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Erucismo e Himenopterismo: Revisão Bibliográfica

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA 
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE 
DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA 
CURSO DE MEDICINA 
 
 
 
 
 
 
 
 
Arthur Ribeiro Segatto 
 
 
 
 
 
 
 
 
ERUCISMO E HIMENOPTERISMO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
Santa Maria, RS 
2021 
 
 
Arthur Ribeiro Segatto 
 
 
 
 
ERUCISMO E HIMENOPTERISMO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 
 
 
 
 
 
Revisão bibliográfica apresentada como 
requisito parcial para obtenção de 
aprovação na subárea de Parasitologia 
Médica da disciplina de Microbiologia e 
Parasitologia Médica, no Curso de 
Medicina, na Universidade Federal de 
Santa Maria (UFSM, RS). 
 
 
 
 
Orientador: Prof. Dr. Daniel Roulim Stainki 
 
 
 
 
 
 
 
Santa Maria, RS 
2020 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 4 
2. DESENVOLVIMENTO........................................................................................... 6 
2.1. ERUCISMO....................................................................................................... 6 
2.1.1. Aspectos ecológicos, biológicos e comportamentais que podem 
influenciar nos acidentes............................................................................... 6 
2.1.2. Estudo dos Acidentes..................................................................................... 7 
2.1.2.1. Agentes Agressores.................................................................................... 7 
2.1.2.2. Classificação e Apresentação Clínica.......................................................... 9 
2.1.2.3. Diagnóstico................................................................................................ 11 
2.1.2.4. Conduta Terapêutica................................................................................. 12 
2.1.2.5. Prognóstico................................................................................................ 14 
2.1.3. Profilaxia dos Acidentes............................................................................... 14 
2.1.4. Importância Médica....................................................................................... 14 
2.2. HIMENOPTERISMO....................................................................................... 14 
2.2.1. Aspectos ecológicos, biológicos e comportamentais que podem 
influenciar nos acidentes............................................................................. 15 
2.2.2. Estudo dos Acidentes................................................................................... 16 
2.2.2.1. Agentes Agressores.................................................................................. 16 
2.2.2.2. Classificação e Apresentação Clínica........................................................ 19 
2.2.2.3. Diagnóstico................................................................................................ 22 
2.2.2.4. Conduta Terapêutica................................................................................. 22 
2.2.3. Profilaxia dos Acidentes............................................................................... 24 
2.2.4. Importância Médica....................................................................................... 25 
3. CONCLUSÃO...................................................................................................... 25 
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 27
4 
 
1. INTRODUÇÃO 
A ordem Lepidoptera possui mais de 100 mil espécies de insetos distribuídos 
pelo planeta e conhecidos na forma adulta como borboletas ou mariposas. As formas 
adultas raramente causam problemas ao homem (lepidopterismo), com exceção a 
alguns surtos epidêmicos de dermatite. Os acidentes com as formas larvais do inseto 
(lagartas, taturanas) são denominados erucismo (CIMERMAN e CIMERMAN, 2003). 
O erucismo (de origem latina, eruca = larva/lagarta) é um acidente causado 
pelo contato de cerdas de lagartas com a pele, cujas três principais manifestações 
clínicas são as dermatológicas, as hemorrágicas e as osteoarticulares (MINISTÉRIO 
DA SAÚDE; CIMERMAN e CIMERMAN, 2010, 2003). Trata-se de um acidente 
extremamente comum em todo o Brasil, resultando, em geral, em curso agudo e 
evolução benigna (com exceção os acidentes com Lonomia sp.) (MINISTÉRIO DA 
SAÚDE, 2001). 
As principais famílias de lepidópteros causadoras de acidentes, na sua forma 
larval, são Megalopygidae, Saturniidae e Arctiidae. Dados das regiões Sul e Sudeste 
indicam que existe uma sazonalidade na ocorrência desses acidentes, que se 
expressam mais nos meses quentes e chuvosos (novembro a abril), coincidindo com 
o desenvolvimento da fase larvária das mariposas. Os acidentes por Lonomia são 
descritos predominantemente na região Sul (Rio Grande do Sul e Santa Catarina), 
menos frequentemente, no Pará e Amapá; casos isolados em outros estados têm sido 
registrados (Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Maranhão, Amazonas, Goiás). Os 
trabalhadores rurais são os principais atingidos, embora o grupo etário pediátrico seja 
o mais acometido, com ligeiro predomínio do sexo masculino. Já os casos graves e 
óbitos têm sido registrados em idosos com patologias prévias (MINISTÉRIO DA 
SAÚDE, 2001, 2010). 
Além disso, a pararamose ou reumatismo dos seringueiros é uma forma de 
erucismo que ocorre em seringais cultivados causada pela larva da mariposa Premolis 
semirufa, vulgarmente chamada pararama. Os acidentes com a pararama, até o 
presente, parecem restritos à Amazônia, mais particularmente aos seringais 
cultivados no estado do Pará, ocorrendo durante todo o ano, com discreta redução 
nos meses de novembro a janeiro, época menos favorável à extração do látex. As 
5 
 
