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Políticas Públicas de Esporte e Lazer_ Olhares e Experiências na Perspectiva do Direito Social

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POLÍTICAS PÚBLICAS 
DE ESPORTE E LAZER
Olhares e experiências 
na perspectiva do direito social
MARCO PAULO STIGGER 
MAURO MYSKIW 
Organizadores
POLÍTICAS PÚBLICAS 
DE ESPORTE E LAZER
Olhares e experiências 
na perspectiva do direito social
Ijuí
2019
Coleção Educação Física
 2019, Editora Unijuí
 Rua do Comércio, 3000, Bairro Universitário
 98700-000 – Ijuí – RS – Brasil
 Fones: (0__55) 3332-0217
 E-mail: editora@unijui.edu.br
 Http://www.editoraunijui.com.br
Editor: Fernando Jaime González 
Capa: Eska Design – Ethel Kawa e Tiemy Saito
Revisão e editoração: Fernando Piccinini Schmitt
Responsabilidade Gráfica e Administrativa: 
Editora Unijuí da Universidade Regional do Noroeste 
do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí; Ijuí, RS, Brasil)
Catalogação na Publicação: 
Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí
P769 Políticas públicas de esporte e lazer: olhares e experiências na 
perspectiva do direito social / organizadores Marco Paulo Stigger, Mauro 
Myskiw. – Ijuí: Ed. Unijuí, 2019. – 232 p. – (Coleção educação física).
Formato impresso e digital.
ISBN 978-85-419-0285-4 (impresso)
ISBN 978-85-419-0286-1 (digital)
1. Políticas públicas. 2. Esporte. 3. Direito social. 4. Educação. 
5. Lazer. 6. Formação de professores. I. Stigger, Marco Paulo. II. Myskiw, 
Mauro. III. Título. IV. Série.
 CDU: 796:36
Bibliotecário Responsável: 
Eunice Passos Flores Schwaste
CRB 10/2276
FICHA TÉCNICA
República Federativa do Brasil
Jair Messias Bolsonaro
Presidente
 Ministério da Cidadania
Osmar Terra
Ministro
Secretaria Especial de Esporte
Décio dos Santos Brasil
Secretário Especial
Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social – SNELIS
Washington Stecanela Cerqueira
Secretário Nacional
Chefia de Gabinete
Sidney Cavalcante de Oliveira
Departamento de Desenvolvimento e Acompanhamento de Políticas 
e Programas Intersetoriais – DEDAP
Angelo Roger Aroldo de França Costa
Diretor
Coordenação–Geral de Lazer e Inclusão Social – CGLIS
Clemente Mieznikowski
Coordenador–Geral
Departamento de Gestão de Programas de Esporte, Educação, 
Lazer e Inclusão Social – DEGEP
Clair Tomé Kuhn
Diretor
Coordenação–Geral de Análise de Propostas – CGAP
Joseane Salmito de Araujo Sitônio
Coordenador–Geral
 Coordenação–Geral de Acompanhamento da Execução – CGAE
Maria Susana Gois de Araújo
Coordenador–Geral
A coleção Educação Física é um projeto editorial da Editora Uni-
juí, vinculado a um conselho editorial interinstitucional, que visa dar 
publicidade a pesquisas que buscam um constante aprofundamento 
da compreensão teórica desta área que vem constituindo sua reflexão 
conceitual, bem como os trabalhos que garantam uma maior aproxima-
ção entre a pesquisa acadêmica e os profissionais que encontram-se nos 
espaços de intervenção. Promover este movimento é sem dúvida o maior 
desafio desta coleção.
Conselho Editorial
Carmen Lucia Soares – Unicamp
Mauro Betti – Unesp/Bauru
Tarcisio Mauro Vago – UFMG
Amauri Bassoli de Oliveira – UEM
Giovani De Lorenzi Pires – UFSC
Valter Bracht – Ufes
Nelson Carvalho Marcellino – Unicamp
Paulo Evaldo Fensterseifer – Unijuí
Vicente Molina Neto – UFRGS
Elenor Kunz – UFSC
Victor Andrade de Melo – UFRJ
Silvana Vilodre Goellner – UFRGS
Comitê de Redação
Paulo Evaldo Fensterseifer
Fernando Jaime González
Maria Simone Vione Schwengber
Leopoldo Schonardie Filho
C
O
LE
ÇÃO
Sumário
Prefácio / 11
Apresentação / 17
Marco Paulo Stigger 
Mauro Myskiw
Parte 1 – Direito social e processos políticos
Investimentos e desinvestimentos nas políticas públicas de esporte e lazer em Porto 
Alegre: da criação da sme até a sua extinção / 23
Marco Paulo Stigger 
Luis Felipe Silveira 
Bruna Brogni da Silva 
Paloma Müller de Souza 
Sheroll Bernardi Meira 
Thiago Milan da Silva 
Mauro Myskiw
A extinção da SME de Porto Alegre: discursos e enquadramentos 
do esporte, recreação e lazer na agenda do governo / 49
Mauro Myskiw 
Denise Fick Alves 
Mauro Castro Ignácio 
Vitória Leite da Veiga 
Luis Felipe Silveira 
Walter Reyes Boehl 
Marco Paulo Stigger
Direito ao esporte e lazer na análise das políticas públicas de Santa Maria/RS / 81
João Francisco Magno Ribas 
Matheus Francisco Saldanha Filho 
Joseane Alba 
Mônica Possebon
As memórias da gestão pública de esporte e lazer na cidade de Pelotas/RS / 101
Rose Meri Santos da Silva 
Carlos Eduardo Pereira Garcia 
Marcos Bersch da Cruz
Parte 2 – Direito social, emancipação e apropriação
A prática de skate no cotidiano da cidade 
de Osório/RS: uma etnografia multissituada / 121
Cinara Rick 
Leandro Forell
Aprendizagens e emancipações dos direitos sociais do esporte e lazer: 
um estudo exploratório do PEI e das participações de jovens nos JERGS / 135
Augusto Dias Dotto 
Ednaldo da Silva Pereira Filho
Direitos de esporte e lazer nas experiências sociais 
das juventudes de São Leopoldo/RS / 155
Claiton Rodrigo Nunes 
Ednaldo da Silva Pereira Filho 
Khrysalis Pires de Castro
Parte 3 – Direito social, educação e formação
O esporte educacional sob o olhar dos gestores municipais 
do/no litoral norte gaúcho / 177
Vanessa Kudla Nogueira 
Cinara Rick 
Fabiana Gazzotti Mayboroda 
Leandro Forell
Esporte e lazer e a formação de professores no município de Santa Maria/RS / 191
João Francisco Magno Ribas 
Matheus Francisco Saldanha Filho 
Natália de Borba Nunes 
Vivianne Costa Koltermann 
Joseane Alba 
Mônica Possebon
Histórias e memórias dos Jogos Escolares de Pelotas/RS, o JEPEL / 213
Rose Meri Santos da Silva 
Carlos Eduardo Pereira Garcia 
Marcos Bersch da Cruz
Autores / 229
11
Prefácio
O convite para prefaciar essa obra foi aceito com um misto de 
orgulho e apreensão. Orgulho por receber esse presente – e desafio – de 
pessoas que, além de nutrir uma boa amizade, admiro pela seriedade do 
trabalho e reconheço como referências na produção de conhecimento 
dentro da nossa área. A apreensão, que acompanha essa satisfação, decorre 
da preocupação em atender a confiança em mim depositada e, ao mesmo 
tempo, produzir um texto introdutório que esteja à altura das pessoas e 
estudos que compõem esse livro.
No entanto, como afirmou Luther King Jr., “são nos momentos 
de controvérsia e desafio que percebemos a verdadeira medida de um 
homem”. Para além da esfera pessoal, é notório que vivemos um tempo 
desafiador e conflituoso para aqueles que defendem os direitos sociais e 
que, concomitantemente, almejam garanti-los qualificando a política e 
gestão pública. Tais objetivos, vinculados mais especificamente ao esporte 
e lazer do Estado do Rio Grande do Sul, conformam horizontes dentro do 
escopo de atuação da Rede CEDES-RS. E nesse compromisso me alinho 
aos pesquisadores da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança 
(ESEFID) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), da 
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS-Litoral Norte), 
da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de 
Pelotas (ESEF/UFPel), do Centro de Educação Física e Desportos da 
Universidade Federal de Santa Maria (CEFD/UFSM) e da Universidade 
do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
Ao observar que esse grupo de pesquisadores elegeram as políticas 
públicas de esporte e lazer no Rio Grande Do Sul a partir de uma pers-
pectiva do direito social, rapidamente me faço a seguinte indagação: O 
que significa pensar o esporte e lazer como direitos sociais em nosso tempo 
12
Mauro Myskiw – Marco Paulo Stigger
histórico? Para arriscar uma resposta, convido a uma rápida digressão ao 
passado, acreditando que ela ilumine o presente e ajude a prospectar o 
futuro.
Segundo Potyara A. P. Pereira (2009),1 autora citada em textos dessa 
obra, os direitos sociais devem ser alvos prioritários das políticas sociais, 
uma vez que se orientam pelo princípio da igualdade. Na cronologia dos 
direitos, proposta por T. H. Marshall (1967),2 os direitos sociais teriam 
se consolidado apenas no século XX, após os direitos civis e políticos. 
Entretanto, pensar o elemento universal e consubstanciá-loem direitos 
é uma tarefa que nos remete à filosofia das Luzes, à Revolução Norte-
Americana e, posteriormente, à França e a Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão, de 1789, que consignou: “os homens nascem e 
permanecem livres e iguais em direito”.
Mais recentemente, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, 
de 1948, reafirmou, em seus princípios fundamentais, a universalidade 
e indissociabilidade dos Direitos Humanos, bem como a igualdade, sem 
exceção, entre os homens. Todavia, conforme alerta Coutinho (2005),3 os 
direitos não são processos naturais, mas sim fenômenos sociais e resultan-
tes da própria história. A desestruturação do Estado social comprometeu 
o imperativo democrático e a perspectiva de pensar coletivamente que 
tipo de humanidade e sociedade gostaríamos de construir. Ademais, 
não obstante a tentativa das Nações Unidas em dar a seus princípios um 
conteúdo em direito e não puramente moral, após mais de setenta anos, 
chegamos a um contexto no qual os direitos humanos são hostilizados. 
