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Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6627-8 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 2 7 8 Código Logístico I000021 SERVIÇO SOCIAL E OS DESAFIOS PROFISSIONAIS CONTEM PORÂNEOS LEONCIO SANTIAGO ELISANGELA HAHN DOS SANTOS Serviço Social e os desafios profissionais contemporâneos Elisangela Hahn dos Santos Leoncio Santiago IESDE BRASIL 2021 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2021 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Fishman64/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ S234s Santos, Elisangela Hahn dos Serviço social e os desafios profissionais contemporâneos / Elisange- la Hahn dos Santos, Leoncio Santiago. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2021. 126 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6627-8 1. Serviço social. 2. Assistentes sociais. I. Santiago, Leoncio. II. Título. 21-71035 CDD: 361.3 CDU: 364.4 Elisangela Hahn dos Santos Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Políticas Públicas na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Pós-graduanda em Gestão de Políticas, Projetos e Programas Sociais e bacharela em Serviço Social pela PUCPR. Atua como assistente social na área da Saúde e na área de Migração e Refúgio. Tem interesse nas áreas de Direitos Humanos, Decolonialidade, Estudos de Gênero, Educação Popular, Políticas Públicas e Serviço Social. Leoncio Santiago Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Pós-graduando em Questão Social e Direitos Humanos e bacharel em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Atua como assistente social na área dos Direitos humanos, Crianças, Adolescentes e Jovens. Tem interesse nas áreas de Desenvolvimento Humano, Direitos Humanos, Educação Popular, Participação Política e Controle Social, Serviço Social. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Formação profissional e mercado de trabalho 9 1.1 Do assistencialismo à defesa intransigente dos direitos humanos 10 1.2 Os espaços sócio-ocupacionais e as possibilidades de intervenção 18 1.3 Os espaços de organização e fortalecimento da categoria 27 2 O projeto ético-político do Serviço Social 37 2.1 A questão social como categoria de intervenção 38 2.2 Do conservadorismo profissional à intenção de ruptura 41 2.3 A perspectiva emancipatória do projeto ético-político 47 2.4 Materialização do projeto ético-político 51 3 Debates conjunturais do Serviço Social 56 3.1 O respeito ao pluralismo profissional 57 3.2 Atuação profissional: desafios e perspectivas 59 3.3 Questões conjunturais: pautas emergentes 71 4 Questões emergentes nos campos teórico e prático 79 4.1 Decolonialidade e Serviço Social 80 4.2 Gênero, raça, sexualidade, classe e Serviço Social 84 4.3 Questões emergentes no campo prático 89 5 O neoconservadorismo e o exercício profissional 102 5.1 O neoconservadorismo e os impactos na profissão 102 5.2 Neoconservadorismo e políticas públicas 107 5.3 A dimensão político-pedagógica e a disputa hegemônica 111 Gabarito 121 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Esta obra busca evidenciar desafios contemporâneos com os quais o Serviço Social se depara. Esses desafios perpassam a profissão em suas dimensões teórico-metodológica, ético- política e técnico-operativa. As estratégias para o enfrentamento desses desafios pressupõem debatê-los com criticidade no conjunto da categoria, tendo o projeto ético-político profissional como orientação da atuação profissional. Eis, então, a proposta desta obra: proporcionar um olhar crítico e propositivo sobre os desafios encontrados pela profissão, a fim de fortalecer os processos de superação destes. No âmbito da formação profissional e do mercado de trabalho, no primeiro capítulo discorremos sobre os fundamentos teóricos, históricos e metodológicos do Serviço Social em sua relação com as dimensões da intervenção profissional em diferentes campos de atuação, apresentando questões históricas e contemporâneas sobre a formação profissional e as possibilidades de inserção e intervenção profissional. No segundo capítulo o convite é para analisar criticamente a construção e o conteúdo do projeto ético-político do Serviço Social, ressaltando a categoria questão social como central para o projeto profissional, bem como a orientação emancipatória do projeto de ruptura com o conservadorismo, objetivando o debate sobre os desafios e as possibilidades para a materialização do projeto ético-político do Serviço Social. O terceiro capítulo aproxima o leitor dos debates realizados pela categoria profissional nos espaços de articulação e formação profissional. Apresentamos os temas que compõem a agenda política da profissão, debatendo questões conjunturais emergentes, isto é, temas que, com consenso ou não dentro da categoria, encontram-se com debate vigente devido à conjuntura política, econômica, social e cultural. No quarto capítulo mantemos a atualidade dos debates, investigando e problematizando questões emergentes no campo teórico e prático da profissão. No campo teórico, aprofundamos APRESENTAÇÃOVídeo 8 Serviço Social e os desafios profissionais contemporâneos novas perspectivas teóricas que contribuem para referenciar o exercício e o projeto profissional. No campo prático, apresentamos demandas emergentes nos campos sócio-ocupacionais da profissão. O quinto e último capítulo desta obra se baseia nos debates em torno do fenômeno cultural denominado neoconservadorismo, de suas manifestações na sociedade contemporânea e da forma como ele impacta a profissão e as políticas públicas. Além disso, discorremos sobre a dimensão político- -pedagógica como estratégia de materialização do projeto profissional e enfrentamento ao neoconservadorismo. Assim, esta obra propõe um debate atual, ciente de que nela não se esgotam todos os debates necessários sobre os temas apresentados, mas que apresenta e permite ao leitor uma perspectiva contemporânea sobre a profissão. Ao mesmo tempo, convida os leitores que com ela tenham contato em outras conjunturas a refletir sobre ela criticamente, considerando as modificações históricas que ocorreram desde sua escrita. Bons estudos! Formação profissional e mercado de trabalho 9 1 Formação profissional e mercado de trabalho O que faz, onde trabalha e quem é o assistente social? Essas perguntas possivelmente já foram feitas por quem pensa em cursar, está cursando ou já cursou Serviço Social. Veremos neste capítulo que, ao longo da história, a identidade profissional do assistente social foi construída e alterada mediante transforma- ções culturais, sociais, econômicas e conjunturais da socieda- de, as quais resultaram no Serviço Social tal como conhecemos hoje. A intervenção profissional foi distinta ao longo dos mais de 80 anos de Serviço Social no Brasil,não apenas em relação aos espaços sócio-ocupacionais em que a profissão se faz presente, mas também à formação profissional e às intervenções realiza- das nos diferentes campos de atuação. Dividido em três partes, este capítulo partirá de um olhar his- tórico sobre a identidade profissional, elucidando os contextos históricos da profissão e seus impactos sobre o processo de for- mação profissional e intencionalidade do exercício profissional nos mais diferentes campos de atuação. Compreenderemos en- tão a identidade profissional resultante da formação profissional vigente e suas intenções e possibilidades de intervenção. Apresentaremos ao longo do capítulo o caráter generalista da formação profissional, que forma para a atuação em dife- rentes áreas e segmentos da sociedade, nas esferas públicas e privadas. Portanto, na segunda parte deste capítulo, nossa in- tenção é apresentar as principais áreas de atuação profissional, entendendo as demandas e atribuições profissionais nos espa- ços e problematizando o cenário de oportunidades existentes no mercado de trabalho. 