vítimas, em quase sua totalidade, são homens que se acidentam durante o trabalho 
de coleta da seiva das seringueiras (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). 
Já os insetos da ordem Hymenoptera, por sua vez, ferroam em defesa própria 
ou para dominar sua presa. Seus venenos contêm uma grande variedade de aminas, 
peptídeos e enzimas que causam reações locais e sistêmicas. Pertencem à ordem 
Hymenoptera os únicos insetos que possuem ferrões verdadeiros, existindo três 
famílias de importância médica: Apidae (abelhas e mamangavas), Vespidae (vespa 
amarela, vespão e marimbondo ou caba) e Formicidae (formigas) (JAMESON; 
MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020, 2001). 
Embora o efeito tóxico de várias ferroadas possa ser fatal para humanos, quase 
todas as mortes ocorridas nos Estados Unidos por ferroadas de himenópteros 
resultam de reações alérgicas. A incidência dos acidentes por himenópteros é 
desconhecida, porém a hipersensibilidade provocada por picada de insetos tem sido 
estimada, na literatura médica, em valores de 0,4% a 10%, preferencialmente em 
adultos e nos indivíduos profissionalmente expostos. Os relatos de acidentes graves 
e de mortes pela picada de abelhas africanizadas são consequência da maior 
agressividade dessa espécie (ataques maciços) e não das diferenças de composição 
de seu veneno (JAMESON; MARTINS e RAPOSO; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020, 
2010, 2001). 
A distribuição geográfica dos principais himenópteros de importância médica 
no país deve-se à sua introdução no Brasil. As abelhas de origem alemã (Apis 
mellifera mellifera) foram introduzidas em 1839, enquanto as italianas (Apis mellifera 
ligustica), introduzidas em 1870, foram levadas principalmente ao sul do Brasil. Já em 
1956, foram introduzidas as abelhas africanas (Apis mellifera scutellata), as quais, em 
conjunto com seus híbridos com as abelhas europeias, são responsáveis pela 
formação das chamadas abelhas africanizadas que, hoje, dominam toda a América 
do Sul, a América Central e parte da América do Norte (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 
2001). 
Os acidentes por vespas, por sua vez, devem-se a algumas famílias de 
vespídeos,como Synoeca cyanea (marimbondo-tatu), e de pompilídeos, como Pepsis 
fabricius (marimbondo-cavalo), encontrados em todo o território nacional. Já as 
espécies de formigas de interesse médico mais comuns são a Solenopsis invicta, a 
6 
 
formiga lava-pés vermelha, originária das regiões Centro-Oeste e Sudeste 
(particularmente o Pantanal Mato-Grossense) e responsável pelo quadro pustuloso 
clássico do acidente; e a Solenopsis richteri, a formiga lava-pés preta, originária do 
Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). 
2. DESENVOLVIMENTO 
2.1. ERUCISMO 
2.1.1. Aspectos ecológicos, biológicos e comportamentais que podem 
influenciar nos acidentes 
O ciclo biológico dos lepidópteros apresenta quatro fases distintas: ovo, larva, 
pupa e adultos. Em Lonomia sp. observaram-se os seguintes períodos: 
a) Ovo - 30 dias de período embrionário; 
b) Larva - encontrada nos troncos das árvores, alimentando-se de folhas, 
esta etapa dura 59 dias; 
c) Pupa - permanece em dormência no solo por períodos de 45 dias; 
d) Adulto - vive cerca de 15 dias. Após o acasalamento ocorre a oviposição. 
As lagartas alimentam-se de folhas, principalmente de árvores e arbustos 
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). Suas propriedades urticantes ocorrem pela 
presença de pelos ocos em cujo interior se encontra líquido urticante secretado por 
células situadas na base do mesmo (células tricógenas). Quando a cerda penetra a 
pele e se quebra, o líquido exerce sua ação irritante (CARDOSO e HADDAD JUNIOR, 
2005). 
Todavia, não há uma toxina única. Em geral, as toxinas de todas as espécies 
são constituídas de proteínas termolábeis. Algumas espécies possuem enzimas 
proteolíticas, e outras ativam o plasminogênio e têm atividade semelhante à da tripsina 
e quimiotripsina. Pesquisas demonstraram a presença de histamina na secreção de 
alguns gêneros, enquanto trabalhos recentes demonstraram uma serina estearase 
semelhante à calicreína nas cerdas, que ativariam a sequência das cininas 
(CARDOSO e HADDAD JUNIOR, 2005). 
Algumas frações do veneno do gênero Lonomia sp. foram isoladas, tais como 
fosfolipase, substância caseinolítica e ativadora de complemento, mas não se 
7 
 
conhecendo exatamente o seu papel no envenenamento humano. Verificou-se 
hipofibrinogenemia atribuída a uma atividade fibrinolítica intensa e persistente, 
associada a uma ação pró-coagulante moderada. A ação do veneno parece também 
estar associada à diminuição dos níveis de fator XIII, responsável pela estabilização 
da fibrina e controle da fibrinólise. Não se observou alteração nas plaquetas 
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). 
 
2.1.2. Estudo dos Acidentes 
2.1.2.1. Agentes Agressores 
As principais famílias de lepidópteros causadoras de erucismo são: 
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001, 2010) 
a) Família Megalopygidae: popularmente conhecidos por sauí, lagarta-de-
fogo, chapéu-armado, taturana-gatinho, taturana-de-flanela; os 
megalopigídeos são insetos que apresentam dois tipos de cerdas: as 
verdadeiras, pontiagudas e que contêm as glândulas basais de veneno; 
e outras, de cerdas mais longas, coloridas e inofensivas. Nesta família 
possuem destaque os gêneros Podalia sp. e Megalopyge sp.; 
Figura 1 – Lagarta de mariposa do gênero Podalia sp. 
 
Fonte: (HOSKINS, 2021) 
8 
 
b) Família Saturniidae: também conhecidas por taturana, orugas ou rugas 
(no sul do Brasil) e beijus-de-tapuru-de-seringueira (no norte do Brasil). 
As lagartas de saturnídeos apresentam “espinhos” ramificados e 
pontiagudos de aspecto arbóreo, com glândulas de veneno nos ápices. 
Apresentam tonalidades esverdeadas, exibindo no dorso e laterais, 
manchas e listras, características de gêneros e espécies. Muitas vezes 
mimetizam as plantas que habitam. Nesta família se incluem as lagartas 
do gênero Lonomia sp, causadoras de síndrome hemorrágica, bem 
como as dos gêneros Automeris sp., Hylesia sp. e Dirphia sp.; 
Figura 2 – Lagarta do gênero Lonomia, espécie Lonomia obliqua. 
 
