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DIREITOS FUNDAMENTAIS DO SER HUMANO FACUMINAS

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1 
 
 
DIREITOS FUNDAMENTAIS DO SER HUMANO 
1 
 
 
Sumário 
FACUMINAS .................................................................................................. 2 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ........................................................................ 3 
UNIDADE 2 – TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS .............. 5 
As gerações dos direitos fundamentais ................................................. 10 
Fundamentos filosófico-jurídicos ............................................................ 14 
UNIDADE 3 – EVOLUÇÃO DAS DECLARAÇÕES DE DIREITOS – 
FUNDAMENTOS HISTÓRICO-FILOSÓFICOS ...................................................... 16 
UNIDADE 4 – DIGNIDADE E TRABALHO NA FILOSOFIA DO DIREITO ... 19 
UNIDADE 5 – INTRODUÇÃO AO DIREITO SOCIAL .................................. 25 
Características dos Direitos Fundamentais Sociais .............................. 30 
a) Historicidade ................................................................................... 31 
b) Normatividade potencializada ....................................................... 31 
c) Irrevogabilidade .............................................................................. 32 
d) Aplicação direta e imediata ............................................................ 33 
e) Vinculação dos poderes públicos .................................................. 35 
f) Exigibilidade/dimensão subjetiva e objetiva ................................. 36 
UNIDADE 6 – AS FUNÇÕES E AS DIMENSÕES DOS DIREITOS 
FUNDAMENTAIS ................................................................................................... 37 
Direitos à prestação jurídica ................................................................... 41 
Direitos a prestações materiais ............................................................... 41 
Direitos fundamentais de participação ................................................... 44 
Dimensões dos Direitos Fundamentais ................................................. 44 
UNIDADE 7 – TRATADOS DECORRENTES DA CF/88 ............................. 47 
UNIDADE 8 – NOÇÕES DE SOCIOLOGIA DO TRABALHO E OS VALORES 
SOCIAIS ................................................................................................................. 51 
UNIDADE 9 – FILOSOFIA E PENSAMENTO JURÍDICO NA ATUALIDADE ........ 55 
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 59 
REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES ........................................................ 59 
 
2 
 
 
FACUMINAS 
 
A história do Instituto FACUMINAS, inicia com a realização do sonho de um 
grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de 
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a FACUMINAS, como entidade 
oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A FACUMINAS tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação 
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. 
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos 
que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, 
de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO 
Ao lado do Direito Previdenciário ou Seguridade Social, o Direito do 
Trabalho corresponde à dimensão social mais significativa dos Direitos 
Humanos. É por meio desses ramos jurídicos que os Direitos Humanos ganham 
maior espaço de evolução, ultrapassando as fronteiras originais, vinculadas 
basicamente à dimensão da liberdade e intangibilidade física e psíquica da 
pessoa humana. 
O universo social, econômico e cultural dos Direitos Humanos passa, de 
modo lógico e necessário, pelo ramo jurídico trabalhista, à medida que este 
regula a principal modalidade de inserção dos indivíduos no sistema 
socioeconômico capitalista, cumprindo o papel de lhes assegurar um patamar 
civilizado de direitos e garantias jurídicas, que, regra geral, por sua própria força 
e/ou habilidade isoladas, não alcançariam. A conquista e afirmação da dignidade 
da pessoa humana não mais podem se restringir à sua liberdade e 
intangibilidade física e psíquica, envolvendo, naturalmente, também a conquista 
e afirmação de sua individualidade no meio econômico e social, com 
repercussões positivas conexas no plano cultural, o que se faz, de maneira 
geral, considerando o conjunto mais amplo e diversificado das pessoas, 
mediante o trabalho e, particularmente, o emprego, normatizado pelo Direito do 
Trabalho (DELGADO, 2017). 
Com este pensamento que reflete as relações existentes e permanentes 
entre o Direito do Trabalho e Direitos Humanos iniciamos as reflexões que 
subsidiarão a apostila em tela. 
Uma vez que os direitos fundamentais são criados em um contexto 
histórico, quando colocados na Constituição se tornam direitos fundamentais. 
Eles não prescrevem, são permanentes; não podem ser renunciados de maneira 
alguma; são invioláveis, ou seja, se desrespeitados provocam 
responsabilização civil, penal ou administrativa. A universalidade é outra 
característica: são dirigidos a todo ser humano independente de sua raça, 
credo, nacionalidade ou convicção política. Para sua efetividade, evidentemente 
4 
 
 
que o poder público deve atuar em prol de sua garantia, usando, se necessário, 
meios coercitivos. 
A proposta nesta apostila passa por lançar subsídios que levem a 
estimular as reflexões em torno dos direitos do ser humano para que viva em 
sua plenitude, satisfeito, realizado, para que consiga viver com dignidade, 
respeitando o próximo e a si mesmo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 
UNIDADE 2 – TEORIA GERAL DOS DIREITOS 
FUNDAMENTAIS 
O primeiro passo para estudarmos os Direitos Fundamentais incide 
necessariamente na definição de seu conceito e esclarecimento de confusões 
que se fazem entre direitos fundamentais, positivados, elevados ao plano 
internacional e direitos humanos, uma vez que vários autores fundem essa 
terminologia, sustentando a sua sinonímia. 
Grosso modo, os direitos do homem são os direitos naturais, intrínsecos 
ao homem e reconhecidos em documentos internacionais, já os direitos 
fundamentais tem a marca da positivação, isto é, é um direito reconhecido pelo 
sistema. 
 UADI LAMÊGO BULOS (s.d. Apud ABREU, 2010) afirma que os direitos 
humanos além de fundamentais são inatos, absolutos, invioláveis, 
intransferíveis, irrenunciáveis e imprescritíveis, porque participam de um 
contexto histórico, perfeitamente delimitado. Não surgiram à margem da 
história, porém, em decorrência dela, ou melhor, em decorrência dos reclamos 
da igualdade, fraternidade e liberdade entre os homens. Homens não no sentido 
de sexo masculino, mas no sentido de pessoas humanas. Os direitos 
fundamentais do homem, nascem, morrem e extinguem-se. Não são obra da 
natureza, mas das necessidades humanas, ampliando-se ou limitando-se a 
depender do influxo do fato social cambiante. 
 De acordo com a Constituição Federal, quando dos direitos e 
garantias fundamentais, ela traz que todos são iguais perante a lei, sem distinção 
de qualquer natureza, e garante aos brasileiros a inviolabilidade do direito à 
propriedade. 
A expressão “direitos fundamentais” é empregada principalmente pelos 
autores alemães, na esteira da Constituição de Bonn, que dedicava o capítuloinicial aos Grundrechte, ou seja, exatamente direitos fundamentais (TORRES, 
2006). 
6 
 
 
Até a Emenda Constitucional n° 1/1969, o Brasil adotava a expressão 
“direitos individuais”, conforme se infere do seu artigo 153 (Capítulo IV – Dos 
Direitos e Garantias Individuais), como sinônimo da moderna denominação de 
“direitos fundamentais”. Naquela época vingava a influência dos albores do 
liberalismo, e a sua visão eminentemente individualista, que não distinguia as 
liberdades coletivas e não conhecia a definição de pessoa. 
RICARDO LUIS LORENZETTI (1998, p. 151) afirma que a expressão 
“direitos fundamentais” é a mais apropriada porque não exclui outros sujeitos 
que 
não sejam o homem e também porque se refere àqueles direitos que são 
fundantes do ordenamento jurídico e evita uma generalização prejudicial. 
INGO WOLFGANG SARLET (2015a) apresenta um traço de distinção, 
ainda que de cunho predominantemente didático, entre as expressões “direitos 
do homem”, “direitos humanos” e “direitos fundamentais”, sendo a primeira de 
cunho jusnaturalista, ainda não positivados; a segunda relacionado à 
positivação no direito internacional; e, a terceira, como direitos reconhecidos ou 
outorgados e protegidos pelo direito constitucional interno de cada Estado. 
 Segundo o doutrinador PÉREZ-LUÑO (1998 Apud BELLINHO, 2010), 
os direitos fundamentais e os direitos humanos não se diferem apenas pelas 
suas abrangências geográficas, mas também pelo grau de concretização 
positiva que possuem, ou seja, pelo grau de concretização normativa. Os 
direitos fundamentais estão duplamente positivados, pois atuam no âmbito 
interno e no âmbito externo, possuindo maior grau de concretização positiva, 
enquanto que os direitos humanos estão positivados apenas no âmbito externo, 
caracterizando um menor grau de concretização positiva. 
FÁBIO FREITAS MINARDI (2008) afirma que o direito fundamental 
decorre de um processo legislativo interno de um determinado país, que eleva à 
positivação, sendo então um direito outorgado e/ou reconhecido. Já os direitos 
humanos possuem caráter supralegal, desvinculados a qualquer legislação 
escrita ou tratado internacional, pois preexiste a eles. 
7 
 
