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Portugues_IV_vol1

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Ronaldo Amorim Lima
Beatriz dos Santos Feres
Cláudia Franco 
Leandro Santos de Azevedo 
Monclar Guimarães Lopes
Pâmella Alves Pereira
Vanda Maria Cardozo 
de Menezes
Volume 1
Português IV
Apoio:
Material Didático
Referências bibliográfi cas e catalogação na fonte, de acordo com as normas da ABNT.
Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfi co da Língua Portuguesa.
Copyright © 2014, Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio 
eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Fundação.
Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Rua da Ajuda, 5 – Centro – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20040-000
Tel.: (21) 2333-1112 Fax: (21) 2333-1116 
Presidente
Carlos Eduardo Bielschowsky
Vice-presidente
Masako Oya Masuda
Coordenação do Curso de Letras
UFF - Livia Reis
ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO
Ronaldo Amorim Lima 
Beatriz dos Santos Feres
Cláudia Franco 
Leandro Santos de Azevedo 
Monclar Guimarães Lopes
Pâmella Alves Pereira
Vanda Maria Cardozo de Menezes
DIREÇÃO DE DESIGN INSTRUCIONAL
Cristine Costa Barreto
COORDENAÇÃO DE DESIGN 
INSTRUCIONAL
Bruno José Peixoto
Flávia Busnardo da Cunha 
Paulo Vasques de Miranda
DESIGN INSTRUCIONAL
Anna Maria Osborne
Mariana Pereira de Souza
EDITOR
Fábio Rapello Alencar
REVISÃO LINGUÍSTICA 
E TIPOGRÁFICA
Anna Maria Osborne 
Beatriz Fontes
Flávia Saboya 
Mariana Caser 
Mariana Pereira de Souza
Yana Gonzaga
COORDENAÇÃO 
DE PRODUÇÃO
Bianca Giacomelli
PROGRAMAÇÃO VISUAL
Alessandra Nogueira
Camille Moraes
Larissa Averbug
Ronaldo d'Aguiar Silva
ILUSTRAÇÃO
Clara Gomes
CAPA
Clara Gomes
PRODUÇÃO GRÁFICA
Patrícia Esteves
Ulisses Schnaider
P853
Português IV. v. 1 / Ronaldo Amorim Lima... [et al]. – Rio de 
Janeiro: CECIERJ, 2014.
190 p.; il. 19 x 26,5 cm
ISBN: 978-85-7648-971-9
1. Português. 2. Morfologia. 3. Flexão verbal. 4. Flexão nominal. I. 
Feres, Beatriz dos Santos. II. Franco, Cláudia. III. Azevedo, Leandro 
Santos de. IV. Lopes, Monclar Guimarães. V. Pereira, Pâmella Alves.
VI. Menezes, Vanda Maria Cardozo de. VII. Título.
CDD: 469
Universidades Consorciadas
Governo do Estado do Rio de Janeiro
Secretário de Estado de Ciência e Tecnologia
Governador
Alexandre Vieira
Luiz Fernando de Souza Pezão
UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO 
NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO
Reitor: Silvério de Paiva Freitas
UERJ - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO 
RIO DE JANEIRO
Reitor: Ricardo Vieiralves de Castro
UNIRIO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO 
DO RIO DE JANEIRO
Reitor: Luiz Pedro San Gil Jutuca
UFRRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL 
DO RIO DE JANEIRO
Reitora: Ana Maria Dantas Soares
UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO 
RIO DE JANEIRO
Reitor: Carlos Levi
UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
Reitor: Roberto de Souza Salles
CEFET/RJ - CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO 
TECNOLÓGICA CELSO SUCKOW DA FONSECA
Diretor-geral: Carlos Henrique Figueiredo Alves
IFF - INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, 
CIÊNCIA E TECNOLOGIA FLUMINENSE
Reitor: Luiz Augusto Caldas Pereira
Aula 1 – O que é e o que interessa à Morfologia? ______________________7
 Ronaldo Amorim Lima / Vanda Maria Cardozo de Menezes
Aula 2 – O conceito de morfema e o modo pelo qual se 
 pode depreendê-lo ____________________________________ 27
 Ronaldo Amorim Lima / Pâmella Alves Pereira
Aula 3 – Alguns princípios da análise mórfi ca _______________________ 41
 Ronaldo Amorim Lima / Beatriz dos Santos Feres
Aula 4 – Conceito de palavra ___________________________________ 55
 Ronaldo Amorim Lima / Beatriz dos Santos Feres
Aula 5 – Os morfemas na estrutura verbal e nominal __________________ 71
 Leandro Santos de Azevedo / Ronaldo Amorim Lima
Aula 6 – Flexões da língua portuguesa. O que é fl exão nominal? _________ 85
 Beatriz dos Santos Feres / Ronaldo Amorim Lima
Aula 7 – Flexões da língua portuguesa. A fl exão nominal de gênero _____ 103
 Cláudia Franco / Ronaldo Amorim Lima
Aula 8 – Categorias, fl exões e usos do verbo _______________________ 117
 Leandro Santos de Azevedo / Ronaldo Amorim Lima
Aula 9 – O Mecanismo da fl exão verbal I _________________________ 135
 Monclar Guimarães Lopes / Ronaldo Amorim Lima
Aula 10 – O Mecanismo da fl exão verbal II ________________________ 165
 Monclar Guimarães Lopes / Ronaldo Amorim Lima
Referências ______________________________________________ 185
Português IV
SUMÁRIO
Volume 1
ob
jet
ivo
s
Meta da aula 
Apresentar o conceito de Morfologia, suas 
subespecifi cações, bem como suas relações com 
outras disciplinas do campo linguístico.
Esperamos que, ao fi nal desta aula, você seja 
capaz de:
1. proceder ao estudo do objeto da Morfologia:
a palavra;
2. identifi car as interfaces da Morfologia com 
outras disciplinas do campo linguístico;
3. distinguir as subespecifi cações da Morfologia.
O que é e o que 
interessa à Morfologia? 
Ronaldo Amorim Lima
Vanda Maria Cardozo de Menezes 1AULA
Português IV | O que é e o que interessa à Morfologia?
C E D E R J8
Para dar início ao nosso curso e responder à pergunta efetuada no nosso título, 
vamos estabelecer que todo estudo científi co se defi ne de acordo com o seu 
objeto de estudo, bem como pelo foco sob o qual tal objeto é analisado. 
Por exemplo, a Psicologia tem o homem como objeto de estudo, tendo como 
foco a sua mente. Já a Antropologia utiliza-se do mesmo objeto (o homem) 
para estudar seu comportamento. Essa disciplina, por sua vez, apresenta duas 
subespecifi cações, a Antropologia Física (que se relaciona com a Biologia, 
considerando, portanto, os aspectos biológicos) e a Antropologia Social (que 
se relaciona com a Sociologia, tendo em vista os aspectos culturais).
E a Morfologia? O que interessa a essa disciplina? Como ela se defi ne em relação 
a outras disciplinas linguísticas? Quais são suas subespecifi cações?
Essas são as indagações que dão início ao nosso estudo de Morfologia da 
língua portuguesa. Estamos certos de que muitos de vocês farão interessantes 
descobertas sobre a estruturação e o signifi cado das palavras de nossa língua.
INTRODUÇÃO 
9C E D E R J
MORFOLOGIA: CONCEITO E OBJETO
Ao realizarmos a A N Á L I S E M Ó R F I C A da palavra morfologia, con-
cluiremos que se trata do estudo da F O R M A . Essa defi nição é, entretanto, 
muito ampla, já que outras ciências, tais como a Botânica e a Biologia 
Humana, também têm uma disciplina chamada Morfologia que se ocupa 
do estudo da forma, tendo outros objetos como foco. Devemos entender, 
portanto, o que signifi ca forma para uma disciplina da Linguística.
Observe a imagem a seguir. Temos ali a representação de um 
objeto de estudo da Morfologia, na área da Botânica, e a forma como 
este objeto é visto por essa disciplina.
A Morfologia, na área da Botânica, estuda a estrutura dos vegetais, 
executando, assim, o que se chama de análise mórfi ca. Do mesmo modo 
que, no campo linguístico ou gramatical, a Morfologia executa análises 
mórfi cas das palavras.
Vamos utilizar como exemplo a palavra relógio. Qualquer um de 
nós, que temos a língua portuguesa como língua materna, é capaz de 
reconhecer esse segmento como um nome que utilizamos para designar 
determinado aparelho, cuja função é marcar o tempo e indicar as horas. 
Esse reconhecimento instantâneo ocorre porque, ao segmento fônico, 
constituído por sete fonemas e aqui expresso pela escrita, se associa 
um dado signifi cado. Desse modo, o segmento “relógio” constitui uma 
forma da língua portuguesa.
ANÁLISE MÓRFICA
Consiste na descri-
ção da estrutura do 
vocábulo mórfi co, 
depreendendo suas 
formas mínimas ou 
morfemas, de acordo 
com uma signifi ca-
ção e uma função 
elementares que lhes 
são atribuídasdentro 
da signifi cação e da 
função do vocábulo 
(KOCH; SILVA, 
2002, p. 20).
FO R M A
Designação geral 
para um fonema ou 
sequência fonêmica 
providos de signifi -
cação; é assim que 
se estabelece numa 
língua dada entre 
a parte fônica, ou 
signifi cante, e a 
representação que a 
ela corresponde na 
linguagem, ou sig-
nifi cado (CÂMARA 
JR., 1974, p. 184).
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Português IV | O que é e o que interessa à Morfologia?
C E D E R J10
E se acrescentássemos um -s à palavra relógio, formando a 
palavra relógios? Adicionou-se, então, mais um segmento fônico que 
agrega à estrutura do vocábulo o valor plural. Sendo assim, esse fone-
ma fi nal, representado na escrita pela letra s, constitui também uma 
forma da língua.
O conceito de Morfologia como estudo das formas da língua impli-
ca considerar uma das faces das unidades linguísticas – o signifi cante –,
enquanto a outra face – o signifi cado – fi ca a cargo da Semântica, a 
contraparte da análise mórfi ca.
Signifi cado e signifi cante são os componentes de uma mesma entidade: 
o signo linguístico. FE R D I N A N D D E SA U S S U R E (2008) enfatiza o caráter 
concreto do signifi cante, considerado como uma imagem acústica que 
manifesta algo que signifi ca, e o caráter abstrato do signifi cado, toma-
do como parte conceitual do signo. As unidades da língua em todos os 
níveis (frase, palavra, morfema) são signos e, portanto, apresentam-se 
com signifi cante e signifi cado.
