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Fundamentos Teórico-Metodológicos do Serviço Social I Fundamentos Teórico-Metodológicos do Serviço Social I Olema Palmira Pellizzer Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora da ULBRA. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. Dados técnicos do livro Fontes: Minion Pro, Offi cina Sans Papel: off set 90g (miolo) e supremo 240g (capa) Medidas: 15x22cm Projeto Gráfi co: Humberto G. Schwert Editoração: Rodrigo Saldanha de Abreu Capa: Juliano Dall’Agnol Supervisão de Impressão Gráfi ca: Edison Wolf Gráfi ca da ULBRA Julho/2011 Conselho Editorial EAD Dóris Cristina Gedrat (coordenadora) Mara Lúcia Machado Astomiro Romais Andréa Eick André Loureiro Chaves Cátia Duizith Olema Palmira Pellizzer é docente do curso de Serviço Social da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) – Canoas/RS, mestra em Educação (ULBRA). Assistente social aposentada da Secretaria Estadual de Educação do Estado do RS. Sumário Apresentação .............................................................. 7 1 | Da caridade ao surgimento do Serviço Social .................... 9 2 | Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profi ssão no Brasil ................................................. 23 3 | O conhecimento científi co e a teoria e metodologia do Serviço Social ....................................................... 35 4 | O neotomismo e a ciência social positivista dos séculos XIX e XX: suas repercussões no Serviço Social ....................................................... 51 5 | O funcionalismo e o estruturalismo dos séculos XIX e XX: suas repercussões no Serviço Social ....................................................... 67 6 | O neotomismo, a precursora Mary Richmond e o Serviço Social ...................................................... 81 7 | Método de Serviço Social de Caso ................................ 97 8 | Método de Serviço Social de Grupo ..............................113 9 | Método de Serviço Social de Comunidade .....................127 10 | O movimento de reconceituação e a perspectiva modernizadora do Serviço Social .................................139 Apresentação Você está se envolvendo em um estudo que o conduzirá aos fundamentos históricos e teórico-metodológicos positivistas do Serviço Social, os quais produzirão as bases para o estudo dos fundamentos do Serviço Social. A finalidade do livro é provocar reflexões acerca da trajetória e do contexto político, ideológico, econômico e cultural da origem e da evolução desta profissão até a década de 1970, que tem estreita relação com a caridade/filantropia, com a assistência social, com os princípios e valores neotomistas e com o paradigma da ciência positivista. Para isso, você será conectado com os reais acontecimentos históricos, teóricos e metodológicos que envolvem a referida concepção. O conteúdo deste livro é distribuído em capítulos e unidades, que possibilitarão elaborar seu próprio conhecimento a partir da leitura, das atividades propostas, diálogos virtuais e encontros presenciais. “Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos Positivistas do Serviço Social” tem como meta discorrer sobre as bases históricas, teórico-metodológicas da profissão, desde as práticas da caridade/filantropia que precedem o surgimento da profissão, bem como a filosofia neotomista e pelo paradigma da ciência positivista que origina a profissão e sua evolução. Inicialmente, traçamos um breve histórico da caridade/filantropia no mundo e dos personagens que buscaram sistematizá-la dando origem à assistência social organizada. Quanto à origem do Serviço Social, abordamos sobre a filosofia neotomista e do paradigma da ciência positivista, de sua precursora Mary Richmond e a 8 Apresentação introdução da profissão no Brasil. Para facilitar o entendimento científico da profissão, tratamos da produção de conhecimento teórico e metodológico que dará base ao Serviço Social na perspectiva de integração social e de libertação social. Também serão abordados os Métodos de Serviço Social de Caso, Grupo e Comunidade e sua proposta teórico-metodológica com base psicológica, a influência da ideologia desenvolvimentista e os princípios preconizados pela Organização das Nações Unidas (ONU). Diante do contexto histórico e político na década de 1960, surge o questionamento dos conceitos vigentes na sociedade e, consequentemente, no Serviço Social. Momento em que a profissão repensa seus fundamentos filosóficos teórico-metodológicos na busca de respostas para a realidade mundial e brasileira, quando surge o Movimento de Reconceituação que gesta a perspectiva modernizadora, marxista e fenomenológica no Serviço Social. Das três concepções/perspectivas apresentaremos a perspectiva modernizadora que dá continuidade ao fundamento positivista. Olema Palmira Pellizzer 1 Da caridade ao surgimento do Serviço Social Este capítulo aborda as formas de assistência aos pobres e necessitados e de seus precursores até o final do século XIX, quando do surgimento do Serviço Social propriamente dito. Para isso, buscamos situar aspectos da realidade mundial, dos continentes europeu e americano, bem como a evolução do conhecimento desde o mítico até o científico. A ação aos necessitados existe desde a Antiguidade. Segundo Platão e Aristóteles, a ajuda era feita pela própria comunidade. Destinava-se aos pobres e escravos e não assisti-los caracterizava-se uma injustiça. No período que data de 4000 a.C. ao século V, o centro de tudo era o cosmo e a explicação da criação e ordenação do mundo era dada pelo conhecimento mítico, isto é, através da mitologia (mito dos deuses). Nesse mesmo período, com o surgimento da filosofia grega de Sócrates, Platão e Aristóteles buscam explicações racionais para as coisas existentes na natureza, gerando o declínio do poder dos mitos junto às massas, configurando- se de um lado a lógica do mito e de outro a realidade filosófica. 10 Da caridade ao surgimento do Serviço Social Com o advento do Cristianismo1, a partir do século IV, a assistência aos pobres e doentes torna-se responsabilidade da Igreja Católica, que a realiza através dos mosteiros. Momento em que as explicações mitológicas perdem a centralidade e o conhecimento religioso/cristão aliado à filosofia explica a criação e a ordenação do mundo em torno de um poder superior: Deus. O poder que emana das massas é o pensamento cristão. Nesse período, ser pobre ou doente não constitui castigo de Deus, mas consequência da imprevidência individual ou das circunstâncias. A pobreza e a doença são consideradas provocação, mas quem praticava caridade, isto é, ajudava o próximo, poderia ter méritos e isso representava um meio para alcançar a vida eterna, ou seja, era uma virtude. A Idade Média é marcada por Santo Agostinho e São Tomás de Aquino que se ocupam com religião e filosofia. Santo Agostinho (354-430) partiu da reflexão dada por Platão e concilia as ideias cristãs, isto é, entre razão e fé, sendo condição indispensável para a compreensão racional das verdades. A caridade era feita à luz do pressuposto de que todos os homens são irmãos, e ajudar o próximo é um dever da fé, uma obrigação religiosa, representando a salvação e méritos para conquistar a vida eterna. As grandes ordens religiosas mantinham obras assistenciais à sombra dos conventos. Entre essas, destacam-se as Ordens Religiosas fundadas por São Francisco de Assis, para os homens; a Ordem das Clarissas, para as mulheres, e a Ordem Terceira, para os leigos. Nos mosteiros, ou junto a eles, funcionavam dispensários, hospitais, leprosários, orfanatos e escolas. Nesses séculos, a função dos governos limitava-se à defesa do territórioe à manutenção da ordem interna do Estado. Aqueles que então governavam – reis e imperadores – não intervinham no campo da caridade, considerando-a de domínio espiritual. Auxiliavam as obras de caridade através de coletas entre particulares e por subvenções do tesouro público (VIEIRA, 1977). 1 Essa religião monoteísta, diferente dos deuses gregos (politeístas), ganhou força quando da | Convenção de Constantino Magno, em 312, que na véspera de uma batalha (quase impossível de vencer) vira nos céus uma cruz luminosa com a mensagem “Neste sinal vencerás!”. A partir de então, a cruz dos cristãos, antes perseguida, torna-se o estandarte romano, e parte de seus exércitos converte-se ao cristianismo. Assim, o clero cristão passa a ter poder civil, e sua influência deixa de ser apenas espiritual para tornar-se política e economicamente decisória. Os padres passam a integrar elementos da Bíblia judaica, da filosofia grega, de religiões e de ritos místicos, formando uma teologia que foi se moldando e incorporando às atividades religiosas e assistenciais (CHASSOT, 1994). 11Da caridade ao surgimento do Serviço Social A ação social fundamentada pela caridade, cuja prática é entendida como um mandato divino: fazer o bem por amor a Deus advém também do exercício da filantropia como a execução de um imperativo ético: fazer o bem por amor ao homem marca a primeira etapa da gênese do Serviço Social como atitude dominante na Idade Média (MONTAÑO, 2007). Por sua vez, no século XIII, Santo Tomás de Aquino2 (1227-1274) sistematiza a filosofia cristã a partir da interpretação da filosofia aristotélica, resultando na elaboração do sistema filosófico da época: o tomismo. Aquino refletiu sobre questões vitais, tais como: as relações entre Deus e o mundo, fé e ciência, tecnologia e filosofia, conhecimento e realidade, entre outras, na busca de organizá-las e harmonizá-las. Sua filosofia traz uma nova luz ao cenário filosófico no momento em que afirma a diferença entre razão e fé. A filosofia de Aquino vai tratar da diferenciação entre fé e razão, influenciada pelas descobertas de Copérnico e Galileu, quando a centralidade de Deus na explicação do mundo é questionada, cedendo lugar ao homem como centro do Universo. Concepção reforçada pela corrente de pensamento de Descartes3 (racionalismo = razão) e de Bacon4, Locke e Hume (empirismo = experiência). Momento em que de um lado aparece o poder da Igreja com o Tomismo, de Tomás de Aquino, que buscou apoio de grandes pintores e escultores, como Leonardo da Vinci e Michelangelo; de outro lado, os reis e a nobreza, que buscaram apoio em Maquiavel, Thomas Hobbes e outros, que defendem o absolutismo (doutrina que compreende a autoridade do governo como emanada diretamente de Deus). 