No caso brasileiro, essa hostilidade é verbalizada por atores políticos que 
ocupam o Estado e deveriam se encarregar de salvaguardá-los.
As mudanças societárias conformaram uma realidade desafiadora 
na qual a crise estrutural da sociabilidade vigente, conquanto pareça 
distante de nosso objeto mais específico, apresenta ramificações sociais e 
econômicas, com repercussões no plano ideopolítico. As desigualdades, 
a corrupção, o desemprego e a estagnação econômica, que penitenciam 
1 PEREIRA, P. A. P. Discussões conceituais sobre política social como política pública e direito 
de cidadania. In: BOSCHETTI, I. et al. (Orgs.). Política social no capitalismo: tendências 
contemporâneas. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2009, p. 87-108.
2 MARSHALL, Thomas H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 
1967.
3 COUTINHO, C. N. Notas sobre cidadania e modernidade. Revista Ágora, Vitória, Ano 2, n. 
3, dez. 2005. 
13
Políticas Públicas de Esporte e Lazer – Olhares e Experiências
à maior parte da população, engendram terreno fértil à emergência de 
dirigentes prontos a semear o divisionismo e o discurso de ódio, com 
consequências explosivas de demonstração latente na atualidade.
Acompanha essa narrativa odiosa a caça e procura por culpados, 
que devem ser capturados, expostos e severamente castigados, sendo esse 
ritual transmitido à população de forma espetacularizada pelos meios de 
comunicação e redes sociais. Quando essa busca fracassa e não resulta 
em personagens singulares, há sempre um ente pronto para receber a 
responsabilidade e sobre o qual podemos descarregar nossas frustrações 
– refiro-me ao Estado. O receituário para remediar esse ente “adoecido” 
passa por uma visão minimalista que busca reduzi-lo ao máximo, com-
prometendo diretamente a oferta de políticas públicas e, por conseguinte, 
a garantia dos direitos. A recente extinção da Secretaria Municipal de 
Esporte de Porto Alegre é uma expressão pontual e palpável da hegemonia 
desta perspectiva.
Juntamente com o Estado, ocupa o lugar de culpado o grupo 
social que não se adequa ao espírito empreendedor de nosso tempo, 
pautado na lógica instrumental e pela visão meritocrática do self-made 
man. Para os desacordos com essa racionalidade, há uma concepção de 
justiça social apartada do campo dos direitos, mas seccionada em ações 
focalizadas que os ajude a recuperar seu potencial produtivo, pois, como 
analisa Moyn (2018),4 “ninguém está autorizado a afundar”. Essa visão 
utilitarista do mundo também permeia o esporte e o lazer. Proni (2011)5 
infirma a presença de um esporte pós-moderno, pois compreende que as 
características do mundo esportivo contemporâneo (mercantilização e 
espetacularização) são reflexos do desequilíbrio causado pelas promessas 
da modernidade, com a pujança do mercantilismo e o utilitarismo sobre 
o humanismo.
Nesse contexto de ataque às liberdades e ao Estado, pensar o sig-
nificado da natureza dos direitos em qualquer área social é um enorme 
desafio. Considerando que em nosso país nem mesmo necessidades 
básicas e direitos fundamentais são plenamente atendidos, emerge uma 
nova questão: Como garantir o esporte lazer como direito sociais em cenário 
4 MOYN, S. Not Enough: Human Rights in an Unequal World. Massachusetts: Harvard 
University Press, 2018.
5 PRONI, M. W. Proposições para o estudo do esporte contemporâneo. Journal of ALESDE, 
Curitiba, v. 1, n. 1, p. 166-182, setembro 2011. 
14
Mauro Myskiw – Marco Paulo Stigger
tão adverso? Certamente, essa é uma indagação que hoje mobiliza um 
amplo conjunto da sociedade e compõe o pano de fundo de produções 
científicas semelhantes às contidas nesta obra.
A Rede CEDES – Centros de Desenvolvimento de Esporte 
Recreativo e de Lazer –, criada em 2003 como a ação programática do 
Ministério do Esporte, inspirou-se na compreensão do papel estatal na 
efetivação do direito ao esporte e lazer e, ao mesmo tempo, no reconhe-
cimento da necessidade de construção de uma base teórica para quali-
ficação da formulação e gestão de políticas públicas. Desde sua criação, 
a Rede CEDES passou por diferentes momentos com mudanças de 
gestão, organização e concepção, incluindo a possibilidade de extinção. 
No entanto, a Chamada Pública nº 01/2015 implantou os Centros de 
Desenvolvimento de Pesquisas em Políticas de Esporte e Lazer da Rede 
CEDES (CDPPELs), reunindo 73 Instituições de Ensino Superior (IES), 
sendo 16 da Região Norte, 24 do Nordeste, 9 do Sudeste, 11 do Centro 
Oeste e 13 da Região Sul.
A ampliação da Rede CEDES teve como objetivo geral “promover o 
desenvolvimento de atividades acadêmico-científicas, fundamentadas nas 
Humanidades e articuladas em níveis local, estadual, regional, nacional, 
internacional e, também, territorial”. Ao mesmo tempo, apresentou em 
seus objetivos específicos a qualificação das políticas públicas de esporte 
e lazer, seja no desenvolvimento de pesquisas, seja nas contribuições à 
formação e o assessoramento de pessoas e instituições, seja no auxílio 
à formulação e os debates sobre ordenamento legal. Tais objetivos são 
contemplados pelos grupos de pesquisa e pelos textos que compõem este 
livro, respeitadas as distintas epistemologias que os animam e alimentam, 
expressão da pluralidade importante ao campo acadêmico-científico.
Pensar o direito social e os processos políticos que envolvem as polí-
ticas de esporte e lazer locais – para além dos desafios de nossa sociabi-
lidade, já sumarizados nessa introdução – requer levar em consideração 
os elementos mais específicos desse setor da gestão pública. A história 
dessas políticas e seus processos de continuidade e descontinuidade 
(investimento e desinvestimento) são obstáculos à consubstanciação da 
perspectiva de direito e de uma política de Estado.
Ademais, no caso do esporte, mudanças ideológicas e políticas no 
plano governamental, por vezes, são incapazes de alterar a orientação deste 
setor, mantendo a hegemonia do esporte de performance e sua valori-
15
Políticas Públicas de Esporte e Lazer – Olhares e Experiências
zação pelo potencial político e econômico agregado. Como subsidiária 
a essa concepção majoritária, promove-se ações focalizadas de cunho 
assistencial que tratam a prática esportiva e de lazer como atenuadores 
das mazelas sociais e estratégias de combate às drogas e violência urbana. 
Essa perspectiva orienta alterações na estrutura administrativa do esporte 
e na concepção de programas e projetos nas dimensões do esporte edu-
cacional e de participação. Mais recentemente, registra-se a incorporação 
da pasta ministerial do esporte ao Ministério da Cidadania e, no plano 
local, a constituição da Secretaria Municipal do Desenvolvimento Social 
e Esporte em Porto Alegre.
Sob uma ótica distinta, relacionar o direito social, emancipação 
e apropriação do esporte e lazer entusiasma pensar as potencialidades 
desses fenômenos socioculturais na constituição dos sujeitos emancipa-
dos e, consequente, transformaçãodesta sociabilidade. A priorização ao 
esporte educacional, prevista em texto constitucional, e a composição 
de uma política de esporte e lazer voltada à promoção da saúde, seriam 
alterações suficientes para favorecer uma perspectiva de educação integral 
e a formação para a cidadania? Sem idealizações, essa reflexão não tem 
respostas simples ou monocausais, porém estudos sobre as experiências 
sociais e a apropriação de práticas corporais são subsídios necessários 
para respondê-la.
Abreu (2008)6 afirma que a cidadania moderna não pode ser 
pensada separada das condições existenciais e que, portanto, a análise da 
cidadania deve se referenciar “na materialidade e nas subjetividades his-
toricamente constituídas”. Contudo, mesmo que o culto ao utilitarismo, 
ao mercantilismo e ao espírito empreendedor conformem a religião de 
nosso tempo, não me parece que isso exclua definitivamente a possibi-
lidade do esporte e o lazer como tempos e espaços de novas formas de 
relação com o mundo e com o outro, sendo tais manifestações parte de 
um projeto de melhorias das condições de vida.
A possibilidade acima tem interface com a relação entre o direito 
social, educação e formação no âmbito das políticas públicas de esporte 
e lazer. Mudanças na compreensão e abordagem destes fenômenos re-
clamam uma formação (inicial e continuada) ampliada, que aborde os 
6 ABREU, H. Para além dos direitos: cidadania e hegemonia no mundo moderno. Rio de Janeiro: 
Editora UFRJ, 2008.
16
Mauro Myskiw – Marco Paulo Stigger
conhecimentos da área nas ciências sociais, humanas e biológicas. Além de 
uma capacitação em serviço que instrumentalize os atores envolvidos na 
compreensão das nuances e adversidades da gestão pública, especialmente 
na garantia do acesso ao esporte e lazer como direitos sociais.
Possivelmente, o melhor exemplo das contradições e desafios da 
política esportiva brasileira esteja sintetizado nos Jogos Escolares. Essa 
política que possui uma longa trajetória histórica foi impulsionada nos 
últimos anos nos estados e municípios do país. Esse estímulo tem rela-
ção com a configuração das políticas esportivas de âmbito federal e sua 
ênfase na realização de grandes eventos esportivos. Ao mesmo tempo, 
esses jogos se deparam com um conjunto de conflitos que habitam as 
fronteiras entre o esporte educacional e de alto rendimento, que interpõe 
a problemática do esporte como um meio/instrumento educativo ou 
como um fim da política de educação.
O escritor português José Saramago disse certa vez: “O que dá o 
verdadeiro sentido ao encontro é a busca, e é preciso andar muito para 
se alcançar o que está perto”. Já Eduardo Galeando, parafraseando o 
cineasta Fernando Birri, afirmou que a utopia está no horizonte e que, 
por mais que ela se afaste, seu sentido está em nos colocar em movi-
mento. Portanto, ainda que o esporte e lazer sejam coisas tão próximas, 
pois fazem parte de nossa atuação profissional e produção intelectual, a 
materialização desses em direito é uma utopia que precisamos – juntos 
– continuar caminhando muito para alcançar.
Parabéns aos autores dessa obra por darem mais um passo nessa 
longa caminhada!
Brasília, 2 de março de 2019.
