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Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Silvia Cristina Galana Revisão Textual: Profa. Ms. Simone Aparecida Polli 5 • O Estado • O Capitalismo • Modos de produção • Conceitos da Economia Nesta disciplina trataremos dos aspectos mais relevantes do ambiente em que a empresa está situada (o que chamaremos de “Macroeconomia”) e das principais teorias econômicas que nos permitem entender a competição neste ambiente (o que chamaremos de “Microeconomia”). Atenção Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. 6 Bem-vindo à disciplina de Ambiente de Negócios! Essa será uma disciplina extremamente interessante que deverá mostrar de uma forma mais estruturada e científica diversos aspectos do nosso cotidiano empresarial. Para o melhor acompanhamento desta disciplina, o aluno deverá ter a mente aberta para uma nova forma de ver os fenômenos que certamente já conhece dos noticiários, jornais e revistas, como inflação, crescimento econômico, as leis da concorrência, entre outros. Deverá estar familiarizado também com algumas ferramentas matemáticas básicas, como o uso de equações lineares e a construção de gráficos. Aliaremos teoria à prática com o uso de exemplos reais em cada unidade da disciplina. 7 Como entender o Ambiente de Negócios? Esta é uma questão sempre presente para profissionais da área de Negócios e de Marketing. Então, vamos conhecer alguns conceitos importantes! Mesmo se estiverem realizando uma disciplina de Economia pela primeira vez, os alunos em geral já trazem uma bagagem de conhecimentos sobre o tema em razão da sua importância. Diariamente, vários aspectos sobre a economia são abordados nos noticiários, nas TVs, no trabalho e até em casa. Contudo, é preciso que tomemos um cuidado em diferenciar os aspectos que são tratados nestes veículos de informação e os aspectos teóricos mais formais da Economia. De um lado, é importante ter o conhecimento diário e mais genérico sobre as atualidades e notícias recentes. Mas, de outro lado, é também fundamental, sobretudo para os profissionais que atuarão no mundo dos negócios, entenderem os aspectos mais formais e teóricos da Economia. Ou seja, o empreendedor deve conhecer as “Leis” que regem o funcionamento da Economia. Vamos, então, definir de que trata esta ciência. A definição dada por Vasconcellos & Garcia é a seguinte: “Economia é a ciência social que estuda como o indivíduo e a sociedade decidem empregar recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas.” (Vasconcellos; Garcia, 2005, p. 2) Há, nessa definição, diversos conceitos que iremos abordar ao longo da disciplina, como a questão da produção, distribuição, emprego de recursos, etc. 8 O primeiro aspecto a ressaltar é que Economia é uma Ciência Social. Em razão do uso intensivo da matemática e da estatística, algumas pessoas são inclinadas a imaginar que Economia é uma Ciência Exata; mas não é, embora a Matemática e Estatística sejam ferramentas usadas largamente pelos economistas. A Economia trata da maneira com que os homens se organizam e organizam seus recursos para produzirem e distribuírem os bens que desejam. Trata, portanto, do homem e seu meio, sendo então uma ciência humana e, como alguns autores diriam, é a mais humana de todas as ciências1. Sobre este amplo conceito de economia, sustentam-se estudos mais específicos, o que denominamos de ramos da economia. Estudaremos nesta disciplina os princípios elementares de dois destes ramos: a microeconomia e a macroeconomia. Na microeconomia, veremos como funcionam os mercados isoladamente, o comportamento de produtores e consumidores, e como eles decidem trocar produtos no mercado, decidindo as quantidades e a que preço negociarão suas mercadorias. Na macroeconomia, abordaremos os temas mais amplos das economias que afetam a todos os agentes que de alguma forma atuam neste meio. Os principais temas tratados na macroeconomia são o PIB dos países, inflação, os juros, o câmbio (relação de troca entre moedas de diferentes países), o emprego, as contas do setor público, as contas externas, entre outros. Principais Questões e Problemas Abordados Com ajuda da microeconomia, abordaremos as questões de quais bens produzir, quantas quantidades produzir ou adquirir, e a que preço. Também averiguaremos de que forma podemos atingir o máximo de lucro em nossos negócios, a partir de entendimentos do funcionamento de nossa empresa, dos concorrentes e dos compradores deste mercado. Através da macroeconomia, por sua vez, tentaremos entender de forma mais abrangente como se dá o ambiente econômico em que nossa empresa opera. Tentaremos entender por que há inflação e quais seus malefícios aos negócios, o que determina o crescimento de um país ou região, de que forma mudanças nas taxas de câmbio podem afetar este ambiente e de que maneira os juros interferem também em nossos negócios. Buscaremos, ainda, entender o funcionamento das contas públicas e sua influência nas economias e, finalmente, o relacionamento da economia de um país com os outros países (o “resto do mundo”). 