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Allane Cardoso de Souza - RGM 2056906-8 Gabriel dos Santos Felipe - RGM 2120400-4 Juliana Leiko Onoue Valadão - RGM 2231681-7 Karina Miriã de Souza - RGM 2204032-3 Nathalia Gonçalves Simões Rigueira - RGM 2224377-1 Turma: 2º D/3º C – Campus Anália Franco AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO CLÍNICO Universidade Cruzeiro do Sul Área de Ciências Biológicas e da Saúde Curso de Psicologia 2020 Allane Cardoso de Souza - RGM 2056906-8 Gabriel dos Santos Felipe - RGM 2120400-4 Juliana Leiko Onoue Valadão - RGM 2231681-7 Karina Miriã de Souza - RGM 2204032-3 Nathalia Gonçalves Simões Rigueira - RGM 2224377-1 Turma: 2º D/3º C – Campus Anália Franco AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO CLÍNICO Artigo Científico apresentado ao curso de Psicologia na área de Ciências Biológicas e da Saúde, atendendo parte das exigências para aprovação na disciplina de Avaliação Psicológica e Práticas Integrativas I, sob orientação do Prof. Dr. Renan de Almeida Sargiani. 2020 Resumo O presente artigo tem como objetivo apresentar uma revisão da leitura sobre a avaliação psicológica no contexto clínico, para isso foi realizado uma pesquisa no ano de 2020 de materiais referenciados consultando 7 artigos e 3 livros. A pesquisa serviu para entender de forma mais completa o psicodiagnóstico e sua aplicação. Esse conhecimento é de grande relevância no meio psicológico, uma vez que trata de um refinado método com alta precisão que envolve vários instrumentos e que podem ser incorporados no atendimento de um psicólogo. De acordo com as hipóteses levantadas o psicólogo selecionará as ferramentas que serão utilizadas e os resultados obtidos subsidiarão o psicodiagnóstico de forma a direcionar uma possível estratégia a ser adotada que considerará nesse procedimento todos os aspectos individuais do sujeito. Palavra-chave: Avaliação psicológica. Psicodiagnóstico. Psicologia clínica. Abstract The purpose of this article is to present a psychological assessment review in the clinical context, therefore a research was carried out using as based 7 articles and 3 books. The research was made to understand the psychodiagnosis method and its application. This knowledge is relevant for the psychological environment, since it deals with a refined method and high precision, which involves several instruments that can be incorporated in the psychologist treatment. According to the hypotheses, the psychologist will select the instruments that will be used as base for the psychodiagnosis, in order to create a possible way to use the viable strategy, but always considering personal aspects. Key Words: Psychological assessment. Psychodiagnosis. Clinical psychology. Introdução O presente artigo abordou a avaliação psicológica no âmbito clínico de forma a conceituar sua definição, responsabilidades e apresentação de ferramentas de utilização. Essas técnicas envolvem vários elementos que vão desde uma observação direta até a utilização de complexos testes psicológicos, com o objetivo de coletar e interpretar dados que subsidiarão o diagnóstico. A avaliação psicológica é definida pelo CFP (2013) como um processo normalmente complexo que tem o objetivo de produzir hipóteses ou diagnósticos sobre uma pessoa ou um grupo de pessoas, essa avaliação pode ou não envolver o uso de testes. No contexto clínico, a avaliação psicológica é conhecida como psicodiagnóstico e é definida como um processo científico que parte de uma hipótese que poderá ser confirmada ou refutada a partir da aplicação de técnicas e testes psicológicos. Tendo como base ambas definições, nota-se ausência de consenso dos termos avaliação psicológica e psicodiagnóstico, sendo a primeira definida como algo mais amplo que pode ou não envolver o uso de testes psicológicos e o segundo como o uso deles seja imprescindível. Essa discordância foi abordada na criação do presente artigo, que buscou durante seu desenvolvimento, levantar o processo de avaliação psicológica de forma objetiva tendo como foco expor esse controverso tema. 5 Metodologia Para atingirmos o objetivo desse artigo utilizamos o método de pesquisa de revisão literária utilizando livros e artigos científicos sobre tema, também, utilizamos o método de pesquisa qualitativa, que para conquistarmos sua representatividade não nos baseamos por critérios numéricos e sim referências teóricas de qualidade publicadas com os assuntos