2 Nasceu na Itália, de família nobre, e entrou cedo na Ordem dos Dominicanos. Percorreu toda a | Europa medieval. Estudou em Nápoles, Paris e Colônia, foi professor na universidade de Paris. Seu pensamento está profundamente ligado ao de Aristóteles e seu papel principal foi organizar as verdades da religião e harmonizá-las. Morreu quando se dirigia ao Concílio de Lyon. Seu sistema filosófico, embora inicialmente condenado, teve inúmeros seguidores, tornando-se a mais importante corrente do pensamento escolástico do final do período medieval e de grande importância no combate ao protestantismo durante a Contrarreforma do século XVI (CHASSOT, 1994). 3 O físico, matemático e filósofo francês René Descartes, escritor do | Discurso sobre o método, colocou a dúvida nas verdades científicas. Ele defende a existência do método dedutivo, não aceito pelo empirismo. O racionalismo é a crença de que se pode ter conhecimento sem experiência e o processo de descobrir o que é verdadeiro com base no que já se sabe ser verdadeiro (DESCARTES, 1996). 4 O filósofo inglês Francis Bacon defendeu o valor da experiência de laboratório e do método | indutivo. Ele preconizou uma ciência sustentada pela observação e pela experimentação, formulando indutivamente as suas leis, a partir de casos e eventos particulares para chegar às generalizações. Dessa forma, a teologia deixaria de ser norteadora do pensamento científico (BACON, 1997). 12 Da caridade ao surgimento do Serviço Social No fim do século XV, desponta a aurora dos tempos modernos, revelando o início do desenvolvimento da ciência que intensifica o comércio marítimo, a descoberta de novos continentes e rotas de comunicação, o aperfeiçoamento das técnicas artesanais, o aparecimento de pequenas indústrias familiares, entre outras. A Modernidade é marcada pelo enfraquecimento do sistema feudal, pelo surgimento do desenvolvimento urbano industrial e pela ruptura da unidade religiosa com a Reforma Protestante, quando se configura a era da Secularização5, do humanismo e, mais tarde, do racionalismo. Caracteriza-se, então, a caridade secularizada, separada muitas vezes da ideia religiosa, também identificada como filantropia. A filantropia é tida como uma ajuda humanística (maçônica, burguesa, entre outras) e considera o auxílio ao outro como um dever de solidariedade natural. A modernidade quebra a unidade religiosa europeia, delegando ao homem a responsabilidade de seus atos, surge a preocupação com a criação de um método que ordene o mundo e explique os fenômenos através das causas (matematização das ciências sociais), entre outras, bem como a passagem do feudalismo para o capitalismo e o florescimento do comércio e a emergência da burguesia. Essas e outras transformações histórico-sociais constroem uma nova mentalidade; um novo paradigma que coloca o homem, a partir da razão, no centro de tudo (homem, sujeito, consciência). O homem assume a incumbência de reordenar o mundo dando origem ao modelo racionalista matemático, a partir do nascimento da filosofia não religiosa e a ciência moderna racionalista. A sistematização do método científico exige outro tratamento para a assistência nas obras sociais, e Juan Luiz Vivès6 (1492-1540) lança as bases para um trabalho social organizado. Este ficou, no entanto, no terreno da teoria. Vivès foi acusado de luterano por atribuir papel importante na administração da assistência, o 5 Secularização significa a libertação do homem, em primeiro lugar do controle religioso, depois | do controle metafísico sobre sua razão e sua linguagem, marcada pelo renascimento da ciência. Não é uma concepção antirreligiosa, pelo contrário: coloca o mundo e a religião nos seus devidos lugares e permite assim o pluralismo e a tolerância (VIEIRA, 1977). 6 Vivès nasceu em Valência, na Espanha, descendente de família nobre, porém pobre. Frequentou as | aulas na Universidade de Valência e estudou em Paris, na Sorbonne, por cinco anos. Concluídos os estudos, ingressou no mundo das letras, escreveu sobre filosofia e interessou-se por problemas sociais de seu tempo. Impressionou-se com a fome que assolou Sevilha e suas consequências. Seu trabalho mais conhecido, De Subvencione Pauperum (Da Assistência aos Pobres), expõe sua doutrina sobre as causas da miséria e a necessidade de união dos homens e da divisão do trabalho (tratava de economia, desenvolvimento das cidades, êxodo rural, etc.), entendendo “a caridade não consistir apenas em dar dinheiro ou bens materiais, mas também dar de si, salientando, assim, a importância dos valores espirituais” (VIEIRA, 1977). 13Da caridade ao surgimento do Serviço Social que poderia enfraquecer o prestígio da Igreja. Os ricos e nobres viram nele uma crítica à maneira de distribuir esmolas por ostentação ou para angariar adeptos para projetos políticos ou intelectuais. A organização proposta em seu trabalho De Subvencione Pauperum pode ser considerada o primeiro tratado de Serviço Social, no qual apresenta sua doutrina nos seguintes pontos: a) o socorro aos pobres deve ser baseado na justiça, dando a cada um o que precisa para reajustar-se; não deve ser uma esmola esporádica, mas um auxílio para resolver definitivamenteo problema; b) a melhor maneira de ajudar ao pobre consiste em treiná-lo e dar-lhe os instrumentos para poder trabalhar e, portanto, sustentar-se; c) a assistência deve estender-se a todas as categorias de pobreza; certas pessoas, dado seu grau de acanhamento, merecem ser socorridas em suas residências; d) devem ser organizadas, entre os trabalhadores, medidas de previdência em caso de doença, desemprego e velhice; e) impõe-se a instituição de medidas contra a mendicância profissional, e os mendigos devem ser devolvidos às suas cidades de origem, com a assistência necessária à viagem; f) finalmente, torna-se necessária a cooperação entre as várias associações de caridade, coleta e centralização de fundos, unificação de direção e divisão de trabalho. Vivès considerava, ainda, insuficiente o trabalho da Igreja e declarava ser necessária a participação do Estado na obra de assistência (VIEIRA, 1977). As ideias de Vivès, intensamente combatidas, foram sementes que germinaram no modo de praticar a caridade pelo sacerdote São Vicente de Paulo7 (1581-1660), quando propôs sistematizar a distribuição dos socorros 7 São Vicente de Paulo, sacerdote, filho de uma família camponesa do sul da França. Organizou a | associação denominada “Damas da Caridade” (1617) com senhoras da sociedade, que visitavam os doentes nos hospitais e os pobres em suas casas para dar-lhes os socorros necessários, e cada uma se encarregava de certo número de famílias. Diante das dificuldades inerentes à classe social das senhoras, nem sempre sabiam, podiam ou mesmo queriam limpar os barracos, lavar doentes, crianças ou velhos. Mesmo ensinar lidas domésticas era-lhes impossível, pois possuíam serviçais. Então, em 1633, São Vicente e a senhora Luísa de Marillac tiveram a ideia de recrutar e formar moças camponesas que se dedicassem ao “Serviço dos Pobres” (VIEIRA, 1977). 14 Da caridade ao surgimento do Serviço Social e organizar a reabilitação dos pedintes com o auxílio caridoso de senhoras da sociedade. Para isso, criou as associações “Damas de Caridade” e “Filhas de Caridade”, dedicadas ao “serviço dos pobres”. São Vicente inova no momento em que cria uma congregação feminina não enclausurada e, em 1653, após intensa luta, obteve a aprovação da Congregação pela Santa Sé. A entidade “Filhas de Caridade” expandiu-se rapidamente ainda durante a vida de seu fundador, mostrando que a instituição respondia à necessidade do tempo. Assim, marca “o princípio da profissionalização do exercício da caridade, sem lhe tirar o aspecto espiritual, mas salientando-o, tanto para quem dava como para quem a recebia” (VIEIRA, 1977, p.39). Na formação das Filhas insistia-se sobre a qualidade do “serviço dos pobres”, o qual deveria ser praticado com paciência, doçura e persuasão, na esperança de levá-los à reabilitação e ao amor, vendo em cada um a imagem do Salvador. As ideias de São Vicente de Paulo sobre a prática da caridade eram idênticas às preconizadas por Juan Luis Vivès, embora não se tenha notícias de que São Vicente e Luísa de Marillac tivessem tido acesso aos escritos do espanhol. Ambos defendiam que [...] não se deveria dar esmolas indiscriminadamente, e sim, depois de um estudo minucioso das situações; era necessário ajudar o pobre a encontrar um trabalho, ou ensinar-lhe um ofício, para que não precisasse recorrer à caridade; não se deveria censurar o pobre, por ser o mesmo uma criatura de Deus e um irmão infeliz; fazia-se necessário organizar obras para combater, em seu conjunto, os males existentes, etc. (VIEIRA, 1977, p.38) No século XVII, com o desaparecimento dos mosteiros e com o decreto de Henrique VII, os nobres passaram a se preocupar com a ajuda aos pobres. Em 1601, surge a Lei dos Pobres, a qual condiciona todos os pobres sadios ao trabalho. Essa lei foi promulgada por Elizabete I, da Inglaterra, cuja função principal era retirar das ruas os mendigos e vadios, realizando um controle sobre esta população. Os pobres eram obrigados a enfrentar as mais duras condições de trabalho nas work houses, com salários irrisórios. 