sugeriram ao menos uma consistente e específica alteração cerebral associada à sua condição: a reorganização do mapa somatotópico (homúnculo). Especificamente, há uma diminuição no tamanho da região afetada, se comparado ao lado não afetado. REFERÊNCIAS Veronesi R., Focaccia R. Tratado de Infectologia. 3ª ed. São Paulo: Ed Atheneu; 2005. Subedi B, Grossberg GT. Phantom limb pain: mechanisms and treatment approaches. Pain Res Treat. 2011;2011:864605. doi: 10.1155/2011/864605. Epub 2011 Aug 14. PMID: 22110933; PMCID: PMC3198614. ALBINO, Rubia Maria; RIGGENBACH, Viviane. Atendimento hospitalar inicial ao politraumatizado. Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 33, n. 3, 2004. Stephen Bruehl, David S. Warner; An Update on the Pathophysiology of Complex Regional Pain Syndrome. Anesthesiology 2010; 113:713–725 doi: https://doi.org/10.1097/ALN.0b013e3181e3db38 https://www.passeidireto.com/lista/88661022 https://www.passeidireto.com/perfil/88660480/
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