 
SIDNEY GUERRA (2007, p. 265) explica que a partir da Declaração dos 
Direitos Humanos, adotada em 10 de dezembro de 1948, confirmou-se a ideia 
de que os direitos humanos extrapolam o domínio reservado dos Estados, 
invalidando o recurso abusivo ao conceito de soberania para encobrir violações, 
ou seja, os direitos humanos não mais matéria exclusiva das jurisdições 
nacionais. 
Assim sendo, a positivação dos direitos humanos, dando origem aos 
direitos fundamentais, é a nítida amostra da consciência de um determinado 
povo de que certos direitos do homem são de tal relevância que o seu 
desrespeito inviabilizaria a sua própria existência do Estado. Aliás, ninguém 
mais nega, hoje, que a vigência de direitos humanos independe do seu 
reconhecimento constitucional, ou seja, de sua 
consagração no direito positivo estatal como direitos fundamentais 
(COMPARATO, 2015). 
No Brasil, os direitos fundamentais estão preconizados no Título II da 
CRFB/88, sendo que o constituinte considerou ilegítima qualquer proposta 
tendente a aboli-los, artigo 60, § 4º, IV da Constituição (as chamadas cláusulas 
pétreas) (MINARDI, 2008). 
Os direitos fundamentais se aplicam tanto às pessoas físicas quanto as 
pessoas jurídicas. Na primeira situação são titulares: a) brasileiros natos; b) 
brasileiros naturalizados; c) estrangeiros residentes no Brasil; d) estrangeiros 
em trânsito pelo território nacional; e) qualquer pessoa que seja alcançada pela 
lei brasileira (pelo ordenamento jurídico brasileiro). 
É preciso, porém, fazer uma ressalva: existem determinados direitos 
fundamentais cuja titularidade é restringida pelo próprio Poder Constituinte. Por 
exemplo: 
1º. existem direitos que se direcionam apenas a quem esteja pelo menos 
em trânsito pelo território nacional (garantias contra a prisão arbitrária); 
2º. outros direcionam-se apenas aos brasileiros, sejam natos ou 
naturalizados (direito à nacionalidade, direitos políticos); e, 
8 
 
 
3º. outros são destinados apenas aos brasileiros natos (direito à não 
extradição, direito de ocupar determinados cargos públicos). 
Pode-se dizer que existe, então, uma verdadeira gradação na ordem 
enumerada anteriormente: os brasileiros natos possuem mais direitos que os 
brasileiros naturalizados que possuem mais direitos que os estrangeiros 
residentes, etc. (CAVALCANTE FILHO, 2010). 
Os direitos fundamentais também se aplicam às pessoas jurídicas 
(inclusive as de Direito Público), desde que sejam compatíveis com a natureza 
delas. 
Assim, por exemplo, pessoas jurídicas têm direito ao devido processo 
legal, mas não à liberdade de locomoção, ou à integridade física. 
A doutrina reluta em atribuir às pessoas jurídicas (empresas, 
associações, etc.) direito à vida; com razão, prefere-se falar em “direito à 
existência”. Todavia, em concursos públicos, o CESPE/UnB (ver STJ/Técnico 
Judiciário / Área Administrativa/2004) já deu como correta questão que afirmava 
terem as pessoas jurídicas direito à vida. 
Por outro lado, é pacífico que pessoas jurídicas não possuem direito à 
liberdade de locomoção. Justamente por isso é que em favor delas não se pode 
impetrar habeas corpus (pois esse é um remédio constitucional que protege 
apenas a liberdade de locomoção: art. 5º, LXVIII) (CAVALCANTE FILHO, 2010). 
Nesse sentido, STF, HC 92.921/BA, 1ª Turma, Relator Ministro Ricardo 
Lewandowski, DJe de 25.09.2008. A ementa do acórdão dá a entender que o 
HC teria sido concedido, mas a leitura do inteiro teor revela: 
 
 
A Turma, preliminarmente, por maioria de votos, deliberou quanto a 
exclusão da pessoa jurídica do presente habeas corpus, quer considerada a 
qualificação como impetrante, quer como paciente; vencido o Ministro 
Ricardo Lewandowski, Relator. 
 
 
9 
 
 
A jurisprudência considera que as pessoas jurídicas (empresas, 
associações, partidos políticos, etc.) podem pleitear indenização por danos 
morais: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral” (STJ, Súmula nº 227). 
Segundo entendemos, as pessoas jurídicas podem também ser vítimas 
de crimes contra a honra, exceto injúria. Com efeito, calúnia e difamação 
atingem a honra objetiva (como a pessoa é vista pelos outros), o que é 
compatível com a situação das pessoas jurídicas. Apenas a injúria, que atinge 
a honra subjetiva (a autoimagem da pessoa) é impossível de ser perpetrada 
contra pessoa de existência meramente jurídica. 
Todavia, essa não é a posição dos tribunais. O STJ considera que as 
pessoas jurídicas não podem ser consideradas sujeito passivo de nenhum 
crime contra a honra. 
Já no STF há um precedente segundo o qual a pessoa jurídica “pode ser 
vítima de difamação, mas não de injúria e calúnia”5. 
É de se relevar, ainda, que mesmo as pessoas jurídicas de direito 
público podem ser titulares de direitos fundamentais. Tal afirmação não deixa 
de ser peculiar: se os direitos fundamentais surgiram para defender o cidadão 
contra o Estado, como justificar que uma pessoa jurídica de direito público (isto 
é, integrante do próprio Estado) possa ter direitos fundamentais? 
JOÃO TRINDADE CAVALCANTE FILHO (2010) explica de maneira bem 
simples: com o agigantamento da Administração Pública, os órgãos e entidades 
passaram a atuar de forma autônoma uns dos outros, o que pode ensejar 
conflitos de interesses, quando surge a necessidade de garantir direitos 
básicos. Vide o exemplo de um órgão que impetre mandado de segurança em 
defesa das próprias prerrogativas. 
Em resumo, podemos dizer que as pessoas jurídicas (inclusive as de 
direito público) são titulares dos direitos fundamentais compatíveis com a sua 
natureza. 
 
10 
 
 
As gerações dos direitos fundamentais 
 
Os Direitos Fundamentais visam assegurar a todosuma existência 
digna, livre e igual, criando condições à plena realização das potencialidades 
do ser humano (BIANCO, 2006). 
Se tomarmos emprestadas as palavras de Alexandre de Moraes (2013), 
temos como definição que os Direitos Fundamentais são um conjunto 
institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade 
básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do 
poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e 
desenvolvimento da personalidade humana. 
Por serem indispensáveis à existência das pessoas, possuem as 
seguintes características, as quais já foram citadas na introdução: são 
intransferíveis e inegociáveis, portanto inalienáveis; não deixam de ser exigíveis 
em razão do não uso, portanto, são imprescritíveis; nenhum ser humano pode 
abrir mão da existência desses direitos, ou seja, são irrenunciáveis; devem ser 
respeitados e reconhecidos no mundo todo, o que representa a sua 
universalidade e, por fim, não são absolutos, podem ser limitados sempre que 
houver uma hipótese de colisão de direitos fundamentais que significa a sua 
limitabilidade. 
É importante salientar que esses direitos são variáveis, modificando-se 
ao longo da história de acordo com as necessidades e interesses do homem. 
Essa transformação é explicada com base na teoria das gerações de direitos 
fundamentais, criada a partir do lema revolucionário francês (liberdade, 
igualdade, fraternidade) (BIANCO, 2006). 
Segundo JOÃO TRINDADE CAVALCANTE FILHO (2010), trata-se de 
uma classificação que leva em conta a cronologia em que os direitos foram 
paulatinamente conquistados pela humanidade e a natureza de que se 
revestem. Importante ressaltar que uma geração não substitui a outra, antes se 
acrescenta a ela, por isso a doutrina prefere a denominação “dimensões”. 
11 
 
 
a) Os direitos da primeira geração ou primeira dimensão inspirados nas 
doutrinas iluministas e jusnaturalistas dos séculos XVII e XVIII (individuais ou 
negativos): seriam os Direitos da Liberdade, liberdades estas religiosas, políticas, 
civis clássicas como o direito à vida, à segurança, à propriedade, à igualdade formal 
(perante a lei), as liberdades de expressão coletiva, etc. São os primeiros direitos a 
constarem do instrumento normativo constitucional, a saber, os direitos civis e 
políticos. Os direitos de liberdade têm por titular o indivíduo, traduzem-se como 
faculdades ou atributos da pessoa e ostentam uma subjetividade que é seu traço 
mais característico, sendo, portanto, os direitos de resistência ou de oposição 
perante o Estado, ou seja, limitam a ação do Estado. 
Foram os primeiros a ser conquistados pela humanidade e se 
relacionam à luta pela liberdade e segurança diante do Estado. Por isso, 
caracterizam-se por conterem uma proibição ao Estado de abuso do poder: o 
Estado NÃO PODE desrespeitar a liberdade de religião, nem a vida etc. Trata-
se de impor ao Estado obrigações de não fazer. 
São direitos relacionados às pessoas, individualmente. Ex.: propriedade, 
igualdade formal (perante a lei), liberdade de crença, de manifestação de 
pensamento, direito à vida etc. 
b) Segunda geração ou segunda dimensão (sociais, econômicos e culturais, 
direitos positivos): seriam os Direitos da Igualdade e social, no qual estão à proteção 
do trabalho contra o desemprego, direito à educação contra o analfabetismo, direito 
à saúde, cultura, etc. Essa geraçã dominou o século XX, são os direitos sociais, 
culturais, econômicos e os direitos coletivos. São direitos objetivos, pois conduzem 
os indivíduos sem condições de ascender aos conteúdos dos direitos através de 
mecanismos e da intervenção do Estado. Pedem a igualdade material, através da 
intervenção positiva do Estado, para sua concretização. Vinculam-se às chamadas 
“liberdades positivas”, exigindo uma conduta positiva do Estado, pela busca do bem- 
estar social (MORAES, 2013; BONAVIDES, 2016). 
São direitos sociais os de segunda geração, assim entendidos os direitos 
de grupos sociais menos favorecidos, e que impõem ao Estado uma obrigação 
de fazer, de prestar (direitos positivos, como saúde, educação, moradia, 
segurança pública e, agora, com a EC nº 64/10, também a alimentação). 
12 
 