10 Serviço Social e os desafios profissionais contemporâneos 1.1 Do assistencialismo à defesa intransigente dos direitos humanos Vídeo O Serviço Social e seus desafios contemporâneos resultam de pro- cessos históricos que contribuíram para que o compromisso com a de- fesa intransigente dos direitos humanos – atualmente explicitado em nosso Código de Ética e que orienta nosso exercício profissional – to- masse o lugar da atuação profissional conservadora presente sobretu- do nas primeiras décadas da profissão. Não é propósito deste capítulo aprofundar as conjunturas históri- cas e sociais que incidiram nas transformações da profissão. O objetivo aqui é estabelecer que, desde sua origem no Brasil, a profissão passou por modificações, as quais construíram a identidade profissional do assis- tente social contemporâneo. O trabalho desse profissional ocupou e ocupa diferentes espaços sócio-ocupacionais, com objetivos profissio- nais também distintos em cada contexto histórico. Conforme Santiago (2020), houve cinco Códigos de Ética do Serviço Social ao longo da história da profissão no Brasil, sendo que cada um possuía características diferentes, de acordo com as mudanças históri- cas. Os três primeiros (1947, 1965, 1975) eram mais parecidos entre si, enquanto os dois últimos (1986, 1993) se diferenciavam dos demais. Com base nesses códigos, podemos entender as transformações da profissão e, assim, compreender elementos da identidade e da formação profissional. Dessa forma, organizamos esta seção em dois momentos. Primei- ramente, apresentaremos um olhar sobre a gênese profissional, tendo por objetivo compreender o surgimento e o processo de profissionali- zação do Serviço Social. O segundo momento consiste em analisar um outro período histórico, entre as décadas de 1960 e os dias atuais, bem como compreender a formação e a identidade profissional no Serviço Social contemporâneo. Compõe este capítulo também o processo de formação pro- fissional e os espaços coletivos de organização e fortalecimento da categoria, sobretudo o Conselho Federal de Serviço Social e os conselhos regionais, conhecidos como conjunto CFESS/CRESS. Formação profissional e mercado de trabalho 11 1.1.1 Gênese do Serviço Social e as raízes conservadoras O Serviço Social tem sua institucionalização como profissão no Brasil relacionada a processos políticos e históricos ocorridos nas déca- das de 1920 e 1930 e está em acordo com a perspectiva histórico-crítica da gênese profissional, a qual entende o surgimento da profissão do assistente social como um produto da síntese dos projetos político-econômicos que ope- ram no desenvolvimento histórico, onde se reproduz material e ideologicamente a fração da classe hegemônica, quando no con- texto do capitalismo na sua idade monopolista, o Estado toma para si as respostas à “questão social”. (MONTAÑO, 2011, p. 30) Como sustentam outros autores 1 , o assistente social surge com um papel político, sendo que sua função não pode ser explicada por si mesma, e sim pela posição ocupada por esse profissional na divi- são sociotécnica do trabalho (MONTAÑO, 2011). Além disso, segundo Iamamoto (2013), a profissão vem de um movimento social mais amplo, relacionado ao fato de que, no início dos anos 1930, era preciso uma formação doutrinária e social do laicato no “mundo temporal”, isto é, um processo formativo sobre os valores religiosos, destinados aos lei- gos da Igreja Católica, que considerasse a conjuntura social, política e cultural do período. Essas concepções sobre a gênese profissional con- tribuem para entendermos as origens da profissão e, com isso, elemen- tos da identidade e da formação profissional que permanecem até hoje. Outro ponto relevante para a compreensão da gênese profissional é o surgimento de instituições assistenciais na década de 1920, que já apre- sentavam, nos seus serviços prestados, diferença das ações de caridade tradicionais, além de contribuírem para a criação das primeiras escolas de Serviço Social nas décadas seguintes. Essas instituições faziam parte de um movimento religioso vinculado à Igreja Católica. Por isso, o Serviço So- cial, em sua gênese, foi caracterizado por alguns princípios conservadores (IAMAMOTO; CARVALHO, 2004; SANTOS; FERNANDES, 2020). No entanto, mesmo com sua vinculação às ações de caridade da Igreja, limitar a profissão a essa característica seria um reducionismo, haja vista que a profissão surgiu também por intervir ideologicamente na vida da classe trabalhadora. Segundo Iamamoto (2013), a profissão Marilda Vilela Iamamoto, Raul de Carvalho, Maria Lucia Martinelli e José Paulo Netto. 1 12 Serviço Social e os desafios profissionais contemporâneos colocava os trabalhadores nas relações sociais da época, enfatizando a mútua colaboração que havia entre capital e trabalho. Esses acontecimentos sociais relacionados à Igreja Católica não ocorreram desconexos de outros movimentos históricos, políticos, cul- turais e econômicos da época (décadas de 1920 e 1930). Da mesma forma, a identidade do profissional de Serviço Social que foi se forman- do no decorrer do tempo também foi influenciada por alterações na forma de organização do Estado, que passou a intervir na exploração da força de trabalho, regulamentando juridicamente o mercado. Segundo Iamamoto e Carvalho (2004), a violação de direitos dos tra- balhadores denunciada por movimentos sociais da época resultou em leis sociais, cujo objetivo era intervir na situação de exploração à qual a classe trabalhadora estava submetida. Esse novo cenário contribuiu diretamente para o surgimento futuro de novos campos de atuação profissional e para o início do afastamento da base profissional da di- nâmica, simplesmente, religiosa. Em 1932, temos a criação do Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo (CEAS), tido como a porta de entrada da profissionalização do Serviço Social no nosso país. Apenas alguns anos mais tarde, em 1936, foi criada a Escola de Serviço Social de São Paulo. Da mesma forma que a escola paulista, surge na década seguinte, em 1945, a Escola de Servi- ço Social do Rio de Janeiro, que também se instaura na luta da Igreja em defesa do povo de influências vistas como “nocivas” e para se tornar uma força normativa da sociedade (CASTRO, 2011). As décadas seguintes continuaram a orientar uma atuação profissio- nal conservadora, ainda que, segundo Iamamoto (2013), as escolas te- nham contribuído para o processo de secularização (distanciamento do conteúdo doutrinário) e para aumentar o suporte técnico-científico do Serviço Social. É necessário compreender que essa conjuntura que marca a gênese profissional reflete diretamente nas funções desempenhadas pelos pro- fissionais da época, sobretudo em sua dimensão política, haja vista que a burguesia oferecia seu mais irrestrito apoio à prática dos assis- tentes sociais, em solidariedade com osmembros das organiza- ções religiosas, pois numa conjuntura histórica, especialmente complexa, em que a luta de classes tomava formas cada vez mais drásticas, sua preocupação permanente era preservar seu domí- nio de classe, seu poder hegemônico. Formação profissional e mercado de trabalho 13 Garantir a reprodução das relações sociais de produção capitalis- ta era um objetivo fundamental para a burguesia. (MARTINELLI, 1995, p. 118) Ainda segundo Martinelli (1995), atuando em serviços ofertados pelo Estado, os assistentes sociais tinham um importante papel na sociedade, representando o próprio Estado para a população. De ma- neira antagônica, eles atuavam junto à classe trabalhadora, atenden- do-a em suas demandas; porém, reproduziam socialmente valores de interesse da classe burguesa. Ainda que compondo a própria classe trabalhadora, os assistentes sociais tinham seu trabalho fetichizado, sendo na verdade um instrumento da burguesia, consolidando assim sua identidade atribuída. Nesse contexto, “sempre prontos para oferecer respostas urgentes às questões prementes, desde cedo os assistentes sociais foram im- primindo à profissão a marca do agir imediato, da ação espontânea, alienada e alienante” (MARTINELLI, 1995, p. 127). Nesse sentido, im- possibilitava uma prática profissional contida de reflexão e crítica. Após a criação das primeiras escolas de Serviço Social, as décadas seguintes marcaram a ampliação e consolidação do mercado de tra- balho para os assistentes sociais. Iamamoto (2013, p. 34-35) destaca os efeitos desse processo de expansão do mercado para o exercício profissional do assistente social: se o Serviço Social surge no seio do movimento católico, o pro- cesso de profissionalização e legitimação da profissão encontra- -se estreitamente articulado à expansão das grandes instituições socioassistenciais estatais, paraestatais e autárquicas [...]. O sur- gimento dessas instituições representa uma enorme ampliação do mercado de trabalho para a profissão, tornando o Serviço So- cial uma atividade institucionalizada e legitimada pelo Estado e pelo conjunto dominante. Se o caráter de missão de apostolado social e a origem de classe dos “pioneiros” conferiam legitimi- dade à intervenção do profissional, agora essa legitimidade será derivada do mandato institucional, confiado ao Assistente Social, direta ou indiretamente, pelo Estado. Essa incorporação do Serviço Social à estrutura estatal aumentou o público atendido pela categoria, que deixou de se restringir a grupos predeterminados – em geral a população pobre, conforme o serviço ofertado pelas obras sociais confessionais – para atender uma gama maior da classe proletária, a qual era o objeto principal das políticas assistenciais (IAMAMOTO, 2013). 