Buscar

Resumo Teoria dos sistemas sociais Luhmann

Prévia do material em texto

Desigualdades sociais e teoria dos sistemas sociais: 
 
Introdução: 
Inicialmente a teoria dos sistemas sociais de Luhmann não tinha foco nas 
questões de desigualdade e exclusão social tendo maior foco na questão da inclusão. 
Para o autor em algum momento todos chegariam em uma completa inclusão, mas 
nos anos noventa houve uma reorientação do autor. Para tentar resolver esta questão, 
Luhmann utiliza os conceitos de inclusão, exclusão e diferenciação funcional. Mesmo 
com esta nova percepção de outras realidades e com o aumento da relevância destes 
conceitos, ainda há limitações em sua análise. A desigualdade para o Luhmann seria 
funcionalmente ilógica, as desigualdades não deveriam nem ser consequências e nem 
constituintes desta forma de diferenciação. 
Desigualdades sociais e teoria dos sistemas sociais: 
Luhmann é um famoso representante da sociologia alemã tendo aprendido 
muito com Talcott Parsons e com influência de conceitos de áreas como a biologia. 
Sua teoria é considerada apta para a compreensão de atuais sociedades complexas 
Ele interpreta a sociedade como um sistema que busca homeostase e diferencia 
sistema e meio. Um dos conceitos importantes dentro desta teoria é o de autopoiese, 
que significa que é um sistema que cria a si mesmo, ou seja, um sistema fechado. As 
operações básicas dos sistemas sociais são comunicações e uma das características 
deste é que nenhum atua dentro das suas fronteiras. A principal função destes 
sistemas sociais é reduzir a complexidade do mundo de forma que ele possa ser 
compreendido. (Mathis, 2008) Os sistemas tem sua identidade através de códigos 
binários. Um outro aspecto importante da teoria é a comunicação, e se supõe que os 
comunicantes são diferentes. A comunicação e a possibilidade te usá-la é crucial, 
assim como os símbolos e sentidos. 
O autor constata que as análises da sociedade acontecem dentro da própria 
sociedade. Uma pessoa faz parte de vários sistemas parciais na sociedade moderna. 
Na economia, política, ciência, direito e religião entre outras, os atores sociais não se 
integram completamente a só uma dessas partes, eles se juntam a vários grupos ao 
mesmo tempo. Seguindo ainda a influência da biologia e suas metáforas, esta divisão 
diversifica suas partes, como na divisão celular. A socialização não transfere de um 
modelo ao outro. A reprodução autopoiética faz com que cada modelo produza seu 
sentido. A socialização é semelhante à evolução por amplas pressuporem autopoiese 
e reprodução do plano estrutural. (Luhmann, 1998) 
A complexidade existente internamente no sistema usa critérios de relevância 
onde apenas os dados mais importantes são selecionados, conforme isso, o critério 
regulador dos sistemas é o sentido, que define os limites do sistema. Esta seleção é 
apoiada por normas, metas e valores. A teoria tem também influência da teoria 
evolucionista e isso se mostra nesse aspecto. É importante lembrar que essa elocução 
não segue para uma mesma direção e finalidade e nem dispõe de um órgão central. 
Há mecanismos regulativos com um sentido dentro dos sistemas. Os sistemas 
constituem sentido internamente e são constituídos desses sentidos. 
A evolução dos sistemas autopoiéticos ocorre em consequência a operações 
internas. O meio perturba o sistema apenas conforme as estruturas notam essa 
perturbação e se modificam internamente. Existem também subsistemas, onde as 
formas de diferenciação deles significam "estados de evolução", ou seja, há restritas 
possibilidades de desenvolvimento em cada forma de diferenciação do sistema. 
(Mathis, 2008) Estas diferenciações ocorrem pela diferença centro-periferia, pela 
estratificação e pela diferenciação funcional, onde os subsistemas ficam responsáveis 
pela inclusão na sociedade partindo do princípio que todos podem participar de cada 
sistema funcional. A sociedade é formada nessa perspectiva não por indivíduos, mas 
por circuitos comunicativos com diferentes funções. 
Para o autor, a segmentação diferencia a sociedade em subsistemas iguais e 
a igualdade se refere a princípios de "formação sistêmica autoseletiva". A 
desigualdade vem das condições da periferia e é decisiva na diferenciação evolutiva 
das sociedades. O que divide a sociedade em partes desiguais é a estratificação. A 
estratificação seria uma divisão desigual de poder e riqueza e das possibilidades de 
comunicação. É resultado do aumento da sociedade tanto em tamanho quanto em 
complexidade. A expansão exclui a interação pessoal dos membros da sociedade. 
Alega que as funções devem ser desiguais, mas o acesso às funções deve ser igual. 
A desigualdade ocorre dentro de um subsistema e coloca certa esperança na inclusão 
e nos direitos civis, como podemos ver nos seguintes trechos (1998) 
 Una sociedad funcionalmente diferenciada, como resultado de esto, 
se convertirá, o pretenderá ser, una sociedad de iguales, en la medida 
en que es el conjunto agregado de entornos para sus subsistemas 
funcionales. Esto permite entender por qué la creciente diferenciación 
funcional —incluyendo la diferenciación de la economía, la educación 
y la ciencia-— conduce a poner un renovado énfasis sobre el ideal 
normativo de «igualdad» en el siglo xvm. (p.55) 
 