Fonte: (MEDEIROS, TORRES e TROSTER, 2014, p. 446) 
c) Família Arctiidae: nela se incluem as lagartas Premolis semirufa, 
causadoras da pararamose (Figura 3). 
9 
 
Figura 3 – Lagarta da espécie Premolis semirufa 
 
Fonte: Domínio público 
 
2.1.2.2. Classificação e Apresentação Clínica 
As manifestações clínicas são predominantemente do tipo dermatológico, 
dependendo da intensidade e extensão do contato. Inicialmente, há dor local intensa, 
edema, eritema e prurido local eventual, podendo ser acompanhado também por 
lesões puntiformes no local de contato com as cerdas. Existe enfartamento ganglionar 
regional característico e doloroso. Nas primeiras 24 horas, a lesão pode evoluir com 
vesiculação e, mais raramente, com formação de bolhas e necrose na área do contato. 
Os sintomas normalmente regridem sem maiores complicações (MINISTÉRIO DA 
SAÚDE, 2001). 
As manifestações hemorrágicas, causadas principalmente pelas lagartas do 
gênero Lonomia sp., quando em contato com a pele humana, produzem queimaduras 
à semelhança de qualquer outra taturana. Manifestações gerais e inespecíficas 
podem surgir mais tardiamente, tais como: cefaleia holocraniana, mal-estar geral, 
náuseas e vômitos, ansiedade, mialgias e, em menor frequência, dores abdominais, 
hipotermia, hipotensão. Após um período que pode variar de uma até 48 horas, 
instala-se um quadro de discrasia sanguínea, acompanhado ou não de manifestações 
10 
 
hemorrágicas que costumam aparecer oito a 72 horas após o contato. Equimoses 
podem ser encontradas podendo chegar a sufusões hemorrágicas extensas, 
hematomas de aparecimento espontâneo ou provocados por trauma ou em lesões 
cicatrizadas, hemorragias de cavidades mucosas (gengivorragia, epistaxe, 
hematêmese, enterorragia), hematúria macroscópica, sangramentos em feridas 
recentes, hemorragias intra-articulares, abdominais (intra e extraperitoniais), 
pulmonares, glandulares (tireoide, glândulas salivares) e hemorragia 
intraparenquimatosa cerebral. Existe consumo de fatores de coagulação e a 
insuficiência renal aguda aparece como complicação dos fenômenos hemorrágicos 
(CIMERMAN e CIMERMAN; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003, 2001). 
Figura 4 – Acidente precoce da mão de uma criança que manipulou uma lagarta 
 
Fonte: (CARDOSO e HADDAD JUNIOR, 2005) 
As manifestações osteoarticulares ocorrem principalmente nos seringueiros da 
região Amazônica que entram em contato com as lagartas do gênero Premolis. A 
reação cutânea inicial é semelhante à das outras espécies de lagartas (dor, prurido e 
eritema), podendo perdurar por horas ou poucos dias, regredindo no curso de uma 
semana, na maioria dos casos. Entretanto, a exposição subsequente e continuada 
acaba por levar o paciente a uma artrite crônica deformante, incorrendo em uma 
limitação transitória dos movimentos articulares dos dedos comprometidos, com 
incapacitação funcional temporária na maioria dos acidentados. Nesse limitado grupo 
de indivíduos, ao edema crônico segue-se fibrose periarticular que imobiliza 
11 
 
progressivamente a articulação atingida, levando ao quadro final de anquilose, com 
deformações que simulam a artrite reumatoide (CIMERMAN e CIMERMAN; 
MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003, 2001). 
Figura 5 – Mão de um paciente com pararamose 
 
Fonte: Domínio público 
 
2.1.2.3. Diagnóstico 
O diagnóstico médico é feito com base nas manifestações clínicas. O 
diagnóstico de envenenamento por Lonomia é feito através da identificação do agente 
ou pela presença de quadro hemorrágico e/ou alteração da coagulação sanguínea, 
em paciente com história prévia de contato com lagartas. O diagnóstico diferencial 
com as dermatites urticantes provocadas por outros lepidópteros deve ser feito pela 
história clínica, identificação do agente e presença de distúrbios hemostáticos. Na 
12 
 
ausência de síndrome hemorrágica, a observação médica deve ser mantida por 24 
horas, para o diagnóstico final, considerando a possibilidadede tratar-se de contato 
com outro lepidóptero ou acidente com Lonomia sem repercussão sistêmica 
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010, 2001). 
O diagnóstico também pode ser realizado laboratorialmente. Cerca de 50% dos 
pacientes acidentados por Lonomia apresentam distúrbio na coagulação sanguínea, 
com ou sem sangramentos. O tempo de coagulação auxilia no diagnóstico de acidente 
por Lonomia e deve ser realizado para orientar a soroterapia nos casos em que não 
há manifestações hemorrágicas evidentes (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010). 
O exame histopatológico das lesões também pode auxiliar o diagnóstico. Os 
aspectos histopatológicos da dermatite induzida ou natural consistem em espongiose, 
degeneração hidrópica, edema da derme superior e infiltrado linfoplasmocitário 
(CARDOSO e HADDAD JUNIOR, 2005). 
Figura 6 – Exame histopatológico de área cutânea após contato com lagarta 
 
Fonte: (CARDOSO e HADDAD JUNIOR, 2005) 
 
