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A educação básica e a legislação educacional APRESENTAÇÃO A relação entre a educação básica e a legislação educacional na trajetória educacional está articulada a momentos políticos, econômicos e sociais. Passa por momentos de lutas de classes e por diferentes governos, que, de acordo com as ações legislativas e organizacionais no campo da educação, trouxeram consequências que se refletem até hoje em nosso desenvolvimento como nação. Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá analisar questões envolvendo as naturezas de nossa legislação e seus meios de organização no que tange o campo educacional, identificando as competências e responsabilidades de diferentes esferas governamentais e conhecendo as principais normas que envolvem a organização da educação básica. Por fim, identificará as principais políticas asseguradas por lei que envolvem a educação básica. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar a organização da educação básica na legislação educacional.• Descrever as principais normas da educação básica na legislação educacional brasileira.• Explicar as principais políticas voltadas à educação básica, garantidas pela lei.• DESAFIO Na Constituinte de 1988, novos componentes legislativos educacionais foram se articulando para acompanhar as novas tendências econômicas, políticas e sociais, sendo implementadas políticas educacionais por meio de programas e ações formuladas para o enfrentamento de problemas educacionais na educação básica nacional. Como professor e membro do Conselho de Escola, você foi informado que alguns programas e ações educacionais foram disponibilizados para sua escola e, a diretora solicitou que todos os membros do Conselho deveriam analisar os programas e ações disponíveis para que pudessem selecionar aquele(s) que atendesse(m) às necessidades da escola. Os Programas e ações apresentados foram: 1. Novo Mais Educação 2. Avaliações da Aprendizagem 3. Programa Nacional do Material e do Livro Didático (PNLD) Como professor membro do Conselho de Escola, indique e comente as principais especificidades e finalidades de um dos programas governamentais que tenha conexão com a terceira meta disposta no art. 214: III - melhoria da qualidade do ensino. INFOGRÁFICO A Lei de Diretrizes e Bases 9394/96 e o Plano Nacional de Educação Lei 13.005, fazem parte da nossa legislação que se articula com as políticas educacionais. Neste Infográfico você vai conhecer as principais especificidades entre os documentos educacionais LDB 9394/96 e o PNE, promulgado em 2014. CONTEÚDO DO LIVRO O direito à educação está assegurado pela legislação. Assim, é importante reconhecer documentos normativos formulados a partir das bases legislativas e que acompanham as transformações sociais, a fim de propor novas políticas asseguradas por lei para garantir o direito de acesso à educação para todos. Na obra Políticas públicas e educação, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, leia o capítulo A educação básica e a legislação educacional, em que você irá identificar diferentes aspectos relacionados à educação básica e à legislação educacional que compreende todos os processos de ensino-aprendizagem. POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO Caroline Costa Nunes Lima A educação básica e a legislação educacional Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar a organização da educação básica na legislação educacional. Descrever as principais normas da educação básica na legislação educacional brasileira. Explicar as principais políticas voltadas à educação básica garantidas pela lei. Introdução Neste capítulo, você vai conhecer e analisar conceitos envolvendo a natureza da nossa legislação educacional e os modos como se organiza a nossa educação básica. A seguir, identificará as principais normas re- lacionadas à educação básica na legislação educacional brasileira. Por fim, conhecerá as principais políticas asseguradas por lei voltadas para a educação básica. A organização da educação básica na legislação educacional Ao longo da nossa história educacional, passamos por diferentes fases, que apresentavam formas variadas de organização do sistema de ensino. Até o fi nal do século XX, tínhamos como base a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (BRASIL, 1971), promulgada em um período conturbado de ditadura no país. A partir da década de 1980, diversos movimentos que buscavam a demo- cratização do ensino se mobilizaram para que uma nova Constituição desse conta de assegurar a todos os cidadãos o direito à educação de qualidade. Manifestações