15Da caridade ao surgimento do Serviço Social A questão social do século XVII toma dimensões maiores no século XVIII, quando se consolida a tomada do poder econômico e político pela burguesia. Dá-se a partir das Revoluções Industrial e Francesa8, quando se constituem claramente duas classes sociais: a dos que detêm a propriedade privada e a dos que vendem a força de trabalho. Fato que marca significativamente o processo de transformação econômica e social tanto europeu quanto americano, prolongando-se até metade do século XIX. Identificado não só pela miséria, mas também pelo descontentamento dos trabalhadores pobres e dos pequenos comerciantes. A exploração da mão de obra, que mantinha sua renda a nível de subsistência, possibilitando aos ricos acumularem os lucros, que financiavam a industrialização (e seus próprios e amplos confortos), criavam um conflito com o proletariado. Entretanto, um outro aspecto desta diferença de renda nacional entre pobres e ricos, entre consumo e investimento, também trazia contradições com o pequeno empresariado. Os grandes financistas, a fechada comunicação de capitalistas nacionais e estrangeiros que embolsava o que todos pagavam em impostos – cerca de 8% de toda a renda nacional –, eram talvez ainda mais impopulares entre os pequenos homens de negócio, fazendeiros e outras categorias semelhantes do que entre os trabalhadores, pois sabiam o suficiente sobre dinheiro e crédito para sentirem uma ira pessoal por suas desvantagens. (HOBSBAWN, 1982, p.55) A perda do poder aquisitivo dos trabalhadores e o aumento de investimentos da indústria e do comércio marginalizando parte significativa da sociedade e, por conseguinte, o aumento do desemprego, do êxodo rural, entre outros, resultaram em conflitos inerentes a essas relações. 8 A Revolução Francesa (1789) proclamada pela Assembleia Constituinte da França, marco da | “Declaração dos Direitos Humanos”, defende a “igualdade política e social”, preconiza a defesa dos pobres à exploração dos ricos e a restauração da ordem social em defesa do progresso, e a classe operária foi “convidada” a uma trégua com os ricos e a resolver os conflitos de uma maneira harmoniosa, através do consenso (HOBSBAWN, 1982). 16 Da caridade ao surgimento do Serviço Social A busca de respostas para os novos conflitos provocados pelas revoluções possibilitou o surgimento de uma nova ciência com diferentes enfoques, entre eles: a sociologia com Augusto Comte (1798-1857), a psicologia com Sigmund Freud (1856-1939), o evolucionismo com Charles Darwin (1809-1882) e o marxismo com Karl Max (1818-1883). Pensadores preocupados com as transformações em curso e que constituíram seu objeto de análise considerando as relações sociais da época. Os conflitos provocados pela industrialização também influenciam a compreensão e sistematização da assistência social a partir da “Doutrina Social” com o surgimento do neotomismo que reafirma o tomismo. As ideias neotomistas surgiram na Itália na segunda metade do século XVIII, através da promulgação, em 15 de janeiro de 1891, por Leão XIII, da primeira grande encíclica social: Rerum Novarum9, uma carta sobre “justiça social”. A referida carta questiona os problemas sociais decorrentes das relações entre capital e trabalho, em função do choque filosófico entre liberalismo e socialismo. O documento buscava uma reformulação da sociedade através da união das classes sociais e resgate da dignidade humana do trabalhador. O neotomismo foi considerado o primeiro sistema filosófico que influenciou o Serviço Social (AGUIAR, 1985). Entre os diferentes enfoques da nova ciência, a mais utilizada pelo desenvolvimentismo moderno foi a comtiana, a qual tinha como tema central a necessidade de uma reorganização da sociedade, isto é, a regeneração das opiniões (ideias) e dos costumes (ações) dos homens, por encontrar-se desorganizadaem função dos conflitos gerados pelas revoluções em curso, entendendo como fator importante o conhecimento das leis que regem os fatos sociais para que se pudesse restabelecer a ordem e a paz. 9 | Rerum Novarum (Das Coisas Novas), carta escrita pelo papa León XIII, erudito de Tomás de Aquino, a todos os bispos. A carta marca o início da sistematização do pensamento social católico, que objetivava não ficar indiferente às injustiças sociais provenientes da revolução industrial. Debate as condições das classes trabalhadoras, seu direito de formarem sindicatos, defende o direito à propriedade privada e rejeita o socialismo. Criticava a concentração das riquezas nas mãos de poucos e do mau uso que dela faziam, colocando a “questão social” principalmente em relação à dignidade humana do trabalhador de forma a discutir a relação entre o governo, os negócios, o trabalho e a Igreja. Na Encíclica, o Santo Padre, ao destacar o antagonismo entre capital e trabalho, prega a união e a solidariedade (disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto. asp?id=3188. Acesso em: 14 set. 2009). 17Da caridade ao surgimento do Serviço Social Nesse período as entidades assistenciais se movimentavam em busca da organização da assistência social, considerando que a industrialização modificou completamente o cenário econômico em geral e de grande número de famílias. A mão de obra não é apenas masculina, e a pobreza atingiu características específicas em relação ao pauperismo entre as pessoas saudáveis; homens sendo substituídos pelas máquinas (tear mecânico e motor a vapor); aumento significativo do êxodo rural; mulheres e crianças trabalhando em condições subumanas com jornadas superiores a 14 horas, sem férias ou descanso semanal ou segurança no trabalho. Na Europa, consolidam-se os princípios de São Vicente e de Vivès através de numerosas fundações religiosas e leigas, cuja expansão foi bastante rápida, pois havia uma necessidade a ser suprida. Em 1869, foi fundada em Londres a Sociedade de Organização de Caridade (Charity Organisation Society – COS), inspirada na Sociedade de São Vicente de Paulo e com a finalidade de coordenar o trabalho das obras assistenciais particulares, julgando o aumento considerável do número de entidades assistenciais em todos os países. A falta de integração da ajuda prestada ocasionava, em muitos lugares, a duplicidade da assistência, o que evitava a resolução rápida e econômica dos casos. A crise mencionada do final do século XIX (1870) e que se estendeu até 1929 objetivava consolidar o sistema capitalista e aumentar a acumulação do capital. Em 1877, o reverendo J. H. Gurteen fundou a COS nos Estados Unidos. A COS teve, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, grande influência na forma de tratar a pobreza. Segundo Gurteen, “o fundamental axioma desse movimento era o de ‘ajudar o pobre a se ajudar a si mesmo’, e a principal regra para a operação era a palavra ‘investigação’” (SILVA, 2004, p.26-27). A sociedade empregava pessoal remunerado para as investigações, em geral alunos de ciências sociais, para determinar quem e quanto cada família deveria receber. Quando a família era aceita a receber ajuda, era confiada a um “visitador voluntário” (homem ou mulher). No século XIX, o campo da ação social terminou marcado pelo trabalho de voluntários treinados e profissionais formados em Serviço Social. Ampliou-se o atendimento a problemas de habitação, crianças abandonadas ou maltratadas, luta contra a tuberculose, entre outros. Também surgiram 18 Da caridade ao surgimento do Serviço Social divergências entre os cooperadores das obras de caridade quanto às suas finalidades: os que sustentavam a necessidade de ajudar os indivíduos, desenvolvendo suas potencialidades a fim de ajustá-los à sociedade em que viviam; outros entendiam a necessidade de agir sobre o ambiente, modificando-o ou reformulando-o, para permitir uma vida normal. Para os preocupados com o ambiente, originou-se a atividade da pesquisa sobre a miséria e suas causas. A partir dos dados acima, entendemos que tanto a promulgação da Encíclica Rerum Novarum e a organização da assistência social quanto a priorização da ciência positivista e o surgimento do Serviço Social estão diretamente relacionados à crise do final do século XIX (1870 a 1929), que, por um lado, objetivava aumentar a acumulação do capital com a criação do monopólio e, por outro, o desenvolvimento de um Estado intervencionista (Welfare State, Estado de Bem-Estar Social, keynesianismo, “populismo”, entre outros) como proposta de resolver os conflitos inerentes à classe trabalhadora. No momento em que se observam lutas de classes em torno de projetos antagônicos10, o surgimento do Serviço Social também foi uma estratégia da classe hegemônica na virada do capitalismo concorrencial11 para a fase monopolista12. Dentro desse contexto de conflitos surgem as políticas sociais institucionalizadas como instrumentos de legalização e consolidação hegemônica do capital em resposta às lutas da classe trabalhadora. Assim, existe atualmente entre os profissionais uma duplicidade em relação à gênese e ao desenvolvimento da profissão, identificadas no estudo de Montaño (2007), 10 | Resultado da articulação das grandes matrizes culturais do mundo, tendo como palco a Europa Ocidental na primeira metade do século XIX. Mais exatamente: a preparação ideológica da Revolução Francesa e a ascensão do capitalismo (base no pensamento de Augusto Comte) e os movimentos operários e suas subvenções (influenciados pelas ideias de K. Marx e F. Engels, quando emerge a chamada razão moderna com suas desigualdades e contradições (NETTO, 1985). 11 | O capitalismo concorrencial surge no século XIX com a liberdade política (propriedade privada), quando os burgos criaram um novo mundo com a Revolução Industrial, isto é, uma nova forma peculiar de sociedade de classes (proletariado e burguesia) caracterizada pela compra e venda da força de trabalho (NETTO, 1985). 