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Montes Claros/MG - 2012 Arte e Educação Eduardo Junio Santos Moura Geraldo de Alencar Durães Filho Geraldo Euler Lopes de Almeida Luciano Cândido e Sarmento Ricardo Ribeiro Malveira EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 - Telefone: (38) 3229-8214 www.unimontes.br / editora@unimontes.br CATALOGADO PELA DIRETORIA DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES (DDI) - UNIMONTES Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) © - EDITORA UNIMONTES - 2012 Universidade Estadual de Montes Claros REITOR João dos Reis Canela VICE-REITORA Maria Ivete Soares de Almeida DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Huagner Cardoso da Silva EDITORA UNIMONTES Conselho Editorial Prof. Silvio Guimarães – Medicina. Unimontes. Prof. Hercílio Mertelli – Odontologia. Unimontes. Prof. Humberto Guido – Filosofia. UFU. Profª Maria Geralda Almeida. UFG Prof. Luis Jobim – UERJ. Prof. Manuel Sarmento – Minho – Portugal. Prof. Fernando Verdú Pascoal. Valencia – Espanha. Prof. Antônio Alvimar Souza - Unimontes Prof. Fernando Lolas Stepke. – Univ. Chile. Prof. José Geraldo de Freitas Drumond – Unimontes. Profª Rita de Cássia Silva Dionísio. Letras – Unimontes. Profª Maisa Tavares de Souza Leite. Enfermagem – Unimontes. Profª Siomara A. Silva – Educação Física. UFOP. REVISÃO LINGUÍSTICA Ângela Heloiza Buxton Arlete Ribeiro Nepomuceno Aurinete Barbosa Tiago Carla Roselma Athayde Moraes Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do Editor. Luci Kikuchi Veloso Maria Cristina Ruas de Abreu Maia Maria Lêda Clementino Marques Ubiratan da Silva Meireles REVISÃO TÉCNICA Admilson Eustáquio Prates Cláudia de Jesus Maia Josiane Santos Brant Karen Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida Káthia Silva Gomes Marcos Henrique de Oliveira DESIGN EDITORIAL E CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO Andréia Santos Dias Camilla Maria Silva Rodrigues Clésio Robert Almeida Caldeira Fernando Guilherme Veloso Queiroz Francielly Sousa e Silva Hugo Daniel Duarte Silva Marcos Aurélio de Almeida e Maia Magda Lima de Oliviera Sanzio Mendonça Henriques Tatiane Fernandes Pinheiro Tátylla Ap. Pimenta Faria Vinícius Antônio Alencar Batista Wendell Brito Mineiro Zilmar Santos Cardoso Chefe do Departamento de Ciências Sociais Maria da Luz Alves Ferreira Chefe do Departamento de Geociências Guilherme Augusto Guimarães Oliveira Chefe do Departamento de História Donizette Lima do Nascimento Chefe do Departamento de Comunicação e Letras Ana Cristina Santos Peixoto Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas Educacionais Helena Murta Moraes Souto Chefe do Departamento de Estágios e Práticas Escolares Rosana Cassia Rodrigues Andrade Chefe do Departamento de Educação Andréa Lafetá de Melo Franco Coordenadora do Curso a Distância de Artes Visuais Maria Elvira Curty Romero Christoff Coordenador do Curso a Distância de Ciências Biológicas Afrânio Farias de Melo Junior Coordenadora do Curso a Distância de Ciências Sociais Cláudia Regina Santos de Almeida Coordenadora do Curso a Distância de Geografia Janete Aparecida Gomes Zuba Coordenadora do Curso a Distância de História Jonice dos Reis Procópio Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Espanhol Orlanda Miranda Santos Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Inglês Hejaine de Oliveira Fonseca Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Português Ana Cristina Santos Peixoto Coordenadora do Curso a Distância de Pedagogia Maria Narduce da Silva Ministro da Educação Aloizio Mercadante Presidente Geral da CAPES Jorge Almeida Guimarães Diretor de Educação a Distância da CAPES João Carlos Teatini de Souza Clímaco Governador do Estado de Minas Gerais Antônio Augusto Junho Anastasia Vice-Governador do Estado de Minas Gerais Alberto Pinto Coelho Júnior Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Nárcio Rodrigues Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes João dos Reis Canela Vice-Reitora da Unimontes Maria Ivete Soares de Almeida Pró-Reitora de Ensino Anete Marília Pereira Diretor do Centro de Educação a Distância Jânio Marques Dias Coordenadora da UAB/Unimontes Maria Ângela Lopes Dumont Macedo Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Betânia Maria Araújo Passos Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH Antônio Wagner Veloso Rocha Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS Maria das Mercês Borem Correa Machado Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Paulo Cesar Mendes Barbosa Chefe do Departamento de Artes Maristela Cardoso Freitas Chefe do Departamento de Ciências Biológicas Guilherme Victor Nippes Pereira Autores Eduardo Junio Santos Moura Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Brasília (UNB). Especialista em História da Arte pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), graduado em Educação Artística / Artes Plásticas pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Professor do Departamento de Estágios e Práticas Escolares da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Coordenador da área de Artes Visuais no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID (MEC/CAPES). Coordenador Didático do Curso de Artes Visuais da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Geraldo de Alencar Durães Filho Mestre em Música – Etnomusicologia, pela Universidade Federal da Paraíba (UFPA), Especialista em História da Arte pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Graduado em Educação Artística / Música Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Professor do Departamento de Artes da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Coordenador do programa Música, Cultura e Sociedade e integrante da Camerata de Violões da Unimontes. É orientador de trabalhos de conclusão de curso, de graduação. Geraldo Euler Lopes de Almeida Especialista em História da Arte pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), graduado em Educação Artística / Artes Plásticas pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Vice-Diretor e Professor de Arte do Ensino Fundamental e Ensino Médio da Escola Estadual Filomena Fialho (São João da Ponte – MG). Luciano Cândido e Sarmento Mestre em Música – Execução Música, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Especialista em História da Arte pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Graduado em Educação Artística / Música Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Professor do Departamento de Artes da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Coordenador Didático do Curso de Artes / Música da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). É Tutor do Grupo PET Artes Música da Unimontes, bolsista da CAPES. Ricardo Ribeiro Malveira Ator e Professor no Ensino do Teatro. Doutorando em Artes Cênicas no Programa de Pós- Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia (2011). Mestre em Artes Cênicas pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia (2011). Pós-Graduado em Arte-Educação pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes (2004). Graduado em Educação Artística com Habilitação em Artes Cênicas pela Universidade Estadual de Montes Claros (2002). Técnico em Decoração pelo Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernandez (2002). Professor do Departamento de Artes, no Curso de Artes / Teatro da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes. Pedagogia - Arte e Educação Apresentação Prezados (as) acadêmicos (as) do Curso de Pedagogia, O caderno didático intitulado ARTE E EDUCAÇÃO destina-se ao estudo da disciplina Funda- mentos e Prática da Artee Educação neste período e tem como objetivos discutir sobre: • a Arte e Educação no Brasil; Fundamentos da Arte na educação e sua importância no desenvolvimento da criança; • a arte e os padrões estéticos; • a imaginação criadora e a arte; • o desenvolvimento da criatividade; • a arte na educação escolar; a abordagem triangular no ensino de Artes na escola; • a expressão corporal, musical e a ciência; • a arte e a interdisciplinaridade; • a ação pedagógica em arte na escola e ainda discutir sobre o uso de oficinas de artes na prática pedagógica na escola. Com este estudo será possibilitado a você uma viagem pela história do ensino de arte no Brasil onde serão apresentados os fundamentos da arte na educação e o papel que esta exerce na vida da criança paralelamente propõe oportunizar, através das leituras dos textos apresen- tados, o conhecimento dos rumos da Arte-Educação na contemporaneidade em seus aspectos teórico-práticos nas Artes Visuais, na Música, no Teatro e na Dança, bem como a contribuição dessas áreas de conhecimentos para a formação do sujeito. Advertimos que esse caminho requer esforço e dedicação, que serão demonstrados através do seu empenho em realizar as leituras recomendadas pelo professor formador e docentes tuto- res virtual e presencial, assim como a participar dos fóruns de discussão, momentos em que os conteúdos estudados são compartilhados entre os colegas de curso. Professora Maria Nadurce da Silva Coordenadora do Curso Sumário Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 Um breve histórico da arte na educação no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.2 Para pensar a arte na educação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.3 História da Arte na educação no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12 1.4 Principais tendências pedagógicas no ensino da arte no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19 Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21 Artes Visuais: Olhar, Imaginar, Criar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21 2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21 2.2 Um universo de visualidades a descobrir. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21 2.3 Ensino de Artes Visuais: Uma Abordagem Triangular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24 2.4 teorias e práticas contemporâneas no ensino das artes visuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31 Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33 O teatro e a dança: emoção e movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33 3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33 3.2 Caminhos da apendizagem na arte e educação - teatro e dança . . . . . . . . . . . . . . . . . .35 3.3 O ensino do teatro: conhecer, praticar, fruir e refletir . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 3.4 O Ensino da dança: conhecer, praticar, fruir e refletir. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41 3.5 O teatro na sala de aula ou em outros espaços de ensino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43 3.6 A dança na sala de aula ou em outros espaços de ensino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 3.7 Um olhar para a cultura popular tradicional a partir dos elementos cênicos do teatro e da dança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51 Educação Musical . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51 4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51 4.2 Um breve histórico da educação musical no brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51 4.3 Educação musical no brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57 4.4 A música e o cérebro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 4.5 Música e cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59 4.6 A música e a criança: conceitos e jogos musicais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 4.7 Os parâmetros sonoros: som, silêncio, ritmo, pulsação, altura e intensidade . . . . . . 60 4.8 Os instrumentos musicais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .61 4.9 Apreciação musical . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .62 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .62 Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .65 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .71 Atividades de Aprendizagem - AA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .75 9 Pedagogia - Arte e Educação Apresentação Caro(a) acadêmico(a), Seja bem-vindo(a) aos estudos da disciplina Arte e Educação do 8º Período do Curso de Pe- dagogia da Universidade Aberta do Brasil – UAB/Unimontes. Na disciplina que estudaremos neste semestre, denominada Arte e Educação, conhecere- mos a história do ensino de arte no Brasil, os fundamentos da arte na educação e o papel que esta exerce na vida da criança. Buscaremos ainda conhecer os rumos da Arte-Educação na con- temporaneidade em seus aspectos teórico-práticos nas Artes Visuais, na Música, no Teatro e na Dança, bem como a contribuição dessas áreas de conhecimentos para a formação do futuro do- cente. Veremos que existem inúmeras definições para a Arte e dentre estas é relevante destacar, para esta nossa jornada em busca desses novos conhecimentos, que a Arte é a língua do mun- do e que através dela se pode conhecer, expressar esentir. Assim como as muitas definições de Arte, muitas são também as definições de Educação e bebendo na fonte do Mestre Paulo Freire, podemos dizer que educação é a tomada de consciência de si e do mundo para transformá-lo. De posse desses dois conceitos pensaremos a Arte-Educação, como nos aponta nossa Mes- tra Arte-Educadora, Ana Mae Barbosa, não apenas como a junção da Arte à Educação ou da opo- sição entre ambas, mas de sua interpenetração. Os avanços na Arte-Educação têm sido verificados desde o final do século XIX quando sur- giu o ‘Movimento de Educação Artística’, estendendo-se pelo início do século XX quando veri- ficaremos as mudanças de nomenclatura e objetivos da Arte na Educação. No Brasil os avanços surgiram com o Movimento Modernista e ganhou força a partir da década de 80 com o ‘Movi- mento de Arte-Educadores’ e suas associações. Na contemporaneidade, a Arte-Educação tem assumido cada vez mais a ideia de transfor- madora da realidade, buscando a conscientização dos sujeitos de seu papel no mundo. Segundo Paulo Freire, o mundo não é, o mundo está sendo, e por isso mesmo é passível de transforma- ções e mudanças, possíveis através da Arte e da Educação. Nesse sentido, a Arte-Educação passa dos aspectos da simples educação artística, atividade, decoradora de festas e datas comemorativas, da confecção de ‘presentinhos’ para o dia das mães e pais, da cópia dos modelos de livros, dos coloridos de desenhos mimeografados, para discipli- na preocupada com a formação de cidadãos críticos, conscientes, sensíveis, criativos, artístico e esteticamente educados. No que tange a formação docente, como em nenhum outro momento, a Arte-Educação preocupa-se com a formação de profissionais que atuem de forma comprometida, ética e com- petente, que promovam ações pedagógicas significativas, valorizando a cultura local, regional e nacional, bem como a cultura do outro, a interculturalidade, a multiculturalidade, a inclusão social, além de integrar as novas tecnologias a um novo modo de ensinar/aprender Arte. Ao ingressarmos nessa jornada de conhecimentos sobre a Arte na Educação, poderemos contribuir para outros avanços na educação brasileira, pois estes dependem de cada um de nós engajados e comprometidos com um Brasil e um mundo mais humano. Os autores. 11 Pedagogia - Arte e Educação UniDADE 1 Um breve histórico da arte na educação no Brasil Eduardo Junio Santos Moura Geraldo Euler Lopes de Almeida 1.1 Introdução Ao pensarmos na formação do futuro Educador, consideramos de suma importância que este conheça o histórico das disciplinas curriculares, neste caso a Arte, como se deu sua evolução como campo de conhecimentos, acreditando que ao saber o que veio antes, este poderá refletir sobre esta evolução e poderá se posicionar criticamente frente aos desafios que a área encontra atualmente. A Arte na educação não é uma área nova, mas se encontra num momento de efervescên- cia que nos permite debater sobre sua evolução identificando as dificuldades, os avanços, bem como as possibilidades de crescimento da área. Em face do exposto, buscaremos nesta unidade conhecer sobre a História da Arte-Educação identificando aspectos de ordem social, política, estética e psicológica ao longo dessa evolução e as principais tendências pedagógicas que marcaram o ensino da arte no Brasil. Dessa forma, a Unidade 1 tem como objetivo conhecer a evolução histórica da Arte-Educação no Brasil e as ten- dências pedagógicas que a marcaram. 1.2 Para pensar a arte na educação Para darmos início a essa nossa incursão pelo mundo da Arte na educação escolar, con- sideramos importante refletirmos um pouco sobre alguns aspectos e questionamentos que cer- tamente rondam nossa mente, quando pensamos nas relações entre Arte e Educação. • Você já parou para pensar nas relações existentes entre Arte e Educação? • Você já pensou por que ensinar Arte na escola? • Por que ensinar artes visuais, música, teatro e dança na escola? • Qual a contribuição das linguagens artísticas para o desenvolvimento das crianças? • Por que nossas crianças e jovens precisam aprender Arte na escola? • Qual a importância da Arte na educação das crianças? Ou simplesmente: • O que é Arte? • O que é Educação? Esses, bem como outros questionamentos, servirão de base para nossas discussões ao lon- go dessa nossa jornada. E para a compreensão de algumas dessas perguntas devemos conhecer um pouco do histórico do ensino de Arte no contexto da educação brasileira. PARA SAbER MAiS Para subsidiar as dis- cussões entre você e seus colegas em nosso Fórum acerca desses questionamentos, sugerimos que você leia o texto: “Como a Arte Educa?” do livro ‘Fundamentos Estéticos da Educação’ do autor João Francisco Duarte Jr. AtiviDADE Antes de iniciarmos nossa viagem pelo histórico do ensino de Arte no Brasil, solicita- mos que você faça uma viagem pela sua histó- ria escolar relacionada ao ensino de Arte em particular. Como foram as suas aulas de Arte na educação básica? 