e conferências — como a Conferência Brasileira de Educação, que foi realizada em Goiânia, em 1986 — deram origem a um documento intitulado Carta de Goiânia, a qual apresentava o seguinte texto introdutório (CARTA..., 1986, p. 1239): Atendendo ao convite das entidades organizadoras — ANDE (Associação Nacional de Educação), ANPED (Associação Nacional de Pesquisa e Pós- -Graduação em Educação) e CEDES (Centro de Estudos Educação e Socie- dade) — seis mil participantes, vindos de todos os estados do país, debateram temas da problemática educacional brasileira, tendo em vista a indicação de propostas para a nova Carta Constitucional. Os profissionais da educação declaram-se cientes de suas responsabilidades na construção de uma Nação democrática, onde os cidadãos possam exercer plenamente seus direitos, sem discriminação de qualquer espécie. Então, por isso, empenhamos em debater, analisar e fazer denúncias dos problemas e impasses da educação brasileira e, ao mesmo tempo, em colocar sua capacidade profissional e sua vontade política para a superação dos obstáculos que impedem a universalização do ensino público de qualidade para todo o povo brasileiro. A partir da análise que indica as reivindicações da conferência que se desdobrou nessa carta, observamos o quanto essa mobilização de educadores de todo o país teve influência na organização da Constituição Federal promul- gada em 1988, que oportunizou a renovação do nosso sistema educacional. O direito à educação está assegurado em nossa legislação. Além do que dispõe a Constituição Federal em relação às responsabilidades que União, Estados, Distrito Federal e Municípios têm, outros documentos partem desses princípios para organizar o sistema educacional, como a nova Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394/96) e o Plano Nacional de Educação (PNE, Lei nº 13.005, de 25 junho de 2014). A que remete o termo educação, que abrange tantos aspectos? Podemos pensar que abarca os processos pelos quais os indivíduos passam para a aqui- sição de conhecimentos das mais variadas naturezas, como artísticos, gerais ou científicos. Também podemos remeter esse termo ao desenvolvimento de habilidades e competências que necessitamos ao longo de nossas vidas. Além da educação não formal, também há a que é recebida nos espaços das instituições organizadas para cada etapa, nível ou modalidade de ensino. Assim, aprendemos a todo momento, seja por meio das nossas experiências, pelo contato com o outro, por leituras de mundo, pelas informações recebidas em diferentes meios (jornais, televisão, teatro, revistas, livros), que podem ou não se tornar conhecimento, dependendo de como vamos apreendê-los. No Brasil o termo legislação educacional se refere tanto aos “[...] processos de formação oferecidos por instituições formais e não formais quanto para A educação básica e a legislação educacional2 expressar uma ideia relativa ao ato de legislar em matéria da educação ou ainda para designar o conjunto de leis que objetivam disciplinar a matéria educacional” (LIMA et al., 2016, p. 2). Assim, a legislação educacional pode representar aspectos da matéria educacional, da carreira profissional docente e da regulamentação de políticas educacionais. Emum país de dimensões continentais, marcado por lutas de classes, desigualdades, conflitos políticos e diversidades culturais tão vastas, estabelecer documentos normativos envolve uma complexidade desafiadora. De acordo com Lima et al. (2016, p. 3): A legislação educacional é atualmente a única forma de Direito Educacional que conhecemos e vivenciamos na estrutura e funcionamento da educação brasileira, tendo como referência o processo legislativo definido no artigo 59 da Constituição Federal que compreende: emendas à Constituição; leis complementares; leis ordinárias; leis delegadas; medidas provisórias; decretos legislativos; resoluções. Além disso, temos as portarias. No que se refere à natureza legislativa em nosso país, observamos que existem dois tipos: o regulador e o regulamentador. O primeiro diz respeito à “[...] instituição de regras e princípios sobre o modo por que as coisas se devam conduzir, sem se restringir somente à forma” (SILVA, 1990, p. 77). Como exemplo, podemos citar as leis federais, estaduais, municipais, além das extraordinárias e complementares. Os documentos normativos voltados para a educação que têm como base a Constituição especificam quais as responsabilidades e competências de cada esfera governamental. A partir dessa legislação e do estabelecimento de regras e normas, encontramos na Constituição Federal de 1988 a disposição da educação