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Curso | Agente Comunitário de Saúde 1 Agente Comunitário de Saúde 400 horas Curso | Agente Comunitário de Saúde 2 MÓDULO III EDUCAÇÃO SEXUAL E REPRODUTIVA Profª Dra. Sandra da Silva Silveira Curso | Agente Comunitário de Saúde 3 NOTA SOBRE A AUTORA Sandra da Silva Silveira é biomédica pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) - 2012, possui habilitação em Pesquisas e Análises Clínicas. Mestre em Bioquímica molecular pela Universidade Estadual de Maringá (2014), onde trabalhou com os efeitos do stress oxidativo na proteína sérica albumina, utilizando o modelo de artrite induzida por adjuvante. Doutora em Biologia Celular e Molecular pela Universidade Estadual de Maringá (2019) onde atuou na área de fisiologia endócrina no Laboratório de Biologia Celular da Secreção (LBCS) da Universidade Estadual de Maringá, desenvolvendo pesquisas com insultos dietéticos e exercícios físicos de moderada intensidade como agente protetor em fases precoces e tardias do desenvolvimento, utilizando o conceito de programação metabólica, postulado pelo DOHaD (Developmental Origins of Health and Disease). Atualmente é professora substituta de Biomedicina no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia -IFRO - Campus Guajará-Mirim. E-mail para contato: sandrass3@gmail.com Para acesso ao lattes, clique AQUI. mailto:sandrass3@gmail.com http://lattes.cnpq.br/1414422591378584 Curso | Agente Comunitário de Saúde 4 Educação sexual e reprodutiva. Sandra da Silva Silveira. Guajará- Mirim/RO: 2020. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFRO, Campus Guajará-Mirim. Revisão: Rosely Furtado Roca Diagramação: Sandra da Silva Silveira 1. Educação Sexual 2. Educação Reprodutiva – Estudo e Educação. I. Sandra da Silva Silveira. Curso | Agente Comunitário de Saúde 5 SUMÁRIO EDUCAÇÃO SEXUAL E REPRODUTIVA ................................ 6 História da saúde sexual e reprodutiva ............................................................................... 6 Desenvolvimento da sexualidade ....................................................................................... 7 Da infância a adolescência ............................................................................................ 7 Sexualidade na adolescência ......................................................................................... 7 Saúde sexual na atenção básica .......................................................................................... 8 Educação sexual na população idosa ............................................................................. 9 Educação sexual e reprodutiva na população negra........................................................ 9 Educação sexual e reprodutiva da população LGBTQIA+ (Lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, queer, questionando, intersexo, curioso, assexuais, pan e polisexuais, aliados, two-spirit, kink) .................................................................................................. 11 Educação sexual e reprodutiva da população indígena ................................................. 12 CONTROLE DA NATALIDADE E PLANEJAMENTO REPRODUTIVO ........................................................................ 13 O papel da atenção básica no planejamento reprodutivo ................................................... 14 Métodos anticoncepcionais .............................................................................................. 14 GLOSSÁRIO .............................................................................. 17 REFERÊNCIAS ......................................................................... 