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3 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1. A CONSTRUÇÃO DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL ............................ 3 
2. AS IMPLICAÇÕES ÉTICO-POLÍTICAS DO AGIR PROFISSIONAL. ........................................ 28 
3. DESAFIOS E POSSIBILIDADES PARA A MATERIALIZAÇÃO DA PRÁXIS DO SERVIÇO 
SOCIAL NO COTIDIANO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.................................................................. 29 
4. PROJETO PROFISSIONAL – RUMOS ÉTICOS E POLÍTICOS DO TRABALHO PROFISSIONAL 
NA CONTEMPORANEIDADE. ........................................................................................................ 35 
QUESTÕES DE PROVAS - PARTE I .............................................................................................. 41 
GABARITO 1 ................................................................................................................................... 43 
QUESTÕES DE PROVAS – PARTE II ............................................................................................ 44 
GABARITO 2 ................................................................................................................................... 52 
BIBLIOGRAFIA................................................................................................................................ 52 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
1. A CONSTRUÇÃO DO PROJETO 
ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL 
 
Por José Paulo Netto∗∗ 
∗ - Este texto, redigido em 1999 e originalmente publicado no módulo 1 de Capacitação em 
Serviço Social e Política Social (Brasília, CFESS/ABEPSS/CEAD/UnB, 1999), constituiu 
um dos primeiros materiais para a discussão acerca do “projeto ético-político do Serviço 
Social brasileiro”, sendo posteriormente reeditado em Portugal (Henríquez, org., 2001) e 
difundido também na América Latina (Borgianni, Guerra e Montaño, orgs.2003). Para a 
presente edição, foram feitas pequenas alterações formais e uns poucos acréscimos 
bibliográficos. 
∗∗ - Professor titular da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de 
Janeiro. 
 
 
 É muito recente – datando da segunda metade dos anos noventa do século XX 
– o debate sobre o que vem sendo denominado de projeto ético-político do Serviço 
Social. O caráter relativamente novo desta discussão revela-se claramente na escassa 
documentação sobre o tema. 
 No entanto, o objeto deste debate – e, sobretudo, a própria construção deste 
projeto no marco do Serviço Social no Brasil – tem uma história que não é tão recente, 
iniciada na transição da década de 1970 à de 1980. Este período marca um momento 
importante no desenvolvimento do Serviço Social no Brasil, vincado especialmente pelo 
enfrentamento e pela denúncia do conservadorismo profissional. É neste processo 
de recusa e crítica do conservadorismo que se encontram as raízes de um projeto 
profissional novo, precisamente as bases do que se está denominando projeto ético-
político. 
 
 
 
 
 
5 
 
 
2015/FGV/TJ-BA. O debate sobre o Projeto Ético-Político do Serviço Social, embora 
recente (década de 90), tem suas bases colocadas durante a transição da década de 
70 para 80 do século passado. Isso porque foi nesse período histórico que se deu, 
segundo Netto (2006), a primeira condição para a construção de um novo projeto 
profissional, qual seja: 
 
 a) o debate sobre a metodologia do Serviço Social; 
 b) a recusa e a crítica ao conservadorismo profissional; 
 c) o embate do Serviço Social com a Ditadura brasileira; 
 d) a aceitação do ecletismo durante o Congresso da Virada; 
 e) a emersão de uma epistemologia própria do Serviço Social. 
 
Resposta Correta: Letra b) a recusa e a crítica ao conservadorismo profissional. 
Comentário: É muito recente – datando da segunda metade dos anos noventa do século 
XX – o debate sobre o que vem sendo denominado de projeto ético-político do Serviço 
Social. O caráter relativamente novo desta discussão revela-se claramente na escassa 
documentação sobre o tema. No entanto, o objeto deste debate – e, sobretudo, a própria 
construção deste projeto no marco do Serviço Social no Brasil – tem uma história que 
não é tão recente, iniciada na transição da década de 1970 à de 1980. Este período 
marca um momento importante no desenvolvimento do Serviço Social no Brasil, vincado 
especialmente pelo enfrentamento e pela denúncia do conservadorismo profissional. É 
neste processo de recusa e crítica do conservadorismo que se encontram as raízes de 
um projeto profissional novo, precisamente as bases do que se está denominando projeto 
ético-político 
 
 
Os Projetos Societários 
 
 A teoria social crítica já demonstrou que a sociedade não é uma entidade de 
natureza intencional ou teleológica – isto é: a sociedade não tem objetivos nem 
finalidades; ela apenas dispõe de existência em si, puramente factual. No entanto, a 
mesma teoria sublinha que os membros da sociedade, homens e mulheres, sempre 
atuam teleologicamente – isto é: as ações humanas sempre são orientadas para 
 
6 
 
objetivos, metas e fins. (Para esclarecer a estrutura teleológica da ação humana e o 
caráter não-teleológico da sociedade, cf. Holz et alii (1969) e Lukács (1997). 
 
 A ação humana, seja individual, seja coletiva, tendo em sua base necessidades 
e interesses, implica sempre um projeto que, em poucas palavras, é uma antecipação 
ideal da finalidade que se pretende alcançar, com a invocação dos valores que a legitimam 
e a escolha dos meios para lográ-la. 
 
 Não nos interessa aqui a estrutura própria dos projetos individuais e dos projetos 
coletivos e, menos ainda, as complexas relações entre ambos. Interessa-nos tão 
somente um tipo de projeto coletivo, que designamos como projetos societários. 
Trata- se daqueles projetos que apresentam uma imagem de sociedade a ser construída, 
que reclamam determinados valores para justificá-la e que privilegiam certos meios 
(materiais e culturais) para concretizá-la. 
 
 Os projetos societários são projetos coletivos; mas seu traço peculiar reside no 
fato de se constituírem como projetos macroscópicos, como propostas para o conjunto 
da sociedade. Somente eles apresentam esta característica – os outros projetos 
coletivos (por exemplo, os projetos profissionais, de que trataremos adiante) não 
possuem este nível de amplitude e inclusividade. 
 
 Em sociedades como a nossa, os projetos societários são, necessária e 
simultaneamente, projetos de classe, ainda que refratem mais ou menos fortemente 
determinações de outra natureza (culturais, de gênero, étnicas etc.). Efetivamente, as 
transformações em curso na ordem capitalista não reduziram a ponderação das classes 
sociais e do seu antagonismo na dinâmica da sociedade, como constataram, entre outros, 
Harvey (1996) e, entre nós, Antunes (2001). 
 
 Por isto mesmo, nos projetos societários (como, aliás, em qualquer projeto 
coletivo) há necessariamente uma dimensão política, que envolve relações de poder. 
É claro que esta dimensão não pode ser diretamente identificada com posicionamentos 
partidários, ainda que se considere que os partidos políticos sejam instituições 
indispensáveis e insubstituíveis para a organização democrática da vida social no 
capitalismo contemporâneo. 
 
 A experiência histórica demonstra que, tendo sempre em seu núcleo a marca da 
classe social a cujos interesses essenciais respondem, os projetos societários 
 
7 
 
constituem estruturas flexíveis e cambiantes: incorporam novas demandas e 
aspirações, transformam-se e se renovam conforme as conjunturas históricas e políticas. 
 
 Enfim, compreende-se, sem grandes dificuldades, que a concorrência entre 
diferentes projetos societários é um fenômeno próprio da democracia política. Num 
contexto ditatorial,a vontade política da classe social que exerce o poder político vale-se, 
para a implementação do seu projeto societário, de mecanismos e dispositivos 
especialmente coercitivos e repressivos. É somente quando se conquistam e se garantem 
as liberdades políticas fundamentais (de expressão e manifestação do pensamento, de 
associação, de votar e ser votado etc.) que distintos projetos societários podem confrontar-
se e disputar a adesão dos membros da sociedade. 
 
 Todavia, também a experiência histórica demonstrou que, na ordem do capital, 
por razões econômico-sociais e culturais, mesmo num quadro de democracia 
política, os projetos societários que respondem aos interesses das classes 
trabalhadoras e subalternas sempre dispõem de condições menos favoráveis para 
enfrentar os projetos das classes proprietárias e politicamente dominantes. 
 
Os Projetos Profissionais 
 Inscrevem-se no marco dos projetos coletivos aqueles relacionados às profissões 
– especificamente as profissões que, reguladas juridicamente, supõem uma 
formação teórica e/ou técnico-interventiva, em geral de nível acadêmico superior. 
 
 
Os projetos profissionais: 
* Apresentam a autoimagem de uma profissão; 
* Elegem os valores que a legitimam socialmente; 
* Delimitam e priorizam seus objetivos e funções; 
* Formulam os requisitos (teóricos, práticos e institucionais) para o seu exercício; 
* Prescrevem normas para o comportamento dos profissionais 
Os projetos profissionais estabelecem as bases das suas relações: 
* Com os usuários de seus serviços; 
* Com as outras profissões; 
* Com as organizações e instituições sociais privadas e públicas (inclusive o Estado, 
a que cabe o reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais). 
 
 
8 
 
 
 
2014/IADES/METRÔ-DF. A respeito de projetos profissionais, a exemplo do projeto 
ético-político do Serviço Social, assinale a alternativa correta. 
 a) A condição de projeto profissional acontece quando valores e (ou) diretrizes 
profissionais assumem uma dimensão individualizada de desejo de mudança. 
 b) O projeto profissional suscita prioritariamente uma identidade individual em substituição 
à identidade coletiva. 
 c) Em uma sociedade classista, nem todos os projetos profissionais se caracterizam por 
uma dimensão política. 
 d) O projeto profissional está diretamente ligado a um projeto societário, cujo eixo central 
pode estar vinculado à transformação ou à perpetuação de uma dada condição da 
sociedade. 
 e) Não cabe aos projetos profissionais, inclusive ao projeto ético-político do Serviço Social, 
prescrever normas para o comportamento dos profissionais. 
 