como um direito que deverá constar em todas as leis de âmbito educacional, sejam elas relacionadas às esferas federais, estaduais ou até mesmo por meio da Lei Orgânica dos municípios. O segundo tipo de vertente legislativa em nosso país é o de natureza regu- lamentadora, que tem como característica principal a prescrição e se manifesta por meio de (LIMA, 2016, p. 4): [...] decretos presidenciais, as portarias ministeriais e interministeriais, as resoluções e processos dos Órgãos do Ministério da Educação, como o Con- selho Nacional da Educação ou o Fundo de Desenvolvimento da Educação que dispõe sobre a forma como serão executadas as regras ou das disposições legais contidas no processo de regulação da educação nacional sem, no entanto, estabelecer princípios. 3A educação básica e a legislação educacional A partir desses esclarecimentos sobre as especificidades da legislação, identificamos que essa estrutura vincula a nossa prática educativa às políticas governamentais por meio de leis, diretrizes, resoluções, ementas, portarias e decretos que se amparam nas nossas bases constitucionais. Quanto à organização dos níveis e das modalidades educacionais, a legis- lação apresenta uma estrutura a ser seguida por todo o território nacional nas redes públicas e privadas (BRASIL, 1996), veja o Quadro 1. Níveis/ modalidades Sistema administrativo Educação infantil (creche e pré-escola) Município Ensino fundamental Municípios e estados Ensino médio Estado Ensino superior Governo Federal Educação de jovens e adultos Estados e municípios Educação profissional Estado e Governo Federal Educação especial Todas as esferas governamentais Quadro 1. Modalidades educacionais Podemos observar pelo quadro acima que existem duas dimensões na nossa educação, as quais se dividem em diferentes níveis de ensino, compreendendo a educação básica e a superior. Há ainda a que se divide nas modalidades educacionais que compreendem a educação de jovens e adultos, a educação profissional e a educação especial. A educação infantil corresponde à primeira etapa da educação básica, sendo ofertada nos espaços destinados a creches e pré-escolas. Já o ensino fundamental compreende a segunda etapa, sendo os anos iniciais do 1º ao 5 º ano, e os anos finais do 6 º ao 9º ano. Para finalizar a educação básica, temos o ensino médio, compreendendo do 1º ao 3º ano. É importante ressaltar que estamos passando por transformações na nossa legislação educacional, com a formulação da Base Nacional Comum Curricular e a Reforma do Ensino Médio. Articuladas com os demais documentos legais, elas propõem significativas mudanças organizacionais e estruturais, bem como nos processos de ensino e aprendizagem de todo o país. A educação básica e a legislação educacional4 Darcy Ribeiro tem relações profundas com diferentes políticas públicas educacionais e governamentais, como a LDB 9.394/96. Conheça um pouco da sua biografia no artigo O arquivo utópico de Darcy Ribeiro, da autora Luciana Quillet Heymann. As principais normas da educação básica na legislação educacional brasileira A legislação brasileira que estabelece as normas para a educação básica é fundamentada na Constituição de 1988, promulgada após muitas lutas e mo- bilizações em favor de um documento que assegurasse direitos educacionais e o acesso democrático às instituições de ensino. Encontramos nos Arts. 205 e 206 desse documento as seguintes informa- ções, que se relacionam com o campo educacional e que se articulam com diferentes políticas governamentais municipais, estaduais e federais (BRASIL, 1988, documento on-line): Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III – pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; No que tange aos direitos e deveres educacionais e aos princípios estabe- lecidos, o documento constituinte apresenta especificamente, no Art. 208, as responsabilidades do Estado com a educação — assim como as emendas anexadas ao longo da sua implementação (BRASIL, 1988, documento on-line): I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, assegu- rada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; 5A educação básica e a legislação educacional II – progressiva universalização do ensino médio gratuito; III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV – educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 anos de idade; V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII – atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. Ao acessarmos o portal do Ministério da Educação (MEC), encontramos documentos voltados à normatização da educação básica, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996), o