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02-Sector Público

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INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E AUDITORIA DE MOÇAMBIQUE 
Cursos de Contabilidade e Auditoria, Contabilidade e Fiscalidade, Contabilidade Pública e Autárquica 
FINANÇAS PÚBLICAS
O Sector Público e sua Estrutura
Sector Público é o conjunto de actividades económicas de qualquer natureza exercidas pelas entidades públicas (Estado, associações e instituições públicas), quer assentes na representatividade e na descentralização democrática, quer resultantes da funcionalidade tecnocrática e da desconcentração por eficiência.” (Franco, 1995). 
Sector Público é assim definido como conjunto de instituições e agências directa e indirectamente financiadas pelo Estado, que têm como objectivo final a provisão de bens e serviços públicos. 
Estrutura do Sector Público
O Sector Público Administrativo (SPA) é constituído pelo conjunto de entidades e de serviços da Administração Central, Local e Regional e ainda pela Segurança Social e pelos Fundos Autónomo.
Este sector, cuja actuação se desenvolve com base em critérios não empresariais, ou seja, sem ter por objectivo o lucro, integra as actividades tradicionais do Estado, tais como a sua gestão administrativa (ministérios e demais departamentos públicos), o exercício da segurança e defesa, a administração da justiça pelos tribunais, o lançamento de infraestruturas e todo o conjunto de serviços susceptíveis de satisfazerem as necessidades essenciais da comunidade, como, por exemplo, a assistência médico-hospitalar e o ensino gratuito.
O Sector Público Empresarial (SPE) é constituído pelo conjunto das unidades produtivas do Estado, organizadas e geridas de forma empresarial, integrando as empresas públicas  e as empresas participadas.
· Empresas públicas são i) as organizações empresariais constituídas sob a forma de sociedade de responsabilidade limitada nos termos da lei comercial, nas quais o Estado ou outras entidades públicas possam exercer, isolada ou conjuntamente, de forma directa ou indirecta, influência dominante e ii) as entidades públicas empresariais.
· Empresas participadas são as organizações empresariais em que o Estado ou quaisquer outras entidades públicas, de carácter administrativo ou empresarial, detenham uma participação permanente, de forma directa ou indirecta, desde que o conjunto das participações públicas não origine influência dominante.
Sector Público Administrativo Vs Sector Público Empresarial
Do ponto de vista contabilístico
No Sector Público Empresarial - Não existem diferenças fundamentais em relação às empresas privadas uma vez que, perseguindo fins similares (nomeadamente a criação de excedentes lucro), as empresas públicas utilizam Sistema de Normalização Contabilística (SNC) das empresas privadas.
A própria NICSP do IFAC refere que Contabilidade, Auditoria e Relato Financeiro das empresas públicas “comerciais” devem seguir as Normas Internacionais das empresas privadas;
· Empresas comerciais, industriais, financeiras ou outras, de capitais públicos, cujo principal objectivo é produzir bens e prestar serviços para serem vendidos num mercado;
· Principais recursos financeiros provêm das vendas, mas também podem receber dinheiros públicos;
· Não há orientação estrita para o lucro
· Inclui actividades dominadas exclusivamente por critérios económicos, cujo fim é a produção de bens ou a prestação de serviços visando algum lucro;
· Resultam de mais intervenção do Estado na economia – prestam serviços que se entenderam estrategicamente ser melhor prestados por EPs (p. ex. fugir à concorrência do mercado para a fixação dos preços);
O Sector Público Administrativo – As actividades económicas que, pela sua natureza, são próprias do Estado ou de outras entidades públicas;
· Actividades desenvolvidas de acordo com critérios não empresariais;
· Entidades públicas que visam prestar serviços à comunidade, gratuitos ou semi-gratuitos (com comparticipação directa dos utilizadores);
· Entidades públicas que desenvolvem operações de redistribuição de rendimentos;
· Entidades públicas cujos recursos financeiros provêm essencialmente do Estado ou de outras organizações públicas que, por sua vez, os obtêm dos contribuintes;
· Obedecem às regras da Contabilidade Pública.
Diferenças fundamentais Sector Público Administrativo e Sector Público Empresarial
	Sector Público Administrativo
	Sector Público Empresarial
	· Procura prestar o melhor serviço com os recursos disponíveis;
· Não orientação para lucro;
· Desempenho não pode ser objectivamente medido (mas estão a desenvolver-se indicadores);
· Recursos provêm de impostos e outras contribuições obrigatórias, sem contrapartida directa;
· Obedece a um regime orçamental – ORÇAMENTO formaliza políticas públicas e permite o controlo (da legalidade).
 
