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REFLEXÃO SOBRE O ARTIGO: ANTROPOLOGIA E PSICOLOGIA: APONTAMENTOS PARA UM DIÁLOGO ABERTO ANA MELISSA TAVARES E RAYANE RAIOL DE SOUZA O artigo Antropologia E Psicologia: Apontamentos Para Um Diálogo Aberto traz uma série de considerações sobre semelhanças e diferenças em aspectos de duas ciências distintas referentes a formas de organização familiar, a antropologia e a psicologia, a partir de clássicos específicos que são utilizados como referência, como os pensamentos de Malinowski (especialmente o recorte Psicanálise e Antropologia, presente na sua obra Sexo e Repressão na Sociedade Selvagem) e Herbert Jones. Estas considerações são organizadas a partir de 4 pontos de comparação, a saber, as bases epistemológicas de cada ciência, os seus objetivos respectivos, seus métodos e as suas aplicações concretas à análise de famílias. Em relação as bases epistemológicas de ambas as ciências, existe uma tendência observada em relação a pesquisadores da psicologia e pesquisadores da antropologia que diferenciam drasticamente ambas as linhas de pesquisa. Essa diferença está pautada no fato de que as Ciências Sociais (e aqui se inclui a Antropologia) geralmente colocam uma ênfase na construção da ideia de seres sociais e na observação dos fenômenos, sociais o que mais tarde é refletido até nos próprios objetivos da ciência, enquanto a psicologia encara os objetos como indivíduos singelos. A partir desse pensamento a antropologia observaria o ser humano, as suas atitudes, as suas organizações familiares, a sua relação com a cultura, como elementos integrantes de uma coletividade geral e a psicologia estaria mais preocupada com a individualidade do sujeito, com as impressões que ele tem sobre os elementos que o cercam e com os impulsos que nascem de si e transformam a realidade ao redor. Ainda nessa questão, existe um paralelo que é traçado sobre a mudança de pensamento dos pesquisadores da própria antropologia, que, a cerca de um século atrás vão considerar a cultura como este elemento um tanto mais poderoso que de fato influenciava a sociedade, o que corroborava com algumas teorias deterministas. Em contraponto, outros pesquisadores já há muito tempo redefiniram essa noção de Cultura (mesmo que o senso comum tenha se apoderado dela) e atual noção de Cultura defendida por grande parte dos antropólogos é a de que a cultura não é este elemento poderoso influenciador, ela é na verdade um contexto no qual as ações humanas acontecem. A cultura recebe então papel de pano de fundo que não decide, mas sim é afetado pelas ações humanas que acontecem na época em que ela está sendo posta em questão. Deste modo, cada ser humano, cada indivíduo, recebe do ambiente cultural um leque de informações e a partir daí delibera sobre a própria vida, reforçando ou recriando aquela cultura no qual está inserido. Quanto à discussão sobre os objetivos, o texto propõe uma ideia de que a antropologia seria uma ciência de “compreensão”, enquanto a psicologia, uma ciência de intervenção. A partir dessa perspectiva, a antropologia concentraria seus esforços na compreensão dos fenômenos sociais. Isso significa que o antropólogo é aquele pesquisador que vai a campo observar o que acontece no campo e viver essa realidade alternativa que é conhecer outra cultura abandonando os pressupostos da sua, enquanto que a psicologia observa o outro dentro do contexto clínico, mas desempenhando uma função terapêutica de ajudar o outro a se colocar em uma posição diferente. Deste modo, as contribuições de cada uma se dão de formas distintas: o psicólogo intervém diretamente no sofrimento psíquico do indivíduo enquanto o antropólogo faz sua intervenção a nível de fenômenos sociais. O fator tempo também é levado em consideração por conta da diferença que ele exerce em cada uma destas áreas: para a Psicologia, visto que a intenção é produzir uma intervenção no indivíduo que está em sofrimento, o tempo de análise do que acontece é necessário, no entanto a ação também precisa ser desempenhada o quanto antes. Já para a antropologia o tempo é essencial para que os estudos prolongados possam nos fornecer realidades alternativas, e as intervenções em antropologia são sempre considerações que contribuem em transformações multidisciplinares. É interessante percebermos que em todos esses casos, a atitude de estar aberto ao outro, ao estranhamento e a uma forma de vida desconhecida é necessária. O uso do método entre ambas as disciplinas converge na apropriação de narrativas, e através do estudo da psicologia e do contato com a antropologia podemos perceber que ambas as disciplinas se ocupam de estudar a história do homem, a subjetividade do homem, a diversidade do homem, as formas de expressão de sua autenticidade. Podemos perceber isso quando em antropologia temos produtos de estudos diferentes sendo exemplificados em histórias de culturas diferentes que são repassados e entram na academia. Então, a cada novo estudo realizado com uma sociedade onde descobrem-se os seus princípios, valores, principais elementos culturais etc preserva-se o uso da narrativa dos sujeitos daquele povo para que se mostre a sua forma de viver. De forma semelhante, a psicologia lida com a narrativa de cada sujeito individualmente, então uma pessoa que chega na clínica faz uso de suas próprias narrativas no meio do processo terapêutico e através desse processo ela irá descobrir formas diferentes de trabalhar sua própria narrativa, descobrindo no processo que as narrativas são amplas e que sua própria história pode ser diferente - explorando o universo de outros através do contato consigo. Por meio de todas essas considerações é fácil deduzir ao dissertar sobre as organizações familiares que a postura atual da antropologia defende uma ideia de família com raízes sócio-afetivas. É importante mencionar que as primeiras correntes antropológicas defendiam os laços familiares como sendo de origem filogenética e muitos antropólogos tiveram um extenso trabalho de pesquisa realizado a fim de compreender os laços familiares nas relações humanas e a partir daí constatar seu traço naturalista ou não. O consenso atual é o de que da mesma forma que os outros elementos nas sociedades humanas, o conceito de família tem sido reformulado ao longo dos séculos, tanto que atualmente consideramos família pessoas com quem mantemos laços afetivos específicos e é por isso inclusive que podemos formar um núcleo familiar tradicional: porque através de conhecer uma pessoa com quem não temos proximidades genética podemos formar um laço e constituir uma família. Através desta constatação a própria teoria da família nuclear se contradiz. Estes mesmos antropólogos confirmam que por mais que no começo das sociedades humanas tivéssemos traços muito parecidos aos nossos ancestrais filogenéticos, as espécies que nos antecederam, o homem, com a sua capacidade de produção cultural modificou o significado de família, e, se o fez, é porque os relacionamentos baseados apenas nas nossas heranças fisiológicas não satisfaziam as necessidades humanas de afeto. A leitura desse texto nos faz refletir sobre como mesmo ciências tão diferentes como a psicologia e a antropologia estão muito relacionadas - todas as ciências humanas - no que toca à proteção da autenticidade do homem. Cada vez mais, temos percebido a importância de abrir espaço nas nossas produções culturais e intelectuais para que o homem possa se reinventar e tornar-se um agente mais ativo na construção da sua existência.
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