O livro de Ferdinand de Saussure, Curso de Linguística Geral, 
encontra-se disponível no endereço: http://uepaingles1.
fi les.wordpress.com/2011/03/curso-de-linguc3adstica-geral-
saussure1.pdf.
FE R D I N A N D 
D E SA U S S U R E 
(1857-1913)
A obra póstuma 
do linguista suíço, 
Curso de Linguística 
Geral (1916), é tida 
como o marco inau-
gural da Linguística 
Moderna – com a 
fase estruturalista 
dos estudos da 
linguagem. O livro 
traz os pressupostos 
teórico-metodoló-
gicos dessa escola, 
que terminaram por 
infl uenciar outras 
ciências humana. 
11C E D E R J
A defi nição de Morfologia como estudo das formas da língua 
também requer que se indique em que níveis da estrutura da língua se 
encontram as formas a serem analisadas. Há formas em diferentes níveis 
de construção. O -s que indica o plural é uma forma que se encontra 
em um nível abaixo ao nível da palavra. Em outras palavras, se con-
siderarmos a forma plural casas, é fácil percebermos que é possível, 
inicialmente, dividi-la em duas partes: casa + s. A primeira parte (casa) 
é reconhecidamente uma palavra, encontra-se no nível da palavra. Já a 
segunda parte da divisão proposta (s) não pode ser considerada nesse 
nível, pois ela sozinha não constitui uma palavra.
Consideremos, em seguida, a expressão relógio de parede. Toda 
essa expressão também é uma forma da língua portuguesa, mas, agora, 
temos um elemento que ultrapassa o nível da palavra. Temos agora três 
palavras que, reunidas, constituem um signifi cado próprio. A palavra 
relógio remete ao vago signifi cado de algum objeto utilizado para marcar 
as horas. A forma relógio de parede, por outro lado, mais específi ca, 
remete-nos a um objeto utilizado para marcar as horas e que fi ca preso 
à parede e, preferencialmente, em algum lugar bem visível. Essa forma 
pode se contrapor a formas como relógio de pulso, relógio de praça, 
relógio de bolso etc. Em todas elas, ultrapassa-se do nível da palavra 
(relógio) para o nível do sintagma (relógio de parede etc.).
Nada impede que tenhamos, portanto, uma Morfologia que atua 
em níveis acima do nível da palavra, em interface com a Sintaxe, como 
veremos na próxima seção. Mas, se quisermos realizar um estudo mor-
fológico no sentido mais estrito, precisaremos trabalhar em um nível 
abaixo do sintagma, o nível da palavra. É nesse nível que se situam, 
tradicionalmente, os estudos em Morfologia. Sendo assim, vamos man-
ter essa delimitação, pois a consideramos adequada para uma descrição 
mórfi ca básica de nossa língua.
Como você já estudou em Sintaxe, o nível dos sintagmas situa-se entre o 
nível dos vocábulos e o da oração. Os sintagmas são grupos de vocábulos 
construídos para funcionar na estrutura da oração, ou vocábulos que, 
sozinhos, podem assumir função na oração.
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Português IV | O que é e o que interessa à Morfologia?
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Azuaga (1996, p. 216), considerando apenas a palavra como obje-
to de estudo da Morfologia, afi rma que essa disciplina “analisa, então, 
as formas das palavras, ou melhor, as alterações sistemáticas na forma 
destas unidades, alterações essas que estão relacionadas com mudanças 
no sentido das mesmas”.
Você deve estar se perguntando então: O que se pode entender por 
alterações sistemáticas nas formas das palavras?
Vamos tentar entender isso, utilizando os exemplos de palavras 
derivadas e fl exionadas, apresentados no seguinte quadro:
1a
cerveja livro peixe sapato
cervejeiro livreiro peixeiro sapateiro
cervejaria livraria peixaria sapataria
1b
cerveja livro peixe sapato
cervejas livros peixes sapatos
Antes de você continuar a leitura, tente fazer sua própria análise 
dos dois pequenos quadros expostos e verifi car o que ocorreu com as 
palavras das linhas inferiores às primeiras, criando, assim, suas pró-
prias conclusões.
Veja que, em 1a, identifi cam-se seis diferentes formas que cor-
respondem a seis diferentes signifi cados. É possível constatar que, nesse 
grupo, as alterações produzidas na palavra cerveja também são possíveis 
em livro, em sapato e em peixe, obtendo-se resultados semelhantes, que 
se relacionam tanto do ponto de vista da forma, como do signifi cado 
(acréscimo da forma -eiro, para nomear profi ssional que trabalha ou lida 
com certo tipo de produto, e da forma -aria, para nomear o estabeleci-
mento que comercializa determinada mercadoria).
13C E D E R J
Já em 1b, é possível afi rmar que as palavras cerveja, livro, peixe 
e sapato passaram pelo mesmo processo de alteração formal, isto é, na 
sua forma, e semântica, isto é, no seu signifi cado: o acréscimo de um 
segmento fônico representado pelo -s para indicar a fl exão de plural.
Acabamos de apresentar, então, alguns exemplos de como certas 
alterações na forma das palavras se relacionam a certas alterações no 
sentido delas. Essas alterações morfológicas são classifi cadas como sis-
temáticas por serem recorrentes e regulares, isto é, são muito utilizadas 
na língua portuguesa.
Deve-se ter em consideração, entretanto, que, embora sistemáticas, 
as alterações do quadro 1a não se aplicam a todas as palavras da língua 
portuguesa e, mesmo quando ocorrem, nem sempre levam aos mesmos 
signifi cados apresentados. 
Você deve estar agora questionando se as alterações do quadro 1b 
se aplicam a todas as palavras da língua. A resposta é não! O acréscimo 
do segmento fônico representado pelo -s ocorre na maior parte dos 
substantivos e adjetivos da língua, o que faz com que essa ocorrência seja 
considerada como regra geral. Entretanto, existem palavras cujo plural 
pode se formar pelo acréscimo de -es (por exemplo: repórter/repórteres, 
vez/vezes, mês/meses etc.), pela eliminação do -l fi nal e pelo acréscimo 
de -is, (por exemplo: anel/anéis, anzol/anzóis, azul/azuis etc.) ou ainda 
não ocorrer (tênis, tórax etc.). Veremos esse assunto mais tarde.
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Português IV | O que é e o que interessa à Morfologia?
C E D E R J14
Atende ao Objetivo 1
1. Analise o quadro a seguir, comparando com as modifi cações morfológicas 
e semânticas ocorridas no quadro 1a. 
1c
banco carta enfermo pizza porta
banqueiro carteiro enfermeiro --- porteiro
--- --- enfermaria pizzariaportaria
2. Se realizássemos a análise mórfi ca da palavra sorveteria, verifi caríamos 
que ela é formada a partir da palavra sorvete com a acréscimo da termi-
nação -aria, do mesmo modo como ocorre com cerveja, peixe etc. A partir 
da palavra sorvete, obtemos também a palavra sorveteiro. Esse mesmo 
processo de formação de palavra acontece em cervejeiro, pedreiro etc. 
Observe, agora, as palavras a seguir e tente analisá-las da mesma forma 
como fi cou exposto. Será que os processos se repetem em todas elas? 
a) marceneiro 
b) carpinteiro
c) pedreiro
d) açúcar
ATIVIDADE
15C E D E R J
RESPOSTAS COMENTADAS
1. A forma -aria não se junta às formas banco e carta. 
Enfermeiro não comercializa enfermos, mas cuida de enfermos, 
do mesmo modo que enfermaria não é um local que comercializa 
enfermos.
Embora a mercadoria pizza seja comercializada em uma pizzaria, 
o indivíduo que produz ou que comercializa esse alimento não é 
chamado de *pizzeiro.
Porteiro não é aquele que vende portas, mas o trabalhador que 
cuida de uma portaria, do mesmo modo que portaria não é a loja 
em que se vendem portas, mas o local de entrada e saída de um 
condomínio ou de uma empresa.
2. a) Marceneiro é o indivíduo que faz trabalhos com madeira em 
uma marcenaria. As duas palavras, entretanto, não têm nenhuma 
relação com algum termo semelhante a *marcena.
b) Carpinteiro é também um indivíduo que faz trabalhos com 
madeira em uma carpintaria. Do mesmo modo que as palavras 
da atividade 1, essas duas palavras não têm nenhuma correspon-
dência com *carpinta.
c) Pedreiro é o trabalhador que lida com obras, pedras; pedraria, 
entretanto, não é o lugar onde se comercializa ou se trabalha com 
pedras, ou ainda o lugar onde o pedreiro desempenha seu trabalho, 
mas sim uma porção de pedras preciosas.
d) Açucareiro não é o indivíduo que trabalha com açúcar, mas sim 
o recipiente em que se coloca o açúcar para ser servido. A palavra 
*açucaria não faz parte do léxico da língua portuguesa.
A MORFOLOGIA EM INTERFACE COM OUTRAS DISCIPLINAS
Já vimos, no início desta aula, que as disciplinas se diferenciam 
pelo seu objeto específi co ou pelo ângulo por meio do qual se observa 
determinado objeto. Entretanto, ao mesmo tempo em que se delimita 
uma determinada disciplina, nota-se que ela se relaciona com outras de 
um mesmo campo, de tal modo que as fronteiras estabelecidas entre essas 
disciplinas se tornam tênues, frágeis, e apenas servem como marcações 
para que possamos ter certa noção de algumas especifi cações.
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Português IV | O que é e o que interessa à Morfologia?
C E D E R J16
O pesquisador Perini (1995, p. 49-50), com a fi nalidade de 
demonstrar o interrelacionamento entre quatro possibilidades do estudo 
dos fenômenos gramaticais, toma a frase “Ana desprezou Ricardo” e 
a analisa sob os pontos de vista que delimitam quatro disciplinas do 
campo da gramática: a Fonologia, a Morfologia, a Sintaxe e a Semântica.
Você estudou os assuntos relacionados a essas disciplinas nos Ensinos 
Fundamental e Médio e, nos dois semestres anteriores a este, você 
aprofundou seus estudos sobre Sintaxe da língua portuguesa. Vamos 
relembrar, entretanto, do que trata cada uma dessas disciplinas que se 
relacionam com a Morfologia:
Fonologia – parte da Linguística que estuda os sons da fala (fonemas) do 
ponto de vista de sua função na língua.
Sintaxe – parte da Linguística que estuda as palavras enquanto elementos 
de uma oração, bem como suas relações de concordância, de subordi-
nação e de ordem.
Semântica – parte da Linguística que se ocupa do estudo da signifi cação 
como parte dos sistemas das línguas naturais.