12 | O capitalismo monopolista surge no século XX, juntamente com a grande depressão nos Estados Unidos, a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa (1917), quando o Estado objetiva a manutenção da ordem pública através da repressão e de outras formas de assistência social. Nesse período, instauram-se corporações que controlam a produção e a comercialização de áreas estratégicas revertendo a queda tensional da taxa de lucro (NETTO, 1985). 19Da caridade ao surgimento do Serviço Social com duas teses: a endonista, também chamada de evolutiva, que acredita ser o Serviço Social decorrente das formas de caridade e filantropia, e a segunda histórico-crítica, que defende ter a profissão surgido a partir dos conflitos mobilizados pela classe trabalhadora e classe dominante, instituindo-se a profissão com a função de amenizá-los. Essas teses contêm semelhanças e rupturas entre o Serviço Social profissional e as formas de ajuda assistencial não profissional, de forma que uma complementa a outra. Para ilustrar a afirmação, utilizamo-nos de dois autores analisados por Montaño (2007) que tratam da origem profissional: (1) Ottoni Vieira, que entende que a profissão se constitui em uma fase mais evoluída das anteriores formas de ajuda e a considera com as mesmas características (prática, gênero, procedência dos profissionais, etc.). Nesse sentido, para a autora, “o Serviço Social ‘profissionalizado’ teria uma relação de continuidade com as formas não profissionais de ajuda; seria uma evolução delas” (p.53). (2) Este pensamento contraria a posição de Martinelli, que remete a emergência da profissão “à análise do desenvolvimento capitalista, que concebe o Estado intervencionista como instrumento estratégico de controle popular e manutenção do status quo, e onde surge a necessidade de um profissional encarregado da prática da assistência”. Contanto que a autora defende a ideia de que o Serviço Social é “um instrumento da burguesia que sevale tanto do Estado quanto da Igreja católica para defender seus interesses” (p.53). Martinelli (apud MONTAÑO, 2007) ainda apresenta a distinção entre as tendências de Serviço Social inglesas e europeias, denominadas social service (uma prática servil de doação, de ajuda, de prestação de serviço), das práticas norte-americanas – social work, que, diferentemente da expressão inglesa labour, refere-se à venda da força de trabalho, reportando-se a um trabalho que buscava mais a realização pessoal, a recriação intelectual que a remuneração propriamente dita. A partir dessas tendências, surge o Serviço Social na Europa Ocidental e nos Estados Unidos nos anos 1880-1940, em 1925 no Chile e na segunda metade dos anos 1930 no Brasil. A seguir, no próximo capítulo, abordaremos a assistência social e a evolução histórica do Serviço Social no Brasil à luz dos pressupostos positivistas. 20 Da caridade ao surgimento do Serviço Social Atividades 1. Diferencie os conceitos de caridade, filantropia, assistência social e serviço social. 2. Construa um quadro que contemple as concepções de homem e mundo nos diferentes momentos da história e a referida assistência prestada aos necessitados. 3. A partir das teses propostas por Montaño (2007), busque material nesta e em outras obras na internet e aprofunde a discussão em torno da gênese, desenvolvimento e significado da profissão. Referência comentada MONTAÑO, Carlos. A natureza do serviço social. São Paulo: Cortez, 2007. A obra do autor trata da gênese, desenvolvimento e significado socio- histórico do Serviço Social. Expõe em duas teses: a endogenista e a histórico- crítica, que se mostram presentes na interpretação da profissão e provocam análises importantes para os fundamentos da profissão. Referências AGUIAR, Antonio Geraldo de. Serviço social e fi losofi a: das origens a Araxá. 3.ed. São Paulo: Cortez, 1985. CHASSOT, Attico. A ciência através dos tempos. São Paulo: Moderna, 1994. (Coleção Polêmicas) COLEÇÃO OS PENSADORES. Francis Bacon. São Paulo: Nova Cultural, 1996. ______. René Descartes. São Paulo: Nova Cultural, 1996. HOBSBAWN, Eric. A era das revoluções (1789-1848). 4.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. MONTAÑO, Carlos. A natureza do serviço social. São Paulo: Cortez, 2007. NETTO, José Paulo. O que é marxismo. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 1985. RIBEIRO JUNIOR, João. O que é positivismo. 6.ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. VIEIRA, Balbina Ottoni. História do serviço social: contribuições para a construção de sua teoria. Rio de Janeiro: Agir, 1977. 21Da caridade ao surgimento do Serviço Social Autoavaliação Marque V nas questões verdadeiras e F nas falsas: 1. ( ) A idade moderna foi marcada pelo surgimento da burguesia, quando Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino se ocupam com religião e filosofia como condição essencial para a compreensão racional das verdades. 2. ( ) Os precursores da organização da assistência social Juan Luiz Vivès e Vicente de Paulo, preocupados com os necessitados, digo, os pobres, tinham em comum prever, sistematizar a assistência social como forma de combater as mazelas da questão social na busca da igualdade social. 3. ( ) Quando da publicação das obras de Mary Richmond, já havia instituições de caridade/filantropia na Europa e nos Estados Unidos com cadastro dos atendidos. Foi uma prática conquistada por São Vicente de Paulo, o qual, além do cadastro, defendia a necessidade de ajudar os pobres a encontrarem trabalho. 4. ( ) Com a modernidade houve a quebra da unidade religiosa e o surgimento do método científico na busca de respostas para os novos conflitos provocados pela perda do poder aquisitivo dos trabalhadores. Nesta época, o enfoque eleito pelos donos de indústrias foi o marxismo. 5. ( ) Montaño (2007) descreve duas teses sobre a gênese do Serviço Social no Brasil e busca analisar a posição de autores brasileiros sobre o assunto. Em sua análise, entende que Balbina Ottoni Vieira defende a tese histórica crítica decorrente da evolução da caridade e da filantropia. 6. ( ) Ao despontarem os tempos modernos, no século XX, ocorre o desenvolvimento da ciência que intensifica entre outros aspectos o comércio marítimo. Fenômeno que marca o início da globalização e se configura a era da secularização. Gabarito: 1. F 2. F 3. V 4. F 5. F 6. F 2 Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profissão no Brasil A assistência social no Brasil, a exemplo da Europa e Estados Unidos, estruturou-se a partir da caridade dos grupos cristãos católicos às pessoas necessitadas em função da emergência do capitalismo no país. Sua reorganização ocorre meia década depois da Europa (1869) e Estados Unidos (1870), dando origem ao Serviço Social profissional. A reorientação da prática da caridade brasileira inicia com os conhecimentos adquiridos por Albertina Ferreira Ramos e Maria Kiehl, em 1935, quando retornam de Bruxelas onde realizaram o curso de Serviço Social no Centro de Estudos de Ação Social (CEAS), vinculado à Igreja Católica daquele país. No Brasil, o CEAS foi fundado em setembro de 1932 pela Ação Social e Ação Católica, também vinculado a políticas da Igreja Católica, tendo como uma de suas estratégias a luta contra o liberalismo e comunismo. No CEAS brasileiro elas realizavam cursos de formação social e semanas sociais para capacitar as organizações leigas de formação católica na área da assistência aos necessitados, com foco no enquadramento político e ideológico, principalmente da classe trabalhadora na defesa da burguesia. Os referidos cursos foram nascedouro de muitas escolas de Serviço Social, entre elas as de São Paulo, Rio de Janeiro, Natal e Porto Alegre. A primeira escola de Serviço 24 Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profi ssão no Brasil Social no Brasil, a de São Paulo, foi inaugurada em 1936, tendo como contexto as circunstâncias históricas do desenvolvimento capitalista como reflexo das economias europeia e norte-americana e o agravamento da questão social no final do século XIX, com o surgimento dos monopólios e os consequentes embates políticos, ideológicos e sociais. Foi no cenário católico leigo e na perspectiva de controle da classe trabalhadora que o Serviço Social constituiu-se em um departamento especializado da ação social da entidade, aproveitando as experiências acumuladas na área da assistência. A referida escola teve como objetivo “[...] promover a formação de seus membros pelo estudo da doutrina social da Igreja e fundamentar sua ação nessa formação doutrinária e no conhecimento aprofundado dos problemas sociais” (GAMA apud IAMAMOTO e CARVALHO, 1988, p.173). Esta não pode ser considerada como “fruto de uma iniciativa exclusiva do Movimento Católico Laico, pois já existia presente uma demanda – real ou em potencial – a partir do Estado, que assimilou a formação doutrinária e passou por rápidos processos de adequação” (ibidem, p.180). O CEAS firmou convênio com o Departamento de Serviço Social do Estado, em 1939, para a organização de Centros Familiares, tornando necessária a introdução no currículo da escola de um curso intensivo de formação familiar: Pedagogia do Ensino Popular e Trabalhos Domésticos. No ano seguinte, o Estado requisitou trabalhadores sociais para o Serviço Social do trabalho, que serviram também de “sustentação ideológica para os assistentes sociais às diretrizes e atividades da União Católica Internacional de Serviço Social (UCISS) (AGUIAR, 1982, p.31). A UCISS é um organismo seguidor da doutrina da Igreja e que ditaria as perspectivas do Serviço Social católico. O atraso do surgimento do Serviço Social no Brasil, de pelo menos meia década, se deve ao atraso da chegada do capitalismo no país de praticamente um século. O Brasil, enquanto colônia de Portugal, vivia da exploração agrícola (café), não sendo permitida a instalação de fábricas a não ser em alguns segmentos para o consumo interno, poisbasicamente tudo era importado da