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Conceito de Estado: Elementos Constitutivos

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Estado
Conceito de Estado
	Há autores que posicionam a definição de Estado conforme seu conceito sociológico, outros filosóficos e no âmbito jurídico. O emprego moderno da palavra Estado é de Maquiavel: ‘’Todos os Estados, todos os domínios que tem tido ou tem império sobre os homens são Estados, e são republicas ou principados’’.
	O Estado como ordem política da sociedade é conhecido desde a antiguidade, mas nem sempre carregou a própria denominação. As polis dos gregos traduziam a ideia de Estado, havia vinculo comunitário e aderência à ordem politica e cidadania. No Império Romano remetia a ideia de poder enquanto na idade média outro termo, Laender (países), remetia vertente de países.
	Conforme citado por Oppenheimer, o Estado pela sua origem e essência não passa daquela instituição social, onde um grupo vitorioso impôs a um grupo vencido, com fim de organizar o domínio do primeiro sobre o segundo e resguardar-se contra rebeliões internas e agressões estrangeiras. Nota-se que o conceito do Estado repousa na organização ou institucionalização da violência.
Reaparece na analise de Marx Weber: ‘’Estado, é a comunidade humana que dentro de determinado território reivindica para sim, de maneira bem sucedida, o monopólio da violência legitima. Diante das acepções, Dallari é assertivo em dizer que o Estado é a ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado território (Dalmo de Abreu Dallari). Exposto com precisão a definição de Estado por Dalmo de Abreu Dallari, passamos a analisar os elementos constitutivos do Estado (povo, território e soberania).
População e Povo
	Todas as pessoas presentes no território do Estado, num determinado momento, estrangeiros e apátridas, fazem parte da população. É um conceito demográfico e estatístico não possuindo este vinculo politico. Para o estudo de povo, vale ressaltar que surgiu na Revolução Francesa já que no absolutismo povo é objeto enquanto na democracia é sujeito de ordem politica.
	Afonso Arinos ressalta nossa constituição: ‘’Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido’’. O que é povo? Povo é aquela parte da população capaz de participar, através de eleições, do processo democrático, dentro de um sistema variável de limitações que depende de cada país e de cada época. Nota-se o brilhantismo, população e quadro eleitoral.
	Fazem parte do povo os que estão no estrangeiro devido ao vinculo de cidadania com o ordenamento jurídico, logo, cidadania é a prova de identidade do individuo com o Estado. Três sistemas define o status civitatis ( estado de cidadania): Jus sanguinis, Jus Soli e o sistema misto. Na terminologia do Direito Constitucional Brasileiro emprega-se o vocábulo nacionalidade. 
Nação
	Deve-se ter cuidado para não confundir Estado e nação. O Conceito de nação é subjetivo e da Sociologia ao passo que Estado é objetivo e de realidade jurídica. Mancini, no século XIX afirma que nação é uma sociedade natural de homens, com unidade de território, costumes e língua, estruturados numa comunhão de vida e consciência social. 
	Devemos ter cuidado com os formadores do conceito nação para não cometer erro como exemplo, Nacional-Socialismo de Hitler, quando resumiu a nação na base étnica. Assentar o conceito na analise etnográfica é um erro visto que não há raça pura. A língua seria o dominante da nacionalidade? Não, levamos de exemplo a Suíça com três idiomas. Seria o elemento religioso? A resposta continua negativa.
	Em verdade exprime a Nação o conceito, sobretudo de ordem moral, cultural e psicológica. Aparece nessa concepção como ato de vontade coletiva, inspirados em sentimentos históricos, trazendo lembranças das épocas felizes, guerras, revoluções e calamidades. Segundo o autor francês Hauriou, nação é um grupo fechado oposto as demais formações nacionais.