18 Curso | Agente Comunitário de Saúde 6 1. SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA 1.1 História da saúde sexual e reprodutiva O Brasil do século XX (mais precisamente a partir de 1950) foi marcado por preocupações relacionadas ao crescimento populacional e implementação de políticas de controle da natalidade, sob a forma de planejamento familiar. Porém, preocupações relacionadas a saúde e direito sexual de seus habitantes não existiam. As Conferências Nacionais da Saúde a partir da década de 80 passaram a ser pautadas em questões relacionadas aos direitos sexuais e reprodutivos, carreados por lutas dos movimentos feministas, Reforma Sanitária e redemocratização do país. A partir daí, houve uma maior abertura política para discussões de questões sociais e direitos, reconhecimento da necessidade de implementação de políticas de saúde para mulheres e, em 1984, houve o Fonte: bbc.com lançamento do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) pelo Ministério da Saúde. A Conferência Internacional de População e Desenvolvimento (CIPD), ocorrido no Cairo na década de 90 foi um marco nas discussões sobre saúde sexual e reprodutiva, pois aprofundou essas discussões e apontou a necessidade de implementação das questões de direitos humanos. Esse evento inspirou as discussões na IV Conferência Mundial sobre a Mulher, ocorrido na China, onde os direitos sexuais e reprodutivos vieram a integrar os direito humanos. Houve a separação da sexualidade e da reprodução e a partir daí o sexo passou a não mais estar somente atrelado a reprodução. Fonte: cartacapital Os princípios discutidos em Cairo e Beijing levaram diversos países, incluindo o Brasil, a implementar políticas públicas pautadas nas discussões de saúde sexual e reprodutiva, planejamento familiar baseadas no livre arbítrio e na autonomia sobre o corpo. Figura 2. Luta por direitos. Figura 1. Família na década de 1990. Curso | Agente Comunitário de Saúde 7 1.2 Desenvolvimento da sexualidade 1.2.1 Da infância à adolescência De acordo com a psicanálise, a sexualidade existe desde o nascimento, e durante as sucessivas etapas da infância, diferentes zonas proporcionam prazer. Todos os seres humanos em desenvolvimento passam por essas fases: FASE ORAL Se estende do nascimento até os dois anos de idade. Envolve sucção e mastigação e está relacionado à formas de relacionamento social: a capacidade de ganhar. FASE ANAL Se estende dos dois aos quatro anos de idade. Envolve a obtenção do prazer através da expulsão das fezes pela criança, que considera um presente dado ao adulto, uma vez que considera as fezes como parte do seu corpo. FASE FÁLICA Compreende a fase entre os três e seis anos de idade. Nesse período surge a atividade masturbatória como forma de conhecimento do próprio corpo. Pode haver também exibicionismo e curiosidade tanto sobre os próprios genitais, quanto sobre os genitais alheios. Essas condutas são esperadas e normais e não tem a mesma conotação que na idade adulta. FASE DE LATÊNCIA Aparecem sentimentos como vergonha, pudor e aspirações morais, na medida em que se delineia a evolução sexual. FASE GENITAL Nessa fase, ocorre a organização da libido em torno dos genitais. Constrói-se também a identidade sexual do individuo. 1.2.2 Sexualidade na adolescência A puberdade é o ápice do amadurecimento sexual. Nessa fase ocorre a determinação da identidade de gênero e caracteriza a etapa genital adulta. A adolescência pode ser dividida em 3 etapas: inicial (dos 10 aos 14 anos), intermediária (dos 14 aos 17 anos) e tardia ou final (dos 17 aos19 anos). Essas fases são acompanhadas de mudanças físicas, emocionais (provocado pelas alterações hormonais) e, consequentemente, comportamentais que caracterizam a adolescência como uma fase de intensas mudanças. Curso | Agente Comunitário de Saúde 8 Polução noturna acontece quando durante o sono o cérebro eróticos ocorre emite estímulos em sonho orgasmo. e É também conhecido como "sonhos molhados". A masturbação no contexto do adolescente e do jovem A masturbação é considerada uma procura por prazer sexual por meio de autoestimulação. No início da adolescência, tem caráter exploratório do próprio corpo. Quando realizado em fases mais maduras, está mais relacionado com a saciedade da necessidade sexual. Em alguns casos, os jovens podem tentar compensar frustrações ou descarregar tensões por meio da masturbação. Para um atendimento adequado, pode ser discutido com o adolescente ou jovem seus hobbies e