 
Baseiam-se na noção de igualdade material (= redução de 
desigualdades), no pressuposto de que não adianta possuir liberdade sem as 
condições mínimas (educação, saúde) para exercê-la. Começaram a ser 
conquistados após a Revolução Industrial, quando grupos de trabalhadores 
passaram a lutar pela categoria. 
c) Terceira geração ou terceira dimensão (difusos e coletivos) que foram 
desenvolvidos no século XX: seriam os Direitos da Fraternidade, no qual está o 
direito a um meio ambiente equilibrado, uma saudável qualidade de vida, progresso, 
etc. Essa geração é dotada de um alto teor de humanismo e universalidade, pois 
não se destinavam somente à proteção dos interesses dos indivíduos, de um grupo 
ou de um momento. Refletiam sobre os temas referentes ao desenvolvimento, à paz, 
ao meio ambiente, à comunicação e ao patrimônio comum da humanidade 
(BONAVIDES, 2016). 
São direitos transindividuais, isto é, direitos que são de várias pessoas, 
mas não pertencem a ninguém isoladamente. Transcendem o indivíduo 
isoladamente considerado. São também conhecidos como direitos 
metaindividuais (estão além do indivíduo) ou supraindividuais (estão acima do 
indivíduo isoladamente considerado). 
Os chamados direitos de terceira geração têm origem na revolução 
técnico- científica (terceira revolução industrial), a revolução dos meios de 
comunicação e de transportes, que tornaram a humanidade conectada em 
valores compartilhados. A humanidade passou a perceber que, na sociedade 
de massa, há determinados direitos que pertencem a grupos de pessoas, 
grupos esses, às vezes, absolutamente indeterminados. 
Os direitos difusos são direitos de todos, mas que não pertencem a 
ninguém isoladamente. São de grupos cuja titularidade é absolutamente 
indeterminada. Ex.: direitos dos consumidores contra a propaganda abusiva 
(atinge a todos, mesmo que não tenham uma ligação jurídica uns com os 
outros). 
Já os direitos coletivos em sentido estrito são direitos de grupos 
determinados, que não pertencem a nenhum membro isoladamente, mas ao 
grupo como todo. Ex.: direito da classe dos advogados de participar dos 
13 
 
 
tribunais por meio do “quinto constitucional” (art. 94 da CF): trata-se de um 
direito de uma classe determinada (advogados), que não pertence a nenhum 
advogado específico, mas ao grupo (CAVALCANTE FILHO, 2010, p. 13). 
d) Quarta geração ou quarta dimensão, que surgiu dentro da última década 
por causa do avançado grau de desenvolvimento tecnológico: seriam os Direitos da 
Responsabilidade, tais como a promoção e manutenção da paz, à democracia, à 
informação, à autodeterminação dos povos, promoção da ética da vida defendida 
pela bioética, direitos difusos, direito ao pluralismo, etc. A globalização política na 
esfera da normatividade jurídica foi quem introduziu os direitos desta quarta geração, 
que correspondem à derradeira fase de institucionalização do Estado social. Está 
ligada a pesquisa genética, com a necessidade de impor um controle na manipulação 
do genótipo dos seres, especialmente o homem. 
JOÃO TRINDADE CAVALCANTE FILHO (2010) pondera que há autores 
que se referem a essa categoria, mas ainda não há consenso na doutrina sobre 
qual o conteúdo desse tipo de direitos. Há quem diga tratarem-se dos direitos 
de engenharia genética (é a posição de Norberto Bobbio), enquanto outros os 
referem à luta pela participação democrática (corrente defendida por Paulo 
Bonavides). 
Segundo FERNANDA SILVA BIANCO (2006), essa quarta geração de 
direitos foi criada pelo professor Paulo Bonavides, para quem pode ser 
traduzida como o resultado da globalização dos direitos fundamentais de forma 
a torná-los universaisno campo institucional. Enquadram-se aqui o direito à 
informação, ao pluralismo e à democracia direta. 
As três gerações que exprimem os ideais de Liberdade (direitos 
individuais e políticos), Igualdade (direitos sociais, econômicos e culturais) e 
Fraternidade (direitos da solidariedade internacional), compõem atualmente os 
Direitos Fundamentais. 
Na atualidade, os Direitos Fundamentais são reconhecidos 
mundialmente, por meio de pactos, tratados, declarações e outros instrumentos 
de caráter internacional. Esses Direitos fundamentais nascem com o indivíduo. 
E por essa razão, a Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU, 
1948), diz que os direitos são proclamados, ou seja, eles preexistem a todas 
14 
 
 
as instituições políticas e sociais, não podendo ser retirados ou restringidos pelas 
instituições governamentais, que por outro lado devem proteger tais direitos de 
qualquer ofensa (SILVA, 2006). 
Fundamentos filosófico-jurídicos 
É preciso estudar quais os fundamentos dos direitos fundamentais, ou 
seja, quais os princípios jurídicos básicos que justificam logicamente a 
existência dos direitos fundamentais. 
Podemos apontar, basicamente, dois princípios que servem de esteio 
lógico à Idea de direitos fundamentais: o Estado de Direito e a dignidade 
humana. 
Quanto à dignidade humana, trata-se de um princípio aberto, ou seja, 
muito resumidamente ele trata de reconhecer a todos os seres humanos, pelo 
simples fato de serem humanos, alguns direitos básicos – justamente os direitos 
fundamentais. 
Embora não se trate de unanimidade, a doutrina majoritária concorda que 
os direitos fundamentais “nascem” da dignidade humana. Dessa forma, haveria 
um tronco comum do qual derivam todos os direitos fundamentais. 
Essa é a posição da maioria da doutrina brasileira (é o caso, por 
exemplo, de Ingo Wolfgang Sarlet, Paulo Gustavo Gonet Branco, Paulo 
Bonavides e Dirley da Cunha Jr.). Há que se registrar, porém, a crítica de José 
Joaquim Gomes Canotilho, para quem reduzir o fundamento dos direitos 
fundamentais à dignidade humana é restringir suas possibilidades de conteúdo 
(CAVALCANTE FILHO, 2010). 
É certo que o conceito de dignidade humana é aberto, isto é, não admite 
um único conceito concreto e específico. Vários filósofos já tentaram defini-la, 
nem sempre com sucesso. 
O conceito de Estado de Direito (CF, art. 1º, caput) pode ser entendido, 
em poucas palavras, como o Estado de poderes limitados, por oposição ao 
chamado Estado Absoluto (em que o poder do soberano era ilimitado). 
15 
 
 
Direito abrange três características: a) submissão (dos governantes e 
dos cidadãos) ao império da lei; b) separação de poderes; c) garantia dos 
direitos fundamentais (SILVA, 2006, p. 113). 
É certo que, hoje, fala-se mais em submissão à Constituição, antes 
mesmo da submissão à lei, com o que ganha corpo o conceito de Estado 
Constitucional de Direito. Mesmo assim, logo se vê que o conceito de Estado 
de Direito traz como consequência lógica a existência (e garantia) dos direitos 
fundamentais. 
É por isso mesmo que JOSÉ AFONSO DA SILVA (2016) assevera que 
a concepção liberal do Estado de Direito servirá de apoio aos direitos do 
homem, convertendo súditos em cidadãos livres. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
UNIDADE 3 – EVOLUÇÃO DAS DECLARAÇÕES DE 
DIREITOS – FUNDAMENTOS HISTÓRICO-FILOSÓFICOS 
Segundo INGRID ZANELLA ANDRADE CAMPOS (2008), os direitos 
humanos nasceram da necessidade dos cidadãos em serem titulares de certos 
direitos em relação a seu Estado soberano e, posteriormente, em relação à 
sociedade internacional. Desenvolveram-se sempre com as necessidades 
impostas pelos indivíduos em determinadas épocas com o intuito de resguardar 
a dignidade humana, concebida como fundamento dos direitos humanos. 
Existe uma gama de autores, como Fábio Konder Comparato, João 
Baptista Herkenhoff, dentre outros defensores de que o fato de não existirem 
freios ao Poder, não quer dizer que não existiram as ideias, que sustentam que 
os direitos fundamentais perfazem um longo caminho histórico, tendo posições 
que acreditam ser de meados de 2000 a.C., as primeiras manifestações, no 
direito da Babilônia, outras posições os reconhecem na Grécia Antiga e na 
Roma Republicana. Estas opiniões carecem de fundamentos históricos. 
INGO WOLFGANG SARLET (2015) entende como pacífico que os 
direitos fundamentais não surgiram na antiguidade, porém é notória a influência 
do mundo antigo nos direitos fundamentais por meio da religião e da filosofia, 
que colaboraram na concepção jusnaturalista de que o ser humano, pelo 
simples fato de existir, já é detentor de direitos fundamentais; esta fase costuma 
ser denominada pela doutrina como “pré-história” dos direitos fundamentais. 
O Código de Hamurabi, primeiro que se tem notícias, defendia a vida e 
o direito de propriedade, e contemplava a honra, a dignidade, a família e a 
supremacia das leis em relação aos governantes. Esse código contém 
dispositivos que continuam aceitos até hoje, tais como a Teoria da Imprevisão, 
que se fundava no princípio de talião: olho por olho, dente por dente. Depois 
deste primeiro código, instituições sociais (religião e a democracia) contribuíram 
para humanizar os sistemas legais (SILVA, 2006). 
Karl Loewenstein (s.d apud CAVALCANTE FILHO, 2010) 
considera que a 
17 
 
 
primeira Constituição teria surgido ainda na sociedade hebraica, com a 
instituição da “Lei de Deus” (Torah). O autor alemão aponta que, já naquele 
Estado Teocrático, a “Lei de Deus” limitava o poder dos governantes 
(chamados, naquela época, de “Juízes”). 
Igual posição é entendida por ANDRÉ RAMOS TAVARES 
(2016) ao inferir que: 
na antiguidade, os hebreus já possuíam um Estado teocrático 
limitado pela Torah. Os Juízes (como eram chamados os governantes) 
tinham que seguir as disposições da Torah (Lei de Deus). É nesse sentido 
que o autor alemão vê, nesse caso, um prelúdio do Constitucionalismo. 
 