1 Há diversos casos de cientistas socias de outras áreas que, ao tentarem entender determinado fenômeno, passaram a estudar economia para tentar entendê-los melhor, e acabaram por redirecionar suas carreiras para a Economia. Muitos sociólogos, cientistas políticos, historiadores, entre outros, passaram a se dedicar à economia na busca das respostas a questões sociais. Também há na economia contribuições importantes de cientistas de áreas tão diversas, como física, matemática e biologia. 9 Relevância e atualidade Em um curso de Marketing, poderíamos dizer que poucas coisas são mais importantes do que entender os mercados em que as empresas operam. Uma das propostas desta disciplina é justamente a de iluminar este tema; não necessariamente do ponto de vista mais prático e específico dos mercados em que se atua, mas dos mecanismos gerais que determinam o funcionamento dos mercados, ou seja, suas “leis”. Apesar de um pouco mais abstrata, esta abordagem tem a vantagem de ser aplicável a mais casos, de forma genérica, para todos os mercados. Já com relação à macroeconomia, a relevância é contribuir para o ambiente econômico a que todas as empresas de um país estão submetidas. Entender este ambiente econômico é compreender os fatores que influenciam os negócios e permitem um posicionamento mais consciente no mercado de atuação da empresa. O objetivo deste tópico é apresentar algumas das formas mais importantes de produzir riqueza estabelecida ao longo da história da sociedade. Nossa intenção é a de demonstrar que o modo de produção atualmente dominante, o capitalismo, é uma forma relativamente recente de organização econômica, que tem suas particularidades, vantagens e desvantagens. Com isso, buscaremos salientar as principais características que distinguem o capitalismo das demais formas de produção e, ao mesmo tempo,exporemos que diversas destas características, dadas como ‘naturais’ e até ‘obvias’, são na verdade inovações sociais extremamente complexas, recentes e particulares deste modo de produção, resultado de milhares de anos de evolução social. Outro objetivo deste tópico é mostrar que este mesmo modo de produção ainda está em constante transformação, mesmo nos dias atuais, que certamente fazem com que o capitalismo mude e evolua a cada dia2. 2 Ao usarmos o termo ‘evolução’ não nos referimos a uma mudança necessariamente para melhor, mas sim a uma forma mais adaptada de organização social ao seu meio. 10 O termo 'modo de produção' foi cunhado pelo economista alemão Karl Marx para denominar os sistemas econômicos dominantes em determinadas civilizações em dados períodos, cujas características econômicas marcantes eram dadas pelas suas forças produtivas e as relações de produção entre os grupos de indivíduos daquelas sociedades. Trata-se de um conceito simplificador, mas que nos ajuda a entender, de uma forma genérica, como uma sociedade produzia os bens de que precisava e queria usufruir. Neste sentido, ao estudar a história da humanidade, Marx identificou, de forma idealizada, seis modelos de funcionamento das economias das civilizações. Fonte: http://www.alpharrabio.com.br/Karl_Marx.jpg Karl Marx, economista prussiano (atualmente, Alemanha), disseminou o conceito de “modos de produção”, formas características utilizadas pelas civilizações para produzirem seus bens ao longo da história. Aprofundou-se no estudo das características do capitalismo, tendo como principal obra “O Capital”. Grande pensador do século XIX, Marx foi ainda sociólogo, filósofo, historiador e cientista político. É considerado um dos autores mais influentes da história. A seguir vamos ressaltar as principais características de cada um destes modos de produção. Modo Primitivo ou Comunismo Primitivo Trata-se das organizações tribais e coletivistas mais primitivas das primeiras sociedades humanas. Este modo de produção, comumente associado às sociedades humanas tribais (algumas ainda existentes em locais remotos) foi a forma de produção dominante nos períodos paleolítico e neolítico. As atividades econômicas mais importantes são a caça, a pesca, a coleta de tubérculos, frutos e demais alimentos vegetais e, em períodos posteriores ou sociedades mais avançadas, sistemas de agricultura rudimentar. Do ponto de vista social, trata-se de uma sociedade sem classes bem definidas. Em razão do pequeno ou nulo superávit (produção acima das necessidades básicas para a sobrevivência) não há formação de uma elite significativa. A produção é distribuída de forma relativamente igual para todos os membros da sociedade, que atuam de forma coletiva. 