Resposta Correta: Letra d) O projeto profissional está diretamente ligado a um 
projeto societário, cujo eixo central pode estar vinculado à transformação ou à 
perpetuação de uma dada condição da sociedade. 
 
Comentário: Os projetos profissionais apresentam a autoimagem de uma profissão, 
elegem os valores que legitimam socialmente, delimitam e priorizam os seus objetivos e 
funções, formulam os requisitos (teóricos, institucionais e práticos) para o seu exercício, 
prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas da 
sua relação com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as 
organizações e instituições sociais, privadas e públicas”. Projetos societários são projetos 
coletivos, macroscópicos, para o conjunto da sociedade; apresentam a imagem de uma 
sociedade a ser construída/ projetos de classe. 
 
 
 Tais projetos são construídos por um sujeito coletivo – o respectivo corpo (ou 
categoria) profissional, que inclui não apenas os profissionais “de campo” ou “da 
prática”, mas que deve ser pensado como o conjunto dos membros que dão 
efetividade à profissão. É através da sua organização (envolvendo os profissionais, as 
instituições que os formam, os pesquisadores, os docentes e os estudantes da área, seus 
organismos corporativos, acadêmicos e sindicais etc.) que um corpo profissional elabora o 
seu projeto. 
 
9 
 
 Se considerarmos o Serviço Social no Brasil, tal organização compreende o sistema 
CFESS/CRESS, a ABEPSS, a ENESSO, os sindicatos e as demais associações de 
assistentes sociais. 
 Por outra parte, a experiência sócio profissional comprovou que, para que um 
projeto profissional se afirme na sociedade, ganhe solidez e respeito frente às outras 
profissões, às instituições privadas e públicas e frente aos usuários dos serviços 
oferecidos pela profissão é necessário que ele tenha em sua base um corpo 
profissional fortemente organizado. 
 Os projetos profissionais também são estruturas dinâmicas, respondendo às 
alterações no sistema de necessidades sociais sobre o qual a profissão opera, às 
transformações econômicas, históricas e culturais, ao desenvolvimento teórico e 
prático da própria profissão e, ademais, às mudanças na composição social do corpo 
profissional. Por tudo isto, os projetos profissionais igualmente se renovam e se 
modificam. 
 É importante ressaltar que os projetos profissionais também têm inelimináveis 
dimensões políticas, seja no sentido amplo (referido às suas relações com os projetos 
societários), seja em sentido estrito (referido às perspectivas particulares da profissão). 
Porém, nem sempre tais dimensões são explicitadas, especialmente quando apontam para 
direções conservadoras ou reacionárias. Um dos traços mais característicos do 
conservadorismo consiste na negação das dimensões políticas e ideológicas. Não é 
por acaso que o conhecido pensador lusitano Antônio Sérgio, numa passagem notável, 
tenha observado que “aquele que diz não gostar de política, adora praticar política 
conservadora”. 
 
Projetos Profissionais e Pluralismo 
 O sujeito coletivo que constrói o projeto profissional constitui um universo 
heterogêneo: os membros do corpo (categoria) profissional são necessariamente 
indivíduos diferentes – têm origens, situações, posições e expectativas sociais diversas, 
condições intelectuais distintas, comportamentos e preferências teóricas, ideológicas e 
políticas variadas etc. O corpo profissional é uma unidade não homogênea, uma 
unidade de diversos; nele estão presentes projetos individuais e societários diversos 
e, portanto, configura um espaço plural do qual podem surgir projetos profissionais 
diferentes. 
 
10 
 
 Mais exatamente, todo corpo profissional é um campo de tensões e de lutas. A 
afirmação e consolidação de um projeto profissional em seu próprio interior não 
suprimem as divergências e contradições. Tal afirmação deve fazer-se mediante o 
debate, a discussão, a persuasão – enfim, pelo confronto de ideias e não por mecanismos 
coercitivos e excludentes. 
 Contudo, sempre existirão segmentos profissionais que proporão projetos 
alternativos; por consequência, mesmo um projeto que conquiste hegemonia nunca será 
exclusivo. (Sabe-se que a categoria hegemonia foi especialmente elaborada pelo 
comunista sardo Antônio Gramsci (Coutinho, 1999); para um tratamento didático da 
categoria, cf. Simionatto (1995: 37-50). 
 Por isso, a elaboração e a afirmação (ou, se se quiser, a construção e a 
consolidação) de um projeto profissional deve dar-se com a nítida consciência de que o 
pluralismo é um elemento factual da vida social e da própria profissão, que deve ser 
respeitado. Mas este respeito, que não deve ser confundido com uma tolerância liberal 
para com o ecletismo, não pode inibir a luta de ideias. Pelo contrário, o verdadeiro debate 
de ideias só pode ter como terreno adequado o pluralismo que, por sua vez, supõe 
também o respeito às hegemonias legitimamente conquistadas. 
 
 
ECLETISMO - A questão extremamente polêmica do pluralismo e sua degradação teórica (no 
ecletismo) e política (no liberalismo) foi abordada sob forma diferente por Coutinho, in Vv. 
Aa. (1991: 5-17) e por Tonet (1997: 203-237). 
 
 
A atenção a essas questões se mostra mais importantequando se leva em conta a 
relação dos projetos profissionais com os projetos societários. Embora seja frequente a 
sintonia entre o projeto societário hegemônico e o projeto hegemônico de um determinado 
corpo profissional, podem ocorrer – e ocorrem – situações de conflito e mesmo de 
contradição entre eles. É possível que, em conjunturas precisas, o projeto societário 
hegemônico seja contestado por projetos profissionais que conquistem hegemonia em 
seus respectivos corpos (esta possibilidade é tanto maior quando tais corpos se tornam 
sensíveis aos interesses das classes trabalhadoras e subalternas e quanto mais estas 
classes se afirmem social e politicamente). Tais situações agudizam, no interior desses 
 
11 
 
corpos profissionais, as diferenças e divergências entre os diversos segmentos 
profissionais que os compõem. 
 É evidente que estas divergências não podem ser resolvidas somente no marco do 
corpo profissional. Seu direcionamento positivo exige a análise do movimento social 
(que é o movimento das classes e camadas sociais) e o estabelecimento de relações e 
alianças com outros corpos profissionais e segmentos sociais (aqui incluídos os usuários 
dos serviços profissionais), principalmente aqueles vinculados às classes que dispõem de 
potencial para gestar um projeto societário alternativo ao das classes proprietárias e 
dominantes. 
 Há que se observar que esta colisão, este enfrentamento de projetos 
profissionais como projeto societário hegemônico tem limites numa sociedade 
capitalista. Exceto se se quiser esterilizar no messianismo (cuja antítese é o fatalismo), 
até mesmo um projeto profissional crítico e avançado deve ter em conta tais limites, cujas 
linhas mais evidentes se expressam nas condições institucionais do mercado de trabalho. 
 Entretanto, mesmo acerca de componentes reconhecidamente imperativos 
registram-se divergências. Um exemplo eloquente relaciona-se aos Códigos de Ética 
das profissões: apesar de ser um componente imperativo do exercício profissional 
(inclusive, na maioria dos casos, com força legal), são comuns os debates e as 
discrepâncias acerca de alguns de seus princípios e implicações – e isto constitui outro 
indicador das disputas e tensões que se processam no interior dos corpos profissionais 
(não nos referimos, aqui, às violações dos Códigos, mas às contestações de princípios e 
normas que eles consagram). 
 
Esta remissão aos Códigos de Ética é importante no tratamento dos componentes dos projetos 
profissionais para esclarecer DOIS ASPECTOS RELEVANTES: 
* O primeiro refere-se ao fato de que os projetos profissionais requerem sempre uma 
fundamentação de valores de natureza explicitamente ética – porém, esta fundamentação, 
sendo posta nos Códigos, não se esgota neles, isto é: a valoração ética atravessa o projeto 
profissional como um todo, não constituindo um mero segmento particular dele. 
* O segundo diz respeito a que os elementos éticos de um projeto profissional não se limitam a 
normativas morais e/ou prescrições de direitos e deveres: eles envolvem, ademais, as opções 
teóricas, ideológicas e políticas dos profissionais – por isto mesmo, a contemporânea 
designação de projetos profissionais como ético-políticos revela toda a sua razão de ser: uma 
indicação ética só adquire efetividade histórico-concreta quando se combina com uma direção 
político-profissional. 
 
 
12 
 
 
Condição Política da Construção do Novo Projeto Profissional do Serviço Social e 
seus Outros Componentes 
 Na introdução deste texto assinalamos que se o debate acerca do projeto ético-
político é, nestes termos, muito recente, a sua história remonta à transição dos anos 
setenta aos oitenta do século passado. Com efeito, foi naqueles anos que a PRIMEIRA 
CONDIÇÃO para a construção deste novo projeto se viabilizou: a recusa e a crítica 
ao conservadorismo profissional. (Para uma análise detalhada desta recusa e desta 
crítica, cf. especialmente Netto (1998: 115-308) e Iamamoto (1992: 17-39). 
 É claro que a denúncia do conservadorismo do Serviço Social não surgiu 
repentinamente – na verdade, desde a segunda metade dos anos sessenta (quando o 
Movimento de Reconceituação, que fez estremecer o Serviço Social na América Latina, 
deu seus primeiros passos), aquele conservadorismo já era objeto de problematização. 
O trânsito dos anos setenta aos oitenta, porém, situou esta problematização num 
nível diferente na escala em que coincidiu com a crise da ditadura brasileira, exercida, 
desde 1º de abril de 1964, por uma tecnoburocracia civil sob tutela militar a serviço do 
grande capital. 
 