Na Grécia, já se fazia a distinção entre as normas fundamentais da 
sociedade (nomoi) e as meras regras (psefismata). Naquela civilização, a 
modificação de psefismata poderia ser feita de forma mais simples do que a 
alteração das normas fundamentais (nomos). Guardadas as devidas 
proporções, seriam institutos parecidos com a lei ordinária e as emendas 
constitucionais, atualmente. Também podemos citar, na Antiguidade, a Lei das 
XII Tábuas, aprovada em Roma, assegurando direitos conquistados pelos 
plebeus, fixados em leis escritas. 
Pérez Luño (1995 apud SARLET, 2015a) chama de antecedentes dos 
direitos fundamentais, os documentos que, de alguma forma, colaboraram para 
a elaboração das primeiras ideias dos direitos humanos presentes nas 
declarações do século XVIII, talvez o principal documento a ser referenciado seja 
a Magna Charta Libertatum, assinada na Inglaterra, em 1215, pelo Rei João 
Sem-Terra. Cabe ressaltar que esse pacto não passou de mero referencial para 
as futuras elaborações dos direitos humanos, pois, neste pacto, apenas os 
nobres receberam prerrogativas, deixando a população em segundo plano, ou 
seja, na verdade, foi um documento imposto ao Rei pelos barões feudais 
ingleses. 
18 
 
 
Já Carl Schmitt (1928Apud CAVALCANTE FILHO, 2010) defende que 
Magna Charta não pode ser considerada a primeira Constituição, pois não era 
direcionada para todos, mas apenas para a elite formada por barões feudais. 
Dessa forma, a primeira Constituição propriamente dita seria o Bill of Rights 
(Inglaterra, 1688/1689), que previa direitos para todos os cidadãos, e não apenas 
uma classe deles. 
Assim, em pleno século XVIII, que se pode encontrar a primeira aparição 
de reais direitos fundamentais, apesar do dissídio levantado INGO WOLFGANG 
SARLET (2015a) diante da “paternidade” dos direitos fundamentais, que seria 
disputada entre a Declaração de Direitos do povo da Virgínea, de 1776, a 
ConstituiçãoAmericana de 1787 (primeira constituição escrita) e a Declaração 
Francesa, de 1789, estas declarações seriam os primeiros documentos a 
representar os direitos fundamentais. 
Já para PAULO BONAVIDES (2016), é neste sentido que a Revolução 
Francesa, fixando direitos civis e políticos para que gradativamente fossem 
alcançados os princípios universais do lema “liberdade, igualdade e 
fraternidade”, fora a grande precursora dos direitos fundamentais 
caracterizados através da posição de resistência ou de oposição frente ao 
Estado. 
Para HAMILTON PESSOTA NICOLAO (2010), não tem sustentação 
defender a existência de direitos fundamentais antes mesmo da existência de 
um estado social. Percebe-se que apenas com a promulgação das declarações, 
pode- se identificar a presença do que seria o início dos direitos fundamentais. 
JOÃO TRINDADE CAVALCANTE FILHO (2010) também entende que 
há várias correntes que divergem, sobre quando teria se manifestado pela 
primeira vez a limitação do poder do Estado por meio de uma Constituição ou 
de algo a ela assemelhado. 
Atualmente, o movimento constitucionalista passou a lutar por vários 
outros objetivos (democracia efetiva, desenvolvimento econômico e ambiental, 
etc.). Mas, mesmo assim, não perdeu de vista a defesa dos direitos 
fundamentais, que continua sendo uma de suas matérias básicas. 
19 
 
 
UNIDADE 4 – DIGNIDADE E TRABALHO NA FILOSOFIA 
DO DIREITO 
A dignidade do trabalho humano é um direito fundamental de segunda 
dimensão, positivado na Constituição Federal de 1988, ou seja, elemento 
integrador do projeto constitucional brasileiro como uma norma-princípio 
fundamentada pelo valor dignidade humana, que representa uma conquista 
histórica da humanidade (COLNAGO, 2007). 
Nesse mister, a sua concretização é de fundamental importância para o 
ordenamento jurídico pátrio, tendo em vista que a sua recusa constitui grave 
violação ao projeto constitucional brasileiro. Portanto, a sua concretização deve 
ser feita com absoluta prevalência sobre as demais normas que regulamentam a 
relação jurídico-laboral, tendo em vista que o princípio da dignidade do trabalho 
humano é fundamentado pelo valor: dignidade humana – tutela do respeito 
à integridade humana nas suas mais diversas e complexas dimensões –, o 
que propiciará um maior acesso à justiça, em seu sentido integral, ou seja, 
sinônimo de justiça social (LEITE, 2016), o que demonstra um caráter mais 
consentâneo com os direitos fundamentais e com o escopo jurídico, político e 
social do processo. 
Optamos neste momento por deixar a filosofia nos envolver por completo 
para que consigamos chegar ao cerne da questão da dignidade humana e suas 
relações com o trabalho. 
Se tomarmos emprestado de AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA 
FERREIRA (2004) o significado lato para filosofia, veremos que é um estudo 
que se caracteriza pela intenção de ampliar incessantemente a compreensão 
da realidade, no sentido de apreendê-la na sua totalidade, quer pela busca da 
realidade capaz de abranger todas as outras, o Ser (ora ‘realidade suprema’, 
ora ‘causa primeira’, ora ‘fim último’, ora ‘absoluto’, ‘espírito’, ‘matéria’, etc.), 
quer pela definição do instrumento capaz de apreender a realidade, o 
pensamento (as respostas às perguntas: que é a razão? o conhecimento? a 
consciência? a reflexão? que é explicar? provar? que é uma causa? um 
20 
 
 
fundamento? uma lei? um princípio? etc.), tornando-se o homem tema inevitável 
de consideração. 
No entendimento de ELISEU RAPHAEL VENTURI (2011), do qual 
trazemos a quase totalidade de seu artigo intitulado “Dignidade da pessoa 
humana,antropologia filosófica e direito positivo”, o significado imediato do 
termo dignidade (merecimento, valor, nobreza, respeito por si mesmo, amor 
próprio, decência) aponta sentidos que a palavra dignidade comporta na 
linguagem comum, e ajuda a se ter uma imagem muito desfocada dos objetos 
reais em relações humanas e sociais a que se refere e qualifica. 
A mais precisa definição da dignidade e sua contextualização nos 
campos do saber é um árduo trabalho, e ética e direito, principalmente, são 
convocados para esta missão de tornar palpável um conceito tão vibrante, rico 
e necessário. 
Dignidade nesse campo é um conceito que envolve valor, apreço, 
reconhecimento; que aparentemente implica juízo de merecimento a partir de 
uma conjuntura de situações, e que termina em um reconhecimento universal; 
mas, mais importante do que isso, um marco civilizatório, uma passagem e 
irreversível assentamento de mentalidade (VENTURI, 2011). 
Como estamos no campo do direito, este enquanto ciência e instituição 
tem o poder de conferir as dimensões de identificação e tutela desta 
característica humana, que mais do que um qualificativo, consolidou-se 
enquanto elemento ôntico indeclinável. Tanto assim que, como magistralmente 
INGO WOLFGANG SARLET (2015b) entende que “o objeto dignidade da 
pessoa humana e direitos fundamentais representa um casamento feliz – mas 
nem por isto imune a crises e tensões”. 
Do estudo da argumentação empregada pelo autor avulta-se o objetivo 
reflexivo-filosófico da perquirição do assunto e que culmina nos recortes do 
direito positivo. 
Da natureza do problema, pois, tem-se que a antropologia filosófica, tão 
bem investigada por autores como Bernard Groethyusen (s.d pud PENNA, 2004) 
e JULÍAN MARÍAS (1971; 1975), apresenta-se enquanto campo de pensamento 
21 
 
 
pertinente para se ver alguns caminhos e significados da experiência humana e, 
então, formular pontos de contato com a teoria jurídica, donde se pode formular 
visão de mundo que contribua para a consecução dos fins do ordenamento 
jurídico enquanto instância protetiva. 
A antropologia filosófica representa abordagem teórica em que o homem 
é objeto de um estudo, mas não de um estudo etnográfico ou de uma sociedade 
especificamente considerada em seus fundamentos e relações, nem tampouco 
sob o ponto de vista das ciências humanas ou sociais (VENTURI, 2011). 
Trata-se de um corpo difuso de conhecimentos dispersos nas 
especulações filosóficas e que, assim, coadunam explicações, inferências e 
possibilidades cognitivas e interpretativas da vida e da existência humanas. 
Pode-se afirmar que a antropologia filosófica fornece cenário, ambiente, 
clima de pré-compreensão favorável ao complexo conceito jurídico do princípio 
da dignidade da pessoa humana, e é tendo em vista esta utilidade teórica, da 
qual podem advir facilidades compreensivas, que se firma a hipótese central da 
pertinência à cognição jurídica das relações humanas. Progressivamente, 
portanto, adentra-se aos meandros do direito positivo. 
Na obra de INGO WOLFGANG SARLET “Dignidade da pessoa humana 
e direitos fundamentais” (2015b), observamos esta pertinência temática e 
metodológica quando ele demonstra larga discussão a partir do clássico filósofo 
alemão Max Scheler, dentre outros. 
Com forte premissa da antropologia filosófica, o jurista brasileiro 
estabiliza o conteúdo e o significado da noção de dignidade da pessoa humana 
tanto no desenrolar do pensamento ocidental quanto em seus delineamentos 
propriamente jurídico-constitucionais, assim como verifica as características da 
dignidade da pessoa humana enquanto norma (nas modalidades de princípio e 
de valor) fundamental no ordenamento jurídico brasileiro. Por fim, traça pontos 
de contato dos direitos fundamentais com a dignidade da pessoa humana. 
Dessa leitura, pode-se estender a discussão para visualizar o quanto a 
“dignidade da pessoa humana” tem sido conceito aplaudido e atacado; noção a 
que se tem apegado desmedidamente ou cujo potencial se tem esvaído pela 
22 
 