Menezes (2008), seguindo os passos de Perini, utiliza a frase 
destacada a seguir e a analisa: 
O menino ganhou um carrinho.
a) Sob o ponto de vista da Fonologia, verifi cam-se as regras que 
nos obrigam a pronunciar de um certo modo cada segmento fônico, 
bem como as variações de pronúncia que os falantes da língua adotam 
e que podem caracterizar diferentes comunidades ou grupos sociais. Será 
possível observar, por exemplo, que a pronúncia do primeiro o (artigo 
defi nido masculino singular que inicia a frase) poderá ser [ô] – vogal 
média posterior fechada -ou [u] – vogal alta posterior. O mesmo ocorre 
com a pronúncia do segmento fônico representado pelo o fi nal das pala-
vras menino e carrinho. Verifi cam-se também as variações na pronúncia 
da vogal da primeira sílaba de menino [é], [ê] ou [i], bem como o tipo de 
norma que direciona a preferência por uma ou outra pronúncia no portu-
guês brasileiro (os falantes do Nordeste do Brasil optam pela realização 
aberta [é], enquanto os do Sudeste, pela realização fechada [ê] ou [i]).
17C E D E R J
b) Pela ótica da Morfologia, é possível observar que muitos vocá-
bulos são passíveis de uma análise em unidades signifi cativas menores. 
Por exemplo, no vocábulo ganhou, reconhece-se o elemento ganh- (tam-
bém presente em ganhei, ganhar, ganhador) e o elemento -ou (presente 
em cantou, falou, dançou). Os dois elementos identifi cados, ganh- e 
-ou, se associam para indicar um dado acontecimento no passado. Essa 
combinação desses dois elementos ocorre segundo regras que impedem 
formações, como *meninou e *carrou, mas que permitem outras for-
mações, como menininho e carrinho.
c) Pelo ponto de vista da Sintaxe, o interesse se volta para o modo 
como as palavras se associam para construir a frase. Essas associações 
ocorrem em diferentes níveis. O primeiro elemento da frase, o artigo 
defi nido o, se associa, de imediato, ao segundo, o nome menino, do 
mesmo modo que o artigo indefi nido um está primeiramente associado 
ao nome carrinho. Verifi ca-se, em seguida, que a construção o menino 
se associa à forma verbal ganhou e, nessa relação com o verbo, assume 
a função de sujeito; também a unidade constituída por um carrinho se 
associa ao verbo para constituir seu complemento. Desse modo, o resul-
tado das associações do sujeito, o verbo e o complemento, é um exemplo, 
digamos, perfeito do que normalmente se chama oração.
d) Pela Semântica, observaremos o signifi cado transmitido pela 
frase. É possível identifi carmos o sentido do verbo ganhar em um con-
texto com um sujeito benefi ciário (aquele que recebeu algum benefício ou 
ganho) e com um complemento que expressa o objeto recebido (aquilo 
que se ganhou).
Agora você já deve estar imaginando de que forma essas quatro 
disciplinas encontram-se interrelacionadas. Vamos observar alguns 
pontos de interface com a Morfologia.
Em Linguística, utiliza-se o asterisco (*) para indicar formações agramaticais, 
ou seja, formações inaceitáveis.
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Português IV | O que é e o que interessa à Morfologia?
C E D E R J18
São frequentes as alterações fonológicas nos elementos (R A D I C A L 
e A F I X O S ) que fazem parte da estrutura das palavras. Na formação da 
palavra livreiro, por exemplo, identifi ca-se a perda da vogal fi nal o da 
base livro. Já na forma fl exionada amamos, verifi ca-se que a pronúncia 
do segundo a é nasalada, por ser ele tônico e estar logo antes da conso-
ante nasal que inicia a forma -mos. Fica-se, assim, diante de contextos 
de interface Morfologia/Fonologia. 
Observa-se ainda que, dentre as alterações nas formas das pala-
vras, muitas decorrem de suas associações com outras palavras na 
estrutura da frase. As relações de concordância são exemplos de fatos 
sintáticos com repercussão morfológica. Na frase “As meninas chega-
ram”, o -s fi nal em as e em meninas, assim como a terminação -ram em 
chegaram, são elementos mórfi cos que expressam a relação de concor-
dância, caracterizando a interface Morfologia/Sintaxe.
Ao analisarem-seassociações de morfemas sufi xais diferentes a 
determinado radical (como, por exemplo, associando-se o radical pedr- aos 
sufi xos -eiro, -aria, -inha, -ada, obtêm-se as palavras pedreiro, pedraria, 
pedrinha, pedrada), observa-se que essas combinações provocam alterações 
de sentido, o que comprova a interface Morfologia/Semântica.
RA D I C A L 
O U BA S E
É, considerando-se 
apenas a sincronia 
atual, o elemento 
comum destacado 
através da compara-
ção de uma série de 
palavras com base 
idêntica. Por exem-
plo, na série triste, 
tristeza, tristemente e 
tristonho, o elemen-
to comum é trist-, 
portanto, o radical 
(HENRIQUES, 
2011, p. 17).
AF I X O S
São morfemas (ele-
mentos mórfi cos) 
não autônomos. 
Dividem-se em 
prefi xos, sufi xos e 
infi xos e são usados 
no processo de deri-
vação de palavras 
(por exemplo: alegre 
– alegria – alegrar, 
feliz – infeliz – infe-
lizmente etc.), ou 
para fl exioná-las 
em número, gênero, 
tempo, modo etc.
Atende ao Objetivo 2
3. Procure realizar essas atividades logo após a leitura da seção anterior, 
evitando, inicialmente, consultar o texto. Caso você tenha difi culdade 
em lembrar, retorne ao texto, faça uma releitura mais cuidadosa e tente 
novamente.
Identifi que a disciplina linguística a que pertencem os seguintes trechos:
a) “Falar uma língua é, basicamente, produzir sequências de sons dotadas 
de signifi cado” (AZEREDO, 2010, p. 23). 
ATIVIDADE
19C E D E R J
b) “Apesar de já haver no início do século [XX] [...] a consciência de que 
as regras de colocação pronominal brasileiras divergem das portuguesas, 
as gramáticas prescritivas atuais ainda estabelecem normas que, aparen-
temente, se aplicariam tanto no Brasil quanto em Portugal“ (VIEIRA apud 
VIEIRA; BRANDÃO, 2009, p. 124).
c) “De acordo com a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), as vogais 
são classifi cadas de acordo com quatro critérios: quanto à zona de articu-
lação, à intensidade, ao timbre e ao papel das cavidades bucal e nasal“ 
(BECHARA, 2009, p. 60).
d) “A derivação prefi xal é um processo de criação lexical que consiste na 
formação de uma nova palavra através do acréscimo de um prefi xo a uma 
base já existente” (ROCHA, 2008, p. 147).
e) Conotação é o uso da palavra com um signifi cado criado pelo contexto 
e diferente do original, criado pelo contexto. Por exemplo, na frase “Você 
tem um coração de pedra”, a palavra “pedra” não signifi ca “matéria mineral 
sólida, dura, encontrada na natureza etc.”
f) “Consideremos agora o verbo ‘descontar’. Poderíamos analisá-lo como 
uma palavra derivada por prefi xação, como ‘desmontar’ e ‘descarregar’? 
Se pensarmos assim, estaremos dizendo que ‘descontar’ é o oposto de 
‘contar’, o que é discutível [...]” (AZEREDO, 2010, p. 95).
RESPOSTA COMENTADA
3. a) Sons dotados de signifi cados em uma língua constituem o 
objeto de estudo da Fonologia.
b) Regras de colocação são um dos temas de interesse da Sintaxe.
c) As características das vogais de uma língua são estudadas pela 
Fonologia.
d) A formação de palavras é estudada pela Morfologia.
e) O signifi cado das palavras faz parte dos estudos de Semântica.
f) A formação de palavras é estudada pela Morfologia.
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Português IV | O que é e o que interessa à Morfologia?
C E D E R J20
SUBESPECIFICAÇÕES DA MORFOLOGIA
Conforme dissemos anteriormente, são frágeis as fronteiras entre 
as disciplinas linguísticas. Assim também são as fronteiras entre as sub-
divisões dessas disciplinas.
Com base em algumas distinções teóricas, pode-se falar em Mor-
fologia Sincrônica e Morfologia Diacrônica, assim como também em 
Morfologia Derivacional e Morfologia Flexional.
Vejamos o que afi rma Dubois (1978, p. 181) sobre a primeira divisão, 
que tem como base a concepção de sincronia e diacronia: “A língua pode 
ser analisada como um sistema que funciona num determinado momento 
do tempo (sincronia) ou então analisada em sua evolução (diacronia)”.
A distinção entre sincronia e diacronia foi explicitada na primeira edição 
da obra Curso de Linguística Geral, de Ferdinand de Saussure, em 1916. O 
link para acessar essa obra de indispensável valor para quem se interessa 
pelos estudos linguísticos encontra-se disponível no início desta aula.
Um exemplo de olhar diacrônico sobre a língua portuguesa pode 
ser dado pela observação da ampliação do sistema de pronomes pessoais 
em relação ao latim. Nesta língua, de acordo com Câmara Jr. (1979, 
p. 92), não havia os pronomes pessoais retos de terceira pessoa – ele/ela; 
eles/elas.
Assim como a Morfologia, as outras disciplinas da Linguística (a Fono-
logia, a Sintaxe e a Semântica) também possuem estudos sincrônicos 
e diacrônicos.
21C E D E R J
Temos, por outro lado, um olhar sincrônico ao fi xarmos, por 
exemplo, no quadro dos pronomes pessoas em determinado momento 
da língua, sem nos preocuparmos com as modifi cações por que tenha 
passado esse quadro anteriormente ou posteriormente àquele momento.
São esses, portanto, dois olhares diferentes que na prática descri-
tiva se complementam.
Os atuais estudos sobre gramaticalização vêm reforçar a importância 
da visão diacrônica ou histórica da língua para a explicação de muitos 
itens e fenômenos gramaticais. Se você quiser saber mais sobre gramati-
calização, procure e consulte a obra Linguística: fundamentos (WILSON; 
MARTELOTTA; CEZÁRIO, 2006).
A segunda divisão da Morfologia baseia-se na distinção entre fl exão 
e derivação. A fl exão é uma operação de caráter mais gramatical, é mais 
sistemática, regular. É fácil observar fl exão de número (singular – plural), 
em que o acréscimo do -s é marca geral (casas, estudantes, meninos etc.). 
A fl exão dos verbos também apresenta um paradigma (modelo) bastante 
regular de sufi xos para indicar as noções de modo/tempo (sufi xos modo-
-temporais) e de número/pessoa (sufi xos número-pessoais).