Europa/Portugal e Estados Unidos. A crise que assolou o mundo no final do século XIX até 1929 e a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas à Presidência da República e à respectiva implantação do “modelo” de desenvolvimento nacionalista populista, proporcionaram à burguesia nacional o desenvolvimento de suas indústrias. Foram dados os primeiros passos para a implantação do capitalismo no país por meio do apoio do governo ao setor industrial e da criação das primeiras 25Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profi ssão no Brasil empresas estatais (Companhia Siderúrgica Nacional, Petrobras). Nessa década surgem movimentos sociais decorrentes dos baixos salários e a pobreza devido ao êxodo rural, desemprego, entre outros. O povo se rebela contra o governo através de movimentos sociais reivindicatórios, controlados pelo mesmo por meio da criação de políticas de proteção aos direitos dos trabalhadores com a finalidade de garantir a harmonia entre as classes e o desenvolvimento do capitalismo. Para isso, foram criados organismos normatizadores e disciplinares das relações de trabalho, em especial através do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Na época, os movimentos reivindicatórios dos trabalhadores pouco opinaram sobre as leis implantadas, considerando que tudo aconteceu muito rápido. Nem bem se instala o capitalismo concorrencial, este já vai dando lugar ao sistema monopolista, que traz consigo a coerção sobre os trabalhadores organizados em sindicatos e a definição governamental do que deveria ser atendido e como. Exigia que o Estado respondesse aos conflitos por intermédio de políticas de atendimento à família, aos menores e a outras formas de assistência social, com o objetivo de manutenção da ordem pública. Para esse atendimento, o Estado buscou na Igreja parceria para a implementação da ação social, a qual formava seus primeiros profissionais voluntários e de Serviço Social, sendo estes últimos chamados e contratados ainda durante a formação para trabalhar em instituições públicas que vinham sendo criadas com o objetivo de desenvolver um trabalho junto às famílias e outras áreas. O Serviço Social integra-se como uma profissão a partir da prática vocacionada, passando a ter função ideológica e de controle ao legitimar uma prática institucionalizada e assalariada. A criação dessas instituições assistenciais ocorre com a estratégia de aprofundamento do modelo corporativista do Estado e de uma política econômica favorecedora da industrialização, adotada a partir de 1930. Dá-se, nesse contexto, a supremacia da burguesia industrial, no poder do Estado, aliada aos grandes proprietários rurais, ocorrendo, também, o crescimento do proletariado urbano, em face do desenvolvimento do modelo urbano-industrial e da capitalização da agricultura, com a consequente liberação de fluxos populacionais. (SILVA, 2007, p.24) 26 Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profi ssão no Brasil Assim, a profissão decorre da profissionalização do voluntariado da assistência social para resolver os conflitos no processo da divisão sociotécnica do trabalho em pleno desenvolvimento do capitalismo, quando se tornam necessários o controle e a prevenção da ordem social do próprio sistema e implantação de políticas sociais pelo Estado. Tendo como base teórica inicial a ação social católica sob a orientação da Doutrina Social da Igreja preconizada pelas encíclicas, entre elas a já mencionada Rerum Novarum (1891), que qualifica o laicato e forma os primeiros profissionais de Serviço Social, a assistência social amplia a ação caritativa aos necessitados com o objetivo de praticar a justiça e a caridade também junto aos trabalhadores urbanos e suas famílias. Em 1937, no Rio de Janeiro, foi fundada a segunda escola de Serviço Social por incentivo do cardeal Leme, Stela Foro e Alceu Amoroso Lima, contando com a colaboração da Congregação das Filhas de Maria, proveniente da França e com experiência social cristã no seu país, a qual influenciou o desenvolvimento da escola nessa perspectiva. Nesse mesmo ano, ocorre o Golpe de Estado, surgindo então o Estado Novo, período em que o Serviço Social inicia sua trajetória rumo à profissionalização. Primeiramente, com base em princípios católicos, em uma perspectiva de prática social voltada para responder às exigências do capitalismo em desenvolvimento. Segundo Aguiar, nessa fase “o que importa é a formação doutrinária e moral, o aspecto técnico só passará a ter significado com a influência americana” (1985, p.31). Com isso, a sociedade burguesa busca formas sistemáticas e estratégicas para enfrentar as manifestações do operariado e o aumento significativo do êxodo rural, trazendo diferentes dificuldades no contexto urbano-industrial. As demandas apresentadas pelo Estado Novo, então instituído, são duas: controlar e absorver os setores urbanos emergentes e buscar neles a legitimação política. Para isso, o Estado avança na organização de grandes instituições assistenciais e previdenciárias articuladas com os setores dominantes em resposta à pressão dos setores populares e, consequentemente, no rebaixamento salarial. Dessa forma, o Serviço Social “passa a integrar os mecanismos de execução das políticas sociais do Estado e dos setores empresariais, enquanto formas de enfrentamento da questão social emergente no contexto do desenvolvimento urbano-industrial” (SILVA, 2007, p.25). A profissão, segundo Silva, tem em “suas origens a base confessional, largamente presente na prática profissional, e confere ao Serviço Social as bases para sua legitimação perante a sociedade” 27Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profi ssão no Brasil (2007, p.25). A formação inicialmente reproduziu os conhecimentos vindos da Europa (em especial sob o influxo belga, francês e alemão). Na década de 1940, o Estado desponta como o grande empregador dos assistentes sociais, o que ocasionou ser controlador da ação profissional. No período pós-Segunda Guerra, os Estados Unidos organizam sua hegemonia mundial através de conferências, tratados entre outros. O Tratado Inter- Americano de Assistência Recíproca (TIAR), em 1947, a Organização dos Estados Americanos (OEA), em 1948, e no decurso da IX Conferência Internacional dos Estados Americanos, consolidam a segunda fase da União Pan-Americana (UPA). Nessa conjuntura, a passagem da influência europeia para a norte-americana sobre o Brasil torna-se fato concreto. Nas instituições assistenciais, gradativamente, amplia-se o mercado de trabalho para a profissão e a mesma se mostra carente de técnicas, momento em que os convênios dos Estados Unidos com o Brasil possibilitaram, através dos intercâmbios, que o Serviço Social preenchesse a lacuna sentida pela categoria. O intercâmbio com profissionais dos Estados Unidos ocorreu por intermédio da chamada política de “boa vizinhança”13 do presidente Roosevelt, no período de 1933 a 1945, com o objetivo de promover uma aproximação maior entre os Estados Unidos e a América. Os acordos proporcionaram a concessão de bolsas de estudo para assistentes sociais sul-americanas14, no período de 1941 a 1957, com o objetivo de aperfeiçoamento e especialização em escolas norte-americanas, nas quais se destacaram cursos sobre: o Serviço Social de Caso, Serviço Social de Grupo e Organização de Comunidade. Nesse momento, a dimensão ético-religiosa da profissão sob a influência técnico-científica, de orientação filosófica positivista/ funcionalista, que fundamentaria o Serviço Social até a década de 1970, decaindo 13 | Política que imprimiu uma influência cultural estadunidense sobre os países latino-americanos, cuja bandeira é criar as formas de “solidariedade” continental através de acordos comerciais com injeção de recursos nos programas de industrialização (Coca-Cola, filmes), planos de acordo internacionais e, por fim, de alianças políticasque garantissem a hegemonia destes na região através de bolsas de estudos (artistas, profissionais) com o objetivo de erradicar a influência nazifascista europeia e defender os interesses norte-americanos. Considerada um prolongamento da Doutrina Monroe (1823) que instaurou o imperialismo dos Estados Unidos sobre os países latino-americanos (PINTO, 1986). 14 | Entre as assistentes sociais brasileiras que participaram das bolsas de intercâmbio, podemos destacar: Maria Josefina Rabello Albano, Marília Diniz Carneiro, Nadir Kfoury, Balbina Otoni Vieira, Maria Helena Correia e Helena Iracy Junqueira. 28 Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profi ssão no Brasil na década de 1980. Momento em que o Serviço Social constitui-se com a influência do aspecto técnico, que propicia desenvolver a prática com modelos teórico-metodológicos importados. O Serviço Social imprime a identidade científica e técnica da profissão, que se consagra no pós-Segunda Guerra Mundial, que se encontrava carente de um instrumental técnico, e absorve de forma direta os princípios norte-americanos, assimilando a tecnologia americana aliada ao neotomismo15 cristão em dois momentos. Primeiro adotando a influência americana de Mary Richmond, numa perspectiva positivista sociológica e comportamental, na busca da solução aos “problemas sociais” decorrentes das carências sociais, a chamada Escola Diagnóstica. Num segundo momento, no pós-Segunda Guerra Mundial e início da Guerra Fria, avança no intercâmbio da perspectiva positivista durkheimiana através da Escola Psicossocial, voltando-se para a postura terapêutica. Embora nos meios científicos se questionassem os fundamentos da sociedade da época, no Serviço Social predominou, segundo Faleiros (1997), a ideia da biologização do social, aliada a uma influência da moral e da ordem em relação a seu caráter religioso e conservador. Propunha-se que os profissionais recém- formados atuassem na mudança do comportamento das famílias e pessoas, para que melhorassem. Ainda na década de 1940, o Serviço Social de Caso passa a ser ensinado a partir de outros autores além de Mary Richmond, como Gordon Hamilton, Anette Garet, Felix Baisteck e outros. Também no pós-Segunda Guerra surge o Serviço Social de Grupo, com base no funcionalismo sociológico de Durkheim, cujo objeto são as funções sociais, originando o modelo funcional e os principais autores são Gertrudes Wilson, Gladys Ryland, Gisela Konopka, Simone Parè, entre outros. Na década de 1950, surge o modelo estrutural-funcional/sistêmico, alicerçado em Robert Merton e Talcott Parsons, o método norte-americano “Organização de Comunidade”, também denominado Desenvolvimento de Comunidade, e, no Serviço Social, de Serviço Social de Comunidade. Perspectiva esta permeada 15 | A profissão se expressa na doutrina social da Igreja Católica, com base na encíclica Rerum Novarum, publicada em 15 de maio de 1891 por Leão XIII. No aniversário da publicação da encíclica também se comemora o Dia do Assistente Social. Nesse período, a Igreja brasileira vai assumindo as diretrizes papais (Leão XIII, Pio X e Pio XI), buscando a reforma da sociedade em virtude da influência do pensamento liberal e do comunismo (PINTO, 1986, p.35-36). 29Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profi ssão no Brasil pelas ideias desenvolvimentistas alicerçadas pelos programas da Organização das Nações Unidas (ONU) e pelos vários acordos entre os países da América Latina e Estados Unidos. Na década de 1960, também marcada no início da ditadura militar pelo Movimento de Reconceituação no Serviço Social na América Latina/Brasil, reforçam-se as ideias “desenvolvimentistas”, através do então presidente Kennedy, com o objetivo de tirar os países da América Latina do atraso em relação ao desenvolvimento com a política “Aliança para o Progresso – Alimentos para a Paz”16, através do programa Desenvolvimento de Comunidade. Esta política tinha, em relação aos países subdesenvolvidos, o objetivo de “salvá-los do comunismo”, culminando nos acordos MEC-USAID, em andamento desde 1964. Entre os teóricos desta abordagem temos o norte-americano Murray Ross e os brasileiros Rios e Ottoni Vieira. O segundo momento do Serviço Social, identificado como período posterior à Segunda Guerra Mundial até o Movimento de Reconceituação, consagra a identidade científica e técnica da profissão importada dos Estados Unidos, a qual sofre influência direta da psicanálise e outras áreas, permeada pela ideologia desenvolvimentista, principalmente na abordagem comunitária. Ainda na década de 1960, os profissionais investem na reconceituação da profissão, através do chamado “Movimento de Reconceituação” (1965 a 1979), buscando construir a identidade profissional própria. Movimento que inicia a partir do descontentamento da profissão em relação ao Serviço Social importado e gesta três tendências/perspectivas profissionais que centralizam a produção de conhecimento durante o período: a tendência tecnicista (modernizadora), a tendência do conhecimento personalista (fenomenológica) e a tendência política (marxista). A tendência tecnicista/modernizadora, chamada por Netto (1994) de perspectiva modernizadora, segue o referencial positivista/neopositivista, através de um modelo único funcional-estrutural. Perspectiva gerada durante os primeiros anos do Movimento de Reconceituação, através dos Documentos 16 | Resposta estadunidense aos problemas políticos relacionados ao subdesenvolvimento, a qual partia do pressuposto de que as questões de “atraso cultural” dos países subdesenvolvidos impediam de galgar a modernidade capitalista. O acordo buscava auxiliar na transição da sociedade tradicional para a moderna, tendo como base o modelo econômico dos Estados Unidos. A partir dessa política, o Serviço Social se expande ao assumi-la (NETTO, 1994). 30 Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profi ssão no Brasil de Araxá (1967) e de Teresópolis (1970), que produziram o primeiro referencial teórico-metodológico brasileiro tendo como teórico de ponta José Lucena Dantas. As tendências personalista e marxista estruturam-se na década de 1970, também denominadas por Netto (1994) de perspectiva intenção de ruptura com o Serviço Social tradicional/marxista, tendo como teórico Leila Lima Santos, autora do método BH, e a perspectiva reatualização do conservadorismo/ fenomenológica, tendo como principal teórico Anna Augusta de Almeida, autora da Nova Proposta. Na década de 1980, o Serviço Social continua enfrentando a luta entre diferentes paradigmas de compreensão da sociedade, numa disputa de posições político-teóricas. Essa polêmica diminui nos anos de 1990 com a queda do muro de Berlim, que marca o fim da Guerra Fria (dissolução da bipolarização do mundo), a consolidação do neoliberalismo e da globalização de mercado, bem como o fim da ditadura militar e a abertura política no Brasil, gerando o enfraquecimento das forças progressistas e críticas ao modelo neoliberal. Em contrapartida, emerge a perspectiva de defesa intransigente dos Direitos Humanos. O objeto do Serviço Social, de uma perspectiva histórica, passa para a discussão das relações de poder e saber, aprofundando o olhar crítico do contexto em mudança. Atualmente, o Serviço Social é construído na dinâmica complexa de produção da sociedade, articulando seus conhecimentos, refletindo sobre seu fazer profissional, aprofundando o processo dialético das mediações que realiza para fortalecer os dominados e oprimidos nas suas mais diversas relações (FALEIROS, 1997). Entre os principais autores contemporâneos podem ser citados Vicente de Paula Faleiros, Marilda Vilela Iamamoto, José Paulo Netto, Maria Ozanira da Silva e Silva, Maria Lúcia Martinelli. Convém ressaltar que nos capítulos a seguir serão abordadas as propostas teórico-metodológicas de referencial positivista operacionalizadas pelo Serviço Social desde a base neotomistaaté o movimento de reconceituação e da influência deste sobre as demais construções positivistas. 31Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profi ssão no Brasil Resumindo A trajetória do Serviço Social no Brasil, embora curta sob o ponto de vista histórico (são apenas oito décadas incompletas), é rica em movimentos que ora a reatualizam, ora a transformam a ponto de inscrevê-la como uma nova profissão. Esse processo da profissão, de se repensar e buscar novos objetivos e possibilidades, pode ser comparado, grosso modo, às fases de vida de pessoa: na infância, as referências são os pais e o meio no qual interage a família. As concepções e atitudes, nessa etapa, condensam esse primeiro e reduzido universo de forma acrítica. Assim foi o Serviço Social em sua infância: fundado e alicerçado na lógica do capital e da mística católica (seu pai e sua mãe, simbolicamente). Como todo ser em desenvolvimento, na adolescência busca outras referências, e, de forma radical e ideologizada, rompe com a figura dos pais. Assim o fez nos idos dos anos 1960, quando se insurge contra sua tradição e berço – o capital e a Igreja. Esse período, denominado Movimento de Reconceituação, buscou fundar um novo Serviço Social, que renascia fundamentalmente articulado e comprometido com a classe trabalhadora. A rebeldia desse período exigia a ruptura com as práticas até então instituídas e legitimadas, que se concretizavam no interior das organizações públicas e também privadas. O lema era abandonar essas formas de trabalho e se engajar nos movimentos políticos e sociais, nas associações de moradores e trabalhadores. Com o tempo e amadurecimento, o Serviço Social vai entrando em outra fase, a de jovem adulto, na qual redescobre o valor dos espaços de trabalho negligenciados na fase anterior (Reconceituação). Será essa retomada e revalorização dos espaços públicos e privados que, efetivamente, irão possibilitar, àqueles que usufruem do nosso trabalho, o acesso a uma nova condição de vida e de valorização. Essa revisão só se torna possível quando o Serviço Social encontra uma nova finalidade para sua prática: a defesa intransigente dos Direitos Humanos, e dos direitos sociais em especial. Esse percurso histórico é, às vezes, um tanto conturbado, mas sem dúvida sempre compromissado com o ser humano. 32 Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profi ssão no Brasil Atividades 1. Faça um quadro dos diferentes períodos/momentos do Serviço Social desde a caridade, contemplando fatos históricos, teoria utilizada e principais teóricos. 2. Qual o significado do Movimento de Reconceituação na trajetória histórica do Serviço Social brasileiro? 3. A partir do seu entendimento, como você imagina o futuro da profissão? Referência comentada IAMAMOTO, Marilda; CARVALHO, Raul de. Relações sociais e serviço social no Brasil. São Paulo: Cortez, 1988. Neste livro os autores apresentam os aspectos históricos e teóricos do conhecimento das relações de classe no Brasil que muito têm a ver com a história do Serviço Social. Apresenta, ainda, o Serviço Social no conjunto dos atores sociais: operários, pessoas, famílias, governos, setores da Igreja, entre outros, no contexto contraditório de classes na sociedade capitalista. Referências AGUIAR, A. G. Serviço social e fi losofi a: das origens a Araxá. São Paulo: Cortez-UNICAMP, 1982. CONTRIN, C. Fundamentos da fi losofi a: ser, saber e fazer. São Paulo: Saraiva, 1999. FALEIROS, Vicente de Paula. Estratégia do serviço social. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2002. IAMAMOTO, Marilda; CARVALHO, Raul de. Relações sociais e serviço social no Brasil. São Paulo: Cortez, 1988. ______. Serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profi ssional. São Paulo: Cortez, 1999. NETTO, Jose Paulo. Ditadura e serviço social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. São Paulo: Cortez, 1994. 