	Os aspectos históricos, étnicos, psicológico e sociológico dominam o conceito nação e inspira o teor político. Com a politização reclamada, o grupo nacional busca seu coroamento no principio da autodeterminação, organizando sob forma de ordenamento estatal. O Estado se converte assim na personificação jurídica. Atribui o valor jurídico as nacionalidade e desenvolve aquela posição doutrinaria que pretende fazer da nação sujeito de direitos internacionais. É o principio das nacionalidades criada por Manzinni (toda nação tem direito de torna-se Estado). No entanto uma nação pode existir fora de reconhecimento jurídico e em contraste a vontade do Estado ( exemplo, os Judeus).
Território
	É elemento constitutivo do Estado, pensamento dominante da doutrina. Território constitui a base geográfica do poder do Estado e são suas partes, a terra firme, o mar territorial, subsolo e a plataforma continental bem como espaço aéreo. O mar territorial é definido em até 12 milhas para defesa da soberania e 200 milhas para exploração dos recursos naturais, calculando a partir da linha da baixa maré. 
	A expressão Plataforma (profundidade 200 metros) Continental foi utilizada pela primeira vez em 1945 por Truman (Presidente dos EUA): ‘’ os recursos naturais do mar do fundo da plataforma continental, abaixo do alto mar estão submetidos a jurisdição e controle dos EUA’’. Em 1953, a ONU reiterou o ponto de vista firmado anteriormente que o ‘’Estado ribeirinho exerce direitos sobre a plataforma continental para fins de exploração e aproveitamento dos recursos naturais’’. 
	O espaço aéreo dado em vista que a exploração do cosmo é atual, tema é controverso. A analise aqui mencionada refere-se até onde exerce a Terra seu poder gravitacional. A soberania do Estado sobre o espaço aéreo estende-se em altitude até onde haja um interesse publico que possa o Estado reclamar proteção ou ação. 
	As principais teorias para determinar a natureza jurídica do território são:
1. Território-Patrimônio – Mais antiga das teorias, idade média, não distinguia direito publico do direito privado. Território pertencia ao direito das coisas confundindo-se com propriedade. Assina-la Bluntschli (jurista suíço), no direito de soberania do Estado sobre o território, o imperium, como soberania territorial, dominium, como propriedade do Estado. Domínio é de teor jurídico enquanto império de teor político e só pode competir ao Estado. Nessa concepção o território pertencente ao Estado era da mesma natureza do proprietário sobre o imóvel, daí os pactos, concessões, litígios sucessórios em matéria territorial. Território era visto como posse.
2. Território-Objeto - Nessa corrente do Direito o território é visto como coisa mas não na esfera privado como suscitado na corrente anterior e sim na esfera do direito publico. É o território posto na sua exterioridade, acepção corporal. O território estaria para o Estado assim como a coisa para o proprietário. Nessa concepção caracteriza o dominium - o poder sobre as coisas, ao contrario do imperium- poder sobre pessoas.
3. Território-espaço – A soberania não exerce sobre as coisas, mas pessoas, Território não exprime um prolongamento do Estado, mas sua essência. O poder do Estado não é sobre o seu território, mas poder no território e qualquer modificação no território do Estado implica a modificação mesma do Estado. Nas palavras de Zitelman, território é o palco da soberania estatal, o âmbito espacial onde, ao lado da ação soberana, se desenrolam também as atividades econômicas, sociais e culturais do Estado. Não havendo aqui falar de dominium senão imperium, pois é o poder do Estado de obrigar as pessoas no território se faz de maneira única, exemplo, limitações ao direito de propriedade do solo.
4. Teoria do Território competência – Obra dos juristas austríacos da chamada escola de Viena, passam a ver no território um elemento determinante de validez da norma, uma localização de validez da regra jurídica. Abandona o escopo da concepção cientifica e tem como priori a soberania territorial e secundária, o território. Na teoria do território-espaço a importância fundamental pertence ao território enquanto na teoria do território-competência é relevantea soberania territorial.