Quando presentes nas formas verbais, os sufi xos sempre se apresentam 
na ordem: sufi xo modo-temporal e sufi xo número-pessoal.
A derivação é uma operação de caráter menos gramatical e é menos 
regular e menos sistemática. Tomemos como exemplo a possibilidade 
da formação de nomes a partir de verbos. Para esse fi m, os sufi xos mais 
produtivos, isto é, mais utilizados, são -mento e -ção, não sendo possível 
explicar as razões da preferência por um ou por outro, como se verifi ca 
nas palavras: questionamento, aparecimento, comprometimento etc./
condenação, revelação, internação etc.
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Português IV | O que é e o que interessa à Morfologia?
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Outros sufi xos derivacionais são também muito produtivos, como, 
por exemplo: a) -mente, na formação de advérbios de modo a partir de 
adjetivos (constante/constantemente, feliz/felizmente, possível/possivel-
mente etc.); b) -dade, na formação de substantivos a partir de adjetivos 
(bom/bondade, fácil/facilidade, leal/lealdade etc.); c) -ência, na formação 
de substantivos a partir de verbos (conferir/conferência, gerir/gerência, 
depender/dependência, transigir/transigência etc.); d) -vel, na formação 
de adjetivos a partir de verbos (realizar/realizável, amar/amável, adorar/
adorável, perder/perdível, resumir/resumível etc.).
Estudaremos esses e outros sufi xos, um pouco mais a fundo, em 
uma de nossas próximas aulas.
CONCLUSÃO
Por ser esta disciplina aquela que descreve e analisa a estrutura 
e a formação das palavras, tendo o morfema (a unidade mínima de sig-
nifi cação de uma língua) como seu objeto principal, é de fundamental 
importância o conhecimento desse estudo para aqueles que objetivam 
trabalhar no ensino de uma língua e compreender os mecanismos gra-
maticais e de formações lexicais dessa língua.
23C E D E R J
ATIVIDADE FINAL
Atendeaos Objetivos 1, 2 e 3
Vamos agora realizar alguns exercícios para relembrarmos os conceitos aqui 
apresentados e as distinções estabelecidas.
1. Pode-se segmentar (separar) uma palavra de diversas formas, de modo a se 
realizarem diferentes análises. Tomando-se a palavra infelizmente como exemplo, 
é possível dividi-la em: (a) i-n-f-e-l-i-z-m-e-n-t-e, de modo a identifi car e contar 
quantas letras a formam (divisão ortográfi ca); (b) in-fe-liz-men-te, para identifi car 
e contar suas sílabas (separação de sílabas); (c) in-feliz-mente, com o objetivo de 
distinguir seus elementos mórfi cos (separação de elementos mórfi cos). Observe 
as segmentações realizadas nas palavras a seguir, identifi cando o tipo de objetivo 
que se teve.
a) tapeçaria (ta-pe-ça-ri-a) 
b) imoral (i-moral)
c) menino (m-e-n-i-n-o)
d) maldade (mal-dade)
e) renovar (re-no-var)
f) reter (r-e-t-e-r)
2. Vamos realizar as mesmas alterações morfológicas nos vocábulos de cada 
grupo, conforme exemplo dado, de modo a comprovar que elas são alterações 
sistemáticas.
a) administrar – internar – apelar – orar 
R.: administração – _______________ – ______________ – ______________
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Português IV | O que é e o que interessa à Morfologia?
C E D E R J24
b) pato – gato – moço – menino 
R.: patinho – ______________ – ______________ – ______________ ou 
patos – ______________ – ______________ – ______________
c) vender – plantar – descobrir – marcar 
R.: vendedor – ______________ – ______________ – ______________ ou
revender – ______________ – ______________ – ______________
d) fi el – feliz – comum – correto 
R.: infi el – ______________ – ______________ – ______________ ou
fi elmente – ______________ – ______________ – ______________
3. Apresentamos, a seguir, cinco comentários de diferentes autores para que 
você identifi que os pontos de vista adotados, considerando as distinções entre as 
disciplinas gramaticais (Fonologia, Morfologia, Sintaxe e Semântica) e as noções 
de sincronia e diacronia.
a) “Um exemplo de gramaticalização é o nosso tempo futuro, que foi formado 
pela junção de um verbo mais o auxiliar haver. Assim, cantar hei, cantar hás, por 
exemplo, com a repetição de uso, se tornaram cantarei e cantarás“ (CEZÁRIO, 
2006, p. 142).
b) “O subjuntivo, incluindo o imperativo, assinala uma tomada de posição subjetiva 
do falante em relação ao processo verbal comunicado“ (CÂMARA JR., 1979, p. 89).
c) “Assim, no Rio de Janeiro, pronuncia-se /t/ e /d/ diante de /i/ tônico de uma 
maneira “soprada“ (dita “africada“), em contraste com a dental fi rme que aparece 
em São Paulo“ (CÂMARA JR., 1979, p. 25).
d) “Na palavra reconsideração, temos o acréscimo de -ção ao verbo reconsiderar, 
o qual já é formado pelo acréscimo do prefi xo re- ao verbo considerar“ (BASÍLIO, 
1987, p. 44).
25C E D E R J
e) “No quadro tônico, as dez vogais latinas evoluíram para um quadro triangular de 
sete vogais: houve confl uências e diferenciações que modifi caram todo o sistema 
de oposições latinas“ (CÂMARA JR., 1979, p. 92).
RESPOSTAS COMENTADAS
1. a) ta-pe-ça-ri-a – separação de sílabas 
b) imoral (i-moral) – separação de elementos mórfi cos
c) menino (m-e-n-i-n-o) – separação de letras
d) maldade (mal-dade) – separação de elementos mórfi cos
e) renovar (re-no-var) – separação de sílabas
f) reter (r-e-t-e-r) – separação de letras
2. a) Ao acrescentarem-se os sufi xos -ção (administração – lavação – apelação – 
oração) àquelas formas verbais, formam-se substantivos.
b) O acréscimo dos sufi xos -inho (patinho – gatinho – mocinho – menininho) ou 
-s (patos – gatos – moços – meninos), aos substantivos apresentados, produz, 
respectivamente, o grau diminutivo ou o número plural.
c) Acrescentando-se o sufi xo -dor (vendedor – plantador – descobridor – marca-
dor) ou o prefi xo re- (revender – replantar – redescobrir – remarcador), obtêm-se, 
respectivamente, formas substantivas ou novas formas verbais.
d) Pelo acréscimo do prefi xo in- (infeliz – infi el – incomum – incorreto) ou do sufi xo 
-mente (felizmente – fi elmente – comumente – corretamente), chega-se à formação, 
respectivamente, de novas formas adjetivos ou de formas adverbiais.
Observação: Outras respostas são possíveis. Por exemplo, a fl exão verbal é possível 
nos itens (a) e (c). Uma dessas fl exões seria o acréscimo do sufi xo -mos para pro-
duzir a forma verbal correspondente à primeira pessoa do plural. Assim, teríamos: 
administramos, lavamos, perdemos, vendemos, plantamos e descobrimos.
3. a) A história das alterações das palavras é assunto tratado pela Morfologia 
Diacrônica.
b) O comentário se refere ao sentido atual de um modo verbal (o subjuntivo). Por-
tanto, trata-se de Semântica Sincrônica.
c) O texto apresenta comparações entre as realizações atuais da fala do Rio de 
Janeiro e a de São Paulo. Trata-se, então, de Fonologia Sincrônica.
d) O comentário se refere a uma possível alteração morfológica da língua portuguesa 
atual. Esse assunto é da competência da Morfologia Sincrônica.
e) Esse texto apresenta comentários sobre a evolução do quadro de vogais tônicas 
latinas. Trata-se, assim, de assunto da área da Fonologia Diacrônica.
Observação: Uma possível resposta para o item (a) seria considerar como caso de 
Sintaxe Diacrônica.
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Português IV | O que é e o que interessa à Morfologia?
C E D E R J26
INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA 
Na próxima aula, abordaremos o conceito de morfema, apresentaremos o método 
de comutação como forma de depreensão dessa unidade, além das noções de 
morfe e de morfema zero.
R E S U M O
A Morfologia é um estudo que se ocupa da descrição e da análise da estrutura e 
da formação das palavras. Essa disciplina tem relações muito próximas com outras 
do campo gramatical, tais como a Fonologia, a Sintaxe e a Semântica, sendo esta 
última – a que se ocupa do campo das signifi cações –, a mais próxima, uma vez 
que as formas estudadas pela Morfologia são aquelas pertencentes à primeira 
articulação da linguagem, isto é, as formas dotadas de valor semântico indivisível.
A Morfologia pode observar a evolução das palavras e elaborar comparações entre 
o comportamento delas em diferentes épocas, procedendo assim a um estudo 
diacrônico (Morfologia Diacrônica), como também observar as palavras em deter-
minadas épocas, confi gurando-se em um estudo sincrônico (Morfologia Sincrônica).
A Morfologia pode ser dividida em Morfologia Derivacional e Morfologia Flexional: 
a primeira se ocupa do estudo da formação de palavras (derivadas) pelo acréscimo 
de afi xos (prefi xos e sufi xos) a palavras já existentes (primitivas); a segunda estuda 
as fl exões de gênero e número nos substantivos e adjetivos (fl exão nominal) e as 
fl exões de tempo/modo e número/pessoa dos verbos (fl exão verbal).
ob
jet
ivo
s
Meta da aula 
Apresentar o conceito de morfema e uma das 
maneiras de depreendê-lo – método da comutação –, 
além das noções de morfe e morfema zero.
Esperamos que, ao fi nal desta aula, você seja 
capaz de:
1. reconhecer o morfema;
2. aplicar o método da comutação para depreensão 
dos morfemas;
3. relacionar e diferenciar morfema e morfe.
O conceito de morfema 
e o modo pelo qual se 
pode depreendê-lo 
Ronaldo Amorim Lima
Pâmella Alves Pereira 2AULA
Português IV | O conceito de morfema e o modo pelo qual se pode depreendê-lo
C E D E R J28
Figura 2.1: O morfema.
Tendo em vista o quadro anterior, é possível perceber que algumas das pala-
vras estão ainda tão ligadas à palavra primitiva (fumo) que nos fazem lembrar 
imediatamente dela, enquanto outras requerem um pouco de esforço mental 
para que procedamos à ligação. 