discriminados. O processo de pesquisa envolveu o site Google Acadêmico, que trata de uma ferramenta de busca de literaturas acadêmicas que inclusive viabiliza acesso a outros portais de pesquisa conceituados e referenciados em publicações de artigos científicos como SCIELO e PEPSIC. Para construirmos uma base de dados preliminar bruta consultamos frequentemente as palavras-chaves: Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico, Psicologia Clínica, Testes Psicológicos e Psicometria, Avaliação Psicológica na Atualidade, e como consequência de resultado foram apresentadas obras importantes das autoras Jurema Alcides Cunha, Maria Luiza Siquier Ocampo, Maria Esther Garcia Arzeno, Walter Trinca, assim como o Manual do Conselho Federal de Psicologia (2013) – Cartilha avaliação psicológica – e artigos abrangendo diversas áreas da avaliação psicológica. Seguimos com uma série de etapas de filtros dos conteúdos obtidos para construir o material do trabalho privilegiando os mais atuais e correlacionando-os com os livros encontrados que ainda hoje são considerados precursores dos assuntos. Foram levantados para construção desse conteúdo 7 artigos científicos e 3 livros que constam nas referências no final deste trabalho. Finalizamos o artigo após a avaliação e leitura das fontes escolhidas e referenciadas, sintetizamos o conteúdo e posteriormente descrevemos uma reflexão das questões abordadas, para enfim chegarmos às considerações finais. 6 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA: CONTEXTO CLÍNICO A avaliação psicológica é um amplo e complexo processo de investigação que tem como objetivo conduzir o psicólogo com relação ao planejamento e processo avaliativo. Partindo do pressuposto de que o psicólogo conheça o avaliado e a causa de sua demanda, será realizada uma criteriosa coleta de dados através de procedimentos confiáveis e o resultado dessa análise servirá como direcionador de atuação desse profissional em diversos âmbitos de atuação. Conforme definição do Conselho Federal de Psicologia na Cartilha avaliação psicológica (2013): A avaliação psicológica é um processo técnico e científico realizado com pessoas ou grupos de pessoas que, de acordo com cada área de conhecimento, requer metodologias específicas. Ela é dinâmica e constitui- se em fonte de informações de caráter explicativo sobre os fenômenos psicológicos, com a finalidade de subsidiar os trabalhos nos diferentes campos de atuação do psicólogo, dentre eles, saúde, educação, trabalho e outros setores em que ela se fizer necessária. Trata-se de um estudo que requer um planejamento prévio e cuidadoso, de acordo com a demanda e os fins para os quais a avaliação se destina. (Pg. 13) De acordo com a resolução CFP n 007/2003: Os resultados das avaliações devem considerar e analisar os condicionantes históricos e sociais e seus efeitos de psiquismo, com a finalidade de servirem como instrumentos para atuar não somente sobre o indivíduo, mas na modificação desses condicionantes que operam desde a formulação da demanda até a conclusão do processo de Avaliação Psicológica. (2013, pg.13) Cabe enfatizar que os resultados das avaliações psicológicas têm grande impacto para as pessoas, grupos e sociedades e que as hipóteses e diagnósticos da avaliação psicológicasão obtidos por intermédio da investigação de características psicológicas tais como: emoção, cognição, inteligência, motivação, personalidade, afeto, memória, percepção etc. 7 Além disso, segundo o CFP (2013) a avaliação psicológica envolve e integra diversas informações provenientes de variadas fontes, dentre elas, técnicas de entrevista, observações, análise de documentos e pode ou não incluir testes psicológicos. No âmbito clínico, a avaliação psicológica é conhecida como psicodiagnóstico e é descrito por Cunha (2007) como um processo científico que parte de uma hipótese que poderá ser confirmada ou refutada a partir da aplicação de técnicas e testes psicológicos. Tais testes e técnicas são embasados por pesquisa científica e a avaliação e consequente interpretação deles é feita à luz de um referencial teórico. Segundo Ocampo e Arzeno (2011), o psicodiagnóstico tradicional é delimitado por tempo pré-estabelecido e tem como principal objetivo alcançar e compreender de forma mais ampla as características de personalidade total, além de investigar quais os procedentes para certas sintomatologias. Para englobar aspectos do passado, presente (diagnóstico) e futuro (prognóstico) desta personalidade faz-se uso de técnicas específicas como: entrevista semidirigida, técnicas projetivas, entrevista de devolução e a partir dos resultados obtidos com bases científicas e possível formular as devidas recomendações terapêuticas. O processo psicodiagnóstico é realizado através de etapas, sendo inicialmente um primeiro contato e uma entrevista inicial com esse paciente, em segundo passo seria a aplicação dos testes definidos para aquele caso específico e a terceira e quarta instância ocorrem simultaneamente sendo a devolutiva oral do caso e a parte descritiva. Ocampo e Arzeno (2001) citam ainda, a importância do enquadramento ao longo do processo psicodiagnóstico, mesmo sabendo que sua formulação depende das características do paciente. Um enquadramento tem a função de diminuir as variáveis do processo, portanto esclarecer desde o início os papéis dos respectivos integrantes do contrato (psicólogo/paciente), local, horário, honorários, forma de pagamento, quantidade de sessões e por fim o tempo de duração de cada uma delas, se faz essencial para a qualidade do psicodiagnóstico. 8 Outro fator apontado por Cunha (2007), é que o processo do psicodiagnóstico está limitado no tempo, ou seja, a partir de um contrato estabelecido entre paciente e psicólogo, há um número aproximado de sessões a serem feitas, que inclua todas as etapas da avaliação. Estas etapas se baseiam nas hipóteses iniciais, e dá-se o nome de plano de avaliação, ou seja, um planejamento do que será feito, quais instrumentos e técnicas o profissional contará a fim de alcançar o objetivo do psicodiagnóstico. Além disso, Cunha (2007) ressalta a importância de coletar dados a respeito da história de vida e história clínica do indivíduo, para que estes dados sejam integrados e permitam uma avaliação mais ampla e efetiva. Os resultados da avaliação são comunicados a quem de direito, ou seja, a quem tiver feito a solicitação, ou quem esteja contemplado neste processo. Com relação aos objetivos, um psicodiagnóstico pode conter um ou vários deles e isso baseia-se nas motivações que encaminharam o paciente à avaliação, além do que dependem da complexidade ou simplicidade de cada caso. O quadro abaixo sintetiza alguns exemplos: Tabela 1 Fonte: (Cunha, 2007, pg. 27). 9 PSICODIAGNÓSTICO: ETAPAS No processo de psicodiagnóstico, Arzeno (1995) relata a importância do consultante estar consciente do objetivo que o levou a procurar por um psicodiagnóstico, portanto caso o objetivo não esteja elucidado, o psicólogo antes de iniciar o estudo deve dedicar o tempo que for necessário para o consultante saber claramente o motivo manifesto. Após essa elucidação, inicia-se as etapas do processo psicodiagnóstico, seguindo um passo a passo e o primeiro deles parte desde a solicitação da consulta até o encontro com o psicólogo. O segundo momento é marcado pela entrevista ou até entrevistas para estruturação da história do indivíduo e da família e clarificar o motivo manifesto e latente da consulta. Em terceira instância o profissional mergulha no material coletado e nas hipóteses primárias para traçar os instrumentos que serão utilizados e quais serão os próximos passos. A próxima etapa que trata-se do quarto momento, é colocar em prática a estratégia diagnóstica delineada, porém pode ser que durante o trajeto dessa etapa seja necessária reavaliações de percurso, devido a isso não é possível utilizar de um modelo pré-fixado para todos os casos, cabendo a experiência e análise do profissional para cada consultante. No quinto passo, ocorre a fase da integração e análise minuciosa dos dados adquiridos, levando em consideração os testes, entrevistas e história de vida desse individuo, assim alcançando um entendimento global do caso. Essa fase vai exigir do profissional grande domínio de capacidade analítica e teórica, a fim de identificar quaisquer convergências, recorrências e até mesmo observar dados considerados relevantes dentro do material coletado, facilitando uma ampla compreensão da personalidade do consultante e/ou dinâmica familiar. O sexto passo do processo é a devolutiva das informações, que pode ser em uma única ou mais entrevistas. Lembrando, que a devolução e conclusão do psicodiagnóstico é efetuada de forma individual, tanto para o personagem principal da consulta, como para a família. Geralmente, nessa etapa é possível levantar novos elementos que ajudam a confirmar e esclarecer alguns pontos da conclusão. 