2.1.2.4. Conduta Terapêutica 
Para o quadro local, o tratamento é sintomático, e este inclui: lavagem da região 
com água fria, uso de compressas frias ou geladas, analgésicos, infiltração local com 
13 
 
anestésico do tipo lidocaína 2%, elevação do membro acometido e uso de 
corticosteroides tópicos e anti-histamínico oral. O quadro local apresenta boa 
evolução, regredindo no máximo em dois a três dias sem maiores complicações ou 
sequelas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010, 2001). 
Nos acidentes com manifestações hemorrágicas, o paciente deve ser mantido 
em repouso, evitando-se traumas mecânicos. Agentes antifibrinolíticos também têm 
sido utilizados, como o ácido épsilon-aminocapróico (Ipsilon, ampola de 1g e 4g) e a 
aprotinina (Trasylol), utilizada na Venezuela, porém não disponível no nosso meio. A 
correção da anemia deve ser instituída por meio da administração de concentrado de 
hemácias. Sangue total ou plasma fresco são contra-indicados, pois podem acentuar 
o quadro de coagulação intravascular (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). 
O soro antilonômico deve ser administrado de acordo com a intensidade e 
gravidade das manifestações hemorrágicas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010): 
Tabela 1 – Número de ampolas de soro antilonômico de acordo com a gravidade do 
acidente 
Acidente Soro Gravidade 
Nº de 
ampolas 
Lonômico 
Antilonômico 
(SALon) 
Leve: quadro local apenas, sem 
sangramento ou distúrbio na coagulação 
– 
Moderado: quadro local presente ou não, 
presença de distúrbio na coagulação, 
sangramento em pele e/ou mucosas 
5 
Grave: independente do quadro local, 
presença de sangramento em vísceras 
ou complicações com risco de morte ao 
paciente 
10 
Fonte: (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010, p.73) 
Por causa da possibilidade de se tratar de acidente hemorrágico por Lonomia 
sp, todo o paciente que não trouxer a lagarta para identificação deve ser orientado 
para retorno, no caso de apresentar sangramentos até 48 horas após o contato. A alta 
pode ser dada após a remissão do quadro local, com exceção dos acidentes por 
14 
 
Lonomia, nos quais o paciente deve ser hospitalizado até a normalização dos 
parâmetros clínicos e laboratoriais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001, 2010). 
As manifestações osteoarticulares do erucismo, pelo contato com a pararama, 
não possuem conduta terapêutica específica. No pós-contato imediato o tratamento 
segue o descrito para dermatite por contato com larvas urticantes, mas as formas 
crônicas, com artropatia, deverão ter acompanhamento especializado (CIMERMAN e 
CIMERMAN; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003, 2001). 
 
2.1.2.5. Prognóstico 
Tornam o prognóstico mais reservado (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001): 
 Acidentes com elevado número de lagartas e contato intenso com as 
larvas; 
 Acidentes em idosos; 
 Patologias prévias do tipo hipertensão arterial e úlcera péptica, entre 
outras, e traumatismos mecânicos pós-contato. 
 
2.1.3. Profilaxia dos Acidentes 
Ao coletar frutas no pomar, realizar atividades de jardinagem ou em qualquer 
outra em ambientes silvestres, observar bem o local, troncos, folhas, gravetos antes 
de manuseá-los, fazendo sempre o uso de luvas para evitar o acidente. A incidência 
maior de acidentes deve-se ao desmatamento, queimadas, extermínio de predadores 
naturais, loteamentos sem planejamento e sem avaliação do impacto ecológico que 
isto acarreta, obrigando a procura destas espécies por outros ambientes para 
sobreviver, onde se dá o contato com o homem (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020). 
 
2.1.4. Importância Médica 
Os acidentes por erucismo são de importância médica quando tendem a 
apresentar complicações. O contato com lagartas do gênero Lonomia sp. pode 
desencadear síndrome hemorrágica que, nos últimos anos, vem adquirindo 
15 
 
significativa importância médica em virtude da gravidade e da expansão dos casos, 
principalmente na região Sul. O mecanismo pelo qual a toxina da Lonomia sp. induz 
à síndrome hemorrágica ainda não está esclarecido. Sua principal complicação é a 
insuficiência renal aguda (até 5% dos casos), sendo mais frequente em pacientes 
acima de 45 anos e naqueles com sangramento intenso (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 
2001). 
 
2.2. HIMENOPTERISMO 
2.2.1. Aspectos ecológicos, biológicos e comportamentais que podem 
influenciar nos acidentes 
Os venenos das diversas espécies de himenópteros são diferentes em termos 
bioquímicos e imunológicos. Os efeitos tóxicos diretos são mediados por misturas de 
substâncias de baixo peso molecular, como serotonina, histamina, acetilcolina e várias 
cininas (JAMESON, 2020). 
As toxinas polipeptídicas contidas no veneno das abelhas melíferas (A. 
mellifera) incluem: a melitina, que lesiona as membranas celulares; a proteína 
desgranuladora dos mastócitos, que provoca liberação de histamina; a neurotoxina 
apamina; o composto anti-inflamatório adolapina; e as enzimas contidas hialuronidase 
e fosfolipases, contidas na peçonha. A hialuronidase promove a difusão do veneno 
pelos tecidos por meio da hidrólise do ácido hialurônico, afetando as junções 
celulares. A fosfolipase A2, o principal alérgeno, e a melitina são agentes 
bloqueadores neuromusculares responsáveis por provocar paralisia respiratória, com 
poderosa ação destrutiva sobre membranas biológicas (como as hemácias, 
produzindo hemólise) e representam aproximadamente 75% dos constituintes 
químicos do veneno. Juntas, as fosfolipases e a hialuronidase são os principais 
compostos responsáveis pelos casos de reação anafilática ao veneno das abelhas. 
Ainda, a apamina representa cerca de 2% do veneno total e se comporta como 
neurotoxina de ação motora, enquanto o cardiopeptídeo, não tóxico, tem ação 
semelhante às drogas ß adrenérgicas e demonstra propriedades antiarrítmicas 
(JAMESON; MINISTÉRIO DA SAÚDE; BLANCO e MELO, 2020, 2001, 2014). 
16 
 