Ao analisarmos palavrascomo recontar, reabrir, reapresentar, repintar, recordar 
e repetir, concluiremos, facilmente, que a parte inicial de cada uma delas, o 
prefi xo re-, indica repetição de alguma ação, voltar a fazer algo. Desse modo, 
teríamos, respectivamente, “voltar a contar” ou “contar outra vez”, “voltar 
a abrir” ou “abrir outra vez”, “voltar a apresentar” ou “apresentar outra 
vez”, “voltar a pintar” ou “pintar outra vez”. Mas o que fazer para explicar 
recordar e repetir?
Enquanto para as quatro primeiras palavras faz-se uma análise sincrônica, 
um recorte em um mesmo período da língua, para compreender as formas 
(morfes) nelas presentes, para as duas últimas o recorte deve ter em conta 
períodos diversos da história da língua, de modo a depreender suas formas, 
fazendo-se uma análise diacrônica.
Esse parece ser um dos grandes problemas das gramáticas escolares e dos 
livros didáticos: utilizar ora explicações sincrônicas, ora diacrônicas.
Uma descrição exclusivamente sincrônica, no entanto, nem sempre apresen-
ta uma boa precisão. Por exemplo, pode-se depreender o S U F I X O -ada da 
palavra boiada (boi + -ada), mas essa mesma análise não parece ser tão fácil 
quando se estar diante do nome manada. Se bananeira deriva de banana e 
mangueira de manga, o que dizer de macaxeira? Veja que a resposta não é 
exatamente *macaxa.
Para entendermos melhor a análise mórfi ca, veremos a seguir o método da 
comutação para a depreensão do morfema. Antes, porém, é importante que 
saibamos o que é, exatamente, um morfema.
SU F I X O
Afi xo que se junta 
ao fi nal das palavras, 
fl exionando-as em 
gênero ou em núme-
ro (Exemplos: gato 
– gata, novo – nova; 
rosa – rosas, amor – 
amores) ou tempo, 
modo, número e 
pessoa (pelo proces-
so chamado de sufi -
xação ou derivação 
sufi xal), formando 
novas palavras da 
mesma classe grama-
tical ou não. 
INTRODUÇÃO 
29C E D E R J
O CONCEITO DE MORFEMA
Vamos ler, primeiramente, esta passagem da obra A escrava Isaura, 
de Bernardo Guimarães:
Entre estas últimas distinguia-se uma rapariguinha, a mais faceira 
e gentil que se pode imaginar nesse gênero. Esbelta e fl exível de 
corpo, tinha o rostinho mimoso, lábios um tanto grossos, mas 
bem modelados, voluptuosos, úmidos, e vermelhos como boninas 
que acabam de desabrochar em manhã de abril. Os olhos negros 
não eram muito grandes, mas tinham uma viveza e travessura 
encantadoras. Os cabelos negros e anelados podiam estar bem na 
cabeça da mais branca fi dalga de além-mar. Ela porém os trazia 
curtos e mui bem frisados à maneira dos homens. Isto longe de 
tirar-lhe a graça, dava à sua fi sionomia zombeteira e espevitada 
um chispe original e encantador. Se não fossem os brinquinhos de 
ouro, que lhe tremiam nas pequenas e bem molduradas orelhas, e 
os túrgidos e ofegantes seios que como dois trêfegos cabritinhos 
lhe pulavam por baixo de transparente camisa, tomá-la-íeis por 
um rapazote maroto e petulante. Veremos em breve de que ralé 
era esta criança, que tinha o bonito nome de Rosa.
Fonte: GUIMARÃES, B. A escrava Isaura. Disponível em: http://www.portal-
saofrancisco.com.br/alfa/bernardo-guimares/escrava-isaura-3.php. Acesso 
em: 30 dez. 2012.
O parágrafo transcrito é composto por oito frases. Cada uma 
possui um conteúdo e, todas juntas, compõem o sentido total do frag-
mento destacado. 
Considere, agora, apenas a última frase do parágrafo: “Veremos 
em breve de que ralé era esta criança, que tinha o bonito nome de Rosa”. 
Essa frase pode também ser dividida em unidades menores – as 
palavras. Veja que cada uma tem seu papel na signifi cação total do período. 
As palavras também podem ser fragmentadas em unidades meno-
res. Observe a divisão da forma verbal veremos:
ve- + -re- + -mos (veremos)
Há nesse verbo três unidades menores, cujos sons e signifi cados 
determinam o verbo ver fl exionado na primeira pessoa do plural do futuro 
do presente do indicativo. O sentido lexical do verbo encontra-se na unida-
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Português IV | O conceito de morfema e o modo pelo qual se pode depreendê-lo
C E D E R J30
de ve-, a noção gramatical de futuro do presente do indicativo encontra-se 
na unidade -re-, e a ideia gramatical de primeira pessoa do plural está na 
unidade -mos. A cada uma dessas unidades chamamos morfemas. 
Há que se ressaltar que, na forma verbal veremos, os morfemas 
coincidem com as sílabas, mas nem sempre isso ocorre. Por exemplo, a 
palavra bonito é formada por dois morfemas (bonit- + -o), mas possui 
três sílabas (bo-ni-to). Não se deve, então, confundir morfema com sílaba. 
A partir de uma defi nição clássica, morfema é a forma linguística 
mínima com signifi cado que não apresenta semelhanças fonético-semân-
ticas com qualquer outra forma (BLOOMFIELD, 1933, p. 161). Nesse 
sentido, a palavra fumar, por exemplo, é formada pela concatenação 
dos seguintes elementos mínimos: o radical fum-, a vogal temática a e o 
sufi xo -r. Cada um desses elementos são morfemas que contribuem com 
o seu signifi cado para a palavra na sua totalidade.
As palavras têm tipicamente uma estrutura interna e, em particular, são 
constituídas por unidades menores chamadas morfemas. Por exemplo, a 
forma verbal tomando comporta dois morfemas: o radical verbal tom- e a 
terminação gramatical -ando. Analogicamente, o substantivo catavento 
comporta os morfemas cata e vento, e o advérbio felizmente, os morfemas 
feliz- e -mente (TRASK, 2004, p. 199-200).
Os morfemas podem ser distinguidos quanto à sua forma e quanto 
à natureza de sua signifi cação.
Quanto à forma, podemos classifi cá-los como morfemas livres 
ou como morfemas presos. Essa distinção está relacionada à defi nição 
de palavra do linguista Bloomfi eld (op. cit.). Segundo esse autor, são 
formas livres aquelas que constituem um enunciado, isto é, aquelas que, 
sozinhas, são vocábulos existentes na língua. Assim, a forma vento, por 
exemplo, é uma forma livre no português, pois constitui por si só uma 
palavra na língua. Já as formas presas são aquelas que não são sufi cientes 
para constituírem um enunciado, ou seja, elas precisam estar associadas 
a outra forma para integrar, assim, uma palavra existente na língua. No 
vocábulo ventos, por exemplo, o morfema -s é um segmento que, isolado, 
não tem autonomia como palavra, mas associado à forma livre vento, 
passa a marcar a noção de plural. 
31C E D E R J
Quanto à natureza da signifi cação, o morfema pode ser classifi cado 
como lexical ou gramatical. É lexical o morfema que têm signifi cação 
externa, porque faz referência ao universo biopsiquicossocial, designando 
entidades, ações, processos, estados e qualidades. O morfema vento, por 
exemplo, apresenta um signifi cado que se relaciona ao mundo extralin-
guístico, isto é, refere-se ao ar mecanicamente agitado em uma realidade 
objetiva. O morfema gramatical, por sua vez, é aquele que apresenta 
signifi cação interna, pois deriva das relações e categorias existentes na 
língua. Assim, a marcação de plural, por exemplo, é um valor gramatical, 
por isso o morfema -s de ventos é um morfema gramatical. 
Atende ao Objetivo 1
1. Observe o quadro a seguir. A partir dos exemplos apresentados, tente 
completar as lacunas com formas utilizadas na nossa língua, utilizando os 
mesmos afi xos destacados em negrito. Você perceberá que haverá mudan-
ças em várias palavras, sendo algumas apenas no nível ortográfi co, isto é, 
mudanças que ocorrem apenas como adaptação às regras ortográfi cas da 
língua portuguesa. Algumas lacunas não poderão ser preenchidas, tendo 
em vista que as formas simplesmente não são utilizadas na nossa língua.
ADJETIVO ADVÉRBIO SUBSTANTIVO ADJETIVO
MORAL MORAL + MENTE MORAL + IDADE I + MORAL
FELIZ FELIZ+ MENTE
SIMPLES
SAGAZ
TENAZ
REAL
LEAL
FÁCIL
LEGAL
POSSÍVEL
PROVÁVEL
COERENTE
SUAVE
REGULAR
Apresente suas conclusões. 
ATIVIDADE
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Português IV | O conceito de morfema e o modo pelo qual se pode depreendê-lo
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RESPOSTA COMENTADA
1.  Em felicidade, simplicidade, sagacidade e tenacidade, ocorre 
substituição de “z” ou “s” pela consoante “c”, um caso de aco-
modação ortográfi ca. 
 O acréscimo do prefi xo i- não é possível nas palavras simples, 
sagaz, tenaz, leal, fácil e suave. 
 O prefi xo i- sofre alteração em infeliz, incoerente, impossível, 
improvável, irreal e irregular, sendo os quatro primeiros casos 
decorrentes do processo de nasalização e os dois últimos por 
razões de acomodação ortográfi ca.
 O acréscimo do sufi xo -idade à palavra simples provoca a subs-
tituição da terminação -es por -ic, daí simplicidade.
 O acréscimo do sufi xo -idade às palavras possível e provável 
provoca, em ambas, alteração na sílaba fi nal de vel para bil, e, 
apenas na segunda, a alteração na segunda sílaba de va para ba.
 O sufi xo -idade não se ajusta à forma coerente.
O MÉTODO DA COMUTAÇÃO PARA DEPREENSÃO 
DOS MORFEMAS
Para realizar a análise dos elementos constituintes da palavra, faz-
-se necessário comprovar se determinado segmento fônico é uma forma 
mínima, isto é, se esse segmento possui signifi cado e se não pode mais 
ser dividido morfologicamente (MENEZES, 2008, p. 19).
Para se depreender os morfemas de uma palavra, realiza-se o que 
se chama análise mórfi ca. De acordo com Mattoso Câmara Jr. (1970, p. 
72), “o método dessa análise consiste na técnica da ‘comutação’. Por esse 
nome se entende a substituição de uma I N VA R I A N T E por outra, de que 
resulta um novo vocábulo formal”. A técnica será explicada logo adiante.