12 UAB/Unimontes - 8º Período 1.3 História da Arte na educação no Brasil A Arte na educação no Brasil vive um pe- ríodo de efervescência e transformações de ordem conceitual, filosófica e metodológica. Mas, para que chegássemos a esse ponto, al- guns fatos nessa história merecem ser relem- brados e discutidos neste curso. A investida aqui, mesmo que brevemen- te, no histórico da Arte-Educação no Brasil será importante para que possamos compre- ender as transformações verificadas na con- temporaneidade. Um dos primeiros indícios de ensino de arte, em um espaço de educação formal no Brasil, verifica-se ainda no início do sécu- lo XIX, em 1816, com a vinda para o Brasil da Missão Artística Francesa. Dom João VI (FIG. 1) criou no Rio de Janeiro a Academia Impe- rial de Belas Artes que, após a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, passou a ser chamada de Escola Nacional de Belas Artes. Artistas europeus que vieram para o Brasil ensinavam desenho e pintura na Academia Im- perial, com uma concepção burguesa, pautando pela cópia fiel de modelos vindos da Europa conforme nos atestam Martins, Piscosque, Guerra: [...] em Minas Gerais, vivia naquele tempo a explosão do Barroco, mas o Ne- oclassicismo trazido pelos franceses é que foi assumido pelas elites e classes dirigentes como o que havia de mais “Moderno”. A arte adquiriru a conotação de luxo, somente ao alcance de uma elite privilegiada que desvalorizava as ma- nifestações artísticas que não seguiam esses padrões. (MARTINS, PISCOSQUE, GUERRA, 1998, p. 11). Ainda em meados do século XIX, verificam-se matérias com caráter artístico no currículo das escolas públicas brasileiras, como por exemplo, em 1854 um Decreto Federal que institui o ensi- no de música na escola, enfocando noções básicas de música e canto. A história do ensino de arte no Brasil é marcada pelo ensino do desenho com valorização do produto em detrimento do processo e tendo o professor como aquele que tudo sabe, detentor de todo o conhecimento e o aluno como aquele que nada sabe e está relegado a produzir cópias de paisagens europeias sem qualquer preocupação com a cultura pátria. Nessa mesma época surgiram algumas disciplinas que se dividiam em aulas para meninos e aulas para meninas. De forma pejorativa, preconceituosa e excludente, eram ensinadas para as meninas Artes Domésticas - trabalhos manuais como bordado, tricô, e aulas de etiqueta - e para os meninos, Artes Industriais - marcenaria, carpintaria e serralheria. A partir do século XX e, principalmente, com a Semana de Arte Moderna de 1922 (FIG. 2), o ensino da arte começa a escrever uma nova história com base nas ideias dos teóricos do movi- mento denominado Escola Nova, vindos dos Estados Unidos e Europa, que por lá já era difundi- dodesde o final do Século XIX, mas que por aqui só chegara em meados do século XX, décadas de 1950 e 1960. As ideias de teóricos como John Dewey tiveram forte influência sobre os educadores brasi- leiros que por aqui desenvolviam trabalhos com o ensino de arte, como: Nereu Sampaio (Rio de Janeiro), Artus Perrelet (Minas Gerais), José Scarameli (Pernambuco). Vêm desse período as pri- meiras investigações sobre a criança em sua expressão através do desenho. A arte infantil passa a ser explorada como livre expressão, para que se busque compreender seus processos mentais, inteligência e psicologia. Nessa corrente de pensamento, em 1948 é criada no Rio de Janeiro a Figura 1: DEBRET, Jean- Baptiste. Retrato de D. João VI. Fonte: Disponível em: http://www.pt.wikipedia. org. Acesso em: 12 jul. 2011. ► ▲ Figura 2: Capa de Di Cavalcanti para a exposição da Semana de Artes Moderna de 1922. Fonte: Disponível em: http://www.pitoresco.com. br. Acesso em: 12 jul. 2011. 13 Pedagogia - Arte e Educação primeira “Escolinha de Arte”. O número de instituições desse tipo no Brasil chegou a 32 escolas. Anita Malfatti (FIG. 3), artista participante da Semana de Arte Moderna de 22, dirigiu cursos para crianças onde tentava desenvolver métodos de desenho influenciados pelas ideias de John Dewey: uma pedagogia centrada no aluno e na valorização do processo do trabalho. Dewey tinha como lema: a criança aprende a fazer, fazendo. A década de 1970 é marcada por dois fatos de grande relevância para a Arte-Educação no Brasil. Primeiro, com a Lei de Diretrizes e Ba- ses da Educação - LDB 5692/71 que determina que a Educação Artís- tica deva ser componente curricular obrigatório na Educação de 1° e 2° Graus, criando assim a figura de um professor de arte que deveria abordar, em suas aulas, conteúdos de Artes Plásticas, Música e Teatro, dominando-os de forma competente. Essa inserção da arte na educação não favoreceu muito a área, pois não existia no Brasil um curso superior que formasse professores para atuação nas escolas. Daí vem o segundo fato im- portante, que é justamente a criação do primeiro curso de Graduação em Educação Artística. Um curso insuficiente, denominado de “Licenciatura curta em Educação Artística” que veio, segundo Barbosa: [...] produzindo professores inócuos, uma vez que os administradores preten- dem em dois anos um professor que por lei (5692/71) ensinará, obrigatoria- mente e ao mesmo tempo, Artes Visuais, Música e Teatro a alunos de primeira a oitava séries e até mesmo no segundo grau. Esse fato é, contudo um exemplo bastante claro da cópia de modelo estrangeiro. A chamada polivalência é, na verdade, uma visão reduzida e incorreta do princípio da interdisciplinaridade ou americanas nos últimos dez anos (BARBOSA, 2001, p. 48). O legado da reforma educacional da década de 1970 para a Arte-Educação no Brasil é de- sastroso. Ainda hoje as aulas de arte são confundidas com o horário do passatempo, da terapia, hora de relaxar, momento de descansar das matérias ‘pesadas’, o momento de decorar a escola para as datas comemorativas, de colorir os desenhos mimeografados, de confeccionar o presen- te do dia das mães e pais, etc. Na década de 1980, veremos a retomada de movimentos de organização de educadores, em especial de Arte-educadores. O movimento, que havia surgido ainda na época da repressão, bus- cava discussões conceituais e estruturação de forças para a promoção da Arte-Educação escolar. O termo Arte-Educação, a meu ver, foi introduzido naquele momento como forma de diferenciação da nomenclatura “educação artística” utilizada pela LDB, e com intuito de aglutinar as pessoas com formação nas diferentes lingua- gens artísticas em torno de uma bandeira comum: a defesa da qualidade no ensino da arte e a luta contra a chamada ‘polivalência’. (RICHTER, 2008, p. 323). Em 1980, a professora Ana Mae Barbosa promoveu a primeira Semana de Arte e Ensino, realizada em São Paulo, com o objeti- vo de discutir os desafios para o ensino da arte no Brasil. Ana Mae Barbosa (FIG. 4) é a primeira Doutora em Ensino de Arte no Brasil e quem iniciou as pesquisas nesse campo, buscando elaborar uma proposta para o ensino de arte que levasse em conta as necessi- dades educacionais e, principalmente, culturais de nosso país. No final da década de 1980, Barbosa elabora a chamada, ini- cialmente, Metodologia Triangular para o Ensino da Arte, com fo- cos no fazer arte, leitura da obra de arte e contextualização. Aprofundaremos nesse tema, quando estudarmos as propos- tas contemporâneas para o ensino da arte. Ainda na década de 1980, exatamente em 18 de setembro de 1987, foi fundada a Federação de Arte-educadores do Brasil (FAEB), realizando até hoje, anualmente, o maior encontro de pro- fissionais da área, o Congresso Nacional da Federação de Arte-educadores do Brasil (CONFAEB) e que colocou em pauta as discussões sobre a obrigatoriedade do ensino da arte nas escolas. Iniciados ainda na década de 1980 e com maior fôlego na década de 1990, as preocupações com o ensino da arte buscam suportes conceituais e metodológicos para se fundamentar e ocu- par um espaço legítimo na educação básica escolar. ◄ Figura 3: MALFATTI, Anita. Autorretrato. Giz pastel sobre papelão. Coleção Museu de Arte Contemporânea – MAC da Universidade de São Paulo - USP. Fonte: Disponível em: http://www.mac.usp.br. Acesso em: 12 jul. 2011. DiCA Retome seu material impresso das dis- ciplinas História da Educação (1º período) e de Estrutura e Funcio- namento do Ensino Fundamental e Médio (3º Período) e conheça um pouco mais da história e da legislação da educação brasileira, relacionando com o conteúdo desta disci- plina e refletindo sobre as influências destas na educação em arte. ◄ Figura 4: Ana Mae Barbosa, Arte- educadora. Fonte: Disponível em: http://www.poseca.fapesp. br. Acesso em: 12 jul. 2011. 