 
Acerca do Movimento de Reconceituação, Netto (1998: 115-308), cf. também Faleiros (1987) 
e Silva e Silva, in Silva e Silva, coord. (1995: 71-96). Para um balanço da Reconceituação, 
quarenta anos depois de sua eclosão, cf. Alayón, org. (2005); alguns dos textos aí coligidos 
foram publicados em Serviço Social & Sociedade (S. Paulo, Cortez, nº 84, 2005). Um estudo 
cuidadoso da ditadura é o de Ianni (1981); uma visão panorâmica do processo ditatorial 
encontra-se em Moreira Alves (1987); uma análise histórico-sistemática está resumida em 
Netto (1998: 15-112). 
 
 
 A resistência à ditadura, conduzida no plano legal por uma frente de oposição 
hegemonizada por segmentos burgueses descontentes, ganhou profundidade e qualidade 
novas quando, na segunda metade dos anos setenta, a classe trabalhadora se reinseriu 
na cena política, por meio da mobilização dos operários metalomecânicos do cinturão 
industrial de São Paulo (o “ABC paulista”). A partir de então, a ditadura – que promovera 
a modernização conservadora do país contra os interesses da massa da população, 
 
13 
 
valendo-se, inclusive, do terrorismo de Estado – foi levada, de derrota em derrota, à 
negociação com a qual, culminando na eleição indireta de Tancredo Neves (1985), 
concluiu seu ciclo desastroso. 
 
 
A primeira metade dos anos oitenta assistiu à irrupção, na superfície da vida social brasileira, de 
demandas democráticas e populares reprimidos por largo tempo. 
* A mobilização dos trabalhadores urbanos, com o renascimento combativo da sua 
organização sindical; 
* A tomada de consciência dos trabalhadores rurais e a revitalização das suas entidades 
representativas; 
* O ingresso, também na cena política, de movimentos de cunho popular (por exemplo, 
associações de moradores) e democrático (estudantes, mulheres, “minorias” etc.); 
* A dinâmica da vida cultural, com a reativação do protagonismo de setores intelectuais; 
* A reafirmação de uma opção democrática por segmentos da Igreja católica; 
* A consolidação do papel progressista desempenhado por instituições como a Ordem 
dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI); 
 
 
 
 Tudo isso pôs na agenda da sociedade brasileira a exigência de profundas 
transformações políticas e sociais. 
 É neste contexto que o histórico conservadorismo do Serviço Social brasileiro, 
tantas vezes reciclado e metamorfoseado, confrontou-se pela primeira vez com uma 
conjuntura em que a sua dominância no corpo profissional (que, sofrendo as incidências 
do “modelo econômico” da ditadura, começa a reconhecer-se como inserido no conjunto 
das camadas trabalhadoras) podia ser contestada – uma vez que, no corpo profissional, 
repercutiam as exigências políticas e sociais postas na ordem do dia pela ruptura do regime 
ditatorial. 
 A luta pela democracia na sociedade brasileira, encontrando eco no corpo 
profissional, criou o quadro necessário para romper com o quase monopólio do 
conservadorismo no Serviço Social: no processo da derrota da ditadura se inscreveu 
PRIMEIRA CONDIÇÃO – a condição política – para a constituição de um novo projeto 
profissional. 
 Como todo universo heterogêneo, o corpo profissional não se comportou de modo 
idêntico. Mas as suas vanguardas, na efervescência democrática, mobilizaram-se 
 
14ativamente na contestação política – desde o III Congresso Brasileiro de Assistentes 
Sociais (1979, conhecido como “o Congresso da virada”), os segmentos mais 
dinâmicos do corpo profissional vincularam-se ao movimento dos trabalhadores e, 
rompendo com a dominância do conservadorismo, conseguiram instaurar na profissão o 
pluralismo político, que acabou por redimensionar amplamente não só a organização 
profissional (dando vida nova, por exemplo, a entidades como a ABESS – depois 
renomeada ABEPSS – e, posteriormente, ao CFESS) como, sobretudo, conseguiram 
inseri-la, de modo inédito, no marco do movimento dos trabalhadores brasileiros, como 
ficou constatado na análise de Abramides e Cabral (1995). 
 A luta contra a ditadura e a conquista da democracia política possibilitou o 
rebatimento, no interior do corpo profissional, da disputa entre projetos societários 
diferentes, que se confrontavam no movimento das classes sociais. As aspirações 
democráticas e populares, irradiadas a partir dos interesses dos trabalhadores, foram 
incorporadas e até intensificadas pelas vanguardas do Serviço Social. Pela primeira vez, 
no interior do corpo profissional, repercutiam projetos societários distintos daqueles 
que respondiam aos interesses das classes e setores dominantes. É desnecessário dizer 
que esta repercussão não foi idílica: envolveu fortes polêmicas e diferenciações no corpo 
profissional – o que, por outra parte, é uma saudável implicação da luta de ideias. 
 Tal repercussão foi favorecida, ademais, pelas modificações ocorridas no próprio 
corpo profissional (seu aumento quantitativo, a presença crescente de membros 
provenientes das novas camadas médias urbanas etc.). No entanto, para a constituição de 
um novo projeto profissional, a condição política, primeira e necessária, não é suficiente – 
outros componentes deveriam comparecer para que ele tomasse forma. 
Outros Componentes do Novo Projeto 
 Ainda nos anos setenta, quando, como resultado da Reforma Universitária 
imposta pela ditadura, o Serviço Social legitimou-se no âmbito acadêmico, surgiram os 
cursos de pós-graduação (primeiro os mestrados e depois, nos anos oitenta, os 
doutorados; também foram fomentadas as especializações). 
 É nos espaços da pós-graduação, cujos primeiros frutos se recolhem no trânsito 
dos anos setenta aos oitenta, que, no Brasil, se inicia e, nos anos seguintes, se consolida 
a produção de conhecimentos a partir da área de Serviço Social – então, o corpo 
profissional começou a operar a sua acumulação teórica. Um balanço desta produção 
mostra que, apesar de muito desigual, ela engendrou uma massa crítica considerável, 
que permitiu à profissão estabelecer uma interlocução fecunda com as ciências sociais 
 
15 
 
e, sobretudo, revelar quadros intelectuais respeitados no conjunto do corpo profissional e, 
também, em outras áreas do saber. 
 Observe-se que a expressão massa crítica refere-se ao conjunto de 
conhecimentos produzidos e acumulados por uma determinada ciência, disciplina 
ou área do saber. O Serviço Social é uma profissão – uma especialização do trabalho 
coletivo, no marco da divisão sócio técnica do trabalho -, com estatuto jurídico 
reconhecido (Lei 8.669, de 17 de junho de 1993); enquanto profissão, não é uma ciência 
nem dispõe de teoria própria; mas o fato de ser uma profissão não impede que seus 
agentes realizem estudos, investigações, pesquisas etc. e que produzam conhecimentos 
de natureza teórica, incorporáveis pelas ciências sociais e humanas. 
 Assim, enquanto profissão, o Serviço Social pode se constituir, e se constituiu 
nos últimos anos, como uma área de produção de conhecimentos, apoiada inclusive por 
agências públicas de fomento à pesquisa (como, por exemplo, o Conselho Nacional de 
Desenvolvimento Científico e Tecnológico/CNPq). 
 Na acumulação teórica operada pelo Serviço Social é notável o fato de, naquilo que 
ela teve e tem de maior relevância, incorporar matrizes teóricas e metodológicas 
compatíveis com a ruptura com o conservadorismo profissional – nela se 
empregaram abertamente vertentes críticas, destacadamente as inspiradas na tradição 
marxista. Isto significa que, também no plano da produção de conhecimentos, instaurou-
se um pluralismo que permitiu a incidência, nos referenciais cognitivos dos assistentes 
sociais, de concepções teóricas e metodológicas sintonizadas com os projetos 
societários das massas trabalhadoras (ou seja: de concepções teóricas e metodológicas 
capazes de propiciar a crítica radical das relações econômicas e sociais vigentes). À 
quebra do quase monopólio do conservadorismo político na profissão seguiu-se a 
quebra do quase monopólio do seu conservadorismo teórico e metodológico. 
 Concomitantemente – e este componente atravessará os anos oitenta e 
permanecerá na agenda profissional ao largo da década seguinte -, ganhou peso o 
debate sobre a formação profissional: a reforma curricular de 1982 foi precedida e 
sucedida por amplas e produtivas discussões, fortemente estimuladas pela antiga ABESS. 
Recorde-se que a Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social (ABESS), e seu 
organismo acadêmico, o Centro de Documentação e Pesquisa em Políticas Sociais e 
Serviço Social/CEDEPSS, criado em 1987, tiveram seu formato institucional 
redimensionado em 1998, surgindo então a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa 
em Serviço Social (ABEPSS). 
 