atividades, perspectivas, relacionamentos, mostrando a ele outras formas de resolver suas frustrações. No caso das garotas, pode ser abordado a questão do cuidado na utilização de objetos na vagina, que podem lesionar acidentalmente a mucosa genital. Deve-se abordar também a questão da importância da privacidade que o adolescente/jovem tem que ter, especialmente por parte dos pais, pois nessa idade é comum os jovens já não compartilharem todo o seu mundo com eles. Apesar de todos os tabus que ainda hoje rondam a masturbação, ela serve ao adolescente/jovem como uma forma de autoconhecimento e busca do prazer. Assista no Youtube o vídeo: “Por quê a masturbação ainda é tabu” CLIQUE AQUI! DICA DE VÍDEO! Na adolescência inicial temos o aparecimento das características sexuais secundárias (desenvolvimento dos genitais e mamas), curiosidade pelas mudanças corporais, fantasias sexuais e sentimento de culpa. Pode surgir nessa fase vergonha do próprio corpo que está passando por transformações. Na adolescência intermediária a maturidade sexual é completada e há uma maior energia e natureza sexual exploratória. Há maior interesse em contato físico. Na fase final há a cessação do turbilhão de mudanças. A adolescência tardia é marcada pelo comportamento sexual mais expressivo e menos explorador. 1.3 Saúde sexual na atenção básica Saúde sexual e reprodutiva significa uma vida sexual prazerosa e segura, através de informações sobre a sexualidade e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis https://www.youtube.com/watch?v=p2q49Q4y5dc Curso | Agente Comunitário de Saúde 9 Confira a matéria “Idosos também precisam se prevenir contra o HIV” AQUI e liberdade para decidir sobre sua reprodução, tendo livre acesso aos diferentes métodos contraceptivos. O profissional da atenção básica tem um papel fundamental na promoção da saúde sexual da população, na identificação de dificuldades e distúrbios sexuais e reprodutivos. A saúde sexual deve ser abordado na atenção básica com o máximo de atenção e respeito. Por ser um tema que guarda consigo muitos tabus sociais, a população em geral não se sente confortável de abordar sobre esse assunto com os profissionais da atenção básica. O oposto também acontece, sendo muito comum na atenção básica uma dificuldade dos profissionais em geral em lidar com assuntos sexuais. 1.3. 1 Educação sexual na população idosa A terceira idade é marcada por alterações na fisiologia e comportamento sexual em ambos os sexos. No geral, há uma redução da frequência sexual. Nos homens, geralmente ocorre diminuição parcial da tumescência peniana, quantidade de sêmen ejaculado e a força com que é expelido. Na mulher pós-menopausa, pode ocorrer redução ou aumento da libido. O profissional de saúde da atenção básica deve orientar e tratar eventuais transtornos que possam atrapalhar a vida sexual na terceira idade, apoiando positivamente a sexualidade saudável nessa faixa etária. Deve-se amenizar os tabus que condicionam a sexualidade na velhice como inadequado ou cafona. Dessa forma, além de melhorar a qualidade de vida da população idosa, as chances de eventuais contaminações por doenças sexualmente transmissíveis caem pela metade. 1.3. 2 Educação sexual e reprodutiva na população negra De acordo com censos demográficos, a população negra está entre 65 a 70% da população extremamente pobre no país, compondo um grupo de grande vulnerabilidade social. Os principais problemas enfrentados pelos negros são majoritariamente relacionados a sua condição financeira e são abaixo elencados: https://drauziovarella.uol.com.br/reportagens/idosos-tambem-precisam-se-prevenir-contra-o-hiv/#%3A%7E%3Atext%3DRiscos%20mais%20espec%C3%ADficos%20nos%20casos%20de%20HIV%20em%20idosos%26text%3DVivian%2C%20pessoas%20em%20idade%20avan%C3%A7ada%2Ctendem%20a%20ser%20naturalmente%20menores Curso | Agente Comunitário de Saúde 10 Figura 3. Favela da Mangueira, Rio de Janeiro. Mais de 70% dos habitantes das favelas do Rio são negros, diante de menos de um terço dos moradores do restante da cidade. Fonte: El País - Mortalidade materna (complicações ligadas a gravidez, aborto, parto