Trata-se, portanto, de uma operação contrastiva por meio de 
permuta de elementos, ou seja, divide-se a palavra em subconjuntos e 
IN VA R I A N T E
“... diz-se de ou qual-
quer elemento que 
permanece constante 
(ou que se considera 
como tal) quando 
se põem em relação 
duas séries de fatos 
diferentes, por opo-
sição às variáveis 
estudadas em seus 
diferentes valores; 
constante”. 
Fonte: http://houaiss.
uol.com.br/
33C E D E R J
trocam-se esses subconjuntos de forma que a palavra resultante dessa 
troca tenha um signifi cado diferente da palavra original. Tomemos como 
exemplo a forma verbal olharemos:
olha- + -re- + -mos
Veja que a forma foi segmentada em partes menores. Se o seg-
mento -mos, por exemplo, for substituído pelo segmento -i, o resultado 
será o verbo olharei: 
olha- + -re- + -mos (olharemos)  olha- + -re- + -i (olharei)
→ -mos  -i
Enquanto olharemos indica a primeira pessoa do plural do futuro 
do presente do indicativo do verbo olhar, olharei indica a primeira pessoa 
do singular do mesmo verbo, no mesmo tempo e modo. Observa-se, 
então, que os segmentos -mos e -i, ao serem permutados em olharemos/
olharei, determinam classifi cações distintas para as palavras. Os segmen-
tos -mos e -i são, portanto, morfemas.
O mesmo pode ser verifi cado quando se permutam outros seg-
mentos do verbo olharemos:
olha- + -re- + -mos (olharemos)  olha- + -ria- + -mos (olharíamos)
 → -re-  -ria-
olha- + -re- + -mos (olharemos)  estuda- + -re- + -mos 
(estudaremos) olh-  estud-
Conforme pode ser visto na esquematização anterior, o morfema 
-re- marca o futuro do presente do indicativo, já o morfema -ria- marca 
o futuro do pretérito do indicativo, e os morfemas olha- e estuda- deter-
minam os valores lexicais distintos de cada verbo.
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Português IV | O conceito de morfema e o modo pelo qual se pode depreendê-lo
C E D E R J34
Veja, agora, outra comutação:
novíssimo + Ø (novíssimo)  novíssimo + s (novíssimos) 
→ Ø  -s
novíssimo + Ø (novíssimo)  novíssimo + a (novíssima) 
→ Ø  -a
nov- + íssimo (novíssimo)  nov- + -inho (novinho)
→ -íssimo  -inho
nov- + íssimo (novíssimo)  nov- + -idade (novidade) 
→ -íssimo  -idade
nov- + íssimo (novíssimo)  bel- + -íssimo (belíssimo) 
→ nov-  bel-
As primeiras comutações feitas no esquema anterior são do mor-
fema zero – Ø – pelo morfema que marca o plural do vocábulo, o -s 
(novíssimos) e, em seguida, pelo morfema que marca o feminino, o -a 
(novíssima). Observa-se, ainda, que são morfemas as seguintes unidades 
mínimas: -íssimo, -inho, -idade, nov- e bel-. 
No que concerne à morfologia, os morfemas da língua portuguesa podem ser: 
a) aditivos, que são segmentos que se ligam a um radical (repor, transatlântico, 
fl ores, infelizmente etc.); 
b) subtrativos, que são aqueles que resultam da supressão de um fonema 
do radical para exprimir alguma diferença de sentido (anão/anã, órfão/
órfã etc.); 
c) alternativos, que se caracterizam por apresentar, em seu interior, 
fonemas alternantes (ovo/ovos, este/esta, avô/avó etc.); 
d) zero, quando se dá a ausência de qualquer morfema aditivo, criando-se 
uma oposição entre uma forma linguística só com o semantema (morfema 
lexical) e outra em que esse semantema é acompanhado de morfema 
aditivo (singular: menino + Ø / plural: menino + s; cantava + Ø / cantava 
+ s / cantava + m; etc.) .
Os linguistas reconhecem ainda outros dois tipos de morfemas, o redupli-
cativo e o de posição. O primeiro não é encontrado na língua portuguesa 
e o segundo é da área de estudo da Sintaxe.
35C E D E R J
Atende ao Objetivo 2
2. Observe o segundo elemento dos pares de palavras da coluna da direita 
e numere-o de acordo com o tipo de morfema apresentado na coluna da 
esquerda.
I. Morfema aditivo ( ) dependente / independente
II. Morfema subtrativo ( ) forno / fornos
III. Morfema alternativo ( ) sonhos / sonho
IV. Morfema zero ( ) cidadão / cidadã
( ) órfã / órfãs
( ) repórteres / repórter
( ) torto / torta
( ) leal / desleal
RESPOSTA COMENTADA
2. A sequência correta de números I, III, IV, II, I, IV, III e I, pelos seguintes 
motivos: a) independente recebe o prefi xo de negação in-; b) o par 
forno/fornos apresenta alternância vocálica; c) sonho está no número 
singular, cujo morfema é Ø; d) cidadã sofre a redução de um fonema; 
e) órfãs recebe o sufi xo ou morfema de número -s; f) repórter está no 
número singular, cujo morfema é Ø; g) o par torto/torta apresenta 
alternância vocálica; h) desleal recebe o prefi xo de negação des-.
ATIVIDADE
A RELAÇÃO E A DIFERENÇA ENTRE MORFEMA E MORFE
Conforme vimos, o morfema é uma unidade abstrata de sentido 
que, na prática, pode ser representada por uma ou mais de uma forma. 
Em olharemos, por exemplo, o morfema olh- é uma unidade mínima 
abstrata que carrega o sentido lexical do verbo e apresenta-se apenas de 
uma maneira, isto é, em todas as conjugações de tempo e modo, pessoa e 
número, o verbo olhar terá sempre o morfema olh- como radical. Já em 
relação ao verbo dizer, por exemplo, há as seguintes formas: dizer, disse, 
digo e direi. O morfema que carrega o valor lexical do verbo apresenta-se 
ora como diz-, ora como diss-, ora como dig-, ora como di-. Trata-se de 
formas variantes de um mesmo morfema, já que elas constituem unidades 
mínimas e carregam todas elas o mesmo sentido lexical do verbo dizer.
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Português IV | O conceito de morfema e o modo pelo qual se pode depreendê-lo
C E D E R J36
O morfema é, portanto, uma unidade abstrata, a realização con-
creta de um morfema é chamada morfe. Entenda melhor em exemplos:
O morfema diz-, do verbo dizer, é uma unidade abstrata: não 
signifi ca que todo o paradigma do verbo dizer tenha exatamente esse 
morfema. A realização concreta do morfema diz- do verbo dizer com-
preende as formas diz-, diss-, dig- e di-.
 Em novíssimos,o segmento -s marca o plural do vocábulo, mas 
nem todo plural no português é marcado a partir desse segmento. O 
plural de cruz, por exemplo, é cruzes, ou seja, nesse caso, o segmento 
-es é o que marca o plural da palavra. Conclui-se, daí, que a marcação 
de plural em nossa língua manifesta-se, pelo menos, por meio de dois 
morfes, o -s e o -es. Assim, pode-se falar em morfema marcador de plural 
(noção abstrata) que se realiza de maneira concreta no português através 
dos morfes -s ou -es.
Atende ao Objetivo 3
3. Para demonstrar que fi cou clara a relação entre morfe e morfema, faça 
as atividades a seguir.
a) Como você deve saber, as palavras peruano, francês, israelense, hondu-
renho, chinês, português, seichelense, mexicano, canadense, panamenho, 
salvadorenho e colombiano, dentre muitas outras, são chamadas de adje-
tivos pátrios ou gentílicos, isto é, são palavras que indicam a origem das 
pessoas (país, região etc.). Separe-as em grupos, considerando os morfes 
que formam esse tipo de palavra. Por exemplo, em italiano, temos italia + 
-ano, em que italia- é o morfe (radical) que remete à região de origem pro-
priamente dita, e -ano, que um tipo de morfe (sufi xo) que forma gentílicos.
b) No que se refere à relação entre morfe e morfema, o que você pode 
concluir a partir do resultado do item anterior?
ATIVIDADE
37C E D E R J
RESPOSTA COMENTADA
3. a) Há quatro grupos com morfes diferentes. São eles:
peruano: peru- + -ano 
francês: franc- + -ês
mexicano: mexic- + -ano 
chinês: chin- + -ês
colombiano: colombi- + -ano 
português: portugu- + -ês
israelense: israel- + -ense 
hondurenho: hondur- + -enho
seichelense: seichel- + -ense 
panamenho: panam- + -enho
canadense: canad- + -ense 
salvadorenho: salvador- + -enho
b) Os morfes que representam o morfema formador de gentílicos, no 
grupo de adjetivos apresentados, são quatro: -ano, -ês, -ense e -enho.
CONCLUSÃO 
Os morfemas são as unidades abstratas mínimas formadoras das 
palavras de uma língua e são representados pelos morfes. O estudo des-
sas unidades decorre da importância de o professor ou de o estudante 
de uma língua compreender o processo de formação das palavras em 
uso, da criação de novas palavras pelas mais diversas razões e ainda da 
possibilidade de criação de outras palavras. 
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Português IV | O conceito de morfema e o modo pelo qual se pode depreendê-lo
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ATIVIDADE FINAL
Atende aos Objetivos 1 e 2
1. No texto adiante, você encontrará três palavras que contêm o mesmo morfema 
lexical, ou seja, um morfema que remete a uma mesma ideia: duas delas são 
substantivos e a outra é uma forma verbal. Destaque-as e separe-as em morfemas.
O Verde
Estranha é a c abeça das pessoas.
Uma vez, em São Paulo, morei numa rua que era dominada por uma árvore 
incrível. Na época da fl oração, ela enchia a calçada de cores. Para usar um lugar-
comum, fi cava sobre o passeio um verdadeiro tapete de fl ores; esquecíamos 
o cinza que nos envolvia e vinha do asfalto, do concreto, do cimento, os 
elementos característicos da cidade. Percebi certo dia que a árvore começava 
a morrer. Secava lentamente, até que amanheceu imóvel, sem uma folha. É 
um ciclo, ela renascerá, comentávamos no bar ou na padaria. Não voltou. 
Pedi ao Instituto Botânico que analisasse a árvore, e o técnico concluiu: fora 
envenenada. Surpresos, nós, os moradores da rua, que tínhamos na árvore 
um verdadeiro símbolo, começamos a nos lembrar de uma vizinha de meia-
idade que todas as manhãs estava ao pé da árvore com um regador. Cheios 
de suspeitas, fomos até ela, indagamos, e ela respondeu com calma, os olhos 
brilhando, inquietos e agressivos:
– Matei mesmo essa árvore infeliz.
– Por quê?