14 Serviço Social e os desafios profissionais contemporâneos Ainda segundo Iamamoto (2013), devido a esse processo de amplia- ção do seu trabalho, o Serviço Social se consolidou como profissão e se tornou uma categoria assalariada. Dessa forma, o Serviço Social passou de um instrumento de caridade das classes dominantes para uma das peças executoras da política social do Estado e dos setores empresariais. Concluímos, então, esta parte de nossa seção, tendo por ideia cen- tral que a gênese profissional está diretamente vinculada à organiza- ção do Estado burguês, sobretudo em sua relação com os interesses da Igreja Católica – relação essa que atribuiu à profissão uma identidade marcada por valores conservadores e práticas profissionais voltadas à manutenção do Estado burguês e de suas desigualdades. Com as mo- dificações na organização do Estado e a ampliação e consolidação de médias e grandes empresas, ampliou-se o mercado de trabalho do assistente social, o que alterou o público atendido pela categoria. 1.1.2 Intenção de ruptura e Serviço Social contemporâneo Aconteceu em 1947 o primeiro Congresso Brasileiro de Serviço So- cial, cujos anais nos permitem entender não só o que se discutia nessa área, mas também a realidade social e o posicionamento dos profissio- nais da época (SANTOS; FERNANDES, 2020). Sobre esse congresso, Ia- mamoto e Carvalho (2004, p. 330) afirmam que a leitura dos Anais do Primeiro Congresso Brasileiro de Serviço Social mostra a ausência de uma temática central. As preocupa- ções do reduzido meio profissional existente nesse momento se voltam para um sem-número de frentes. Os debates, assim como as conclusões e recomendações, são organizados segundo seis campos – Serviço Social e Família, Serviço Social de Menores, Educação Popular e Lazeres, Serviço Social Médico, Serviço Social na Indústria, Agricultura e Comércio, e Agentes do Serviço Social. Nesse congresso e em outros ocorridos ainda na mesma década, os quais apresentam discussões semelhantes, houve poucas manifes- tações inovadoras ou contestadoras. Contudo, ainda se tratava de um posicionamento profissional já desapegado de uma identidade reli- giosa, fundamentando-se na psicologia e com perspectiva de trabalho técnico (IAMAMOTO; CARVALHO, 2004). Formação profissional e mercado de trabalho 15 A década de 1960 é para a profissão um período de transformações maiores, sendo modernizados tanto o agente como as teorias, méto- dos e técnicas utilizados. Esse período foi marcado pela ideologia de- senvolvimentista, a qual se define pela busca por expansão econômica (prosperidade, riqueza etc.) em um cenário de paz política e social, bem como de segurança (IAMAMOTO; CARVALHO, 2004). As influências dessa ideologia para a profissão são expressas sobre- tudo no II Congresso Brasileiro de Serviço Social (1961). A intervenção profissional do Serviço Social inscrita no desenvolvimento de comuni- dade foi alçada como a área que deveria receber maior dinamização. Nesse seminário, começa a ser sinalizada a decadência do Serviço So- cial tradicional, porém ainda sem se instaurar uma crise. Além disso, nesse período, iniciam-se movimentos intraprofissionais que acompa- nham a conjuntura extraprofissional, os quais colaboraram para enfra- quecer o Serviço Social tradicional (NETTO, 2007). Avançando na história, até o movimento chamado de intenção de rup- tura, que foi uma sequência do processo de enfraquecimento do Serviço Social tradicional e essencial para a formação do Serviço Social tal como conhecemos hoje. Segundo Netto (2007), a intenção de ruptura tem como fundamento uma crítica sistemática aos suportes teóricos, meto- dológicos e ideológicos do Serviço Social tradicional. Esse movimento tem sua gênese com a Escola de Serviço Social de Belo Horizonte, conhecida como Método de BH, a qual se fundamen- tou na teoria social de Marx e no materialismo histórico e dialético de modo a entender o significado social do assistente social, bem como das contradições da sociedade capitalista que perpetua a explora- ção da força de trabalho, visando a uma nova sociabilidade humana (ABRAMIDES, 2016). A doutora em Serviço Social Maria Abramides, em seu artigo 80 anos de Serviço Social no Brasil: organização política e direção social da profissão no processo de ruptura com o conservadorismo, publicado na revista Serviço Social & Sociedade, sistematiza o movimento de intenção de ruptura de maneira objetiva e com apontamentos sobre suas consequências para a formação profissional. Acesso em: 10 mar. 2021. https://www.scielo.br/pdf/sssoc/n127/0101-6628-sssoc-127-0456.pdf Artigo 16 Serviço Social e os desafios profissionais contemporâneos A organização estudantil e sindical, no âmbito do Serviço Social, também foi necessária para fortalecer a intenção de ruptura, que teve, no III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS) (1979), conhecido como Congresso da Virada, seu fortalecimento no âmbito da profissão. O III CBAS se transformou na expressão pública e coletiva do processo de ruptura com o conservadorismo, cuja inflexão se materializou no reconhecimento dos assistentes sociais como trabalhadores em sua condição de assalariamento, nocompromisso profissional com os direitos e conquistas histó- ricas da classe trabalhadora, na práxis profissional vinculada às demandas concretas dos trabalhadores e aos movimen- tos sociais, na articulação da Ceneas, sindicatos e Apas com a Abess 2 , que iniciara a construção de um novo currículo sus- tentado na teoria social de Marx, na defesa do serviço público de qualidade, na luta pela democratização das instituições, na articulação do projeto profissional ao projeto societário con- tra a exploração e opressão, na articulação com o movimento estudantil de Serviço Social que se reorganizara, no estabe- lecimento de uma estratégia entre os assistentes sociais que se inseriam nos sindicatos, movimentos sociais, universida- des, práxis profissionais, vinculados à perspectiva marxista. (ABRAMIDES, 2016, p. 465) Todo esse processo, apresentado por Abramides, resultou em transformações profissionais, expressas primeiramente no Código de Ética de 1986 e depois no Código de 1993, ainda vigente. A década de 1980 também foi determinante para a consolidação da orientação técnica e política do Serviço Social, resultando num projeto profissional cujo conteúdo se apresenta no Código de Ética Profissional do Serviço Social de 1993, na Lei de Regulamentação da Profissão e na nova Proposta de Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social (IAMAMOTO, 2015). Todo esse processo histórico de transformações profissionais construiu a identidade – explicitada no Código de Ética Profissio- nal, orientado pelo projeto ético-político profissional – de um pro- fissional com formação para atuação generalista, isto é, o qual faz CENEAS: Comissão Executiva Nacional de Entidades Sindicais de Assistentes Sociais. APAS: Associação Profissional dos Assistentes Sociais. ABESS: Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social, atual ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. 2 Formação profissional e mercado de trabalho 17 parte de um grupo de trabalhadores que executam ações institucio- nais e assume diferentes perfis nos diversos espaços ocupacionais (IAMAMOTO, 2015). Mais do que um executor de políticas, programas e tarefas ins- titucionalmente planejadas, o assistente social é orientado por um projeto ético-político. “Cabe então à/ao profissional o desafio de dar ao seu trabalho um outro valor, uma outra perspectiva, atribuindo um conteúdo ético-político às intervenções, para além da dimensão técnico-operativa, visando suplantar o plano imediato em sintonia com os valores do projeto profissional” (SANTIAGO, 2020, p. 22). Concluímos o conteúdo exposto até aqui retomando que, apesar de a profissão ter suas raízes históricas, teóricas e políticas funda- mentadas numa atuação profissional conservadora, uma série de processos históricos, políticos e econômicos contribuíram para um outro dimensionamento da intervenção do Serviço Social. Resumo da conversa • Sob a perspectiva histórico-crítica da gênese profissional, compreendemos que o Serviço Social, enquanto profissão, surge como resultado de processos político-econômicos na reorganização do Estado burguês. • Em sua origem, a profissão está diretamente vinculada à Igreja Católica, e o trabalho do assistente social está orientado em reproduzir valores conservadores. • A profissão tem sua origem com uma identidade profissional muito mais doutrinária do que técnico-científica. • O assistente social tem na sua intervenção profissional uma função com significado político. • O surgimento das primeiras escolas de Serviço Social contribuiu para a ampliação da perspectiva técnico-cien- tífica da categoria, mas, num primeiro momento, esse processo somente reforçou a perspectiva conservadora. • Sobretudo nas décadas de 1950 e 1960, houve a expansão do mercado de trabalho para assistentes sociais, quando a categoria passou a compor a organização da política social do Estado. • As décadas de 1970, 1980 e 1990 são marcos no processo de reconceituação da profissão e de sua intenção de ruptura com o conservadorismo. • A profissão assume uma perspectiva ético-política que rompe com o conservadorismo e passa a orientar o exercício profissional em valores societários emancipatórios. • O assistente social se consolida como classe profissional assalariada, cujo trabalho técnico é orientado por prin- cípios éticos e políticos, compromissados com a emancipação da classe trabalhadora. 