 
descrença de uma fixação de seu conteúdo mais especializado; locução que se 
tem barateado de boa ou de má-fé no cotidiano comunicativo (VENTURI, 2011). 
O erro em se condenar aprioristicamente o princípio, e, ademais, o 
estado a que anima,de espírito e de disposição para apreender e compreender 
o mundo e o outro, é o de se prescindir de profunda conquista civilizacional que, 
se não teve, por ora, o poder de tudo mudar e adequar aos seus mais nobres 
pressupostos, ao menos (o que já parece suficiente para sua valoração 
positiva) apresenta imenso potencial para adequar condutas, procedimentos e 
trocas sociais em face de seu complexo finalístico e protetivo (VENTURI, 2011). 
O reconhecimento, a defesa e a séria adesão ao “princípio da dignidade 
da pessoa humana” em muito têm a contribuir com o desenho da realidade por 
meio dos eixos ínsitos ao parâmetro, eis que a locução comporta uma série de 
significados coerentes entre si enquanto percepção de mundo: pressupostos 
cognitivos e disposição de atitudes. 
ELISEU RAPHAEL VENTURI (2011) analisa e reflete de maneira bem 
clara e suave que cada pessoa que se desenvolve e, ao longo da existência 
própria escreve sua vida, não começa com um destino predeterminado. 
Nenhum homem nasce esmiuçado em manual e, por isso mesmo, é homem. As 
pessoas não têm um conceito claro de si mesmas, não são um texto encerrado 
e definitivo e, nem por isso, perdem a crença em suas vidas. E nem por isso os 
conteúdos de suas definições são arbitrários ou inválidos por não apresentarem 
uma clareza instantânea. 
Os laços mais profundos de tradição social, de constituição da 
personalidade, de domínio linguístico, permitem às pessoas a identificação de 
indícios dos conteúdos que lhes são coerentes, acessíveis, realizáveis. 
Além dessas diretrizes, o caminho se perfaz com surpresas, com 
acasos, com entrechoques típicos dos sistemas complexos. Mesmo assim, as 
pessoas não perdem a fé, a crença, e a disposição para suas vidas – na maior 
parte das vezes; aliás, esse lapso de incerteza pode servir mesmo como 
motivação, como expectativa, como sabor da vida. 
23 
 
 
O mesmo raciocínio vale para a dignidade da pessoa humana. Se o seu 
conteúdo não é abarcável em um conceito reproduzível em duas ou três linhas, 
se o seu uso semântico pode ser apontado como instável, se quiser discorrer 
sobre as maravilhas e as atrocidades cometidas sob o seu pálio de forma 
linguística aberta; fato é que – se as palavras podem assumir imensa 
polissemia, e as locuções ainda mais, quando qualificadas – nem por isso se 
necessitará dispensar a forma, eis que ela só tem sido um instrumento de muitos 
usos. 
O trabalho de contemporaneizar essa grande forma da “dignidade da 
pessoa humana”, apontando-a para as necessidades e demandas de hoje, os 
pleitos sociais e tudo aquilo que exige do direito um posicionamento e uma 
ação; tudo isso tem a ganhar por meio do respeito pela expressão como guia e 
rumo de uma busca incessante por quais os significados que se podem encaixar 
e entender de modo relacional na expressão (donde o campo magnético da 
dignidade alinha as limalhas dos instrumentos jurídicos de mais alto status ético) 
(VENTURI, 2011). 
As conquistas e resultados do trabalho da historiografia, as experiências 
sociais e pessoais, as obras de arte, os preceitos jurídicos, todo o trabalho 
transdisciplinar voltado às manifestações multiculturais humanas podem 
apontar os anseios e os sentidos das experiências humanas. 
E se a via positiva acima proposta não for suficiente, o recurso à negativa 
poderá ser fonte útil de questionamentos. Despir-se das máscaras sociais 
recebidas e das conquistadas, livrar-se do verniz das relações sociais e das 
expectativas e desejo de status e encarar-se enquanto ser humano “nu no 
mundo” podem ajudar a vislumbrar o que poderia ser a “dignidade” justamente 
pelo seu mais imediato contrário de “indignidade”, de falta, de ausência, de 
vácuo material. A despeito dessa tentativa de imaginação de privações — a 
qual a imaginação é débil para alcançar — ainda assim, nesse exercício, 
subsistirá, no fundo, a consciência de que ao fim se “voltará para casa”; 
suspender esta consciência por um instante pode dar a dimensão do drama 
(VENTURI, 2011). 
24 
 
 
Embora o questionamento que se queira desvendar seja como o direito 
pode, deve e é capaz de solucionar a dor e sofrimento cotidianos e que passa 
pela necessidade de superação do individualismo humano exacerbado não é 
fácil! 
A miséria humana está à nossa frente, em qualquer esquina por onde 
passamos, ela nos envergonha sim, mesmo que cada um só reflita sobre ela na 
sua solidão, mas felizmente existe a esperança de que o Direito e seus 
operadores, orientados pela Constituição, possam reduzir seus danos. 
O apego social, da sociedade civil, acompanhado do apreço dos 
operadores à axiologia constitucional e à internalização da ponderação dos bens 
constitucionais, avolumados pelos preceitos da supraconstitucionalidade na 
proteção dos direitos humanos, como meio de acesso ao problema do homem 
que redunda nas relações jurídicas, são meios necessários para se 
contemporizar e contemporaneizar tantas situações de perplexidade, oriundas 
das violações dos mais basilares princípios e direitos (MAZZUOLI; GOMES, 
2010). 
Como diz PETER HÄRBELE (2003), a proteção e respeitabilidade do 
indivíduo, não fazem parte somente da tutela do ordenamento jurídico dos 
Estados Nacionais, como também de uma tutela mais ampla, a cosmopolita, ou 
seja, de todo ordenamento jurídico mundial, manifestado nas normas de direito 
internacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
 
UNIDADE 5 – INTRODUÇÃO AO DIREITO SOCIAL 
É no contexto da Revolução Industrial que podemos dizer, nascem os 
direitos sociais, uma vez que as transformações desse período, muito além de 
trazerem benefícios econômicos, sacrificou os trabalhadores que já se 
encontravam à margem da sociedade. 
Eles precisavam ser positivados e como conta PAULO BONAVIDES 
(2016), [....] eles passaram primeiro por um ciclo de baixa normatividade ou 
tiveram sua eficácia duvidosa, em virtude de sua própria natureza de direitos 
que exigem do Estado determinadas prestações materiais nem sempre 
resgatáveis por exiguidade, carência ou limitação essencial de recursos. 
Os direitos sociais foram descritos e positivados internacionalmente na 
Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, corroborando com isso, 
para a efetivação do Estado Democrático de Direito, onde o Estado não defende 
e nem assegura apenas o direito de poucos. A sua representatividade se dá pela 
maioria, é a vontade do povo que se faz soberana. Foi a partir da Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, que “o humanismo político da liberdade 
alcançou seu ponto mais alto do século XX. Trata-se de um documento de 
convergência e ao mesmo passo de uma síntese” (BONAVIDES, 2016). 
O reconhecimento da fundamentalidade dos direitos sociais é de 
importância essencial na sua consolidação, pois a aplicação das características 
peculiares aos direitos fundamentais proporciona um aumento efetivo de seu 
grau de exigibilidade. 
Deve-se deixar de lado, o posicionamento doutrinário que aplica a 
nomenclatura “direitos sociais fundamentais”, ou seja, restando a 
fundamentalidade a uma parte dos referidos direitos, pois, o correto é 
considerar a utilização da seguinte nomenclatura: “direitos fundamentais 
sociais”, já que esses direitos são reconhecidamente espécies de direitos 
fundamentais (MACEDO; SILVA, 2009). 
Isto posto, como todo direito fundamental, os direitos sociais na sua 
concretização devem ter como parâmetro os princípios da proporcionalidade e 
26 
 
 
da razoabilidade. Deve ser maximizado o mínimo existencial, como forma de 
garantir o respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana, assegurando 
ao cidadão a prestação essencial para a exaltação da justiça social, buscando 
diminuir a desigualdade entre os indivíduos. E em relação à reserva do possível, 
não poderá o Estado sob a alegação de insuficiência de verba, se eximir sempre 
da realização das suas atividades, em especial, da efetivação dosdireitos 
sociais, inclusive, os de natureza prestacional. Caberá ao Poder Público, provar 
que inexiste orçamento para o cumprimento do seu dever (ARAÚJO, 2009). 
Os direitos sociais, normas que buscam a afirmação da igualdade 
material, representam uma garantia do equilíbrio social com o respeito à 
prestação de condições materiais necessárias para o perfeito cumprimento e 
concretização da dignidade da pessoa humana. Privar o cidadão de seus 
direitos fundamentais sociais garantidos pela Constituição é retirar-lhes a 
dignidade, excluindo assim, por conseguinte, sua condição de ser humano 
(MACEDO; SILVA, 2009). 
Após essa fase inicial de reconhecimento desses direitos, que falamos 
na introdução da unidade, se fez necessária a sua positivação, como forma de 
alcançar força e possibilitar sua exigibilidade perante o ente estatal. E essa foi 
a tendência durante o século XX. 
As normas que definem os direitos sociais foram primeiramente 
previstas nas Constituições Mexicana de 1917 e de Weimar, de 1919, que, por 
representarem uma verdadeira revolução no campo dos direitos humanos, 
tornaram-se verdadeiros marcos na positivação desses direitos (MEIRELES, 
2008). 
A Declaração Universal, já aprovada pelos franceses, ganha status 
internacional, com sua aprovação pela Assembleia Geral das Nações Unidas, 
em 1948, o que para NORBERTO BOBBIO (2004, p. 50) foi “a única prova 
através da qual um sistema de valores pode ser considerado humanamente 
fundado e, portanto, reconhecido: e essa prova é o consenso geral acerca de 
sua validade”. 
27 
 