14 UAB/Unimontes - 8º Período Em 20 de dezembro de 1996, foi aprovada a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB 9394/96, que es- tabelece em seu Artigo 26, Parágrafo 2°: “O ensino de arte cons- tituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”. E logo em seguida, em 1998, foram elabo- rados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) - Arte (Séries Iniciais do Ensino Fundamental – 1º e 2º Ciclos (FIG. 5), Ensino Fundamental – 3º e 4º Ciclos e Ensino Médio), além do Referen- cial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN identificam a Arte no currículo escolar como área de conhecimento com metodologias, didática, conteúdos e avaliação próprios, desfa- zendo a ideia de que esta seria apenas uma atividade e reco- nhecendo a arte como ‘conhecimento fundamental’ para a edu- cação escolar e para a formação do ser humano. A manifestação artística tem em comum com outras áreas de conhecimento um caráter de busca de sentido, criação, inovação. Essencialmente, por seu ato criador, em qualquer das formas de conhecimento humano, ou em suas cone- xões, o homem estrutura e organiza o mundo, respondendo aos desafios que dele emanam, em um constante processo de transformação de si e da realida- de circundante (BRASIL, 1998, p. 30). [...] arte é importante na escola, principalmente porque ela é importante fora dela. Por ser um conhecimento construído pelo homem e através de tempos, arte é um patrimônio cultural da humanidade e todo ser humano tem direito de acesso a esse saber (MARTINS, PICOSQUE, GUERRA, 1998, p. 13). Uma das preocupações dos PCN/Arte foi exatamente pensar o ensino de arte em uma pers- pectiva de articulação dos três eixos ou campos conceituais, preconizada por Barbosa (1989): o fazer artístico/ criação / produção; a leitura da obra de arte / apreciação / percepção / analise; e o conhecer arte / contextualizar histórico e culturalmente. Esses três eixos se articulam ao longo da proposta dos PCN/Arte, sendo denominados de produção, fruição e reflexão. Podemos destacar alguns pontos-chave da proposta dos PCN/Arte: 1. Identificação da área por “Arte”, substituindo o termo Educação Artística, utilizado até então; 2. Classificação da Arte como disciplina com conteúdos, metodologia, didática e avaliação própria e não como uma atividade curricular; 3. Inclusão da educação estética, ou seja, o desenvolvimento da capacidade de analisar criti- camente a cultura e seu entorno; 4. Estudo de diferentes códigos culturais - multiculturalismo - e não somente os códigos do- minantes; 5. Integração do fazer artístico, a leitura da obra de arte e sua contextualização. Apesar de seus mais de 10 anos de elaboração, os PCN/Arte ainda são uma polêmica por vá- rios motivos. Ao ler o documento, inicialmente, muitos educadores não o compreenderam e não sabiam o que fazer com ele. Outros ignoraram completamente vendo-o como mais uma imposi- ção governista à escola. Por um lado podemos afirmar que os PCN/Arte foram um avanço para a Arte-Educação no sentido em que coloca a Arte no currículo escolar como área de conhecimento e em pé de igual- dade com todas as outras disciplinas escolares. Já por outro lado, podemos perceber que as po- líticas educacionais brasileiras ainda são mesquinhas e a luta pelos espaços é acirrada, pois de nada vale colocar a Arte em pé de igualdade com as outras disciplinas escolares - no documento - e não garantir o espaço real para a Arte na escola com estrutura adequada e professores com for- mação e competência para o ensino; é o mínimo que se pode exigir e que é um direito legítimo. Uma alteração na LDB 9394/96 foi realizada em 13 de Julho de 2010 (Lei 12.287) sendo mu- dado o texto que trata do ensino de arte, ficando com a seguinte redação: Art. 26 § 2o O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos (BRASIL, 2010). Figura 5: Parâmetros Curriculares Nacionais / Arte (Séries Iniciais do Ensino Fundamental – 1º e 2º ciclos). Fonte: Disponível em: http://www.portalmec. gov.br. Acesso em: 12 jul. 2011. ► PARA SAbER MAiS Para conhecer melhor a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais / Arte acesse o site do Minis- tério da Educação: www. portal.mec.gov.br/seb/ arquivos/pdf/livro06.pdf 15 Pedagogia - Arte e Educação Com a alteração no texto fica clara a preocupação que já estava expressa com os PCN/Arte, da valorização dos aspectos regionais e locais da cultura na educação dos alunos. Atualmente as propostas curriculares têm se estruturado de forma que, baseados nos PCN/ Arte, cada Estado tem apresentado uma proposta, guardando as características e a realidade es- pecíficas. Em Minas Gerais, desde 2004, vêm sendo realizadas discussões com professores de Arte e gestores, que culminaram na Proposta Curricular do Estado de Minas Gerais, que vem sendo im- plantada desde 2006, priorizando os Conteúdos Básicos Comuns - Arte (Ensino Fundamental e Ensino Médio), como parte do Programa de Desenvolvimento Profissional - PDP. Segundo os autores/colaboradores da proposta, a Professora Drª. Lúcia Gouvêa Pimentel, o Professor Dr. Evandro José Lemos da Cunha e o Professor José Adolfo Moura, ao elaborar a pro- posta duas ordens de preocupação se evidenciaram: 1° Colocar o ensino da arte no seu verdadeiro caminho em que a criação or- denada e ordenadora contribua para o desenvolvimento integral dos jovens, enriquecendo todo indivíduo que dela fizer uso; 2° Propor um programa exequível, disposto de maneira simples, mas capaz de sintetizar em diferentes módulos as inúmeras possibilidades da criação artís- tica frente às novas tecnologias disponíveis no mundo contemporâneo (SEE, 2006). A Proposta Curricular do Estado de Minas Gerais vem sendo implantada ainda, com discus- sões entre os professores de arte e os autores da proposta através do Centro de Referência Virtu- al do Professor (CRV), um ambiente dinâmico que proporciona o debate produtivo e a troca de experiências. Talvez ainda falte um pouco mais de envolvimento dos profissionais numa mudança cultu- ral em que se perceba que esta e, consequentemente, as melhorias no ensino da arte dependem de cada um fazer a sua parte com empenho e competência. 1.4 Principais tendências pedagógicas no ensino da arte no Brasil Nossos estudos até aqui revelam que historicamente, a arte na educação no Brasil passou por grandes transformações, principalmente no que diz respeito às concepções e metodologias, ou seja, no modo com que este conteúdo curricular ou disciplina era vista na educação escolar. Por meio desse histórico podemos identificar que até hoje alguns resquícios da ‘Educação Artís- tica’ ainda se fazem presentes nas práticas de muitos professores e muitas vezes e mais tragica- mente, na visão dos que concebem as políticas públicas voltadas para a educação, especifica- mente a educação em arte. Neste tópico, conheceremos algumas - as principais - tendências pedagógicas no ensino da Arte no Brasil apontadas por alguns estudiosos desse tema como Fusari e Ferraz (1993), Barbosa (1978) e Iavelberg (2003). Antes de prosseguirmos, solicitamos que você retome o relato que postou em nosso Fórum de debates no Ambiente Virtual de Aprendizagem - Virtualmontes, sobre suas aulas de arte e, ao longo de nossos estudos sobre as principais tendências pedagógicas, procure perceber qual ou quais das tendências são perceptíveis na prática pedagógica do professor de arte que você teve em sua trajetória escolar na educação básica. 1.4.1 O ensino da arte e escola tradicional Esta é a mais antiga das tendências pedagógicas no ensino da arte e traz consigo as marcas da República, bem como de toda a tradição da Academia Imperial de Belas Artes (FIG. 6). PARA SAbER MAiS Para conhecer melhor a proposta curricular para o ensino de arte do Estado de Minas Ge- rais acesse: http://crv. educacao.mg.gov.br 16 UAB/Unimontes - 8º Período Presente nas primeiras décadas do século XX, essa tendência apresenta o ensino da arte como Desenho (decorativo, geométrico e do natural) baseado na cópia e repetição de modelos, valorizando traços e contornos. Nessa concepção, o professor de arte é detentor de todo o saber e seu aluno é mero recep- tor das informações que ele ‘transmite’ através de atividades pautadas pelo ‘fazer’ e que buscam um produto final do trabalho. O objetivo das aulas era exercitar a visão, a memória, as mãos e a inteligência, sendo os con- teúdos tratados como verdades absolutas. A música era trabalhada através do canto e o teatro era feito em datas comemorativas do calendário escolar. Essa concepção de Arte-Educação ainda persiste nas escolas brasileiras, sendo comum ver- mos a utilização de desenhos mimeografados, livros para colorir, desenho de ornamentos, de- senhos geométricos, peças teatrais onde os alunos decoram textos em separado e nas apresen- tações cada um espera sua ‘hora de entrar’, etc. Existe já nessa tendência uma inclinação para a formação de mão de obra e preparação para o mundo do trabalho. Figura 6: Pórtico da Academia Imperial de Belas Artes. Foto de Marc Ferrez, 1891. Fonte: Disponível em: http://www.pt.wikipedia. org. Acesso em: 12 jul. 2011. ► 17 1.4.2 O ensino da arte e a escola nova Nessa tendência perceberemos uma concepção mo- dernista de Arte-Educação, influenciada pelo Movimento da Escola Nova, que tem origem nas ideias educacionais vindas da Europa e Estados Unidos. A Escola Nova sedis- semina no Brasil nas décadas de 1950 e 1960 e no ensino da arte parte da ideia de livre-expressão, preocupação com o processo do trabalho e não com o produto e, ain- da, o início das pesquisas sobre a psicologia da aprendi- zagem tendo o seu foco na criança. Augusto Rodrigues (FIG. 7), arte-educador brasileiro, criou a Escolinha de Arte do Rio de Janeiro (1948) influenciado pelas ideias de John Dewey, Viktor Lowenfeld e Herbet Read. Estru- turada nos modelos e princípios da ‘Educação Através da Arte’, Augusto Rodrigues buscava compreender a criança em seu aspecto global, “baseado na expressão da liber- dade criadora individual e no papel do indivíduo na so- ciedade”, segundo Iavelberg (2003, p. 113). O professor, nesta concepção, era aquele que iria orientar os seus alunos em seus interesses, liberando sua expressividade com ênfase no processo. Professor e aluno aprendem juntos e defi- nem juntos os conteúdos a serem estudados. No Brasil, essa proposta não foi bem compreendida e muitas vezes confundida com o pen- samento errôneo de que, se o aluno quer aprender tem no professor um mediador, mas se não quer, o professor não busca estratégias para incentivá-lo e, em muitos casos, a aula de arte, nessa perspectiva, era um fazer por fazer sem fundamentos teóricos, deturpando a ideia preconizada por Dewey de ‘aprender a fazer, fazendo’, baseado na experiência (FIG. 8). ▲ Figura 8: Dewey School, Chicago – Estados Unidos. The Bettmann Archive / Corbis. Fonte: Disponível em: www.corbisimages.com. Acesso em: 12 de jul. 2011. 