Plano Nacio- nal de Educação (BRASIL, 2014) e as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, de 2013. A LDB é a nossa mais importante legislação educacional brasileira. De responsabilidade da União, tem como objetivos a organização e regulamentação da estrutura e do sistema de ensino, abarcando tanto as instituições públicas quanto as privadas. Nela encontramos a organização da educação nacional, dos níveis e das modalidades educacionais, assim como questões envolvendo os profissionais da educação. Veja a seguir como está organizado esse documento a partir dos títulos (BRASIL, 1996, documento on-line): TÍTULO I Da Educação TÍTULO II Dos Princípios e Fins da Educação Nacional TÍTULO III Do Direito à Educação e do Dever de Educar TÍTULO IV Da Organização da Educação Nacional TÍTULO V Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino TÍTULO VI Dos Profissionais da Educação TÍTULO VII Dos Recursos financeiros TÍTULO VIII Das DisposiçõesGerais TÍTULO IX Das Disposições Transitórias Ao longo da sua vigência, novas emendas e decretos foram inseridos, promovendo alterações no texto base na LDB nos anos de 2001, 2004, 2005, 2009 e, mais recentemente, em 2018, realizando uma pequena alteração no artigo que trata da educação alimentar. Dando continuidade aos nossos estudos sobre as principais normas bá- sicas na legislação educacional brasileira, encontramos o Plano Nacional de Educação. O Art. 214 da Constituição de 1988 indica o estabelecimento de um plano nacional de educação que se integre com o sistema de ensino para A educação básica e a legislação educacional6 formular propostas e metas educacionais a serem implementadas e atingidas ao longo de um período estipulado. Veja o que dispõe esse texto (BRASIL, 1988, documento on-line): Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de cola- boração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes pú- blicos das diferentes esferas federativas que conduzam a: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) I – erradicação do analfabetismo; II – universalização do atendimento escolar; III – melhoria da qualidade do ensino; IV – formação para o trabalho; V – promoção humanística, científica e tecnológica do País. VI – estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto. De acordo com a LDB, a União tem a incumbência de organizar o PNE em regime colaborativo com as demais esferas governamentais existentes. É importante destacar que o primeiro plano da nossa trajetória educacional foi formulado em 1962, em articulação com a LDB de 1961. O segundo foi promulgado em 2001, com prazo de vigência final em 2010. Assim, em 2014, com prazo de vigência até o ano de 2024, o terceiro PNE foi aprovado, resul- tando na Lei nº 13.005. Ao observarmos o processo de formulação e aprovação do mais recente plano, identificaremos que contou com uma participação democrática de en- tidades não governamentais e da sociedade civil, assim como de movimentos como a Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Em função da relevância das ações dessa política governamental, foi organizada uma plataforma digital denominada Observatório do PNE (2018), oportunizando que diferentes atores envolvidos nos processos educacionais acompanhassem o andamento do cumprimento dos planos e das metas estabelecidos. As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (BRASIL, 2013) estabelecem a base nacional comum e têm como objetivo a orientação, organização, articulação, o desenvolvimento e os processos avaliativos das propostas pedagógicas de todo o território nacional. Elas passaram por um processo de atualização, devido às transformações das formas de organização do ensino fundamental e à obrigatoriedade do ensino oferecido gratuitamente para a população dos quatro aos dezessete anos de idade. Assim, esse docu- 7A educação básica e a legislação educacional mento normativo com 546 páginas integra, juntamente com a LDB e o PNE, o conjunto das legislações educacionais. A partir dos destaques dessas normas legislativas de incumbência da União, podemos observar que há um caminho de transformações que vão se adequando ao contexto histórico, social e econômico no nosso país, que enfrenta desafios e dificuldades de diferentes naturezas para colocar em prática tudo o que nos é assegurado por meio da legislação. Políticas garantidas pela lei voltadas à educação básica Em nossos estudos, referimo-nos a todo momento ao termo políticas públicas — em especial as relacionadas à educação. Você saberia informar exatamente o signifi cado dessa expressão e o quanto ela refl ete diretamente