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Livro I - Fundamentos

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Fundamentos
 Teórico-Metodológicos 
do Serviço Social I
Fundamentos
 Teórico-Metodológicos 
do Serviço Social I
Olema Palmira Pellizzer
Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que 
é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer 
meio ou forma sem a prévia autorização da Editora da ULBRA.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 610/98 e 
punido pelo Artigo 184 do Código Penal.
Dados técnicos do livro
Fontes: Minion Pro, Offi cina Sans
Papel: off set 90g (miolo) e supremo 240g (capa)
Medidas: 15x22cm
Projeto Gráfi co: Humberto G. Schwert
Editoração: Rodrigo Saldanha de Abreu
Capa: Juliano Dall’Agnol
Supervisão de Impressão Gráfi ca: Edison Wolf
Gráfi ca da ULBRA
Julho/2011
Conselho Editorial EAD
Dóris Cristina Gedrat (coordenadora)
Mara Lúcia Machado
Astomiro Romais
Andréa Eick
André Loureiro Chaves
Cátia Duizith
Olema Palmira Pellizzer é docente do curso de Serviço Social da 
Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) – Canoas/RS, mestra em 
Educação (ULBRA). Assistente social aposentada da Secretaria Estadual 
de Educação do Estado do RS.
Sumário
 Apresentação .............................................................. 7
1 | Da caridade ao surgimento do Serviço Social .................... 9
2 | Retrospectiva da caridade à constituição e evolução 
da profi ssão no Brasil ................................................. 23
3 | O conhecimento científi co e a teoria e metodologia 
do Serviço Social ....................................................... 35
4 | O neotomismo e a ciência social positivista 
dos séculos XIX e XX: suas repercussões 
no Serviço Social ....................................................... 51
5 | O funcionalismo e o estruturalismo 
dos séculos XIX e XX: suas repercussões 
no Serviço Social ....................................................... 67
6 | O neotomismo, a precursora Mary Richmond 
e o Serviço Social ...................................................... 81
7 | Método de Serviço Social de Caso ................................ 97
8 | Método de Serviço Social de Grupo ..............................113
9 | Método de Serviço Social de Comunidade .....................127
10 | O movimento de reconceituação e a perspectiva 
modernizadora do Serviço Social .................................139
Apresentação
Você está se envolvendo em um estudo que o conduzirá aos fundamentos 
históricos e teórico-metodológicos positivistas do Serviço Social, os quais 
produzirão as bases para o estudo dos fundamentos do Serviço Social. A 
finalidade do livro é provocar reflexões acerca da trajetória e do contexto político, 
ideológico, econômico e cultural da origem e da evolução desta profissão até 
a década de 1970, que tem estreita relação com a caridade/filantropia, com a 
assistência social, com os princípios e valores neotomistas e com o paradigma da 
ciência positivista. Para isso, você será conectado com os reais acontecimentos 
históricos, teóricos e metodológicos que envolvem a referida concepção.
O conteúdo deste livro é distribuído em capítulos e unidades, que possibilitarão 
elaborar seu próprio conhecimento a partir da leitura, das atividades propostas, 
diálogos virtuais e encontros presenciais. 
“Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos Positivistas do Serviço 
Social” tem como meta discorrer sobre as bases históricas, teórico-metodológicas 
da profissão, desde as práticas da caridade/filantropia que precedem o 
surgimento da profissão, bem como a filosofia neotomista e pelo paradigma da 
ciência positivista que origina a profissão e sua evolução. Inicialmente, traçamos 
um breve histórico da caridade/filantropia no mundo e dos personagens que 
buscaram sistematizá-la dando origem à assistência social organizada. 
Quanto à origem do Serviço Social, abordamos sobre a filosofia neotomista 
e do paradigma da ciência positivista, de sua precursora Mary Richmond e a 
8 Apresentação
introdução da profissão no Brasil. Para facilitar o entendimento científico da 
profissão, tratamos da produção de conhecimento teórico e metodológico que 
dará base ao Serviço Social na perspectiva de integração social e de libertação 
social. 
Também serão abordados os Métodos de Serviço Social de Caso, Grupo 
e Comunidade e sua proposta teórico-metodológica com base psicológica, a 
influência da ideologia desenvolvimentista e os princípios preconizados pela 
Organização das Nações Unidas (ONU). 
Diante do contexto histórico e político na década de 1960, surge o 
questionamento dos conceitos vigentes na sociedade e, consequentemente, 
no Serviço Social. Momento em que a profissão repensa seus fundamentos 
filosóficos teórico-metodológicos na busca de respostas para a realidade 
mundial e brasileira, quando surge o Movimento de Reconceituação que gesta 
a perspectiva modernizadora, marxista e fenomenológica no Serviço Social. Das 
três concepções/perspectivas apresentaremos a perspectiva modernizadora que 
dá continuidade ao fundamento positivista.
Olema Palmira Pellizzer
1
Da caridade ao surgimento
do Serviço Social
Este capítulo aborda as formas de assistência aos pobres e necessitados e de 
seus precursores até o final do século XIX, quando do surgimento do Serviço 
Social propriamente dito. Para isso, buscamos situar aspectos da realidade 
mundial, dos continentes europeu e americano, bem como a evolução do 
conhecimento desde o mítico até o científico. 
A ação aos necessitados existe desde a Antiguidade. Segundo Platão e 
Aristóteles, a ajuda era feita pela própria comunidade. Destinava-se aos pobres 
e escravos e não assisti-los caracterizava-se uma injustiça. No período que data 
de 4000 a.C. ao século V, o centro de tudo era o cosmo e a explicação da criação 
e ordenação do mundo era dada pelo conhecimento mítico, isto é, através da 
mitologia (mito dos deuses). 
Nesse mesmo período, com o surgimento da filosofia grega de Sócrates, 
Platão e Aristóteles buscam explicações racionais para as coisas existentes na 
natureza, gerando o declínio do poder dos mitos junto às massas, configurando-
se de um lado a lógica do mito e de outro a realidade filosófica.
10 Da caridade ao surgimento do Serviço Social
Com o advento do Cristianismo1, a partir do século IV, a assistência aos 
pobres e doentes torna-se responsabilidade da Igreja Católica, que a realiza 
através dos mosteiros. Momento em que as explicações mitológicas perdem 
a centralidade e o conhecimento religioso/cristão aliado à filosofia explica a 
criação e a ordenação do mundo em torno de um poder superior: Deus. O 
poder que emana das massas é o pensamento cristão. Nesse período, ser pobre 
ou doente não constitui castigo de Deus, mas consequência da imprevidência 
individual ou das circunstâncias. A pobreza e a doença são consideradas 
provocação, mas quem praticava caridade, isto é, ajudava o próximo, poderia 
ter méritos e isso representava um meio para alcançar a vida eterna, ou seja, 
era uma virtude. 
A Idade Média é marcada por Santo Agostinho e São Tomás de Aquino que 
se ocupam com religião e filosofia. Santo Agostinho (354-430) partiu da reflexão 
dada por Platão e concilia as ideias cristãs, isto é, entre razão e fé, sendo condição 
indispensável para a compreensão racional das verdades. 
A caridade era feita à luz do pressuposto de que todos os homens são irmãos, 
e ajudar o próximo é um dever da fé, uma obrigação religiosa, representando a 
salvação e méritos para conquistar a vida eterna. As grandes ordens religiosas 
mantinham obras assistenciais à sombra dos conventos. Entre essas, destacam-se as 
Ordens Religiosas fundadas por São Francisco de Assis, para os homens; a Ordem 
das Clarissas, para as mulheres, e a Ordem Terceira, para os leigos. Nos mosteiros, 
ou junto a eles, funcionavam dispensários, hospitais, leprosários, orfanatos e 
escolas. Nesses séculos, a função dos governos limitava-se à defesa do territórioe 
à manutenção da ordem interna do Estado. Aqueles que então governavam – reis e 
imperadores – não intervinham no campo da caridade, considerando-a de domínio 
espiritual. Auxiliavam as obras de caridade através de coletas entre particulares e 
por subvenções do tesouro público (VIEIRA, 1977). 
1 Essa religião monoteísta, diferente dos deuses gregos (politeístas), ganhou força quando da |
Convenção de Constantino Magno, em 312, que na véspera de uma batalha (quase impossível 
de vencer) vira nos céus uma cruz luminosa com a mensagem “Neste sinal vencerás!”. A partir 
de então, a cruz dos cristãos, antes perseguida, torna-se o estandarte romano, e parte de seus 
exércitos converte-se ao cristianismo. Assim, o clero cristão passa a ter poder civil, e sua 
influência deixa de ser apenas espiritual para tornar-se política e economicamente decisória. Os 
padres passam a integrar elementos da Bíblia judaica, da filosofia grega, de religiões e de ritos 
místicos, formando uma teologia que foi se moldando e incorporando às atividades religiosas e 
assistenciais (CHASSOT, 1994). 
11Da caridade ao surgimento do Serviço Social
A ação social fundamentada pela caridade, cuja prática é entendida como 
um mandato divino: fazer o bem por amor a Deus advém também do exercício 
da filantropia como a execução de um imperativo ético: fazer o bem por amor 
ao homem marca a primeira etapa da gênese do Serviço Social como atitude 
dominante na Idade Média (MONTAÑO, 2007). 
Por sua vez, no século XIII, Santo Tomás de Aquino2 (1227-1274) sistematiza 
a filosofia cristã a partir da interpretação da filosofia aristotélica, resultando 
na elaboração do sistema filosófico da época: o tomismo. Aquino refletiu 
sobre questões vitais, tais como: as relações entre Deus e o mundo, fé e ciência, 
tecnologia e filosofia, conhecimento e realidade, entre outras, na busca de 
organizá-las e harmonizá-las. Sua filosofia traz uma nova luz ao cenário filosófico 
no momento em que afirma a diferença entre razão e fé.
A filosofia de Aquino vai tratar da diferenciação entre fé e razão, influenciada 
pelas descobertas de Copérnico e Galileu, quando a centralidade de Deus na 
explicação do mundo é questionada, cedendo lugar ao homem como centro 
do Universo. Concepção reforçada pela corrente de pensamento de Descartes3 
(racionalismo = razão) e de Bacon4, Locke e Hume (empirismo = experiência). 