11 Neste período ocorreu aquela que é considerada uma das mais importantes revoluções da nossa história e da economia: a invenção da agricultura. A agricultura permitiu a fixação das sociedades em determinadas regiões, contrariando a tendência nômade anterior (exigida porque a atividade de coleta e caça é extensiva e pode rapidamente exaurir um determinado ambiente, exigindo o deslocamento constante). A agricultura desenvolveu-se principalmente às margens de rios e outras fontes de água doce. O benefício mais importante desta localização, além da fonte de água para consumo, era a fertilidade dos terrenos ao redor. Modo de produção Asiático Assim denominado por Marx para representar, de forma comum, as sociedades da Fenícia, Mesopotâmia e Pérsia antiga (entre outras da região do Oriente Médio), e as civilizações antigas hoje denominadas China, Índia e Egito. Trata-se de uma simplificação feita por Marx para abranger sociedades que tinham algumas características importantes em comum. Do ponto de vista econômico, todas elas apresentavam uma base na agricultura, já bastante mais desenvolvida aqui do que a agricultura rudimentar observada no modo Primitivo. A produção de grãos para alimentação difundiu-se entre várias destas “novas civilizações”, e diversas técnicas agrícolas passaram a ser utilizadas de forma disseminada. Houve ainda o desenvolvimento de equipamentos e instrumentos agrícolas, utilizados como auxílio em todas as fases da produção e até no armazenamento de colheitas. Desenvolvimentos em outras áreas, como a construção, atuavam também como apoio à produção, como era o caso da construção de sistemas de irrigação, a exemplo da fertilização de terrenos mais distantes dos vales dos rios, permitindo o aumento da produção. Representação de sistema de irrigação e canais típicos do Egito antigo. Tais sistemas também foram largamente utilizados por outras sociedades, associadas ao modo de produção “Asiático”, e possibilitaram um aumento na produção agrícola. Estas sociedades foram ainda marcadas pela ênfase na construção de grandes obras e monumentos. Outro desenvolvimento importante dessas sociedades foi no ramo da metalurgia, principalmente com a exploração do cobre e bronze. A construção também foi um aspecto fundamental dessas economias, com destaque para os monumentos edificados na época (como pirâmides, jardins suspensos etc.). 12 Por serem sociedades mais eficientes na produção de alimentos e outros bens, elas permitiram a formação de classes diferentes na sociedade, como as elites religiosas. Nessas sociedades é que surgem, pela primeira vez de forma mais formal, a noção de um Estado e de uma classe gestora dos aspectos comuns daquela sociedade. Outros aspectos econômicos importantes que surgem como destaque nessas sociedades foi o uso mais difundido da moeda (dinheiro, representado de forma rudimentar por objetos de valor como gado, conchas, e posteriormente, moedas de cobre) e do comércio. Modo de Produção Antigo Este é o modo de produção associado às civilizações da Grécia e Roma antigas. Trata- se de um modo de produção bastante similar ao modo Asiático, porém com uma ênfase mais formal no uso do trabalho escravo, por isso esse modo, por vezes, é denominado como Modo de produção Escravista. Além das características descritas no modo anterior, essas sociedades eram marcadas por um sistema agrícola mais avançado, rotas de comércio e o uso permanente da guerra como força econômica. A guerra, além de expandir as fronteiras da civilização a outros povos, permitia ainda a captura de mais escravos. Por entenderem que esse modo de produção é similar ao “Asiático”, alguns autores preferem denominar essas sociedades de forma comum, como “Civilizações Clássicas”. Modo de Produção Feudal Apesar de a imagem do feudalismo estar associada à Europa, esse é um modo de produção que se disseminou para diversas civilizações, tanto no ocidente como no oriente, tendo atingido as regiões hoje ocupadas pela Europa continental e insular, norte da África, Oriente Médio, Rússia, China, Japão, entre outras. Do ponto de vista econômico, o aspecto mais marcante é o surgimento de uma classe aristocrática, isto é, os proprietários da terra, cuja mão-de-obra servil está associada a ela. A servidão era a condição das populações que habitavam aquela terra, e estavam de certa forma presos a ela. A mobilidade, portanto, estava restrita. Havia uma rede de obrigações mútuas entre aristocratas e servos, resumidas nas relações sociais conhecidas como “senhoriagem” e “vassalagem”. 