 Para esta disposición de la inclusión, la sociedad moderna ha 
desarrollado términos semánticos correlativos. Así, desde el siglo xvm 
existen los derechos civiles —cuando no incluso humanos— de la 
libertad y de la igualdad, con los que se da cuenta de la imprevisibilidad 
de las inclusiones y de sus consecuencias. Con la igualdad de los 
presupuestos para contactar con los específicos sistemas funcionales 
y la libertad de decisión con respecto a dicha toma de contacto, no se 
alude a otra cosa sino a que desigualdades o condicionamientos del 
uso de la libertad sólo pueden justificarse si parten del respectivo 
sistema funcional mismo.(P.126) 
Muitas vezes as ideias de Luhmann são consideradas conservadoras e 
eurocentristas apesar da sua tentativa de incorporar a periferia à sua teoria de 
sociedade mundial. Para isto, o autor introduz os conceitos de inclusão, exclusão e 
diferenciação funcional. A sociedade funcionalmente diferenciada produz e tolera as 
extremas desigualdades econômicas. Isto é visto como alto temporal e que se pode 
modificar. Uma grande riqueza não é uma riqueza para sempre. 
Esta diferenciação além de pressupor igualdade, também cria desigualdade. 
Pressupõe igualdade por poder discriminar apenas de acordo com funções 
específicas e porque opera de modo mais eficaz se todos foram incluídos com base 
numa mesma oportunidade em cada subsistema funcional. Cria desigualdade porque 
dentro dos subsistemas funcionais a tendência é que as diferenças aumentem, até 
mesmo em oportunidades educacionais. (Araújo; Waizbort, 1999) 
A inclusão se baseia no convívio social, que cria elos entre o indivíduo da 
sociedade. Significa levar em consideração as pessoas dentro do âmbito da 
comunicação. A exclusão seria não considerar estas pessoas e considerá-las como 
apenas corpos. As desigualdades não deveriam ser por critérios "a-funcionais" como 
classes sociais, estilo de vida, aspecto de gênero, diferenças éticas, regionais etc. A 
ideia seria que os sistemas se orientassem à inclusão. 
A desigualdade é um grave problema na teoria dos sistemas sociais e 
Luhmann não nega sua existência, mas argumenta pela incapacidade de que esses 
fatores se tornem funcionais. (Coutinho, 2012) Sendo esta compreensão radicalmente 
binária, são mutuamente excludentes. Não há a ideia de algo gradual, sendo assim, 
as pessoas não poderiam se excluir da comunicação, assim não podendo também ser 
realmente excluídas de um sistema. Os motivos de inclusão ou exclusão social variam 
de acordo com contextos culturais e históricos. Como instrumentos de mudança social 
estariam a política, economiae direito, entre outros, assim também entrando muito 
num debate a respeito do Estado de Bem Estar Social. 
É ressaltado em alguns textos também, como no de Coutinho (2012) a 
questão da internet, que diminuiu distância e mudou nosso acesso à comunicação, 
conhecimentos e informações, mudando também a forma de interação entre as 
pessoas. Muitas vezes ocorre um isolamento dos indivíduos e deixando o contato 
pessoal mais raro, e esta individualização prejudicaria o desenvolvimento da 
sociedade no geral e da possibilidade dessa transformação social. 
Encontramos também uma crítica a essa questão no livro de Jessé Sousa "A 
Tolice da Inteligência Brasileira" onde o autor diz que mesmo Luhmann tendo 
percebido e tentado enfrentar esta questão da desigualdade e da questão 
centro/periferia, ainda há falhas. Podemos observar essa crítica na seguinte citação 
(2015) 
 