	· Orientação para lucro – medida objectiva de desempenho;
· Recursos provêm das vendas.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SECTOR PÚBLICO ADMINISTRATIVO 
Administração Central
A Administração Central inclui os diversos gabinetes ministeriais e as entidades que se encontram sob a sua tutela:
· SERVIÇOS integrados;
· Dependem do Orçamento do Estado (não têm orçamento próprio);
· Incluídos na Conta Geral do Estado;
· Integrados ou dependentes de outras entidades públicas (subentidades);
· Não têm Direcção Financeira própria – é assegurada pela Administração Financeira do Estado;
· Todas as despesas têm que ser superiormente autorizadas;
· Gabinetes ministeriais, direcções gerais, entre outros.
Administração Central Autónoma
· Serviços incluídos no Orçamento do Estado (autónomos);
· Novo Regime da Administração Financeira do Estado;
· Serviços com Autonomia Administrativa (regime geral)
· Apenas gerem as verbas a que têm direito, incluídas nos montantes globais do Orçamento do Estado
· Todos os meses o Conselho Administrativo requer a libertação dos créditos para uso corrente
· Direcção Administrativa é responsável pela gestão financeira e, no fim de cada ano, presta responsabilidades ao Tesouro
· Serviços com Autonomia Administrativa e Financeira (regime excepcional) – receitas próprias cobrem pelo menos 2/3 das despesas totais, ou imperativo constitucional.
· Possuem e decidem sobre o seu próprio património, têm orçamento próprio, gerem o seu dinheiro autonomamente e podem contrair empréstimos até certos limites, assumindo todas as responsabilidades;
· Exemplos: Hospitais, centros de saúde, unidades militares, universidades e escolas públicas, Assembleia da República;
Fundos autónomos são unidades/serviços dedicados exclusivamente à gestão de recursos financeiros (e.g. Fundo de Turismo e Fundo Geral de Aposentações). 
· Não têm independência orçamental, mas o orçamento próprio é publicado separadamente dentro do Orçamento do Estado.
Administração Local
Por sua vez, a Administração Local engloba os órgãos cuja actividade tem por objectivo prosseguir os interesses colectivos próprios da população de uma parte do território nacional (ex: municípios):
· Entidades cujas actividades e poder de decisão são separadas da Administração Central;
· Não se deve confundir com a Administração Local do Estado (entidades do Governo Central prestando serviços numa dada área territorial – p. ex. Direcção Regional da Agricultura);
· Presta serviços visando a satisfação dos interesses da população de um determinado território;
· Consequência de um processo de descentralização territorial administrativa;
· Têm finanças, património e orçamento próprios;
· Independência orçamental
Segurança Social
Relativamente à Segurança Social, saliente-se que a mesma tem sido dotada de autonomia crescente, dispondo de um regime e fundos próprios, encontrando-se, porém, integrada na Lei do Orçamento do Estado:
· O regime é diferenciado;
· Instituições de nível central e regional;
· Prestam serviços sem contraprestação directa, mas exigem contribuições obrigatórias;
· Regras financeiras próprias – Lei de Bases da Segurança Social;
· Subsistema do Orçamento do Estado.
SECTOR PÚBLICO EM MOCAMBIQUE
Os Sectores e Unidades Institucionais
Os Sectores Institucionais agrupam tipos similaresde Unidades Institucionais Residentes, segundo objectivos, funções e comportamentos económicos.
Uma Unidade Institucional é uma entidade económica com capacidade, por si própria, de possuir activos, incorrer em passivos, e envolver-se em actividades económicas e transacções com outras entidades.
Ou seja, uma unidade institucional tem capacidade:
· De possuir e trocar/transaccionar bens ou activos por si própria;
· De tomar decisões e envolver-se em actividades económicas
· De contrair empréstimos e efectuar depósitos em seu próprio nome, assumir outras obrigações e compromissos futuros, e entrar em contratos.
A unidade institucional é um centro elementar de decisão económica. Caracteriza-se por uma unicidade de comportamento e uma autonomia de decisão no exercício da sua função principal.
Uma Unidade Institucional é Residente quando tem um centro de interesse económico no território económico do país em questão, isto é, quando realiza actividades económicas neste território durante um período prolongado (um ano ou mais).
Três conceitos à partida para definir uma Unidade Institucional:
· Território económico
· Centro de interesse económico
· Critério de residência
O Território económico de um país consiste no espaço geográfico administrado por um governo, e dentro do qual pessoas, bens e capitais circula livremente. Inclui: as ilhas que pertencem ao país; o espaço aéreo, as águas territoriais e a plataforma continental que possua em águas internacionais sobre a qual o país goza de direitos exclusivos ou sobre a qual tem ou reclama jurisdição em relação ao direito de explorar recursos nela existentes. 