10 E por fim, o sétimo passo que é a elaboração do laudo psicológico com o diagnóstico, prognóstico e recomendações terapêuticas adequadas para o caso. O laudo do processo é algo de extrema importância, pois, quando deforme pode prejudicar ao invés de beneficiar esse indivíduo. PSICODIAGNÓSTICO: DEMANDAS A primeira consideração a ser levantada é como o pedido de avaliação psicológica emerge e como a demanda é elaborada. As demandas de avaliação psicológica dificilmente surgem por parte do próprio sujeito, normalmente ocorrem por um encaminhamento de um médico, psicólogo, administrador, educador, advogado, sistema jurídico-forense e assim por diante. Tavares (2012), ainda cita que o processo de avaliação psicológica pode ser afetado devido a forma como a demanda é formulada e mencionada ao sujeito avaliado, e que a única forma de não haver interferência é sendo uma proposta de estratégia inicial de processo, o que automaticamente torna o profissional demandante e avaliador. Além disso, existem formas do avaliador ser também influenciado, ou seja, caso o demandante encaminhe um pré-diagnóstico ou mesmo uma informação que trata de uma opinião sobre o sujeito. Sendo assim o avaliador deve compreender e tomar posse da sua posição como investigador, portanto não podendo ignorar e nem aceitar as informações e sim registrar o material a ser considerado ou questionado no andamento do processo. Embora o sujeito avaliado seja o maior beneficiado com relação a avaliação psicológica, ainda sim estamos tratando de um cliente indireto do avaliador, sendo que o principal cliente é o solicitante dessa avaliação. O avaliador terá um contato breve e limitado com o indivíduo, quem o acompanhará ao longo de todo o processo será o demandante e através das informações, recomendações e resultados apresentados dessa avaliação que o profissional irá tomar as decisões do percurso a ser corrido. 11 Objetivando minimizar as dificuldades relacionadas a demanda, o avaliador deve esclarecer através de uma conversa direta com o profissional ou até equipe de profissionais todas as dúvidas,questões, ponto de vista e objetivos dessa avaliação. Lembrando que as informações passadas são de responsabilidade desses profissionais e só podem ser apresentadas diante da autorização do sujeito que será avaliado. O texto ainda ressalta a importância de se obter todas as informações necessárias com o demandante antes do início da avaliação com o sujeito, pois a continuidade no contato com esse profissional pode afetar significativamente o processo de avaliação com interferências de um sobre o outro. O paciente deve estar ciente dos reais motivos e objetivos da referida avaliação e assim formular um contrato formal adequado obtendo autorização para apresentar relatórios e laudos aos solicitantes dela, evitando com isso transtornos e ações posteriores. De modo geral os avaliadores anteferem as demandas explicitas (evidentes), pois torna-se facilitadora na formulação da devolutiva e elaboração do relatório, porém existem demandas latentes (ocultas) que em contrapartida pode tornar um sério problema ao avaliador, que deverá fazer uso de seu julgamento clínico e modo particular de escuta para auxiliar o profissional a reformular a demanda e esclarecer suas devidas expectativas. Em regra geral, a comunicação entre avaliador e demandante para esclarecimento das especificações, procedimentos, utilidades e limitações fazem com que o resultado da avaliação psicológica seja mais favorável e proveitoso. PSICODIAGNÓSTICO: INSTRUMENTOS Na clínica psicológica o indicado é que a escolha dos testes e instrumentos devem ser individualizados levando em conta as hipóteses formuladas para cada paciente. Conforme Trentini, Bandeira e Krug (2016): em nossa prática clínica, sugerimos algumas diretrizes que podem ser modificadas desde que com uma justificativa. Iniciamos por instrumentos mais simples, para então partir para os mais complexos, de forma que o avaliado possa ir se adaptando à situação de avaliação. (Pg. 71) 12 Observação Direta No contexto clínico, a observação é importante em todo o processo de avaliação seja na aplicação do teste mesmo que este fato não interfira na pontuação, seja na entrevista onde todo o comportamento apresentado deve ser observado e anotado. A observação pode ser sistemática e assistemática. A observação sistemática, tem como característica o controle e planejamento, é estabelecido antecipadamente o que se deseja