16 
 
 Todos os esforços foram dirigidos no sentido de adequar à formação profissional, 
em nível de graduação, às novas condições postas seja pelo enfrentamento, num marco 
democrático, da “questão social” exponenciada pela ditadura, seja pelas exigências 
intelectuais que a massa crítica em crescimento poderia atender. 
 Em poucas palavras, entrou na agenda do Serviço Social a questão de 
redimensionar o ensino com vistas à formação de um profissional capaz de responder, 
com eficácia e competência, às demandas tradicionais e às demandas emergentes na 
sociedade brasileira – em suma, a construção de um novo perfil profissional. O exame 
da rica documentação produzida no período (por exemplo, Carvalho et alii, 1984 e 
Carvalho, in ABESS, 1993) mostra a pertinência do debate então em curso para os dias 
atuais. Por outra parte, a verdade histórica exige que se assinale o papel de vanguarda 
que, à época, foi desempenhado pela Faculdade de Serviço Social da Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo, formulando uma pioneira e exitosa proposta de 
revisão curricular, que constituiu uma referência nacional (Yazbek, org., 1984). 
 É neste processo que foram ressignificadas modalidades prático-interventivas 
tradicionais e emergindo novas áreas e campos de intervenção, com o que se veio 
configurando, numa dinâmica que está em curso até hoje, um alargamento da prática 
profissional, crescentemente legitimado seja pela produção de conhecimentos que a 
partir dela se elaboram, seja pelo reconhecimento do exercício profissional por parte 
dos usuários. 
 Este movimento não se deve unicamente à requalificação da prática profissional 
(graças à acumulação de massa crítica e ao redimensionamento da formação), mas, 
também e sobretudo, à conquista de direitos cívicos e sociais que acompanhou a 
restauração democrática na sociedade brasileira – assim, por exemplo, práticas 
interventivas com determinadas categorias sociais (crianças, adolescentes, idosos etc.) só 
se puderam viabilizar institucionalmente porque receberam respaldo jurídico-
legal.(Recorde-se o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Política Nacional do Idoso). 
 
 
Em síntese, foram estes os principais componentes que, a partir da quebra do quase 
monopólio do conservadorismo na profissão, se conjugaram para propiciar a construção 
do projeto ético-político do Serviço Social no Brasil. Como se pode inferir desta 
argumentação, tais componentes foram se gestando ao longo dos anos oitenta e estão 
em processamento até hoje.17 
 
Ainda nos anos oitenta, as vanguardas profissionais procuraram consolidar estas 
conquistas com a formulação de um novo Código de Ética Profissional, instituído em 
1986. Os códigos anteriores foram os de 1947, de 1965 e de 1975. 
 Até então, o debate da ética no Serviço Social não era um tema privilegiado – é na 
sequência do Código de 1986, e após a sua revisão, concluída em 1993, que este tema 
ganhará relevo significativo, de que será mostra expressiva a pesquisa de Barroco 
(2001), precedida de uma discussão cuja documentação foi relativamente parca (Bonetti 
et alii, 1996 e Iamamoto, 1998: 140-148). 
 A reduzida acumulação no terreno da reflexão ética comprometeu o Código de 
1986. (Para elementos críticos acerca do Código de 1986, cf. as observações de Barroco 
e Vinagre Silva, in Bonetti et alii (1996: 118-122 e 137-144). 
 Seus indiscutíveis avanços, que o tornaram um marco na história do Serviço 
Social no Brasil, se concretizaram no domínio da dimensão política (recorde-se, uma 
vez mais, que o político extrapola amplamente o partidário), coroando o rompimento 
com o conservadorismo na explicitação frontal do compromisso profissional com a massa 
da população brasileira, a classe trabalhadora. Entretanto, outras dimensões – éticas e 
profissionais – não foram suficientemente aclaradas, o que obrigou, em pouco tempo, à 
sua revisão. 
 
 
Nesta revisão, que deu forma ao Código hoje vigente, as unilateralidades e limites de 1986 foram 
superados e, de fato, o novo Código INCORPOROU tanto a acumulação teórica realizada nos 
últimos vinte anos pelo corpo profissional quanto os novos elementos trazidos ao debate ético pela 
urgência da própria revisão. 
 Neste sentido, o Código de Ética Profissional de 1993 é um MOMENTO BASILAR do 
processo de construção do projeto ético-político do Serviço Social no Brasil. 
 O código foi instituído pela Resolução do CFESS nº 273/93, de 13 de março de 1993 e 
publicado no Diário Oficial da União nº 60, de 30 de março de 1993, seção 1, pp. 4004-4007. 
 
 
A Estrutura Básica do Novo Projeto Profissional 
 É no trânsito dos anos oitenta aos noventa do século XX que o projeto ético-
político do Serviço Social no Brasil se configurou em sua estrutura básica – e, qualificando-
a como básica, queremos assinalar o seu caráter aberto: mantendo seus eixos 
 
18 
 
fundamentais, ela é suficientemente flexível para, sem se descaracterizar, incorporar 
novas questões, assimilar problemáticas diversas, enfrentar novos desafios. 
 Em suma, trata-se de um projeto que também é um processo, em contínuo 
desdobramento. Um exemplo do seu caráter aberto, com a manutenção dos seus eixos 
fundamentais, pode ser encontrado nas discussões acerca da formação profissional, 
produzidas com as modificações advindas da vigência da Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação Nacional/LDBEN (Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996): as orientações 
propostas por representantes do corpo profissional (cf. ABESS, 1997 e 1998) ratificam a 
direção da formação nos termos do projeto ético-político. 
 
 
 Esquematicamente, este projeto tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade 
como valor central – a liberdade concebida historicamente, como possibilidade de 
escolha entre alternativas concretas; daí um compromisso com a autonomia, a 
emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais. Consequentemente, este projeto 
profissional se vincula a um projeto societário que propõe a construção de uma nova 
ordem social, sem exploração/dominação de classe, etnia e gênero. A partir destas 
opções que o fundamentam, tal projeto afirma a defesa intransigente dos direitos 
humanos e o repúdio do arbítrio e dos preconceitos, contemplando positivamente o 
pluralismo, tanto na sociedade como no exercício profissional. 
 
 
 
2016/CESPE/DPU. O debate a respeito do projeto ético-político no serviço social 
brasileiro, nos últimos anos 90, foi marcado pela recusa e crítica do 
conservadorismo profissional. Acerca do seu processo de construção e desafios, 
julgue o seguinte item. 
O projeto ético-político profissional vincula-se a um projeto societário que propõe a 
construção de uma nova ordem social, sem dominação e (ou) exploração de classe, 
etnia e gênero. 
Certo Errado 
 
Resposta Correta: Certo. 
 
19 
 
 
Comentário: Este projeto tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade como valor 
central – a liberdade concebida historicamente, como possibilidade de escolha entre 
alternativas concretas; daí um compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena 
expansão dos indivíduos sociais. Consequentemente, este projeto profissional se vincula 
a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social, sem 
exploração/dominação de classe, etnia e gênero. 
 
Dimensão Política 
 
 A dimensão política do projeto é claramente enunciada: ele se posiciona a favor 
da equidade e da justiça social, na perspectiva da universalização do acesso a bens e 
a serviços relativos às políticas e programas sociais; a ampliação e a consolidação da 
cidadania são explicitamente postas como garantia dos direitos civis, políticos e sociais 
das classes trabalhadoras. Correspondentemente, o projeto se declara radicalmente 
democrático – considerada a democratização como socialização da participação política 
e socialização da riqueza socialmente produzida. 
Do ponto de vista estritamente profissional, o projeto implica o compromisso com a 
competência, que só pode ter como base o aperfeiçoamento intelectual do assistente 
social. 
 Daí a ênfase numa formação acadêmica qualificada, fundada em concepções 
teórico-metodológicas críticas e sólidas, capazes de viabilizar uma análise concreta da 
realidade social – formação que deve abrir a via à preocupação com a (auto) formação 
permanente e estimular uma constante preocupação investigativa. 
 
Relação com os Usuários 
 Em especial, o projeto prioriza uma nova relação com os usuários dos serviços 
oferecidos pelos assistentes sociais: é seu componente elementar o compromisso com a 
qualidade dos serviços prestados à população, aí incluída a publicidade dos recursos 
institucionais, instrumento indispensável para a sua democratização e universalização e, 
sobretudo, para abrir as decisões institucionais à participação dos usuários. 
 Enfim, o projeto assinala claramente que o desempenho ético-político dos 
assistentes sociais só se potencializará se o corpo profissional se articular com os 
segmentos de outras categorias profissionais que compartilham de propostas similares 
 
20 
 
e, notadamente, com os movimentos que se solidarizam com a luta geral dos 
trabalhadores. 
 
 
A Conquista da Hegemonia 
 Pode-se afirmar que este projeto ético-político, fundamentado teórica e 
metodologicamente, conquistou hegemonia no Serviço Social, no Brasil, na década de 
noventa do século XX. 
 
 
Esta constatação, no entanto, não significa afirmar que tal projeto esteja consumado 
ou que seja o único existente no corpo profissional. Por uma parte, ainda não se 
desenvolveram suficientemente as suas possibilidades – por exemplo, no domínio dos 
indicativos para a orientação de modalidades de práticas profissionais; neste 
terreno, ainda há muito por fazer-se. 
 Por outra parte, a ruptura com o quase monopólio do conservadorismo no Serviço 
Social não suprimiu tendências conservadoras ou neoconservadoras – e, como se viu 
acima, a heterogeneidade própria dos corpos profissionais propicia, em condições de 
democracia política, a existência e a concorrência entre projetos diferentes. 
 