1.4.3 O ensino da arte e escola tecnicista Esta tendência surge com a aprovação da LDB 5692/71 que inclui a arte no currículo esco- lar como ‘atividade educativa’. A falta de embasamento conceitual e metodológico faz com que professor e aluno e seus interesses educacionais fiquem em segundo plano, sendo apoiados por livros didáticos de má qualidade que visavam à preparação dos indivíduos para o mercado de trabalho. O papel do professor é neutro, cabe a ele ensinar as técnicas do ‘fazer’, utilizando-se de recursos tecnológicos e audiovisuais, copiando modelos prontos, com objetivo de exercitar as habilidades manuais, coordenação motora e o saber construir. ◄ Figura 7: Augusto Rodrigues. Recife – PE, 1913-1993. Fonte: Disponível em: http://www.educacaopu- blica.rj.gov.br. Acesso em: 12 jul. 2011. 18 UAB/Unimontes - 8º Período É perceptível aqui o empobrecimento da proposta de ensino de arte nesta perspectiva, em relação à concepção modernista de ensino de arte, adotando a arte na escola como um momen- to de atividade de recreação e descanso das disciplinas ditas ‘pesadas’. 1.4.4 O ensino da arte na contemporaneidade A partir da década de 1980, com as pesquisas da arte-educadora brasileira Ana Mae Barbosa e sua Proposta Triangular para o ensino da arte, muitas discussões foram sendo feitas, buscando novas concepções da arte e seu ensino. Muitos são os conceitos associados às diferentes termi- nologias e trajetória histórica, segundo Barbosa (2002, p. 22): “Arte-Educação, Educação Artística, Educação Através da Arte, Ensino da Arte ou Ensino/Aprendizagem da Arte, Arte, Artes Plásticas, Artes Visuais, etc.”; porém o que é importante ressaltarmos nesse campo é que o foco das ações no ensino da arte na contemporaneidade passa da superficial educação artística para uma edu- cação artística e estética com o objetivo de formar sujeitos mais críticos, sensíveis, conscientes de seu papel de cidadão e transformador na sociedade em que vive. Na década de 1990, a LDB 9394/96 define a arte como componente curricular obrigatório; os PCN/Arte definem as quatro linguagens da arte: artes visuais, dança, música e teatro como ob- jetos de estudo a partir dos três eixos de aprendizagem: produzir, apreciar e refletir, colocando ainda os temas transversais (meio ambiente, saúde, pluralidade cultural, orientação sexual, ética, trabalho e consumo), como temas a serem trabalhados de forma interdisciplinar. Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram propostos como diretrizes peda- gógicas e considerados um referencial importante para a educação escolar no país, por seu compromisso de assegurar a democratização e um ensino de qualidade para todos os estudantes. Analisando os documentos e observando o cuidado com seu detalhamento, vê-se que o texto em geral engloba ideias, premissas, procedimentos e conteúdos condizentes com as teorias e práticas contemporâneas, e tem como direcionamento tanto os conhecimentos pró- prios das áreas componentes do currículo, como os saberes considerados fun- damentais para o fortalecimento da identidade e formação do cidadão (FER- RAZ , FUSARI, 2009, p. 57). BOX 1 São objetivos da arte no Ensino Fundamental (Séries Iniciais – 1º e 2º Ciclos), segundo os PCN/Arte (1998): • expressar e saber comunicar-se em artes mantendo uma atitude de busca pessoal e/ou coletiva, articulando a percepção, a imaginação, a emoção, a sensibilidade e a reflexão ao realizar e fruir produções artísticas; • interagir com materiais, instrumentos e procedimentos variados em artes (Artes Visuais, Dança, Música, Teatro), experimentando-os e conhecendo-os de modo a utilizá-los nos trabalhos pessoais; • edificar uma relação de autoconfiança com a produção artística pessoal e conhecimento estético, respeitando a própria produção e a dos colegas, no percurso de criação que abri- ga uma multiplicidade de procedimentos e soluções; • compreender e saber identificar a arte como fato histórico contextualizado nas diversas culturas, conhecendo respeitando e podendo observar as produções presentes no entor- no, assim como as demais do patrimônio cultural e do universo natural, identificando a existência de diferenças nos padrões artísticos e estéticos; • observar as relações entre o homem e a realidade com interesse e curiosidade, exercitan- do a discussão, indagando, argumentando e apreciando arte de modo sensível; • compreender e saber identificar aspectos da função e dos resultados do trabalho do ar- tista, reconhecendo, em sua própria experiência de aprendiz, aspectos do processo per- corrido pelo artista; • buscar e saber organizar informações sobre a arte em contato com artistas, documentos, acervos nos espaços da escola e fora dela (livros, revistas, jornais, ilustrações, diapositivos, vídeos, discos, cartazes) e acervos públicos (museus, galerias, centros de cultura, bibliotecas, fonotecas, videotecas, cinematecas), reconhecendo e compreendendo a variedade dos pro- dutos artísticos e concepções estéticas presentes na história das diferentes culturas e etnias. Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais (1° e 2° ciclos) - Arte. Brasília: MEC/SEF, 1998. 19 Pedagogia - Arte e Educação Atualmente, graças a essas mudanças ocorridas no ensino da arte ao longo desse processo histórico, muitos são os conceitos e métodos adotados, sempre levando em consideração os ei- xos da aprendizagem (produção, fruição, reflexão) que estão presentes nos PCN/Arte e preconi- zados por Ana Mae Barbosa. A proposta de ensino de arte com base nos três eixos (conhecer, fazer, apreciar) foi denomi- nada, inicialmente, de ‘Metodologia Triangular’, porém em 1998 no livro ‘Tópicos Utópicos’, Ana Mae Barbosa assim justifica a mudança na nomenclatura de sua ideia: Foi no esforço dialogal entre o discurso pós-moderno global e o processo consciente de diferenciação cultural também pós-moderno que, no ensino da arte, surgiu a abordagem que ficou conhecida no Brasil como Metodologia triangular, uma designação infeliz, mas uma ação reconstrutora. Sistematizada no Museu de Arte Contemporânea da USP (87/93), a Triangulação Pós-Colonia- lista no Ensino da Arte no Brasil foi apelidada de ‘metodologia’ pelos profes- sores. Culpo-me por ter aceitadoo apelido usando a expressão Metodologia Triangular em meu livro A imagem no Ensino da Arte. Hoje, depois de anos de experimentação, estou convencida de que metodologia é construção de cada professor em sua sala de aula e gostaria de ver a expressão Proposta Triangu- lar substituir a prepotente designação Metodologia Triangular. Em arte e em educação, problemas semânticos nunca são apenas semânticos, mas envolvem conceituação. (BARBOSA, 1998, p. 33). Em síntese, a educação escolar em arte na contemporaneidade tem se valido da diversidade de conceitos, métodos; da interculturalidade e da interdisciplinaridade; do uso das tecnologias contemporâneas e da formação de professores cada vez mais comprometidos com uma educa- ção que busque a inclusão com propostas pedagógicas consistentes e que estejam voltadas para a recuperação de valores humanos fundamentais. Nas próximas Unidades você conhecerá de forma específica as teorias e práticas contempo- râneas aplicadas a cada uma das linguagens que compõem a área da Arte na Educação, de acor- do com os PCN: Artes Visuais, Música, Teatro e Dança. Referências BARBOSA, Ana Mae T. B. Arte-Educação no brasil. Das Origens ao Modernismo. São Paulo: Pers- pectiva. Secretaria da Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, 1978. ______. (Org.). inquietações e mudanças no ensino da arte. São Paulo: Editora Cortez, 2002. p. 113-121. ______. John Dewey e o Ensino da Arte no brasil. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares nacionais (1° e 2° ciclos) - Arte. Brasília: MEC/SEF, 1998. ______. Congresso Nacional. Lei nº 12.287 de 13 de julho de 2010. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, no tocante ao ensino da arte. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/ L12287.htm FERRAZ, Maria Heloísa C. T.; FUSARI, Maria Filisminda de Resende. Metodologia do Ensino de Arte. São Paulo: Cortez, 1993. IAVELBERG, Rosa. Para gostar de aprender arte: sala de aula e formação de professores. Porto Alegre: Artmed, 2003. MARTINS, Mirian Celeste; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, Maria Terezinha Telles. Didática do ensino da arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998. RICHTER, Ivone Mendes. Histórico da FAEB: Uma Perspectiva Pessoal. In: BARBOSA, Ana Mae T. B. (Org.). Ensino da Arte: memória e história. São Paulo: Perspectiva, 2008. SEE - Secretaria de Estado de Educação – Minas Gerais. Proposta Curricular: Conteúdos Básicos Comuns – CBC / Arte Ensinos Fundamental e Médio. Belo Horizonte, 2006. 