observar assim como um sistema de registro e codificação, ou seja, o observador cria uma espécie de guia de orientação para ser usada durante a observação. Na observação assistemática por sua vez, não há planejamento prévio, ou seja, o fenômeno que se deseja observar não é preestabelecido, o objetivo é que ele se apresente durante a entrevista. Entrevista De acordo com Tavares (2015, pag. 45): Uma entrevista clínica é um conjunto de técnicas de investigação, de tempo delimitado, dirigido por um entrevistador treinado, que utiliza conhecimentos psicológicos, em uma relação profissional, com o objetivo de descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionais, sistêmicos (indivíduo, casal, família, rede social), em um processo que visa a fazer recomendações, encaminhamentos ou propor algum tipo de intervenção em benefício das pessoas entrevistadas. Em toda entrevista há a investigação de um questionamento, por essa razão, ela é considerada um processo dinâmico que consegue adaptar-se à várias particularidades, fato este que contrapõe outros procedimentos, especialmente os padronizados. Conforme Cunha (2007), a entrevista clínica pode ser composta por uma ou várias etapas e abordagens de acordo com os objetivos do entrevistador. Suas estratégias, alcances e limites serão partes de uma estratégia formulada pelo psicólogo, por isso, a entrevista é considerada uma parte importante do processo de avaliação, que visa fazer recomendações, encaminhamentos ou propor algum tipo de intervenção em benefício das pessoas entrevistadas. 13 Define-se uma entrevista clínica como tendo a característica de ser dirigida e dentro do contexto psicológico há três modalidade de entrevistas: as estruturadas, semiestruturadas e de livre estruturação. As estruturadas são de pouca utilização clínica, normalmente possuem um roteiro rígido com perguntas fechadas ou delimitadas e respostas mais objetivas. As de livre estruturação ou não estruturada são consideradas abertas, ou seja, não existem perguntas pré formuladas e podem aos poucos ser construída. No entanto, é importante salientar que, apesar de serem de livre estruturação é fundamental que o entrevistador tenha a habilidade de conduzi-la quando necessário. Por último, há as entrevistas semiestruturadas, que são modelos no qual o entrevistador tem clareza de seus objetivos e quais os tipos de informações devem ser obtidos. É composta por perguntas sugeridas ou padronizadas e consegue por esse aspecto aumentar a fidedignidade. Nas entrevistas semiestruturadas é possível que novas perguntas surjam a partir de respostas dadas pelo paciente ou pelo familiar, dessa forma o entrevistador tem a liberdade de ir além do roteiro pré-estabelecido. Quanto a aplicabilidade das entrevistas no contexto clínico, as de modelos de livre estruturação e semiestruturadas são as mais utilizadas, pois o objetivo de uma entrevista é conhecer o indivíduo profundamente de forma a entender o motivo que o levou à entrevista. No processo de entrevista, o entrevistador e entrevistado tem atribuições diferenciadas de papéis, sendo a função do entrevistador colocada numa esfera profissional, na qual é dele a responsabilidade de conduzir o processo e aplicar seus conhecimentos psicológicos em benefício de todos os envolvidos no tratamento. Essa responsabilidade lhe confere poder e a responsabilidade de zelar pelo interesse e bem-estar do outro. Quanto ao entrevistado, espera-se que ele exerça um papel colaborativo. 14 Cada tipo de entrevista requer treinamento especializado, pois muitos dos temas abordados são, pela sua própria natureza, difíceis ou representam tabus culturais, portanto cabe ao profissional criar uma aproximação que facilite a interação e que consiga uma abertura para adentrar em questões intimas e pessoais. Conseguir compreender a dinâmica do sujeito é considerado um dos maiores desafios da entrevista clínica. Entrevista de Anamnese Outro recurso utilizado como forma de levantar hipóteses, diagnósticos iniciais e as ferramentas que farão parte do processo de psicodiagnóstico, é a entrevista de anamnese. Conforme Silva e Bandeira (2015), a anamnese é um tipo de entrevista realizada para investigar a vida do examinado, ou seja, os aspectos da sua vida considerados relevantes para o entendimento da queixa. Esse método procura entender a história de vida do entrevistado, possui um caráter investigativo e normalmente é semiestruturada, ou seja, parte de uma pergunta