no nosso cotidiano? Políticas públicas compreendem um conjunto de programas (com regras, relações de poder, formulação de textos legais), ações e tomadas de decisão governamentais em âmbito nacional, estadual e público, em articulação direta ou indireta com outros setores públicos e privados, de forma a viabilizar a prática de políticas que assegurem o acesso à educação para todos. Em outras palavras (MELLO, 1991, p.7), trata-se do “[...] entendimento da educação como política pública e, portanto, inserida — embora não exclusivamente — no conjunto das ordenações e intervenções do Estado”. É importante enfatizar que o processo de formulação de políticas educacionais se relaciona com o que dispõe a Constituição de 1988 no Art. 205, afirmando que a educação é um direito de todos e dever do Estado e da família. Assim, de acordo com Saviani (2008, p.2): O desenvolvimento da sociedade moderna corresponde ao processo em que a educação passa do ensino individual ministrado no espaço doméstico por preceptores privados para o ensino coletivo ministrado em espaços públi- cos denominados escolas. Assim, a educação sistematizada própria das instituições escolares tende a se generalizar impondo, em conseqüência, a exigência de se sistematizar também o funcionamento dessas instituições, dando origem aos sistemas educacionais organizados pelo poder público. Com efeito, no referido processo foi se impondo o entendimento de que a educação é uma questão de interesse público, devendo ser situada no âmbito da esfera estatal. A educação básica e a legislação educacional8 Assim, os governos das sociedades contemporâneas têm como incum- bências legislativas a definição de normas coletivas como as relacionadas ao sistema educacional, bem como meios de assegurar o cumprimento das leis em vigor. Ao analisar a nossa trajetória educacional, Saviani (2008) identifica que a descontinuidade estrutural da política educacional brasileira é uma das características mais evidentes. As reformas propostas em diferentes momen- tos políticos apresentam instabilidades e constantes alterações, que trazem como consequência a dificuldade de se alcançarem os objetivos e as metas propostas, como a erradicação do analfabetismo e a democratização do ensino, viabilizando o acesso aos estudos de forma que todos os indivíduos concluam o ensino básico. Outro entrave em nossas políticas se manifesta nos problemas de natureza pedagógica, que buscam articular a concepção de homem e mundo com a visão de educação pela sociedade e por seus representantes. Agora que você acompanhou a trajetória das políticas e as relações com os problemas atuais, verá a seguir, a partir de pesquisas realizadas no portal do Ministério da Educação, os principais programas e ações ligados às políticas para a educação básica, em articulação com a agenda 2030, que aprovou o Marco de Ação em reunião na 38º Conferência Geral da Unesco (MEC: 2018 online). Você verá também alguns dos programas e ações referentes a esse Marco da Ação. Para mais informações sobre programas e ações, acesse o portal do Ministério da Educação no link a seguir. https://goo.gl/jkz6MH De acordo com as informações, você pode observar as políticas desenvolvidas, as unidades responsáveis e envolvidas, assim como as principais ações gover- namentais desenvolvidas com o objetivo de melhorar a qualidade educacional. Segundo o Ministério da Educação, essa melhoria envolve diferentes aspectos, como a aprendizagem do aluno, a valorização do profissional de educação, a infraestrutura física e pedagógica da escola e o apoio aos entes federados. 9A educação básica e a legislação educacional Programas e ações Especificidades Programa Mais Alfabetização Trata-se de uma estratégia do Ministério da Educação para fortalecer e apoiar as unidades escolares no processo de alfabetização dos estudantes regularmente matriculados no 1º e no 2º ano do ensino fundamental. Finalidade: I – a alfabetização (leitura, escrita e matemática) dos estudantesregularmente matriculados no 1º ano e no 2º ano do ensino fundamental, por meio de acompanhamento pedagógico específico; II – a prevenção ao abandono, à reprovação, à distorção idade/ ano, mediante a intensificação de ações pedagógicas voltadas ao apoio e ao fortalecimento do processo de alfabetização. Proinfância Trata-se de um programa nacional de reestruturação e aquisição de equipamentos para a rede escolar pública de educação infantil, visando garantir o acesso de crianças a creches e escolas, bem como melhorar a infraestrutura física da rede de educação infantil. Novo Mais Educação É uma estratégia do Ministério da Educação