Buscar

Os Gregos Acreditavam em Seus Mitos?

Prévia do material em texto

Trabalho de História Antiga 
 
 
Sumaré Centro Universitário 
 
 
Katia de Souza Pedrosa da Silva RA 2013839 
 
1º Semestre de História 
 
 
Os Gregos Acreditavam em seus Mitos? 
 
“Quando a verdade histórica era tradição e vulgata” 
“O mito como conversa fiada” 
VEYNE, Paul. Os Gregos Acreditavam em seus Mitos? São Paulo: UNESP SP, 2013 
 
 
As Raízes Clássicas da Historiografia Moderna 
 
“A tradição herodoteana e tucidideana” 
“Tácito e a tradição taciteana” 
MOMIGLIANO, Arnaldo. As Raízes Clássicas da Historiografia Moderna. Bauru: 
EDUSC, 2004 
 
 
 
04/2020 
 
 
Os Gregos Acreditavam em Seus Mitos? 
 
“Quando a verdade histórica era tradição e vulgata?” 
Paul Veyne historiador e arqueólogo francês, especialista em história da antiguidade 
romana, é bastante claro em seu livro quando fala sobre o mito. O mito foi inventado 
assim como inventam a história, o mito é uma verdade para quem nela acredita. 
Paul Veyne faz em seu livro uma comparação entre historiador e repórter. 
Um bom historiador, não se baseia cegamente em todas as tradições que lhe 
narraram, o historiador deve verificar as informações, a veracidade dos fatos, assim 
como fazem os repórteres. 
Os historiadores da modernidade além de interpretar os fatos, fornecem aos leitores 
os meios de verificar a informação e de poder dar a eles o direito de uma nova 
interpretação; já os historiadores antigos, verificavam por sua conta deixando o leitor 
sem essa preocupação. Sabiam diferenciar as fontes primárias (testemunho visual 
ou tradição) e as fontes de segunda mão, guardando para si os detalhes. Assim 
como os leitores não são historiadores, os leitores de jornais não são jornalistas. 
Ao falarmos sobre mito podemos citar uma fala de “Pausânias”, onde o mesmo 
escreve assim: “No início de minhas pesquisas, só vi nos mitos tola credulidade; mas 
agora que minhas pesquisas se referem à Arcádia, tornei-me mais prudente”. 
Isso nos faz acreditar que Pausânias não acreditava em nenhuma lenda ou mito que 
ele mesmo descreveu em seu livro, achava uma estúpida ignorância, porém quando 
pesquisou sobre Arcádia e seu mito, (onde escritores e pintores, deslumbrados com 
o mito de Arcádia, imaginaram feitos gloriosos e episódios míticos, descobriram que 
essa região não era povoada por heróis e ninfas, ou seja, espíritos naturais 
femininos, mas, mesmo assim preferiram romantizar a Grécia ignorando suas 
realidades: problemas climáticos e ambientais), contudo Pausânias passou a ser 
mais prudente em suas avaliações. 
Um bom historiador apenas precisa relatar os fatos, sem a necessidade de provar, 
pois os fatos existem e comprovam por si só. 
 
“O Mito como conversa fiada” 
Segundo Veyne, os gregos, estes filhos da razão, este povo de filósofos conviviam 
com a credulidade ingênua popular, que a cultura não desvalorizava. Cada indivíduo 
acreditava e convivia com sua crença, pensava coisas a respeito do mito e assim 
cada um usava o mito para si mesmo de forma diferente, pois para cada um ela 
fazia um sentido e tinha sua importância. 
Neste caso poderíamos explicar a diferença entre mitos e crenças. Os mitos eram 
para repetir o que se acreditava sobre os deuses e heróis. Era reconhecido como 
uma forma de fazer sentido para quem neles acreditavam, era como uma história 
criada por uma sociedade e sem fins racionais e verídicos, não é verdadeiro e nem 
falso, entretanto, faz sentido para o indivíduo e sua comunidade. Já a crença trata-
se de costumes e tradições de uma sociedade que é passada de geração em 
geração. 
Durante muito tempo acreditavam-se nas obras da imaginação, nas religiões, em 
Madame Bovary, em Einstein e na origem troiana dos francos, porém, para algumas 
pessoas essa obras são consideradas ficções. 
[...] não é menos banal acreditarmos ao mesmo tempo em verdades diferentes sobre 
o mesmo objeto; as crianças sabem ao mesmo tempo em que os brinquedos são 
trazidos por Papai Noel e dados pelos seus pais. Na criança, há várias realidades 
heterogêneas: o jogo, o real observável, o mundo das coisas ouvidas ou narradas, 
etc.[...] 
Portanto, as crianças têm suas realidades, suas imaginações e acreditam em suas 
histórias, sejam elas verdadeiras ou não. 
Então o que é mito? É história alterada? Uma alegoria? Na verdade o mito é uma 
forma de se referir às crenças de diversas comunidades, acontecimentos históricos 
podem se tornar lendas, o mito na sua maioria das vezes refere-se a relatos de 
civilizações antigas, como por exemplo: mitologia grega, mitologia romana, etc. 
A verdade não é universal, cada ser é um pensante e, todas as mentes têm 
contradições internas. De fato é difícil chegar a algo verdadeiro ou real na filosofia. 
As Raízes Clássicas da Historiografia Moderna 
 