O território económico também inclui os enclaves territoriais no estrangeiro constituídos por áreas bem demarcadas e que são utilizadas pelo governo, como proprietário ou por arrendamento, para fins diplomáticos, militares, científicos ou outros fins, com o consentimento político formal dos governos dos países em que se encontram fisicamente localizadas; são os casos das embaixadas, consulados, bases militares, estações científicas, serviços de informação ou imigração, agências de assistência, etc. O território económico inclui ainda as zonas francas e unidades exploradas por empresas off-shore.
Uma Unidade Institucional tem um Centro de Interesse Económico dentro de um país quando existe um lugar – habitação, local de produção ou outra instalação – dentro do território económico desse país, no qual ou a partir do qual, desenvolva e tencione continuar a desenvolver um volume significativo de produção de bens e serviços, tanto indefinidamente como durante um período longo mas finito (geralmente um ano ou mais).
Considera-se que uma unidade residente constitui uma unidade institucional desde que goze de autonomia de decisão no exercício da sua função principal, disponha de uma contabilidade completa ou que seja possível e significativo, tanto de um ponto de vista económico como jurídico, elaborar uma contabilidade completa se tal for necessário.
Assim, o sistema considera a existência de 2 tipos de Unidades Institucionais:
I. Famílias consistindo em indivíduos, famílias ou outros grupos de pessoas que partilham a mesma habitação, que partilham total ou parcialmente do mesmo rendimento e riqueza, e que consomem colectivamente certos tipos de bens e serviços. As famílias podem realizar actividades de produção económica.
II. Entidades jurídicas ou sociais que realizam actividades económicas em nome próprio e são reconhecidas juridicamente ou pela sociedade como entidades que existem independentemente das unidades a que elas pertencem ou pelas quais são controladas:
a) Unidades que têm contabilidade completa e autonomia de decisão:
(1) As sociedades de capital,
(2) As sociedades cooperativas e as sociedades de pessoas com personalidade jurídica,
(3) Os produtores públicos dotados de estatuto que lhes confere personalidade jurídica,
(4) As instituições sem fim lucrativo dotadas de personalidade jurídica,
(5) Os organismos públicos administrativos.
b) Unidades que têm contabilidade completa e que se considera terem autonomia de decisão:
(1) As quase-sociedades.
c) Unidades que não têm necessariamente contabilidade completa mas que, por convenção, se considera disporem de autonomia de decisão:
(1) As unidades residentes fictícias
O Sector Público é constituído pelos seguintes subsectores:
· Sociedades não financeiras públicas
· Empresas não financeiras e participadas maioritariamente pelo sector público
· Quase-sociedades não financeiras públicas
· Sociedades financeiras públicas
· Banco Central
· Outras sociedades de depósitos públicos
· Outros intermediários financeiros públicos
· Auxiliares financeiros públicos
· Sociedades de seguros públicos
Administrações Públicas 
· Administração Central
· Estado (incluindo órgãos de Estado – Lei 8/2003)
· Serviços e fundos autónomos da administração central
· Instituições sem fins lucrativos da administração central 
· Administração Local
· Municípios
· Serviços autónomos de administração local
· Instituições sem fins lucrativos da administração local
· Fundos de Segurança Social
· Sociedades Não Financeiras Públicas – é o conjunto de entidades dotadas de personalidade jurídica que são produtores mercantis e cuja actividade principal consiste em produzir bens e serviços não financeiros. 
Empresas não financeiras públicas e participadas maioritariamente pelo sector Público, integram as unidades com a forma jurídica de empresas com estatuto de empresa pública ou empresa estatal, com origem em empresas criadas ou nacionalizadas pelo Estado e nas quais a totalidade do capital social é detido pelas administrações públicas. Este subsector reúne, ainda, o conjunto das sociedades participadas maioritariamente e controladas pelo sector público.
· Sociedades Financeiras Públicas – é o conjunto de sociedades e quase-sociedade cuja função principal consiste em fornecer serviços de intermediação financeira e/ou exercer actividades financeiras auxiliares.
AUTONOMIA ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA
Os diferentes tipos de descentralização vão potenciar a existência de diferentes tipos de autonomia:
Autonomia - medida da liberdade dos poderes financeiros das entidades públicas; ou a capacidade financeira de uma pessoa ou órgão público.
Modalidades de autonomia
Quanto à matéria:
· Autonomia Patrimonial;
· Autonomia Orçamental;
· Autonomia Tesouraria;
· Autonomia Creditícia;
· Autonomia Administrativa;
· Autonomia Financeira.
Quanto ao grau:
· Não existe uma medida comum, podendo a lei determinar diferentes formas materiais de autonomia;
· No entanto, do ponto de vista orçamental podemos considerar a existência de:
· Independência orçamental (caso do Sector Publico Empresarial);
· Caso especial (Segurança Social)
· Submissão ao Orçamento de Estado.
Regime da Administração Financeira do Estado
	 