Momento em que de um lado aparece o poder da Igreja com o Tomismo, de 
Tomás de Aquino, que buscou apoio de grandes pintores e escultores, como 
Leonardo da Vinci e Michelangelo; de outro lado, os reis e a nobreza, que 
buscaram apoio em Maquiavel, Thomas Hobbes e outros, que defendem o 
absolutismo (doutrina que compreende a autoridade do governo como emanada 
diretamente de Deus). 
2 Nasceu na Itália, de família nobre, e entrou cedo na Ordem dos Dominicanos. Percorreu toda a |
Europa medieval. Estudou em Nápoles, Paris e Colônia, foi professor na universidade de Paris. 
Seu pensamento está profundamente ligado ao de Aristóteles e seu papel principal foi organizar 
as verdades da religião e harmonizá-las. Morreu quando se dirigia ao Concílio de Lyon. Seu 
sistema filosófico, embora inicialmente condenado, teve inúmeros seguidores, tornando-se a 
mais importante corrente do pensamento escolástico do final do período medieval e de grande 
importância no combate ao protestantismo durante a Contrarreforma do século XVI (CHASSOT, 
1994).
3 O físico, matemático e filósofo francês René Descartes, escritor do | Discurso sobre o método, colocou 
a dúvida nas verdades científicas. Ele defende a existência do método dedutivo, não aceito pelo 
empirismo. O racionalismo é a crença de que se pode ter conhecimento sem experiência e o processo 
de descobrir o que é verdadeiro com base no que já se sabe ser verdadeiro (DESCARTES, 1996).
4 O filósofo inglês Francis Bacon defendeu o valor da experiência de laboratório e do método |
indutivo. Ele preconizou uma ciência sustentada pela observação e pela experimentação, formulando 
indutivamente as suas leis, a partir de casos e eventos particulares para chegar às generalizações. 
Dessa forma, a teologia deixaria de ser norteadora do pensamento científico (BACON, 1997).
12 Da caridade ao surgimento do Serviço Social
No fim do século XV, desponta a aurora dos tempos modernos, revelando 
o início do desenvolvimento da ciência que intensifica o comércio marítimo, a 
descoberta de novos continentes e rotas de comunicação, o aperfeiçoamento das 
técnicas artesanais, o aparecimento de pequenas indústrias familiares, entre outras. A 
Modernidade é marcada pelo enfraquecimento do sistema feudal, pelo surgimento 
do desenvolvimento urbano industrial e pela ruptura da unidade religiosa com a 
Reforma Protestante, quando se configura a era da Secularização5, do humanismo e, 
mais tarde, do racionalismo. Caracteriza-se, então, a caridade secularizada, separada 
muitas vezes da ideia religiosa, também identificada como filantropia. A filantropia 
é tida como uma ajuda humanística (maçônica, burguesa, entre outras) e considera 
o auxílio ao outro como um dever de solidariedade natural.
A modernidade quebra a unidade religiosa europeia, delegando ao homem a 
responsabilidade de seus atos, surge a preocupação com a criação de um método 
que ordene o mundo e explique os fenômenos através das causas (matematização 
das ciências sociais), entre outras, bem como a passagem do feudalismo para o 
capitalismo e o florescimento do comércio e a emergência da burguesia. Essas 
e outras transformações histórico-sociais constroem uma nova mentalidade; 
um novo paradigma que coloca o homem, a partir da razão, no centro de tudo 
(homem, sujeito, consciência). O homem assume a incumbência de reordenar o 
mundo dando origem ao modelo racionalista matemático, a partir do nascimento 
da filosofia não religiosa e a ciência moderna racionalista. 
A sistematização do método científico exige outro tratamento para a assistência 
nas obras sociais, e Juan Luiz Vivès6 (1492-1540) lança as bases para um trabalho 
social organizado. Este ficou, no entanto, no terreno da teoria. Vivès foi acusado 
de luterano por atribuir papel importante na administração da assistência, o 
5 Secularização significa a libertação do homem, em primeiro lugar do controle religioso, depois |
do controle metafísico sobre sua razão e sua linguagem, marcada pelo renascimento da ciência. 
Não é uma concepção antirreligiosa, pelo contrário: coloca o mundo e a religião nos seus devidos 
lugares e permite assim o pluralismo e a tolerância (VIEIRA, 1977). 
6 Vivès nasceu em Valência, na Espanha, descendente de família nobre, porém pobre. Frequentou as |
aulas na Universidade de Valência e estudou em Paris, na Sorbonne, por cinco anos. Concluídos 
os estudos, ingressou no mundo das letras, escreveu sobre filosofia e interessou-se por problemas 
sociais de seu tempo. Impressionou-se com a fome que assolou Sevilha e suas consequências. 
Seu trabalho mais conhecido, De Subvencione Pauperum (Da Assistência aos Pobres), expõe sua 
doutrina sobre as causas da miséria e a necessidade de união dos homens e da divisão do trabalho 
(tratava de economia, desenvolvimento das cidades, êxodo rural, etc.), entendendo “a caridade não 
consistir apenas em dar dinheiro ou bens materiais, mas também dar de si, salientando, assim, a 
importância dos valores espirituais” (VIEIRA, 1977).
13Da caridade ao surgimento do Serviço Social
que poderia enfraquecer o prestígio da Igreja. Os ricos e nobres viram nele uma 
crítica à maneira de distribuir esmolas por ostentação ou para angariar adeptos 
para projetos políticos ou intelectuais. A organização proposta em seu trabalho 
De Subvencione Pauperum pode ser considerada o primeiro tratado de Serviço 
Social, no qual apresenta sua doutrina nos seguintes pontos: 
a) o socorro aos pobres deve ser baseado na justiça, dando a cada um o 
que precisa para reajustar-se; não deve ser uma esmola esporádica, mas 
um auxílio para resolver definitivamenteo problema; 
b) a melhor maneira de ajudar ao pobre consiste em treiná-lo e dar-lhe os 
instrumentos para poder trabalhar e, portanto, sustentar-se;
c) a assistência deve estender-se a todas as categorias de pobreza; certas 
pessoas, dado seu grau de acanhamento, merecem ser socorridas em 
suas residências; 
d) devem ser organizadas, entre os trabalhadores, medidas de previdência 
em caso de doença, desemprego e velhice; 
e) impõe-se a instituição de medidas contra a mendicância profissional, 
e os mendigos devem ser devolvidos às suas cidades de origem, com a 
assistência necessária à viagem; 
f) finalmente, torna-se necessária a cooperação entre as várias associações 
de caridade, coleta e centralização de fundos, unificação de direção e 
divisão de trabalho. Vivès considerava, ainda, insuficiente o trabalho 
da Igreja e declarava ser necessária a participação do Estado na obra 
de assistência (VIEIRA, 1977).
As ideias de Vivès, intensamente combatidas, foram sementes que 
germinaram no modo de praticar a caridade pelo sacerdote São Vicente de 
Paulo7 (1581-1660), quando propôs sistematizar a distribuição dos socorros 
7 São Vicente de Paulo, sacerdote, filho de uma família camponesa do sul da França. Organizou a |
associação denominada “Damas da Caridade” (1617) com senhoras da sociedade, que visitavam 
os doentes nos hospitais e os pobres em suas casas para dar-lhes os socorros necessários, e cada 
uma se encarregava de certo número de famílias. Diante das dificuldades inerentes à classe social 
das senhoras, nem sempre sabiam, podiam ou mesmo queriam limpar os barracos, lavar doentes, 
crianças ou velhos. Mesmo ensinar lidas domésticas era-lhes impossível, pois possuíam serviçais. 
Então, em 1633, São Vicente e a senhora Luísa de Marillac tiveram a ideia de recrutar e formar 
moças camponesas que se dedicassem ao “Serviço dos Pobres” (VIEIRA, 1977).
14 Da caridade ao surgimento do Serviço Social
e organizar a reabilitação dos pedintes com o auxílio caridoso de senhoras da 
sociedade. Para isso, criou as associações “Damas de Caridade” e “Filhas de 
Caridade”, dedicadas ao “serviço dos pobres”. São Vicente inova no momento em 
que cria uma congregação feminina não enclausurada e, em 1653, após intensa 
luta, obteve a aprovação da Congregação pela Santa Sé. 
A entidade “Filhas de Caridade” expandiu-se rapidamente ainda durante a 
vida de seu fundador, mostrando que a instituição respondia à necessidade do 
tempo. Assim, marca “o princípio da profissionalização do exercício da caridade, 
sem lhe tirar o aspecto espiritual, mas salientando-o, tanto para quem dava como 
para quem a recebia” (VIEIRA, 1977, p.39). Na formação das Filhas insistia-se 
sobre a qualidade do “serviço dos pobres”, o qual deveria ser praticado com 
paciência, doçura e persuasão, na esperança de levá-los à reabilitação e ao amor, 
vendo em cada um a imagem do Salvador.
As ideias de São Vicente de Paulo sobre a prática da caridade eram idênticas 
às preconizadas por Juan Luis Vivès, embora não se tenha notícias de que São 
Vicente e Luísa de Marillac tivessem tido acesso aos escritos do espanhol. Ambos 
defendiam que
[...] não se deveria dar esmolas indiscriminadamente, e sim, depois 
de um estudo minucioso das situações; era necessário ajudar o 
pobre a encontrar um trabalho, ou ensinar-lhe um ofício, para que 
não precisasse recorrer à caridade; não se deveria censurar o pobre, 
por ser o mesmo uma criatura de Deus e um irmão infeliz; fazia-se 
necessário organizar obras para combater, em seu conjunto, os males 
existentes, etc. (VIEIRA, 1977, p.38)
No século XVII, com o desaparecimento dos mosteiros e com o decreto 
de Henrique VII, os nobres passaram a se preocupar com a ajuda aos pobres. 