A composição do veneno das vespas é ainda pouco conhecida. Constitui-se 
também de mistura de substâncias com propriedades toxicas e alergênicas, podendo, 
da mesma forma que o veneno das abelhas, causar acidentes e hipersensibilizar 
vítimas. Entretanto, embora ambos os venenos contenham hialuronidase, fosfatase 
ácida e fosfolipase, a melitina e a fosfolipase A2 (toxinas mais potentes do veneno) só 
estão presentes em venenos de abelhas (HATEM, MACEDO e FILHO, 2013). 
Por outro lado, o veneno da formiga lava-pés (gênero Solenopsis) é produzido 
em uma glândula conectada ao ferrão e é cerca de 90% constituído de alcaloides 
oleosos, onde a fração mais importante é a Solenopsin A, cujo efeito é citotóxico. 
Menos de 10% têm constituição proteica, com pouco efeito local, mas capaz de 
provocar reações alérgicas em determinados indivíduos. A morte celular provocada 
pelo veneno promove diapedese de neutrófilos no ponto de ferroada (MINISTÉRIO 
DA SAÚDE, 2001). 
 
2.2.2. Estudo dos Acidentes 
2.2.2.1. Agentes Agressores 
Dentre os himenópteros de importância médica, a ordem Hymenoptera se 
divide em duas subordens: Symphyta, onde predominam as espécies fitófagas e os 
adultos apresentamabdome aderente ao tórax, e Apocrita onde a maioria das 
espécies é entomófaga e os adultos apresentam o abdome separado do tórax por 
uma forte constrição (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). 
A subordem Apocrita, por sua vez, se divide em Terebrantia, que possui 
ovipositor, e Aculeata com acúleo ou ferrão, cujo número de espécies conhecidas é 
de aproximadamente 50 mil, das quais 10 a 15 mil são formigas (superfamília 
Formicoidea), 10 mil de abelhas (superfamília Apoidea) e 20 a 25 mil de vespas 
(superfamílias Bethyloidea, Scalioidea, Pompiloidea, Sphecoidea e Vespoidea). O 
ferrão dos Aculeata divide-se em duas partes: uma estrutura muscular e quitinosa, 
responsável pela introdução do ferrão e do veneno, e outra glandular, que secreta e 
armazena o veneno e pode apresentar muitas variações. Os Aculeata podem ainda 
ser divididos em dois grupos: espécies que apresentam autotomia (auto amputação) 
ou seja, que perdem o ferrão quando ferroam, pois injetam maior quantidade de 
17 
 
veneno mas perdem o aparelho de ferroar e parte das estruturas do abdome; e que 
não apresentam autotomia, podendo utilizar o aparelho de ferroar várias vezes 
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). 
As abelhas possuem pelos ramificados ou plumosos, principalmente na região 
da cabeça e tórax, e os outros himenópteros possuem pelos simples. O ferrão da 
abelha comum (Apis mellifera) é singular por ser farpado. Em geral, uma pessoa sofre 
apenas uma ferroada de uma abelha ou vespa social, porém, as abelhas 
africanizadas, que respondem agressivamente a intrusões mínimas, contêm uma 
picada com menos peçonha, mas as vítimas tendem a ser mais picadas e, portanto, 
a receber um volume bem maior do veneno (MINISTÉRIO DA SAÚDE; JAMESON, 
2001, 2020). 
Figura 7 – Abelha comum (Apis mellifera) 
 
Fonte: (OREGON, 2021) 
As vespas diferem das abelhas principalmente por apresentarem o abdome 
mais afilado e entre o tórax e o abdome uma estrutura relativamente alongada, 
chamada pedicelo (a sua “cintura”). Formam um grupo extremamente diverso, com 
ampla distribuição ao redor do mundo. As verdadeiramente sociais pertencem à 
família Vespidae, divididas nas subfamílias Stenogastrinae, Vespinae e Polistinae, 
que possuem distribuição em regiões de clima temperado do hemisfério norte. No 
Brasil, são todas pertencentes à subfamília Polistinae; os polistíneos são vespas 
grandes, muito comuns, de coloração avermelhada, às vezes com manchas 
amareladas ou negras, comumente chamados de “marimbondos-caboclos”, e só 
18 
 
atacam quando molestados. O “caboclo verdadeiro” é o Polistes canadensis, chamado 
de “cabapiranga” no Norte do Brasil, e sua subespécie, Polistes canadensis cavapyta, 
é conhecida no sul do país por “cavapitã”, “caba-vespa” e “pitan-vermelha”. Já as 
temidas “caçunungas” (Agelaia vicina) são vespas de porte pequeno (cerca de 1 cm 
de comprimento), coloração escura, com algumas faixas amareladas na cabeça, no 
tórax e no abdome, e são extremamente agressivas, atacando à simples aproximação. 
Ainda, as “camoatins” (Polybia occidentalis scutellaris) atacam quando os ninhos são 
esbarrados ou danificados; e outras espécies, como a “enxuí” (gênero Protopolybia), 
só atacam quando tocadas ou se ocorre grande proximidade (MINISTÉRIO DA 
SAÚDE; FOCACCIA, 2001, 2015). 
Figura 8 – Vespa do gênero Polistes (Polistes canadensis) 
 
Fonte: (DUARTE, 2021) 
Já as formigas, insetos sociais pertencentes à superfamília Formicoidea, 
compreendem inúmeras operárias e guerreiras (não capazes de reprodução) e 
rainhas e machos alados que determinarão o aparecimento de novas colônias. De 
interesse médico são as formigas da subfamília Myrmicinae, como as formigas-de-
fogo ou lava-pés (gênero Solenopsis) e as formigas saúvas (gênero Atta). As 
formigas-de-fogo tornam-se agressivas e atacam em grande número se o formigueiro 
for perturbado, fixando suas mandíbulas na pele e ferroando repetidamente (10-12 
vezes) em torno desse eixo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). 
19 
 