Pedro Athayde 
Doutor em Política Social e professor na Universidade de Brasília
17
Apresentação
Marco Paulo Stigger 
Mauro Myskiw
Este livro é resultado de uma política pública com 15 anos de 
existência, direcionada para a produção e socialização de conhecimen-
tos sobre esporte e lazer no Brasil, tendo como base a articulação com 
as Ciências Sociais e Humanas e como orientador central a garantia de 
direitos sociais. Nos referimos, especificamente, à Rede CEDES, um 
Programa criado em 2003 no âmbito do Ministério do Esporte, Governo 
Federal, coordenado, desde 2011, pela Secretaria Nacional de Esporte, 
Lazer e Inclusão Social. Em 2015, como ação programática, foram sele-
cionadas 27 propostas de estruturação e desenvolvimento dos Centros 
de Pesquisa em Políticas Públicas de Esporte e Lazer, essas sediadas em 
cada uma das Unidades da Federação.
A proposta de Centro da Rede CEDES do Rio Grande do Sul 
(Rede CEDES-RS) passou a ser implementada sob a coordenação da 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em conjun-
to com a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), a 
Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a Universidade Federal de Santa 
Maria (UFSM) e a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). As 
ações, no âmbito dessas instituições, foram desenvolvidas por membros 
dos seguintes Grupos de Pesquisas: Grupo de Estudos Socioculturais em 
Educação Física (UFRGS); Grupo de Estudos em Práticas Corporais 
(UERGS); Grupo Educação Física: Educação, Saúde e Escola (UFPel); 
Grupo de Estudos Praxiológicos(UFSM); e Grupo de Estudos OTIUM: 
Esporte, Saúde e Qualidade de Vida (Unisinos).
Compreendendo o engajamento de oito professores/pesquisadores 
que coordenaram um grupo de vinte e um estudantes de graduação ou 
pós-graduação, o Centro da Rede CEDES-RS esteve orientado para o 
desafio de produzir conhecimentos sobre as práticas e políticas que fazem 
com que esporte e lazer sejam garantidos como direitos sociais e, para 
18
Mauro Myskiw – Marco Paulo Stigger
tanto, sejam democratizados universalmente. Em torno disso, o objetivo 
do Centro compreendeu a constituição de um Centro de Estudos, de 
Investigações e de Formação no campo da política e da gestão pública do 
esporte e do lazer no Estado do Rio Grande do Sul, este orientado para 
o conjunto de agentes sociais e de entidades engajados no planejamento, 
na implementação e na avalição de planos, programas e projetos que se 
pautam pelos propósitos de educação, de lazer e de inclusão social, tendo 
em vista a melhor compreensão e qualificação da intervenção.
Para atender a esse objetivo geral, foram estabelecidas linhas de 
ação, dentre as quais a estruturação de espaços de produção e divulgação 
de conhecimentos, isso mediante estudos, de investigações e publicações 
sobre políticas públicas e práticas de gestão do esporte e do lazer, aber-
tos à participação de agentes do campo acadêmico, do campo político/
burocrático, como também de membros ‘da comunidade’. É no interior 
dessa linha que se localiza o presente livro, uma coletânea de textos que 
procura retratar olhares e experiências na perspectiva do direito social sobre 
as políticas públicas de esporte e lazer do Rio Grande do Sul. Nos referimos 
aos olhares e experiências desenvolvidos/vivenciados pelos pesquisado-
res e estudantes nos grupos de estudos em suas instituições de ensino, 
cada um deles procurando produzir conhecimentos relevantes para suas 
realidades/regiões.
Nesse contexto, cada um dos grupos foi instigado, desde o início, 
a desenvolver suas investigações tendo como eixo norteador o direito 
social ao esporte e ao lazer, o que ocorreu na interface com processos 
políticos, emancipação e apropriação, educação e formação. São essas 
interfaces que estruturam esta coletânea em 3 partes, as quais, somadas, 
têm a expectativa de ampliar o conhecimento e a compreensão sobre as 
políticas públicas do Rio Grande do Sul.
A primeira parte, intitulada “Direitos sociais em processos po-
líticos”, enfoca olhares e experiências sobre políticas públicas/sociais 
vinculadas ao esporte e ao lazer, tendo em vista a noção de processos 
políticos. Tais processos, nas pesquisas que foram realizadas e estão aqui 
descritas, abordam questões como o desinvestimento e a precarização, 
os discursos e enquadramentos nas arenas públicas de disputas, as carac-
terísticas de elaboração e de implementação de políticas e memórias dos 
gestores públicos, suas vinculações partidárias, os setores responsáveis na 
administração municipal. Foi tomando essas questões como objetos de 
19
Políticas Públicas de Esporte e Lazer – Olhares e Experiências
estudos que as investigações puderam trazer elementos bastante signi-
ficativos para a compreensão da política pública/social em municípios 
do Rio Grande do Sul.A segunda parte, que recebe o título de “Direitos sociais, emanci-
pação e apropriação”, contempla elementos que reforçam o fato de que 
esporte e lazer são direitos sociais porque, nas suas experiências, não sem 
conflitos e tensões, os coletivos (aqui em destaque a juventude) desen-
volvem suas visões de mundo, se entendem como cidadãos, produzem 
maneiras inacabadas de se perceberem para além de sujeitos individuais. 
É aí que os trabalhos dialogam com a experiência de emancipação, mas 
também o fazem em articulação com apropriação cultural, no sentido 
de que as vivências esportivas de lazer denotam produções culturais nos 
interstícios do poder instituído/hegemônico. Para trazer e sustentar es-
sas reflexões, os estudos constantes no livro abordam usos esportivos da 
cidade, os projetos sociais esportivos na vida, as experiências sociais de 
acessos, aprendizagens e práticas esportivas em relação a condicionantes 
sociais, culturais e econômicos.
Por fim, a terceira parte, intitulada “Direitos sociais, educação e 
formação”, mostra olhares e experiências a respeito da compreensão e da 
caracterização sobre como esporte e lazer perpassam (ao mesmo tempo 
em que estão perpassados) pelas condições de trabalho na educação e 
na formação para a intervenção no contexto das políticas públicas – na 
forma de programas e ações. Os itinerários de pesquisas e de análises 
descritos nessa parte da obra destacam a compreensão de gestores mu-
nicipais, no emaranhado dos interesses locais/regionais, sobre o esporte 
educacional como objeto de política, assim como abordam as condições 
de trabalho e de formação continuada dos professores que lutam, no 
cotidiano municipal, para garantir o acesso público e gratuito. E, para 
dar materialidade a esses itinerários, são produzidas memórias de uma 
política municipal de esporte escolar que já dura 18 anos.
Embora as pesquisas que resultam na produção deste livro tenham 
sido realizadas no contexto dos grupos em distintas instituições de ensino 
superior, vale sublinhar que elas foram concebidas e amadurecidas coleti-
vamente, através de reuniões periódicas dos membros. Por isso, também 
como maneira de destacar a relevância desse trabalho coletivo, menciona-
mos todas as pessoas envolvidas. Como pesquisadores-coordenadores esti-
veram engajados os professores Ednaldo Pereira Filho (UNISINOS), João 
20
Mauro Myskiw – Marco Paulo Stigger
Francisco Magno Ribas (UFSM), Leandro Forell (UERGS), Marco Paulo 
Stigger (UFRGS), Matheus Francisco Saldanha Filho (UFSM), Mauro 
Myskiw (UFRGS), Raquel da Silveira (UFRGS) e Rose Meri Santos da 
Silva (UFPEL). Os estudantes de iniciação científica que participaram 
do Centro foram: Arthur SantarianoTrojahn (UFRGS), Bruna Brogni da 
Silva (UFRGS), Carlos Eduardo Pereira Garcia (UFPEL), Cinara Rick 
(UERGS), Claiton Rodrigo Nunes (UNISINOS), DainanLanes de Souza 
(UFSM), Denise Fick Alves (UFRGS), Joseane Alba (UFSM), Khrysalis 
Pires de Castro (UNISINOS), Marcos Bersch da Cruz (UFPEL), Mauro 
Castro Ignácio (UFRGS), Natália de Borba Nunes (UFSM), Paloma 
Müller de Souza (UFRGS), Sheroll Bernardi Meira (UFRGS), Thiago 
Milan da Silva (UFRGS), Vanessa Kudla Nogueira (UERGS), Vitoria 
Leite da Veiga (UFRGS) e Vivianne Costa Koltermann (UFSM). Tivemos 
também colaboradores externos que estiveram envolvidos – esses foram 
os alunos de Programas de Pós-Graduação das suas respectivas universi-
dades: Cristiano Neves da Rosa (UFRGS); Luis Felipe Silveira; (UFRGS) 
e Monica Possebon (UFSM).
Mais do que indicar a dimensão do trabalho coletivo na produção 
de conhecimentos sobre gestão e políticas públicas de esporte e lazer, essa 
lista de nomes é importante para evidenciar como o Centro da Rede 
CEDES do Rio Grande do Sul se fortaleceu como espaço de formação 
acadêmica e política dos professores e dos estudantes. Nesse sentido, 
além dos olhares investigativos, os trabalhos que compõem esta coletânea 
retraduzem experiências de formação orientadas para os direitos sociais, o 
que entendemos ser um resultado não menos relevante. Daí é que surge 
o título dessa obra: olhares e experiências.
Parte 1 
Direito social e processos políticos
23
Investimentos e desinvestimentos nas 
políticas públicas de esporte e lazer em Porto 
Alegre: da criação da SME até a sua extinção
Marco Paulo Stigger 
Luis Felipe Silveira 
Bruna Brogni da Silva 
Paloma Müller de Souza 
Sheroll Bernardi Meira 
Thiago Milan da Silva 
Mauro Myskiw
INTRODUÇÃO/PROBLEMATIZAÇÃO
Esse trabalho trata do tema “direitos sociais”, especificamente do 
direito social ao esporte e ao lazer, e da forma como – historicamente 
– ele tem recebido atenção de sucessivos governos que, em diferentes 
momentos, conduziram as políticas públicas da cidade de Porto Alegre. 
A concepção de direitos sociais aqui referida advém dos direitos expli-
citados na Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU,1 os 
quais, desde 1948, foram reconhecidos e incorporados às constituições 
de inúmeras nações do planeta, em especial no mundo ocidental.