Em 1601, surge a Lei dos Pobres, a qual condiciona todos os pobres sadios ao 
trabalho. Essa lei foi promulgada por Elizabete I, da Inglaterra, cuja função 
principal era retirar das ruas os mendigos e vadios, realizando um controle sobre 
esta população. Os pobres eram obrigados a enfrentar as mais duras condições 
de trabalho nas work houses, com salários irrisórios.
15Da caridade ao surgimento do Serviço Social
A questão social do século XVII toma dimensões maiores no século XVIII, 
quando se consolida a tomada do poder econômico e político pela burguesia. 
Dá-se a partir das Revoluções Industrial e Francesa8, quando se constituem 
claramente duas classes sociais: a dos que detêm a propriedade privada e a 
dos que vendem a força de trabalho. Fato que marca significativamente o 
processo de transformação econômica e social tanto europeu quanto americano, 
prolongando-se até metade do século XIX. Identificado não só pela miséria, 
mas também pelo descontentamento dos trabalhadores pobres e dos pequenos 
comerciantes. 
A exploração da mão de obra, que mantinha sua renda a nível de 
subsistência, possibilitando aos ricos acumularem os lucros, que 
financiavam a industrialização (e seus próprios e amplos confortos), 
criavam um conflito com o proletariado. Entretanto, um outro 
aspecto desta diferença de renda nacional entre pobres e ricos, entre 
consumo e investimento, também trazia contradições com o pequeno 
empresariado. Os grandes financistas, a fechada comunicação de 
capitalistas nacionais e estrangeiros que embolsava o que todos 
pagavam em impostos – cerca de 8% de toda a renda nacional –, 
eram talvez ainda mais impopulares entre os pequenos homens de 
negócio, fazendeiros e outras categorias semelhantes do que entre 
os trabalhadores, pois sabiam o suficiente sobre dinheiro e crédito 
para sentirem uma ira pessoal por suas desvantagens. (HOBSBAWN, 
1982, p.55)
A perda do poder aquisitivo dos trabalhadores e o aumento de investimentos 
da indústria e do comércio marginalizando parte significativa da sociedade 
e, por conseguinte, o aumento do desemprego, do êxodo rural, entre outros, 
resultaram em conflitos inerentes a essas relações. 
8 A Revolução Francesa (1789) proclamada pela Assembleia Constituinte da França, marco da |
“Declaração dos Direitos Humanos”, defende a “igualdade política e social”, preconiza a defesa 
dos pobres à exploração dos ricos e a restauração da ordem social em defesa do progresso, e a 
classe operária foi “convidada” a uma trégua com os ricos e a resolver os conflitos de uma maneira 
harmoniosa, através do consenso (HOBSBAWN, 1982). 
16 Da caridade ao surgimento do Serviço Social
A busca de respostas para os novos conflitos provocados pelas revoluções 
possibilitou o surgimento de uma nova ciência com diferentes enfoques, entre 
eles: a sociologia com Augusto Comte (1798-1857), a psicologia com Sigmund 
Freud (1856-1939), o evolucionismo com Charles Darwin (1809-1882) e 
o marxismo com Karl Max (1818-1883). Pensadores preocupados com as 
transformações em curso e que constituíram seu objeto de análise considerando 
as relações sociais da época.
Os conflitos provocados pela industrialização também influenciam a 
compreensão e sistematização da assistência social a partir da “Doutrina 
Social” com o surgimento do neotomismo que reafirma o tomismo. As ideias 
neotomistas surgiram na Itália na segunda metade do século XVIII, através 
da promulgação, em 15 de janeiro de 1891, por Leão XIII, da primeira grande 
encíclica social: Rerum Novarum9, uma carta sobre “justiça social”. A referida 
carta questiona os problemas sociais decorrentes das relações entre capital 
e trabalho, em função do choque filosófico entre liberalismo e socialismo. 
O documento buscava uma reformulação da sociedade através da união das 
classes sociais e resgate da dignidade humana do trabalhador. O neotomismo 
foi considerado o primeiro sistema filosófico que influenciou o Serviço Social 
(AGUIAR, 1985). 
Entre os diferentes enfoques da nova ciência, a mais utilizada pelo 
desenvolvimentismo moderno foi a comtiana, a qual tinha como tema central a 
necessidade de uma reorganização da sociedade, isto é, a regeneração das opiniões 
(ideias) e dos costumes (ações) dos homens, por encontrar-se desorganizadaem função dos conflitos gerados pelas revoluções em curso, entendendo como 
fator importante o conhecimento das leis que regem os fatos sociais para que 
se pudesse restabelecer a ordem e a paz. 
9 | Rerum Novarum (Das Coisas Novas), carta escrita pelo papa León XIII, erudito de Tomás de Aquino, 
a todos os bispos. A carta marca o início da sistematização do pensamento social católico, que 
objetivava não ficar indiferente às injustiças sociais provenientes da revolução industrial. Debate 
as condições das classes trabalhadoras, seu direito de formarem sindicatos, defende o direito à 
propriedade privada e rejeita o socialismo. Criticava a concentração das riquezas nas mãos de 
poucos e do mau uso que dela faziam, colocando a “questão social” principalmente em relação 
à dignidade humana do trabalhador de forma a discutir a relação entre o governo, os negócios, 
o trabalho e a Igreja. Na Encíclica, o Santo Padre, ao destacar o antagonismo entre capital e 
trabalho, prega a união e a solidariedade (disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.
asp?id=3188. Acesso em: 14 set. 2009).
17Da caridade ao surgimento do Serviço Social
Nesse período as entidades assistenciais se movimentavam em busca 
da organização da assistência social, considerando que a industrialização 
modificou completamente o cenário econômico em geral e de grande 
número de famílias. A mão de obra não é apenas masculina, e a pobreza 
atingiu características específicas em relação ao pauperismo entre as pessoas 
saudáveis; homens sendo substituídos pelas máquinas (tear mecânico e 
motor a vapor); aumento significativo do êxodo rural; mulheres e crianças 
trabalhando em condições subumanas com jornadas superiores a 14 horas, 
sem férias ou descanso semanal ou segurança no trabalho. Na Europa, 
consolidam-se os princípios de São Vicente e de Vivès através de numerosas 
fundações religiosas e leigas, cuja expansão foi bastante rápida, pois havia 
uma necessidade a ser suprida. 
Em 1869, foi fundada em Londres a Sociedade de Organização de Caridade 
(Charity Organisation Society – COS), inspirada na Sociedade de São Vicente 
de Paulo e com a finalidade de coordenar o trabalho das obras assistenciais 
particulares, julgando o aumento considerável do número de entidades 
assistenciais em todos os países. A falta de integração da ajuda prestada 
ocasionava, em muitos lugares, a duplicidade da assistência, o que evitava a 
resolução rápida e econômica dos casos. 
A crise mencionada do final do século XIX (1870) e que se estendeu até 
1929 objetivava consolidar o sistema capitalista e aumentar a acumulação do 
capital. Em 1877, o reverendo J. H. Gurteen fundou a COS nos Estados Unidos. 
A COS teve, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, grande influência 
na forma de tratar a pobreza. Segundo Gurteen, “o fundamental axioma desse 
movimento era o de ‘ajudar o pobre a se ajudar a si mesmo’, e a principal regra 
para a operação era a palavra ‘investigação’” (SILVA, 2004, p.26-27). A sociedade 
empregava pessoal remunerado para as investigações, em geral alunos de ciências 
sociais, para determinar quem e quanto cada família deveria receber. Quando 
a família era aceita a receber ajuda, era confiada a um “visitador voluntário” 
(homem ou mulher). 
No século XIX, o campo da ação social terminou marcado pelo trabalho 
de voluntários treinados e profissionais formados em Serviço Social. 
Ampliou-se o atendimento a problemas de habitação, crianças abandonadas 
ou maltratadas, luta contra a tuberculose, entre outros. Também surgiram 
18 Da caridade ao surgimento do Serviço Social
divergências entre os cooperadores das obras de caridade quanto às suas 
finalidades: os que sustentavam a necessidade de ajudar os indivíduos, 
desenvolvendo suas potencialidades a fim de ajustá-los à sociedade em 
que viviam; outros entendiam a necessidade de agir sobre o ambiente, 
modificando-o ou reformulando-o, para permitir uma vida normal. Para 
os preocupados com o ambiente, originou-se a atividade da pesquisa sobre 
a miséria e suas causas. 
A partir dos dados acima, entendemos que tanto a promulgação da Encíclica 
Rerum Novarum e a organização da assistência social quanto a priorização 
da ciência positivista e o surgimento do Serviço Social estão diretamente 
relacionados à crise do final do século XIX (1870 a 1929), que, por um lado, 
objetivava aumentar a acumulação do capital com a criação do monopólio e, 
por outro, o desenvolvimento de um Estado intervencionista (Welfare State, 
Estado de Bem-Estar Social, keynesianismo, “populismo”, entre outros) como 
proposta de resolver os conflitos inerentes à classe trabalhadora. 
No momento em que se observam lutas de classes em torno de projetos 
antagônicos10, o surgimento do Serviço Social também foi uma estratégia 
da classe hegemônica na virada do capitalismo concorrencial11 para a fase 
monopolista12. Dentro desse contexto de conflitos surgem as políticas 
sociais institucionalizadas como instrumentos de legalização e consolidação 
hegemônica do capital em resposta às lutas da classe trabalhadora. Assim, 
existe atualmente entre os profissionais uma duplicidade em relação à gênese e 
ao desenvolvimento da profissão, identificadas no estudo de Montaño (2007), 
10 | Resultado da articulação das grandes matrizes culturais do mundo, tendo como palco a Europa 
Ocidental na primeira metade do século XIX. Mais exatamente: a preparação ideológica da Revolução 
Francesa e a ascensão do capitalismo (base no pensamento de Augusto Comte) e os movimentos 
operários e suas subvenções (influenciados pelas ideias de K. Marx e F. Engels, quando emerge a 
chamada razão moderna com suas desigualdades e contradições (NETTO, 1985). 