Figura 9 – Formigas da espécie Atta cephalotes; as grandes são rainhas (extrema 
direita, forma alada) 
 
Fonte: Domínio público 
 
2.2.2.2. Classificação e Apresentação Clínica 
As picadas não complicadas de himenópteros causam dor imediata, uma 
reação de placa urticada e eritema, além de edema local, todos os quais costumam 
regredir em algumas horas. Picadas múltiplas podem causar vômitos, diarreia, edema 
generalizado, dispneia, hipotensão e colapso circulatório não anafilático. No entanto, 
as reações ocorrem de acordo com o local e o número de ferroadas, as características 
e o passado alérgico do indivíduo atingido. A morte (não alérgica) diretamente 
causada pelos efeitos da peçonha ocorreu apenas em casos de picadas por várias 
centenas de abelhas melíferas. As ferroadas em língua ou boca podem causar edema 
potencialmente fatal das vias aéreas superiores (JAMESON; MINISTÉRIO DA 
SAÚDE, 2020, 2001). 
As manifestações clínicas desencadeadas pela picada de abelhas podem ser: 
local (ocorre com uma ou poucas ferroadas, com efeitos restritos ao local ou área), 
tóxica sistêmica (resultado de muitas ferroadas) e anafilática (própria do sistema 
imunológico de indivíduos sensíveis) (MINISTÉRIO DA SAÚDE; BLANCO e MELO, 
2001, 2014): 
20 
 
a) Manifestações Locais: após uma ou múltiplas ferroadas; incorre em dor 
aguda local, que tende a desaparecer espontaneamente em minutos, 
deixando vermelhidão, prurido e edema por horas ou dias. Deve alertar 
para um possível estado de sensibilidade e exacerbação de resposta às 
picadas subsequentes. 
b) Manifestações Regionais: são de início lento. Além do eritema e prurido, 
o edema flogístico evolui para enduração local que aumenta de tamanho 
nas primeiras 24-48 horas, diminuindo gradativamente nos dias 
subsequentes. Podem ser tão exuberantes a ponto de limitarem a 
mobilidade do membro. Menos de 10% dos indivíduos que 
experimentaram grandes reações localizadas apresentarão a seguir 
reações sistêmicas. 
c) Manifestações Sistêmicas: são as manifestações clássicas de anafilaxia, 
com sintomas de início rápido (2-3 minutos após a picada). Além das 
reações locais, podem estar presentes sintomas gerais como cefaleia, 
vertigens e calafrios, agitação psicomotora, sensação de opressão 
torácica, entre outros, e sintomas localizados em aparelhos e sistemas, 
como: 1) tegumentares: prurido generalizado, eritema, urticária e 
angioedema; 2) respiratórias: rinite, edema de laringe e árvore 
respiratória, trazendo como consequência dispneia, rouquidão, estridor 
e respiração asmatiforme. Pode haver broncoespasmo; 3) digestivas: 
prurido no palato ou na faringe, edema dos lábios, língua, úvula e 
epiglote, disfagia, náuseas, cólicas abdominais ou pélvicas, vômitos e 
diarreia; 4) cardiocirculatórias: hipotensão, manifestando-se por tontura 
ou insuficiência postural até colapso vascular total. Podem ocorrer 
palpitações e arritmias cardíacas e, quando há lesões preexistentes 
(arteriosclerose), infartos isquêmicos no coração ou cérebro. 
d) Reações Alérgicas Tardias: podem ocorrer vários dias após a(s) 
picada(s) e se manifestarem pela presença de artralgias, febre e 
encefalite, quadro semelhante à doença do soro. 
e) Manifestações Tóxicas: ocorre em ataques múltiplos de abelhas 
(enxames); desenvolve-se um quadro tóxico generalizado denominado 
de Síndrome de Envenenamento. Além das manifestações já descritas, 
há dados indicativos de hemólise intravascular e rabdomiólise, podendo 
21 
 
ocorrer também alterações neurológicas como torpor e coma, 
hipotensão arterial, oligúria/anúria e insuficiência renal aguda. 
Figura 10 - Paciente picado por aproximadamente 800 abelhas. Evolução para óbito 
60 horas após o acidente 
 
Fonte: (FOCACCIA, 2015) 
Os principais alérgenos presentes no veneno das vespas apresentam reações 
cruzadas com os das abelhas e também produzem fenômenos de hipersensibilidade, 
com efeitos locais e sistêmicossemelhantes aos das abelhas, porém menos intensos. 
No caso das formigas, imediatamente após a picada, ocorre a formação de uma 
pápula urticariforme de 0,5 a 1,0 cm no local, com dor que cede com o tempo. Cerca 
de 24 horas após, a pápula dá lugar a uma pústula estéril, que é reabsorvida em sete 
a dez dias. Acidentes múltiplos são comuns em crianças, alcoólatras e pessoas 
incapacitadas. Além disso, pode haver infecção secundária das lesões, causada pelo 
rompimento da pústula pelo ato de coçar (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). 
22 
 
No entanto, ocorre anafilaxia em menos de 2% das vítimas. Especificamente, 
a reação local dolorosa que surge após a picada de formigas ceifeiras (espécies 
de Pogonomyrmex) costuma se estender aos linfonodos e pode causar anafilaxia. Já 
a formiga tocandira ou formiga-bala (Paraponera clavata), pode causar dor pulsante e 
excruciante, com duração de 24 horas após a picada, pois injeta uma neurotoxina 
paralisante potente, a poneratoxina (JAMESON, 2020). 
 
