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Universidade Federal Fluminense Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas Setor de Língua Portuguesa Professora: Elaine Alves Santos Melo Aluno (a):Larissa de Seabra Pereira Bianchi Atividade I de Língua Portuguesa IV Construa uma Resenha Crítica do artigo “Flexão e Derivação: o grau” de Gonçalves (2007). Seu texto deve ser feito de forma individual, dupla ou em trio, em no máximo três páginas. Utilize a fonte Times New Roman, tamanho 12, Espaçamento simples (4,0 pontos) Gonçalves em seu artigo “Flexão e Derivação: o grau” busca exemplificar e apresentar o distúrbio na rotulação de livros didáticos ao tratarem de grau como flexão dos nomes, quando as gramáticas normativas e teóricos do tema confirmam a morfologia derivacional no âmbito do grau. É muito curioso o estudo de Gonçalves para nós futuros professores de portugues, por poder contar com uma nova e correta maneira de ensinar morfologia e afixos quando apresentados um livro didático que não segue as novas tendências do estudo da língua. Inicialmente, como pontuado por ele, esse “erro” se apresenta porque assim era na língua latina. Até a década de 70, os afixos de grau possuíam classificação flexional nas gramáticas normativas, já na década de 80, isso começou a ser repensado, tirando então, o grau das classificações flexionais. Hoje essa gradação morfológica é entendida como um processo de derivação. Infelizmente, essa “nova classificação” não está sendo incluída nos livros didáticos do ensino médio que ainda tratam grau como flexão. A morfologia flexional, no entanto, se trata de palavras com afixos que não mudam o sentido da palavra inicial, como é o caso de linda e lindas, as duas palavras referenciam menina bonita havendo apenas variação de número. Já um caso de morfologia derivacional de grau, apresenta palavras que mudam de sentido, sofrem lexicalização, como por exemplo camisinha, que deixa significar uma camisa, ou mesmo uma camisa pequena e se refere na verdade a preservativo. Teóricos da atualidade como Mattoso Câmara Jr. Rosa, Sandman, Rocha, Lourdes, entre outros, defendem a existência da gradação afixal como um mecanismo tipicamente derivacional. Gonçalves, entretanto, levanta a ideia de que “a gradação morfológica se trata de um processo limítrofe" se apresentando tanto de maneira flexional como de maneira derivacional. Ele continua por trazer oito critérios para explicar a classificação de flexional e derivacional de afixos: 1. A flexão é tratada como “obrigatoriedade sintática" como concordância e regência, forçando escolhas ao falante, elas têm uso compulsório. A derivação neste caso não é obrigatória, suas unidades podem ser substituídas sem mudar a construção. 2. Ele diz que “uma categoria é flexional se a morfologia é o único meio de materializar seu conteúdo" se trata então de uma “morfologia aprisionada”. No caso da derivação, ela pode ser utilizada de diferentes maneiras sendo assim vista como “morfologia libertária", por exemplo quando pronunciamos um alongamento no i de “linda” não é preciso a mudança na palavra para haver mudança de sentido e esta também indica mudança na expressão de intensidade. 3. Somos apresentados a premissa de que a flexão é mais produtiva que a derivação, que estrutura paradigmas mais regulares e sistemáticos. Ou seja, a derivação neste caso não é passível de regras, que pode aparecer de maneiras diferentes em palavras diferentes, que classificá-la é uma tarefa muito difícil. 4. É declarado que os sufixos derivacionais se tornam o núcleo da palavra morfologicamente complexa, nos flexionais eles sempre aparecem como adjuntos. A cabeça lexical, portanto, se apresenta à direita quando se trata de derivação e a esquerda quando se trata de flexional. No entanto isso afirmaria que o grau é apenas derivacional mas temos casos como “carrinho” onde o núcleo está em carro e somos apresentados a forma flexional de grau. 5. Processos flexionais não tem distorção de significado, ao contrário dos derivacionais. Como o exemplo apresentado acima temos o lexical de número lindas e a camisinha. Os sufixos derivacionais, em sua maior parte, causam mudança de classe, como por exemplo “canalização”. No entanto, é importante lembrar que os afixos de grau não são prototípicos, podendo ser apresentados tanto flexional quanto derivacional. 6. A flexão é mais regular semanticamente que a derivação. Na derivação, o locutor é capaz de imprimir sua marca ao discursar, como por exemplo “golaço” ou “timinho” o locutor está se inscrevendo explícita ou implicitamente na mensagem. Neste caso, a derivação se apresenta com mais frequência nas conversas informais do dia a dia, depende da interpretação do receptor e do contexto apresentado pelo locutor. 7. Os elementos da flexão são mutuamente exclusivos, não aparecem mais de uma vez, a derivação pode não ser. Na derivação, o número de afixos na palavra não é restritivo, como por exemplo, “vidinhazinha” que difere semanticamente ao meu ver de “vidinha” e ainda há repetição de afixo de grau. Veremos este exemplo “que vidinha ein” quando estamos de férias em uma praia paradisíaca ou “que vidinhazinha ein” quando estamos fofocando sobre alguém de férias no mesmo lugar. “Vidinhazinha” além de fazer referência a vida boa também expõe a inveja do locutor e assim diferenciamos semanticamente o uso de diminutivo duplo deste caso e contexto. 8. Probabilidade de arbitrariedade/desvios nas operações derivacionais e pouco prováveis nas flexionais. Neste caso os afixos de grau sofrem lexicalização categorial, rizomorfemica e semântica. De todos os pontos acima podemos concluir que o grau apresenta derivação. Mas ele também apresenta flexão? De acordo com Gonçalves, sim. O teórico mostra a ideia de um continuum entre flexão e derivação já que nenhum critério objetivo fornece divisão categórica entre os dois, formando assim uma escala ou gradiente entre uma ideia morfológica e outra. Ele conclui que é possível dispor os afixos de uma língua entre esta escala em patamares diferentes, exemplificando ainda quando gênero e número são passíveis de lexicalização. Vemos então palavras como “perua” (Kombi) e “coelha” (adolescente que tem vários filhos), “parabéns” e "pêsames" que não tem significado mórfico. Apesar de todo esse estudo teórico comprovando que afixos podem ser tanto flexionais quanto derivacionais, os alunos do ensino médio não precisam ser apresentados a essa teoria de difícil compreensão. No ensino do portugues, portanto, devemos nos preocupar em disponibilizar não frases soltas mas textos que evidenciem o uso real e efetivo da língua, apresentando afixos sendo utilizados tanto de maneira flexional quanto derivacional.
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