11 | O capitalismo concorrencial surge no século XIX com a liberdade política (propriedade privada), 
quando os burgos criaram um novo mundo com a Revolução Industrial, isto é, uma nova forma 
peculiar de sociedade de classes (proletariado e burguesia) caracterizada pela compra e venda da 
força de trabalho (NETTO, 1985). 
12 | O capitalismo monopolista surge no século XX, juntamente com a grande depressão nos Estados 
Unidos, a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa (1917), quando o Estado objetiva a 
manutenção da ordem pública através da repressão e de outras formas de assistência social. 
Nesse período, instauram-se corporações que controlam a produção e a comercialização de áreas 
estratégicas revertendo a queda tensional da taxa de lucro (NETTO, 1985).
19Da caridade ao surgimento do Serviço Social
com duas teses: a endonista, também chamada de evolutiva, que acredita ser 
o Serviço Social decorrente das formas de caridade e filantropia, e a segunda 
histórico-crítica, que defende ter a profissão surgido a partir dos conflitos 
mobilizados pela classe trabalhadora e classe dominante, instituindo-se a 
profissão com a função de amenizá-los. Essas teses contêm semelhanças e 
rupturas entre o Serviço Social profissional e as formas de ajuda assistencial 
não profissional, de forma que uma complementa a outra. 
Para ilustrar a afirmação, utilizamo-nos de dois autores analisados por 
Montaño (2007) que tratam da origem profissional: (1) Ottoni Vieira, que 
entende que a profissão se constitui em uma fase mais evoluída das anteriores 
formas de ajuda e a considera com as mesmas características (prática, gênero, 
procedência dos profissionais, etc.). Nesse sentido, para a autora, “o Serviço 
Social ‘profissionalizado’ teria uma relação de continuidade com as formas não 
profissionais de ajuda; seria uma evolução delas” (p.53). (2) Este pensamento 
contraria a posição de Martinelli, que remete a emergência da profissão “à análise 
do desenvolvimento capitalista, que concebe o Estado intervencionista como 
instrumento estratégico de controle popular e manutenção do status quo, e onde 
surge a necessidade de um profissional encarregado da prática da assistência”. 
Contanto que a autora defende a ideia de que o Serviço Social é “um instrumento 
da burguesia que sevale tanto do Estado quanto da Igreja católica para defender 
seus interesses” (p.53).
Martinelli (apud MONTAÑO, 2007) ainda apresenta a distinção entre as 
tendências de Serviço Social inglesas e europeias, denominadas social service 
(uma prática servil de doação, de ajuda, de prestação de serviço), das práticas 
norte-americanas – social work, que, diferentemente da expressão inglesa 
labour, refere-se à venda da força de trabalho, reportando-se a um trabalho que 
buscava mais a realização pessoal, a recriação intelectual que a remuneração 
propriamente dita. A partir dessas tendências, surge o Serviço Social na Europa 
Ocidental e nos Estados Unidos nos anos 1880-1940, em 1925 no Chile e 
na segunda metade dos anos 1930 no Brasil. A seguir, no próximo capítulo, 
abordaremos a assistência social e a evolução histórica do Serviço Social no 
Brasil à luz dos pressupostos positivistas. 
20 Da caridade ao surgimento do Serviço Social
Atividades
1. Diferencie os conceitos de caridade, filantropia, assistência social e 
serviço social.
2. Construa um quadro que contemple as concepções de homem e mundo 
nos diferentes momentos da história e a referida assistência prestada 
aos necessitados.
3. A partir das teses propostas por Montaño (2007), busque material 
nesta e em outras obras na internet e aprofunde a discussão em torno 
da gênese, desenvolvimento e significado da profissão.
Referência comentada
MONTAÑO, Carlos. A natureza do serviço social. São Paulo: Cortez, 2007.
A obra do autor trata da gênese, desenvolvimento e significado socio-
histórico do Serviço Social. Expõe em duas teses: a endogenista e a histórico-
crítica, que se mostram presentes na interpretação da profissão e provocam 
análises importantes para os fundamentos da profissão.
Referências
AGUIAR, Antonio Geraldo de. Serviço social e fi losofi a: das origens a Araxá. 
3.ed. São Paulo: Cortez, 1985.
CHASSOT, Attico. A ciência através dos tempos. São Paulo: Moderna, 1994. 
(Coleção Polêmicas)
COLEÇÃO OS PENSADORES. Francis Bacon. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
______. René Descartes. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
HOBSBAWN, Eric. A era das revoluções (1789-1848). 4.ed. Rio de Janeiro: Paz 
e Terra, 1982. 
MONTAÑO, Carlos. A natureza do serviço social. São Paulo: Cortez, 2007.
NETTO, José Paulo. O que é marxismo. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 1985.
RIBEIRO JUNIOR, João. O que é positivismo. 6.ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
VIEIRA, Balbina Ottoni. História do serviço social: contribuições para a 
construção de sua teoria. Rio de Janeiro: Agir, 1977. 
21Da caridade ao surgimento do Serviço Social
Autoavaliação
Marque V nas questões verdadeiras e F nas falsas:
1. ( ) A idade moderna foi marcada pelo surgimento da burguesia, 
quando Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino se ocupam com 
religião e filosofia como condição essencial para a compreensão 
racional das verdades.
2. ( ) Os precursores da organização da assistência social Juan Luiz 
Vivès e Vicente de Paulo, preocupados com os necessitados, digo, 
os pobres, tinham em comum prever, sistematizar a assistência 
social como forma de combater as mazelas da questão social na 
busca da igualdade social. 
3. ( ) Quando da publicação das obras de Mary Richmond, já havia 
instituições de caridade/filantropia na Europa e nos Estados Unidos 
com cadastro dos atendidos. Foi uma prática conquistada por São 
Vicente de Paulo, o qual, além do cadastro, defendia a necessidade 
de ajudar os pobres a encontrarem trabalho.
4. ( ) Com a modernidade houve a quebra da unidade religiosa e 
o surgimento do método científico na busca de respostas para 
os novos conflitos provocados pela perda do poder aquisitivo 
dos trabalhadores. Nesta época, o enfoque eleito pelos donos de 
indústrias foi o marxismo. 
5. ( ) Montaño (2007) descreve duas teses sobre a gênese do Serviço 
Social no Brasil e busca analisar a posição de autores brasileiros 
sobre o assunto. Em sua análise, entende que Balbina Ottoni Vieira 
defende a tese histórica crítica decorrente da evolução da caridade 
e da filantropia.
6. ( ) Ao despontarem os tempos modernos, no século XX, ocorre o 
desenvolvimento da ciência que intensifica entre outros aspectos o 
comércio marítimo. Fenômeno que marca o início da globalização 
e se configura a era da secularização. 
Gabarito:
1. F 2. F 3. V 4. F 5. F 6. F
2
Retrospectiva da caridade 
à constituição e evolução 
da profissão no Brasil
A assistência social no Brasil, a exemplo da Europa e Estados Unidos, 
estruturou-se a partir da caridade dos grupos cristãos católicos às pessoas 
necessitadas em função da emergência do capitalismo no país. Sua reorganização 
ocorre meia década depois da Europa (1869) e Estados Unidos (1870), dando 
origem ao Serviço Social profissional.
A reorientação da prática da caridade brasileira inicia com os conhecimentos 
adquiridos por Albertina Ferreira Ramos e Maria Kiehl, em 1935, quando 
retornam de Bruxelas onde realizaram o curso de Serviço Social no Centro 
de Estudos de Ação Social (CEAS), vinculado à Igreja Católica daquele país. 
No Brasil, o CEAS foi fundado em setembro de 1932 pela Ação Social e Ação 
Católica, também vinculado a políticas da Igreja Católica, tendo como uma de 
suas estratégias a luta contra o liberalismo e comunismo. 
No CEAS brasileiro elas realizavam cursos de formação social e semanas 
sociais para capacitar as organizações leigas de formação católica na área da 
assistência aos necessitados, com foco no enquadramento político e ideológico, 
principalmente da classe trabalhadora na defesa da burguesia. Os referidos 
cursos foram nascedouro de muitas escolas de Serviço Social, entre elas as de 
São Paulo, Rio de Janeiro, Natal e Porto Alegre. A primeira escola de Serviço 
24 Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profi ssão no Brasil
Social no Brasil, a de São Paulo, foi inaugurada em 1936, tendo como contexto 
as circunstâncias históricas do desenvolvimento capitalista como reflexo das 
economias europeia e norte-americana e o agravamento da questão social no 
final do século XIX, com o surgimento dos monopólios e os consequentes 
embates políticos, ideológicos e sociais. Foi no cenário católico leigo e na 
perspectiva de controle da classe trabalhadora que o Serviço Social constituiu-se 
em um departamento especializado da ação social da entidade, aproveitando as 
experiências acumuladas na área da assistência. 
A referida escola teve como objetivo “[...] promover a formação de seus 
membros pelo estudo da doutrina social da Igreja e fundamentar sua ação nessa 
formação doutrinária e no conhecimento aprofundado dos problemas sociais” 
(GAMA apud IAMAMOTO e CARVALHO, 1988, p.173). Esta não pode ser 
considerada como “fruto de uma iniciativa exclusiva do Movimento Católico 
Laico, pois já existia presente uma demanda – real ou em potencial – a partir do 
Estado, que assimilou a formação doutrinária e passou por rápidos processos de 
adequação” (ibidem, p.180). O CEAS firmou convênio com o Departamento de 
Serviço Social do Estado, em 1939, para a organização de Centros Familiares, 
tornando necessária a introdução no currículo da escola de um curso intensivo 
de formação familiar: Pedagogia do Ensino Popular e Trabalhos Domésticos. No 
ano seguinte, o Estado requisitou trabalhadores sociais para o Serviço Social do 
trabalho, que serviram também de “sustentação ideológica para os assistentes 
sociais às diretrizes e atividades da União Católica Internacional de Serviço 
Social (UCISS) (AGUIAR, 1982, p.31). A UCISS é um organismo seguidor da 
doutrina da Igreja e que ditaria as perspectivas do Serviço Social católico.