 
 Todavia, é inconteste que, na segunda metade dos anos noventa, este projeto 
conquistou a hegemonia no interior do corpo profissional. Contribuíram para esta 
conquista DOIS ELEMENTOS de ordem diversa, que a vontade político-organizativa das 
vanguardas profissionais soube articular numa definida DIREÇÃO SOCIAL 
ESTRATÉGICA. 
* O primeiro foi o crescenteenvolvimento de segmentos cada vez maiores do 
corpo profissional nos fóruns, nos espaços de discussão e nos eventos 
profissionais – bem como a multiplicação e descentralização desses fóruns, espaços 
e eventos. Tal envolvimento se registrou nos vários Congressos Brasileiros de 
Assistentes Sociais e em seus encontros regionais preparatórios, nas convenções 
nacionais e nas “oficinas regionais” da ABESS, nos encontros de pesquisadores 
 
21 
 
promovidos pelo CEDEPSS, nos encontros regionais e nos seminários nacionais 
patrocinados pelo sistema CFESS/CRESS etc. 
* O segundo consistiu no fato de que as linhas fundamentais deste projeto estão 
sintonizadas com tendências significativas do movimento da sociedade 
brasileira (do movimento das classes sociais). Estas linhas não derivaram do desejo 
ou da vontade subjetiva de meia dúzia de assistentes sociais envolvidos na militância 
cívica e/ou política; elas expressaram, processadas numa perspectiva profissional e 
refratadas no interior da categoria demandas e aspirações da massa dos 
trabalhadores brasileiros. Numa palavra: este projeto profissional vinculou-se a um 
projeto societário que, antagônico ao das classes proprietárias e exploradoras, tem 
raízes efetivas na vida social. 
 Neste sentido, a construção deste projeto profissional acompanhou a curva 
ascendente do movimento democrático e popular que, progressista e positivamente, 
tencionou a sociedade brasileira entre a derrota da ditadura e a promulgação da 
Constituição de 1988 (à que Ulisses Guimarães chamou de Constituição Cidadã) – um 
movimento democrático e popular que, inclusive apresentando-se como alternativa 
nacional de governo nas eleições presidenciais de 1989, forçou uma rápida redefinição do 
projeto democrático das classes proprietárias. 
 
 
2016/CESPE/DPU. O debate a respeito do projeto ético-político no serviço social 
brasileiro, nos últimos anos 90, foi marcado pela recusa e crítica do 
conservadorismo profissional. Acerca do seu processo de construção e desafios, 
julgue o seguinte item. 
Os fóruns de deliberação, assim como as entidades da profissão, constituem 
instâncias político-organizativas da profissão, por meio das quais os traços gerais 
do projeto profissional são reafirmados. 
Certo / Errado 
 
Resposta Correta: Certo 
Comentário: É por meio dos fóruns consultivos e deliberativos, destas entidades que são 
consagrados coletivamente os traços gerais do projeto profissional, onde são reafirmados 
(ou não) compromissos e princípios. 
 
 
22 
 
A Hegemonia Ameaçada 
 Enquanto o movimento democrático e popular brasileiro avançava – e, 
vinculado a ele, o Serviço Social construía o seu projeto ético-político -, 
transformações substantivas marcavam a passagem do sistema capitalista a um novo 
estágio e, concomitantemente, uma crise social planetária irrompia no trânsito dos 
anos oitenta aos noventa. 
 Na sociedade brasileira, as incidências dessa crise operam fortemente nos 
anos noventa. Especialmente a partir de 1995, quando os representantes do grande 
capital passaram a ocupar mais diretamente as instâncias de decisão política, as práticas 
político-econômicas inspiradas no NEOLIBERALISMO e a sua cultura viram-se 
amplamente disseminadas no conjunto da sociedade. No curso daquela década, a 
grande burguesia brasileira (que cresceu à sombra da proteção estatal da ditadura) reciclou 
rapidamente seu projeto societário, tornando-se, então, defensora do neoliberalismo. 
 
 
PROJETO ÉTICO-POLÍTICO X OFENSIVA NEOLIBERAL 
 É desnecessária qualquer argumentação detalhada para verificar o antagonismo 
entre o projeto ético-político que ganhou hegemonia no Serviço Social e a ofensiva 
neoliberal que, também no Brasil, em nome da racionalização, da modernidade, dos 
valores do Primeiro Mundo etc., vem promovendo (ao arrepio da Constituição de 1988) 
a liquidação de direitos sociais (denunciados como “privilégios”), a privatização do 
Estado, o sucateamento dos serviços públicos e a implementação sistemática de 
uma política macroeconômica que penaliza a massa da população. 
 
 
Assim, a cruzada antidemocrática do grande capital, expressa na cultura do 
neoliberalismo – cruzada entre nós capitaneada por setores político partidários 
autointitulados social democratas e, mais recentemente, por setores que outrora se 
reivindicaram de esquerda -, é uma ameaça real à implementação do projeto profissional 
do Serviço Social. Do ponto de vista neoliberal, defender e implementar este projeto 
ético-político é sinal de “atraso”, de “andar na contramão da história”. 
 
23 
 
 É evidente que a preservação e o aprofundamento deste projeto, nas condições 
atuais, que parecem e são tão adversas, dependem da vontade majoritária do corpo 
profissional – porém não só dela: também dependem vitalmente do fortalecimento do 
movimento democrático e popular, tão pressionado e constrangido nos últimos anos. 
 Mas, na medida em que, no Brasil, tornam-se visíveis e sensíveis os resultados do 
projeto societário inspirado no neoliberalismo – privatização do Estado, 
desnacionalização da economia, desemprego, desproteção social, concentração 
exponenciada da riqueza etc. -, nesta mesma medida fica claro que o projeto ético-
político do Serviço Social tem futuro. E tem futuro porque aponta precisamente ao 
combate (ético, teórico, ideológico, político e prático social) ao neoliberalismo, de modo a 
preservar e atualizar os valores que, enquanto projeto profissional, o informam e o torna 
solidário ao projeto de sociedade que interessa à massa da população. 
 
2013/CEPERJ/SEPLAG-RJ. De acordo com Netto (2006), o denominado projeto ético- 
político do Serviço Social conquistou hegemonia no âmbito da categoria na década 
de 90 do século XX. Contudo, o autor sinaliza que tal hegemonia vem sendo colocada 
em xeque a partir da influência: 
 
a) do Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América latina 
b) da proliferação dos cursos de Serviço Social à distância 
c) da mercantilização das refrações da questão social 
d) da precarização das condições de trabalho do assistente social 
e) das práticas econômico-políticas inspiradas no neoliberalismo 
 
Resposta Correta: Letra e) das práticas econômico-políticas inspiradas no 
neoliberalismo. 
Comentário: É desnecessária qualquer argumentação detalhada para verificar o 
antagonismo entre o projeto ético-político que ganhou hegemonia no Serviço Social e a 
ofensiva neoliberal que, também no Brasil, em nome da racionalização, da modernidade, 
dos valores do Primeiro Mundo etc., vem promovendo (ao arrepio da Constituição de 1988) 
a liquidação de direitos sociais (denunciados como “privilégios”), a privatização do Estado, 
o sucateamento dos serviços públicos e a implementação sistemática de uma política 
macro econômica que penaliza a massa da população. 
 
 
24 
 
 
Ética Profissional, como se dá essa reflexão? 
 Para Barroco, a reflexão ética supõe a suspensão da cotidianidade; não tem por 
objetivo responder às suas necessidades imediatas, mas sistematizar a crítica da vida 
cotidiana. (BARROCO, p. 55, 2008). 
 A autora afirma que a ética não pode ser compreendida apenas como teoria, pois 
além da reflexão e sistematização filosófica, ela é concebida, antes de tudo, como 
práxis, que permite ampliação da consciência moral e da consciência individual. 
Contudo, o agir ético não significa apenas o ato de refletir criticamente a vida cotidiana na 
reprodução dos valores e do comportamento moral, mas significa a capacidade do 
profissional em impulsionar mudanças na sociedade, reconhecendo e reproduzindo 
princípios e práticas democráticas, na defesa intransigente dos direitos humanos, o que 
implica desenvolver uma prática profissional que reconheça a autonomia, emancipação e 
plena expansão dos indivíduos sociais. (IAMAMOTO, 2003, p.141). 
 A ética concede às profissões, sobretudo ao Serviço Social, um caminhoorientador para a intervenção profissional, sob determinada ótica e em consonância 
com determinados valores. Aponta uma direção social e política, visto que não há valores 
éticos de neutralidade, não comporta omissões, tem um posicionamento de valor, uma 
direção social bem definida em prol da liberdade do ser social e da equidade social. 
Portanto, cabe ao profissional ter posicionamento político frente às questões que 
aparecem na realidade social, para que possa ter clareza de qual é a direção social da sua 
prática, o que implica em assumir valores ético-morais que sustentam o seu fazer 
profissional. 
 
ÉTICA PROFISSIONAL 
 
* Caminho orientador para a intervenção profissional 
* Direção social e política 
* Posicionamento de valor 
* Direção social em prol da liberdade do ser social e da equidade social 
* Posicionamento político 
* Valores éticos morais que sustentam o fazer profissional 
* Padrão de conduta da categoria profissional 
 
 
25 
 
 
A orientação dessa ética profissional possibilitou ao Serviço Social a elaboração oficial 
de um código de ética, a qual ganhou respaldo jurídico e institucional, que serviu para 
regulamentar a profissão no seu aspecto normativo e jurídico. Ao estabelecer padrões 
esperados quanto às práticas referendadas pela respectiva categoria profissional e pela 
sociedade, o Código de Ética Profissional procura fomentar a autorreflexão exigida de 
cada indivíduo acerca da sua práxis, de modo a responsabilizá-lo, pessoal e 
coletivamente, por ações e suas consequências no exercício profissional. A missão 
primordial de um código de ética profissional não é de normatizar a natureza técnica 
do trabalho, e, sim, a de ASSEGURAR, dentro de valores relevantes para a sociedade 
e para as práticas desenvolvidas, um PADRÃO DE CONDUTA que fortaleça o 
reconhecimento social daquela categoria. 
 Podemos falar da ética profissional como espaço de reflexão teórica sobre os 
fundamentos da moralidade e como resposta consciente de uma categoria profissional 
às implicações ético-políticas de sua intervenção. Logo, a ética profissional não se 
restringe a normatizações morais, às determinações de direitos e deveres, mas abarca 
escolhas teóricas, ideológicas e políticas de uma categoria profissional. 
 Barroco, 2008, nos ajuda a elucidar o equívoco de considerar a ética, a partir do 
código de ética, somente dentro de uma visão legalista, como um conjunto de obrigações 
formais, mas como princípios expressos por uma categoria marcada pelo desenvolvimento 
das relações capitalistas que apresentam uma trajetória de lutas e mudanças num cenário 
de contradições e conflitos em que se gesta a profissão. 
 