21 Pedagogia - Arte e Educação UniDADE 2 Artes Visuais: Olhar, Imaginar, Criar Eduardo Junio Santos Moura Geraldo Euler Lopes de Almeida 2.1 Introdução Nesta Unidade, abordaremos especificamente o ensino das Artes Visuais, uma das lingua- gens da arte que compõe a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN / Arte), conhe- cendo teorias e práticas contemporâneas que embasam o ensino sobre elas. Como você pôde perceber em nossos estudos da Unidade 1, durante muitos anos, o ensino da arte no Brasil esteve carente de consistência teórica e se valia de práticas pouco diversificadas, com modelos estereotipados, baseados na autoexpressão sem que se levasse em consideração o ensino-aprendizagem de conteúdos e saberes de arte que contribuíssem significativamente para uma ampliação do universo cultural dos alunos. Ainda hoje, nas escolas, encontramos professores com práticas clichês e ultrapassadas que pouco ou nada acrescentam sobre o conhecimento em arte, ao aluno. Já por outro lado, vemos muitos professores se atualizando e buscando acompanhar as transformações no ensino da arte, adotando concepções teóricas e práticas contemporâneas como: visitas a exposições de arte, museus e casas de cultura, integração da escola com artistas/ artesãos da comunidade e valorização das culturas, enfoque na realidade e interesse de seus alu- nos. Dessa forma, a Arte é encarada como uma área de conhecimento que deve ser valorizada como uma necessidade humana dentro e fora da escola. Nossa Unidade 2 é uma imersão no universo das Artes Visuais e tem como objetivo promo- ver o conhecimento dessa linguagem artística, seus campos de expressão e suas possibilidades educativas na contemporaneidade. 2.2 Um universo de visualidades a descobrir O campo de conhecimentos das Artes Visuais é amplo e vai além das formas tradicionais: pintura (FIG. 9), desenho (FIG. 10), escultura (FIG. 11), arquitetura (FIG. 12). 22 UAB/Unimontes - 8º Período ▲ Figura 9: AMARAL, Tarsila do. Abaporu. Óleo sobre tela, 1928. Fonte: Disponível em: http://www.tarsiladoamaral.com.br. Acesso em 13 jul. 2011. ◄ Figura 10: PICASSO, Pablo. O rosto da paz. Desenho, 1950. Fonte: Disponível em: http://www.pt.wikipedia. org.br. Acesso em: 13 jul. 2011. 23 Pedagogia - Arte e Educação ◄ Figura 11: RODIN, Auguste. O beijo. 1886. Museu Rodin, Paris – França. Fonte: Disponível em: http://www.pt.wikipedia. org.br. Acesso em: 13 jul. 2011. ◄ Figura 12: Igreja de São Francisco, Ouro Preto – MG. Arquitetura de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. 1766. Fonte: Disponível em: http://www.pt.wikipedia. org.br. Acesso em: 13 jul. 2011. 24 UAB/Unimontes - 8º Período No campo das Artes Visuais também estão inseridas modalidades que são decorrentes dos avanços tecnológicos (FIG. 13 e 14), das novas mídias e das transformações estéticas que viven- ciamos na contemporaneidade (fotografia, cinema, televisão, vídeo, internet). Atualmente, vivemos em um mundo dominado por imagens – advindas dos mais diferentes meios – e é preciso que, para além de meros consumidores destas imagens, nossos alunos pos- sam ser educados para se tornarem conhecedores, produtores, apreciadores e fruidores críticos e sensíveis do universo imagético que está ao seu redor. 2.3 Ensino de Artes Visuais: Uma Abordagem Triangular Na unidade 1, comentamos em alguns momentos sobre esta proposta que inicialmente fora chamada de ‘Metodologia Triangular’ (BARBOSA, 1989) e que depois fora corrigida pela própria autora e denominada ‘Proposta Triangular’ (BARBOSA, 1998). Atualmente e para este estudo usaremos o termo de Abordagem Triangular, que é como a própria Ana Mae Barbosa vem utilizando em seus novos estudos sobre o tema. ◄ Figura 14: Rio. Animação , 20th Century Fox, 2010. Fonte: Disponível em: www.rio-ofilme.com.br. Acesso em: 13 jul. 2011. Figura 13: Os pobres trabalhadores da terra. Sebastião Salgado, fotografia. Fonte: SALGADO, 1997. ► 25 Pedagogia - Arte e Educação A ideia desta abordagem surgiu das pesquisas da arte-educadora brasileira Ana Mae Barbo- sa, quando esta era diretora do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da Universidade de São Paulo (USP), a partir de suas experiências com o setor educativo do museu, bem como do Projeto Arte na Escola da Fundação IOCHPE. Os estudos realizados por Barbosa a partir das Escuelas Al Aire Libre no México; o Critical Stu- dies na Inglaterra e a Discipline Based Art Education (DBAE) nos Estados Unidos foram pontos de partida para que daí surgisse a proposta. Segundo Barbosa (1998), a Proposta Triangular deriva de uma dupla triangulação. Uma, tra- ta-se da gênese da própria sistematização da proposta, originada pela influência de outras três propostas, quais sejam: • Escuelas Al Aire Libre (México): ensino de arte modernista que adota em seu programa a ideia de arte como expressão e cultura; • Critical Studies (Inglaterra): utiliza a apreciação da obra de arte como possibilidade de leitura; • Discipline Based In Art Education (Estados Unidos): tem como proposta a produção de arte, crítica dearte, estética e história da arte. Nesse sentido, a Abordagem Triangular: [...] postula que a construção do conhecimento em arte acontece quando há o cruzamento entre experimentação, codificação e informação. Considera como seu objeto de conhecimento a pesquisa e a compreensão das questões que en- volvem o modo de inter-relacionamento entre arte e público. (RIZZI, 2008, p. 337). Ainda segundo Barbosa (1998): A Proposta Triangular é construtivista, interacionista, dialogal, multiculturalista e é pós-moderna por tudo isso e por articular arte como expressão e como cul- tura na sala de aula, sendo esta articulação o denominador comum de todas as propostas pós-modernas do ensino de arte que circulam internacionalmente na contemporaneidade. (BARBOSA, 1998, p. 41). 2.3.1 As três ações básicas dessa abordagem A outra triangulação está na natureza epistemológica, designando as três ações básicas ou componentes que se articulam na Abordagem Triangular: • O Fazer Artístico: desenhar, pintar, esculpir, gravar, fotografar, performar, conceituar, fazer instalações, criar novas mídias, diz respeito aos procedimentos e técnicas do fazer artístico, desde os modos tradicionais como as práticas em ateliê até a utilização das diversas tecno- logias contemporâneas. • A Leitura da Obra de Arte: diz respeito à apreciação da obra de arte envolvendo, seus as- pectos críticos e estéticos através de questionamentos e descobertas. É importante ressaltar que o objetivo é a obra de arte e não o artista com a ‘descoberta de suas intenções’. • A Contextualização: diz respeito ao contexto, tanto nos aspectos da História da Arte, quan- to da História Geral, da Antropologia, Psicologia, Arqueologia, Educação, Política, Medicina, Física, Química, Biologia, Ecologia e outras. Ao analisarmos os três momentos que envolvem a Abordagem Triangular não se pode pen- sar em uma sequência lógica, do tipo: contextualizar - ler - fazer, pois a posposta triangular não indica um pensamento ou procedimento hierarquizante, podendo variar as sequências de abor- dagem das ações, sem que se dê maior importância a alguma delas, pois todas devem ocupar um espaço significativo coerente com os objetivos iniciais. PARA SAbER MAiS Para um conhecimen- to mais aprofundado acerca do tema em estudo nesta unidade “Abordagem Triangu- lar” sugerimos dois livros da Ana Mae Barbosa. O primeiro é “A imagem no ensino da arte” (Editora Pers- pectiva, 1991) o outro, bem recente, intitulado “Abordagem Triangular no Ensino das Artes e Culturas Visuais” (Edito- ra Cortez, 2010). 26 UAB/Unimontes - 8º Período 2.4 teorias e práticas contemporâneas no ensino das artes visuais Ensinar/aprender Artes Visuais na contemporaneidade, requer um trabalho continuamen- te informado sobre os conteúdos desta área de conhecimento. O professor precisa saber o que pretende ensinar a partir das Artes Visuais ou partir de conteúdos afins e realizar links entre os diferentes conteúdos de forma interdisciplinar. Em suma, é necessário saber Artes Visuais para mediar processos de ensino/aprendizagem nessa área que tem suas particularidades, mas é uma área de conhecimento como a Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia. Quando afirmamos que é necessário saber Artes Visuais para levar esses conhecimentos para a sala de aula, não queremos dizer com isso que é necessário que você seja um especialista nessa área, mas que você tenha uma faceta de professor-pesquisador, de curiosidade, de dúvidas que o façam buscar conhecimentos nessa área antes de propor qualquer trabalho com seu alu- no, até mesmo para não cair nos clichês da escola tradicional. A título de exemplo, se pretende realizar algum trabalho sobre um determinado artista e suas obras, seu processo criativo, os materiais que este utiliza em seu fazer artístico, etc; é neces- sário que você pesquise sobre esse artista, esses processos, esse fazer, esses materiais. Hoje essas pesquisas ficaram muito mais acessíveis, pois com a internet você pode realizar pesquisas sobre artistas ou mesmo movimentos artísticos, antigas civilizações, arquitetura e vários outros temas em um clique. As ações pedagógicas em Artes Visuais devem ser significativas, nada de fazer por fazer, desprovido de teoria. As atitudes do professor e da escola, nesse sentido, devem colaborar para que os alunos passem por um conjunto de experiências de aprender e criar, articulando percep- ção, imaginação, sensibilidade, conhecimento e produção artística pessoal e grupal (BRASIL, PCN/Arte, 1998). Abordaremos, na