A Tradição Herodoteana E Tucidideana 
Segundo o texto, é de comum acordo entre os teólogos, que os gregos não tinham 
mente histórica por pensarem em termos de padrões regulares, no ciclo dos 
acontecimentos humanos, atemporal e sem o viés cristão, ou seja, não partiam dos 
conceitos e visão determinados do cristianismo, além do já conhecido pessimismo, 
visto em Tácito, que os tornavam incapazes de compreenderem a História. 
Este conceito se baseia mais na análise nos escritos de Platão, Estoico, Zenão e 
Pitágoras do que de Heródoto, Tucídides ou Políbio, sendo este último de elevada 
importância para os protagonistas aqui discutidos. 
O ponto principal se alicerça, na verdade, nos tipos de história que escreviam, onde 
destacam-se a história política e a história da civilização. 
As pessoas escrevem aquilo que auto determinam em grau de importância, seja 
para registrar fatos cronologicamente, mesmo sem o crivo da interpretação ou sim, e 
para explicar mudanças ou padrões recorrentes. 
O que é original dos gregos é a análise crítica do desenvolvimento dos métodos 
críticos de um registro dos acontecimentos. 
Em dado momento da civilização grega houve uma revolução onde foi estudado 
fósseis encontrados, porém sem estudo específico da geografia da terra e a 
genealogia. Quem seguiu por esta linha foi Xenófanes, Tucídides e Hecateu. 
Mas falemos de Heródoto que seguiu as idéias de Hecateu, porém com o tempo 
enveredou-se para o registro das tradições, explorando o desconhecido e o já 
esquecido, separando suas investigações entre relatos do que via e do que ouvia, 
descrevendo suas descobertas e não mais como Hecateu, julgando-as. Para isso 
usava um método para verificar a veracidade de tais fatos cruzando informações de 
testemunhas. 
Seu avanço sobre Hecateu se resume, nesse momento, em seu dever de registrar e 
não de criticar e a separação do que via do que ouvia. 
Porém seu caminho não foi fácil, pois com ele amplia a investigação histórica e a 
cronologia torna-se um problema. Um grande problema enfrentado por ele foi a 
acessibilidade aos documentos de registro escrito, ou por não ter amigos que o 
favorecessem ou por esses registros não existirem e também pela barreira no idioma 
ou escrita que muitas vezes necessitavam de interpretes. 
Por isso é muito claro seus relatos se basearem em evidências orais e não na 
documentação escrita. 
 
Tácito e a Tradição Taciteana* 
Podemos dizer que Tácito tinha seus limites, contudo é certo dizer que ele 
percebera a desmoralização que acompanhava o despotismo. 
Se no século XIX foi motivo de grande discussão entre estudiosos alemães e 
germânicos, principalmente após as fases Mussolini, Hitler e Stalin, teve grande 
contribuição para entendermos melhor a transição da República Romana para o 
principado, transformando-o em mestre do despotismo. 
Contudo há de se dizer que seu olhar sobre homens e mulheres era como indivíduo, 
estudando seus impulsos primitivos e violentos, diferente de Platão que contemplava 
o homem como deveria ser. 
Não foi um historiador que acrescentou muito em informações sobre a política 
administrativa provincial.Mas nem sempre foi assim... 
Por três séculos as opiniões sobre seus escritos oscilaram e até divergiram. 
Por D Alembert, Tácito era um inimigo dos príncipes obscurantistas e um 
republicano a ser usado contra as tiranias de todos os tipos. 
Voltaire não via utilidade, pois sua curiosidade se voltava para os direitos do senado, 
as forças do império, forma de governo, costumes e hábitos, coisas que Tácito não 
se ateve. 
Bacon o via como inimigo do absolutismo monárquico, pois em sua época, na 
Inglaterra, havia uma tendência a valorizar os aspectos anti tirânicos de Tácito. 
Quem explicou bem esta polaridade de opiniões foi Guicciardini ao escrever Tácito 
ensina os tiranos a maneira de ser tiranos e aos seus súditos a como se comporta, 
deixando claro como seus escritos serviam tanto aos amigos como aos inimigos. 
Tácito não pretendia encorajar as revoluções, mas deixava grandes pistas para 
quem se preocupasse em ver os efeitos do despotismo. 
Sua autêntica ambivalência se dá em conflito insolúvel, pois se existia no Império 
Romano coisas que aprovava, não conseguindo criticá-los, desgostavam-se do 
despotismo e por não conseguir criticá-lo como um todo, o aceitava como imutável 
e, por conseguinte sendo imutável, não via o império sem tirania e nem sequer uma 
alternativa. 
É aqui que foi considerado um pessimista. 
Se em HISTORIA tinha esperança de mudanças no império, em ANNALES, esta se 
desvaneceu ao admitir que a psicologia do tirano era uma manifestação da 
ganância, luxuria e vaidade. 
Paradoxal! É o seu conservadorismo que o leva ao pessimismo. Seu estilo de escrita 
é muito pessoal levando a quem o lê uma imagem mental da própria visão de Tácito. 
Tácito não tinha a pretensão de concorrer com filósofos. Ele tentou biografia, 
etnologia, a discussão histórica sobre o declínio da eloqüência e narrativa analítica. 
Sua obra AGRICOLA é uma junção da biografia e etnologia; GERMÂNIA, etnologia 
e mensagem política; ORATORIBUS, uma visão sobre as reações subjetivas de 
pessoas ao regime político ao tentar entender o declínio da eloqüência; HISTORIA e 
mostra a inversão do valor entre líderes e multidão; ANNALES, o antagonismo, pois 
foca no imperador e sua mulher, generais e filósofos.

Continue navegando

Outros materiais