O atraso do surgimento do Serviço Social no Brasil, de pelo menos meia 
década, se deve ao atraso da chegada do capitalismo no país de praticamente um 
século. O Brasil, enquanto colônia de Portugal, vivia da exploração agrícola (café), 
não sendo permitida a instalação de fábricas a não ser em alguns segmentos para 
o consumo interno, poisbasicamente tudo era importado da Europa/Portugal e 
Estados Unidos. A crise que assolou o mundo no final do século XIX até 1929 
e a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas à Presidência da República e à 
respectiva implantação do “modelo” de desenvolvimento nacionalista populista, 
proporcionaram à burguesia nacional o desenvolvimento de suas indústrias. 
Foram dados os primeiros passos para a implantação do capitalismo no país 
por meio do apoio do governo ao setor industrial e da criação das primeiras 
25Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profi ssão no Brasil
empresas estatais (Companhia Siderúrgica Nacional, Petrobras). Nessa década 
surgem movimentos sociais decorrentes dos baixos salários e a pobreza devido 
ao êxodo rural, desemprego, entre outros. O povo se rebela contra o governo 
através de movimentos sociais reivindicatórios, controlados pelo mesmo por 
meio da criação de políticas de proteção aos direitos dos trabalhadores com 
a finalidade de garantir a harmonia entre as classes e o desenvolvimento do 
capitalismo. Para isso, foram criados organismos normatizadores e disciplinares 
das relações de trabalho, em especial através do Ministério do Trabalho, Indústria 
e Comércio. 
Na época, os movimentos reivindicatórios dos trabalhadores pouco opinaram 
sobre as leis implantadas, considerando que tudo aconteceu muito rápido. Nem 
bem se instala o capitalismo concorrencial, este já vai dando lugar ao sistema 
monopolista, que traz consigo a coerção sobre os trabalhadores organizados 
em sindicatos e a definição governamental do que deveria ser atendido e como. 
Exigia que o Estado respondesse aos conflitos por intermédio de políticas de 
atendimento à família, aos menores e a outras formas de assistência social, com 
o objetivo de manutenção da ordem pública. Para esse atendimento, o Estado 
buscou na Igreja parceria para a implementação da ação social, a qual formava 
seus primeiros profissionais voluntários e de Serviço Social, sendo estes últimos 
chamados e contratados ainda durante a formação para trabalhar em instituições 
públicas que vinham sendo criadas com o objetivo de desenvolver um trabalho 
junto às famílias e outras áreas. O Serviço Social integra-se como uma profissão 
a partir da prática vocacionada, passando a ter função ideológica e de controle 
ao legitimar uma prática institucionalizada e assalariada. A criação dessas 
instituições assistenciais ocorre com a estratégia de 
aprofundamento do modelo corporativista do Estado e de uma 
política econômica favorecedora da industrialização, adotada a 
partir de 1930. Dá-se, nesse contexto, a supremacia da burguesia 
industrial, no poder do Estado, aliada aos grandes proprietários rurais, 
ocorrendo, também, o crescimento do proletariado urbano, em face 
do desenvolvimento do modelo urbano-industrial e da capitalização 
da agricultura, com a consequente liberação de fluxos populacionais. 
(SILVA, 2007, p.24)
26 Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profi ssão no Brasil
Assim, a profissão decorre da profissionalização do voluntariado da 
assistência social para resolver os conflitos no processo da divisão sociotécnica 
do trabalho em pleno desenvolvimento do capitalismo, quando se tornam 
necessários o controle e a prevenção da ordem social do próprio sistema e 
implantação de políticas sociais pelo Estado. Tendo como base teórica inicial a 
ação social católica sob a orientação da Doutrina Social da Igreja preconizada 
pelas encíclicas, entre elas a já mencionada Rerum Novarum (1891), que qualifica 
o laicato e forma os primeiros profissionais de Serviço Social, a assistência social 
amplia a ação caritativa aos necessitados com o objetivo de praticar a justiça e a 
caridade também junto aos trabalhadores urbanos e suas famílias. 
Em 1937, no Rio de Janeiro, foi fundada a segunda escola de Serviço Social 
por incentivo do cardeal Leme, Stela Foro e Alceu Amoroso Lima, contando com 
a colaboração da Congregação das Filhas de Maria, proveniente da França e com 
experiência social cristã no seu país, a qual influenciou o desenvolvimento da 
escola nessa perspectiva. Nesse mesmo ano, ocorre o Golpe de Estado, surgindo 
então o Estado Novo, período em que o Serviço Social inicia sua trajetória 
rumo à profissionalização. Primeiramente, com base em princípios católicos, 
em uma perspectiva de prática social voltada para responder às exigências do 
capitalismo em desenvolvimento. Segundo Aguiar, nessa fase “o que importa é 
a formação doutrinária e moral, o aspecto técnico só passará a ter significado 
com a influência americana” (1985, p.31). Com isso, a sociedade burguesa busca 
formas sistemáticas e estratégicas para enfrentar as manifestações do operariado 
e o aumento significativo do êxodo rural, trazendo diferentes dificuldades no 
contexto urbano-industrial.
As demandas apresentadas pelo Estado Novo, então instituído, são duas: 
controlar e absorver os setores urbanos emergentes e buscar neles a legitimação 
política. Para isso, o Estado avança na organização de grandes instituições 
assistenciais e previdenciárias articuladas com os setores dominantes em resposta 
à pressão dos setores populares e, consequentemente, no rebaixamento salarial. 
Dessa forma, o Serviço Social “passa a integrar os mecanismos de execução 
das políticas sociais do Estado e dos setores empresariais, enquanto formas de 
enfrentamento da questão social emergente no contexto do desenvolvimento 
urbano-industrial” (SILVA, 2007, p.25). A profissão, segundo Silva, tem em 
“suas origens a base confessional, largamente presente na prática profissional, 
e confere ao Serviço Social as bases para sua legitimação perante a sociedade” 
27Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profi ssão no Brasil
(2007, p.25). A formação inicialmente reproduziu os conhecimentos vindos da 
Europa (em especial sob o influxo belga, francês e alemão).
Na década de 1940, o Estado desponta como o grande empregador dos 
assistentes sociais, o que ocasionou ser controlador da ação profissional. No 
período pós-Segunda Guerra, os Estados Unidos organizam sua hegemonia 
mundial através de conferências, tratados entre outros. O Tratado Inter-
Americano de Assistência Recíproca (TIAR), em 1947, a Organização dos 
Estados Americanos (OEA), em 1948, e no decurso da IX Conferência 
Internacional dos Estados Americanos, consolidam a segunda fase da União 
Pan-Americana (UPA). Nessa conjuntura, a passagem da influência europeia 
para a norte-americana sobre o Brasil torna-se fato concreto. 
Nas instituições assistenciais, gradativamente, amplia-se o mercado de 
trabalho para a profissão e a mesma se mostra carente de técnicas, momento em 
que os convênios dos Estados Unidos com o Brasil possibilitaram, através dos 
intercâmbios, que o Serviço Social preenchesse a lacuna sentida pela categoria. 
O intercâmbio com profissionais dos Estados Unidos ocorreu por intermédio 
da chamada política de “boa vizinhança”13 do presidente Roosevelt, no período 
de 1933 a 1945, com o objetivo de promover uma aproximação maior entre os 
Estados Unidos e a América. 
Os acordos proporcionaram a concessão de bolsas de estudo para assistentes 
sociais sul-americanas14, no período de 1941 a 1957, com o objetivo de 
aperfeiçoamento e especialização em escolas norte-americanas, nas quais se 
destacaram cursos sobre: o Serviço Social de Caso, Serviço Social de Grupo e 
Organização de Comunidade. Nesse momento, a dimensão ético-religiosa da 
profissão sob a influência técnico-científica, de orientação filosófica positivista/
funcionalista, que fundamentaria o Serviço Social até a década de 1970, decaindo 
13 | Política que imprimiu uma influência cultural estadunidense sobre os países latino-americanos, 
cuja bandeira é criar as formas de “solidariedade” continental através de acordos comerciais 
com injeção de recursos nos programas de industrialização (Coca-Cola, filmes), planos de acordo 
internacionais e, por fim, de alianças políticasque garantissem a hegemonia destes na região 
através de bolsas de estudos (artistas, profissionais) com o objetivo de erradicar a influência 
nazifascista europeia e defender os interesses norte-americanos. Considerada um prolongamento 
da Doutrina Monroe (1823) que instaurou o imperialismo dos Estados Unidos sobre os países 
latino-americanos (PINTO, 1986). 
14 | Entre as assistentes sociais brasileiras que participaram das bolsas de intercâmbio, podemos 
destacar: Maria Josefina Rabello Albano, Marília Diniz Carneiro, Nadir Kfoury, Balbina Otoni Vieira, 
Maria Helena Correia e Helena Iracy Junqueira.
28 Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profi ssão no Brasil
na década de 1980. Momento em que o Serviço Social constitui-se com a 
influência do aspecto técnico, que propicia desenvolver a prática com modelos 
teórico-metodológicos importados. 
O Serviço Social imprime a identidade científica e técnica da profissão, que 
se consagra no pós-Segunda Guerra Mundial, que se encontrava carente de um 
instrumental técnico, e absorve de forma direta os princípios norte-americanos, 
assimilando a tecnologia americana aliada ao neotomismo15 cristão em dois 
momentos. Primeiro adotando a influência americana de Mary Richmond, 
numa perspectiva positivista sociológica e comportamental, na busca da solução 
aos “problemas sociais” decorrentes das carências sociais, a chamada Escola 
Diagnóstica. Num segundo momento, no pós-Segunda Guerra Mundial e início 
da Guerra Fria, avança no intercâmbio da perspectiva positivista durkheimiana 
através da Escola Psicossocial, voltando-se para a postura terapêutica. 
Embora nos meios científicos se questionassem os fundamentos da sociedade 
da época, no Serviço Social predominou, segundo Faleiros (1997), a ideia da 
biologização do social, aliada a uma influência da moral e da ordem em relação 
a seu caráter religioso e conservador. Propunha-se que os profissionais recém-
formados atuassem na mudança do comportamento das famílias e pessoas, para 
que melhorassem. 