 
Além disso, esses direitos foram disciplinados em uma norma 
específica: o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, 
documento adotado pela XXI Sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas, 
em 19 de dezembro de 1966. O Pacto apresenta um rol extenso de direitos, 
indo além da Declaração Universal. O referido diploma internacional foi 
promulgado no Brasil pelo Decreto nº 591, de 6 de julho de 1992. 
Um ponto de bastante importância a ser destacado é a forma como foi 
criado o referido Pacto Internacional. Conforme discorrido pela doutrina 
especializada, a ideia original seria a criação de um único pacto internacional 
que tratasse tanto dos Direitos Civis e Políticos (direitos de primeira dimensão) 
como dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (direitos de segunda 
dimensão). Mas em relação a essa ideia original houve grande divergência 
entre os países signatários. 
De um lado, a União Soviética e os países a ela alinhados, defendiam a 
criação de um único pacto, mas que contemplasse os direitos sociais e de outro, 
os EUA e seus aliados, que defendiam a criação de dois pactos com o 
argumento de que os direitos civis e políticos eram de aplicação imediata e os 
direitos econômicos, sociais e culturais eram programáticos e se aplicariam 
progressivamente e, portanto, os primeiros (direitos civis e políticos) podiam ser 
obrigatórios e se exigir dos países e os segundos (direitos econômicos, sociais 
e culturais) não poderiam ter um controle tão rígido. Inclusive, os EUA defendiam 
que, para os direitos civis e políticos deveria ser criado logo um organismo de 
fiscalização, quanto aos direitos econômicos, sociais e culturais, estes seriam 
realizados paulatinamente através de cooperações internacionais (BARBOSA, 
2003). 
Por fim, a formulação original (um único pacto internacional) foi 
impedida, criando-se assim dois diplomas distintos: o Pacto Internacional dos 
Direitos Civis e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e 
Culturais. 
GEORGE MARMELSTEIN (2014) define o conteúdo dos direitos sociais 
dizendo que estes 
28 
 
 
[...] impõem diretrizes, deveres e tarefas a serem realizadas pelo 
Estado, no intuito de possibilitar aos seres humanos melhor qualidade de vida 
e um nível razoável de dignidade como pressuposto do próprio exercício de 
liberdade. 
 
Em contraposição aos direitos de primeira dimensão que dependem, em 
regra, do não agir estatal, o reconhecimento dos direitos de segunda dimensão 
– especificamente os sociais – tem um grau de complexidade elevado quanto a 
sua efetivação, pois, necessitam basicamente da atuação positiva do Poder 
Público. É nesse sentido, que JOSÉ AFONSO DA SILVA (2016) aduz que: 
[...] os direitos sociais, como dimensão dos direitos fundamentais do 
homem, são prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou 
indiretamente, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam 
melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar 
a igualização de situações sociais desiguais. 
Pode-se perceber que o conteúdo das normas definidoras de direitos 
sociais privilegia a igualdade material, ao considerá-la condição essencial para 
o exercício pleno de outros direitos. PAULO BONAVIDES (2016) reforça essa 
ideia afirmando que os direitos sociais “nasceram abraçados ao princípio da 
igualdade, do qual não se podem separar, pois fazê-lo equivaleria a 
desmembrá-los da razão de ser que os ampara e estimula”. 
Analisando a dicotomia existente entre os direitos civis e políticos e os 
direitos sociais, GILMAR FERREIRA MENDES e PAULO GUSTAVO GONET 
GOMES (2016) enfatizam que: 
[...] diversamente dos abstratos direitos de primeira geração, os 
direitos ditos sociais são concebidos como instrumentos destinados à efetiva 
redução e/ou supressão de desigualdades, segundo a regra de que se deve 
tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida da sua 
desigualdade. 
 
Como todo direito fundamental, os direitos sociais possuem um 
conteúdo essencial de direitos inerentes à dignidade da pessoa humana 
(fundamentalidade material), tendo-a como núcleo básico. São 
29 
 
 
indubitavelmente meios para a proteção e a efetivação concreta do princípio da 
dignidade da pessoa humana. 
Esses direitos possuem o objetivo de impor diretrizes, deveres e tarefas 
a serem realizadas pelo Estado, no intuito de possibilitar aos seres humanos 
uma melhor qualidade de vida e um nível razoável de dignidade como 
pressuposto do próprio exercício da liberdade. Pode-se considerá-los como 
pressupostos dos direitos fundamentais, pois eles andam estreitamente 
associados a um conjunto de condições materiais necessárias para o perfeito 
exercício de outros direitos. 
INGO WOLFGANG SARLET (2015a) salienta que a nota distintiva 
destes direitos é a sua dimensão positiva, uma vez que se cuida não mais de 
evitar a intervenção do Estado na esfera da liberdade individual, mas, sim, na 
lapidar formulação de Celso Lafer, de propiciar um “direito de participar do 
bem-estar social”. Não se cuida mais, portanto, de liberdade do e perante o 
Estado, e sim de liberdade por intermédio do Estado. 
Os direitos sociais constituem condições imprescindíveis para o efetivo 
exercício de qualquer outro direito fundamental. Essas normas jurídicas 
estabelecem pressupostos necessários para a integralidade do exercício de 
outros direitos, mostrando-se como normas basilares ao Estado Democrático de 
Direito. 
Representam, pois, pressupostos para o exercício pleno dos direitos de 
liberdade, tendo em vista que, possibilitam a criação de condições materiais 
para a obtenção da igualdade real (material), proporcionando assim a 
concretização do exercício efetivo da liberdade (SILVA, 2006). 
A igualdade meramente formal, de caráter puramente negativo, tem o 
condão de gerar diversos tipos de desigualdades, pois a mesma não sopesa 
nem diferencia situações diferentes que precisam ser equilibradas, ou seja, não 
leva em consideração as distinções existentes entre os seus destinatários. 
Igualdade material deve ser compreendida como aquela que prioriza o 
tratamento equânime e uniformizado de todos os seres humanos, e quando 
30 
 
 
preciso, fundamentadamente, realiza as diferenciações necessárias para 
contrabalancear situações desequilibradas (MACEDO; SILVA,2009). 
O Brasil acompanhou a tendência mundial em relação ao prestígio 
reservado aos direitos fundamentais após a Segunda Guerra. A Constituição 
Federal de 1988 simboliza essa novidade, desde o seu preâmbulo o texto 
constitucional traz que, a finalidade desta República é a instituição do Estado 
Democrático de Direito. 
São elencados também, os princípios fundamentais da República 
Federativa do Brasil (arts. 1º ao 4º) e os direitos e garantias fundamentais (arts. 
5º ao 17). Deve-se ressaltar que grande parte dos direitos sociais positivados 
em nossa Constituição está previsto no art. 6º: 
São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a 
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à 
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta 
Constituição. 
No texto constitucional brasileiro, ainda é previsto um título específico 
que trata da Ordem Social (Título VIII), onde estão elencados, por exemplo, os 
direitos sociais relativos à saúde, previdência social, assistência social, 
educação entre outros. 
Características dos Direitos Fundamentais Sociais 
Macedo e Silva (2009) bem nos lembram que os direitos fundamentais 
padecem de características específicas, peculiaridades de tais direitos que lhe 
são associadas com mais frequência, como forma de demonstrar que as 
mesmas agregadas aos direitos sociais representariam um aumento superlativo 
da sua proteção e eficácia. 
Como exemplos de características típicas dos direitos fundamentais, 
podemos citar: historicidade, normatividade potencializada; irrevogabilidade 
(cláusula pétrea); aplicação direta e imediata; vinculação dos poderes públicos 
e exigibilidade/dimensão subjetiva e objetiva. 
 
31 
 
 
a) Historicidade 
Inicialmente vê-se que os direitos fundamentais não têm seu conteúdo 
predeterminado a todo tempo e em todo lugar, visto que, a sua definição será 
determinada de acordo com o momento pelo qual a sociedade destinatária 
encontra- se. 
Dessa forma, podemos afirmar que o conteúdo dos direitos 
fundamentais somente faz sentido num determinado contexto histórico, que o 
definirá (MACEDO; SILVA, 2009). 
O caráter da historicidade, ainda, explica que os direitos possam ser 
proclamados em certa época, desaparecendo em outras, ou que se modifiquem 
no tempo. Revela-se, desse modo, a índole evolutiva dos direitos 
fundamentais. Essa evolução é impulsionada pelas lutas em defesa de novas 
liberdades em face de poderes antigos – já que os direitos fundamentais 
costumam ir-se afirmando gradualmente – em face das novas feições 
assumidas pelo poder (MENDES; BRANCO, 2016). 
Ainda sobre essa característica, JOSE AFONSO DA SILVA (2016) 
ressalta que, “nascem, modificam-se e desaparecem. Eles aparecem com a 
revolução burguesa e evoluem, ampliam-se, com o decorrer dos tempos”. 
Em relação à dimensão prática da historicidade temos uma ilustração de 
interesse prático do aspecto da historicidade dos direitos fundamentais, dada 
pela evolução que se observa no direito a não receber pena de caráter perpétuo. 
[...] Esse direito, que antes de 1998 se circunscrevia à esfera das reprimendas 
penais, passou a ser também a ser aplicável a outras espécies de sanções. Em 
fins de 1998, o STF, confirmando o acórdão do STJ, estendeu a garantia ao 
âmbito das sanções administrativas (MENDES; BRANCO, 2016). 
b) Normatividade potencializada 
Os direitos fundamentais possuem uma efetiva força jurídica e não 
apenas moral, simbólica ou política. São normas jurídicas diferenciadas, visto 
que apresentam um poder normativo potencializado. E a força jurídica é tida 
como potencializada por se tratar de norma de hierarquia superior, tanto por ter 
32 
 
 
status de norma constitucional quanto pela sua importância axiológica 
(conteúdo material do direito). 
Para GEORGE MARMELSTEIN (2014), o reconhecimento da força 
normativa potencializada dos direitos fundamentais ocasiona algumas 
mudanças de paradigma na aplicação do direito, por exemplo: 
i) aceitação da possibilidade de concretização judicial de direitos 
fundamentais, independentemente de integração normativa formal por parte do 
Poder Legislativo, como consequência do aumento da força normativa da 
Constituição, da aplicação direta e imediata dos direitos fundamentais e do 
reconhecimento da importância do Judiciário na função de guardião dos valores 
constitucionais; 
ii) redimensionamento da fonte de direitos subjetivos das leis para os direitos 
fundamentais (“não são os direitos fundamentais que devem girar em torno das leis, 
mas as leis que devem girar em torno dos direitos fundamentais”), já que o conteúdo 
das normas constitucionais não pode ficar restrito à vontade parlamentar, e toda a 
interpretação legal deverá se guiar pelos mandamentos traçados na Constituição; 
iii) reformulação da doutrina da separação entre os poderes, em face da 
“solução de compromisso” que todos agentes devem assumir na concretização dos 
direitos fundamentais, reconhecendo-se um papel mais atuante do Judiciário na 
efetivação das normas constitucionais, através da jurisdição constitucional. 
Percebe-se então que, a normatização potencializada aplicada aos 
direitos fundamentais sociais, representa um importante instrumento de 
exaltação e concretização dos mesmos. 
 
