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#Aula 1DW - Antropologia e Cultura-2021-2

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Aspectos Antropológicos e Sociológicos da Educação 
Aula 1 - Antropologia e Cultura
Introdução
Frequentemente ouvimos falar em Cultura. Em geral, utilizamos os termos Culto e Inculto quando nos referirmos ao nível de conhecimento formal das pessoas. Mas, o que é cultura? É correto comparar os indivíduos utilizando esse tipo de critério?  Esse tema será abordado nesta aula.
Vamos iniciar com a explicitação do que é a Antropologia. Em seguida, veremos que nem os antropólogos conseguem atingir um consenso quando se trata da definição de Cultura, pois há mais de 160 definições diferentes para esse termo.
Vamos estudar também as definições de Homem, Raça, Etnia e Evolução Humana, conceitos considerados básicos para um bom entendimento da nossa disciplina. Por fim, analisaremos de que forma o mito, a religião e a ideologia podem se configurar como ferramentas educativas.
Bons estudos!
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Objetivos
- Analisar o campo da antropologia no âmbito das ciências sociais, seu objeto de estudo e seus métodos;
- Definir homem, cultura, raça, etnia, evolução humana, etnocentrismo e relativismo cultural;
- Discutir o papel dos mitos, das religiões e da ideologia como sistemas culturais e suas funções como ferramentas educativas.
Créditos
Laís Silva - Designer Instrucional / Érik Assumpção - Web Designer / Rostan Luiz – Programador
Para explicar as diferenças entre as muitas sociedades e instituições, principalmente aquelas dos “povos exóticos”, a Antropologia desenvolveu uma metodologia própria baseada, inicialmente, em relatos e, posteriormente, em observação direta.
Para começar a pensar antropologicamente, é necessário que você conheça a definição de Homem.
Ao contrário dos outros animais, o ser humano elabora, compartilha e transmite cultura aos seus descendentes.
Se os outros animais agem orientados pelos instintos, o animal humano ofusca os instintos através do desenvolvimento da cultura.
Outra definição importante é a de Cultura. Apesar de praticarem e transmitirem a cultura, nem sempre os seres humanos se esforçaram por defini-la e analisá-la.
De acordo com Lakatos e Marconi (1999):
Podemos inferir que a classificação mencionada acima é aceita em termos de senso comum, não tendo respaldo em nenhuma teoria científica que mereça credibilidade.
 (
De acordo com 
Tomazi
 (2000), o primeiro a criar uma definição de cultura foi Edward 
Tylor
 (Inglaterra 1832 – 1917), ao juntar na palavra inglesa 
culture
 os sentidos que, no final do século XVII e início do século XVIII, eram carregados pela palavra alemã 
kultur
 e pela palavra francesa 
civilization
.
)
Kultur - Aspectos espirituais de uma comunidade.
Civilization - Realizações materiais de um povo.
Para esse autor, em seu livro Primitive Culture de 1871, “Cultura ... tomada em seu sentido etnográfico amplo é o todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.
Definição de cultura, na concepção de Tylor, é aprendida e não transmitida geneticamente, esse aprendizado se dá por meio da comunicação e da linguagem. Fica explícita também a oposição entre natureza e cultura, sendo a cultura considerada superior à primeira.
A partir de então, Cultura tornou-se um conceito central na Antropologia e nas outras Ciências Sociais e, em decorrência disso, houve uma proliferação de definições.
Num texto de 1952, intitulado Culture: a critical revew of concepts and definitions, A. L. Kroeber e C. Kluckhohn fizeram a análise de 160 definições em inglês concebidas por antropólogos, sociólogos, psicólogos, psiquiatras e outros.
Teoria da Evolução
No século XIX, o pensamento social foi muito influenciado pela Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwin. Vários foram os pensadores que viam nas sociedades um movimento semelhante ao observado nos organismos. Para esses estudiosos, a sociedade evoluiria, natural e necessariamente de um estágio primitivo, para um estágio avançado.
Estágio primitivo - As sociedades ditas “simples”, como as indígenas do Brasil, as tribos africanas etc.
Estágio avançado - As sociedades ditas complexas, ou seja, a Europa industrializada.
O darwinismo social serviu, como justificativa para a intervenção europeia (colonialismo) em sociedades da África, Ásia, América e Oceania.
Etnia X Raça (definição e limitações do termo para tratar a humanidade)
Os conceitos de raça e etnia são importantes, segundo Dias (2006), porque configuram agrupamentos humanos cuja identidade ocorre por suas ca-racterísticas exteriores, sejam estas culturais ou ainda físicas ou hereditárias.