No Brasil, essa concepção foi incorporada apenas na Constituição 
de 1988, sendo referência para a nossa história recente (Telles, 1999). 
Dentre outros direitos, foi na Constituição de 1988 que os direitos 
sociais ao esporte e ao lazer adentraram na agenda das políticas pú-
blicas de diferentes esferas governamentais, sendo também motivo de 
reivindicações por parte das populações. Nesse texto trataremos, em 
particular, das políticas públicas de esporte e lazer de Porto Alegre, as 
1 Ver, em detalhe, em Telles (1999). 
24
Mauro Myskiw – Marco Paulo Stigger
quais têm origem em tempos anteriores à Constituição de 1988 e que, 
por conta disso, vêm alimentando uma tradição que tem estimulado 
muitos estudos acadêmicos sobre o tema.
Uma análise da produção acadêmica da Educação Física brasileira 
acerca das políticas públicas voltadas ao esporte e ao lazer que são desen-
volvidas no Brasil levam a identificar um conjunto bastante significativo 
de estudos relativos às políticas municipais que vêm sendo realizadas 
em Porto Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul. Os motivos para ser 
dada atenção a essa cidade em particular podem ser muitos, mas dois 
merecerão o nosso destaque nesse momento.
Uma primeira razão se relaciona a aspectos históricos da cidade, essa 
que proporciona “serviços de lazer”talvez há mais tempo, se comparada 
com outras experiências existentes no território brasileiro: com início já 
desde 1926, se não for considerada a política voltada ao lazer “mais an-
tiga”do Brasil, quiçá seja aquela que adquiriu muita notoriedade, tendo 
em vista a sua “relativa continuidade”já há mais de 90 anos.2
Outro possível motivo para a evidência destinada a Porto Alegre 
no que tange às políticas de esporte e lazer pode ser vinculada ao seu 
“sucesso”, esse considerado em especial a partir da década de 90, quando 
a Frente Popular – por 16 anos – conduziu a administração da cidade. 
Atrevemo-nos a dizer que se trata de uma política “de sucesso” porque, 
conforme identificado em grande parte das pesquisas acadêmicas já rea-
lizadas, além da posição dos servidores que atuam no setor há muitos 
anos, naquele período Porto Alegre ampliou e democratizou,3 de maneira 
bastante significativa, os serviços destinados à população da cidade, no 
que se refere ao direito social no âmbito do lazer e do esporte.
Vale também considerar que, se fosse desenvolvida uma aná-
lise histórica sobre esse longo período de serviços voltados ao lazer 
e ao esporte, certamente se chegaria à constatação de que, nesses 90 
anos,muitos acontecimentos ocorreram e uma diversidade de ações 
2 Arriscamo-nos a afirmar que Porto Alegre tem uma política “de lazer”que poderia ser consi-
derada uma política “de Estado”, já que existe há mais de 90 anos, tendo sido mantida apesar 
das mudanças nas diferentes gestões municipais.
3 Utilizamos a noção de democratização, aqui, tendo em vista que durante as gestões da Frente 
Popular, além de se estabelecer o aumento doacesso, houve o processo de descentralização das 
ações (Santos, 2003), bem como o fomento da participação popular na gestão das políticas 
(Forell, 2014).
25
Políticas Públicas de Esporte e Lazer – Olhares e Experiências
foi efetivada, mesmo com diferentes perspectivas e expectativas gover-
namentais. Não seria de se estranhar se nessa análise histórica ficasse 
evidente que – atravessada por relações de poder – essa trajetória não 
ocorreu de forma linear, mas sempre a partir de uma pauta relativa às 
diferentes lógicas de gestão da cidade, essas vinculadas aos diferentes 
momentos pelos quais Porto Alegre passou.4
Mas do nosso ponto de vista, dentre os fatos que ocorreram nesses 
“momentos”, para além da criação do primeiro Jardim de Recreio da 
cidade em 1926 e a institucionalização do Serviço de Recreação Pública 
(SRP) em 1950 (SRP), dois acontecimentos se mostraram particular-
mente significativos, tendo em vista expressarem posições relevantes “e 
díspares”advindas de iniciativas da administração municipal.
Estamos nos referindo à criação da Secretaria Municipal de 
Esportes, Recreação e Lazer (SME), em 1993, e a sua posterior extinção, 
em 2017. Essas ocorrências vieram à tona quando das disputas durante 
o processo que culminou com a extinção da SME, fato que aconteceu, 
como registramos acima, em 2017. Foi nesse momento que (re)surgiram5 
argumentos “a favor”e “contra”6 a manutenção ou a extinção da SME, 
os quais realimentaram e atualizaram o debate no entorno do tema do 
acesso ao lazer e ao esporte e a sua inclusão entre outros direitos sociais.
No que se refere à criação da SME, importa lembrar que ela ocorreu 
em 1993, durante a gestão da Frente Popular, uma coligação de partidos 
“de esquerda”que – com início em 1989 e final em 2004 – governou a 
cidade de Porto Alegre por 16 anos ininterruptos. Esse período, con-
siderado bastante relevante no que se refere ao acesso ao esporte e ao 
lazer em âmbito municipal, ficou marcado por um processo de gestão 
4 Uma análise com base em Norbert Elias (várias obras) poderia ajudar a compreender as diversas 
configurações que, em diferentes momentos/governos, constituíram as dinâmicas sociais que 
impactaram nas políticas de esporte e lazer na cidade de Porto Alegre. Porém, tendo em vista 
os limites desse texto, esse empreendimento não poderá ser realizado. 
5 Nesse texto, um dos nossos focos está na extinção da SME. Quando dizemos que “(re)surgiram 
argumentos ‘a favor’ e ‘contra’ a manutenção e/ou a extinção da SME” o fazemos para chamar 
atenção ao fato de que também houve disputas durante o processo que culminou com a criação 
da SME, isso em 1993.
6 Esses são argumentos que circularam no debate que se evidenciou durante o processo de 
disputa que ocorreu em 2017, quando, por iniciativa governamental, a SME foi extinta. 
Esse debate está desenvolvido no texto “Extinção da Secretaria Municipal Esporte, Lazer 
e Recreação (SME) de Porto Alegre: quando o serviço se sobrepõe ao direito”, publicado 
nessa obra (MYSKIW et al., 2019).
26
Mauro Myskiw – Marco Paulo Stigger
que incentivava a participação popular na administração da cidade em 
geral, o que repercutiu nessa área específica. Essa posição estava expressa 
na Carta de Princípios,7 que servia de base para o desenvolvimento das 
atividades do setor, a qual, em diversos pontos, explicitava a perspectiva 
de “Incentivar e criar canais para a Participação Popular na definição de 
programas, eventos, cursos, etc. sobre lazer e esporte” (Princípios, 1989).
Por conta dessa perspectiva de gestão, que, entre outras práticas par-
ticipativas, fomentava a criação de associações comunitárias e outras formas 
de participação da população na gestão das políticas do esporte e do lazer 
no município – algo “novo”no âmbito das políticas públicas desenvolvidas 
no Brasil, nessas áreas de atuação governamental –não foram poucos os 
estudos acadêmicos8 realizados sobre esse período (Amaral, 2003; Santos, 
2003; Schaff, 2010; Stigger, 1992); também há uma diversidade de artigos 
em periódicos e capítulos de livros que tratam da temática e dessa época 
que estão publicados, em especial em periódicos da área de Educação Física 
(Gutterres; Rodrigues, 1996; Marcellino, 2011; Rodrigues, 2001; Stigger, 
1996).
Em que pese o fato de nesses estudos estarem também apontadas 
críticas e limites acerca da gestão municipal daquele período, os traba-
lhos – de forma praticamente unânime – acabam por oferecer um olhar 
“positivo”no que se refere às políticas de esporte e lazer realizadas naquele 
momento histórico. Não é difícil considerar que, efetivamente, naquele 
período houve um grande avanço no atendimento da população em 
termos de acesso ao esporte e ao lazer, esses vistos como direitos sociais. 
Isso pode ser argumentado a partir do fato de, naquela época, ter sido 
aumentado de forma significativa o número de locais (praças e parques) 
onde o trabalho – da SERP9 e após SME – era realizado, o que vai ser 
mostrado a seguir.
Em parte, isso talvez tenha ocorrido pelo aumento das demandas 
do setor, pois, naquele período, foi desenvolvido um esforço no sentido 
da conscientização da população na direção da compreensão de que os 
7 Carta de Princípios desenvolvida no I Encontro Nacional de Administrações Petistas Ligadas 
ao Esporte e Lazer (plenária do dia 08 dez. 1989).
8 Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado.
9 Em 1989, quando a Frente Popular assumiu a Prefeitura de Porto Alegre, o setor responsável 
pelas Políticas Públicas de Esporte e de Lazer era a Supervisão de Esportes e Recreação Pública 
(SERP), vinculada à Secretaria Municipal de Educação (SMED).
27
Políticas Públicas de Esporte e Lazer – Olhares e Experiências
seus interesses relativos ao lazer e ao esporte também deveriam ser iden-
tificados como direitos sociais. Essa ideia era defendida pelos gestores 
da “antiga”Supervisão de Esporte e Recreação Pública (SERP), mesmo 
reconhecendo que havia, por parte das comunidades, outras demandas 
usualmente estabelecidas como mais importantes/legítimas, como saúde, 
educação, saneamento, etc.10
Mas apesar da “positividade”atribuída àquela política pública em 
particular, em especial no que se refere ao “aumento do status”11 conferido 
ao esporte e ao lazer com a criação da SME, deve ser reconhecido que a 
partir dali os investimentos governamentais não foram tão significativos 
como esperavam os idealizadores da Secretaria. Fazemos essa afirmação 
considerando que, apesar do aumento das demandas, os recursos que 
eram destinados à “antiga” SERP praticamente não avançaram a partir 
da criação da Secretaria Municipal de Esporte, Recreação e Lazer (SME).
No que se refere ao corpo de professores necessários para a manu-
tenção de um setor que estava em crescimento, surgiu a necessidade da 
sua ampliação para atender a população nas novas Unidades, algo que 
não aconteceu com a mesma proporção que as demandas apareciam. 
De forma semelhante, evidenciou-se a diminuição do investimento nos 
profissionais “de apoio”12 ao serviço oferecido pela Secretaria, o que era 
identificado tanto em relação aos servidores “da SME” que atuavam nas 
Unidades Recreativas quanto no que se refere aos funcionários de outros 
setores da Prefeitura, que ofereciam “apoio”às atividades vinculadas ao 
esporte e ao lazer.