c) Irrevogabilidade 
A característica da irrevogabilidade está diretamente ligada à ideia de se 
considerar os direitos fundamentais como cláusulas pétreas, ou seja, normas 
jurídicas que não podem ser objeto de alterações tendentes a serem 
eliminadas. 
A Constituição Federal de 1988 estabelece, em seu artigo 60, § 4º, inc. 
IV, que não podem ser objeto de deliberação as propostas de emenda 
constitucional tendente a abolir “os direitos e garantias individuais”. Desse 
33 
 
 
modo, o constituinte originário ao estabelecer os direitos fundamentais como 
cláusula pétrea (visto que, os mesmos encontram-se no título reservado aos 
direitos e garantias individuais) pretendeu criar uma barreira de proteção, de tal 
forma que nem mesmo por emenda à Constituição poderia revogar um 
determinado direito fundamental (MACEDO; SILVA, 2009). 
As cláusulas pétreas, portanto, além de assegurarem a imutabilidade de 
certos valores, além de preservarem a identidade do projeto do constituinte 
originário, participam, elas próprias, como tais, também da essência inalterável 
desse projeto. Eliminar a cláusula pétrea já é enfraquecer os princípios básicos 
do projeto do constituinte originário garantidos por ela (MENDES; BRANCO, 
2016. 
O significado último das cláusulas de imutabilidade está em prevenir um 
processo de erosão da Constituição. A cláusula pétrea não existe somente para 
remediar situação de destruição da Carta, mas tem a missão de inibir a mera 
tentativa de abolir o seu projeto básico. Pretende-se evitar que a sedução de 
apelos próprios de certo momento político destrua um projeto duradouro. 
A característica da imutabilidade dos direitos fundamentais sociais 
representa uma maior segurança para a efetividade e integralidade dos 
mesmos, pois o seu caráter de ser inalterável possibilidade uma liberdade para 
praticá-lo sem receio de ter o seu exercício comprometido (MACEDO; SILVA, 
2009). 
 
d) Aplicação direta e imediata 
O art. 5º, § 1º, da Constituição Federal de 1988, determina que: “as 
normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação 
imediata”. 
A cláusula da aplicação imediata é a consagração expressa do princípio 
da máxima efetividade, que é inerente a todas as normas constitucionais, 
especialmente as definidoras de direitos fundamentais. Ela é o reconhecimento 
formal por parte do constituinte de que os direitos fundamentais têm uma força 
jurídica especial e potencializada (MACEDO; SILVA, 2009). 
34 
 
 
Apesar de o dispositivo ter caráter principiológico, tal norma deverá ser 
interpretadade acordo com a necessidade do caso concreto, lembrando que, 
deve ser respeitado em primazia os interesses do cidadão, dessa forma, o 
agente ou o legislador deverá atuar de maneira tal que assegure a força 
normativa do dispositivo constitucional, sendo guiado pelos princípios 
norteadores do texto da Constituição. Com isso, não deve ser afastada a 
eficácia do disposto no artigo, posto que, é essencial para a concretização dos 
direitos fundamentais a plena aplicabilidade do que dispõe a redação do § 1º do 
art. 5º. 
Como determina INGO WOLFGANG SARLET (2015a), as normas tidas 
como programáticas, são “uma espécie de mandado de otimização (ou 
maximização), isto é, estabelecendo aos órgãos estatais a tarefa de 
reconhecerem a maior eficácia possível aos direitos fundamentais”. 
Prosseguindo no seu raciocínio: 
Percebe-se, desde logo, que o postulado da aplicabilidade imediata 
não poderá resolver-se, a exemplo do que ocorre com as regras jurídicas (e 
nisto reside uma de suas diferenças essenciais relativamente às normas- 
princípio), de acordo com a lógica do tudo ou nada, razão pela qual o seu 
alcance (isto é, o quantum em aplicabilidade e eficácia) dependerá do exame 
da hipótese em concreto, isto é, da norma de direito fundamental em pauta 
(SARLET, 2015a). 
 
Pode-se entender que os juízes podem e devem aplicar diretamente as 
normas constitucionais para resolver os casos sob a sua apreciação. Não sendo 
necessário que o legislador discipline um direito já estabelecido 
constitucionalmente para só assim, ele ser aplicável. Atribuir aplicação direta e 
imediata aos direitos fundamentais sociais representa um grande passo para a 
concretização dos mesmos. Mas persiste o entendimento que essa 
característica não pode ser aplicada sempre a todo direito fundamental. 
Há normas constitucionais, relativas a direitos fundamentais, que, 
evidentemente, não são autoaplicáveis. Carecem da interposição do legislador 
para que produzam todos os seus efeitos. As normas que dispõem sobre 
direitos fundamentais de índole social, usualmente, têm a sua plena eficácia 
35 
 
 
condicionada a uma complementação pelo legislador (MENDES; BRANCO, 
2016). 
Para ANA CRISTINA COSTA MEIRELES (2008, p. 236), [...] as normas 
de direitos sociais fundamentais – programáticas ou não – têm, sim, aplicação 
direta e imediata na forma preconizada pelo § 1º do art. 5º da Constituição 
Federal, gerando diversas posições jurídicas para os administrados. 
Conforme assevera o artigo transcrito anteriormente, tal obrigação 
independerá de normas posteriores de regulamentação. Se o direito somente 
pudesse ser efetivado quando o legislador regulamentasse o seu exercício, 
ocorreria uma verdadeira inversão de autoridade, na qual o poder constituído 
teria mais poderes do que o próprio poder constituinte (MARMELSTEIN, 2014). 
 
e) Vinculação dos poderes públicos 
O fato de os direitos fundamentais estarem previstos na Constituição 
tem como consequência torná-los e de limitação dos poderes constituídos. As 
normas constitucionais consagradoras dos direitos fundamentais sociais 
implicam em uma verdadeira imposição constitucional, legitimando-se as 
transformações sociais e econômicas com finalidade de efetivação desses 
direitos. 
A vinculação dos poderes públicos aos direitos fundamentais significa 
mais do que uma mera característica programática e dispensável, pois sua 
finalidade está em justamente limitar e ordenar a atuação dos poderes públicos 
para que tenha como objetivo o respeito e a concretização dos direitos 
fundamentais (MACEDO; SILVA, 2009). 
Sobre a vinculação dos poderes públicos aos direitos fundamentais: 
A constitucionalização dos direitos fundamentais impede que sejam 
considerados meras autolimitações dos poderes constituídos– dos Poderes 
Executivo, Legislativo e Judiciário –, passíveis de serem alteradas ou suprimidas 
ao talante destes. Nenhum desses poderes se confunde com o poder que 
consagra o direito fundamental, que lhes é superior. Os atos dos poderes 
36 
 
 
constituídos devem conformidade aos direitos fundamentais e se expõem à 
invalidade se os desprezarem (MENDES; BRANCO, 2016). 
 
f) Exigibilidade/dimensão subjetiva e objetiva 
Os direitos fundamentais, por serem normas jurídicas dotadas de 
normatividade potencializada e com um alto teor de juridicidade, já que 
possuem status constitucional, são direitos exigíveis, ou seja, podem ter sua 
aplicação forçada, através do Poder Judiciário, mesmo na ausência de 
regulamentação por parte do Poder Legislativo. 
A exigibilidade de um direito fundamental é decorrente da sua força 
normativa potencializada e de sua aplicação direta e imediata. A exigibilidade 
de um direito fundamental está ligada à ideia da existência de uma dimensão 
subjetiva desse direito, ou seja, a possibilidade de emanação de direitos 
subjetivos exigíveis e justificáveis. 
Sobre a característica da exigibilidade dos direitos fundamentais, 
GEORGE MARMELSTEIN (2014) diz que: 
Os direitos fundamentais, por serem normas jurídicas, são direitos 
exigíveis e justiciáveis, ou seja, podem ter sua aplicação forçada através do 
Poder Judiciário. É o que os constitucionalistas chamam de “dimensão 
subjetiva”, expressão que simboliza a possibilidade de os direitos 
fundamentais gerarem pretensões subjetivas para os seus titulares, 
reivindicáveis na via judicial. Assim, caso o Poder Público deixe de cumprir 
com os deveres de respeito, proteção e promoção a que está obrigado, 
poderá ser compelido a fazê-lo forçadamente por força de um processo 
judicial. 
 