18 Serviço Social e os desafios profissionais contemporâneos 1.2 Os espaços sócio-ocupacionais e as possibilidades de intervenção Vídeo Quando eu for assistente social, onde vou trabalhar? Qual será o pú- blico e a política pública com a qual trabalharei? Você já se perguntou isso? Possivelmente sim. Portanto, nesta seção, nosso objetivo é con- textualizar a formação generalista do assistente social, a qual qualifica o profissional para intervir junto às expressões da questão social nos mais diversos campos sócio-ocupacionais. 1.2.1 Público atendido Não há um público específico a ser atendido por assistentes sociais. Dado os altos índices de desigualdade social brasileira, os principais usuá- rios de serviços públicos socioassistenciais são aqueles em situação de pobreza, mas a atuação profissional não é delimitada por faixas de rendas – como é comumente acreditado pela população no geral. Os assistentes sociais trabalham com pessoas que têm seus direitos violados ou que es- tão em situação de vulnerabilidade social. Essas situações condicionam o público e a intervenção a ser realizada – explicitando que a intervenção profissional está nas diferentes expressões da questão social. 1.2.2 Os setores Profissionais do Serviço Social atuam nos diferentes setores: pú- blico, privado e terceiro setor. Em cada um desses setores, a atuação profissional poderá estar vinculada a uma ou mais políticas sociais e a diferentes públicos. No entanto, seja atuando no setor público, privado ou terceiro setor, o compromisso ético-político da categoria deve orien- tar as intervenções profissionais. 1.2.2.1 Setor privado A atuação profissional em empresas tem seu registro ainda nas pri- meiras décadas da profissão e remonta a meados dos anos 1940, proveniente da luta dos operá- rios por melhores condições de trabalho, visto que passaram a se reconhecer enquanto classe trabalhadora com necessidades em comum. O trabalho do assistente social nas empresas privadas Formação profissional e mercado de trabalho 19 desde aquela época tem como intuito minimizar a contradição entre empresa e trabalhador (capital x trabalho). (ABREU; COSTA; FERREIRA, 2016, p. 101) Segundo Amaral e Cesar (2009), temos no final do século XX e iní- cio do século XXI uma reorganização das empresas com o processo de informatização e os programas de qualidade, entre outras mudan- ças, além do cenário de privatizações e terceirizações. Essa conjuntura possibilitou que novos campos de trabalhos para assistentes sociais fossem abertos, como: “gestão de recursos humanos; programas parti- cipativos; desenvolvimento de equipes; ambiência organizacional; qua- lidade de vida no trabalho, voluntariado; ação comunitária; certificação social; educação ambiental etc.” (AMARAL; CESAR, 2009, p. 2). Os autores também discorrem sobre os programas empresariais e a atuação de assistentes sociais. Para melhor entendimento, organiza- mos o Quadro 1, em que é possível compreender a dimensão técnica da incidência profissional para a implementação desses programas. Há ainda os programas sociais das empresas, que visam atender ao público externo, por exemplo, a comunidade que reside no território em que a organização está instalada ou as instituições e organizações do terceiro setor por meio de financiamento de projetos. Tratam-se de projetos sociais, culturais, ambientais e educacionais, os quais são chamados de projetos de responsabilidade social das empresas e são uti- lizados pelas organizações para que tenham acesso a incentivos fiscais. Quadro1 Programas de atuação do Serviço Social no setor empresarial Programa Programa de treinamento e desenvolvimento Programas participativos Programa de qualidade de vida Programa de clima ou ambiência organizacional Objetivo Esse programa diz respeito à adequação do funcionamento do mercado interno de trabalho e à requa- lificação da força de trabalho requerida pelos novos métodos de produção. Esses programas se pautam na gestão da qualidade total, cujo pressuposto é o da satisfação das necessi- dades dos clientes ex- ternos e internos das organizações. No discurso empresarial, o termo qualidade de vida é empregado para enun- ciar a conjugação de in- teresses entre patrões e empregados, isto é, a associação entre os ob- jetivos das empresas de aumentarem a produti- vidade e as necessidades de bem-estar dos traba- lhadores. Esse programa com- porta os fatores do ambiente de trabalho que afetam o compor- tamento produtivo. (Continua) 20 Serviço Social e os desafios profissionais contemporâneos Programa Programa de treinamento e desenvolvimento Programas participativos Programa de qualidade de vida Programa de clima ou ambiência organizacional Atuação profissional Nesse campo, o assis- tente social se insere buscando desenvol- ver um processo edu- cativo para a adequa- ção dos padrões de desempenho à flexi- bilização da produção e uma mobilização ideológica favorável à adesão do trabalha- dor com as metas da empresa. A intervenção profissio- nal se estabelece com base nos princípios do envolvimento e do comprometimen- to, tendo por objetivo adequar ideias, com- portamentos e atitu- des. Assim, o Serviço Social busca promo- ver a valorização do empregado, desenvol- vendo ações incentiva- doras do seu envolvi- mento com o trabalho e a empresa. O trabalho do assistente social nesse tipo de pro- grama tem como base o levantamento do nível de satisfação no trabalho, tendo em vista a instru- mentalização das ações gerencias para a melho- ria da qualidade de vida, que abrange questões relativas às políticas de recursos humanos. A atuação do assistente social incide na mensu- ração de propriedades sobre o ambiente de trabalho, principalmen- te por meio da aplica- ção periódica de ques- tionários compostos de questões que buscam correlacionar as prá- ticas de gestão com o clima organizacional, com base na percep- ção dos empregados sobre a organização, as relações e as condições de trabalho. Fonte: Adaptado de Amaral e Cesar, 2009, p. 11-14. Ainda sobre a atuação do assistente social no setor privado, segun- do Amaral e Cesar (2009, p. 17-18), vale salientar que, apesar de predominar a tendência de absorção da “cultura da qualidade” e do “ideário da responsabilidade social” pelo Serviço Social, vários profissionais formulam críticas às ações e programas desenvolvidos pelas empresas. Tais críticas denunciam: o aprofundamento da exploração, pela intensificação das pressões sobre o trabalho, o crescimento da competitividade e rivalidade que dividem o coletivo dos trabalhadores, a conversão da participação do trabalhados num meio de cooptação políticas e apropriação do seu conhecimento, a manipulação dos programas sociais como forma de angariar subsídios e incentivos fiscais ou como estratégias de promoção e marketing social. Com relação à absorção de profissionais pelo setor privado, um re- latório de pesquisa de 2005 acerca do perfil dos profissionais do Servi- ço Social apontou que as empresas são o segundo maior empregador de assistentes sociais, correspondendo a 13,19% (IAMAMOTO, 2009). Isso denota a relevância desse setor para o mercado profissional de assistentes sociais. Formação profissional e mercado de trabalho 21 1.2.2.2 Terceiro setor O terceiro setor compreende o conjunto de iniciativas da sociedade civil organizada para dar respostas à ausência do Estado no processo de proteção social da população. São as chamadas ONGs (organizações não governamentais); a nomenclatura utilizada atualmente é OSCs (organizações da sociedade civil). No processo de reestruturação estatal ocorrido, de maneira mais intensa, ao final do século XX, entrou em vigência no Brasil uma agenda governamental neoliberal, marcada pela redução e privatização do Es- tado. Essa conjuntura resultou na transferência de uma considerável parcela de serviços sociais para a sociedade civil. Na verdade, está-se diante da desrespon- sabilização do Estado e do Capital com as respostas da “questão social”. Este deslocamento engendra o retorto de práticas tra- dicionais no que se refere ao trato das contradições sociais no verdadeiro processo de refilantropização da questão social, sob os pressupostos da ajuda moral próprias das práticas voluntaris- tas, sem contar a tendência de fragmentação dos direitos sociais. (ALENCAR, 2009, p. 7) Ainda, segundo Montaño (2002), o terceiro setor se desenvolveu devido às mudanças nas formas de resposta às expressões da ques- tão social. O terceiro setor engloba também fundações empresariais, institui- ções filantrópicas e atividades de voluntariado, que podem estar rela- cionadas à implantação e implementação de projetos