– Porque quando fl orescia ela sujava minha calçada, eu vivia varrendo essas 
fl ores desgraçadas.
Fonte: BRANDÃO, Inácio de Loyola. Manifesto verde. São Paulo: Círculo do Livro, 1985. 
p. 16-17. Disponível em: http://lerinterpretar.blogspot.com.br/2006/08/o-verde.html. 
Acesso em: 10 jan. 2013.
39C E D E R J
2. Ainda no mesmo texto, no fi nal da primeira frase, encontra-
se a palavra incrível. Essa palavra é formada pelo acréscimo 
do morfema in- (prefi xo que indica negação) à palavra CRÍVEL. 
Dependendo da palavra a que esse morfema se junta, ele pode 
assumir a forma im- ou i-. Assim, encontre e destaque do texto 
outras palavras que sejam iniciadas por uma das formas desse 
morfema, apresentando seus respectivos signifi cados.
3. Leia o texto e execute as atividades em seguida.
Caso pluvioso
A chuva me irritava. Até que um dia 
descobri que maria é que chovia.
A chuva era maria. E cada pingo 
de maria ensopava o meu domingo.
E meus ossos molhando, me deixava 
como terra que a chuva lavra e lava.
Eu era todo barro, sem verdura... 
maria, chuvosíssima criatura!
Ela chovia em mim, em cada gesto, 
pensamento, desejo, sono, e o resto.
Era chuvinha fi na e chuvarada grossa, 
matinal e noturna, ativa... Nossa!
Não me chovas, maria, mais que o justo 
chuvisco de um momento, apenas susto (...)
Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond de. Caso pluvioso. Reunião. Rio de Janeiro: José 
Olympio, 1980 (fragmento adaptado).
a) Explore os casos de palavras que se formam a partir do chuv- presentes no texto, 
explicando sua formação.
CR Í V E L
Em que se pode crer, 
verossímil, provável; 
o oposto de incrível.
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Português IV | O conceito de morfema e o modo pelo qual se pode depreendê-lo
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b) Tendo em vista o radical chuv- (morfema que remete à ideia de chuva), que 
outras palavras formadas por ele você conhece?
RESPOSTAS COMENTADAS
1. Os dois substantivos: fl oração (fl or- + -ação) e fl ores (fl or- + -es); a forma verbal é 
fl orescia (fl or- + -escia). Todos têm o mesmo morfema lexical (fl or-). 
2. “imóvel” (que não se move), “inquietos” (que não fi cam quietos) e “infeliz” (que 
não é feliz)
3. a) chuva: formada pelo radical chuv- + -a 
 chuvosíssima: formada pelo radical chuv- + -osíssima
 chuvinha: formada pelo radical chuv- + -inha
 chuvarada formada pelo radical chuv- + -ada
 chuvisco formada pelo radical chuv- + -isco
 b) chuveiro, chuvão, chuvada, chuvaceira
R E S U M O
Morfemas são as unidades mínimas de signifi cação, sendo elementos constituin-
tes dos vocábulos. Esses elementos compõem a estrutura lexical e gramatical dos 
vocábulos, podendo, portanto, ser classifi cados em morfemas lexicais e morfemas 
gramaticais. É possível depreenderem-se os morfemas de uma palavra por meio 
da realização de uma análise mórfi ca chamada de comutação, que consiste na 
substituição de uma invariante por outra. Dessa substituição, resulta um novo 
vocábulo formal. Morfemas são unidades abstratas que são representadas por 
uma ou mais unidades concretas chamadas morfes. 
ob
jet
ivo
s
Meta da aula 
Apresentar os conceitos de alomorfi a, 
de neutralização e de cumulação. 
Esperamos que, ao fi nal desta aula, você seja 
capaz de:
1. reconhecer o conceito de alomorfi a;
2. reconhecer o conceito de neutralização;
3. reconhecer o conceito de cumulação.
Alguns princípios 
da análise mórfi ca
Ronaldo Amorim Lima
Beatriz dos Santos Feres 3AULA
Português IV | Alguns princípios da análise mórfi ca
C E D E R J42
As línguas são sistemas e, por isso, apresentam sempre uma organização 
por meio da qual é possível entendermos e explicarmos seu funcionamento. 
Em outras palavras, Monteiro (2002) afi rma que, sendo um sistema, a língua 
se constitui de partes interdependentes, isto é, um elemento necessita da 
existência dos outros e vice-versa. Em continuidade, o pesquisador declara que 
“o perfeito funcionamento de um sistemase caracteriza pela organização, 
mantida por leis próprias. As partes devem estar intimamente relacionadas, 
de tal modo que o todo seja harmônico”. 
Leis e regras linguísticas
É relevante atentar que as leis e regras da língua às quais nos referimos ao 
longo das aulas são aquelas observadas por todo e qualquer falante desde 
o primeiro contato estabelecido com sua língua materna. Aprendemos, 
por exemplo, a noção de plural, obtida com o emprego do segmento -s, 
ou de passado, representado pelas terminações verbais -va, ou -ra, sem 
que seja preciso ir à escola, ou estudar em livros didáticos. O falante 
absorve as regras de funcionamento da língua no contato diário com 
outros falantes, desde sua infância, naturalmente.
Há, entretanto, uma prescrição gramatical, aprendida na escola (sobre-
tudo), que impõe “regras do uso correto da língua”, segundo padrões 
específi cos. Em geral, o “uso correto da língua” é visto como um dado 
que confere prestígio ao falante. Não empregar a “norma linguística de 
prestígio” em situações formais de comunicação, ou na escrita, por exem-
plo, é visto pela sociedade como algo reprovável. Por isso, confunde-se 
“regra linguística” – natural, própria do funcionamento de uma dada 
língua para fi ns comunicativos – com “prescrição linguística”, exigível em 
algumas circunstâncias mais formais, ou mais “monitoradas”.
Para compreendermos o que é um sistema, Monteiro (2002) faz uso do exem-
plo de um motor, que se constitui de várias peças, sendo todas interdepen-
dentes. O mau funcionamento ou a retirada de uma dessas peças provocará 
o mau funcionamento ou mesmo a parada de todo o sistema. Entretanto, 
para que se estude e se aprenda a fazer e/ou consertar um motor, é necessário 
que se desmonte o motor, separando todas as suas peças. É algo semelhante 
a isso o que se faz numa análise mórfi ca.
No módulo anterior, abordamos as noções de morfe e de morfema, as quais, 
conforme observamos, encontram-se baseadas em um princípio linguístico
INTRODUÇÃO 
C E D E R J 43
Vejamos esses princípios.
ALOMORFIA
Figura 3.1 Exemplos de alomorfes.
Conforme vimos na aula anterior, morfe é a realização concreta 
de um morfema. Em novíssimos, por exemplo, o segmento -s marca o 
plural do vocábulo, mas nem todo plural no português é marcado a partir 
desse segmento. O plural de cruz, por exemplo, é cruzes, ou seja, nesse 
caso, o segmento -es é o que marca o plural da palavra. 
Observa-se que a marcação de plural em nossa língua manifesta-se, 
pelo menos, por meio de dois morfes, o -s e o -es. Assim, pode-se falar em 
morfema marcador de plural (noção abstrata) que se realiza de maneira 
concreta no português através dos morfes -s ou -es. E, pelo fato desses dois 
morfes remeterem ao mesmo morfema, eles são chamados A L O M O R F E S .
Representação dos morfes
Os morfes são depreendidos a partir da realização oral dos signos lin-
guísticos. Desse modo, quando dizemos que o morfe -s indica plural, na 
verdade, estamos nos referindo à sua pronúncia, representada, fonolo-
gicamente, por /S/. Aqui, por razões didáticas, optamos pela referência 
ao morfe a partir de sua representação gráfi ca, ou seja, pela(s) letra(s) 
correspondente(s) ao morfe.
AL O M O R F E S 
Signifi cam “outra 
forma”. Na Morfo-
logia, dá-se o nome 
de alomorfes às dife-
rentes formas que 
um mesmo morfema 
pode adquirir, tendo 
em vista o dinamis-
mo da língua. Ao 
processo de variação 
de forma, dá-se o 
nome de alomorfi a.
geral, que aponta a relação entre signifi cante e signifi cado. Desse princípio geral, 
derivam outros princípios (MENEZES, op. cit.), tais como aqueles da alomorfi a, 
da neutralização e da cumulação.
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Português IV | Alguns princípios da análise mórfi ca
C E D E R J44
Devemos lembrar que estamos analisando a morfologia da língua por-
tuguesa sob o ponto de vista sincrônico. Você poderá encontrar outra 
explicação para as formas de plural com terminação em -es na obra 
História e estrutura da língua portuguesa, de Mattoso Câmara Jr., sob o 
ponto de vista diacrônico, ou seja, considerando-se a evolução da língua 
ao longo do tempo. 
Quando há mais de um morfe para o mesmo morfema, ocorre a 
alomorfi a. Alomorfes são, nesse sentido, as diversas realizações de um 
único morfema. Os segmentos -s, -es e -is são morfes do morfema de 
plural no português, portanto, dizemos que eles são alomorfes. 
Exemplos: casa – casas
mar – mares
anel – anéis
A vogal temática dos verbos da primeira conjugação (-a) é 
encontrada na maior parte das fl exões do modo indicativo. No pretérito 
perfeito, ela se apresenta assim, na segunda pessoa do singular (ama-
vas) e nas três pessoas do plural, (amávamos, amáveis, amavam). Na 
primeira e na terceira pessoa do singular, ela se materializa por meio de 
outros morfes, -e e -o (amei, amou), respectivamente, confi gurando-se 
estes como alomorfes. E ainda, ao analisarmos as formas ilógico/ilegal e 
infeliz/incapaz, verifi caremos que elas têm em comum um morfema, na 
posição de PREF IXO que indica negação, representado pelos morfes i- e in-.
O verbo dizer, conforme vimos na aula anterior, apresenta um 
morfema lexical que se realiza concretamente nos alomorfes diz- (dizer), 
diss- (disse), di- (direi) e dig- (digo). 
Se considerarmos as formas verbais de terceira pessoa do plural 
do verbo dizer, por exemplo, veremos que predominam as formas que 
terminam em -m, como em dizem, diriam, dissessem, digam, etc. Mas, 
no futuro do presente do indicativo, há a forma dirão. Observa-se, assim, 
que a noção de terceira pessoa do plural do verbo dizer, e também da 
maioria dos verbos em português, realiza-se concretamente por meio 
dos alomorfes -m (átono) e -ão (tônico).