10 O movimento dos trabalhadores da área para a busca de direitos sociais também é referido 
por Wolff (2015). A autora nos explica que as políticas de saúde, no que tange à descentra-
lização, ao atendimento integral e à participação da comunidade, foram uma conquista dos 
movimentos dos trabalhadores da área da saúde, por meio de um processo que teve suas bases 
na 1ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1941.
11 Essa afirmação busca reforçar o “lugar”politicamente mais avançado que o esporte e o lazer 
passaram a ocupar no contexto governamental. Sobre isso, nos nossos contatos com professo-
res e gestores municipais escutamos recorrentemente posições como a seguinte: “opessoal do 
esporte – que antes dialogava com os secretários – passou a falar direto com o Prefeito”; “O 
Secretário de Esportes tinha o mesmo voto que o Secretário da Saúde, da Administração”.
12 Nos referimos, como profissionais “de apoio”,aos trabalhadores que não atuam como professo-
res, aos trabalhadores responsáveis pela manutenção, limpeza e organização dos equipamentos 
esportivos e que atuam nos bastidores de eventos e atividades organizados pela SME.
28
Mauro Myskiw – Marco Paulo Stigger
Apesar do serviço voltado ao esporte e ao lazer ter-se mantido de 
forma ainda bastante consolidada, esses aspectos foram, aos poucos,fra-
gilizando o setor durante diferentes administrações que governaram a 
cidade, inclusive durante o período de governo da própria Frente Popular. 
Mais recentemente, durante o governo liderado pelo prefeito Nelson 
Marchezan Junior,13 pautado por uma administração do tipo “geren-
cialista” e de caráter tecnocrático de gestão, foram feitos movimentos 
políticos no sentido da “diminuição do Estado”, o que culminou – dentre 
outras ações – com a extinção da Secretaria de Esportes. Em que pese 
ser esse um fato recente, é difícil discordar de quem considera–no que se 
refere ao acesso ao esporte e ao lazer – que essa decisão implica na “perda 
de direitos”, ideia fácil de ser associada à realidade brasileira, “rica” em 
desigualdades e exclusões.
Esses aspectos brevemente relatados acima apontam para algo 
que queremos destacar e, a partir disso, chegar ao tema específico desse 
trabalho. Tentamos mostrar que as políticas públicas de esporte e lazer 
de Porto Alegre, já em funcionamento há muitos anos, passaram por 
diferentes momentos durante a sua história. O que relatamos nas páginas 
anteriores se refere a dois “recortes” que nos parecem capazes de expressar 
um momento “de ápice”14 das políticas realizadas na cidade, mas também 
tempos de “retrocesso”15 dessa mesma política.
Com a extinção da Secretaria, não são poucas as pessoas envolvidas16 
que, em seus depoimentos, demonstram preocupação com o futuro do 
serviço público voltado ao esporte e ao lazer em Porto Alegre, por consi-
derarem que agora se inicia, de forma mais marcada, um efetivo processo 
de “precarização”17 das políticas nessa área específica. Essas considerações 
nos levam a algumas questões: é possível afirmar que, efetivamente, as 
políticas públicas em esporte e lazer de Porto Alegre estão passando por 
um processo de precarização? Em que medida vem acontecendo? Como 
isso vem acontecendo?
Para encontrar respostas para essas questões fizemos uso de infor-
mações obtidas em diferentes situações:
13 Prefeito de Porto Alegre pela coligação “Porto Alegre Pra Frente”. 
14 Já escutamos servidores denominando o período da Frente Popular de “Era de Ouro”.
15 Expressão presente em posições de servidores que atuam no setor há muito tempo.
16 Servidores públicos, líderes comunitários e usuários das Unidades Recreativas.
17 Expressão muitas vezes repetida no contexto em estudo.
29
Políticas Públicas de Esporte e Lazer – Olhares e Experiências
• observações e entrevistas com servidores e usuários dos serviços de 
esporte e lazer da cidade, realizadas durante (e sobre) o processo 
de disputa que levou à extinção da SME;
• observações e entrevistas com servidores e usuários dos serviços 
de esporte e lazer da cidade, realizadas nas Unidades Recreativas, 
sobre o atual funcionamento das suas atividades;
• observações e entrevistas com membros do Legislativo Municipal 
de Porto Alegre – vereadores e assessores – realizadas durante (e 
sobre) o processo de disputa que levou à extinção da SME.
SOBRE AVANÇOS E RETROCESSOS: PRECARIZAÇÃO?
Como referido anteriormente, um dos avanços que são considera-
dos quando se pensa nas políticas voltadas ao esporte e ao lazer em Porto 
Alegre teria sido a criação da SME. Entre os argumentos utilizados à época 
nessa direção, estava a ideia de que, na condição de “Secretaria”, haveria 
um aumento do status do setor que tinha a atribuição de desenvolver 
políticas voltadas ao esporte e ao lazer para a cidade. Essa posição era 
defendida pelos idealizadores dessa alteração na estrutura municipal – 
pessoas vinculadas ao Partido dos Trabalhadores, que liderava a Frente 
Popular naquele período. Foi isso que relatou a professora Rejane Penna 
Rodrigues, ela que viria a ser a primeira secretária da SME. Aludindo ao 
período anterior à criação da SME, diria Rejane:
Na gestão do prefeito Tarso Genro, já na época da campanha, a pedido de 
um grupo nosso dessa supervisão – que éramos identificados com o programa 
partidário do candidato Tarso –, a gente indicou que se ele constituísse uma se-
cretaria, esse status de secretaria com o mesmo valor que estava sendo despendido 
para o nosso trabalho dentro da SMED, mas com status político de poder estar 
próximo dos demais secretários, próximo do prefeito, representando a prefeitura 
em vários aspectos. Não sendo representado pela Secretaria da Educação (pelo 
Secretário da Educação) faria um trabalho melhor.
Tempos depois, já estabelecida como responsável pela “pasta” do 
esporte e lazer da cidade, a professora tecia algumas considerações sobre 
aquela decisão:
30
Mauro Myskiw – Marco Paulo Stigger
Eu fui a primeira funcionária municipal a assumir um cargo de secretária, 
porque normalmente cargos políticos são dados para políticos puros e nós, os 
funcionários, ficamos com as funções administrativas do cotidiano, então houve 
esse diferencial porque esse status político que a gente falava, que apontamos 
na formação da Secretaria,foi muito respeitado;quando sentava na mesa dos 
secretários municipais, a minha fala, as minhas colocações, o meu voto, era igual 
ao Secretário da Saúde, igual ao do Secretário da Administração, enfim... Então, 
a questão é financeira, às vezes é, mas ela também é de ocupação de espaço e 
de relações. A política se faz, se fazia mais, agora é praticamente quase tudo em 
cima de dinheiro, mas vinte e poucos anos atrás se fazia em cima de relações.
Essas informações dizem respeito ao início da administração da 
Frente Popular, ou seja, a sua primeira e segunda gestão como condutora 
da gestão do município de Porto Alegre, respectivamente, de 1989 a 1992 
e de 1993 a 1996. Sobre o período, não é difícil concordar que os serviços 
voltados para as políticas de esporte e lazer na cidade avançaram, pelo 
menos no que tange ao número de locais de atendimento à população.
Segundo dados obtidos em documentos publicados pela prefei-
tura de Porto Alegre,18 a Frente Popular iniciou o “seu governo” com 
17 Unidades Recreativas. Esse número logo passou para 22, no ano de 
1991 foram 27 e no ano de 1992 avançou para 35. Dessas ocorrências é 
possível inferir que a política de “inversão de prioridades”19 adotada pela 
Frente Popular foi fomentadora desta ampliação. Entre os argumentos 
que sustentariam essa posição, pode ser destacado o fato de que novas 
Unidades – até então localizadas apenas em áreas centrais da cidade – 
foram construídas e passaram a ser mantidas nas regiões mais periféricas 
de Porto Alegre. Isso era realizado na perspectiva da ampliação do acesso 
ao esporte e ao lazer para as populações até então desassistidas de “serviço 
público” nessa particularidade.
Mas como afirmamos anteriormente, apesar da “positividade” 
atribuída àquela política em particular, em especial no que se refere 
ao desejado aumento do “status” conferido ao esporte e ao lazer com a 
criação da SME, deve ser reconhecido que a partir dali os investimentos 
governamentais não foram tão significativos como esperavam os ideali-
18 O Anuário estatístico e os relatórios de atividades são documentos disponíveis no site da 
prefeitura de Porto Alegre (http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/smpeo/usu_doc/
anuario_estatistico_2016_31-10.pdf e =94).
19 Expressa em vários documentos da época, relacionados com o projeto político da Frente 
Popular.
31
Políticas Públicas de Esporte e Lazer – Olhares e Experiênciaszadores da Secretaria. Fazemos essa consideração levando em conta dois 
aspectos, de forma especial: um deles se refere aos aportes financeiros 
para a manutenção da estrutura física e material da Secretaria; e o outro 
se relaciona com a disponibilidade de servidores (professores e servido-
res de “apoio”) que atuavam e davam suporte ao desenvolvimento das 
atividades específicas.
Sobre o aporte financeiro, não temos os dados referentes aos re-
cursos destinados ao esporte e ao lazer anteriores ao ano de 2006, mas 
temos o relato de um servidor aposentado, que foi diretor da SERP e 
também Secretário da SME em período próximo ao que antecedeu a 
extinção da Secretaria. Segundo o relato desse servidor, historicamente 
o orçamento destinado à secretaria girava em torno de 0,38% do orça-
mento municipal, e deste percentual, citando como exemplo o ano de 
2016, 88% foi destinado ao pagamento de pessoal. Após a criação da 
SME, mesmo com avanços no serviço oferecido à população, não hou-
ve crescimento no que se refere a essas cifras. Como não temos dados 
posteriores à criação da SME e anteriores a 2006, na perspectiva de 
sustentar que esses valores vêm se mantendo próximos já desde a criação 
da Secretaria, trazemos informações relativas àquele “momento”, quando 
foram estabelecidos acertos acerca dos recursos a serem destinados ao 
novo órgão governamental.