Ainda na década de 1940, o Serviço Social de Caso passa a ser ensinado a 
partir de outros autores além de Mary Richmond, como Gordon Hamilton, 
Anette Garet, Felix Baisteck e outros. Também no pós-Segunda Guerra surge o 
Serviço Social de Grupo, com base no funcionalismo sociológico de Durkheim, 
cujo objeto são as funções sociais, originando o modelo funcional e os principais 
autores são Gertrudes Wilson, Gladys Ryland, Gisela Konopka, Simone Parè, 
entre outros. 
Na década de 1950, surge o modelo estrutural-funcional/sistêmico, alicerçado 
em Robert Merton e Talcott Parsons, o método norte-americano “Organização 
de Comunidade”, também denominado Desenvolvimento de Comunidade, e, 
no Serviço Social, de Serviço Social de Comunidade. Perspectiva esta permeada 
15 | A profissão se expressa na doutrina social da Igreja Católica, com base na encíclica Rerum Novarum, 
publicada em 15 de maio de 1891 por Leão XIII. No aniversário da publicação da encíclica também 
se comemora o Dia do Assistente Social. Nesse período, a Igreja brasileira vai assumindo as diretrizes 
papais (Leão XIII, Pio X e Pio XI), buscando a reforma da sociedade em virtude da influência do 
pensamento liberal e do comunismo (PINTO, 1986, p.35-36).
29Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profi ssão no Brasil
pelas ideias desenvolvimentistas alicerçadas pelos programas da Organização 
das Nações Unidas (ONU) e pelos vários acordos entre os países da América 
Latina e Estados Unidos. 
Na década de 1960, também marcada no início da ditadura militar pelo 
Movimento de Reconceituação no Serviço Social na América Latina/Brasil, 
reforçam-se as ideias “desenvolvimentistas”, através do então presidente Kennedy, 
com o objetivo de tirar os países da América Latina do atraso em relação ao 
desenvolvimento com a política “Aliança para o Progresso – Alimentos para a 
Paz”16, através do programa Desenvolvimento de Comunidade. Esta política 
tinha, em relação aos países subdesenvolvidos, o objetivo de “salvá-los do 
comunismo”, culminando nos acordos MEC-USAID, em andamento desde 1964. 
Entre os teóricos desta abordagem temos o norte-americano Murray Ross e os 
brasileiros Rios e Ottoni Vieira. 
O segundo momento do Serviço Social, identificado como período posterior 
à Segunda Guerra Mundial até o Movimento de Reconceituação, consagra a 
identidade científica e técnica da profissão importada dos Estados Unidos, a 
qual sofre influência direta da psicanálise e outras áreas, permeada pela ideologia 
desenvolvimentista, principalmente na abordagem comunitária.
Ainda na década de 1960, os profissionais investem na reconceituação da 
profissão, através do chamado “Movimento de Reconceituação” (1965 a 1979), 
buscando construir a identidade profissional própria. Movimento que inicia a 
partir do descontentamento da profissão em relação ao Serviço Social importado 
e gesta três tendências/perspectivas profissionais que centralizam a produção 
de conhecimento durante o período: a tendência tecnicista (modernizadora), 
a tendência do conhecimento personalista (fenomenológica) e a tendência 
política (marxista).
A tendência tecnicista/modernizadora, chamada por Netto (1994) de 
perspectiva modernizadora, segue o referencial positivista/neopositivista, 
através de um modelo único funcional-estrutural. Perspectiva gerada durante 
os primeiros anos do Movimento de Reconceituação, através dos Documentos 
16 | Resposta estadunidense aos problemas políticos relacionados ao subdesenvolvimento, a qual partia 
do pressuposto de que as questões de “atraso cultural” dos países subdesenvolvidos impediam de 
galgar a modernidade capitalista. O acordo buscava auxiliar na transição da sociedade tradicional 
para a moderna, tendo como base o modelo econômico dos Estados Unidos. A partir dessa política, 
o Serviço Social se expande ao assumi-la (NETTO, 1994).
30 Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profi ssão no Brasil
de Araxá (1967) e de Teresópolis (1970), que produziram o primeiro referencial 
teórico-metodológico brasileiro tendo como teórico de ponta José Lucena 
Dantas. As tendências personalista e marxista estruturam-se na década de 1970, 
também denominadas por Netto (1994) de perspectiva intenção de ruptura com 
o Serviço Social tradicional/marxista, tendo como teórico Leila Lima Santos, 
autora do método BH, e a perspectiva reatualização do conservadorismo/
fenomenológica, tendo como principal teórico Anna Augusta de Almeida, 
autora da Nova Proposta.
Na década de 1980, o Serviço Social continua enfrentando a luta entre 
diferentes paradigmas de compreensão da sociedade, numa disputa de posições 
político-teóricas. Essa polêmica diminui nos anos de 1990 com a queda do 
muro de Berlim, que marca o fim da Guerra Fria (dissolução da bipolarização 
do mundo), a consolidação do neoliberalismo e da globalização de mercado, 
bem como o fim da ditadura militar e a abertura política no Brasil, gerando 
o enfraquecimento das forças progressistas e críticas ao modelo neoliberal. 
Em contrapartida, emerge a perspectiva de defesa intransigente dos Direitos 
Humanos. O objeto do Serviço Social, de uma perspectiva histórica, passa 
para a discussão das relações de poder e saber, aprofundando o olhar crítico do 
contexto em mudança. 
Atualmente, o Serviço Social é construído na dinâmica complexa de 
produção da sociedade, articulando seus conhecimentos, refletindo sobre seu 
fazer profissional, aprofundando o processo dialético das mediações que realiza 
para fortalecer os dominados e oprimidos nas suas mais diversas relações 
(FALEIROS, 1997). 
Entre os principais autores contemporâneos podem ser citados Vicente 
de Paula Faleiros, Marilda Vilela Iamamoto, José Paulo Netto, Maria Ozanira 
da Silva e Silva, Maria Lúcia Martinelli. Convém ressaltar que nos capítulos 
a seguir serão abordadas as propostas teórico-metodológicas de referencial 
positivista operacionalizadas pelo Serviço Social desde a base neotomistaaté o 
movimento de reconceituação e da influência deste sobre as demais construções 
positivistas.
31Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profi ssão no Brasil
Resumindo
A trajetória do Serviço Social no Brasil, embora curta sob o ponto de vista 
histórico (são apenas oito décadas incompletas), é rica em movimentos que 
ora a reatualizam, ora a transformam a ponto de inscrevê-la como uma nova 
profissão. Esse processo da profissão, de se repensar e buscar novos objetivos 
e possibilidades, pode ser comparado, grosso modo, às fases de vida de pessoa: 
na infância, as referências são os pais e o meio no qual interage a família. As 
concepções e atitudes, nessa etapa, condensam esse primeiro e reduzido universo 
de forma acrítica.
Assim foi o Serviço Social em sua infância: fundado e alicerçado na lógica 
do capital e da mística católica (seu pai e sua mãe, simbolicamente). Como todo 
ser em desenvolvimento, na adolescência busca outras referências, e, de forma 
radical e ideologizada, rompe com a figura dos pais. Assim o fez nos idos dos 
anos 1960, quando se insurge contra sua tradição e berço – o capital e a Igreja. 
Esse período, denominado Movimento de Reconceituação, buscou fundar um 
novo Serviço Social, que renascia fundamentalmente articulado e comprometido 
com a classe trabalhadora. A rebeldia desse período exigia a ruptura com as 
práticas até então instituídas e legitimadas, que se concretizavam no interior das 
organizações públicas e também privadas. O lema era abandonar essas formas 
de trabalho e se engajar nos movimentos políticos e sociais, nas associações de 
moradores e trabalhadores.
Com o tempo e amadurecimento, o Serviço Social vai entrando em outra 
fase, a de jovem adulto, na qual redescobre o valor dos espaços de trabalho 
negligenciados na fase anterior (Reconceituação). Será essa retomada e 
revalorização dos espaços públicos e privados que, efetivamente, irão possibilitar, 
àqueles que usufruem do nosso trabalho, o acesso a uma nova condição de 
vida e de valorização. Essa revisão só se torna possível quando o Serviço Social 
encontra uma nova finalidade para sua prática: a defesa intransigente dos 
Direitos Humanos, e dos direitos sociais em especial. Esse percurso histórico é, 
às vezes, um tanto conturbado, mas sem dúvida sempre compromissado com 
o ser humano. 
32 Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profi ssão no Brasil
Atividades
1. Faça um quadro dos diferentes períodos/momentos do Serviço Social 
desde a caridade, contemplando fatos históricos, teoria utilizada e 
principais teóricos.
2. Qual o significado do Movimento de Reconceituação na trajetória 
histórica do Serviço Social brasileiro?
3. A partir do seu entendimento, como você imagina o futuro da 
profissão?
Referência comentada
IAMAMOTO, Marilda; CARVALHO, Raul de. Relações sociais e serviço social 
no Brasil. São Paulo: Cortez, 1988.
Neste livro os autores apresentam os aspectos históricos e teóricos do 
conhecimento das relações de classe no Brasil que muito têm a ver com a história 
do Serviço Social. Apresenta, ainda, o Serviço Social no conjunto dos atores 
sociais: operários, pessoas, famílias, governos, setores da Igreja, entre outros, 
no contexto contraditório de classes na sociedade capitalista.
Referências
AGUIAR, A. G. Serviço social e fi losofi a: das origens a Araxá. São Paulo: 
Cortez-UNICAMP, 1982.
CONTRIN, C. Fundamentos da fi losofi a: ser, saber e fazer. São Paulo: 
Saraiva, 1999.
FALEIROS, Vicente de Paula. Estratégia do serviço social. 4.ed. São Paulo: 
Cortez, 2002.
IAMAMOTO, Marilda; CARVALHO, Raul de. Relações sociais e serviço social 
no Brasil. São Paulo: Cortez, 1988.
______. Serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profi ssional. 
São Paulo: Cortez, 1999.
NETTO, Jose Paulo. Ditadura e serviço social: uma análise do Serviço Social 
no Brasil pós-64. São Paulo: Cortez, 1994.
33Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profi ssão no Brasil
PINTO, Rosa Maria Ferreiro. Política educacional e serviço social. São Paulo: 
Cortez, 1986.
SILVA, Ozanira da Silva e. O serviço social e o popular: resgate teórico-metodológico 
do projeto profi ssional de ruptura. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2007.
Autoavaliação
Marque com V as questões verdadeiras e com F as falsas:
1. ( ) Os assistentes sociais, em meados das décadas de 1940 e 1950, 
falam insistentemente em mudanças de estrutura, compromissos 
com a população e revolução ao deixarem de falar em pobre, 
carente, patologia social e desenvolvimento. 
2. ( ) Durante o período da reconceituação os assistentes sociais 
consideravam-se capazes de somar esforços na construção e 
preservação de espaços democráticos, embora o país vivesse a 
ditadura militar.
3. ( ) No início da década de 1960, os assistentes sociais assumem a 
ideologia desenvolvimentista, e sua atuação, torna-se mais técnica 
e fundamentada na busca da neutralidade.
4. ( ) O Serviço Social durante o movimento de reconceituação foi 
permeado por momentos específicos: o primeiro na década de 1940, 
quando da influência americana de Mary Richmond e o segundo 
na década de 1960 com o surgimento do Serviço Social tripartido 
que leva em conta os “desajustamentos sociais”.
5. ( ) Na contemporaneidade grande contingente de profissionais 
não questiona as práticas alienante e alienada, pois sua formação 
se dá basicamente à luz do paradigma positivista.
6. ( ) Pensar o Serviço Social contemporâneo significa refletir 
sua relação com o Estado na defesa intransigente dos Direitos 
Humanos.
Gabarito:
1. F 2. F 3. V 4. F 5. V 6. V
3
O conhecimento científico e a teoria 
e metodologia do Serviço Social
Neste capítulo abordaremos a construção do conhecimento para, a seguir, 
trazer a questão da relação da teoria e da metodologia no Serviço Social, de 
forma a ampliar questões introduzidas no primeiro capítulo deste livro. 
A construção do conhecimento não é um conteúdo novo. Justificamos 
a sua retomada para situar as construções teórico-práticas da profissão, e, 
ainda, alertar que, embora existam teorias e metodologias, elas não devem ser 
simplesmente aplicadas na prática. Cabe, também, ressaltar que do profissional 
especializado, o assistente social, espera-se que produza conhecimento a partir 
de suas intervenções na realidade social, quando do estudo das situações em 
que se defronta no cotidiano profissional.
3.1 A construção do conhecimento teórico 
O conhecimento é a capacidade que temos de pensar e compreender o 
mundo. Segundo Papiassú (1996, p.51), o termo conhecimento designa “tanto 
a coisa conhecida quanto o ato de conhecer (subjetivo) e o fato de conhecer”. 
Conhecer significa a capacidade que o ser humano tem de pensar e compreender 
a relação existente entre si e o objeto a ser conhecido, isto é, a relação que se 
36 O conhecimento científi co e a metodologia do Serviço Social
estabelece entre dois elementos básicos, entre um sujeito e um objeto, que se 
colocam frente a frente: 
a) um sujeito que quer conhecer/cognoscente (ou uma consciência, uma 
mente. O elemento que sente, quer, age); e
b) um objeto a ser conhecido (a realidade o mundo, os inúmeros 
fenômenos. O elemento que existe independentemente do sujeito, e 
que é dado a conhecer ao sujeito num determinado momento).
Isso equivale dizer que “o conhecimento é um ato, o processo pelo qual o 
sujeito se coloca no mundo e, com ele, estabelece uma ligação. Por outro lado, o 
mundo é o que torna possível o conhecimento ao se oferecer a um sujeito apto a 
conhecê-lo” (ARANHA e MARTINS, 2000, p.54). Ainda, as autoras nos dizem 
que “Só há saber para o sujeito cognoscente se houver um mundo a conhecer, 
mundo este do qual ele é parte, uma vez que o próprio sujeito pode ser objeto 
de conhecimento” (2000, p.54).
A discussão em torno da relação entre sujeito e objeto inicia com o empirismo 
de Locke, o qual afirma ser a experiência nossa fonte de conhecimento e 
podemos chegar à verdade por meiodas operações: a) sensação (que leva para 
a mente as distintas percepções das coisas e depende dos sentidos), e b) reflexão 
(que consiste nas operações internas de nossa própria mente fornecidas pelo 
sentido). Por outro lado, temos o racionalismo, que confia na razão humana 
como instrumento capaz de conhecer a verdade. Racionalistas como Descartes 
entendem ser a experiência sensorial a motriz do conhecimento. Mas existe 
também uma terceira posição, o apriorismo kantiano, que conjuga essas duas 
posições (COTRIM, 2006).
Kant (1724-1804) afirma que todo o conhecimento começa com a 
experiência e precisa de um trabalho do sujeito para organizar os dados da 
mesma. Para ele, a experiência fornece a matéria do conhecimento, “enquanto 
a razão organiza esta matéria de acordo com suas formas próprias, estruturas 
existentes a priori no pensamento” (COTRIM, 2006, p.61). Dependendo da 
corrente filosófica, podemos dar maior importância ao sujeito no processo 
de conhecimento (é o caso do idealismo) ou ao objeto (é o caso do realismo 
ou materialismo). 
37O conhecimento científi co e a metodologia do Serviço Social
O conhecimento cotidiano, da mesma forma que o conhecimento do mundo 
e o científico, são frutos de uma longa história e de movimentos gradativos, que 
abrangem:
a) das formas mais elementares do conhecimento às formas mais 
sofisticadas;
b) de um conhecimento incompleto a um mais completo;
c) de uma apreensão mais superficial a uma mais profunda das coisas.
De forma que todos nós, a partir da vivência cotidiana, temos instrumentos 
para conhecer a realidade que nos cerca, considerando que existem muitas 
formas de conhecimento, umas mais elaboradas e complexas, outras mais 
simples. O ato de conhecer é um processo que se dá de forma simultânea à 
transmissão da cultura pela educação social de uma determinada sociedade, 
em que desde as nossas primeiras experiências construímos conhecimento. 
Por exemplo, ao passarmos pela experiência de que o fogo queima, 
aprendemos algo sobre a temperatura, embora ainda não conheçamos as Leis 
da Termodinâmica, de forma que não sabemos por que isso acontece. Dessa 
forma, podemos afirmar que existem fronteiras entre conhecimento científico 
e o senso comum, as quais são relacionadas com a maneira de conhecer ou de 
justificar o conhecimento.
Quando nos propomos a ser profissionais de determinada área, é esperado de 
nós que estejamos capacitados para a construção de novos saberes, e certamente 
nos defrontaremos com um processo de conhecimento, que depende de diversos 
tipos ou níveis de profundidade do mesmo, destacando-se: 
a) o conhecimento imediato, sem intermediários, ocorre a partir da 
experiência vivida. Muitas vezes deve ser superado, substituído pelo 
científico. Contudo, permanece no povo, evocando uma sabedoria 
de vida, sem a qual todo o saber científico perde seu fundamento 
existencial;
b) o conhecimento racional, aquele que realiza abstrações que permitem 
ao sujeito afastar-se da sua experiência concreta a fim de capturar a 
essência do objeto, numa tentativa de superá-lo, já temos a imagem 
do objeto, isto é, uma representação mental sobre o fenômeno. É um 
38 O conhecimento científi co e a metodologia do Serviço Social
conhecimento intencional, pelo qual são aplicados determinados modos 
e procedimentos para obter a verdade sobre determinado fenômeno 
ou processo;
c) o conhecimento teórico, aquele que é mediato, é construído por meio de 
conceitos. Nesse processo, o pensamento/razão opera pela articulação 
de um conjunto de saberes previamente existentes e geralmente 
confirmados pela experiência.
Esses modos e procedimentos constituem o método científico, caracterizado 
pela capacidade de abstrair e que possibilita a transformação de conhecimentos 
teóricos em práticos e vice-versa, construídos a partir de metodologias. Um 
processo que, com a evolução da história, o ser humano, ao entrar em contato 
com o mundo, foi identificando semelhanças e diferenças nos objetos em 
seu entorno, fruto da capacidade humana de raciocinar, possibilitando-lhe a 
construção de novos saberes. 
Para o homem, as coisas do mundo sempre são mais que simples 
coisas. Não conhecemos as coisas quando conhecemos apenas sua 
composição química. As coisas do mundo têm sentido próprio em 
seu relacionamento com o homem. Por isso, depois de um longo 
período evolutivo inconsciente e determinístico, o homem chega à 
consciência, a conhecer-se como mundo e a conhecer toda a marcha 
de sua evolução e as leis que regem a mesma. A evolução converge 
para o homem como seu sentido, ou seja, o sentido do universo. O 
homem dá sentido à evolução. (ZILLES, 1994, p.15)
No Serviço Social, assim como nas demais profissões que se ocupam do 
social, apreendemos conhecimentos ou saberes da realidade social e cultural de 
determinada sociedade. A partir das imagens concretas, temos a possibilidade de 
materializar, abstrair e entender as relações sociais construídas historicamente 
pelo ser humano. Para isso, a profissão articula e reelabora os conhecimentos 
advindos das várias ciências, o que lhe dá condições de avançar em sua 
teorização.
39O conhecimento científi co e a metodologia do Serviço Social
O conhecimento científico é fundamental para qualquer profissão e 
proporciona ao profissional compreender as diferentes visões de homem e de 
mundo, isto é, que visão de teoria, método, valores e princípios norteiam a prática 
profissional ao intervir junto aos indivíduos, família e comunidade.
Para atuar à luz do conhecimento científico, por certo o profissional 
precisa dominar os conceitos elencados, podendo-se colocar a serviço da 
modernização ou da transformação das relações sociais de determinada 
sociedade. Considerando que o processo de conhecimento se propõe a romper 
com a repetição do que sempre se fez e/ou pensou, isto é, no momento em que 
começamos a questionar verdades e certezas até então não questionadas, estamos 
construindo o nosso método de conhecimento e este será diferente no modo de 
analisar e desenvolver as ações. Observamos essa mudança no momento em que 
os preconceitos e situações vividas ganham novos olhares, como se víssemos 
outro mundo através de lentes, que não é mais o mesmo de antes. 