e puerpério); - Hipertensão arterial (mais grave em negros por questões genéticas); - Homicídio e feminicídio; - Gravidez na adolescência; - Gravidez não-planejada; - Violência doméstica e sexual; - Doenças infectocontagiosas (como Tuberculose); A atuação do profissional da atenção básica nas questões sexuais e reprodutivas da população negra envolve o acolhimento e aconselhamento, promoção de ações para o enfrentamento da gravidez precoce e violências e fatores promotores de violência (alcoolismo, dependência química, dependência financeira, etc), principalmente com relação a violência doméstica. O difícil acesso aos serviços de saúde também é um fator que limita o tratamento de doenças infectocontagiosas e aumenta os índices de mortalidade materna e infantil. O correto preenchimento do quesito "cor/raça/etnia" pelos profissionais da atenção básica é um requisito importante no mapeamento do tamanho da necessidade da população negra. O profissional da atenção básica tem um papel importante nos processos de educação em saúde sexual e reprodutiva, criando ações que diminuam a desigualdade social e os problemas de saúde sexual e reprodutiva enfrentados majoritariamente por esse grupo social. O atendimento à vítima de violência doméstica ou sexual envolve acolhimento, notificação da situação através do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan NET), encaminhamento para exames ginecológicos (no caso de agressão sexual), exames complementares e acompanhamento psicológico. Deve-se considerar a necessidade de atendimento de urgência e a ação conjunta interdisciplinar, para a melhor resolução do caso. Nos quadros abaixo estão elencados os principais sinais que podem indicar situações de violência: Curso | Agente Comunitário de Saúde 11 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: • Queixas crônicas, porém vagas, sem causa física óbvia. • Ferimentos sem explicação ou que não condizem com a explicação de como ocorreram. • Parceiros que observam excessivamente ou controlam os movimentos da mulher com muita insistência ou que não se afastam da mulher. • Ferimentos físicos durante a gravidez. • Demora a iniciar o atendimento pré- natal. • Histórico de tentativa ou tendência ao suicídio. • Demora em buscar tratamento para ferimentos sofridos. • Síndrome do intestino irritável. • Dor pélvica crônica. VIOLÊNCIA SEXUAL: • Gravidez de mulheres solteiras com menos de 14 anos. • Infecções sexualmente transmitidas, em crianças. • Prurido ou sangramento vaginal. • Evacuação dolorosa ou dor ao urinar. • Dor pélvica ou abdominal. • Problemas sexuais e perda de prazer na relação. • Vaginismo (espasmos musculares nas paredes vaginais,durante relação sexual). • Ansiedade, depressão, comportamento autodestrutivo. • Problemas de sono. • Histórico de sintomas físicos crônicos inexplicáveis. • Dificuldade ou recusa em fazer exames pélvicos. 1.3.3 Educação sexual e reprodutiva da população LGBTQIA+ (Lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, queer, questionando, intersexo, curioso, assexuais, pan e polisexuais, aliados, two-spirit, kink) O conhecimento dos problemas de saúde sexual e reprodutiva enfrentados pela população LGBTQIA+ (gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis, dentre outros) facilita a tomada de ações voltadas a minimizar sua vulnerabilidade. A discriminação e o preconceito sofrido pelos LGBTQIA+ na maioria das vezes parte de seus próprios familiares, gerando abandono, traumas e vulnerabilidade social. Muitos gays acabam entrando na prostituição por não terem recursos para viver. Os problemas sexuais mais enfrentados pela população LGBTQIA+ são: fazer - Infecções sexualmente transmissíveis; - Uso indiscriminado de hormônios; Durante o atendimento da população LGBTQIA+ é importante uso do nome social como forma de respeito e construção da confiança entre Travestis e mulheres transexuais recorrem ao uso de hormônios para modificação corporal. Devido a restrições de acesso a serviços de saúde, a automedicação é frequente. Curso | Agente Comunitário de Saúde 12 Saiba mais sobre esse assunto clicando