Vale então ressaltar que a limitação desses valores já ficara esta-
belecida num acordo20 explicitado no Ofício nº 780/96-SME, do dia 
21 de outubro de 1996, assinado pela secretária da SME Rejane Penna 
Rodrigues, enviado ao Secretário Municipal de Administração, Luis 
Alberto dos Santos Rodrigues. Naquele documento ficava evidente que 
houvera orientações superiores no sentido de que, para o início do fun-
cionamento da “futura” SME, deveria ser mantida a mesma estrutura da 
época quando o setor era uma Supervisão (SERP) – ou seja, a criação da 
Secretaria não poderia onerar a administração do município.
Por meio do quadro abaixo, mesmo com dados incompletos, pro-
curamos demonstrar que a variação histórica do orçamento destinado à 
SME se manteve em patamares próximos de 2006 para cá, dados esses 
20 Dizemos “acordo” pois se trata de decisão negociada entre os interessados pela criação da SME 
e as instâncias “superiores”da gestão municipal.
32
Mauro Myskiw – Marco Paulo Stigger
que se aproximam das informações advindas do relato do servidor antes 
referido – vale destacar uma exceção relativa ao ano de 2018, quando 
houve uma queda abrupta de recursos.
TABELA 1 
Orçamento destinado à função código 27 “Desporto e Lazer” 
da Lei Orçamentária Anual (LOA). Valor percentual de referência: 
receita prevista para o ano de vigência da LOA
Ano Valor bruto (R$) Valor %
2006 R$ 8.891.094,00 0,48%
2007 R$ 9.658.380,00 0,36%
2008 R$ 10.383.327,00 0,36%
2009 R$ 12.201.627,00 0,37%
2010 R$ 13.718.022,00 0,38%
2011 R$ 15.835.442,00 0,38%
2012 R$ 16.931.567,00 0,36%
2013 R$ 21.535.408,00 0,40%
2014 R$ 28.352.489,00 0,47%
2015 R$ 21.682.316,00 0,35%
2016 R$ 23.814.979,00 0,36%
2017 R$ 22.582.274,00 0,32%
2018 R$ 6.229.369,00 0,08%
Fonte: Lei Orçamentária Anual disponível no site: <http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smpeo/
default.php?pg=1&p_secao=56>.
O que está apresentado na Tabela 1 se refere ao orçamento destinado 
à função código 27 (“Desporto e Lazer”) que consta na Lei Orçamentária 
Anual (LOA), que deve ser encaminhada pelo prefeito para a Câmara dos 
vereadores no ano anterior da sua vigência. Sobre o valor percentual que 
é destinado ao esporte e ao lazer podemos dizer que a média do período 
analisado é de 0,36%do orçamento municipal previsto. Na Tabela apre-
sentada também é possível observar que o maior percentual despendido 
para o esporte e o lazer foi de 0,48% no ano de 2006, e que o menor 
foi de 0,08%, já no ano de 2018. Este último percentual apresentado na 
Tabela 1 foi a primeira LOA encaminhada pelo prefeito Marchezan Jr. à 
Câmara dos Vereadores de Porto Alegre. Ela foi encaminhada apenas três 
meses após a extinção da SME, o que, considerando o valor despendido 
para as políticas municipais de esporte e de lazer, em certa medida permite 
considerar que tais políticas não estão na agenda do governo atual.
33
Políticas Públicas de Esporte e Lazer – Olhares e Experiências
O mesmo documento referido anteriormente (Ofício nº 780/96-
SME), que fora expedido já em 1996, quando a SME já tinha aproxi-
mados 3 anos de existência – também trazia relatos sobre as dificuldades 
da gestão do esporte e do lazer, tendo em vista o setor estar em situação 
deficitária. Através dele a então secretária Rejane Penna Rodrigues fazia 
algumas considerações acerca de aspectos que vinham dificultando a sua 
gestão. Ela argumentava que desde a criação da SME os serviços haviam 
sido ampliados e o setor se viu obrigado a dar conta das demandas do 
Orçamento Participativo.21 Ao final a Secretária da SME demandava 
providências no sentido de recuperação da sua pasta. Dizia ela:
– Desde o estudo da criação desta Secretaria, ficou claro que, para o início 
do funcionamento da mesma, deveria ser mantida a estrutura de quando era 
Supervisão, não podendo onerar a Administração.
– Praticamente não foram criados cargos, e as FGs existentes foram niveladas 
por baixo (a maior parte FG3).
– Com 3 anos de existência e a ampliação dos serviços prestados, bem como 
o aumento gradual de demandas do Orçamento Participativo, a estrutura da 
SME é hoje totalmente deficitária.
Ante o exposto, solicitamos a gentileza da SMA no sentido de nos auxiliar no 
reestudo do Organograma atual da SME, para que não fique como legado à 
nova administração uma Secretaria com sérios problemas estruturais (Ofício 
nº 780/96-SME).
Quando a Secretária destaca a ampliação dos serviços, ela está se 
referindo ao esforço de atendimento das periferias da cidade, conforme 
já relatado. No momento em que a Secretária menciona o Orçamento 
Participativo, ela está apontando para o fato de que as demandas daquela 
ferramenta de gestão haviam destinado recursos para a construção de 
novas Unidades Recreativas, o que havia efetivamente se materializado. 
Porém, uma vez edificadas, essas estruturas exigiam condições materiais 
e de manutenção, assim como a presença de professores e funcionários 
para a instalação efetiva do serviço em pauta. Ou seja, se, por um lado, 
21 O Orçamento Participativo era uma ferramenta de gestão bastante em voga na época. Ela estava 
articulada com aspectos fundamentais da gestão da Frente Popular e visava a proporcionar a 
participação popular em processos decisórios da gestão das coisas da cidade. Através dele – mui-
tas vezes à revelia dos setores da Prefeitura – a população demandava e conseguia interferir na 
administração municipal. Mais detalhes acerca do Orçamento Participativo na cidade de Porto 
Alegre consultar (Fedozzi et al., 2012; Fedozzi; Martins, 2015). Sobre o perfil dos participantes 
do Orçamento Participativo na cidade de Porto Alegre consultar (Fedozzi, 2007).
34
Mauro Myskiw – Marco Paulo Stigger
por conta das demandas da população havia indicação de avanços no 
trabalho do setor, por outro, a ampliação gerou fragilidades relativas aos 
recursos para a manutenção de um universo em crescimento.
Assim, surgiu a necessidade da ampliação do corpo de professores 
para atender a população nas novas Unidades. Mesmo que tenha sido 
realizado concurso específico para esse setor,22 posterior à criação da 
Secretaria, isso não se mostrou suficiente para compensar as aposenta-
dorias que se efetivavam. Quanto à manutenção da equipe de trabalho, 
essa situação também expressa um desinvestimento nas políticas de 
esporte e lazer, o que pode ser identificado de alguns anos para cá. No 
gráfico abaixo se observa um crescimento do número de professores a 
partir de 1993, mas um posterior decréscimo após 2008.No caso dos 
professores de Educação Física, nem a cedência de alguns deles por parte 
da Secretaria de Educação era suficiente para mantero que se necessitava 
para a manutenção do serviço a ser prestado à população.
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Orçamento Previsto Orçamento Liquidado
Gráfico 1 – Número de professores lotados na SME e, após extinção da secretaria, 
na SMDSE.
Fonte: Relatório de Atividades. Disponível no site: <http://www2.portoalegre.
rs.gov.br/smpeo/default.php?p_secao=94>.
22 Houve dois concursos específicos para a SME: o primeiro ocorreu no ano de 1998, edital nº 
335; o segundo ocorreu em 2003, edital nº 418. Nos editais citados, as vagas descritas para a 
área “Educação Física / Esporte, Recreação e Lazer” eram para lotação exclusiva na SME.
35
Políticas Públicas de Esporte e Lazer – Olhares e Experiências
Da mesma forma evidencia-se a ocorrência do recuo no investi-
mento com profissionais “de apoio” ao serviço oferecido pela Secretaria. 
Sobre isso, as observações que realizamos e os relatos dos professores 
envolvidos apontam que as atividades que eram de responsabilidade dos 
funcionários “do quadro da Prefeitura” ficaram bastante prejudicadas a 
partir do momento em que os “efetivos” foram se aposentando e subs-
tituídos por servidores “terceirizados”.23
Um dos colaboradores da pesquisa relata essas dificuldades:
nós ficamos de dezembro de 2016 a agosto de 2017 sem ninguém, foi aquele 
período... de dezembro 2016 até agosto de 2017... a gente fazia mutirão aqui, 
foi um período bem ruim... quando entrou a [empresa terceirizada], o que 
piorou foi o contrato... porque eu te digo isso!... porque nós tínhamos antes, era 
[um contrato de] serviços gerais... serviços gerais, como diz o nome, pode fazer 
qualquer, várias coisas... pintar parede, roçar o mato, arrumar um equipamento 
esportivo... Esse pessoal [os terceirizados] é só vassoura, pano e roupa... se eu 
tiver que cortar grama, eu não posso pedir, se eu tiver que varrer a grama cortada, 
não pode... chegou ao cúmulo de na temporada de piscina, pra lavar o fundo, 
de alegarem que é trabalho de piscineiro... não podiam lavar a piscina vazia... 
era entrar no tanque e lavar, eles foram impedidos de fazer... então teve que 
entrar os professores e estagiários para fazer e o pessoal da [empresa terceirizada] 
ficava sentado... então é muito amarrado esse contrato, ele é muito limitado... 
esse tipo de contrato é perfeito para um prédio administrativo... tudo bem... 
um prédio como o nosso tem que ser serviços gerais... não pode ser limpeza...
Nesse aspecto, alguns pontos merecem destaque. Um deles é rela-
tivo ao cotidiano das atividades nas Unidades Recreativas, que necessita 
da participação efetiva dos servidores “de apoio”, os/as porteiros/as, 
os/as serventes, os/as guardas, etc. Pela presença contínua já há muito 
tempo nas praças e parques da cidade e pelo envolvimento de cada um 
23 A prefeitura não realiza há muitos anos concurso para serviços gerais e para o serviço de limpeza. 
A opção de trabalhadores para atender tal demanda é por meio da contratação de empresas 
terceirizadas, que de certa forma, na perspectiva financeira dos gestores, onera menos a admi-
nistração pública. A prefeitura contava na gestão do prefeito Fortunati (2013-2016) com o 
serviço terceirizado de limpeza em diversos setores, inclusive na SME. A prestação de serviço 
realizada pelos trabalhadores terceirizados lotados nas diferentes unidades recreativas da SME 
era similar à prestação de serviço dos funcionários concursados para a mesma função, estes 
últimos lotados em algumas unidades recreativas, mas em quantidade reduzida, pois muitos 
estão em vias de se aposentar. Com o início da gestão do governo Marchezan (2017), o contrato 
com a empresa terceirizada não foi renovado. Passados oito meses, a gestão contratou uma 
nova empresa, mas que presta um serviço diferente da empresa anterior, conforme relatam os 
professores ouvidos em nossa pesquisa.