básica que vai sendo modificada e complementada conforme o ritmo da entrevista. O entrevistador de acordo com seus objetivos tem a responsabilidade de selecionar o que é relevante ou não. A entrevista de anamnese busca uma possível conexão entre os aspectos de vida do avaliado e o problema apresentado. Sendo assim, o objetivo dessa abordagem é trazer a consciência os fatos relacionados à queixa juntamente com a história do indivíduo. Testes Psicológicos Conforme definição do CFP (2013), teste psicológicos são procedimentos sistemáticos de observação e registro de amostras de comportamentos e respostas de indivíduos com o objetivo de descrever e/ou mensurar as características e processos psicológicos, compreendidos tradicionalmente nas áreas emoção/afeto, cognição/inteligência, motivação, personalidade, psicomotricidade, atenção, memória, percepção, dentre outras, nas suas mais diversas formas de expressão, segundo padrões definidospela construção dos instrumentos. 15 Urbina (2007), refere dois motivos para a utilização de testes psicológicos. Sendo o primeiro relativo à eficiência cujo propósito é obter custo e tempo reduzidos, como exemplo a viabilização de um medicamento. Nesse caso, não é necessário a realização de interações e observações prolongadas. O segundo motivador no uso de testes é a objetividade, já que os testes seguem padrões de fidedignidade e validade que asseguram o aplicador, entretanto os dados apurados quando não organizados de forma sistêmica, podem levar a julgamentos imprecisos. No entanto, nenhum teste isolado é capaz de substituir o olhar clínico acurado do profissional durante as entrevistas e a condução do psicodiagnóstico, ou seja, o psicólogo não é meramente um “testólogo”, mas um profissional habilitado e capaz de integrar os achados da testagem e das entrevistas, denotando um olhar mais amplo e compreensivo em relação ao avaliado. A resolução do CFP de n 002/2003 avalia que testes psicológicos são instrumentos de avaliação ou mensuração de características psicológicas, constituindo-se um método ou uma técnica de uso privativo do psicólogo, em decorrência do parágrafo 1º do art. 13 da lei no. 4.119/62. O profissional de psicologia possui autonomia quanto à escolha dos testes, no entanto é fundamental que essa seleção esteja devidamente registrado no Sistema de Avaliação de Testes (Satepsi), após isso deverá consultar o manual do teste para obter informações sobre o constructo que ele pretende medir e também para entender o contexto e propósito para os quais a utilização se mostra apropriada. Devido ao número expressivo de queixas envolvendo o mau uso na prática dos testes, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) visando as melhorias dos instrumentos psicológicos organizou uma comissão de especialistas denominada atualmente como Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica que é constituída por pesquisadores e profissionais da psicologia com a função de normatizar e solucionar todos os âmbitos da avaliação psicológica. A normatização de um teste “diz respeito a padrões de como se deve interpretar um score que o sujeito recebeu num teste”. (Pasquali, 2001, pag. 143). Portanto, para que consigam atingir essa regulamentação é necessário que os testes psicológicos atendam à alguns pré requisitos tais como: padronização, fidedignidade e validade. 16 Pasquali (2001) afirma que a padronização se refere à necessária existência de uniformidade em todos os procedimentos relativos ao uso de um teste válido e preciso, que variam desde as preocupações a serem tomadas na aplicação do teste (uniformidade das condições de testagem) até o desenvolvimento de parâmetros ou critérios para a interpretação dos resultados obtidos. A padronização da testagem visa garantir o uso adequado dos instrumentos. De acordo com Anastasi e Urbina (2000, pag. 107) “a validade é considerada um dos mais relevantes aspectos a ser levado em conta para a construção dos testes psicológicos e refere-se a aquilo que um teste mede e a quão bem ele faz isso”. A validade é a confirmação de que um teste consegue medir aquilo que se propõe, ela proporciona uma verificação direta do quão bem o teste cumpre sua função. Com relação à fidedignidade/precisão. Conforme Anastasi e Urbina (200), ela é definida como uma: consistência de escores obtidos pelas mesmas pessoas quando elas são examinadas com o mesmo teste em diferentes ocasiões, ou com diferentes conjuntos de itens equivalentes, ou sob outras variáveis do exame. (Pg. 84). Testes Quanto aos tipos de testes psicológicos, estes podem ser objetivos e projetivos, sendo o primeiro caracterizado por possuir ênfase na objetividade e padronização dos estímulos e resposta, possuem respostas fechadas, elaboradas previamente. Já os testes projetivos, possuem ênfase na abrangência e riqueza das informações por meio de respostas livres. É composto por respostas abertas, construídas individualmente. 