Culturais - Modos de vida, de falar, hábitos e costumes etc.
Físicas ou hereditárias - Cor da pele, formato dos olhos, nariz, boca etc.
Isto favorece a identificação entre os membros, que se reconhecem como pertencentes a determinado grupo, ao mesmo tempo em que os diferencia de outros grupos.
Determinismo
Existem doutrinas que afirmam que objetos e acontecimentos são e ocorrem de determinada maneira por serem regidos por leis ou forças que os fazem assim. Acredita-se que a possibilidade de escapar do determinismo é mínima ou nula. Podemos citar duas formas de determinismo:
Para os antropólogos essas doutrinas nada têm de correto, pois pode-se observar que uma das características da espécie humana é a capacidade de romper as suas próprias limitações.
Espécie humana - Segundo Laraia (2004), o homem é um animal frágil, provido de insignificante força física, dominou toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores. Sem asas dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias conquistou os mares. Tudo isso porque difere dos outros animais por ser o único que possui cultura (p. 24).
Etnocentrismo
Etnocentrismo é um fenômeno universal originado no fato de que o ser humano, ao enxergar o mundo através das lentes de sua Cultura, passa a considerar o seu modo de vida como o mais correto e mais natural.
Cultura - A cultura, segundo Ruth Benedict, citada por Roque Laraia, condiciona a visão de mundo do homem.
Relativismo Cultural
Existe uma tendência em abandonar os juízos de valor no que diz respeito às diferentes culturas. Não existe, em termos de cultura, nem melhor nem pior, nem mais nem menos, nem superior nem inferior. Os padrões de beleza, de justiça, de moralidade etc., são relativos à cultura na qual os indivíduos estão inseridos.
Existem diferenças no modo de pensar e de agir entre as diversas culturas que, segundo o relativismo cultural, devem ser respeitadas. Porém, muitas vezes essa posição tem sido encarada como descaso, apatia, em relação ao outro.
Assista ao vídeo a seguir:
https://www.youtube.com/watch?v=EhFqc3W7YcM
VÍDEO: O papel da cultura na educação do sujeito transformador
Com base no que acabamos de ver, cite exemplos de contextos e situações que mostram a relação entre educação e cultura ocorrendo de maneira não sistemática e formal.
Minhas respostas:
- O bebê aprender a falar só por ouvir os pais falando.
- Tocar um instrumento de "ouvido", sem nunca ter frequentado uma aula.
- O costume dos filhos de pedir a bênção aos mais velhos.
GABARITO
- Quando um pai ensina seu filho a falar, se vestir, modos de agir em determinadas ocasiões etc.;
- Comunidades tribais que ensinam às gerações mais novas como caçar, plantar, colher etc.
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Vamos conhecer agora os mitos, a religião e a ideologia como sistemas culturais e suas funções como ferramentas educativas desde as primeiras comunidades humanas.
Mitos
De acordo com Chauí (2004), o vocábulo tem sua origem na palavra grega mythos, derivada de dois verbos:
O mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe de três formas:
O mito aparece em todas as culturas. A seguir você terá mais informações sobre este tema.
Chauí (2004) afirmaque o mito possui três funções:
· 1ª FUNÇÃO EXPLICATIVA - Explica o presente por alguma ação passada cujos efeitos persistiram no tempo. Como exemplo, a autora cita a crença de que uma constelação existe porque no passado crianças fugitivas e famintas morreram na floresta e foram levadas ao céu por uma deusa que as transformou em estrelas.
· 2ª FUNÇÃO ORGANIZATIVA - Organiza as relações sociais (de parentesco, de alianças, de poder, de sexo, etc.), legitimando e garantindo a permanência de um sistema complexo de proibições e permissões.
· 3ª FUNÇÃO COMPENSATÓRIA - Narra uma situação passada que é a negação do presente e que pode servir para compensar os homens de alguma perda ou para assegurar que um erro do passado foi corrigido no presente, oferecendo uma visão estabilizada e regularizada da natureza e da vida comunitária.
Segundo a autora, o mito tem caráter educativo porque, na narrativa, encontramos mensagens ou normas que acabam orientando os comportamentos necessários para a vida em grupo.
SAIBA +
De acordo com Meksenas (2000),há um mito muito difundido entre alguns índios do Brasil, no qual a origem da noite é atribuída à atitude de um grupo que, não obedecendo às tradições do seu povo, quebrou um coco proibido. Dali fugiu a noite, escurecendo toda a mata. Os deuses, sentindo piedade dos demais índios, devolveram-lhes a claridade do dia, mas com a condição de que agora seria sempre intercalada com um período noturno, para que todos se lembrassem do ocorrido.