sociais, culturais, de saúde, de educação, de formação profissional etc. As atribuições profissionais nesse setor acompanham a política so- cial e/ou o público predominante no campo, mas se destacam: a atua- ção em conselhos de direitos e em outros espaços de controle social das políticas públicas; a operacionalização de ações de projeto de aten- dimento a usuários e familiares; a atuação em equipe multidisciplinar; e o planejamento, monitoramento e avaliação de projetos, programas e serviços ofertados. Muitos dos projetos e programas nos quais os assistentes sociais atuam nas OSCs são implementados com recurso público, por meio da formalização de convênios entre a instituição e o poder público (muni- cipal, estadual e/ou federal) destinados à implementação e à execução 22 Serviço Social e os desafios profissionais contemporâneos de serviços que atendam às demandas do poder público em diferentes políticas. Além disso, muitas dessas instituições acessam recurso públi- co por meio de editais de fundos públicos. O Estado deixa de prestar serviços diretos à população e passa a estabelecer parcerias com organizações sociais e comunitárias, incluindo-se aí as fundações e institutos empresariais que, atuali- zando seu discurso, convertem a assistência social e a filantropia privadas para a linguagem do capital – agregar valor ao negó- cio, responsabilidade social das empresas, ética empresarial são alguns dos termos que passam a ser recorrentes. (RAICHELIS, 2009, p. 10) Esse é, portanto, um importante campo sócio-ocupacional para a ca- tegoria, ainda que, segundo o levantamento realizado em 2005, o terceiro setor tenha ficado com a terceira posição dos principais campos de atua- ção profissional, registrando 6,81% – incluindo as organizações não gover- namentais, associações, cooperativas etc. (IAMAMOTO, 2009). 1.2.2.3 Setor público O setor público é o principal campo de trabalho para o Serviço Social, empregando 78,16% dos assistentes sociais, segundo o levan- tamento de 2005 (IAMAMOTO, 2009). Isso porque, segundo Raichelis (2009), essa profissão está relacionada diretamente com a intervenção nos processos de enfrentamento da questão social, o que aproxima o profissional do poder público – resultado do movimento de reorganiza- ção do Estado que apresentamos anteriormente. Embora uma política neoliberal esteja em andamento desde o final da década de 1980 no nosso país – a qual reduziu as funções do Estado e os gastos, auxiliando no processo de desresponsabilização do poder público sobre as políticas sociais universais (RAICHELIS, 2009) – e, com isso, houve a redução de concursos públicos, a esfera estatal continua a ser o maior campo de atuação profissional do assistente social. Ainda assim, a imposição de uma agenda de Estado mínimotem afetado esse campo do mercado profissional, pois os postos governa- mentais, em especial federais e estaduais, foram reduzidos e transfe- ridos aos municípios devido à descentralização e municipalização de serviços públicos (RAICHELIS, 2009). Além disso, a terceirização de de- terminados serviços públicos diminuiu os campos de atuação profis- Formação profissional e mercado de trabalho 23 sional na esfera pública, demandando direta ou indiretamente que o terceiro setor assuma esses serviços. A atuação profissional na esfera estatal não se resume ao Poder Exe- cutivo, com o planejamento e a execução de políticas, programas e pro- jetos sociais, mas compreende também o Poder Judiciário e Legislativo. Segundo Raichelis (2009), no Poder Judiciário, essa atuação abrange uma ampla gama de acesso aos direitos e à justiça, buscando vencer a discriminação que ocorre na aplicação das leis entre as classes sociais, em especial as subalternas. Ainda de acordo com a mesma autora, a participação dos assistentes sociais no poder legislativo, embora ainda restrita, tem se colocado como possibilidade para um número crescente de profissionais que veem no parlamento, nas diferentes esferas de poder, uma possibilidade, embora limitada, de avançar nas lutas sociais e inscrever na legislação os direitos sociais das clas- ses subalternas. Nesse sentido, inúmeros projetos e leis têm sido formulados por assistentes sociais atuantes nos parlamentos muni- cipais, estaduais e federal, revelando que o compromisso ético-po- lítico da profissão pode e deve manifestar-se em todos os espaços em que for possível tensionar e politizar a luta pela universalização dos direitos. (RAICHELIS, 2009, p. 11) Mais adiante, veremos com maior especificidade a atuação do Ser- viço Social em algumas políticas sociais, as quais ocorrem majoritaria- mente nas esferas estatais. 1.2.3 As políticas sociais As diretrizes curriculares da formação profissional apontam para o perfil do bacharel em Serviço Social: “profissional dotado de forma- ção intelectual e cultural generalista crítica, competente em sua área de desempenho, com capacidade de inserção criativa e propositiva, no conjunto das relações sociais e no mercado de trabalho” (BRASIL, 1999). Além disso, a perspectiva generalista da formação profissional é uma opção profissional, explicitada nessas diretrizes, tendo o en- tendimento de que não há qualquer área específica no Serviço Social, mas sim uma formação que pode ser aplicada em diversos espaços sócio-ocupacionais. Nesse sentido, os espaços de atuação profissional são os mais va- riados, e nesta parte da seção discorremos sobre alguns desses cam- Em 2009, o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) lançaram o livro Serviço Social: direitos sociais e competências profissio- nais. O material na íntegra é relevante para a compressão da formação profissional e das particularidades em diferentes âmbitos de atuação, mas indicamos, sobretudo, três capítu- los como possibilidade de aprofundar o debate da atuação profissional no setor público, no se- tor privado e no terceiro setor: • ALENCAR, M. M. T. O trabalho do assistente social nas organizações privadas não lucrativas. Disponível em: http://www.cressrn. org.br/files/arquivos/4U- kPUxY8i39jY49rWvNM.pdf. Acesso em: 3 mar. 2021. • AMARAL, A. S.; CESAR, M. J. O trabalho do assistente social nas empresas capitalistas. Disponível em: http://cressrn.org.br/ files/arquivos/G2cm832r- 29W2oX2IHY6P.pdf. Acesso em: 3 mar. 2021. • RAICHELIS, R. O trabalho do assistente social na esfera estatal. Disponível em: https://www.unifesp. br/campus/san7/images/ servico-social/Texto_Ra- quel_Raichelis.pdf. Acesso em: 3 mar. 2021. Leitura https://www.unifesp.br/campus/san7/images/servico-social/Texto_Raquel_Raichelis.pdf https://www.unifesp.br/campus/san7/images/servico-social/Texto_Raquel_Raichelis.pdf https://www.unifesp.br/campus/san7/images/servico-social/Texto_Raquel_Raichelis.pdf https://www.unifesp.br/campus/san7/images/servico-social/Texto_Raquel_Raichelis.pdf 24 Serviço Social e os desafios profissionais contemporâneos pos, organizando-os por diferentes políticas sociais. Certamente não conseguiremos esgotar o assunto da atuação profissional nas diferen- tes políticas sociais que aqui elencaremos. Nosso objetivo é possibili- tar uma compreensão da diversidade de demandas profissionais, dos desafios e das possibilidades da intervenção profissional em cada um desses espaços. Elencamos aqui cinco políticas para análise: saúde, previdência, assistência social, educação e habitação. A atuação profissional certa- mente não se limita a essas áreas, e também não se dá isolada em uma única, de modo que outras políticas transversais acompanham a atuação profissional, como as políticas de mulheres, infância, adoles- cência e juventude, população negra, indígenas, LGBTQI+, quilombolas, pessoa com deficiência, entre outras. Organizamos o Quadro 2 como estratégia para melhor visualização das informações apresentadas. Quadro 2 Atuação profissional nas políticas sociais Área de atuação Contextualização histórica Atividades/atribuições principais Campos sócio- -ocupacionais Saúde Trata-se de um dos setores mais significativos para a profissão e é um espaço privilegiado de absor- ção profissional, situação eviden- ciada pela história da profissão na Inglaterra, nos Estados Unidos e na América Latina (incluindo o Brasil), com registros de atuação profissional nesse campo que da- tam do início do século XX (BRAVO, 2013). A atuação pode ocorrer no setor público ou privado, destacando-se a existência inclusive de assistentes sociais em operadoras de saú- de suplementar/planos de saúde, nas mes- mas perspectivas de atendimento e garantia de direitos. Em hospitais: acompanhamento da interna- ção; visita às enfermarias; alta hospitalar; loca- lização da família de pacientes internados; pro- vidências quanto à violência contra crianças e adolescentes, idosos e mulheres; participação no processo de comunicação de óbito; orienta- ções de direitos e acesso a programas sociais; orientação sobre afastamento; benefício de prestação continuada etc. Em programas