13 A base econômica continua sendo a agricultura, porém o período é marcado por um enorme avanço nas práticas artesanais nas áreas têxtil, metalúrgica, produção de ferramentas earmamentos, entre outros. A importância da produção de bens, além da agricultura, cresce de forma nunca vista em nenhum período anterior. Também há avanços extremamente importantes na própria agricultura, construção, na produção de energia e em seu uso na produção (como moinhos). De forma generalizada, há avanços em todas as áreas científicas. Também o comércio é intensificado e expandido. Dissemina-se neste período o uso de metais nobres como moeda, facilitando o comércio entre diferentes civilizações. Capitalismo Surge entre os séculos XIV e XVI, na Europa, a partir do mercantilismo, a intensificação do comércio ocorrida já ao final do período feudal. Na visão de Marx, a característica principal do capitalismo é a criação do trabalho como um fator de produção comercializável. Dessa maneira, o capitalismo é marcado pelo uso do trabalho na forma de uma mercadoria. O capitalismo, assim, é caracterizado por uma sociedade de classes em que, de um lado, há os proprietários do capital (ou capitalistas) e de outro lado há os proprietários de trabalho (ou “desapropriados” de capital), que precisam vender sua força de trabalho. Um dos marcos do capitalismo é o fenômeno histórico denominado “Revolução Industrial”. A Revolução Industrial foi um conjunto de transformações técnicas, tecnológicas, científicas e sociais que permitiram um aumento sem precedentes na produtividade e na variedade de bens produzidos pelas sociedades. Do ponto de vista da dinâmica capitalista, o principal motor de desenvolvimento deste sistema está baseado na livre iniciativa dos empreendedores, que decidem alocar seu capital em empresas e projetos que vislumbram serem lucrativos. Este modo de produção é marcado ainda pelo funcionamento do “mercado”, um ambiente (que pode ser real ou abstrato) de livre negociação de mercadorias. Nesse ambiente, os indivíduos que desejam comprar e os indivíduos que desejam vender determinadas mercadorias encontram-se para negociar preços e quantidades a serem comercializadas. Trataremos de outros aspectos do capitalismo ainda nesta unidade. 14 Comunismo Trata-se de um modo de produção baseado na gestão científica e planejada da produção, em contraposição ao mecanismo de mercado do capitalismo. No comunismo, há um ou mais planejadores centrais que, através de avaliações objetivas e científicas, identificam a quantidade e os tipos de bens que devem ser produzidos. A partir dessa identificação, é feito um planejamento e a alocação dos recursos exigidos para que esta produção ocorra de fato. No limite, o comunismo seria um meio de produção mais eficiente que o capitalismo, por minimizar “desperdícios” que ocorrem normalmente no capitalismo, como o desemprego, o uso de recursos para propaganda e outros elementos da concorrência, além de propiciar um maior ganho de escala na gestão da produção. No seu limite extremo, o comunismo eliminaria outros aspectos de modos de produção anteriores, como a necessidade de se usar moeda para trocas. Na prática, o Comunismo foi um modo de produção idealizado, mas nunca realizado de fato. As experiências econômicas inauguradas pela União Soviética no século XX foram denominadas de “socialismo real”, cujo objetivo era o de estabelecer o comunismo como modo de produção, todavia sucumbiram antes desta realização. Alguns dos aspectos fundamentais ao comunismo, como a democracia plena, não estiveram presentes nessas economias. Descreveremos a seguir as principais características dessa forma de produzir, hoje dominante no mundo em que vivemos. Na observação dessas características, é fundamental fazermos duas ressalvas. Primeiro, quanto à simplicidade das informações colocadas aqui. Naturalmente, tais características são aquelas entendidas como as mais relevantes para se entender o modo de produção em que atuamos. Trata-se de