17 Tabela 2 Fonte: (Primi, 2010, pg. 27). Além dos métodos descritos acima, existem outras técnicas projetivas e procedimentos de investigação clínica como: jogos, desenhos, o contar de histórias, o brincar, questionamentos etc. Discussão Durante a pesquisa e elaboração do artigo foi notada discordância com relação aos termos avaliação psicológica e psicodiagnóstico, esse questionamento pareceu pertinente de ser exposto em um trabalho especificamente do contexto clínico, pois provavelmente é uma dúvida recorrente de muitos futuros profissionais de psicologia. Krug, Trentini e Bandeira (2016) destacam que há décadas, muitos profissionais habituaram-se a chamar a atividade de avaliação psicológica de psicodiagnóstico. Entretanto, constataram que o uso do termo é mais comum quando, durante seu desenvolvimento, o profissional se vale de testes psicológicos para coletar informações de seu consultante.” Em avaliações nas quais não são usados testes psicológicos, são empregados outros termos para designá-los, como por exemplo: avaliação clínica, avaliação psicológica, entrevistas preliminares, diagnóstico etc. 18 Com relação ao termo psicodiagnóstico, Cunha (2007) o define como um processo científico que parte de uma hipótese que poderá ser confirmada ou refutada a partir da aplicação de técnicas e testes psicológicos. Tais testes e técnicas são embasados por pesquisa científica sua avaliação e consequente interpretação é feita à luz de um referencial teórico. Ressalta inclusive, a importância de coletar dados a respeito da história de vida e história clínica do indivíduo, para que estes dados sejam integrados e permitam uma avaliação mais ampla e efetiva. Os resultados da avaliação são comunicados a quem é de direito, ou seja, quem tiver feito a solicitação, ou quem estiver envolvido neste processo. A respeito dos objetivos um psicodiagnóstico pode haver um ou vários objetivos e que isto depende das motivações que encaminharam o paciente à avaliação, inclusive os objetivos dependem da complexidade ou simplicidade de cada caso. Observa-se ainda, que de acordo com o CFP, a avaliação psicológica é um processo, normalmente complexo que tem o objetivo de produzir hipóteses ou diagnósticos sobre uma pessoa ou um grupo de pessoas. Tal definição nos permite o entendimento de que a avaliação psicológica é algo mais amplo que engloba qualquer atividade, sem que o uso de testes seja necessário para que haja um psicodiagnóstico. No entanto, com base na afirmação de Arzeno (1995), o psicodiagnóstico é diferente de diagnóstico psicológico, pois todo psicodiagnóstico pressupõe a utilização de testes, enquanto no diagnostico esses instrumentos nem sempre são necessários ou pertinentes. Contrapondo a opinião sobre psicodiagnóstico, Krug, Trentini e Bandera (2016): A definição encontrada nos manuais consultados, que associam a prática de psicodiagnóstico à obrigatoriedade de aplicação de testes psicológicos, está em desacordo com a compreensão de muitos profissionais da área de avaliação psicológica sobre o que é um psicodiagnóstico na atualidade. (Pg. 27). 19 Conclusão Na tentativa de entender o sofrimento psíquico, os psicólogos utilizam de várias ferramentas de avaliação psicológica que os ajudam na formulação de hipóteses e planejamento de um tratamento psicológico. Dentre as variadas técnicas utilizadas podemos citar: a observação direta, testes psicológicos, entrevistas, técnicas projetivas, questionários, desenhos etc. Tais instrumentos são de grande importância para os psicólogos, que necessitam de métodos avaliativos confiáveis que os ajudem a categorizar, buscar semelhanças, diferenças e que sobretudo consiga manter a individualidade de cada ser. Através das leituras dos materiais que estão referenciadosao final desse trabalho, compreendemos a responsabilidade que o profissional de psicologia assume ao iniciar o atendimento à um paciente. Essa responsabilidade vai além do compromisso de entender a causa da demanda de quem