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TRATAMENTO DE DENTES INFECTADOS (NECROPULPECTOMIA) Enquanto a polpa dental estiver viva, a infecção não se estabelece, em função da capacidade de defesa do tecido pulpar. Contudo, quando há necrose, independentemente da causa, uma infecção irá se instalar no sistema de canais radiculares, uma vez que a capacidade de defesa tecidual foi perdida. Sucesso no tratamento de doenças perirradiculares = eliminação dos micro- organismos causadores Assim, deve-se considerar todo dente com polpa necrosa como infectado, independentemente da presença de lesão perirradicular. ➔ O tratamento deve ser voltado para a erradicação da infecção intrarradicular. INFECÇÕES ENDODÔNTICAS Necropulpectomia: indicada para infecção primária do canal. Retratamento: infecção persistente ou secundária. Infecção Primária - de 10 a 30 espécies de bactérias, com prevalência de anaeróbias estritas. (Treponema, Prevotella, Porphyromonas, Actinomyces) Infecção secundária/persistente – de 1 a 5 espécies de bactérias, predomínio de anaeróbias facultativas. (Enterococcus faecalis, Pseudomonas aeruginosa, Candida albicans – resistência ao hidróxido de cálcio). Para a Necropulpectomia: duas sessões, usando pasta de hidróxido de cálcio em veículo biologicamente ativo (paramonoclorofenol canforado, clorexidina ou iodeto de potássio iodetado). ANATOMIA DA INFECÇÃO Na infecção pulpar, as bactérias podem se encontrar em suspensão na luz do canal principal, em estado planctônico, e/ou aderidas às paredes dentinárias do canal. Lesão perirradicular: causada por biofilme bacteriano aderidos à região apical do sistema de canais radiculares. Além disso, a infecção pode se propagar para túbulos dentinários e variações da anatomia interna dos canais (canais laterais, delta apical, istmos, reentrâncias). Túbulos dentinários infectados Bactérias aderidas à parede do canal Francisca Aline – Odonto UFPI T102 A infecção pulpar não pode ser removida espontaneamente pelas defesas do hospedeiro e nem tratada por antibioticoterapia sistêmica, devido à ausência de vasos sanguíneos. Em virtude da localização anatômica da infecção endodôntica, ela só pode ser tratada por meios químicos e mecânicos. ➔ Etapas de combate à infecção: 1) Preparo químico-mecânico; 2) Medicação Intracanal; 3) Obturação do Sistema de Canais Radiculares. PREPARO QUÍMICO-MECÂNICO (PQM) Limas + Substâncias químicas Remoção mecânica de micro-organismos, seus produtos e tecidos degenerados. ➔ Limas: remoção de detritos e ampliação do canal; ➔ Substâncias químicas: solvente de matéria orgânica, ação antimicrobiana, remoção de detritos pela ação mecânica do fluxo/refluxo. Ação Mecânica A ação mecânica de instrumentação e de irrigação elimina boa parte dos micro- organismos, embora não a sua totalidade. Quanto mais amplo for o preparo do canal, maior será a eliminação de bactérias do seu interior. ➔ Preparos suficientemente amplos: 1) Incorporam irregularidades anatômicas; 2) Permitem maior remoção de irritantes do interior do sistema de canais radiculares; 3) Permitem uma melhor irrigação do terço apical. O diâmetro final do preparo dependerá do volume radicular e da presença de curvaturas. Instrumentos de Ni-Ti (rotatórios ou manuais): indicados para canais curvos, trazendo menor risco de acidentes transoperatórios. Limas autoajustáveis (SAF) – maior adaptação à anatomia do canal em seção transversal, usada como técnica de instrumento único. Excelentes resultados em termos de modelagem do canal, mas apenas em dentes unirradiculares. Ação Química De 25 a 35% das áreas das paredes do canal principal não são tocadas pelos instrumentos durante o preparo mecânico. ➔ Por isso, é importante o uso de substâncias químicas auxiliares e medicamentos dotados de atividade antimicrobiana. Preparos amplos + solução antibacteriana = maximizar a desinfecção. NaOCl (0,5% a 5%) – ✓ Possui forte ação antimicrobiana e antibiofilme; ✓ Não pode ser usado diretamente sobre tecidos vivos; ✓ Na Endodontia, entra em contato com uma área pequena de tecido vivo, ao nível de forame apical e foraminas, e por um período de tempo muito curto, insuficiente para causar danos significativos aos tecidos perirradiculares. No entanto, se extravasado para esses tecidos, há aumento da área e do tempo de contato, resultando em danos para o paciente; ✓ Tem como propriedade a dissolução de matéria orgânica. ➔ Ultrassom + NaOCL – aumento do efeito antibacteriano, devido ao aumento do fluxo e/ou ao aquecimento da solução de NaOCl. Isso pode aumentar o efeito antibacteriano da solução, ao mesmo tempo que permite que esta invada irregularidades do sistema de canais radiculares. Contudo, há aumento do risco de acidentes (extravasamento). Clorexidina (1 a 2%) – ✓ Atividade antimicrobiana contra micro-organismos resistentes (Enterococos); ✓ Isoladamente, não inativa o LPS; ✓ Tem como propriedade a substantividade, ou seja, mantém sua atividade durante dias ou semanas; ✓ Menos citotóxica que o NaOCl; ✓ Apresenta amplo espectro de ação (Gram-positivas, Gram-negativas, Aeróbios, Anaeróbios, Leveduras, Fungos). SESSÃO ÚNICA OU DUAS SESSÕES? Em casos de necrose pulpar, alguns estudos mostram um maior sucesso a longo prazo