pós-alta/acompanhamento de crônicos: apresentação do programa; visi- tas pós-alta hospitalar para orientar as famí- lias; identificação de possíveis determinantes sociais que interferem no processo de re- cuperação; grupos de educação em saúde; palestras. Hospitais. Unidades bási- cas de saúde. Operadoras de saúde suplemen- tar. Pronto atendi- mentos. Maternidades. (Continua) Formação profissional e mercado de trabalho 25 Área de atuação Contextualização histórica Atividades/atribuições principais Campos sócio- -ocupacionais Previdência social A previdência social é a maior política de redistribuição de renda do país e, por isso, um dos principais alvos da austeridade neoliberal nas políticas sociais. Frequentemente sofreu ataques, sobretudo em 1995 com o início do governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), tendo continuida- de nos governos Lula e Dilma até os dias atuais. A decadência da ditadura militar, a reestruturação da democracia e a promulgação da Constituição Federal de 1988 foram importantes movimentos para que a previdência social en- trasse para o rol dos direitos so- ciais, sendo definida como uma das políticas de seguridade social juntamente com a saúde e a assis- tência social (MACEDO; MOREIRA, 2017). Orientação e apoio quanto à solução de pro- blemas pessoais e familiares e à melhoria da sua inter-relação com a previdência social, buscando solucionar questões referentes a benefícios ou à obtenção de outros recursos sociais. Asseguração da centralidade técnica e au- tonomia profissional dos assistentes sociais no planejamento, coordenação, execução e monitoramento de suas ações. Auxílio na visibilidade dos projetos e das ações desenvolvidaspelo Serviço Social (CFESS, 2018). Instituto Nacio- nal do Seguro Social (INSS). Agências de pre- vidência social. Assistência social A política de assistência social é reconhecida como direito social e dever do Estado pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei Orgâ- nica de Assistência Social (LOAS). É regulamentada pelo Governo Federal, com aprovação pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), por meio da Política Nacional de Assistência Social e do Sistema Único de Assistência Social, visando consolidar a assis- tência social como política estatal (CFESS, 2011). Formulação e execução dos programas, pro- jetos, benefícios e serviços próprios da as- sistência social em órgãos da administração pública, empresas e organizações da socie- dade civil. Planejamento, organização e administração do acompanhamento dos recursos orça- mentários nos benefícios e serviços socioas- sistenciais nos CRAS e CREAS. Visitas, perícias técnicas, laudos, informações e pareceres sobre acesso e implementação da política de assistência social. Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS). Serviços de convivência de fortalecimento de vínculos. Centro de Referência Es- pecializado para População em Situação de Rua (Centro POP). (Continua) 26 Serviço Social e os desafios profissionais contemporâneos Área de atuação Contextualização histórica Atividades/atribuições principais Campos sócio- -ocupacionais Educação A ampliação do acesso à educa- ção, em seus diferentes níveis, originou nas últimas décadas uma série de demandas socioinstitu- cionais que contribuíram para a inserção de assistentes sociais na política de educação (CFESS, 2013). Atendimento e acompanhamento de alunos e familiares, referente às demandas relacio- nadas ao acesso e à permanência escolar. Elaboração de plano de trabalho que con- sidere ações interventivas que envolvam os diferentes atores da comunidade escolar, levando em consideração o contexto terri- torial. Ações para monitorar e evitar situações de evasão escolar ou de crianças e adolescentes não inclusos no processo de ensino. Articulação em rede com os organismos go- vernamentais e da sociedade civil presentes no território para realização de diagnósticos e ações de intervenção diante de questões de acesso e permanência escolar. Escolas públicas e privadas. Instituições de ensino supe- rior públicas e privadas. Habitação A moradia é um direito humano (bem como o direito à cidade) legitimado pela Declaração dos Direitos Humanos (ONU, em 1948) e pela Conferência Inter- nacional do Habitat II (Istambul, em 1996). No Brasil, sua legitimi- dade é dada pela Constituição Federal, pelo Estatuto da Cidade (Lei n. 10.257/2001), pela Medida Provisória n. 2.220 e pela Carta Nacional do Direito às Cidades, de 2001 (BRAGA et al., 2007). O trabalho social nos programas de habitação de interesse social tem seus fundamentos históricos e teórico-metodológicos subsidia- dos por valores e princípios éticos. Deve estar orientado na perspec- tiva do direito à cidade, concebida como um lugar de expressão e atualização da humanidade. Construção do perfil socioeconômico da po- pulação usuária da política urbana. Compreensão do cadastramento realizado com famílias e grupos sociais que são usuá- rios da política urbana como um importante instrumento de informações e identificação de demandas. Promoção dos espaços de discussão com a população, problematizando a realidade, buscando conhecimento e análise da reali- dade. Conhecimento e mobilização da rede de ser- viços, com o objetivo de viabilizar os direitos sociais. Elaboração e/ou divulgação de materiais socioeducativos (folhetos, cartilhas, vídeos, cartazes etc.) que facilitem o conhecimento e o acesso dos sujeitos sociais aos serviços oferecidos pela política urbana e aos direitos em geral. Fomentação da participação de grupos so- ciais usuários da política urbana no conheci- mento crítico da sua realidade, potencializan- do os sujeitos sociais para a construção de estratégias coletivas. Incentivo à organização dos sujeitos sociais para desenvolver processos de negociação com os setores públicos (CFESS, 2016). Companhias de habitação de gestão pública municipal, esta- dual e federal. Cooperativas de habitação de in- teresse popular. Fonte: Elaborado pelos autores. Formação profissional e mercado de trabalho 27 Percebemos então a pluralidade de espaços profissionais nos quais estão inseridos os assistentes sociais. O quadro apresentado tem por ob- jetivo ilustrar as possibilidades do mercado de trabalho e da intervenção profissional. • Por se tratar de uma formação generalista, não há formação para atuar em um campo específico no Serviço Social, mas sim uma formação profissional que capacita o assistente social para atuar com diferentes públicos, políticas sociais e setores da sociedade. • Ao contrário do que possa constar no imaginário popular, o público atendido pelos assistentes sociais não se limita à população em situação de pobreza. Contudo, são as pessoas com situação de vulnerabilidade, com violação de direitos ou em situação de risco as principais atendidas pelas políticas sociais. • O Serviço Social pode atuar tanto no setor privado (empresas) quanto no ter- ceiro setor (em OSCs, institutos e projetos sociais) e na esfera estatal (munici- pal, estadual ou federal, no Poder Executivo, Legislativo ou Judiciário). • São inúmeras as políticas sociais com as quais trabalham os assistentes sociais, e cada campo de trabalho possui um histórico, apresenta diferentes demandas e exige diferentes competências profissionais. Resumo da conversa Foi aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo Executivo Federal a Lei n. 13.935/2019, que dispõe sobre a prestação de ser- viços de Psicologia e de Serviço Social nas redes públicas de educação bá- sica. Além de um grande avanço na política da edu- cação, a regulamentação da lei é uma importante abertura de mercado de trabalho para o Serviço Social. Para saber mais sobre a lei e seu processo de regulamentação nos estados e municípios, sugerimos a leitura do material elaborado pelo CFESS e pelo CFP (Conse- lho Federal de Psicologia) em conjunto com outras instituições, que orienta o processo de regulamen- tação da lei. Disponível em: https://site.cfp. org.br/publicacao/psicologasos- e-assistentes-sociais-na-rede- publica-de-educacao-basica- orientacoes-para-regulamentacao- da-lei-13-935-de-2019/. Acesso em: 16 mar. 2021. Saiba mais 1.3 Os espaços de organização e fortalecimento da categoria Vídeo A formação profissional e o fortalecimento do projeto ético-político da categoria estão diretamente vinculados a pelo menos três institui- ções/organizações: conjunto CFESS/CRESS, ABEPSS e ENESSO. Essas três organizações atuam de maneira conjunta, mas distinta, entre si, estão diretamente envolvidas na construção de um projeto coletivo e são essenciais para a materialização do projeto ético-político. Apesar das entidades terem direções convergentes e intencionalidades pare- cidas, por vezes podem apresentar conflitos resultantes de diferentes relações de forças. https://site.cfp.org.br/publicacao/psicologasos-e-assistentes-sociais-na-rede-publica-de-educacao-basica-orientacoes-para-regulamentacao-da-lei-13-935-de-2019/ https://site.cfp.org.br/publicacao/psicologasos-e-assistentes-sociais-na-rede-publica-de-educacao-basica-orientacoes-para-regulamentacao-da-lei-13-935-de-2019/ https://site.cfp.org.br/publicacao/psicologasos-e-assistentes-sociais-na-rede-publica-de-educacao-basica-orientacoes-para-regulamentacao-da-lei-13-935-de-2019/ https://site.cfp.org.br/publicacao/psicologasos-e-assistentes-sociais-na-rede-publica-de-educacao-basica-orientacoes-para-regulamentacao-da-lei-13-935-de-2019/ https://site.cfp.org.br/publicacao/psicologasos-e-assistentes-sociais-na-rede-publica-de-educacao-basica-orientacoes-para-regulamentacao-da-lei-13-935-de-2019/https://site.cfp.org.br/publicacao/psicologasos-e-assistentes-sociais-na-rede-publica-de-educacao-basica-orientacoes-para-regulamentacao-da-lei-13-935-de-2019/ 28 Serviço Social e os desafios profissionais contemporâneos Ramos (2011, p. 114) afirma que “tais entidades materializam uma ação política que é um dos fatores que garantem a possibilidade de manutenção da direção social deste projeto coletivo que se vincula a um projeto societário comprometido com o fim da exploração/domina- ção dos seres humanos, ou seja, com a emancipação humana”. Ainda segundo a autora, as três entidades têm papel orgânico no processo de debate e movimentos que constitui os limites e as contradições do capital, colaborando para que o projeto ético-político profissional bra- sileiro seja construído. Cada uma das entidades possui atribuições distintas: a ABEPSS coordena o debate sobre o projeto de formação profissional; o con- junto CFESS/CRESS é responsável pela fiscalização do exercício profis- sional; e a ENESSO abrange a direção da mobilização do movimento estudantil de Serviço Social. 1.3.1 Conjunto CFESS/CRESS O primeiro espaço a ser compreendido enquanto instância de ar- ticulação e organização do Serviço Social é o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), o qual possui atribuições específicas previstas na Lei n. 8.662/1993: Art. 8º Compete ao Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), na qualidade de órgão normativo de grau superior, o exercício das seguintes atribuições: I - orientar, disciplinar, normatizar, fiscalizar e defender o exercí- cio da profissão de Assistente Social, em conjunto com o CRESS; II - assessorar os CRESS sempre que se fizer necessário; III - aprovar os Regimentos Internos dos CRESS no fórum máximo de deliberação do conjunto CFESS/CRESS; IV - aprovar o Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais juntamente com os CRESS, no fórum máximo de deliberação do conjunto CFESS/CRESS; V - funcionar como Tribunal Superior de Ética Profissional; VI - julgar, em última instância, os recursos contra as sanções impostas pelos CRESS; VII - estabelecer os sistemas de registro dos profissionais habilitados; VIII - prestar assessoria técnico-consultiva aos organismos pú- blicos ou privados, em matéria de Serviço Social. (BRASIL, 1993) Formação profissional e mercado de trabalho 29 O CFESS, portanto, é a maior instância de organização da categoria e possui atribuições que vão desde a orientação, normatização e fiscali- zação até o exercício de funções julgadoras sobre sanções e assessoria técnica para os profissionais. Além de todas as atribuições especifica- das na legislação, essa entidade atua de maneira contundente na defe- sa, promoção e garantia de direitos e políticas públicas, bem como na defesa da classe trabalhadora. O contexto de surgimento dos conselhos profissionais, enquan- to entidades sem autonomia e burocráticas, é totalmente distinto do atual, especialmente no que se refere ao CFESS, o qual possui caracte- rísticas democráticas, participativas e de caráter decisório para os ru- mos da atuação profissional. Também foi um dos primeiros conselhos enquanto organização 3 . O Serviço Social foi uma das primeiras profissões da área social a ter aprovada sua lei de regulamentação profissional, a Lei 3252 de 27 de agosto de 1957, posteriormente regulamentada pelo Decreto 994 de 15 de maio de 1962. Foi esse decreto que deter- minou, em seu artigo 6º, que a disciplina e fiscalização do exer- cício profissional caberiam ao Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) e aos Conselhos Regionais de Assistentes Sociais (CRAS). (CFESS, 2021) Para além desse conjunto, existem outras formas de organi- zação com base em comissões que permitem a dinamicidade do conjunto, sendo as principais, em âmbito nacional: comissão admi- nistrativo-financeira; comissão de ética e direitos humanos; comis- são de orientação e fiscalização profissional (COFI); comissão de comunicação; comissão de formação profissional e relações inter- nacionais; e comissão de seguridade social. A mesma forma de organização em caráter nacional ocorre nos conselhos regionais, com a composição de comissões para viabilizar a organização e articulação da categoria. Além disso, cabe mencionar a importância dos NUCRESS (Núcleos de Base do CRESS), os quais se organizam em regiões do estado onde não está sediado o CRESS. Eles possuem o importante papel de articulação, organização e mobilização dos assistentes sociais. Além disso, em âmbito nacional ocorrem os encontros do Conselho Pleno, que se tratam de reunião com caráter deliberativo, tendo por Atualmente nomeados, res- pectivamente, Conselho Federal de Serviço social e Conselhos Regionais de Serviço Social, por- tanto conjunto CFESS/CRESS, antes eram denominados Conselho Federal de Assistentes Sociais e Conselhos Regionais de Assistentes Sociais, portanto conjunto CFAS/CRAS. 3 30 Serviço Social e os desafios profissionais contemporâneos objetivo decidir coletivamente ações futuras para o conjunto, reunindo- -se periodicamente. Para além disso, cabe destacar os encontros nacionais como essen- ciais para os processos de decisão e deliberação da profissão. Neles são discutidas pautas importantes relacionadas à conjunta política, bem como dimensões relacionadas ao projeto ético-político da pro- fissão e maneiras de fortalecimento, articulação e organização da categoria. 1.3.2 ABEPSS A Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), assim como o conjunto CFESS/CRESS, possui um papel essen- cial no que se refere à profissão, mas em âmbito diferente. Enquanto o conjunto trata da organização e articulação da categoria, a ABEPSS cuida da formação profissional, juntamente com a ENESSO, congregan- do unidades de ensino de todo o país, considerando programas de gra- duação e pós-graduação em Serviço Social. Segundo Abramides (2019), sua gênese é resultado do movimento de intenção de ruptura. A formação profissional reflete nos rumos da profissão, nas dife- rentes épocas, e acompanhou e influenciou de maneira contunden- te o processo de intenção de ruptura e de ruptura mesmo, gerando desdobramentos no Currículo 1982, o qual, aprovado na convenção da ABEPSS de 1979, traduz para a formação profissional o projeto de intenção de ruptura, mantendo ainda marcas do Serviço Social tradicional superadas somente nas Diretrizes Curriculares de 1996 (ABRAMIDES, 2019). As diretrizes curriculares da formação em Servi- ço Social orientam um processo educacional que contempla direções baseadas no projeto ético-político e significaram um avanço na con- solidação desse projeto. O cenário de contrarreformas 4 se manteve presente ao longo dos anos e ganha força atualmente; na contramão, o Serviço Social busca construir uma sólida formação direcionada para a defesa e o acesso aos direitos de material universal. Para tanto, a formação profissional é reorganizada em uma nova lógica curricular, pretendendo superar a fragmentação e a pulverização dos conteúdos, assumindo uma pers- pectiva de totalidade histórica. Dessa forma, a formação curricular é Acesse o site do CFESS e conheça os manifes- tos publicados pelo órgão. Lá você encon- trará diversos materiais de conteúdo técnico, político e metodológico sobre o Serviço Social. Além disso, poderá encontrar o contato e o endereço dos CRESS, podendo assim conhecer o CRESS de sua região. Disponível em: http://www.cfess. org.br/. Acesso em: 17 jan. 2021. Site Entende-se por contrarreforma, nos termos aqui apresentados, as articulações e movimenta- ções ocorridas no âmbito da profissão para “desfazer” as reformas realizadas no Serviço Social; ou seja, movimentos de âmbito profissional que defendem a retomada do Serviço Social tradicional. 