Como decorrência da justiciabilidade dos direitos fundamentais sociais, 
surge o chamado princípio da inafastabilidade da tutela judicial. De fato, sem 
Poder Judiciário não há direitos fundamentais. 
Sobre a dimensão subjetiva dos direitos fundamentais sociais, JOSÉ 
JOAQUIM GOMES CANOTILHO (2001) assevera que resulta da consagração 
constitucional desses direitos como direitos fundamentais dos cidadãos e não 
apenas como direito objetivo expressos através de normas programáticas ou 
imposições constitucionais (direitos originários de prestações); da radiação 
37 
 
 
subjetiva de direitos através da criação por lei de prestações, instituições e 
garantias necessárias à concretização dos direitos constitucionalmente 
reconhecidos [...] que justificam o direito de judicialmente ser reclamada a 
manutenção do nível de realização e de se proibir qualquer tentativa de 
retrocesso social. 
Conforme posicionamento doutrinário, a exigibilidade judicial dos direitos 
econômicos sociais, como decorrência da sua dimensão subjetiva, estaria 
restrita pela questão do mínimo existencial e à reserva do possível. 
Em relação às dimensões dos direitos fundamentais, GEORGE 
MARMELSTEIN (2014) ressalta que: 
A doutrina constitucional tem reconhecido que os direitos 
fundamentais possuem dupla dimensão: a subjetiva e a objetiva. De um lado, 
os direitos fundamentais, na sua dimensão subjetiva, funcionariam como 
fonte de direitos subjetivos, gerando para os seus titulares uma pretensão 
individual de buscar a sua realização através do Poder Judiciário. De outro 
lado, na sua dimensão objetiva, esses direitos funcionariam como um 
“sistema de valores” capaz de legitimar todo o ordenamento, exigindo que 
toda a interpretação jurídica leve em consideração a força axiológica que 
deles decorre. Mais adiante veremos essas dimensões em detalhes. 
UNIDADE 6 – AS FUNÇÕES E AS DIMENSÕES DOS 
DIREITOS FUNDAMENTAIS 
A multiplicidade de funções dos Direitos Fundamentais leva a que a sua 
própria estrutura não seja unívoca e propicie algumas classificações úteis para 
a compreensão do conteúdo e da eficácia de cada um deles. 
Uma sistematização clássica é a dos quatro status (Jellinek), bem como 
a que classifica os Direitos Fundamentais em direitos de defesa e direitos à 
prestação. Sob outro ângulo, no estudo das funções dos DireitosFundamentais 
devem ser analisadas suas dimensões subjetiva e objetiva. 
A teoria dos quatro status proposta por Jellinek é trabalhada por alguns 
estudiosos como LUIZ ANTONIO ARAÚJO DE SOUZA (2006) e EUGÊNIO 
ROSA DE ARAÚJO (2009) 
38 
 
 
Na teoria dos quatro status, há uma pressuposição de que o indivíduo 
pode encontrar-se de quatro modos, diante do Estado, disso derivando direitos 
e deveres diferenciados. 
O status subjectionis ou status passivo, revela a posição de 
subordinação, onde o indivíduo se obriga em face do Estado, tendo esta 
competência para vincular comportamentos por meio de mandamentos e 
proibições (ARAÚJO, 2009). 
O status passivo é a posição de subordinação aos poderes públicos, 
caracterizando-se como detentor de deveres para com o Estado, tendo 
competência para vincular o indivíduo, através de mandamentos e proibições 
(SOUZA, 2006). 
Ocorre o status negativo quando o ter personalidade exige o desfrute de 
um espaço de liberdade com relação às ingerências do Poder Público. O homem 
deve gozar de algum âmbito de ação desvencilhado do império do Estado, posto 
que a autoridade é exercida sobre homens livres (ARAÚJO, 2009). [...] faz-se 
necessário que o Estado não se intrometa na autodeterminação do indivíduo 
(SOUZA, 2006). 
Verifica-se o status civitatis no direito de exigir do Estado uma atuação 
positiva, preordenada à realização de uma prestação. Aqui, o indivíduo se vê 
com a capacidade de pretender que o Estado atue em seu favor (ARAÚJO, 
2009; SOUZA, 2006). Por fim, no status ativo, o indivíduo desfruta de 
competência para influir sobre a formação da vontade do Estado (ex.: voto), 
como nos direitos políticos. 
Tomando como base a teoria dos quatro status, depuram-se os três 
grupos de Direitos Fundamentais mais destacados, quais sejam, os direitos de 
defesa (direitos de liberdade), os direitos a prestações (direitos cívicos) e os 
direitos de participação (observe que o status subjectionis identifica deveres do 
indivíduo). 
Segundo EUGÊNIO ROSA DE ARAÚJO (2009), os direitos de defesa 
caracterizam-se por impor ao Estado um dever de abstenção, de não 
interferência, de não intromissão no espaço de autodeterminação do indivíduo. 
39 
 
 
Tais direitos objetivam a limitação da ação do Estado, evitam sua ingerência 
sobre os bens protegidos (ex.: liberdade, propriedade, etc.) e fundamentam 
eventual pretensão de reparo pelas agressões consumadas. 
Em nosso ordenamento constitucional os direitos de defesa estão em 
grande parte contidos no art. 5º da Constituição, a saber: inciso II (legalidade), 
inciso III (proibição de tortura), inciso IV (liberdade de manifestação do 
pensamento), inciso VI (liberdade de culto), inciso IX (liberdade de 
expressão artística), inciso X (proteção da intimidade), inciso XII (proteção ao 
sigilo das comunicações), inciso XIII (liberdade de profissão), inciso XV 
(liberdade de locomoção), inciso XVII (liberdade de associação) e inciso XLVII, 
b (proibição de penas de caráter perpétuo). Ressalte-se que há quem entenda 
que o direito à igualdade impróprias – coloca-se entre os direitos de normas de 
competência negativa para o Estado; 
Dentre os desdobramentos da função de defesa dos direitos fundamentais, 
podemos citar: 
 a vedação de interferência do Estado no âmbito de liberdades dos indivíduos 
 o Estado não pode embaraçar o exercício de liberdade do indivíduo, material 
ou juridicamente; 
 é vedada ao Estado a criação de censura prévia para manifestações 
artísticas; 
 de igual forma, o impedimento à formação de religiões; 
 
 há proibição da instituição de requisitos exagerados para o exercício de uma 
profissão. 
Os direitos de defesa também protegem os bens jurídicos contra ações 
do Estado. Em vista do direito à vida, o Estado não pode assumir 
comportamentos que afetem a existência do ser humano. 
Em face do direito de privacidade, o Estado não pode divulgar certos 
dados pessoais dos seus cidadãos. O direito de defesa, nesse passo, ganha 
forma de direito à não afetação dos bens protegidos. 
O aspecto de defesa dos direitos fundamentais pode ainda se expressar 
pela pretensão de que não sejam suprimidas certas posições jurídicas. Aqui o 
40 
 
 
direito fundamental assume conteúdo preordenado a que o Estado não 
derrogue determinados preceitos. O Direito Fundamental produz um efeito 
inibidor a que o Estado elimine posições jurídicas concretas, como, por exemplo, 
no caso em que se extinga o direito de propriedade de quem adquiriu certo bem 
segundo o ordenamento em vigor. 
O direito de defesa também poderá atuar como proibição a que o Estado 
suprima posições jurídicas em abstrato, como a possibilidade de transmitir a 
propriedade de determinados bens. 
O direito de reunião, por exemplo, implica no direito de não se reunir – 
veja- se que o art. 5º, XX, deixa expresso que ninguém é obrigado a se associar 
ou manter-se associado. 
No contexto dos direitos de defesa, a liberdade contém uma nota 
específica: o traço típico da liberdade é a disponibilidade de alternativa de 
comportamento, a possibilidade de escolher uma conduta. O direito à vida não 
é uma liberdade, posto que seu titular não tem o direito de viver ou morrer. Ele 
tem natureza defensiva contra o Estado. No caso da liberdade de profissão a 
própria escolha da carreira ou ofício fica assegurada (ARAÚJO, 2009). 
Enquanto os direitos de abstenção visam assegurar o status quo do 
indivíduo, os direitos à prestação exigem que o Estado atue para corrigir 
desigualdades, moldando o futuro da sociedade. 
 Tais direitos à prestação partem da premissa de que o Estado deve agir 
para libertar os indivíduos das necessidades básicas e figuram entre os direitos 
de promoção. São direitos que se realizam por intermédio do Estado e surgem 
da necessidade de se estabelecer uma igualdade efetiva, solidária e fraterna 
entre todos os membros da comunidade. 
Se os direitos de defesa asseguram liberdades, os direitos à prestação 
asseguram o desfrute das condições materiais para o exercício dessas 
liberdades (obrigações de fazer ou de dar). 
Neste caso, a ação do Estado imposta pelo direito à prestação, pode 
referir- se tanto a uma prestação material, quanto a uma prestação jurídica. 
41 
 
 
Direitos à prestação jurídica 
Existem direitos fundamentais cujo objeto se esgota na satisfação, pelo 
Estado, de uma prestação de natureza jurídica. O objeto do direito será a 
normação (regulamentação) pelo Estado do bem jurídico protegido como direito 
fundamental. Essa prestação jurídica pode consistir na emissão de normas 
jurídicas penais ou de normas de organização e de procedimento. 
A Constituição, por vezes, estabelece diretamente ao Estado a obrigação 
de legislar para coibir práticas atentatórias aos direitos e liberdades 
fundamentais (art. 5º, XLI), o racismo (art. 52, XLII) ou a tortura e o terrorismo 
(art. 5º, XLIII). 
Para além disso, há Direitos Fundamentais que dependem, 
essencialmente, de normas infraconstitucionais para ganhar pleno sentido. Há 
direitos que se condicionam a outras normas que definirão o modo do seu 
exercício e até mesmo o alcance do seu significado. 
Existem, portanto, direitos fundamentais que necessitam de criação por 
via de lei de estruturas organizacionais (ex.: Defensoria Pública), para que se 
tornem efetivos. Tais direitos podem reivindicar a adoção de medidas 
normativas que permitam aos indivíduos o desfrute efetivo da organização e a 
participação nos procedimentos estabelecidos (ARAÚJO, 2009). 
 
Direitos a prestações materiais 
Os direitos à prestação material são tidos como os direitos sociais por 
excelência – concebidos para atenuar desigualdades de fato na sociedade e 
para ensejar que a libertação das necessidades aproveite ao gozo da liberdade 
efetiva por um maior número de indivíduos. O seu objeto consiste numa 
utilidade concreta (bem ou serviço) (SOUZA, 2006). 
São

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