em tratamentos de duas sessões, com aplicação de medicação intracanal. ➔ Sessão única: previne recontaminação do canal. Executada quando o fator tempo, a habilidade do operador, as condições anatômicas e o material disponível assim permitirem. Alguns micro-organismos permanecem no sistema de canais, mesmo após o preparo químico-mecânico, já que a substância irrigadora não tem tempo de ação intracanal suficiente para agir em profundidade. Assim, medidas adicionais que controlem o processo infecioso devem ser adotadas. CONTROLE DA INFECÇÃO – EFEITO DA MEDICAÇÃO INTRACANAL (MIC) Curativos intracanais potencializam a desinfecção do sistema de canais radiculares. Reparação mais adequada dos tecidos perirradiculares e maior índice de sucesso. Hidróxido de cálcio – ✓ Atividade antibacteriana, devido à sua alta alcalinidade; ✓ Contudo, fluidos teciduais e dentina podem limitar sua ação por apresentarem substâncias tamponantes. Pasta de hidróxido de cálcio, em veículo inerte, é ineficaz para desinfetar a dentina. Pastas sugeridas: hidróxido de cálcio associado à paramonoclorofenol canforado e glicerina (HG) ou à clorexidina (HCHX) - ✓ Alta performance antibacteriana e antifúngica; ✓ Excelente raio de atuação; ✓ Amplo espectro; ✓ Rapidez na destruição de células bacterianas; ✓ Retarda a infecção no canal; ✓ Biocompatibilidade. Preparo químico-mecânico + medicação intracanal = eliminação ou redução da população bacteriana intracanal a níveis compatíveis com a reparação perirradicular. CONTROLE DA INFECÇÃO – EFEITO DA OBTURAÇÃO Sela o espaço vazio, impedindo a reinfecção. Barreira física à infecção ou reinfecção do sistema de canais. Materiais sólidos (guta percha) e plásticos (cimentos endodônticos). Se os espaços do canal forem deixados sem obturação, o espaço vazio será extremamente vulnerável à recolonização bacteriana. Preenchimento tridimensional dos canais: ✓ Abrange as porções apical, lateral e coronária do sistema de canais; ✓ Isola micro-organismos no interior do canal, impedindo ou reduzindo sua migração aos tecidos perirradiculares. Contudo, bactérias em áreas de ramificações ou na porção mais apical do canal, próxima ao forame, não podem ser sepultadas, pois estão em contato direto com a fonte de nutrientes (tecidos periapicais). Técnica da condensação lateral: mais utilizada. Técnicada termoplastificação da guta percha: vantagem de obturar canais com anatomia aberrante, alterados por reabsorção interna ou com deformidades em virtude do preparo inadequado. OTIMIZAÇÃO DA DESINFECÇÃO PÓS- PREPARO a) Manobra de efeito mediato – Medicação intracanal entre as consultas, que deve permanecer no canal por 7 a 14 dias. Manobra de escolha para tratamentos de dentes despolpados. b) Manobras de efeito imediato – Evitar necessidade de medicação intracanal. Tratamento em sessão única. Ainda em fase experimental, eficácia não comprovada cientificamente. Manobras promissoras, aplicadas após o preparo e remoção da smear layer: ✓ Irrigação final (rinsagem) com solução de clorexidina; ✓ Irrigação final com MTA; ✓ Ativação sônica ou ultrassônica do NaOCl; ✓ Agitação mecânica com instrumentos expansíveis (XP-Endo Finisher); ✓ Laser e terapia fotodinâmica. PROTOCOLO CLÍNICO COM BASE EM ESTRATÉGIA ANTIMICROBIANA (por Lopes&Siqueira): Prevenção ✓ Assepsia ✓ Selamento coronário adequado Controle Preparo apical: No mínimo, até a lima #35; Irrigação: NaOCl 2,5%; Procedimento suplementar: Irrigação Ultrassônica Passiva (PUI), XP-Endo Finisher ou Rinsagem com clorexidina; MIC: pasta de hidróxido de cálcio com veículo ativo; Obturação: guta percha + cimento Protocolo 1. O dente deve estar totalmente isento de placa bacteriana e cálculo; 2. Cirurgia de acesso; 3. O campo operatório (dente, grampo, lençol de borracha) deve ser limpo com solução de peróxido de hidrogênio a 3% e descontaminado com álcool iodado a 2%, CHX a 2% ou NaOCl a 2,5%; 5. Após ao acesso, a câmara pulpar deve ser irrigada com solução abundante de NaOCl a 2,5%; 6. Preparo químico-mecânico deve ser realizado com uma técnica progressiva no sentido coroa-ápice, associados à irrigação frequente com NaOCl a 2,5% após cada uso de instrumento (no mínimo 1 a 2 mL de solução irrigadora a cada troca de instrumento). O canal deve ser ampliado na medida de 1mm aquém do ápice radiográfico. Não ampliar muito o canal, para evitar o enfraquecimento demasiado da estrutura dentária; 7. O segmento apical deve ser limpo através do emprego das limas de patência de pequeno calibre; 8. Remoção da smear layer, que pode conter bactérias, impedir ou retardar a ação em profundidade da medicação intracanal e interferir na adaptação do material obturador às paredes do canal 9. Medicar o canal com pasta HPG ou HCHX. Pode-se usar espirais de Lentulo acoplado a um micromotor de baixa rotação ou manualmente; 11. Radiografar o dente para a verificação do preenchimento adequado do canal com a pasta. Limpa-se a câmara pulpar e aplica-se o selamento coronário com um cimento temporário; 12. Na segunda sessão, 5 a 7 dias depois, no mínimo, remove-se a pasta utilizando a lima de memória associada à irrigação com NaOCl a 2,5% ou CHX e procede-se à obturação do canal.
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