PR E F I X O
Afi xo que se junta ao 
início das palavras, 
dando-lhes nova sig-
nifi cação (Exemplo: 
armar – desarmar) 
em um processo de 
formação conhecido 
como prefi xação ou 
derivação prefi xal. 
C E D E R J 45
Esse conceito de alomorfi a resolve grande parte dos problemas 
encontrados na segmentação de palavras em unidades mínimas sig-
nifi cativas. Se considerarmos alguns cognatos da palavra vinho, por 
exemplo, teremos:
GRUPO 1 GRUPO 2
Vinhateiro Vinícola
Vinhaço Vinífero
Vinháceo Vinicultor
Vinhataria Vinagre
Poderíamos falar, em um primeiro momento, de um problema 
relacionado à diferença dos radicais nas palavras cognatas: mesmo sendo 
todos os vocábulos, dos grupos 1 e 2, cognatos de vinho, os do grupo 1 
apresentam como radical o morfema vinh-, enquanto os vocábulos do 
grupo 2 apresentam como radical o morfema vin-. 
No entanto, considerando o conceito de alomorfi a, pode-se dizer 
que vinh- e vin- são variações mórfi cas de um mesmo morfema, ou seja, 
são alomorfes. Não se trata, portanto, de morfemas distintos, mas sim de 
formas alternativas que apresentam o mesmo signifi cado. Essas formas 
alternativas são alomorfes.
A alomorfi a, conforme aponta Ribeiro (2013), pode ser de natureza: 
a) mórfi ca, privativa da primeira articulação da linguagem, con-
forme ocorre nos pares noite/noturno, fazer/feito, saber/soube, trazer/
trouxe, etc.; 
b) fonológica, como acontece com a vogal temática do pretérito 
perfeito do indicativo dos verbos regulares da primeira conjugação: 
andamos/andei/andou; 
c) gramatical, como no caso das formas de particípio dos ver-
bos abundantes, para as quais a regra gramatical determina que sejam 
regulares, quando acompanhadas dos verbos auxiliares ter ou haver (Ele 
tem expressado suas ideias com muita convicção), e irregulares, quando 
acompanhadas dos auxiliares ser ou estar (Assim foram expressos todos 
os seus pensamentos).
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Português IV | Alguns princípiosda análise mórfi ca
C E D E R J46
Atende ao Objetivo 1
1. Leia o fragmento da letra a seguir:
Tempestade e solidão
Quase não dormia
Quando te esperava
E se amanhecia
Eu fi cava na sacada
Descerá um raio
Haverá trovão
Uma tempestade e a solidão...
Fonte: PONCIANO, Rui. Tempestade e solidão. Disponível em: http://kdletras.com/
rui-ponciano/tempestade-e-solid%C3%A3o. Acesso em: 20 abr. 2013.
No texto em referência, as formas verbais esperava e dormia se apresen-
tam na primeira pessoa do singular, no pretérito imperfeito do indicativo. 
Experimente conjugar outros verbos de primeira e de terceira conjugações 
no mesmo tempo e pessoa. Você pode utilizar, por exemplo, os verbos de 
primeira conjugação comprar, estudar e falar, e os de terceira medir, sentir 
e subir. Em seguida, comente o que se deduz em termos de alomorfi a.
RESPOSTA COMENTADA
1. Os verbos de primeira conjugação, na primeira pessoa do singular, 
no pretérito imperfeito do indicativo são: comprava, estudava e falava; 
os de terceira são: media, sentia e subia.
Os verbos de primeira conjugação apresentam o morfe fi nal -va, 
enquanto os verbos de terceira apresentam na mesma posição o 
morfe -ia. Isso signifi ca que -va e -ia são alomorfes. 
ATIVIDADE
Consulte uma gramática para relembrar o que são verbos abundantes 
e verbos auxiliares.
C E D E R J 47
NEUTRALIZAÇÃO
A neutralização morfológica é o processo que anula a diferença 
entre dois morfemas pelo aparecimento de um morfema único. Vejamos o 
que ocorre com o morfema destacado na forma verbal relataram. Observe 
a conjugação do pretérito perfeito e do pretérito mais que perfeito do 
verbo relatar e, mais precisamente, a terceira pessoa do plural:
PRETÉRITO PERFEITO PRETÉRITO MAIS QUE PERFEITO
Eu relatei relatara
Tu relataste relataras
Ele relatou relatara
Nós relatamos relatáramos
Vós relatastes relatáreis
Eles relataram relataram
Não é difícil constatar que ambas as formas de terceira pessoa do 
plural (eles) são idênticas externamente. Vejamos, agora, o uso dessas 
duas formas em oposição às formas de terceira pessoa do singular (ele).
(1) Os suspeitos já relataram todos os detalhes do crime antes da 
nossa chegada.
(2) O suspeito já relatara todos os detalhes do crime antes da 
nossa chegada.
(3) Os suspeitos relataram todos os detalhes do crime ontem.
(4) O suspeito relatou todos os detalhes do crime ontem.
A neutralização do morfema de tempo e modo -ra ocorre, nesse 
caso, quando não se percebe a distinção entre relataram (terceira pessoa 
do plural do pretérito perfeito) e relataram (terceira pessoa do plural do 
pretérito mais que perfeito). 
Essa neutralização da forma relataram é compensada de duas 
maneiras: pelo contexto de comunicação e pelo paradigma verbal de 
que faz parte. Em outras palavras, é o contexto de comunicação que 
evidencia, em determinada frase, se o emprego de relataram está em 
terceira pessoa do plural do pretérito perfeito ou do mais que perfeito 
do indicativo, desfazendo-se a neutralização. 
Além disso, a forma relataram não ocorre isolada, mas sim 
atrelada a todo um paradigma verbal que apresenta outras formas que 
mostram a distinção anulada pela neutralização. 
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Português IV | Alguns princípios da análise mórfi ca
C E D E R J48
Assim, se a oposição entre a terceira pessoa do plural do pretérito 
perfeito e a terceira pessoa do plural do pretérito mais que perfeito se 
anulam em relataram, a oposição retorna se consideramos as formas 
falou e falara.
Para deixar mais claro, Menezes (op. cit.) destaca a oposição 
existente entre a primeira e a terceira pessoas do singular na fl exão dos 
verbos no presente do indicativo (eu falo/ele fala), no pretérito perfeito 
(eu falei/ele falou) e no futuro do presente (eu falarei/ele falará). Essa 
oposição deixa de ser morfologicamente marcada no pretérito imperfeito 
(eu falava/ele falava), no pretérito mais que perfeito (eu falara/ele falara), 
no futuro do pretérito (eu falaria/ele falaria), nos tempos do subjuntivo: 
presente (eu fale/ele fale), imperfeito (eu falasse/ele falasse) e futuro (eu 
falar/ele falar).
A Moderna gramática portuguesa, escrita pelo prof. Evanildo Bechara, 
apresenta, para esses casos aqui expostos, outra nomenclatura e outro 
conceito. Neste momento de nossos estudos, optamos por não entrar 
nessa discussão. Mas, caso você se interesse, leia, nas páginas 344-346 
daquela obra, o tópico sobre neutralização e sincretismo.
Essa oposição só será, portanto, depreendida tendo em vista o 
contexto sintático ou discursivo em que se apresentar.
C E D E R J 49
Atende ao Objetivo 2
2. Observe as duas frases a seguir:
• Maria e eu conversamos com as crianças todos os dias.
• Maria e eu conversamos com as crianças ontem.
Tendo em vista os princípios de análise mórfi ca, o que você sabe dizer a 
respeito das duas formas verbais apresentadas.
RESPOSTA COMENTADA
2. As formas verbais são morfologicamente idênticas e encontram-se 
na primeira pessoa do plural. Entretanto, a primeira está no presen-
te do indicativo e a outra, no pretérito perfeito do mesmo modo. 
Assim, pode-se dizer que entre as duas formas ocorre o fenômeno 
da neutralização.
ATIVIDADE
CUMULAÇÃO
Figura 3.2: Exemplo de acúmulo de funções.
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Português IV | Alguns princípios da análise mórfi ca
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A ilustração é apenas para fazer um paralelo entre o acúmulo 
de funções que a mulher tradicionalmente tem em nossa sociedade e o 
acúmulo de signifi cações que alguns morfes detêm. 
Em uma análise mórfi ca, espera-se que cada forma apresente um 
único signifi cado e vice-versa. No entanto, não é isso o que sempre se 
verifi ca. Em alguns casos, o morfema pode assumir uma signifi cação 
mais ampla ou cumulativa.
Se considerarmos as formas verbais estudaremos, estudaríamos 
e estudássemos, por exemplo, podemos perceber que se trata de formas 
fl exionadas na primeira pessoa do plural, já que podemos identifi car em 
todas o morfe -mos marcando essa noção gramatical: 
estud- + -a- + -re- + -mos
estud- + -a- + -ria- + -mos
estud- + -a- + sse- + -mos
Temos, dessa forma, um morfe cumulativo, já que um único 
segmento (-mos) marca duas noções, a de pessoa (primeira pessoa) e a 
de número (plural). Este morfe é chamado, por esse motivo, desinência 
número-pessoal.
Observemos, agora, as seguintes formas verbais:
PRETÉRITO IMPERFEITO 
(INDICATIVO)
PRETÉRITO IMPERFEITO 
(SUBJUNTIVO)
falava falasse
falavas falasses
falava falasse
falávamos falássemos
faláveis falásseis
falavam falassem
Em ambas as colunas, as formas verbais estão no pretérito imper-
feito. Mas, na primeira coluna, temos o pretérito imperfeito do modo 
indicativo, e, na segunda, o pretérito imperfeito do modo subjuntivo. 
O que marca esta diferença são os morfes sublinhados (-va/-ve e -sse, 
respectivamente).
Temos aqui mais dois exemplos de cumulação, uma vez que -va/-
-ve indicam, ao mesmo tempo, o tempo pretérito imperfeito e o modo 
indicativo; e -sse indica o tempo pretérito imperfeito e o modo subjuntivo. 
C E D E R J 51
Por esse motivo, esses morfes são chamados desinências modo-temporal. 
Nestes exemplos, temos a desinência modo-temporal do pretérito imper-
feito do indicativo (-va/-ve) e a desinência modo-temporal do pretérito 
imperfeito do subjuntivo (-sse). 
No que se refere ao processo de cumulação, não podemos deixar de falar 
sobre o aspecto verbal, que é encontrado tanto cumulativamente nas 
desinências modo-temporais quanto nos verbos auxiliares. Nas desinências 
verbais, o aspecto verbal, conforme defi nição de Mattoso Câmara Jr., é 
“a propriedade que tem uma forma verbal de designar a duração

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