	Regime Geral
	Regime Excepcional
	Personalidade Jurídica
	Não
	Sim
	Tipo de Autonomia
	Administrativa
	Administrativa e Financeira
	Património Próprio
	Não
	Sim
	Poder dos dirigentes
	Gestão Corrente
	Gestão
	Recursos efectivos
	Créditos inscritos no Orçamento do Estado
	Transferência do Orçamento do Estado e Receitas Próprias
	Créditos
	Não é permitido
	Permitido com autorização do MF
	Pagamento de despesas
	Libertação de créditos na base dos duodécimos
	Autorização dos dirigentes
Tipos de Autonomia
Autonomia Patrimonial – é o poder de ter património próprio e/ou tomar decisões relativos ao património público no âmbito da lei.
Autonomia Orçamental é o poder de ter orçamento próprio gerindo as correspondentes despesas e receitas, isto significa tomar decisões em relação a elas.
Autonomia de Tesouraria é o poder de gerir de forma autónoma os recursos monetários próprios, em execução ou não do orçamento.
Autonomia Creditícia é o poder de contrair dívidas, assumindo as correspondentes responsabilidades, pelo recurso a operações financeiras de crédito.
Autonomia Administrativa – consiste essencialmente no poder atribuído a um serviço de proceder ao pagamento das própriasdespesas, ainda que em execução do orçamento do Estado e por contas de levantamentos dos cofres do Tesouro, pelos quais são responsabilizados os respectivos agentes pagadores.
Autonomia Financeira – é o poder de ter orçamento e contabilidade privativos com receitas próprias. De igual modo, é um atributo dos poderes financeiros das entidades públicas relativamente ao Estado.
Serviços Autónomos e Fundos
· Serviços Autónomos – são aqueles cuja importância e a sua autonomia justifica-se, em princípio, para além de carecerem de agilidade e rapidez de gestão, eles dispõe de receitas próprias geradas pela venda de bens e prestação serviços. Por exemplo, notários e funcionários de justiça, o cofre dos tribunais e outros «cofre», as administrações regionais de saúde, o Instituto de Acção Social Escolar e os Serviços Médicos-Sociais das Universidades, as unidades e estabelecimentos militares. 
· Fundos – são entidades autónomas com competência fundamentalmente financeira, por exemplo, Fundo Nacional do Turismo, e Fundo Nacional de Estradas, Fundo de Desenvolvimento Agrário, Fundo de Fomento de Habitação e outros.
Finanças Públicas		11
O grupo da disciplina
	
 - Estado (inclui órgãos do Estado) 
 Administração Administração - Serviços e fundos autónomos da 
 Pública Central - Administração central 
 
 Segurança - Instituições sem fins lucrativas da 
 Social - Administração central 
SECTOR 
PÚBLICO 
 - Conselhos Municipais 
 Administração - Instrituições sem fins lucrativas da Adm., local 
 Empresas Local - Serviços autónomos de Adm. local 
 Públicas 
 
 Sector Público Sector Empresarial 
Administração do Estado 
 
 
 Regras de Contabilidade Regras de Contabilidade das 
 da Administração Pública entidades privadas 
 
 
 
 
Sujeito ao Plano Básico de 
Contabilidade Pública 
Sujeito ao Sistema de 
Contabilidade para o Sector 
Empresarial em Moçambique

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