Por exemplo, ao nos defrontarmos com uma família em situação de 
vulnerabilidade socioeconômica, geralmente é despertado na população em 
geral sentimentos de “pena” ou “rechaço”, tendo como justificativa que ela se 
encontra nesta situação devido aos progenitores que “não querem trabalhar”, ou 
“eles não têm persistência para o trabalho”, ou, ainda, que “não adianta ajudar, 
pois eles não valorizam”, entre outras. Essas frases ou ditos (de conhecidos, 
familiares) reforçam e reproduzem a pobreza, resultantes de pensamento 
simplista e carregado rótulos/preconceitos enraizados no passado. Pensamento 
que, submetido ao conhecimento teórico produzido pelas ciências sociais, 
questionará esses fatos e, então, compreendidos de forma crítica, passando-se 
a entender que esta é uma situação desumana, pois essas famílias não possuem 
as necessidades básicas supridas, garantindo-lhes a sobrevivência (alimentos, 
habitação). Pode-se comparar a uma chaleira de água colocada para ferver: ela 
só ferverá se tiver calor suficiente. Assim, deduzimos que, se a pessoa não tiver 
alimento suficiente, também não conseguirá pensar, trabalhar e com o tempo 
ficará desnutrida, entre outras questões. Isso não significa aceitar a pobreza, 
mas poder identificar formas de proteger esta família e libertá-la de algo que, 
por vezes, é justificado e aceito como “normal” na sociedade.
Com isso, afirmamos que o trabalho cotidiano do assistente social exige-lhe 
estudo constante da realidade social e espírito investigativo que resultará em 
40 O conhecimento científi co e a metodologia do Serviço Social
uma postura crítica e possibilitará a prática científica, bem como a produção 
de conhecimento e saberes, evitando, assim, cair no vazio profissional. Para 
isso,o processo de formação profissional vai “além da aparente linearidade de 
transmissão de teorias. As teorias e os métodos que a integram são definidos 
pelas propriedades estabelecidas no jogo de forças que se opera nos diferentes 
níveis da totalidade social” (NICOLAU, 1995, p.84). 
Ao instaurar um processo de conhecimento e saber profissional articulado 
pelo fazer profissional, faz-se necessário um conjunto de pressupostos para 
chegarmos a uma verdade, a qual se dá pela relação entre teoria e prática, 
uma práxis. A postura científica possibilita a construção de conhecimento 
no Serviço Social e possibilitou um estatuto científico para a profissão, e, 
embora não exista a teoria do Serviço Social, ou estaria em construção, a 
profissão é considerada, segundo Kameyama, como “uma especificidade das 
Ciências Sociais e, portanto, não tem uma metodologia própria e carece de 
uma teoria específica” (1989, p.99). Mas a prática científica e a produção de 
conhecimento têm dado movimento e dinamicidade ao fazer profissional, o 
que pode ser evidenciado na participação e promoção das transformações na 
realidade social a partir de suas construções teórico-metodológicas como uma 
profissão científica inserida na divisão sociotécnica do trabalho e reconhecida 
pelos órgãos de fomentação da pesquisa, como é o caso do Conselho Nacional 
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), outrora denominado 
Conselho Nacional de Pesquisa.
3.2 A teoria e metodologia do Serviço Social
Dada a importância de o profissional aprofundar seus conhecimentos sobre 
a realidade, com base no conhecimento científico e senso crítico, apresentamos 
alguns subsídios em relação à constituição do quadro teórico-metodológico do 
Serviço Social. Tema bastante discutido a partir da busca de uma teorização 
latina, praticamente uma década antes do Movimento de Reconceituação da 
profissão, no final da década de 1950. Desde então, a categoria profissional tem 
dedicado espaços significativos em congressos, revistas, livros, entre outros. 
Período em que a profissão, além de questionar a prática desenvolvida junto ao 
usuário, volta-se a estudar a si própria, isto é, movimenta-se para identificar e 
reconstruir sua identidade profissional.
41O conhecimento científi co e a metodologia do Serviço Social
O debate da teoria17 e da metodologia18 do Serviço Social inicia mais 
concretamente com os Seminários de Araxá (1967) e de Teresópolis (1910) 
e se utiliza dos fundamentos teóricos e metodológicos já incorporados pelos 
modelos importados, reestruturando-os de forma a adaptar um modelo 
próprio e brasileiro. Modelo e ideologia questionados na década de 1970, 
quando se busca uma nova teorização à luz do paradigma fenomenológico 
explicitada no Seminário de Sumaré (1976) e no marxismo através da 
escola de Serviço Social da PUC de Belo Horizonte, cuja produção só foi 
divulgada no início da década de 1980, quando da instauração do processo 
de redemocratização do país. 
Também ressaltamos que o material produzido nas discussões sobre o 
tema e que segue até hoje refere-se à questão da cientificidade19 da profissão, 
da existência ou não de uma teoria e do problema de dissociar a teoria20 
da metodologia21 na profissão. As questões postas se interpenetram e, ao 
discutirmos a dicotomia entre teoria e prática fundada pelo funcionalismo, 
autores como Faleiros (1986), Lopes (1980) e outros analisam o conceito de 
17 | No pensamento clássico, teoria significa um conjunto sistemático de proposições gerais, inter-
relacionadas e que se referem a um conjunto de fatos científicos. Revestem-se de um caráter 
formal de acumulação de conhecimentos (dados e fatos científicos) em nível de abstração e 
generalização cada vez maiores. No pensamento crítico, a teoria é uma representação mental, 
de processos reais, que levam à compreensão de uma totalidade estruturada mediante a 
identificação das relações de determinação, reveladoras do seu movimento. Ver Kameyama 
(1986) e Lungarzo (1989). 
18 | Entende-se metodologia aqui como quem se ocupa do método, dos instrumentos, técnicas e 
habilidades utilizados para desenvolver uma determinada prática profissional a partir de uma 
visão de homem e de mundo. Também definida como “investigação sobre os métodos empregados 
nas diferentes ciências, seus fundamentos e validade, e sua relação com as teorias científicas 
(JAPIASSÚ, 1996, p.182). 
19 | O dilema sobre a cientificidade do Serviço Social relaciona-se à questão de que não possui ainda 
clareza sobre o seu objeto, considerando que, na perspectiva das ciências sociais, deve existir 
um único objeto e de domínio específico daquela profissão. Por outro lado, na categoria admite 
a existência de vários objetos, construídos a partir da realidade investigada, isto é, o objeto é 
construído e reconstruído a partir do reconhecimento dos dados da realidade social que está sendo 
estudada (KAMEYAMA, 1986).
20 | Para Kameyama (1986, p.100), teoria é “a forma de organização do conhecimento científico que nos 
proporciona um quadro integral de leis, de conexões e de relações substanciais num determinado 
domínio da realidade”.
21 | Metodologia, para Kameyama (1986, p.103), significa: “Na medida em que se tem uma teoria, 
tem-se uma metodologia do conhecimento, já se tem o concreto pensado”. Ainda segundo a 
autora, “então entram as mediações com estratégias e táticas que se desdobram em procedimentos 
metodológicos ou formas de abordagem) (ibidem, p.103).
42 O conhecimento científi co e a metodologia do Serviço Social
teoria, que também depende de posições epistemológicas divergentes, podendo 
descrever duas concepções básicas: 
a) a do método hipotético dedutivo, dominante nas ciências sociais, 
também chamada de perspectiva da integração social;
b) na posição dialética, com base marxista, chamada de perspectiva da 
libertação social.
Em relação à dicotomia e à proposta de unidade entre teoria e prática 
destacamos a produção de Josefa Batista Lopes, na obra Objeto e Especificidade 
do Serviço Social, resultado da análise qualitativa sobre a construção do objeto 
(teoria, intenção e método) em relação à realidade social. A autora definiu 11 
temas que ajudam no entendimento das duas perspectivas, dispostas de forma a 
obter dados mais amplos, básicos e opostos na prática profissional. Para ilustrar 
as duas concepções de Serviço Social, o quadro elaborado pela autora traz a 
sistematização de material produzido por autores de relevância da profissão, 
conforme segue:
Quadro 1 – Relações temáticas – perspectivas básicas mediante
coerência interna.
TEMAS
PERSPECTIVAS GERAIS BÁSICAS
Integração social 
Libertação 
socialDécada de 
1930
Décadas de 
1940-50
Década de 
1960
1 – Objeto do 
Serviço Social
Carência
Disfunção 
individual
Disfunção social Dominação
2 – problematização 
do objeto
No indivíduo ou 
na estrutura
No indivíduo
No indivíduo ou 
na estrutura
Na relação 
homem/
estrutura
3 – Visão do homem Ser individual Ser individual Ser Individual
Ser social 
histórico
4 – Visão da 
sociedade
Atomizada ou 
estruturada
Atomizada ou 
estruturada
Atomizada ou 
estruturada 
Histórico 
estrutural
43O conhecimento científi co e a metodologia do Serviço Social
TEMAS
PERSPECTIVAS GERAIS BÁSICAS
Integração social 
Libertação 
socialDécada de 
1930
Décadas de 
1940-50
Década de 
1960
5 – Posição favorece 
valores
Busca de 
neutralidade 
ou comando de 
valores 
a-históricos
Busca de 
neutralidade 
ou comando de 
valores 
a-históricos
Busca de 
neutralidade 
ou comando de 
valores 
a-históricos
Participação 
de valores 
históricos 
6 – Relação teoria/
realidade
Sem apoio 
teórico ou 
teoria fechada
Sem apoio 
teórico ou teoria 
fechada
Sem apoio 
teórico ou teoria 
fechada
Relação teoria/
realidade
7 – Especificidade
Ajustamento 
social
Ajustamento 
social
Ajustamento 
social
Participação 
social
8 – Intenção
Assistência 
social ou 
promoção 
social
Integração 
social
Integração 
social
Libertação
9