36
Mauro Myskiw – Marco Paulo Stigger
deles com uma proposta de trabalho que envolvia o contato e articula-
ção com a população na gestão dos espaços, esses profissionais sempre 
contribuíam para a regularidade das atividades, estabelecendo vínculos 
com os professores e com as comunidades locais. Já o mesmo não acon-
tece com os “terceirizados”, os quais, pela sua rotatividade, não chegam 
a estabelecer vínculos e, portanto, não participam da gestão dos espaços 
com a mesma desenvoltura. No relato acima, além da crítica ao tipo de 
contrato realizado com os terceirizados, mostra que os gestores deixa-
ram os equipamentos esportivos desatendidos por um longo período, e 
quando passaram a atender o fizeram de maneira precária. Isso porque o 
serviço terceirizado contratado – que tem caráter “especializado” – não 
atende à demanda necessária dos locais das políticas de esporte e lazer, 
os quais necessitam de trabalhadores de serviços “gerais” e não apenas 
de trabalhadores para fazer a limpeza.
A outra situação negativa relativa aos servidores “de apoio” é o “caso” 
da Equipe de Produção e Manutenção de Equipamentos de Recreação 
(EPME), setor bastante reconhecido no contexto da Secretaria, pois era 
através dele que se garantia o conserto e inclusive a produção de materiais 
e equipamentos necessários ao trabalho a ser desenvolvido, como goleiras 
de futebol, futsal e handebol, tabelas de basquetebol, colocação de telas 
nas quadras esportivas de parques e praças, equipamentos de espaços 
infantis (balanços, gangorras, etc.), e outros. Essa equipe, composta por 
funcionários concursados, hoje opera com poucas pessoas, pois grande 
parte dos servidores se aposentou e não houve concurso para contratação 
de novos. Ademais, com a reestruturação administrativa proposta pela 
gestão atual, a equipe referida passou a atender às demandas de toda a 
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Esporte (SMDSE), 
pasta onde as políticas públicas de esporte e de lazer foram alocadas.24 
Considerando que antes a quantidade de funcionários já era insuficien-
te, coloca-se em dúvida se este serviço de apoio será prestado com uma 
demanda vinda de uma superestrutura guarda-chuva, que contempla 
diferentes pastas municipais do campo social.
24 A SMDSE possui a seguinte estrutura, de acordo com decreto nº 20.100 de 19 de novembro 
de 2018: Gabinete do Secretário (GS); Coordenadoria-Geral de Direitos Humanos (CGDH); 
Coordenadoria-Geral de Esportes, Recreação e Lazer (CGERL); Coordenadoria-Geral de 
Trabalho, Emprego e Renda (CGTER); Coordenadoria-Geral de Acessibilidade e Inclusão 
Social (CGAIS); Unidade de Apoio aos Conselhos Tutelares (UACT) e Coordenação de 
Administração e Serviços (CASE).
37
Políticas Públicas de Esporte e Lazer – Olhares e Experiências
Identifica-se, então, a partir do final da década de 80 – e, de for-
ma especial após o início da gestão da Frente Popular – um avanço nos 
serviços voltados ao esporte e lazer da cidade. Posteriormente (a partir 
dos anos 2000, ainda no contexto da Frente Popular) é perceptível uma 
diminuição desse mesmo serviço. O gráfico abaixo mostra que, após 
um período de crescimento do número de Unidades Recreativas (1987-
1992), já em 1993 começa a haver uma diminuição: 35 Unidades em 
1993, 25 em 2009 e 16 Unidades em 2018.
Nos dias atuais, passados pouco mais de um ano da extinção da SME, 
em diversas reuniões e entrevistas realizadas nas Unidades Recreativas25 
percebemos outras situações que apontam para um significativo desin-
vestimento nas políticas do setor, agora de forma mais evidente, em es-
pecial,como já relatamos, no que se refere à LOA/2018 e à condução dos 
professores que estavam na SME (agora Coordenadoria-Geral de Esportes, 
Recreação e Lazer – CGERL), para a SMED. Mas há outros movimentos 
na mesma direção.
4.83
4.40
7.37
4.25
8.20
5.58
12.1 12.1
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Orçamento Previsto Orçamento Liquidado
Gráfico 2 – Unidades Recreativas em funcionamento.
Fonte: Relatório de Atividades. Disponível no site: <http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smpeo/
default.php?p_secao=94>.
25 Com servidores e usuários.
38
Mauro Myskiw – Marco Paulo Stigger
Dentre eles, no primeiro semestre de atividades nas UR’s, após o 
início da gestão do governo Marchezan Júnior (2017), algumas decisões 
administrativas do âmbito geral da Prefeitura impactaram de forma par-
ticular no serviço prestado pelo setor do esporte e lazer, à época ainda 
na condição de Secretaria de Esportes (SME). Estamos nos referindo 
ao corte de horas extras26 para os funcionários, a não liberação de banco 
de horas27 e ao não reconhecimento das horas trabalhadas nos finais de 
semana,28 em feriados e à noite, essas realizadas não só pelos professores. 
O que aqui importa evidenciar é que essas decisões afetam a dinâmica 
das atividades assistemáticas29 das diferentes UR’s, as quais ocorrem de 
forma eventual, normalmente em finais de semana, feriados e à noite. 
Como toda carga horária dos professores e funcionários é lotada durante 
a semana e em horários diurnos, para o atendimento de atividades como 
as referidas, já há muitos anos vinham sendo oferecidas compensações de 
26 O corte das horas extras foi realizado por meio de uma série de decretos, quais sejam: Decreto 
nº 19.644, de 04 de janeiro de 2017, suspende as horas extras pelo prazo de 90 dias; Decreto 
nº 19.722, de 06 de abril de 2017, prorroga por 90 dias o prazo estabelecido no decreto nº 
19.644, de 04 de janeiro de 2017; Decreto nº 19.790, de 20 de julho de 2017, altera o parágrafo 
do decreto nº 19.644 que estabelece o prazo de 90 dias, prorrogando o prazo estabelecido até 
30 de junho de 2018; Decreto nº 20.026, de 13 de julho de 2018, prorroga até 30 de junho 
de 2019 o prazo estabelecido no decreto nº 19.644, de 04 de janeiro de 2017, que estabelece 
a suspensão temporária da execução de determinadas despesas.
27 O banco de horas é regulamentado pela Lei Complementar nº 133 de 31 de dezembro de 
1985, pelo decreto nº 17.273, de 13 de setembro de 2011; e pelo decreto nº 19.215 de 17 de 
novembro de 2015.
28 Essas são diferentes formas de compensação relativas às atividades realizadas em horários não 
usuais: as horas extras são concedidas, na dinâmica cotidiana das unidades recreativas, apenas 
aos funcionários “de apoio”concursados que trabalhem “além das horas normais estabelecidas 
por semana para o respectivo cargo” (Art. 38 da Lei Complementar 133). Elas são pagas, 
quando autorizadas, junto com o salário mensal dos servidores. A compensação do banco de 
horas foi instituída pelo decreto nº 17.273, de 13 de setembro de 2011, que, no seu art. 2º 
determina que “o servidor que trabalhar além das horas normais estabelecidas por semana para 
o cargo ou em horas ou dias em que não houver expediente poderá valer-se da compensação 
de carga horária, caso o referido período não seja pago como serviço extraordinário”. Assim, 
no caso dos professores que atuam no esporte e no lazer que trabalharem em eventos e outras 
atividades fora do seu horário normal, fica autorizada a compensação destas horas por folga, 
geralmente acordada com a coordenação para os períodos de recesso de julho e de natal.
29 Já há muito tempo as atividades do setor são divididas em “sistemáticas”e “assistemáticas”. As 
“sistemáticas”são aquelas realizadas cotidianamente e de forma contínua, em dias e horários 
estabelecidos durante o ano inteiro (eventualmente semestrais), como aulas de ginástica e 
yoga, escolinhas esportivas, grupos de atividades de bricolagem, entre outras. As “assiste-
máticas”são as atividades que ocorrem de forma eventual, em datas/horários específicas 
(normalmente em feriados) e nos finais de semana; são as festas comunitárias (São João, por 
exemplo), as participações em competições esportivas, e mesmo reuniões comunitárias, que 
ocorrem muitas vezes à noite.
39
Políticas Públicas de Esporte e Lazer – Olhares e Experiências
horas trabalhadas nessas situações. Porém, o impedimento da efetivação 
dessas diferentes formas de compensação tem inviabilizado a realização 
de um conjunto de ações que ocorrem em dias e horários não usuais, 
se comparados a outros âmbitos do serviço público municipal. Vale 
destacar que, nesse caso, estamos nos referindo a um serviço público 
que ocorre no tempo/espaço do lazer, dimensão da vida que se distancia 
de outras dinâmicas cotidianas, afastando-se do universo do trabalho e 
de outras obrigações30 das populações assistidas. Nessa perspectiva, em 
especial no que tange à população adulta, os horários noturnos e os fins 
de semana são momentos fundamentais para a realização do trabalho 
do setor que a elas é direcionado.