 Para Luhmann, as sociedades modernas regulam de modo muito singular 
a diferenciação entre inclusão/exclusão, com consequências 
dramáticas para a estabilidade e as possibilidades de 
desenvolvimento desse tipo de sociedade. A especificidade da regra 
de inclusão/exclusão moderna é que ela seria decidida pelos sistemas 
funcionais já diferenciados entre si. A regra de igualdade e dos direitos 
humanos implica apenas isso: que as desigualdades só podem ser 
produzidas dentro dos respectivos sistemas diferenciados. Uma 
importante consequência dessa regra é a impossibilidade de legitimar 
desigualdades permanentes que abrangem todos os sistemas 
funcionais. O problema central para a teoria luhmanniana é que a 
exclusão quase total de parcelas significativas da população (1/3 no 
caso do Brasil) é precisamente o que acontece nos assim chamados 
países em desenvolvimento ou periféricos. (p.116) 
Essa explicação considera sociedades como atrasadas/avançadas, e Souza 
usa o exemplo do Brasil, onde há uma forte desigualdade com inegável dinamismo 
social e econômico e a desigualdade, pobreza e marginalização atinge parte grande 
da população, assim não é uma escolha do indivíduo se excluir como algumas vezes 
pressupõe a teoria de Luhmann. Mostra também um caráter mais "definitivo" ou 
duradouro dessas condições. Há muito disso em comum com várias teorias que 
tentaram explicar esta condição diferenciada da América Latina, onde esta exclusão 
atinge um número maior e considerável de pessoas. Souza considera um desafio 
compreender sociedades ditas como emergentes e a influência internacional, que 
afetam esta imagem de desigualdades permanentes. 
 Há uma idealização destas sociedades ditas como avançadas, como lugar 
justo e de superação de privilégios permanentes. Mesmo tentando fugir de ser uma 
teoria que não levasse em consideração a diferenciação entre os locais, apesar de se 
pretender uma teoria universal, ainda se há muito a se descobrir a respeito. É 
necessário que as pessoas além de estarem incluídas possam ter seus direitos 
garantidos. 
 
 
Referências 
Araújo, Cícero; Waizbort, Leopoldo. (1999) Sistema e evolução na teoria de Luhmann. In Lua 
Nova: Revista de cultura e Política, São Paulo, nº47 
Bachur, João Paulo.(2012) Inclusão e exclusão na teoria dos sistemas sociais: um balanço 
crítico. BIB, São Paulo, nº 73, 1º semestre de 2012, p. 55-83. 
COUTINHO, Cristiane de Cássia. (2012) A inclusão/exclusão social na teoria dos sistemas 
sociais autopoiéticos de Niklas Luhmann. Disponível em: 
http://www.fdsm.edu.br/site/graduacao/anais2012/Cristiane.pdf. Acesso em: 02 jul., 2017. 
LUHMANN, Niklas (1998(. Complejidad y modernidad: De launidad a La diferencia.Madrid: 
Editorial Trotta 
 
http://www.fdsm.edu.br/site/graduacao/anais2012/Cristiane.pdf
MATHIS, A. (2008) A sociedade na teoria dos sistemas de Niklas Luhman. Disponível em: 
http://www.infoamerica.org/documentos_pdf/luhmann_05.pdf. Acesso em: 02 jul., 2017. 
SOUZA, Jessé (2015). A tolice da inteligência brasileira: ou como o país se deixa manipular 
pela elite. São Paulo: LeYa.

Continue navegando