Soberania
	Soberania surge apenas com o advento do Estado moderno, logo, onde houver Estado haverá soberania. A expressão sourveraineté ( soberania) é francesa, do teórico Bodin. Mas foi em Jellinek a melhor definição, soberania é ‘’ capacidade do Estado a uma auto vinculação e autodeterminação jurídica exclusiva’’.
	Tem como características a indivisibilidade, é irrevogável, elemento essencial do Estado. Com a expressão busca-se, sobretudo assinalar a preeminência do grupo politico, o Estado, sobre os demais grupos sociais, no âmbito externo ou interno. A soberania no Estado trouxe problemas de relevante importância em questão a autoridade conferida ao sujeito titular do poder supremo, sua formação vinha precedida da Idade Média e dos novos reis que surgiam com decomposição dos feudos. A legitimar a soberania na pessoa do titular temos duas doutrinas divididas: As doutrinas teocráticas e doutrinas democráticas.
	Nas doutrinas teocráticas as bases divinas emprestam o poder. Estas dividem-se em : 1. A doutrina da natureza divina dos governantes – faz dos governantes deuses vivos, atribuindo caráter de divindade; 2. A doutrina da investidura divina – doutrina cristã de investidura divina dos reis, sendo estes, delegados por Deus; Doutrina da investidura providencial – Deus é o guia da sociedade, intervenção da divindade na matéria politica em busca do bem comum. Vem dos antigos apóstolos e definido nos pensamentos de Santo Tomás de Aquino.
	Nas doutrinas democráticas, a de grande importância para o Estado moderno, dividimos: 1. A doutrina da soberania popular, sem duvidas a mais democrática, a fração de ‘’cada pedaço da soberania’’ pertence a um individuo, sua base está na igualdade politca dos cidadãos e o sufrágio universal; 2. Doutrina da soberania nacional – A Nação surgi como titular única da Soberania, povo e nação formam uma só entidade compreendida como um ser novo, superior as vontades individuais que a compõem. Tem sua origem na primeira fase da Revolução (1789 – 1791) onde a classe burguesa levantava bandeira que extraia do povo toda legitimidade. Seus princípios estão presentes no DIREITO DO HEMONEM DE 1789 E CONSTITUIÇÃO FRANCESA DE 1791.
Separação dos Poderes
O principio da separação dos poderes de influência no Estado de direito, embora sistematizado na obra de Montesquieu (Do Espirito das Leis), teve precursores na Antiguidade e Idade Média. Devemos observar que Montesquieu não foi inovador, teve como fonte inspiradora a Constituição Inglesa, e na sua visão, era a única capaz de proteger a liberdade individual. Seu equivoco não foi perceber que a Inglaterra já respirava o parlamentarismo, sendo a separação dos três poderes de pouca distinção. Nesse sentido Locke é mais fiel a Constituição Inglesa, pois reporta um quarto poder, a prerrogativa. Dando ênfase a Locke, o poder de maior importância é o legislativo e todos os outros a estes estão subordinados. 
Depois de referir a liberdade Montesquieu que todo homem que detém o poder abusa do mesmo, o abuso vai até o limite. Para que não possam abusar desse poder a sociedade politica deve ser organizada de tal forma que um poder seja freio ao outro, limitando o próprio poder. A teoria dos Pesos e Contrapesos é a garantia da liberdade politica.
A separação dos três poderes é: 1. Executivo – O poder que atua como privilégio de representar os cidadãos e coloca em pratica assuntos deliberados pelo Legislativo; 2. Legislativo – responsável pela elaboração e revisão das leis, fiscaliza o Executivo; 3. Judiciário – Defender os direitos dos cidadãos, através da investigação, apuração julgamento e punição. 
Quando uma única pessoa, singular ou coletiva, concentrar dois poderes, não há liberdade. É de Montesquieu o poder de julgar entre os fundamentais. 