sequencia, algumas das principais teorias contemporâneas no ensino das artes visuais e proporemos algumas práticas para que você possa construir, de forma significati- va, os conhecimentos necessários à compreensão da educação e Arte Visuais na Educação Básica. DiCA Com os avanços tecnológicos, além de pesquisa, a internet proporciona a você a visita virtual aos maio- res museus do mundo. Conheça o Google Art Project acessando: www.googleartproject. com Figura 15: Google Art Project. Fonte: Disponível em: www.googleartproject. com. Acesso em: 13 jul. 2011. ► 27 Pedagogia - Arte e Educação 2.4.1 Ensino das Artes Visuais e a Interculturalidade Você já deve ter estudado sobre interculturalidade ou multiculturalidade ou pluriculturali- dade em outras disciplinas do seu Curso. O que você sabe sobre esses termos? Em nossos estudos em Arte e Educação utilizaremos o termo Interculturalidade, que segun- do Barbosa (1998, p. 14): Alguns falam sobre multiculturalismo, outros sobre pluriculturalidade, temos ainda o termo mais apropriado - interculturalidade. Enquanto os termos “mul- ticultural” e “pluricultural” significam a coexistência e mútuo entendimento de diferentes culturas na mesma sociedade, o termo “intercultural” significa a in- teração entre as diferentes culturas. No campo da educação, a interculturalidade ganha importância na medida em que propor- ciona ao educando o conhecimento da própria cultura, da cultura do outro, da cultura local e da cultura de outras nações, bem como os elementos e códigos que identificam as diferentes cul- turas. Pensando a partir desta afirmação, você percebe porque é importante que o professor de arte promova, com seus educandos, o debate sobre as diferenças culturais? Vejamos que a própria sala de aula é um espaço que abriga as diferenças culturais: de etnia, de gênero, de raça, de religião, de orientação sexual, etc. Vários grupos culturais: negros, índios, brancos, mulheres, homossexuais convivem no mesmo espaço e interagem entre si, portanto es- sas culturas com seus códigos que conferem identidade a elas possuem pontos de interesse co- muns e um desses pontos é o nosso objeto de estudos: a Arte. Reflita sobre: • Como a Arte está presente na vida de cada um desses grupos culturais? • Qual o papel da arte e do artista em cada uma dessas culturas? • De que formas a arte encontra ligação interculturas? São esses questionamentos que importam para o professor de arte e é a partir destes que ele poderá desenvolver um ensino de arte que objetiva o desenvolvimento cultural do educan- do, bem como a ampliação do seu universo cultural, objetivos estes expressos na LDB 9394/96 e nos PCN (1998). ◄ Figura 16: RODRIGUES, Glauco. Abaporu. 1981. Acrílica sobre tela. Fonte: Disponível em: www.itaucultural.org.br. Acesso em: 13 jul. 2011. 28 UAB/Unimontes - 8º Período Para uma educação crítica em arte, é preciso levar em consideração as diferenças e a diversi- dade cultural (FIG. 16), para tanto Barbosa (1998, p. 91-92), destaca alguns pontos a serem pensa- dos para uma ação pedagógica significativa: • Promover o entendimento de cruzamentos culturais, através da identifica- ção de similaridades, particularmente nospapéis e funções da arte, dentro e entre grupos culturais. • Reconhecer e celebrar a diversidade racial e cultural em arte em nossa so- ciedade, enquanto também se potencializa o orgulho pela herança cultu- ral em cada indivíduo. • Incluir em todos os aspectos do ensino da arte (produção, apreciação e contextualização) problematizações acerca de etnocentrismo, estereóti- pos culturais, preconceitos, discriminação e racismo. • Enfatizar o estudo de grupos particulares e/ou minoritários do ponto de vista do poder como mulheres, índios e negros. • Possibilitar a confrontação de problemas, tais como racismo, sexismo, ex- cepcionalidade física ou mental, participação democrática, paridade de poder. • Examinar a dinâmica de diferentes culturas. • Desenvolver a consciência acerca dos mecanismos de manutenção da cul- tura dentro de grupos sociais. • Incluir o estudo acerca da transmissão de valores. • Questionar a cultura dominante, latente ou manifesta, e todo tipo de opressão. • Destacar a relevância da informação para a flexibilização do gosto e do ju- ízo acerca de outras culturas. A proposta de ensino de arte para a valorização das diferenças culturais também está desta- cada nos PCN na parte de Temas Transversais sob a denominação “Pluralidade Cultural”. BOX 2 Pluralidade cultural O tema da pluralidade cultural tem relevância especial no ensino de arte, pois permite ao aluno lidar com a diversidade de modo positivo na arte e na vida. Na sala de aula interrelacio- nam-se indivíduos de diferentes culturas que podem ser identificados pela etnia, gênero, ida- de, localização geográfica, classe social, ocupação, educação, religião. O estudo pluriculturalista considera como os diversos grupos culturais encontram um lu- gar para arte em suas vidas, entendendo que tais grupos podem ter necessidades e conceitos de arte distintos. O sentido pluriculturalista amplia a discussão sobre a função da arte e o pa- pel do artista em diferentes culturas, assim como o papel de quem decide o que é arte e o que é arte de boa qualidade. Essas discussões podem contribuir para o desenvolvimento do respei- to e reconhecimento de diferenças. O pluriculturalismo no ensino de arte tem como objetivos: promover o entendimento de cruzamentos culturais pela identificação de similaridades, particularmente nos papéis e fun- ções da arte, dentro e entre grupos culturais; reconhecer e celebrar a diversidade étnica e cul- tural em arte e em nossa sociedade, enquanto também, se potencializa o orgulho pela heran- ça cultural em cada indivíduo, seja ela resultante de processos de erudição ou de vivências do âmbito popular, folclórico ou étnico; possibilitar problematizações acerca do etnocentrismo, estereótipos culturais, preconceitos, discriminação e racismo nas ações que demarcam os ei- xos da aprendizagem; enfatizar o estudo de grupos particulares e/ou minoritários (do ponto de vista do poder) como mulheres, índios e negros; possibilitar a confrontação de problemas, como racismo, sexismo, excepcionalidade física ou mental, participação democrática, paridade de poder; examinar a dinâmica de diferentes culturas e os processos de transmissão de valo- res; desenvolver a consciência acerca dos mecanismos de manutenção da cultura dentro de grupos sociais; questionar a cultura dominante, latente ou manifesta e todo tipo de opressão; destacar a relevância da informação para a flexibilização do gosto e do juízo acerca de outras culturas. Fonte: BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN / Arte. Brasília: MEC/SEF, 1998. p. 41-42. DiCA Conheça mais sobre Pluralidade Cultural e sobre os outros Temas Transversais, acessando o site do Ministério da Educação: www.portal- mec.gov.br AtiviDADE Faça uma pesqui- sa sobre diferentes grupos culturais. Aqui sugerimos que você conheça grupos indígenas brasileiros, mexicanos e america- nos, e perceba como a Arte está presente na vida de cada um desses grupos e suas diferen- ças culturais. Socialize suas investigações com seus colegas através do ambiente virtual de aprendizagem: Virtual- montes. 29 Pedagogia - Arte e Educação 2.4.2 Ensino das Artes e Culturas Visuais A proposta de ensino de arte a partir de estudos da cultura visual é relativamente nova (dé- cada de 1980) e parte de ideia do trabalho com diferentes imagens, vindas dos mais variados meios como: revistas, outdoors, cartazes, videogames, cinema, desenho animado, internet, ce- lular, televisão, grafite (FIG. 17), histórias em quadrinhos (HQ), ilustrações, etc. e não somente das imagens da arte historicamente estabelecidas. Neste campo, podemos considerar como grande teórico e defensor, o espanhol Fernando Hernandez, que publicou, entre outros livros: ‘Cultura Visual, mudança educativa e projeto de trabalho’ (2000) e ‘Catadores da Cultura Visual’ (2007), importantes obras para a compreensão do ensino da arte como estudos da cultura visual. Segundo Hernández: Trata-se de expor os estudantes não só ao conhecimento formal, conceitual e prático em relação às Artes, mas também à sua consideração como parte da cultura visual de diferentes povos e sociedades. Esse enfoque compreensivo trata de favorecer neles e nelas uma atitude reconstrutiva, ou seja, de auto- consciência de sua própria experiência em relação às obras, aos artefatos, aos temas ou aos problemas que trabalham na sala de aula (e fora dela). Para rea- lizá-lo, torna-se necessário o desenvolvimento de estratégias de compreensão [...] o núcleo deste enfoque são as diferentes manifestações da cultura visual não só dos objetos considerados canônicos, mas sim dos que se produzem no presente e aqueles que fazem parte do passado; os que se vinculam à própria cultura e com as de outros povos, mas ambas desde a dimensão de “universo simbólico”; os que estão nos museus e os que aparecem nos cartazes publici- tários e nos anúncios; nos videoclipes ou nas telas da Internet; os realizados pe- los docentes e pelos próprios alunos. Explorar o que implica a presença de um cânone, de uma norma, de determinados autores e obras seria uma fase desse processo de compreensão. (HERNANDEZ, 2000, p. 50). Em uma abordagem de ensino das artes visuais a partir dos estudos da cultura visual, Her- nandez (2000, p. 140) propõe alguns critérios para selecionar as representações ou imagens que merecem atenção a partir dessa perspectiva, devendo levar em conta as seguintes característi- cas: ◄ Figura 17: Banksy. Feeling. Grafite, 2007. Londres. Fonte: Disponível em: http://www.banksy.co.uk. Acesso em: 13 de jul. 2011. 