33Retrospectiva da caridade à constituição e evolução da profi ssão no Brasil PINTO, Rosa Maria Ferreiro. Política educacional e serviço social. São Paulo: Cortez, 1986. SILVA, Ozanira da Silva e. O serviço social e o popular: resgate teórico-metodológico do projeto profi ssional de ruptura. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2007. Autoavaliação Marque com V as questões verdadeiras e com F as falsas: 1. ( ) Os assistentes sociais, em meados das décadas de 1940 e 1950, falam insistentemente em mudanças de estrutura, compromissos com a população e revolução ao deixarem de falar em pobre, carente, patologia social e desenvolvimento. 2. ( ) Durante o período da reconceituação os assistentes sociais consideravam-se capazes de somar esforços na construção e preservação de espaços democráticos, embora o país vivesse a ditadura militar. 3. ( ) No início da década de 1960, os assistentes sociais assumem a ideologia desenvolvimentista, e sua atuação, torna-se mais técnica e fundamentada na busca da neutralidade. 4. ( ) O Serviço Social durante o movimento de reconceituação foi permeado por momentos específicos: o primeiro na década de 1940, quando da influência americana de Mary Richmond e o segundo na década de 1960 com o surgimento do Serviço Social tripartido que leva em conta os “desajustamentos sociais”. 5. ( ) Na contemporaneidade grande contingente de profissionais não questiona as práticas alienante e alienada, pois sua formação se dá basicamente à luz do paradigma positivista. 6. ( ) Pensar o Serviço Social contemporâneo significa refletir sua relação com o Estado na defesa intransigente dos Direitos Humanos. Gabarito: 1. F 2. F 3. V 4. F 5. V 6. V 3 O conhecimento científico e a teoria e metodologia do Serviço Social Neste capítulo abordaremos a construção do conhecimento para, a seguir, trazer a questão da relação da teoria e da metodologia no Serviço Social, de forma a ampliar questões introduzidas no primeiro capítulo deste livro. A construção do conhecimento não é um conteúdo novo. Justificamos a sua retomada para situar as construções teórico-práticas da profissão, e, ainda, alertar que, embora existam teorias e metodologias, elas não devem ser simplesmente aplicadas na prática. Cabe, também, ressaltar que do profissional especializado, o assistente social, espera-se que produza conhecimento a partir de suas intervenções na realidade social, quando do estudo das situações em que se defronta no cotidiano profissional. 3.1 A construção do conhecimento teórico O conhecimento é a capacidade que temos de pensar e compreender o mundo. Segundo Papiassú (1996, p.51), o termo conhecimento designa “tanto a coisa conhecida quanto o ato de conhecer (subjetivo) e o fato de conhecer”. Conhecer significa a capacidade que o ser humano tem de pensar e compreender a relação existente entre si e o objeto a ser conhecido, isto é, a relação que se 36 O conhecimento científi co e a metodologia do Serviço Social estabelece entre dois elementos básicos, entre um sujeito e um objeto, que se colocam frente a frente: a) um sujeito que quer conhecer/cognoscente (ou uma consciência, uma mente. O elemento que sente, quer, age); e b) um objeto a ser conhecido (a realidade o mundo, os inúmeros fenômenos. O elemento que existe independentemente do sujeito, e que é dado a conhecer ao sujeito num determinado momento). Isso equivale dizer que “o conhecimento é um ato, o processo pelo qual o sujeito se coloca no mundo e, com ele, estabelece uma ligação. Por outro lado, o mundo é o que torna possível o conhecimento ao se oferecer a um sujeito apto a conhecê-lo” (ARANHA e MARTINS, 2000, p.54). Ainda, as autoras nos dizem que “Só há saber para o sujeito cognoscente se houver um mundo a conhecer, mundo este do qual ele é parte, uma vez que o próprio sujeito pode ser objeto de conhecimento” (2000, p.54). A discussão em torno da relação entre sujeito e objeto inicia com o empirismo de Locke, o qual afirma ser a experiência nossa fonte de conhecimento e podemos chegar à verdade por meiodas operações: a) sensação (que leva para a mente as distintas percepções das coisas e depende dos sentidos), e b) reflexão (que consiste nas operações internas de nossa própria mente fornecidas pelo sentido). Por outro lado, temos o racionalismo, que confia na razão humana como instrumento capaz de conhecer a verdade. Racionalistas como Descartes entendem ser a experiência sensorial a motriz do conhecimento. Mas existe também uma terceira posição, o apriorismo kantiano, que conjuga essas duas posições (COTRIM, 2006). Kant (1724-1804) afirma que todo o conhecimento começa com a experiência e precisa de um trabalho do sujeito para organizar os dados da mesma. Para ele, a experiência fornece a matéria do conhecimento, “enquanto a razão organiza esta matéria de acordo com suas formas próprias, estruturas existentes a priori no pensamento” (COTRIM, 2006, p.61). Dependendo da corrente filosófica, podemos dar maior importância ao sujeito no processo de conhecimento (é o caso do idealismo) ou ao objeto (é o caso do realismo ou materialismo). 37O conhecimento científi co e a metodologia do Serviço Social O conhecimento cotidiano, da mesma forma que o conhecimento do mundo e o científico, são frutos de uma longa história e de movimentos gradativos, que abrangem: a) das formas mais elementares do conhecimento às formas mais sofisticadas; b) de um conhecimento incompleto a um mais completo; c) de uma apreensão mais superficial a uma mais profunda das coisas. De forma que todos nós, a partir da vivência cotidiana, temos instrumentos para conhecer a realidade que nos cerca, considerando que existem muitas formas de conhecimento, umas mais elaboradas e complexas, outras mais simples. O ato de conhecer é um processo que se dá de forma simultânea à transmissão da cultura pela educação social de uma determinada sociedade, em que desde as nossas primeiras experiências construímos conhecimento. Por exemplo, ao passarmos pela experiência de que o fogo queima, aprendemos algo sobre a temperatura, embora ainda não conheçamos as Leis da Termodinâmica, de forma que não sabemos por que isso acontece. Dessa forma, podemos afirmar que existem fronteiras entre conhecimento científico e o senso comum, as quais são relacionadas com a maneira de conhecer ou de justificar o conhecimento. Quando nos propomos a ser profissionais de determinada área, é esperado de nós que estejamos capacitados para a construção de novos saberes, e certamente nos defrontaremos com um processo de conhecimento, que depende de diversos tipos ou níveis de profundidade do mesmo, destacando-se: a) o conhecimento imediato, sem intermediários, ocorre a partir da experiência vivida. Muitas vezes deve ser superado, substituído pelo científico. Contudo, permanece no povo, evocando uma sabedoria de vida, sem a qual todo o saber científico perde seu fundamento existencial; b) o conhecimento racional, aquele que realiza abstrações que permitem ao sujeito afastar-se da sua experiência concreta a fim de capturar a essência do objeto, numa tentativa de superá-lo, já temos a imagem do objeto, isto é, uma representação mental sobre o fenômeno. É um 38 O conhecimento científi co e a metodologia do Serviço Social conhecimento intencional, pelo qual são aplicados determinados modos e procedimentos para obter a verdade sobre determinado fenômeno ou processo; c) o conhecimento teórico, aquele que é mediato, é construído por meio de conceitos. Nesse processo, o pensamento/razão opera pela articulação de um conjunto de saberes previamente existentes e geralmente confirmados pela experiência. Esses modos e procedimentos constituem o método científico, caracterizado pela capacidade de abstrair e que possibilita a transformação de conhecimentos teóricos em práticos e vice-versa, construídos a partir de metodologias. Um processo que, com a evolução da história, o ser humano, ao entrar em contato com o mundo, foi identificando semelhanças e diferenças nos objetos em seu entorno, fruto da capacidade humana de raciocinar, possibilitando-lhe a construção de novos saberes. Para o homem, as coisas do mundo sempre são mais que simples coisas. Não conhecemos as coisas quando conhecemos apenas sua composição química. As coisas do mundo têm sentido próprio em seu relacionamento com o homem. Por isso, depois de um longo período evolutivo inconsciente e determinístico, o homem chega à consciência, a conhecer-se como mundo e a conhecer toda a marcha de sua evolução e as leis que regem a mesma. A evolução converge para o homem como seu sentido, ou seja, o sentido do universo. O homem dá sentido à evolução. (ZILLES, 1994, p.15) No Serviço Social, assim como nas demais profissões que se ocupam do social, apreendemos conhecimentos ou saberes da realidade social e cultural de determinada sociedade. A partir das imagens concretas, temos a possibilidade de materializar, abstrair e entender as relações sociais construídas historicamente pelo ser humano. Para isso, a profissão articula e reelabora os conhecimentos advindos das várias ciências, o que lhe dá condições de avançar em sua teorização. 