necessita, o profissional de psicologia acima de tudo tem o dever de adotar procedimentos regulamentados pelos órgãos competentes. Segundo o CFP (2013) é papel do psicólogo planejar e realizar o processo de avaliativo e tal atribuição deve considerar vários aspectos, como por exemplo: o contexto na qual a avaliação psicológica é inserida, o propósito da avaliação, os constructos a serem investigados, adequação das características dos instrumentos/técnicas aos indivíduos avaliados e as condições técnicas, metodológicas e operacionais do instrumento de avaliação. Por todos os aspectos mencionados envolvendo a discussão e a falta de consenso acerca da definição de avaliação psicológica, entendemos que o termo de psicodiagnóstico deve ser reavaliado. Compreendemos que o psicodiagnóstico é um procedimento científico de investigação e intervenção clínica, que tem como preceitos a limitação de tempo e o emprego de técnicas e testes com o intuito de avaliação psicológica. 20 No entanto, há um entrave com relação à outras especialidades psicológicas, tais como podemos citar a psicanálise, Gestalt e comportamental. Teorias nas quais, igualmente há uma investigação criteriosa sobre a queixa do paciente e no qual o psicólogo não poupará esforços para entendê-la e utilizará instrumentos diversos de avaliação que podem ou não envolver o uso de testes e nem por isso essa avaliação psicológica deveria deixar de ser chamada de psicodiagnóstico. 21 Referências ARZENO, Maria E. García; OCAMPO, Maria L. de. O processo psicodiagnóstico: Caracterização. Objetivos. Momentos do Processo. Enquadramento. In: PICCOLO, Elza Grassano; ARZENO, Maria Esther Garcia; OCAMPO, Maria Luisa Siquier de. Processo Psicodiagnóstico e as Técnicas Projetivas. 11. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1981. p. 11- 14 Conselho Federal de Psicologia. (2013b). Cartilha avaliação psicológica. Brasília. Disponível em: http://satepsi.cfp.org.br/docs/cartilha.pdf CUNHA, Jurema A. Operacionalização do Processo: Passos do processo psicodiagnóstico. In: A CUNHA, J. PSICODIAGNÓSTICO-V. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. p. 105 – 138. FREITAS, Fernanda Andrade de; NORONHA, Ana Paula Porto. Clínica-escola: levantamento de instrumento utilizados no processo psicodiagnóstico. Psicol. Esc. Educ. (Impr.), Campinas, v. 9, n. 1, 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ pee/v9n1/9n1a08.pdf Krug, Jefferson S.; Trentini, Clarina M.; Bandeira, Denise R. Conceituação de psicodiagnóstico na atualidade. In: Hutz, Claudio Simon. et al. Psicodiagnóstico. Porto Alegre: Artmed, 2016. pg. 22-34. NORONHA, Ana Paula Porto; PRIMI, Ricardo; ALCHIERI, João Carlos. Instrumentos de avaliação mais conhecidos/utilizados por psicólogos e estudantes de psicologia. Psicol. Reflex. Crit, Porto Alegre, v. 18, n. 3, 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/prc/v18n3/a13v18n3.pdf OTTATI, Fernanda; NORONHA, Ana Paula Porto. Parâmetros psicométricos de instrumentos de interesse profissional. Estud. pesqui. Psicol, Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, jul. 2003. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/epp/v3n2/v3n2a03.pdf PRIMI, Ricardo. Avaliação psicológica no Brasil: fundamentos, situação atual e direções para o futuro. Psic.: Teor. e Pesq, Brasília, v. 26, 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ptp/v26nspe/a03v26ns.pdf Silva, Monica A.; Bandeira, Denise R.; A entrevista de anamnese. In: Hutz, Claudio Simon. et al. Psicodiagnóstico. Porto Alegre: Artmed, 2016. pg. 93-120. http://satepsi.cfp.org.br/docs/cartilha.pdf https://www.scielo.br/pdf/pee/v9n1/9n1a08.pdf https://www.scielo.br/pdf/pee/v9n1/9n1a08.pdf https://www.scielo.br/pdf/prc/v18n3/a13v18n3.pdf http://pepsic.bvsalud.org/pdf/epp/v3n2/v3n2a03.pdf https://www.scielo.br/pdf/ptp/v26nspe/a03v26ns.pdf 22 TAVARES, Marcelo. Considerações Preliminares à Condução de uma Avaliação Psicológica. Aval. psicol., Itatiba, v. 11, n. 3, dez. 2012. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/avp/v11n3/v11n3a02.pdf WECHSLER, Solange Muglia; HUTZ, Claudio Simon; PRIMI, Ricardo. O desenvolvimento da avaliação psicológica no Brasil: Avanços históricos e desafios. Aval. Psicol, Itatiba, v. 18, n. 2, 2019. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/avp/v18n2/03.pdf http://pepsic.bvsalud.org/pdf/avp/v11n3/v11n3a02.pdf http://pepsic.bvsalud.org/pdf/avp/v18n2/03.pdf
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