AQUI! profissional e paciente. Entre as ações de promoção da saúde sexual e reprodutiva da população LGBTQIA+ estão orientações de higiene e segurança antes, durante e após o ato sexual, como o correto uso de preservativos e higienização correta de mãos, unhas, protetores manuais (luvas de borracha) para o sexo manual, barreiras (no caso de sexo oral) e preservativos masculinos nos acessórios eróticos. As ações de saúde também incluem orientação da importância de exames urológicos e proctológicos regularmente, para prevenir câncer de próstata e problemas no ânus e reto e também uso de gel lubrificante a base de água, para relações sexuais anais. O uso de hormônios masculinizantes e feminilizantes e implantes de silicones industriais sem prescrição ou acompanhamento médico também são muito prejudiciais à saúde. Essa questão deve ser considerada pelo profissional da saúde em sua abordagem com os LGBTQIA+. As ações da atenção básica de saúde devem atender de forma igualitária e sem preconceitos casais homoafetivos ou outras formas de configuração familiar. Faz parte da atuação do profissional da atenção básica a articulação de ações que visem reduzir a discriminação e violência sofrida pela população LGBTQIA+ e ações de promoção da Fonte: paulosampaio.blogosfera.uol.com.br saúde que visem a redução das infecções sexualmente transmissíveis, assim como problemas de saúde relacionados ao não conhecimento de práticas seguras, como exames de rotina e acompanhamento médico em caso de utilização de hormônios. 1.3.4 Educação sexual e reprodutiva da população indígena O modelo de atendimento às populações indígenas, de acordo com a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, é feita pelos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI), representados pelos Postos de Saúde Indígena e Casas de Saúde do Índio (Casai), onde atuam os agentes indígenas de saúde, saneamento e enfermeiros. Figura 4. Casal homoafetivo. https://www.youtube.com/watch?v=RALEXxQfH0E&list=TLPQMjMxMTIwMjCmoVDk9tFHxw&index=1 Curso | Agente Comunitário de Saúde 13 A diversidade cultural e linguística dos povos indígenas é um desafio e mostra a constante necessidade de atualização e qualificação desses profissionais no atendimento desses povos. Diferentes mulheres de diferentes tribos indígenas tem discutido sérios problemas de vulnerabilidade enfrentados nas aldeias. De acordo com suas culturas, a média de idade em que mulheres estão aptas a se casarem varia de 15-19 anos, porém não é incomum casamentos feitos a partir da primeira menstruação (por volta dos Figura 5. Atualmente existem 896,9 mil pessoas indígenas no Brasil, segundo dados do Censo 2010. Metade desta população é constituída por mulheres. Fonte: http://www.onumulheres.org.br/. 12 anos). Como consequência, é comum casos de gravidez precoce, violência sexual (estupro dentro do casamento), número elevado de filhos, dores, sangramentos e hemorragias. Muitas tribos valorizam o grande número de filhos, por serem "forças de trabalho" importantes na família, porém, a oferta de alimentos e cuidados a esses filhos não é adequada. Há também a pressão por muitos filhos para compensar a redução da população indígena. Em decorrência desse grande número de filhos, ocorre também uma degradação da saúde da mulher. No atendimento a essas populações indígenas, é importante ao profissional de saúde conhecer suas culturas e tradições, e também peculiaridades relacionadas a cada população, fazendo-se uso de recursos didáticos, atividades educativas, exames e capacitações. O termo controle da natalidade difere de planejamento reprodutivo, no sentido em que controle da natalidade implica imposições do governo sobre a vida reprodutiva de homens e mulheres. O planejamento reprodutivo está embasado no respeito a liberdade sexual e reprodutiva. Não se deve correlacionar pobreza a número de filhos, pois no Brasil as taxas de fecundidade tem caído nas últimas décadas e desacelerou o crescimento anual da população. A Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança verificou uma taxa 2. CONTROLE DA NATALIDADE E PLANEJAMENTO REPRODUTIVO http://www.onumulheres.org.br/ http://www.onumulheres.org.br/ Curso | Agente Comunitário de Saúde 14 de 1,8 filhos por mulher em 2006, ao contrário de 1996, onde essa taxa estava em 2,5 filhos por mulher. A maior redução ocorreu nas áreas rurais, de 3,4 para 2,0. Entretanto, essa queda da taxa de fecundidade não foi acompanhada de uma redução da pobreza e desigualdades sociais no Brasil. A superação da situação de pobreza tem que passar pela implementação de políticas que promovam o desenvolvimento sustentável e distribuição igualitária de riquezas. 