Sistema de Freios e Contrapesos
Surgiu na Inglaterra, na Câmara dos Lordes equilibrando os projetos de leis oriundos da câmara dos comuns (povo) para evitar criação de leis demagogas ou formadas por pressões populares. O objetivo é conter o povo das ameaças aos privilégios da nobreza. Nessa evolução do modelo inglês surgem duas ferramentas, o veto e o impeachment. No veto, o Rei não participa do legislativo, apenas o controla, podendo impedir que a legislação entre em vigor através do veto. No impeachment o parlamento controla os atos executivos dos ministros do Rei, parlamento não executa mas controla o poder executivo. Nesse panorama, o judiciário passa a controlar o abuso dos outros poderes.
Importante lembrar que os poderes (que reúnem órgãos) são autônomos e não soberanos ou independentes. Outra idéia equivocada a respeito da separação de poderes é a de que os poderes (reunião de órgãos com funções preponderantes comuns) não podem, jamais, intervir no funcionamento do outro. Ora, esta possibilidade de intervenção, limitada, na forma de controle, é a essência da idéia de freios e contrapesos.
Controle na CF88
	Dividido o poder e superada a idéia da prevalência de um sobre o outro, através da compreensão da necessidade de equilíbrio, independência e harmonia entre eles, admitindo-se, inclusive a interferência entre eles, ganha força a idéia de controle e vigilância recíprocos de um poder sobre o outro relativamente ao cumprimento dos deveres constitucionais de cada um. Aí estão presentes os elementos essenciais caracterizadores do moderno conceito do princípio da separação dos poderes.
	CONTROLE, aqui entendido ‘’tanto o exercício como o resultado de funções especificas que destinam a realizar a contenção do poder do Estado, seja qual for sua manifestação, dentro do quadro constitucional que lhe for adscrito’’. Destacado o conceito de controle de DIOGO DE FIGUEIREDO MOREIRA NETO, valemo-nos, também, da classificação idealizada pelo autor para a análise de exemplos de controle da Constituição do Brasil de 1988. Vejamos: “Sob o critério objetivo as funções de controle podem ser agrupadas em quatro modalidades básicas: 1 – controle de cooperação; 2 – controle de consentimento; 3 – controle de fiscalização e 4 – controle de correção. (destacamos) De acordo com esta classificação: 1 – controle de cooperação: O controle de cooperação é o que se perfaz pela co-participação obrigatória de um Poder no exercício de função de outro. Pela cooperação, o Poder interferente, aquele que desenvolve essa função que lhe é atípica, tem a possibilidade de intervir, de algum modo especifico, no desempenho de uma função típica do Poder interferido, tanto com a finalidade de assegurar-lhe a legalidade quanto à legitimidade do resultado por ambos visado. 2 – Controle de consentimento: O controle de consentimento é o que se realiza pelo desempenho de funções atributivas de eficácia ou de exequibilidade a atos de outro Poder. Pelo consentimento, o Poder interferente, o que executa essa função que lhe é atípica, satisfaz a uma condição constitucional de eficácia ou de exequibilidade de ato do Poder interferido, aquiescendo ou não, no todo ou em parte, conforme o caso, com aquele ato, submetendo-o a um crivo de legitimidade e de legalidade. 3 – Controle de fiscalização: O controle de fiscalização é o que se exerce pelo desempenho de funções de vigilância, exame e sindicância dos atos de um Poder por outro. Pela fiscalização, o Poder interferente, o que desenvolve essa função atípica, tem a atribuição constitucional de acompanhar e de formar conhecimento da prática funcional do Poder interferido, com a finalidade de verificar a ocorrência de ilegalidade ou ilegitimidade em sua atuação. 4 – Controle de correção: O controle de correção é o que se exerce pelo desempenho de funções atribuídas a um Poder de sustar ou desfazer atos praticados por um outro. Pela correção, realiza-se a mais drástica das modalidades de controle, cometendo-se ao Poder interferente a competência constitucional de suspender a execução, ou de desfazer, atos do Poder interferido que venham a ser considerados viciados de legalidade ou de legitimidade.”
Sistematizando:

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