que tem como objetivo melhorar a aprendizagem em língua portuguesa e matemática no ensino fundamental, por meio da ampliação da jornada escolar de crianças e adolescentes, otimizando o tempo de permanência dos estudantes na escola. Avaliações da Aprendizagem As avaliações da aprendizagem são coordenadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O Inep é uma autarquia federal vinculada ao MEC, cuja missão é promover estudos, pesquisas e avaliações sobre o sistema educacional brasileiro, a fim de subsidiar a formulação e implementação de políticas públicas para a área educacional a partir de parâmetros de qualidade e equidade, bem como produzir informações claras e confiáveis aos gestores, pesquisadores, educadores e ao público em geral. Programa Nacional do Material e do Livro Didático (PNLD) Esse programa é destinado a avaliar e disponibilizar obras didáticas, pedagógicas e literárias, entre outros materiais de apoio à prática educativa, de forma sistemática, regular e gratuita, às escolas públicas de educação básica das redes federal, estaduais, municipais e distritais, e também às instituições de educação infantil comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos e conveniadas com o Poder Público. Quadro 2. Programa e ações Fonte: Adaptado de Lewis (1997). A educação básica e a legislação educacional10 Ao analisar a proposta de alguns desses programas e ações (Quadro 2), podemos verificar que eles buscam atender a diferentes dimensões que con- templam o campo educacional, na concepção de que esses investimentos atuam em conjunto nos esforços para o avanço da qualidade do ensino. De acordo com as aprendizagens construídas por meio dos nossos estudos, identificamos as dificuldades enfrentadas para que as políticas que visam assegurar a edu- cação sejam viabilizadas. Dessa forma, podemos relacionar o nosso mundo contemporâneo com marcas da nossa história que trouxeram consequências para o nosso desenvolvimento como nação. Assim, ficam os desafios para que os responsáveis pelos processos educacionais que envolvem o sistema de ensino identifiquem os problemas, busquem estratégias e estabeleçam planos e metas para que os direitos constitucionais garantidos sejam assegurados. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Consti- tuicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 27 nov. 2018. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/ L9394.htm>. Acesso em: 27 nov. 2018. BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. 2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13005.htm>. Acesso em: 27 nov. 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes curriculares nacionais da educação básica. Brasília: MEC, 2013. Disponível em: <portal.mec.gov.br/docman/julho-2013-pdf/13677- -diretrizes-educacao-basica-2013-pdf/file>. Acesso em: 27 nov. 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Programas e ações. 2018. Disponível em: <http://portal. mec.gov.br/secretaria-de-educacao-basica/programas-e-acoes>. Acesso em: 27 nov. 2018. CARTA DE GOIÂNIA. Revista Educação e Sociedade, dez. 1986. Disponível em: <http:// www.gppege.org.br/ArquivosUpload/1/file/Carta%20de%20Goi%C3%A2nia%202%20 a%205%20de%20Setembro%20de%201986.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2018. LIMA, J. J. T. et al. Evolução da legislação educacional brasileira. Revista Don Domenico, v. 8, jun., 2016. Disponível em: <http://faculdadedondomenico.edu.br/revista_don/ artigos8edicao/13ed8.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2018. MELLO, G. N. de. Políticas públicas de educação. Estudos Avançados, v. 5, n.13, 1991. Dispo- nível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v5n13/v5n13a02.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2018. 11A educação básica e a legislação educacional OBSERVATÓRIO do PNE. 2018. Disponível em: <http://www.observatoriodopne.org. br/plano-nacional>. Acesso em: 27 nov. 2018. SAVIANI, D. Desafios da construção de um sistema nacional articulado de educação. Trabalho, Educação e Saúde, v. 6, n. 2, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/ scielo.php?pid=S1981-77462008000200002&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 27 nov. 2018. SILVA, P. Vocabulário jurídico III e IV. Rio de Janeiro: Forense, 1990. Leitura recomendada HEYMANN, L. Q. O arquivo utópico de Darcy Ribeiro. História, Ciências, Saúde, v. 19, n. 1, jan./mar. 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v19n1/14.