2.1 O papel da atenção básica no planejamento reprodutivo As ações da atenção básica no planejamento reprodutivo são mais focadas nas mulheres, especificamente ações voltadas ao ciclo gravídico-puerperal e prevenção do câncer de colo de útero e mama. Há a necessidade de ampliação das ações para os homens, considerando sua coparticipação e responsabilidade nas questões sexuais e reprodutivas. O serviço público deve promover: - Ações e atividades educativas; - Aconselhamento; - Atendimento profissional; O acolhimento prevê o estabelecimento de diálogo e confiança entre o indivíduo atendido e o profissional de saúde. Em resumo, criação de um vínculo com o atendido. As atividades educativas oferecem uma reflexão sobre a sexualidade e reprodução. As atividades clínicas envolvem ações para cuidado da saúde da população e inclui: anamnese, identificação das necessidades e dificuldades sexuais, orientações de prevenção a cânceres em homens (próstata, pênis) e mulheres (mama, colo de útero), saúde da mulher na menopausa, orientações de prevenção a IST/HIV e anticoncepção. Todas essas ações sendo sem distinção de gênero, orientação/identidade sexual ou raça, promovendo o respeito a diversidade. 2.2 Métodos contraceptivos Contracepção é o ato de evitar a gravidez. Os métodos desse controle incluem medicamentos, procedimentos, dispositivos e comportamentos. A tabela abaixo resume os principais métodos contraceptivos que podem ser utilizados sozinhos ou de forma combinada: Curso | Agente Comunitário de Saúde15 Figura 6. Principais métodos contraceptivos. Fonte: vivasuavida. CLIQUE AQUI e acesse o site. https://www.vivasuavida.com.br/pt/metodos-contraceptivos/contraceptivos-curta-duracao/ Curso | Agente Comunitário de Saúde 16 EXERCÍCIOS 1. Os métodos contraceptivos garantem a proteção contra uma gravidez indesejada. Apesar de prevenir a gravidez, eles, normalmente, não garantem proteção contra Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Marque a alternativa que indica corretamente o nome de um método que garante proteção contra IST. a) DIU b) Pílula do dia seguinte c) Diafragma d) Camisinha e) Coito interrompido 2. Sobre a atenção básica na saúde sexual, marque a alternativa incorreta: a) A diversidade cultural e linguística dos povos indígenas é um desafio e mostra a constante necessidade de atualização do profissional da atenção básica. b) Faz parte da atuação do profissional da atenção básica a articulação de ações que visem reduzir a discriminação e violência sofrida pela população LGBTQIA+. c) No atendimento às populações negras não é relevante o preenchimento do quesito "cor/raça/etnia" nos formulários pelos profissionais da atenção básica. d) A terceira idade é marcada por alterações na fisiologia e comportamento sexual em ambos os sexos. e) O profissional da atenção básica tem um papel fundamental na promoção da saúde sexual da população, na identificação de dificuldades e distúrbios sexuais e reprodutivos. Curso | Agente Comunitário de Saúde 17 GLOSSÁRIO Anamnese - É uma entrevista realizada pelo profissional de saúde ao seu paciente, que tem a intenção de ser um ponto inicial no diagnóstico de uma doença. Controle da natalidade - Diminuir forçosamente o número de nascimentos. Direitos humanos - São os direitos básicos de todos os seres humanos. São direitos civis e políticos; direitos econômicos, sociais e culturais; direitos difusos e coletivos. Doenças infectocontagiosas - São doenças de fácil e rápida transmissão, provocadas por agentes patogênicos, como