 
 Para o Serviço Social o Código de Ética Profissional de 1993 enfatiza o 
compromisso ético-político da categoria, que se norteiam por princípios básicos, 
tais como: 
* Defesa dos diretos humanos; 
* Recusa ao autoritarismo e ao preconceito; 
* Reconhecimento do pluralismo; 
* Compromisso e competência de suas atuações, continuamente aprimoradas; 
* Melhoramento e defesa da qualidade dos serviços prestados. 
 
 
26 
 
 
 Neste sentido, é histórico o compromisso ético-político do Serviço Social com o 
fortalecimento da classe trabalhadora e o seu posicionamento enquanto categoria 
profissional que busca através da sua práxis analisar a realidade social no intuito de 
construir respostas coletivas que se concretizam cotidianamente como novas 
possibilidades no exercício da cidadania. 
 
 
 
2014/MPE-RS/MPE-RS. Assinale a alternativa que apresenta uma afirmação correta 
sobre a ética profissional do Assistente Social. 
 
 a) A reflexão ética possibilita a crítica da vida cotidiana. 
 b) A teorização ética fundamenta-se na experiência profissional do Assistente Social. 
 c) A legitimidade social da profissão ocorre, fundamentalmente, pelo seu código de ética. 
 d) A consciência ética não significa pertencimento a um projeto profissional. 
e) As escolhas éticas têm como referência somente a formação profissional. 
 
 
Resposta Correta: Letra a) A reflexão ética possibilita a crítica da vida cotidiana. 
 
Comentário: Para Barroco, a reflexão ética supõe a suspensão da cotidianidade; não tem 
por objetivo responder às suas necessidades imediatas, mas sistematizar a crítica da vida 
cotidiana. (BARROCO, p. 55, 2008). A autora afirma que a ética não pode ser 
compreendida apenas como teoria, pois além da reflexão e sistematização filosófica, ela é 
concebida, antes de tudo, como práxis, que permite ampliação da consciência moral e da 
consciência individual. 
 
 
 
COMPONENTES DO PROJETO POLÍTICO PROFISSIONAL: 
* Recusa e crítica do conservadorismo - o Movimento de Reconceituação – Anos 60 
* Anos 60 aos anos 80 – o projeto profissional se coloca em nível diferente 
* Primeira metade dos anos 80 – demanda democráticas populares 
* Envolvimento com os movimentos sociais 
 
27 
 
* Marco – Congresso da Virada – 1979 
* Reforma Universitária 
* Legitimação do Serviço Social – âmbito acadêmico 
* Anos 70 aos anos 80 – consolidação da produção de conhecimento 
* Interlocução com as Ciências Sociais 
* Incorporação de matrizes Teóricas e metodológicas compatíveis com a ruptura do 
conservadorismo 
* À quebra do quase monopólio do conservadorismo político na profissão seguiu-se a 
quebra do quase monopólio do seu conservadorismo teórico e metodológico. 
* A reforma curricular de 1982 
* Á conquista de direitos cívicos e sociais - respaldo jurídico-legal - Estatuto da Criança 
e do Adolescente e a Política Nacional do Idoso. 
* Código de Ética Profissional de 1993 é um momento basilar do processo de construção 
do projeto ético-político do Serviço Social no Brasil. 
 
 
 
 
2015/CESPE/STJ. Acerca do projeto ético-político do serviço social, julgue o item 
subsecutivo. No Brasil, a construção do projeto profissional do serviço social 
fundamenta-se nas ideais da reconceituação e da redemocratização da sociedade. 
Certo / Errado 
 
Resposta Correta: Certo 
Comentário: A construção do Projeto ético Político que é uma proposta ideológica 
construída diariamente, é constituído de três documentos: Diretrizes Curriculares, Código 
de Ética de 1986 e Lei 8.662/92, só foram possíveis a partir da reconceituação, pois teve 
sua gênese na segunda metade da década de 1970. Atrelado com a teoria social de Marx 
possibilitou nova visão da categoria, para Netto: “A existência deste Serviço Social crítico 
que hoje implementa o chamado Projeto Ético Político é a prova conclusiva da permanente 
atualidade da Reconceituação como ponto de partida crítica ao tradicionalismo; é a prova 
de que, 40 anos depois a Reconceituação continua viva”. 
 
 
 
 
 
28 
 
 
2. AS IMPLICAÇÕES ÉTICO-POLÍTICAS DO AGIR PROFISSIONAL 
 
 
 Historicamente o Serviço Social é reconhecido como categoria profissional que 
tem sua ação profissional voltada para os interesses da classe trabalhadora. Este 
compromisso é reafirmado através do projeto ético-político da profissão e no reflexo 
da sua atuação cotidiana junto aos usuários do serviço. 
 É uma classe trabalhadora reconhecida pela sua formação generalista e 
capacidade de analisar a realidade social a partir da conjuntura social, econômica, política 
e cultural do país. É o profissional que atua no enfrentamento das expressões da 
questão social, estabelecendo junto ao seu usuário uma relação que afiança a autonomia 
e sua emancipação. Neste sentido, podemos afirmar que para o Serviço Social, a ética 
profissional está imbricada na sua práxis, o que pressupõe uma ação consciente, 
reflexiva e propositiva, direcionada a garantia de direitos. 
 No contexto previdenciário, o Serviço Social celebra um marco histórico para a 
profissão com a expansão do serviço na política previdenciária e as possibilidades que 
se vislumbram para a atuação profissional. 
 Todavia, a materialização da práxis do Serviço Social na PrevidênciaSocial 
perpassa pelo compromisso ético-político dos profissionais e sua capacidade teórico 
metodológico e técnico-operativo na construção de respostas que viabilizem o 
fortalecimento da categoria profissional e se concretizem no acesso e garantia dos 
direitos assistenciais e previdenciários. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
 
3. DESAFIOS E POSSIBILIDADES PARA A 
MATERIALIZAÇÃO DA PRÁXIS DO SERVIÇO SOCIAL NO 
COTIDIANO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL 
 
 
 Numa breve contextualização, os avanços e retrocessos da Previdência Social são 
marcados pela conjuntura sócio histórica, econômica, política e cultural da sociedade 
brasileira. A reforma previdenciária decorre de respostas ofensivas do capital à sua crise 
estrutural, atingindo prioritariamente o trabalhador, configurando a política previdenciária 
como seguro, de caráter contributivo, com restrição da cobertura dos benefícios e espaço 
para a atuação do setor privado. 
 As mudanças repercutem diretamente no Serviço Social, quando através do 
Decreto 3.048 de 1999, o Serviço Social deixa de ser considerado um serviço prestado 
pela Previdência Social aos seus usuários, passando a ser apenas uma atividade de apoio 
ao Seguro Social e os instrumentais técnicos deixam de ser regulamentados, como a 
emissão do Parecer Social em processos de benefícios e a concessão do recurso material 
aos segurados. O desprestígio da categoria profissional é marcado com a extinção do 
Serviço Social da estrutura organizacional e do espaço físico próprio com a dispersão dos 
profissionais nas diversas unidades do instituto. Mais, tarde, após intensa mobilização 
da categoria profissional, o Serviço Social é restituído como serviço previdenciário, 
reinserido na estrutura organizacional regional e depois nacional, exigindo dos 
profissionais, estratégias para a reestruturação do serviço. 
 Na atualidade, o artigo 88 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, define: 
 
 
 
 Art. 88. Compete ao Serviço Social esclarecer junto aos beneficiários seus direitos 
sociais e os meios de exercê-los e estabelecer conjuntamente com eles o processo de 
solução dos problemas que emergirem da sua relação com a Previdência Social, tanto no 
âmbito interno da instituição como na dinâmica da sociedade. 
§ 1º Será dada prioridade aos segurados em benefício por incapacidade temporária e 
atenção especial aos aposentados e pensionistas. 
§ 2º Para assegurar o efetivo atendimento dos usuários serão utilizadas intervenção 
técnica, assistência de natureza jurídica, ajuda material, recursos sociais, intercâmbio com 
 
30 
 
empresas e pesquisa social, inclusive mediante celebração de convênios, acordos ou 
contratos. 
§ 3º O Serviço Social terá como diretriz a participação do beneficiário na implementação e 
no fortalecimento da política previdenciária, em articulação com as associações e 
entidades de classe. 
§ 4º O Serviço Social, considerando a universalização da Previdência Social, prestará 
assessoramento técnico aos Estados e Municípios na elaboração e implantação de suas 
propostas de trabalho. 
 
A Instrução Normativa nº 20 em seu artigo 411 determina que: 
 
 
 As ações profissionais do Serviço Social do INSS FUNDAMENTAM-SE no art. 88 
da Lei nº 8.213, de 1991, no art. 161 do RPS, aprovado pelo Decreto nº 3.048, de 1999 e 
na Matriz Teórico-Metodológica do Serviço Social da Previdência Social publicada 
em 1994 e OBJETIVAM esclarecer ao usuário os seus direitos sociais e os meios de 
exercê-los, estabelecendo, de forma conjunta, o processo de superação das questões 
previdenciárias, tanto no âmbito interno quanto no da dinâmica da sociedade. 
Parágrafo único. Os ocupantes do cargo efetivo de Assistente Social, além das unidades 
de exercício previstas na Portaria nº 2.721, de 2000, desempenharão atividades de apoio 
nos Comitês Regionais do Programa de Educação Previdenciária conforme Portaria 
Ministerial. 
 