uma visão puramente técnica e econômica do capitalismo, em que buscamos apenas destacar o que é mais relevante para o profissional de Marketing, objetivando entender que o meio em que atua tem preconceitos e valores que não são necessariamente naturais do ser humano, mas provavelmente são induzidos pela nossa forma atual de produzir, consumir e trocar bens. Há muitas outras características que deveriam ser analisadas e mesmo as que são demonstradas aqui deveriam ser estudadas mais profundamente para um completo entendimento do capitalismo. Segundo, quanto à constante evolução do capitalismo. O modo de produção em que atuamos é extremamente dinâmico e evolui constantemente. Foi, aliás, justamente esse caráter de constante adaptação do capitalismo ao seu meio que permitiu que ele se tornasse o 15 modo de produção dominante até hoje, de forma generalizada no mundo. Portanto é importante perceber que ressaltaremos as características elementares, que persistem ao longo do tempo, e que há muitas e constantes mudanças ao longo do tempo sobre as formas com que o capitalismo se desenvolve. Bens e Mercadorias Bens são todos os produtos e serviços que têm alguma utilidade para os indivíduos e que podem ser comercializados de alguma forma. Todas as mercadorias que adquirimos ou vendemos são bens. Também são considerados bens aqueles materiais adquiridos e utilizados para a fabricação de outros bens. Nesse caso, os primeiros são chamados de bens intermediários; enquanto os últimos são denominados bens finais. Mercadorias são, simplesmente, os bens quando transacionados ou comercializados. Eles têm a dupla característica de terem algum valor para as pessoas e poderem ser negociados entre elas. Propriedade privada No capitalismo os bens e direitos são de propriedade de indivíduos (privada) ou do Estado (pública). Na prática, isso significa que os bens, ativos, mercadorias (e mesmo direitos) têm dono certo e identificado. Esse proprietário pode, por conseguinte, fazer o uso que desejar de seus bens, desde que respeite as leis daquele país ou região em que atua. O Estado também pode ser proprietário, porém nos Estados capitalistas modernos a maior parte da propriedade é privada e o Estado atua como garantidor destas propriedades e dos contratos. Fatores de produção A produção é realizada através da combinação de diversos fatores. Esses fatores são comumente categorizados em capital, trabalho e terra. Atualmente, capital e terra confundem- se, pois terra posta à produção também tem as mesmas características de capital. Portanto, essencialmente, os fatores de produção são capital e trabalho que, combinados, permitem a produção de produtos e serviços. Por exemplo, para que sejam fabricados pregos são necessários aço, ferramentas (para cortar e afiar o aço no formato desejado) e algumas pessoas operando estas ferramentas e a matéria-prima para que o produto final seja realizado. Nesse caso, então, o aço e as ferramentas são o capital, enquanto o esforço das pessoas em converter a matéria-prima em pregos é o trabalho. 16 Mercado Mercado é o ambiente, real ou virtual, em que se dão as trocas dos bens. É o local onde as pessoas que querem comprar um bem e as pessoas que querem vender este mesmo bem se encontram para negociar o preço e realizar esta troca. O mercado pode ser, efetivamente, um mercadinho de bairro onde se compram os alimentos da semana. Pode ser também uma Bolsa de Valores, onde ativos financeiros - que também são bens - podem ser negociados. Pode ainda ser um ambiente virtual ou abstrato, por exemplo, um portal na internet onde é feito um leilão de telefones celulares. Divisão do trabalho Trata-se de um dos aspectos mais marcantes do capitalismo. Mesmo em modosde produção mais modernos, havia um grau de certa diversidade nas atividades de um indivíduo. Um típico artesão do feudalismo, por exemplo, era responsável por realizar todo um conjunto de atividades que viriam, ao final, a dar como resultado a produção de um sapato. No capitalismo, porém, a produção é feita de forma extremamente parcelada e especializada. Na produção de um sapato, por exemplo, um funcionário pode ser responsável apenas por colar a sola do sapato no couro, mas ele faz isso de forma extremamente especializada e sem precisar trocar ferramentas e equipamentos. No seu conjunto, com a produção sendo feita por diversas pessoas realizando atividades parciais, mas de forma especializada, há um enorme aumento da produtividade. É uma característica que damos por “natural”, mas que é bastante recente, a nossa especialização em profissões. Dessa forma, um biólogo que trabalhe em uma vinícola pode ser hoje especializado nos processos de fermentação e fazer isso com conhecimento e produtividade inigualáveis, mas pouco sabe dos solos e das épocas do plantio ou mesmo do processo de engarrafamento do vinho. No feudalismo, para compararmos, um vinho provavelmente era feito pela mesma pessoa ou família, que realizavam todo o processo desde o plantio, colheita, fermentação, produção, engarrafamento e venda. Essa maior divisão do trabalho é que permitiu o alcance de maior produtividade e especialização no capitalismo. 