vírus e bactérias. Exame proctológico - É um exame simples que tem como objetivo avaliar a região anal e o reto com o objetivo de investigar alterações gastrointestinais e identificar fissuras, fístulas e hemorroidas, além de ser um exame importante utilizado na prevenção do câncer colorretal. Fálico - Relativo ao órgão reprodutor masculino. Fantasias sexuais - Fantasia erótica é um desejo latente acerca de um ambiente sexual ou situação sexual que possa aumentar a sensação de prazer na hora do ato sexual. Feminicídio - É o homicídio cometido contra mulheres que é motivado por violência doméstica ou discriminação de gênero. Genitais - Órgãos diretamente envolvidos na reprodução e que fazem parte do aparelho reprodutor masculino e feminino. Homoafetivo - É o adjetivo que qualifica uma pessoa que gosta e sente atração por pessoas do mesmo sexo. IST - Infecções Sexualmente Transmissíveis. Libido - Procura instintiva do prazer sexual; desejo. Menopausa - Um declínio natural nos hormônios reprodutivos quando uma mulher atinge 40 ou 50 anos. Métodos contraceptivos - Contracepção é o ato de evitar a gravidez. Os métodos desse controle incluem medicamentos, procedimentos, dispositivos e comportamentos. Mortalidade materna - Morte materna é a morte de uma mulher durante a gravidez ou nos 42 dias seguintes ao termo da gravidez, independentemente da duração e do local da gravidez, e a partir de qualquer causa relacionada ou agravada pela gravidez ou seu tratamento, mas não de causas acidentais. Nome social - É o nome pelo qual pessoas transexuais, travestis ou outros preferem ser chamadas no dia a dia, ao invés de seu nome registrado em cartório, que não reflete a sua identidade de gênero. Políticas de saúde - Conjunto de ações e serviços prestados à população. Pudor - Sentimento de vergonha, timidez, mal-estar, causado por qualquer coisa capaz de ferir a decência, a modéstia, a inocência. Puerpério - Também chamado resguardo ou quarentena, é a fase pós-parto em que a mulher experimenta modificações físicas e psíquicas. Reprodução - Refere-se à função através da qual os seres vivos produzem descendentes, dando continuidade à sua espécie. Sexualidade - Representa o conjunto de comportamentos que concernem à satisfação da necessidade e do desejo sexual. Tabus sociais - São criados pela sociedade através dos padrões morais e convenções sociais impostas e por isso, pode ser diferente de uma cultura para outra. Tumescência peniana – Ereção. Curso | Agente Comunitário de Saúde 18 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde sexual e saúde reprodutiva / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 300 p. : il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Cadernos de Atenção Básica, n. 26). BORGES, A. L. V. Adolescência e vida sexual: análise do início da vida sexual de adolescentes residentes na zona leste do município de São Paulo. 2004. 138f. Tese (Doutorado em Saúde Pública) – Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. LEITE, M.M.J.; PRADO, C.; PERES, H.H.C. Educação em Saúde: desafios para uma prática inovadora. São Caetano do Sul: Difusão Editora, 2010. SOUZA, L.M; MORAIS, R.L.G.L; OLIVEIRA, J.S. Direitos sexuais e reprodutivos: influências dos materiais educativos impressos no processo de educação em sexualidade. Saúde Debate | Rio De Janeiro, V. 39, N. 106, P. 683-693, JUL-SET 2015. EDUCAÇÃO SEXUAL E REPRODUTIVA Para acesso ao lattes, clique AQUI. GLOSSÁRIO 17 1.1 História da saúde sexual e reprodutiva 1.2 Desenvolvimento da sexualidade 1.2.2 Sexualidade na adolescência 1.3 Saúde sexual na atenção básica 1.3. 1 Educação sexual na população idosa 1.3. 2 Educação sexual e reprodutiva na população negra 1.3.3 Educação sexual e reprodutiva da população LGBTQIA+ (Lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, queer, questionando, intersexo, curioso, assexuais, pan e polisexuais, aliados, two-spirit, kink) 1.3.4 Educação sexual e reprodutiva da população indígena 2.1 O papel da atenção básica no planejamento reprodutivo 2.2 Métodos contraceptivos
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