Muitos relatos dos nossos colaboradores evidenciaram que, no 
caso dos professores, a política atual determina a redução das suas 
atividades nos dias e horários referidos, o que tem conduzido muitas 
dessas para os dias “da semana” e para o horário diurno. Esse fato tem 
impossibilitando que a comunidade trabalhadora participe de muitos 
eventos e também de reuniões onde costumeiramente busca-se articu-
lar os interesses e possibilidades da população com os do setor. Como 
“solução” para essa dificuldade, mesmo sendo fora dos seus horários 
de trabalho, não são raras as situações nas quais os professores mantêm 
tais atividades assistemáticas como o faziam no passado, o que acaba 
por se efetivar de forma voluntária (sem compensações),e com base 
num compromisso que – desde muito tempo – tem sido estabelecido 
entre os profissionais do município e os usuários das UR’s. Muitos 
exemplos poderiam ser referidos, identificados quando os professores 
acompanham os seus alunos/jogadores e seus “times”em competições 
esportivas “de fim de semana”e, ainda, quando, por interesse das co-
munidades, participam em reuniões noturnas para tratar de temas que 
lhe são relevantes.31 O relato abaixo exemplifica essas situações:
pelo compromisso do parque consigo mesmo, ou seja, a gente com grupos de 
amigos, que mesmo não tendo reconhecimento pelo trabalho extra, porque 
é extraordinário no final de semana, nós mantivemos algumas coisas que 
30 Mesmo com algumas diferenças (há situações particulares), essa noção relativa ao “lazer” se 
encontra em obras de diversos autores que atuam nessa área de estudos, como Dumazedier 
(2008) e Marcellino (1983; 1996).
31 Em entrevistas e/ou conversas informais, foram muitos os depoimentos em que professores e 
usuários das UR’s relataram essas situações.
40
Mauro Myskiw – Marco Paulo Stigger
achávamos importantes para os nossos alunos, por exemplo, as festas juninas, 
os jogos [...]Outras unidades optaram por não fazer nada de extraordinário 
porque, não tendo esse reconhecimento, não tem porque tu trabalhar ex-
traordinariamente.
Outra dificuldade atual para quem está envolvido no âmbito 
das políticas de esporte e lazer de Porto Alegre é o fato de que a atual 
CGERL está buscando controlar as associações que existem no entorno 
de parques e praças, onde funcionam as UR’s. Essas associações32 já 
existem há muitos anos, mas se constituíram de maneira mais consis-
tente a partir dos governos da Administração Popular, esse que tinha 
como perspectiva o desenvolvimento de uma gestão participativa desses 
espaços.33 Essa ação “de controle”vem se efetivando desde 2017, quando 
houve um movimento dos novos gestores no sentido de considerar que 
as associações comunitárias estavam irregulares, e que elas não poderiam 
continuar atuando da forma como vinham funcionando, principalmente 
no que se refere à arrecadação de recursos financeiros dos usuários dos 
espaços de esporte e lazer municipais.
Sobre esse aspecto, as nossas observações e relatos obtidos nos 
mostraram que – por conta da falta de recursos para o funcionamentodas UR’s – é recorrente e indispensável a ação das associações na busca 
de fundos, os quais são destinados a suprir diferentes tipos de neces-
sidades, desde as mais “simples” e de baixo custo (compra de papel 
higiênico, papel ofício, bolas e outros materiais de consumo), até as 
mais complexas, com custos bastante elevados, como a compra de ar 
condicionado, a substituição de telhados, os consertos de cercas, etc. 
Esse recurso costuma ser obtido por iniciativa das associações, o que se 
32 Estamos – de forma indiscriminada – denominando de associações as diferentes formas de 
associativismo que se desenvolvem a partir desses espaços, desde aquelas que estão “formali-
zadas” com registros públicos até outras que funcionam com caráter bastante informal.
33 Naquele período a criação de associações foi incentivada e, dali em diante elas têm ocupado 
um “lugar”importante na organização desses locais e também têm tido influência na gestão 
municipal, especificamente nessas áreas de interesse. Sobre o tema, ver Forell (2014).
41
Políticas Públicas de Esporte e Lazer – Olhares e Experiências
materializa por diferentes formas: “caixinhas”, rifas, festas “beneficen-
tes”;34 cobrança de mensalidades de “associados”35 e mesmo cobrança 
de “alugueis” de alguns espaços, como as quadras esportivas.36
Conforme observamos em várias reuniões e entrevistas coletivas 
que realizamos com a presença conjunta de professores e lideranças 
comunitárias, é evidente que as UR’s são muito carentes de recursos 
públicos para a sua manutenção. Sendo assim, a receita oriunda destas 
taxas é significativa para as associações, pois a manutenção dos equi-
pamentos esportivos se dá fundamentalmente através desses recursos. 
O relato abaixo ajuda a entender essa dinâmica, fundamental para a 
manutenção das atividades das UR’s:
A Miriam é a responsável-mor, a caixa, e nós temos organizado, cada grupo tem 
uma liderança. Essa liderança ela tem, além do “dízimo”que eu chamo, aquela 
contribuição de 2 reais, que a gente mantém a água e resolve pequenos gastos, a 
gente faz uma reunião mensal, a esse grupo de representantes é socializado que 
momento se está vivendo, qual é a situação, os eventos, as dificuldades, ativi-
dades, por exemplo, socializa a situação da coisa, pra que a gente tenha pessoas 
que estão muito mais de trazer aquela contribuiçãozinha do grupo pro caixa 
único, a gente tenha pessoas que saibam o que está acontecendo, dividam com a 
gente, essa já seria quase uma cogestão no sentido de participação dessas pessoas.
Eles auxiliam de duas formas, uma é aquela contribuição de 2 reais que esse 
ano a gente vai negociar se vai ser mais ou não, por mês. E a compra do ar-
-condicionado, ele foi feito um orçamento, estimando a instalação, e foi uma 
34 No Parque Alim Pedro, para citar um exemplo, a arrecadação da Festa de São João tem sido 
fundamental para a manutenção da UR. 
35 Os “associados”costumam contribuir com mensalidades “simbólicas”(em torno de R$4,00 a 
R$5,00) que têm caráter “voluntário”(não há qualquer impedimento de participação para quem 
não contribuir), que têm controle “coletivo”(as lideranças comunitárias controlam e prestam 
contas dos valores envolvidos). Exemplo disso é o caso do Ginásio Tesourinha, onde os alunos 
pagavam uma taxa semestral. Desta taxa, um percentual era destinado à prefeitura e outro 
para a associação do Ginásio Tesourinha. No ano de 2018, cientes do interesse de controle 
das associações e com receio de ter sua receita confiscada pelos gestores, a Associação investiu 
quase todo recurso disponível em materiais para as atividades do local e passou a não mais 
cobrar a semestralidade por não ter mais acesso a parte deste recurso e por receio do destino 
dos valores arrecadados.
36 Como exemplo: no Parque Ararigbóia há mensalistas que alugam a quadra do ginásio, 
situação em que a taxa recolhida era paga em dois boletos diferentes, um para prefeitura e 
outro, equivalente a um percentual da taxa, para a associação. No mês de novembro de 2018 
os gestores definiram que o percentual que era destinado às associações não podia ser mais 
cobrado. Estaria, também, proibido o aluguel destes espaços para o próximo ano. No Ginásio 
Tesourinha também havia esse mesmo acordo e está sendo rompido.
42
Mauro Myskiw – Marco Paulo Stigger
coisa bem pontual, à parte daquele valor. Nós juntamos 2 mil reais, foi 20 
reais de colaboração de cada pessoa, já estava colocado assim, se alguém não 
pudesse, a gente dividia, mas todas as pessoas podiam.
Conforme identificamos em diferentes situações, essa nova orien-
tação conduziu ao receio das associações em arrecadar recursos sem que 
um percentual fique na conta da associação – isso significa não ter a 
garantia de receber o retorno relativo à “sua”arrecadação.37 Identificamos 
também que, mesmo com as diferentes características referidas acima, 
essas associações se constituem como “redes” de pessoas e grupos que 
trabalham voluntariamente em favor da manutenção das UR’s, que 
são parte fundamental da estrutura “de lazer” da cidade. Não é difícil 
considerar, então, que controlar as associações e, assim, desestimulá-las, 
implica em correr o risco de desarticular redes comunitárias que atuam 
em prol do esporte e do lazer em Porto Alegre.
Mas dentre todos esses pontos, o mais importante e que mais im-
pactou negativamente nas políticas de esporte e lazer de Porto Alegre é 
algo bastante recente. Em setembro de 2018, o Secretário de Educação 
do município de Porto Alegre determinou que todos os professores con-
cursados para a Secretaria Municipal de Educação (SMED), mas atuantes 
na atual Coordenadoria-Geral de Esportes, Recreação e Lazer (CGERL), 
deveriam retornar ao seu setor de “origem”, ou seja à SMED. Tendo em 
vista que o número de professores nessa situação é de 32 profissionais, 
mesmo ainda não tendo as repercussões relativas a essa decisão, é evi-
dente que o seu impacto nas políticas públicas de esporte e lazer será 
bastante negativo. Segundo matéria publicada no Jornal do Comércio do 
dia 15 de outubro de 2018, “Até agora, 14 dos 34 cedidos deixaram as 
atividades, mas todos serão transferidos, diz a Secretaria Municipal de 
Educação (SMED)”.38
37 É de conhecimento de todos que os valores depositados no caixa da prefeitura entram numa 
“vala comum” não retornam para atender as necessidades das associações que o arrecadaram.
38 Matéria publicada no Jornal do Comércio de Porto Alegre no dia 15 de outubro de 2018 
intitulada “Transferência de professores deixa idosos sem atividades” e assinada por Patrícia 
Comunello. Na matéria referida a jornalista inclui dois professores que estavam cedidos à 
SMDSE mas que atuavam em outras coordenadorias desta secretaria, ou seja, não atuavam 
na CGREL.
43
Políticas Públicas de Esporte e Lazer – Olhares e Experiências
A partir disso, até o momento da escrita deste artigo, três seriam os 
cenários referentes ao número de professores atuantes na CGERL para 
2019, que contou com 83 professores até setembro de 2018. O primeiro 
cenário considera que a CGERL consiga manter consigo os professores 
cedidos dos outros órgãos municipais; este cenário também considera o 
número de professores que têm origem no concurso da SME ou foram 
(re)lotados na criação da SME, e os professores que vão se aposentar 
até março de 2019, o que totaliza 8 servidores. Assim, as atividades de 
esporte e de lazer contariam com 61 professores em 2019.
O segundo cenário considera o retorno dos 20 professores que 
estão com data agendada para apresentação na SMED no início de 
janeiro do próximo ano. Sem estes docentes, a SMDSE contaria com 
41 professores. O terceiro e mais crítico cenário considera o retorno dos 
servidores cedidos da FASC,39 que são 7 professores. Nesta situação, o 
quadro docente da CGERL se resumirá a 34 professores em 2019, ou 
seja, uma redução de quase 60% do pessoal para atuar no esporte e no 
lazer, a acontecer em poucos meses.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através dessa breve investigação,

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