2.2.2.3. Diagnóstico 
O diagnóstico, em ambos os casos, é basicamente clínico. A identificação do 
acidente, na maior parte dos casos, é fácil, já que a dor se torna palpável e o inseto 
em geral é visualizado pelo paciente. O local da picada de abelha é rapidamente 
identificado pelo ferrão preso na pele da vítima, mas o mesmo não ocorre com picadas 
de vespas, as quais, ao contrário das abelhas, não deixam o ferrão no local da picada. 
Além disso, vítimas de enxame às vezes chegam a pronto-atendimento com abelhas 
nas narinas, bocas, ouvidos e cabelos. A área da picada de abelha apresenta ainda 
uma zona central clara, onde normalmente é encontrado o ferrão, circundado por um 
halo avermelhado, que facilita o diagnóstico. No entanto, clinicamente, as 
manifestações de anafilaxia secundária relacionada à picada de insetos são 
indistinguíveis de reações anafiláticas por outras causas (HATEM, MACEDO e FILHO, 
2013). 
Outrossim, não há exames específicos para o diagnóstico, mas exame de urina 
tipo I e hemograma completo podem ser os iniciais nos quadros sistêmicos. A 
gravidade dos pacientes deverá orientar os exames complementares, como, por 
exemplo, a determinação dos níveis séricos de enzimas de origem muscular e as 
dosagens de hemoglobina, haptoglobina sérica e bilirrubinas, nos pacientes com 
centenas de picadas, com síndrome de envenenamento grave (MINISTÉRIO DA 
SAÚDE, 2001). 
 
2.2.2.4. Conduta Terapêutica 
Nos acidentes causados por enxame de abelhas, a retirada dos ferrões da pele 
deve ser feita tão logo possível por raspagem (com lâmina de bisturi, a unha ou a 
23 
 
borda de um cartão de crédito) ou pinçamento, desde que seja de maneira rápida. O 
local deve ser lavado e desinfetado e, em seguida, deve-se aplicar bolsa de gelo ou 
torniquetes, em casos mais graves, para retardar a disseminação do veneno. 
Pacientes vítimas de enxames devem ser mantidos em Unidades de Terapia 
Intensiva, em razão da alta mortalidade observada (MINISTÉRIO DA SAÚDE; 
JAMESON; HATEM, MACEDO e FILHO, 2001, 2020, 2013). 
Quando necessária, a analgesia poderá ser feita pela Dipirona, via parenteral - 
1 (uma) ampola (500 mg) em adultos e até 10 mg/kg peso - dose em crianças. A dor 
e o edema no local da picada podem ser amenizados por meio da aplicação de 
compressas frias, bem como a elevação da área atingida e a administração de anti-
histamínicos orais e loção de calamina tópica também ajudam a aliviar os sintomas. 
(MINISTÉRIO DA SAÚDE; BLANCO e MELO; JAMESON, 2001, 2014, 2020). 
As reações anafiláticas a veneno de abelha ou vespa pode ser uma emergência 
potencialmente fatal que exige ações imediatas. O tratamento de escolha para as 
reações anafiláticas é a administração subcutânea de solução aquosa de adrenalina 
1:1000, iniciando-se com a dose de 0,5 ml, repetida duas vezes em intervalos de 10 
minutos para adultos, se necessário. Nas crianças, usa-se inicialmente 0,01 
ml/kg/dose, podendo ser repetida duas a três vezes, com intervalos de 20 a 30 
minutos, desde que não haja aumento exagerado da frequência cardíaca. O paciente 
deve ser transferido para uma emergência hospitalar onde se possa administrar com 
segurança o tratamento para choque profundo, se necessário, e devem ser mantidos 
em observação por 24 horas para detecção de anafilaxia recorrente, insuficiência 
renal ou coagulopatia (JAMESON; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020, 2001). 
Os glicocorticoides e anti-histamínicos não controlam as reações graves 
(urticária gigante, edema de glote, broncoespasmo e choque), mas podem reduzir a 
duração e intensidade dessas manifestações. São indicados rotineiramente para uso 
intravenoso (IV) o succinato sódico de hidrocortisona, na dose de 500 mg a 1000 mg 
ou succinato sódico de metilprednisolona, na dose de 50 mg, podendo ser repetidos 
a cada 12 horas, em adultos, e 4 mg/kg de peso de hidrocortisona a cada seis horas 
nas crianças (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). 
Para o alívio de reações alérgicas tegumentares, indica-se uso tópico de 
corticoides e uso de anti-histamínicos. Ainda, manifestações respiratórias 
24 
 
asmatiformes, causadas por broncoespasmo podem ser controladas com oxigênio 
nasal, inalações e broncodilatadores tipo β2 adrenérgico (fenoterol ou salbutamol) ou 
com o uso de aminofilina por via IV, na dose de 3 a 5 mg/kg/dose, em intervalos de 
seis horas, numa infusão entre 5 a 15 minutos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). 
Ademais, as medidas gerais de suporte incluem manutenção das condições do 
equilíbrio ácido-básico e assistência respiratória, se necessário. Ainda, deve-se vigiar 
o balanço hidroeletrolítico e a diurese, mantendo volume de 30 a 40 ml/hora no adulto 
e 1 a 2 ml/kg/hora na criança, inclusive usando diuréticos, quando preciso 
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). 
O tratamento do acidente por Solenopsis sp. (lava-pés) deve ser feito pelo uso 
imediato de compressas frias locais, seguido da aplicação de corticoides tópicos. A 
analgesia pode ser feita com paracetamol e há sempre a indicação do uso de anti-
histamínicos por via oral. As pústulas devem ser lavadas e cobertas com bandagem 
e pomada contendo antibiótico para prevenção de infecção bacteriana. Acidentes 
maciços ou complicações alérgicas têm indicação do uso de prednisona, 30 mg, por 
via oral, diminuindo-se 5 mg a cada três dias, após a melhora das lesões. Anafilaxia 
ou reações respiratórias do tipo asmático são emergências que devem ser tratadas 
prontamente tais como nos acidentes por abelhas e vespas. Acidentes por 
Paraponera clavata (tocandira) podem ser tratados de forma semelhante 
(MINISTÉRIO DA SAÚDE; JAMESON, 2001, 2020). 
 