Não nos preocupando em saber se realmente a existência da noite pode ser explicada por esse mito ou pela ideia científica do movimento do globo terrestre, o que importa é saber que esse mito acaba sendo educativo porque ele fixa uma norma social: os perigos que podem aparecer a um grupo quando não se respeitam certas tradições ou o cuidado que devemos ter com o desconhecido. (p. 21)
Apesar da nossa sociedade valorizar o pensamento científico, não podemos dizer que os mitos ficaram no passado. De acordo com Chauí, o pensamento conceitual e o pensamento mítico podem coexistir na mesma sociedade. Para ela, a predominância de uma ou outra forma do pensamento depende, de um lado, das tendências pessoais e da história de vida dos indivíduos e, de outro, do modo como uma sociedade ou uma cultura recorrem mais à uma do que à outra forma para interpretar a realidade, intervir no mundo e explicar-se a si mesma. (2004, p. 164)
Religião
A religião é um vínculo entre o mundo profano (a natureza) e o mundo sagrado, isto é, a natureza habitada por divindades ou um mundo separado da natureza (Chauí, p. 253).
A religião é um vínculo entre o mundo profano (a natureza) e o mundo sagrado, isto é, a natureza habitada por divindades ou um mundo separado da natureza (Chauí, p. 253).
É importante destacar que a religiosidade é um fenômeno encontrado em todas as sociedades conhecidas até hoje. Muitas religiões já existiram e diversas continuam existindo.
O antropólogo se interessa pelo papel da religião na sociedade, mas não é papel da antropologia fazer julgamentos de valor sobre o conteúdo das religiões.
Se a maioria das instituições sociais têm sua origem em necessidades materiais, a religião se dirige às indagações sobrenaturais do ser humano.
Portanto, a religião tem função explicativa como o mito. Ela fornece explanações, por exemplo, de como surgiram o mundo, a natureza, os animais e os homens.
Ela possibilita uma certa estabilidade social ao gerar paz de espírito e segurança aos indivíduos. Além disso, fornece normas que garantem a sobrevivência social. Acreditar em seres dotados de poderes sobrenaturais inspira respeito, temor e veneração, fazendo com que os indivíduos cumpram as regras.
Ideologia
Segundo o Dicionário de Ciências Sociais (pág. 570):
D. Tracy foi o primeiro autor a fazer uso do termo no sentido de estudo das ideias, no final do século XVIII, sendo empregado da mesma forma por vários autores franceses, posteriormente, no século XIX. Ainda no século XIX, a palavra ideologia adquiriu conotação pejorativa, significando ideias abstratas e enganadoras.
A ideologia tem estreita ligação com a educação, pois alguns autores de influência marxista percebem a escola como um local onde se reproduzem as falsas consciências com o objetivo de manter o status quo.
Atividade
Analise as afirmativas abaixo:
I - A Antropologia, inicialmente baseava-se em relatos de viajantes, missionários, militares, administradores coloniais. Depois passou a utilizar a observação direta, em trabalhos de campo empreendidos por profissionais especializados.
II - A palavra Cultura tem origem no vocábulo latino colere e possuía denotação de cultivo das plantas, de cuidado com os animais e a terra, cuidado com as crianças e com sua educação, cuidado com os deuses, com os ancestrais e seus monumentos.
III - Os conceitos de raça e etnia configuram agrupamentos humanos cuja identidade ocorre por suas características interiores, sejam elas culturais, físicas ou hereditárias.
IV - O mito tem caráter educativo pois encontramos mensagens ou normas que acabam orientando os comportamentos necessários para a vida em grupo.
Com base no que você estudou, marque a opção que apresenta todas as afirmativas corretas:
I, II, IV
I, II, III
II, III, IV
I, III. IV
Nesta aula, você:
· A definição, o objeto de estudo e os métodos da antropologia.
· O fato de que existem diversas definições de cultura.
· As definições de homem, raça, etnia, evolução humana, etnocentrismo e relativismo cultural.
· O mito, a religião e a ideologia podem ser considerados como elementos de educação e de coesão social.
Na próxima aula, você estudará:
· O pensamento cientifico como criação da sociedade;
· A origem da sociologia em fatos históricos como a revolução industrial inglesa e a revolução francesa;
· O pensamento de Auguste Comte e a sua Sociologia: Positivismo.
Para saber mais sobre os assuntos estudados nesta aula, sugerimos:
· Pesquise na internet sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Se ainda tiver alguma dúvida, fale com seu professor online, utilizando os recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem.
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