4 http://www.cfess.org.br/ http://www.cfess.org.br/ Formação profissional e mercado de trabalho 31 organizada em três núcleos de fundamentação: Fundamentos Teórico- -Metodológicos da VidaSocial; Fundamentos da Formação Sócio-Histó- rica da Sociedade Brasileira; e Fundamentos do Trabalho Profissional (ABRAMIDES, 2019). Esse reordenamento representa grande avanço no que se refere à direção assumida pela profissão. Cabe ressaltar que esses núcleos ne- cessitam sempre da correlação com a realidade, para efetivamente se concretizarem, e de leituras sobre a conjuntura atual, pois o novo reordenamento somente poderá avançar se as dimen- sões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa forem incorporadas do ponto de vista da teoria do ser social e das múltiplas determinações postas na realidade, na divisão so- ciotécnica do trabalho, dos sujeitos de classe em disputa na so- ciedade, das lutas e movimentos sociais autônomos em direção às conquistas e projeção histórica. (ABRAMIDES, 2019, p. 63) Nesse sentido, a ABEPSS assume papel essencial no direcionamento da profissão, além de ser um espaço de articulação, pois ela não ape- nas elabora as diretrizes, mas também participa ativamente de debates e discussões da categoria, tendo por objetivo sempre compreender as demandas da realidade. 1.3.3 ENESSO A ENESSO (Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social) assume importância no que se refere à organização e articulação dos estudantes, bem como à contribuição em debates teórico-políticos. Esses debates precisam compreender o movimento que a profissão (enquanto categoria) assume de enfrentamento do cenário de con- trarreformas e retiradas de direitos, bem como de construção do projeto ético-político profissional, o qual necessita ser traduzido e materializado para as realidades nas quais estudantes e profissio- nais estão inseridos no cotidiano. Esse processo precisa ser sempre dimensionado por meio da interação entre CFESS, ABEPSS e ENESSO, conforme afirma Ramos (2011, p. 120): essa relação da Enesso com a Abepss e o CFESS enriquece o contato do segmento estudantil com a realidade da formação e do exercício profissional, através da participação conjunta em eventos, atividades e lutas coletivas, em cujos acontecimentos 32 Serviço Social e os desafios profissionais contemporâneos pauta-se a defesa de condições dignas para a materialização de uma formação e de um trabalho com qualidade. Conforme estatuto da ENESSO (2019), ela é uma entidade de re- presentação dos estudantes de Serviço Social do Brasil. Não possui fins lucrativos e sua coordenação regional é eleita todo ano no En- contro Regional de Estudantes de Serviço Social (ERESS), enquan- to a coordenação nacional é eleita no Encontro Nacional (ENESS). Portanto, de maneira ampla, há uma convergência na organização das coordenações – assim como ocorre na organização do conselho profissional. Além disso, outro recorte importante a ser ressaltado é sua intencionalidade: Art. 2º A ENESSO tem como finalidade: a) Fomentar e potencializar a formação político-profissional das/os estudantes de Serviço Social, bem como suas entidades repre- sentativas, através da realização de seminários, oficinas, partici- pação nos pré-encontros e pós-encontros, material informativo, construção de campanhas relativas às lutas estudantis, da cate- goria e da classe trabalhadora; b) Promover e apoiar a construção e organização, onde não existam, das entidades de base, Centros Acadêmicos – CAs, Diretórios Aca- dêmicos – DAs e Diretórios Centrais dos Estudantes – DCEs, além de fomentar a importância das secretárias de escola e fortalecer politicamente as já existentes; c) Promover e participar do debate acerca das demandas das/os estudantes de Serviço Social; d) Promover e participar do debate acerca das demandas da classe trabalhadora; e) Compromisso com a busca permanente de contato e articula- ção das/os estudantes de Serviço Social com a categoria das/ os Assistentes Sociais, suas entidades regionais, nacionais e latino-americanas; f) Viabilizar a integração com movimentos populares e sociais clas- sistas que fortaleçam as discussões anticapitalistas, antirracistas, antipatriarcais e anti-LGBTIfóbicas. Desta forma, mantendo a au- tonomia política e financeira em relação a esses, como forma de crescimento político das estudantes e de reforço e ampliação das lutas desses movimentos; Formação profissional e mercado de trabalho 33 g) Consolidar o contato e articulação com as demais executivas de curso, a fim de fortalecer o Movimento Estudantil com a partici- pação efetiva da ENESSO na Federação Nacional de Executivas de Cursos – FENEX discutindo, formulando e construindo novas alternativas de luta para o Movimento Estudantil; h) Compor a comissão organizadora dos encontros locais, esta- duais, regionais, nacionais de Serviço Social junto com as escolas sede dos eventos, assim como também, participar dos encontros internacionais de Serviço Social, buscando a articulação com as demais entidades da categoria para a realização dos mesmos. (ENESSO, 2019, p. 4-5) Destacamos os itens e e f, nos quais é possível identificar o processo de diálogo com a categoria profissional e com os movimentos popu- lares, sociais e classistas, sendo a ENESSO, assim, um dos espaços de fortalecimento e organização da categoria pelo viés de protagonismo dos estudantes. Resumo da conversa • A formação profissional e o fortalecimento do projeto ético-político estão di- retamente vinculados a algumas entidades: conjunto CFESS/CRESS, ABEPSS e ENESSO. • O CFESS é a maior instância de organização da categoria. • As três entidades são comissões essenciais no processo de organização da cate- goria e discussão de pautas relevantes. • A ABEPSS é uma organização de suma importância no processo formativo e, consequentemente, nos rumos da profissão. • A ENESSO possui um importante papel na organização dos estudantes e na arti- culação junto à categoria. CONSIDERAÇÕES FINAIS Vamos resgatar as perguntas realizadas no início deste capítulo: o que faz, onde trabalha e quem é o assistente social? Percebemos que se trata de uma resposta longa e complexa, visto que o processo de formação e transformação dessa profissão acompanha as transforma- ções sociais, culturais, políticas e econômicas. 34 Serviço Social e os desafios profissionais contemporâneos Com formação generalista, o assistente social tem um com- promisso ético-político de exercer a profissão de maneira crítica, desempenhando suas funções não apenas com orientação às finali- dades institucionais, mas sobretudo com os princípios ético-políticos da categoria. Para tal, exige-se do profissional um processo perma- nente de qualificação profissional e contínua leitura e interpretação da conjuntura política e econômica do país e da realidade na qual irá atuar. A formação profissional, orientada pelas diretrizes curricu- lares e pela lei que regulamenta a profissão, tem por objetivo capa- citar o assistente social para intervir na realidade social na qual seu espaço sócio-ocupacional o insere, estabelecendo conexões entre diferentes políticas, atores e instituições sociais. Além disso, é importante a articulação da categoria no âmbito do conjunto CFESS/CRESS e demais órgãos de representação da classe, pois esses espaços permitem que a intervenção profissional não ocorra de maneira individual, por cada profissional. Eles possibilitam que em cada espaço sócio-ocupacional (seja no setor público, privado ou ter- ceiro setor) haja uma orientação coletiva para o trabalho realizado. Deve haver proximidade entre os futuros profissionais – acadêmicos de Serviço Social organizados por meio da ENESSO – e profissio- nais em atuação – organizados e representados no conjunto CFESS/ CRESS –, para que a formação profissional na graduação, especialização e pós-graduação também possa estar em consonância com o projeto profissional. Dessa forma, a participação e organização da categoria em torno da ABEPSS é essencial. ATIVIDADES 1. Quais fatores contribuíram para o processo de consolidação do Serviço Social como profissão e a ampliaçãodo mercado de trabalho? 2. O que significa dizer que a formação profissional do Serviço Social é generalista? 3. Descreva o significado do conjunto CFESS/CRESS, da ABEPSS e da ENESSO e qual é a importância dessas entidades para a profissão. Vídeo Formação profissional e mercado de trabalho 35 REFERÊNCIAS ABRAMIDES, M. B. C. 80 anos de Serviço Social no Brasil: organização política e direção social da profissão no processo de ruptura com o conservadorismo. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 127, p. 456-475, set./dez. 2016. Disponível em: https://www.scielo. br/pdf/sssoc/n127/0101-6628-sssoc-127-0456.pdf. Acesso em: 10 mar. 2021. ABRAMIDES, M. B. C. O projeto ético-político do serviço social brasileiro: ruptura com o conservadorismo. São Paulo: Cortez, 2019. ABREU, S. L. L. R. G.; COSTA, D. V. F.; FERREIRA, V. C. P. Como tem se dado a atuação do assistente social nas empresas privadas? Recape: Revista de Carreiras e Pessoas, v. 6, n. 1, p. 100-116, 2016. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/ReCaPe/article/ view/28026/19728. Acesso em: 10 mar. 2021. ALENCAR, M. M. T. O trabalho do assistente social nas organizações privadas não lucrativas. In: CFESS; ABEPSS (org.). Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília, DF: CEFESS/ABEPSS, 2009. v. 1. 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