2.2.3. Profilaxia dos Acidentes 
Dentre os métodos de prevenção de acidentes com abelhas encontram-se a 
remoção das colônias de abelhas situadas em lugares públicos ou residências 
(efetuada por profissionais treinados e equipados, preferencialmente à noite ou ao 
entardecer), a não aproximação de colmeias de abelhas africanizadas Apis 
mellifera sem vestuário e equipamento adequados (macacão, luvas, máscara, botas, 
fumigador, etc.) e o caminhar e correr fora da rota de voo das abelhas. Barulhos (como 
sons de motores de aparelho de jardinagem), perfumes fortes, desodorantes, o próprio 
suor do corpo e cores escuras (principalmente preta e azul-marinho) desencadeiam o 
comportamento agressivo e, consequentemente, o ataque de abelhas, devendo, 
portanto, serem evitados (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020). 
25 
 
Outrossim, a imunoterapia profilática pode reduzir o risco de reações 
potencialmente fatais a ferroadas de abelhas e vespas. Injeções repetidas de veneno 
purificado resultam em resposta de anticorpos IgG bloqueadores do veneno e 
reduzem a incidência de anafilaxia recidivante. Em casos de pacientes vítimas de 
reações graves ou anafiláticas, secundárias à picada de insetos, pode-se a 
dessensibilização, realizada por serviços especializados em alergia, é altamente 
efetiva (90-98%) naprevenção de anafilaxia subsequente em pacientes de risco. O 
mesmo ocorre com as formigas: há extratos preparados a partir do corpo inteiro das 
formigas-de-fogo para testes cutâneos e imunoterapia que parecem reduzir a 
incidência de reações anafiláticas (JAMESON; HATEM, MACEDO e FILHO, 2020; 
2013). 
 
2.2.4. Importância Médica 
A importância médica dos acidentes por himenópteros decorrem das 
complicações causadas pela ação do veneno no paciente. As reações de 
hipersensibilidade podem ser desencadeadas por uma única picada e levar o 
acidentado à morte, em virtude de edema de glote ou choque anafilático. Na Síndrome 
de Envenenamento, descrita em pacientes que geralmente sofreram mais de 500 
picadas, distúrbios graves hidroeletrolíticos e do equilíbrio ácido-básico, anemia 
aguda pela hemólise, depressão respiratória e insuficiência renal aguda são as 
complicações mais frequentemente relatadas. Além disso, infecções secundárias são 
comuns, podendo ocorrer abscessos, celulites e erisipela (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 
2001). 
 
3. CONCLUSÃO 
Os seres humanos possuem um histórico de acidentes com lagartas de 
lepidópteros e himenópteros muito anterior à documentação dos mesmos. Fora as 
espécies de interesse médico, a maioria desses acidentes não exercem risco imediato 
além do desconforto das reações inflamatórias e lesões cutâneas iniciais, possuindo 
um eventual regresso de sintomas num período curto. Essas condições, por sua vez, 
26 
 
dificultam a pesquisa, bem como o mapeamento epidemiológico das diferentes 
espécies que mais resultam em acidentes (SOUSA e LIMA, 2018). 
Observa-se também que um grande avanço ocorreu com o desenvolvimento 
de um soro hiperimune específico para neutralizar efetivamente o veneno de Lonomia 
sp., diminuindo assim a probabilidade do desenvolvimento de suas complicações 
hemorrágicas e, consequentemente, reduzindo a ocorrência de óbitos relacionados 
ao atraso ou falha no diagnóstico. No entanto, existem ainda documentações sobre 
agravos sintomáticos associadas à outras espécies que não são tão estudadas quanto 
esta, o que, por sua vez, evidencia a falha na priorização de acidentes por animais 
peçonhentos em geral por programas de saúde pública, o que compromete a 
execução de medidas preventivas conforme a necessidade. Este, infelizmente, ainda 
é um entre muitos outros problemas de saúde negligenciados no Brasil e no mundo 
(CAOVILLA; SOUSA e LIMA, 2007, 2018). 
Igualmente, a imunoterapia profilática, capaz de reduzir o risco de reações 
potencialmente fatais a ferroadas de abelhas e vespas, mostra-se um importante 
aliado na profilaxia dos acidentes graves com complicações. Estatísticas americanas 
documentam aproximadamente 40 óbitos por ano devido à anafilaxia por picada de 
insetos; na Europa, estima-se que esse número esteja em torno de 100. Todavia, 
novamente o Brasil carece de estudos epidemiológicos dessa ordem, ainda que se 
acredite que, pelas características geográficas e climáticas, essas reações sejam 
frequentes no país (FOCACCIA, 2015). 
Apesar disto, clinicamente destaca-se a importância da anamnese e do exame 
físico cuidadosos do paciente para um correto estabelecimento do diagnóstico e do 
tratamento. A análise e a descrição efetiva dos sintomas, bem como o reconhecimento 
da espécie é essencial para a obtenção de um bom diagnóstico e acompanhamento 
efetivo diante das diferentes necessidades que cada acometimento provoca, incluindo 
desde o tratamento dos sintomas iniciais a quaisquer possíveis complicações que 
eventualmente possam ocorrer, de modo a impedir maiores danos aos pacientes 
(ESPINDULA, 2009).
27 
 
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