Nesse mesmo sentido percorrem o Regulamento da Previdência Social (RPS) 
em seu artigo 161, aprovado pelo Decreto 3.048 de 1999 e citado na IN 20, e a 
Orientação Interna nº 103, de 2004, que considera ATRIBUIÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL 
viabilizar o acesso dos usuários aos direitos, aos benefícios e aos serviços prestados pela 
previdência. 
 Ainda, o Decreto 6.214/2007, que regulamenta o BPC/LOAS, coloca como 
ATRIBUIÇÃO PRIVATIVA do Serviço Social realizar a avaliação social para concessão 
do citado benefício. 
 
31 
 
§ 3º As avaliações de que trata o §1º deste artigo serão realizadas, respectivamente, pela 
perícia médica e pelo Serviço Social do INSS, por meio de instrumentos desenvolvidos 
especificamente para este fim. (Redação dada pelo Decreto n. 6.564, de 2008). 
 Diante desse cenário, o Serviço Social repensa a sua atuação e delineia sua 
intervenção através de um novo plano que se baliza no conhecimento do real em suas 
múltiplas determinações, tendo como AÇÃO PRIORITÁRIA assegurar os direitos, quer 
pelo acesso aos benefícios e serviços previdenciários, quer na contribuição para a 
formação de uma consciência de proteção social ao trabalho, como 
responsabilidade do Estado. 
 Nesse contexto, a atual década passa a ser momento ímpar para o Serviço 
Social Previdenciário. Numa conjuntura social favorável à luta dos assistentes sociais 
para ampliação do espaço na previdência social, manifestada pelo apoio do conjunto 
CFESS/CRESS, de setores do governo e de sindicatos, através de reuniões, articulação, 
encontros e participação dos profissionais do Serviço Social, foi realizado concurso público 
com a nomeação de quase novecentos assistentes sociais, em junho de 2009. 
 Com a recuperação do espaço de trabalho do Serviço Social na previdência 
social, são notórias as possibilidades no cotidiano dos profissionais, expressos no discurso 
de gestores, servidores e no próprio depoimento da população usuária. 
 O Serviço Social busca neste momento reconquistar seu espaço ocupacional no 
cenário previdenciário, com posicionamento profissional comprometido com a afirmação 
dos direitos sociais fundamentais à efetividade de um sistema de proteção social. 
 Com este objetivo, foram priorizados para a atuação do Serviço Social projetos de 
intervenção que contemplam todas as atribuições do assistente social referidas na 
legislação vigente e que culminam com o plano de ação institucional, a saber: Projeto de 
Atenção à Saúde do Trabalhador, do Benefício Assistencial - BPC/LOAS, de 
Atendimento Geral ao Usuário e Trabalhador Rural. 
 Assim a categoria reafirma seu compromisso institucional e sobre tudo com o 
trabalhador brasileiro na consecução de uma política de Seguridade Social inclusiva e 
emancipatória, capaz de promover efetivamente a proteção social. 
 Dos projetos de intervenção destacamos: 
 Projeto Saúde do Trabalhador e do Benefício Assistencial BPC/LOAS, por 
exigirem do profissional, na prática cotidiana, capacidade de aproximação e de 
análise crítica da realidade social do trabalhador brasileiro alijado de direitos 
 
32 
 
trabalhistas e previdenciários, inserido no quadro mais amplo de 
desregulamentação do mercado de trabalho. 
 Desse modo, para a atuação profissional cotidiana na orientação e socialização das 
informações previdenciárias, é requisitado um profissional informado, crítico e propositivo 
que aposte no protagonismo dos sujeitos sociais. O exercício profissional cotidiano 
requisita do assistente social uma intimidade com o Código de Ética Profissional de 1993. 
Neste sentido, podemos afirmar que para o Serviço Social, a ética profissional está 
imbricada na sua práxis, o que pressupõe uma ação consciente, reflexiva e propositiva, 
direcionada a garantia de direitos. 
 Destacamos o artigo 5º do Código de Ética Profissional que trata da relação 
profissional com o usuário e que baliza o instigante exercício do repensar a ação 
profissional: 
 
 
Art. 5º - São deveres do assistente social nas suas relaçõescom os usuários: 
a) contribuir para a viabilização da participação efetiva da população usuária nas decisões 
institucionais; 
b) garantir a plena informação e discussão sobre as possibilidades e consequências das 
situações apresentadas, respeitando democraticamente as decisões dos usuários, mesmo 
que sejam contrários aos valores e às crenças individuais dos profissionais, resguardados 
os princípios deste Código; 
c) democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis no espaço 
institucional, como um dos mecanismos indispensáveis à participação dos usuários; 
d) devolver as informações colhidas nos estudos e pesquisas aos usuários, no sentido de 
que estes possam usá-los para o fortalecimento dos seus interesses; 
e) informar à população usuária sobre a utilização de materiais de registro áudio visual e 
pesquisas a elas referentes e a forma de sistematização dos dados obtidos; 
f) fornecer à população usuária, quando solicitado, informações concernentes ao trabalho 
desenvolvido pelo Serviço Social e as suas conclusões, resguardado o sigilo profissional; 
g) contribuir para a criação de mecanismos que venham desburocratizar a relação com os 
usuários, no sentido de agilizar e melhorar os serviços prestados; 
h) esclarecer aos usuários, ao iniciar o trabalho, sobre os objetivos e a amplitude de sua 
atuação profissional. 
 
 
33 
 
 
Afirmamos que a atuação profissional se dá na perspectiva de efetivar o 
exercício da democracia e da cidadania, condição indissociável da ampliação 
progressiva da esfera pública. Contudo, o cotidiano cria armadilhas às quais o 
Assistente Social deve estar atento. O profissional trabalha com situações singulares, 
isto é, situações que, a princípio, podem parecer exclusivas daquele usuário e que, ao 
ampliar a lente profissional, visualiza este sujeito essencialmente social, parte de 
uma sociedade e de sua totalidade. O exercício da mediação entre a singularidade e 
a universalidade perpassa os atendimentos, seja na falta de acesso do trabalhador a 
política pública de saúde, na espera pela perícia médica, na exclusão do mercado de 
trabalho ou mesmo na falta de apropriação da legislação previdenciária e do modelo, fluxos 
e procedimentos de uma agência da Previdência Social. 
 Para superar as “armadilhas” do senso comum, que muitas vezes mascaram as 
reais causas e determinações dos fenômenos sociais, é preciso transitar entre a 
singularidade e a universalidade, o que possibilita apreender as particularidades de 
uma determinada situação, em que se refratam interesses sociais distintos. Este 
exercício pressupõe conhecimento teórico das relações sociais fundamentais de uma 
determinada sociedade, e como elas se organizam naquele determinado momento 
histórico. 
 Dessa forma, ao compreender que uma determinada situação ultrapassa a lógica 
privatista no trato do social, o profissional passa a atuar em favor dos interesses da 
coletividade, isto é, a individualidade alcança a cena pública e os interesses das maiorias 
adquirem visibilidade, tornando-se passíveis de serem considerados e negociados no 
âmbito das decisões políticas e institucionais. 
 Nesta perspectiva, o posicionamento profissional nas agências da 
Previdência Social é de afirmação e defesa de um modelo de Previdência de caráter 
público, universal e democrático, enquanto política de direitos de cidadania. 
 Ao analisar a trajetória do Serviço Social na Previdência Social reconhecemos 
uma luta histórica para garantir o campo previdenciário como espaço sócio ocupacional 
da categoria e, consequentemente, a prestação de serviços aos usuários. 
 Hoje, o esforço do Serviço Social previdenciário volta-se para garantir as 
condições técnicas e éticas de trabalho, zelando pela qualidade dos serviços 
prestados e pela abrangência do seu acesso, o que supõe a difusão de informações 
quanto aos direitos assistenciais e previdenciários e os meios de sua viabilização. 
 
34 
 
 Ultrapassar uma cultura institucional legalista, técnico-burocrática, é dever do 
assistente social que assume o compromisso ético profissional no papel de mediador na 
relação entre o cidadão e a previdência social, com a intenção de minimizar os problemas 
que emergem dessa relação. As diversas contradições postas no cotidiano profissional 
geram reflexões sobre a instrumentalidade do serviço social idealizado e o realizado, o que 
possibilita uma revisão permanente sobre a intencionalidade da práxis profissional. 
 
 
 Como afirma Iamamoto, 2003, a afirmação de um perfil profissional 
propositivo requer um profissional de novo tipo, comprometido com sua atualização 
permanente, capaz de sintonizar-se com o ritmo das mudanças que presidem o 
cenário social contemporâneo. Profissional que invista em sua formação intelectual 
e cultural e no acompanhamento histórico-conjuntural dos processos sociais para 
deles extrair potenciais propostas de trabalho, presentes como possibilidades, 
transformando-as em alternativas profissionais. 
 
As condições e relações sociais que circunscrevem o trabalho do assistente social 
atribuem à profissão uma dimensão ético-política por excelência, imbricamente 
relacionada à mediação dos diversos conflitos sociais e assim podemos afirmar que a 
materialização da práxis do Serviço Social no cotidiano da Previdência Social 
depende do compromisso ético político do assistente social e da sua capacidade em 
repensar coletivamente o exercício profissional. 
 Para Barroco, 2008, nos limites da nossa sociedade e nos limites ainda mais 
estreitos do trabalho profissional, há o que fazer, especialmente para não perder o rumo 
ético e a medida do político. Reconhece que o projeto ético político do Serviço Social 
dispõe, em seu Código de Ética, de valores éticos e princípios políticos capazes de dar 
referência a esse empreendimento na melhor direção e na medida mais favorável. 
 