17 Representação de uma fábrica de alfinetes. Segundo observado por Adam Smith em seu clássico “Riqueza das Nações”, considerado um dos fundadores da Ciência Econômica moderna, a divisão do trabalho permitia que a produção de alfinetes passasse de 20 unidades por trabalhador (no modelo artesanal) para cerca de 4.800 alfinetes por trabalhador (no modelo industrial), essencialmente em virtude da divisão do trabalho. Uso crescente da Moeda e do comércio A moeda e o comércio já existiam antes do capitalismo, mas é a partir desse modo de produção eles passam a ser essenciais na vida cotidiana de todos. A razão disso é que, como no capitalismo predomina a divisão do trabalho, cada pessoa tende a produzir apenas um tipo de bem ou alguns tipos de bens, porém para sobreviver precisa adquirir uma variedade muito maior de bens. Dessa maneira, a necessidade de comercializar bens é comum a todos. Por exemplo, um indivíduo assalariado vende seu trabalho em troca de moeda e comprar todos os demais bens de que precisa com uso também da moeda. Trataremos mais deste tema em outras unidades. Ao contrário do que algumas pessoas poderiam imaginar, a existência do Estado não é antagônica à existência do capitalismo; é, ao contrário, uma condição necessária. É fato, aliás, notado por diversos historiadores, que o capitalismo somente vigorou naquelas nações que detinham um Estado em pleno funcionamento. Observa-se, ainda, que o capitalismo frutificou primeiro naquelas nações cujo Estado, na nossa concepção moderna, desenvolveu-se de forma plena. Isso ocorre porque o capitalismo somente pode funcionar em um ambiente em que a propriedade privada está garantida, em que há respeito aos contratos e em que há um certo ambiente de segurança. Além disso, existem outros elementos pelos quais o Estado zela e que facilitam muito o desenvolvimento do capitalismo, como, por exemplo, a moeda. 18 Livre Iniciativa ou Liberdade Econômica Se podemos considerar que o motor do capitalismo é o mercado, então podemos dizer que a liberdade econômica é o combustível que faz este motor funcionar. A liberdade econômica é a permissão para que os cidadãos comuns de um país tenham direito a propriedade privada e possam realizar empreendimentos tendo como objetivo o lucro. É o direito de realizar negócios e apropriar-se dos lucros deste negócio. Para que isso seja possível, deve haver um conjunto de leis que permita - e, em alguns casos, estimule - a realização de empreendimentos econômicos privados, além da garantia estatal à propriedade e aos contratos. Em uma sociedade capitalista, considera-se legítimo que um empreendedor aproprie-se dos lucros de seu empreendimento, ainda que parte dos lucros possa ser retida pelo Estado na forma de impostos sobre a renda ou lucro. É justamente esta expectativa dos lucros que motiva as pessoas a realizarem investimentos, estimulando a produção de bens, o emprego e a inovação. Essas são apenas algumas das características do capitalismo, mas que perduram em todas as suas fases desde seu nascimento até os dias atuais, ainda que muitos outros aspectos tenham se alterado de forma significativa. É importante notar a brevidade do capitalismo na vida humana, sobretudo a partir de sua forma mais consolidada, a partir do século XVIII. Na próxima unidade, trataremos de forma mais objetiva de algumas das “Leis” que regem o funcionamento dos mercados e dos negócios dentro deste sistema econômico. 20 ANDERSON, Perry. Passages from Antiquity to Feudalism. Nova Iorque: Verso Books, 1997. MANDEL, Ernest. An Introduction to Marxist Economic Theory. Nova Iorque: Pathfinder Press, 1974. SMITH, Adam. Riqueza das Nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1996. VASCONCELLOS, M. A. S.; ENRIQUEZ GARCIA, M. Fundamentos de Economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. 19 _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________
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