39O conhecimento científi co e a metodologia do Serviço Social O conhecimento científico é fundamental para qualquer profissão e proporciona ao profissional compreender as diferentes visões de homem e de mundo, isto é, que visão de teoria, método, valores e princípios norteiam a prática profissional ao intervir junto aos indivíduos, família e comunidade. Para atuar à luz do conhecimento científico, por certo o profissional precisa dominar os conceitos elencados, podendo-se colocar a serviço da modernização ou da transformação das relações sociais de determinada sociedade. Considerando que o processo de conhecimento se propõe a romper com a repetição do que sempre se fez e/ou pensou, isto é, no momento em que começamos a questionar verdades e certezas até então não questionadas, estamos construindo o nosso método de conhecimento e este será diferente no modo de analisar e desenvolver as ações. Observamos essa mudança no momento em que os preconceitos e situações vividas ganham novos olhares, como se víssemos outro mundo através de lentes, que não é mais o mesmo de antes. Por exemplo, ao nos defrontarmos com uma família em situação de vulnerabilidade socioeconômica, geralmente é despertado na população em geral sentimentos de “pena” ou “rechaço”, tendo como justificativa que ela se encontra nesta situação devido aos progenitores que “não querem trabalhar”, ou “eles não têm persistência para o trabalho”, ou, ainda, que “não adianta ajudar, pois eles não valorizam”, entre outras. Essas frases ou ditos (de conhecidos, familiares) reforçam e reproduzem a pobreza, resultantes de pensamento simplista e carregado rótulos/preconceitos enraizados no passado. Pensamento que, submetido ao conhecimento teórico produzido pelas ciências sociais, questionará esses fatos e, então, compreendidos de forma crítica, passando-se a entender que esta é uma situação desumana, pois essas famílias não possuem as necessidades básicas supridas, garantindo-lhes a sobrevivência (alimentos, habitação). Pode-se comparar a uma chaleira de água colocada para ferver: ela só ferverá se tiver calor suficiente. Assim, deduzimos que, se a pessoa não tiver alimento suficiente, também não conseguirá pensar, trabalhar e com o tempo ficará desnutrida, entre outras questões. Isso não significa aceitar a pobreza, mas poder identificar formas de proteger esta família e libertá-la de algo que, por vezes, é justificado e aceito como “normal” na sociedade. Com isso, afirmamos que o trabalho cotidiano do assistente social exige-lhe estudo constante da realidade social e espírito investigativo que resultará em 40 O conhecimento científi co e a metodologia do Serviço Social uma postura crítica e possibilitará a prática científica, bem como a produção de conhecimento e saberes, evitando, assim, cair no vazio profissional. Para isso,o processo de formação profissional vai “além da aparente linearidade de transmissão de teorias. As teorias e os métodos que a integram são definidos pelas propriedades estabelecidas no jogo de forças que se opera nos diferentes níveis da totalidade social” (NICOLAU, 1995, p.84). Ao instaurar um processo de conhecimento e saber profissional articulado pelo fazer profissional, faz-se necessário um conjunto de pressupostos para chegarmos a uma verdade, a qual se dá pela relação entre teoria e prática, uma práxis. A postura científica possibilita a construção de conhecimento no Serviço Social e possibilitou um estatuto científico para a profissão, e, embora não exista a teoria do Serviço Social, ou estaria em construção, a profissão é considerada, segundo Kameyama, como “uma especificidade das Ciências Sociais e, portanto, não tem uma metodologia própria e carece de uma teoria específica” (1989, p.99). Mas a prática científica e a produção de conhecimento têm dado movimento e dinamicidade ao fazer profissional, o que pode ser evidenciado na participação e promoção das transformações na realidade social a partir de suas construções teórico-metodológicas como uma profissão científica inserida na divisão sociotécnica do trabalho e reconhecida pelos órgãos de fomentação da pesquisa, como é o caso do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), outrora denominado Conselho Nacional de Pesquisa. 3.2 A teoria e metodologia do Serviço Social Dada a importância de o profissional aprofundar seus conhecimentos sobre a realidade, com base no conhecimento científico e senso crítico, apresentamos alguns subsídios em relação à constituição do quadro teórico-metodológico do Serviço Social. Tema bastante discutido a partir da busca de uma teorização latina, praticamente uma década antes do Movimento de Reconceituação da profissão, no final da década de 1950. Desde então, a categoria profissional tem dedicado espaços significativos em congressos, revistas, livros, entre outros. Período em que a profissão, além de questionar a prática desenvolvida junto ao usuário, volta-se a estudar a si própria, isto é, movimenta-se para identificar e reconstruir sua identidade profissional. 41O conhecimento científi co e a metodologia do Serviço Social O debate da teoria17 e da metodologia18 do Serviço Social inicia mais concretamente com os Seminários de Araxá (1967) e de Teresópolis (1910) e se utiliza dos fundamentos teóricos e metodológicos já incorporados pelos modelos importados, reestruturando-os de forma a adaptar um modelo próprio e brasileiro. Modelo e ideologia questionados na década de 1970, quando se busca uma nova teorização à luz do paradigma fenomenológico explicitada no Seminário de Sumaré (1976) e no marxismo através da escola de Serviço Social da PUC de Belo Horizonte, cuja produção só foi divulgada no início da década de 1980, quando da instauração do processo de redemocratização do país. Também ressaltamos que o material produzido nas discussões sobre o tema e que segue até hoje refere-se à questão da cientificidade19 da profissão, da existência ou não de uma teoria e do problema de dissociar a teoria20 da metodologia21 na profissão. As questões postas se interpenetram e, ao discutirmos a dicotomia entre teoria e prática fundada pelo funcionalismo, autores como Faleiros (1986), Lopes (1980) e outros analisam o conceito de 17 | No pensamento clássico, teoria significa um conjunto sistemático de proposições gerais, inter- relacionadas e que se referem a um conjunto de fatos científicos. Revestem-se de um caráter formal de acumulação de conhecimentos (dados e fatos científicos) em nível de abstração e generalização cada vez maiores. No pensamento crítico, a teoria é uma representação mental, de processos reais, que levam à compreensão de uma totalidade estruturada mediante a identificação das relações de determinação, reveladoras do seu movimento. Ver Kameyama (1986) e Lungarzo (1989). 18 | Entende-se metodologia aqui como quem se ocupa do método, dos instrumentos, técnicas e habilidades utilizados para desenvolver uma determinada prática profissional a partir de uma visão de homem e de mundo. Também definida como “investigação sobre os métodos empregados nas diferentes ciências, seus fundamentos e validade, e sua relação com as teorias científicas (JAPIASSÚ, 1996, p.182). 19 | O dilema sobre a cientificidade do Serviço Social relaciona-se à questão de que não possui ainda clareza sobre o seu objeto, considerando que, na perspectiva das ciências sociais, deve existir um único objeto e de domínio específico daquela profissão. Por outro lado, na categoria admite a existência de vários objetos, construídos a partir da realidade investigada, isto é, o objeto é construído e reconstruído a partir do reconhecimento dos dados da realidade social que está sendo estudada (KAMEYAMA, 1986). 20 | Para Kameyama (1986, p.100), teoria é “a forma de organização do conhecimento científico que nos proporciona um quadro integral de leis, de conexões e de relações substanciais num determinado domínio da realidade”. 21 | Metodologia, para Kameyama (1986, p.103), significa: “Na medida em que se tem uma teoria, tem-se uma metodologia do conhecimento, já se tem o concreto pensado”. Ainda segundo a autora, “então entram as mediações com estratégias e táticas que se desdobram em procedimentos metodológicos ou formas de abordagem) (ibidem, p.103). 42 O conhecimento científi co e a metodologia do Serviço Social teoria, que também depende de posições epistemológicas divergentes, podendo descrever duas concepções básicas: a) a do método hipotético dedutivo, dominante nas ciências sociais, também chamada de perspectiva da integração social; b) na posição dialética, com base marxista, chamada de perspectiva da libertação social. Em relação à dicotomia e à proposta de unidade entre teoria e prática destacamos a produção de Josefa Batista Lopes, na obra Objeto e Especificidade do Serviço Social, resultado da análise qualitativa sobre a construção do objeto (teoria, intenção e método) em relação à realidade social. A autora definiu 11 temas que ajudam no entendimento das duas perspectivas, dispostas de forma a obter dados mais amplos, básicos e opostos na prática profissional. Para ilustrar as duas concepções de Serviço Social, o quadro elaborado pela autora traz a sistematização de material produzido por autores de relevância da profissão, conforme segue: Quadro 1 – Relações temáticas – perspectivas básicas mediante coerência interna. TEMAS PERSPECTIVAS GERAIS BÁSICAS Integração social Libertação socialDécada de 1930 Décadas de 1940-50 Década de 1960 1 – Objeto do Serviço Social Carência Disfunção individual Disfunção social Dominação 2 – problematização do objeto No indivíduo ou na estrutura No indivíduo No indivíduo ou na estrutura Na relação homem/ estrutura 3 – Visão do homem Ser individual Ser individual Ser Individual Ser social histórico 4 – Visão da sociedade Atomizada ou estruturada Atomizada ou estruturada Atomizada ou estruturada Histórico estrutural 43O conhecimento científi co e a metodologia do Serviço Social TEMAS PERSPECTIVAS GERAIS BÁSICAS Integração social Libertação socialDécada de 1930 Décadas de 1940-50 Década de 1960 5 – Posição favorece valores Busca de neutralidade ou comando de valores a-históricos Busca de neutralidade ou comando de valores a-históricos Busca de neutralidade ou comando de valores a-históricos Participação de valores históricos 6 – Relação teoria/ realidade Sem apoio teórico ou teoria fechada Sem apoio teórico ou teoria fechada Sem apoio teórico ou teoria fechada Relação teoria/ realidade 7 – Especificidade Ajustamento social Ajustamento social Ajustamento social Participação social 8 – Intenção Assistência social ou promoção social Integração social Integração social Libertação 9