 
 
 
 
35 
 
 
4. PROJETO PROFISSIONAL – RUMOS ÉTICOS-POLÍTICOS DO 
TRABALHO PROFISSIONAL NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
Os Rumos Ético-Políticos do Assistente Social no Contexto Neoliberal 
 O processo de elaboração do Projeto Ético-Político do Serviço Social se deu 
concomitante a profundas transformações na sociedade capitalista, num período de crise 
estrutural do capital em caráter global. Estudiosos como Carvalho (1992) denominam de 
crise da contemporaneidade ou, segundo Mészaros (2000), crise estrutural do capital. 
 
Entre as principais características dessa crise destacam-se: 
* A queda da taxa de lucros; 
* O esgotamento do padrão de acumulação fordista/taylorista; 
* Uma maior concentração de capitais, graças a fusões entre empresas, a Crise do 
Welfare State, ou Estado de Bem-Estar Social; 
* Um intenso processo de globalização, ou, para ser mais precisa, mundialização do 
capital. 
 
No mundo do trabalho esse quadro traz profundas transformações: 
* A revolução tecnológica desencadeada a partir da década de 1980, retratada através da 
robótica, microeletrônica, automação e biotecnologia, fez com que os modelos 
fordistas e tayloristas de produção dessem lugar a novos padrões, como por 
exemplo, o toyotismo. 
* Palavras como flexibilidade, acumulação flexível, precarização do emprego, terceirização, 
ciclo de controle de qualidade (CCQ) e Just-time, passaram a fazer parte do cotidiano 
dessa nova configuração de trabalho. 
 
 
Como estratégia de enfrentamento desse processo de crise, o capital construiu novas 
formas de dominação, que agudizam ainda mais as formas de exploração dos 
trabalhadores. 
Hoje se exige um trabalhador qualificado e identificado com os interesses da empresa. A 
estratégia utilizada foi desarticular os principais mecanismos de organização e 
representação da classe proletária: seus sindicatos e partidos. Cria-se a falsa ideia de que 
as reivindicações trabalhistas podem ser resolvidas em mesas de negociação. 
 
36 
 
 
 Comodiz Antunes (1996, p. 78): 
 
 A década de 80 caracterizou o momento mais agudo nessa história do mundo 
do trabalho, porque ela presenciou, de maneira simultânea, uma DUPLA CRISE: 
* Aquela que atingiu a materialidade, a objetividade da classe trabalhadora, acarretando 
metamorfoses agudas ao processo de trabalho, ao processo de produção do capital; 
* E uma outra crise no plano da subjetividade do trabalho, que não se desvincula desta 
primeira, mas tem caraterísticas particulares. 
 
 O fato de essas duas crises terem ocorrido de maneiras simultâneas, mais ou 
menos inter-relacionadas, fez com que o movimento operário vivenciasse na década 
de 80 a sua mais aguda crise, que alterou a forma de ser dessa classe trabalhadora e 
afetou imensamente os seus organismos de representação, dos quais a crise dos 
sindicatos, perceptível hoje em escala mundial, e a crise dos partidos, especialmente os 
partidos de esquerda, com vínculos nas classes trabalhadoras, são expressões fortes. 
 Uma outra estratégia está relacionada diretamente às POLÍTCAS NEOLIBERAIS 
dirigidas ao Estado. Com base nessa estratégia, nos países industrializados tem-se o 
declínio do Estado de Bem-Estar Social, com suas políticas sociais ampliadas, que 
pretendia propiciar condições de acumulação e legitimação política, o que resultou numa 
frágil implementação e execução de políticas sociais de atendimento à população, e o 
mercado ficou cada vez mais livre para negociar seus contratos, expandir-se além das 
fronteiras do país, vulnerabilizando a classe trabalhadora sobre maneira. No Brasil, e 
em diversos países da América Latina, esse modelo de Estado parece tomar forma como 
populismo e ter uma função de conciliador dos conflitos de classe que se expandiam pelo 
continente. 
 Nos anos de 1990 vai ganhando força o projeto neoliberal, que defende a lógica 
da não intervenção do Estado na economia, bem como, preconiza a minimização das 
ações dessa instância social. Seus propósitos avançam em dimensão mundial. 
 Yasbek (2001) esclarece que, no ideário neoliberal, as políticas sociais se 
ordenam e se subordinam às políticas de estabilização da economia, com suas restrições 
aos gastos públicos e sua perspectiva privatizadora. No caso brasileiro, em especial, tem-
se, desde esses anos um modelo de Estado que reduz sua intervenção no campo social e 
apela à solidariedade social, optando por programas focalistas e seletivos. 
 
37 
 
 
Projeto Neoliberal 
 
 Associado à acumulação flexível o neoliberalismo é o suporte político e 
ideológico desse novo modelo de produção. Os efeitos dessa junção são diversos, mas 
servem para consolidar tanto o projeto político neoliberal, como para consolidar o modelo 
de produção capitalista pautado na acumulação flexível. 
 Todo esse quadro de mudanças também se refletiu nas formas de manifestação 
da questão social, que se configura como a matéria-prima do trabalho profissional do 
Serviço Social. Seu agravamento é percebido quando analisamos o alastramento da 
miséria e das desigualdades sociais. Como consequência, também tiverem mudanças 
nas formas do enfrentamento dessa questão, tanto no âmbito da sociedade civil, como 
no Estado. A diminuição da esfera estatal na efetivação das políticas públicas tem gestado 
na sociedade manifestações de ajuda, que tentam suprir os efeitos perversos desse papel 
minimalista do governo. 
 Dentro dessa lógica, a política social se configura como estratégia de governo que 
com a falácia da primazia da responsabilidade do Estado, supõe articulação com o setor 
privado, podendo ser concebida como arena de confronto de interesses contraditórios em 
torno do acesso à riqueza social, na forma de parcela do excedente econômico apropriado 
pelo Estado. 
 Essa nova forma de atuação do Estado também vai se refletir no âmbito do campo 
de trabalho do assistente social. Vale ressaltar que, historicamente, o Estado se constitui 
como instância de maior empregabilidade desse profissional através das políticas 
sociais. Iamamoto e Carvalho (1995) esclarecem que existe um vínculo estrutural entre a 
constituição das políticas sociais e o surgimento dessa profissão na divisão social e técnica 
do trabalho. 
 A conexão entre política social e Serviço Social no Brasil surge com o 
incremento da intervenção estatal, pela via de processos de modernização conservadora 
no Brasil (BEHRING, 2003), a partir dos anos 1930. Essa expansão do papel do Estado, 
em sintonia com as tendências mundiais após a grande crise de 1929, mas mediada pela 
particularidade histórica brasileira, envolveu também a área social, tendo em vista o 
enfrentamento das latentes expressões da questão social, e foi acompanhada pela 
profissionalização do Serviço Social, como especialização do trabalho coletivo 
(BEHRING; BOSCHETTI, 2007, p.13). 
 
38 
 
 No contexto de crise contemporânea do capital, que se materializa por meio do 
projeto neoliberal, o Estado tende a flexibilizar direitos, indo de encontro a estes, em 
nome da racionalização e modernidade, privatizando o Estado, ou melhor, transferindo 
para a sociedade a responsabilidade de buscar soluções para as sequelas sociais. 
Delineia-se uma conjuntura de desemprego e precarização das relações de trabalho num 
cruel e ofensivo processo de mundialização do capital, caracterizado pela concentração de 
renda e desigualdade social. 
 Tal realidade, de mundialização da economia e consequente redimensionamento 
do papel do Estado, traz implicações negativas para o cotidiano do assistente social e o 
mercado de trabalho desse profissional. 
Isto, porque tais profissionais também sofrem 
[...] impactos nos seus direitos sociais, trabalhistas e previdenciários, especialmente pela 
crescente tendência de precarização dos seus contratos. Além de terem suas condições 
de trabalho precarizadas, pelo rebaixamento salarial, pelas condições físicas de trabalho 
etc., os profissionais tiveram sua demanda ampliada e complexificada, pois é o Estado que 
através das políticas sociais atende às necessidades da classe trabalhadora que com as 
condições de trabalho e vida precarizadas busca na intervenção estatal respostas às suas 
demandas. Nessa perspectiva as políticas sociais, lócus de atuação dos assistentes 
sociais, também sofrem com as precarizações do trabalho, ocorrendo uma ampliação de 
demanda pelo atendimento, ficando assim fragilizadas nas formas de acesso, gestão e 
investimentos especialmente no que se refere ao financiamento nas esferas Municipais e 
Estaduais (LEGRI, 2011, p. 34). 
 
 
Compreender o contexto de transformações no mundo do trabalho é fundamental 
à categoria profissional, para que possam redimensionar e redefinir a função 
social da profissão, buscando construir respostas às expressões da questão 
social, através de um exercício profissional crítico, o qual possibilita a instituição 
de uma intervenção pautada na garantia dos direitos e na ampliação da cidadania, 
articulando-se com os interesses da classe trabalhadora. 
 
 
 
 
39 
 
 
PONTOS COMENTADOS – QUESTÕES DE PROVAS, PARTE 1 
PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SEVIÇO SOCIAL 
 
• É muito recente – datando da segunda metade dos anos noventa do século XX – 
o debate sobre o que vem sendo denominado de projeto ético-político do Serviço 
Social. O caráter relativamente novo desta discussão revela-se claramente na escassa 
documentação sobre o tema. No entanto, o objeto deste debate – e, sobretudo, a 
própria construção deste projeto no marco do Serviço Social no Brasil – tem uma 
história que não é tão recente, iniciada na transição da década de 1970 à de 1980. 
Este período marca um momento importante no desenvolvimento do Serviço Social no 
Brasil, vincado especialmente pelo enfrentamento e pela denúncia do conservadorismo 
profissional. É neste processo de recusa e crítica do conservadorismo que se 
encontram as raízes de um projeto profissional novo, precisamente

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