30 UAB/Unimontes - 8º Período • Ser inquietante. • Estar relacionada com valores compartilhados em diferentes culturas. • Refletir as vozes da comunidade. • Estar aberta a múltiplas interpretações. • Referir-se às vidas das pessoas. • Expressar valores estéticos. • Fazer com que o espectador pense. • Não ser hermética. • Não ser apenas a expressão do narcisismo do artista. • Olhar para o futuro. • Não estar obcecada pela ideia de novidade. Muitas são as críticas em torno da proposta de ensino da arte como estudo da cultura visual. Alguns autores como Elliot Eisner e Imanol Aguirre consideram que, nesta perspectiva as artes vi- suais na educação deixariam de orientar-se no sentido de falar de arte para valorizar a educação estética e centrar-se na prática artística. Além do mais, a experiência em arte seria substituída por ‘falar’ sobre artes visuais e cultura popular. Outros consideram que, se uma das propostas da educação é maximizar o potencial cognitivo dos alunos, é preciso trabalhar com formas mais complexas de arte. 2.4.3 Ensino das Artes Visuais e as tecnologias contemporâneas As tecnologias contemporâneas têm avançadocada vez mais em todos os setores da socie- dade e a escola não poderia permanecer estática em um contexto social tão mutante. As esco- las têm sido instrumentalizadas especialmente com a informática: computadores e internet. E os profissionais da educação, o que têm feito para aproveitamento dessas tecnologias em favor da Educação? No que diz respeito às Artes Visuais, temos visto um mundo com a presença cada vez maior das imagens visuais e sua supervalorização. Nesse sentido, podemos perceber ainda as contri- buições das tecnologias para a criação e produção de obras de arte em suportes cada vez menos tradicionais (FIG. 18 e 19). GLOSSÁRiO Herméticas: diz respei- to àquelas imagens que possuem um sentido, significado ou enten- dimento restrito ou fechado a uma cultura ou grupo social. AtiviDADE Realize uma pesqui- sa, observando seu cotidiano e perceba as imagens que estão ao seu redor, refletindo sobre as influências que elas exercem em sua vida. Selecione al- gumas dessas imagens observando os critérios de seleção destacados por Hernandez e relate como você poderia uti- lizar cada uma dessas imagens em uma aula de arte/artes visuais. ◄ Figura 18: KAC, Eduardo. GFP Bunny, 2000. Fonte: http://www.ekac.org/ Figura 19: KAC, Eduardo. A História Natural do Enigma, 2009. Fonte: http://www.ekac. org/ ► 31 Pedagogia - Arte e Educação Na escola também vemos nossos alunos consumindo imagens de toda natureza e advindos dos mais variados meios: celular, câmeras digitais, internet, etc. O professor no ensino das Artes Visuais deve proporcionar ao seu aluno a exploração, vivência e experimentação dessas tecnolo- gias com atividades diversas, utilizando os diversos meios para construção dos conhecimentos pertinentes às Artes Visuais. O uso das tecnologias contemporâneas aliadas à educação e à Arte-Educação devem pro- porcionar a alunos e professores o pensamento artístico. Assim como nos meios tradicionais, o ensino da arte nesta perspectiva deve contribuir para o conhecer, refletir e produzir arte. Quando pensamos nesta possibilidade pode ser que venha logo a ideia de trabalhos utili- zando o computador e a internet, mas não só estes proporcionam um trabalho com tecnologias na escola; podem-se utilizar, além destes, o celular, a máquina fotográfica (digital ou tradicio- nal), filmadoras, máquinas copiadoras. O uso de equipamentos que possam gerar imagem, bem como criar novas imagens e a manipulação de imagens existentes, colaboram para que o aluno elabore um pensamento artístico consistente. A Arte-educadora mineira, Drª. Lúcia Gouvêa Pimentel, é uma grande defensora do uso das tecnologias contemporâneas na escola aliada ao ensino de arte. Neste sentido afirma que: O uso de novas tecnologias possibilita a/@s alun@s desenvolver sua capacida- de de pensar e fazer Arte contemporaneamente, representando um importan- te componente na vida d@s alun@s e professor@s, na medida em que abre o leque de possibilidades para seu conhecimento e expressão. (PIMENTEL, 2002, p.120). No uso das tecnologias contemporâneas na escola, muitas vezes, não se trata de desinte- resse do aluno ou falta de acesso aos instrumentos tecnológicos para realização de um trabalho aliado ao ensino de arte, “é a resistência do professor que impede esse acesso; outras, é o contex- to discriminatório que o faz” (PIMENTEL, 2002, p. 116). Referências BARBOSA, Ana Mae. tópicos Utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1998. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares nacionais – PCn / Arte. Brasília: MEC/SEF, 1998. HERNANDEZ, Fernando. Cultura Visual, Mudança Educativa e Projeto de Trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2000. ______. Catadores da cultura visual: proposta para uma nova narrativa educacional. Porto Alegre: Mediação, 2007. PIMENTEL, Lúcia Gouvêa. Tecnologias contemporâneas no ensino da arte. In: BARBOSA, Ana Mae (Org.). inquietações e mudanças no ensino da arte. São Paulo: Editora Cortez, 2002. p. 113-121. RIZZI. Maria Christina de Souza Lima. Reflexões sobre a Abordagem Triangular no Ensino da Arte. In: BARBOSA, Ana Mae (Org.). Ensino da arte: memória e história. São Paulo: Perspectiva, 2008. SALGADO, Sebastião. terra. São Paulo, Companhia das Letras, 1997. 33 Pedagogia - Arte e Educação UniDADE 3 O teatro e a dança: emoção e movimento Ricardo Ribeiro Malveira 3.1 Introdução Nesta unidade termos em discussão um breve diálogo com o ensino do Teatro e o ensino da Dança, linguagens da Arte que também fazem parte dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN / Arte), e que compõem o universo das Artes Cênicas ou Artes do Espetáculo. Nas unidades anteriores você pôde perceber as discussões sobre o ensino da Arte no Brasil, as particularidades do ensino das Artes Visuais. Inicialmente, sobre o ensino do Teatro e o ensino da Dança, é importante perceber que essas linguagens seguem percursos diferentes e outros rit- mos dentro do universo artístico e educacional, tendo em vista suas particularidades, suas estru- turas, dinâmicas e mecanismos, além das relações dessas Artes com os contextos da experiência humana. Na FIG. 20 temos o espetáculo “Pedro e o Lobo” (1993), do Grupo Giramundo de Teatro de Bonecos, em um trabalho com a técnica de marionetes. O Grupo Giramundo vem contribuindo para a divulgação do Teatro de Bonecos e traz neste espetáculo uma estética ligada a uma visua- lidade simbólica. Percebemos na imagem que os atores/manipuladores estão a mostra, o cenário é desenhado e os personagens são marionetes. Ao olharmos atentamente para esta imagem so- mos forçados a dialogar com essa organização artística; somos levados a pensar na diversidade de técnicas, conceitos, habilidades e estilos presentes no fazer teatral. ◄ Figura 20: Espetáculo Pedro e o Lobo do Grupo Giramundo de Teatro de Bonecos. Fonte: Giramundo Teatro de Bonecos: Disponível em: http://www.giramundo. org/imprensa/index.htm. Acesso em: 28 jul. 2011. PARA SAbER MAiS O Teatro de Formas Animadas, isto é, o teatro com boneco, sombra e máscara, é uma possibilidade de trabalho com o teatro na escola. A criação, a confecção, a aprecia- ção e a utilização de bonecos, sombras e máscaras, podem de- senvolver o trabalho de grupo, a fluência verbal e primeiras noções de jogo de cena. O livro “Teatro de Formas Ani- madas” de Ana Maria Amaral, EDUSP. 2000, nos fala sobre o teatro com o boneco, o teatro de sombra e a máscara. 34 UAB/Unimontes - 8º Período Na perspectiva de Ivaldo Bertazzo (2011), “todos somos cidadãos dançantes”. Na FIG. 21 te- mos um movimento do espetáculo “Mar de Gente” (2007), do coreógrafo Ivaldo Bertazzo. Na imagem vemos a beleza, a singularidade e a expressão impressa no encontro de corpos em mo- vimentos cotidianos. Somos levados a pensar em quem está dançando, quais os significados e as técnicas que levaram a esse trabalho. Podemos perceber inicialmente através da imagem, que essa dança propõe uma estética com movimentos diferentes dos padrões das danças clássicas ou de dan- ças que conhecemos. Ao propor uma aprendizagem com a dança, estamos diante de conceitos como o estudo do movimento, bem como, as vivências com atividades de consciência corporal e expressão corporal, além de técnicas específicas de estilos de danças. Essas ferramentas estão presentes no universo de quem faz e aprecia essa arte. A partir de um amplo olhar e de experi- ências com as possibilidades de dançar, o educando tem a oportunidade de conhecer seu corpo, ampliando sua visão de mundo, sua capacidade de comunicação, e consequentemente suas pos- sibilidades e limites de movimento individual e coletivo. Por meio dos exemplos das figuras anteriores com os trabalhos do Grupo Giramundo e de Ivaldo
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