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2018. A educação básica e a legislação educacional12 Conteúdo: DICA DO PROFESSOR A relevância da formulação de um Plano Nacional de Educação está presente em documentos legislativos tais como a Constituição de 1988 e a Lei 9394/96. A partir das normativas contidas em nossa legislação, programas e ações foram sendo formulados para que os desafios e problemas apresentados sejam enfrentados por meio dessas estratégias. Nesta Dica do Professor você vai conhecer alguns desses programas, assim como suas principais características e finalidades, relacionados à tecnologia a serviço da educação básica. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Qual das opções abaixo apresenta um documento que teve grande influência na formulação do texto da Constituição Federal de 1988? A) Carta de Goiânia. B) Declaração da UNESCO Educação para Todos. C) O primeiro Plano Nacional de Educação. D) A Constituição de 1937. E) A Lei de Diretrizes e Bases, Lei 5.692/71. 2) A Constituição Federal de 1988 é documento base para diferentes leis promulgadas por diferentes esferas governamentais. Conhecer o que suas disposições asseguram para o campo educacional oportuniza estabelecer relações entre nossa legislação. Assim, marque a opção abaixo que traz um trecho do artigo 205 da Constituição: A) O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber. B) A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. C) Educação básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; progressiva universalização do ensino médio gratuito. D) Atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. E) O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais. 3) A Lei de Diretrizes e Bases, Lei 9394/96, é organizada por meio de títulos que correspondem a diferentes abrangências do nosso sistema de ensino em território nacional.Qual dos títulos abaixo corresponde à seção Organização da educação nacional? A) Título II. B) Título VII. C) Título VIII. D) Título IX. E) Título IV. 4) Os Planos Nacionais de Educação fazem parte da legislação relacionada à nossa educação básica nacional. Qual das opções abaixo apresenta o PNE que contou com uma participação efetiva de entidades não governamentais e da sociedade civil? A) O plano vinculado à Constituição de 1937. B) O plano que resultou na Lei n.o 13.005/2014. C) O primeiro PNE articulado à LDB de 1961. D) O PNE promulgado em 2001. E) O plano promulgado dois anos após a promulgação da Lei 9394/96. 5) Em consonância com nossa legislação, políticas públicas educacionais são formuladas, tais como as presentes nos programas e ações que foram firmados e aprovados no evento que resultou na agenda de 2030, de que o Brasil participou. Aponte abaixo a opção que apresenta um dos programas que compõem essa agenda: A) apoio à alfabetização e à educação de jovens e adultos. B) ampliação do atendimento a todos os níveis de ensino. C) valorização dos profissionais de educação. D) redução das desigualdades sociais. E) prioridade de tempo integral para as crianças das camadas sociais mais necessitadas. NA PRÁTICA O processo de formulação do Plano Nacional de Educação, que originou a Lei 13.005, de 25 junho de 2014, levou aproximadamente quatro anos para ser implementado. Contou com a participação efetiva de entidades representativas da educação, articulando-se aos órgãos governamentais. Para que sua implementação fosse analisada de modo transparente, foi criado o Observatório do PNE, importante canal de acompanhamento desse documento. Neste Na Prática você conhecerá um episódio relacionado a esse portal de acompanhamento do PNE. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Desafios da construção de um sistema nacional articulado de educação Leia o artigo de Demerval Saviani que aborda os desafios da construção de um sistema nacional articulado de educação, aponta a trajetória das políticas educacionais, as relações entre a atual LDB e o contexto político, histórico e social e as formas de manutenção do sistema de ensino brasileiro. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Principais ações e programas de responsabilidade do Ministério da Educação no PPA 2012-2015 Conheça a partir desse relatório as principais características e objetivos dos programas de governo relacionados às políticas públicas educacionais de responsabilidade do Ministério da Educação. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! A nova agenda 2030 Veja nesse vídeo a nova agenda 2030, em que novas políticas educacionais foram apresentadas nesse Congresso que reuniu a comunidade internacional propondo objetivos para serem desenvolvidos até o ano de 2030. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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