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Alice Bastos Trichuris trichiura São nematódeos; Os humanos são o principal hospedeiro e o único relevante para a transmissão desta infecção; A infecção pelo T. trichiura é amplamente distribuída na população humana. Morfologia Adultos Medem de 3 a 5 cm de comprimento; Os machos são menores que as fêmeas; Boca: localizada na extremidade anterior, é uma abertura simples e sem lábios onde pode ser observado um pequeno estilete, seguido por um esôfago longo e delgado (ocupa aproximadamente 2/3 do comprimento total do verme; A parte posterior do corpo, cerca de 1/3 do comprimento total, compreende a porção alargada, onde se localiza o sistema reprodutor simples e o intestino, que termina no ânus; Vermes adultos são dioicos e com dimorfismo sexual; ➢ O macho é menor (3 a 4,5 cm de comprimento), possui testículo único seguido por canal deferente, canal ejaculador que termina com um espículo e a extremidade posterior é curvada ventralmente; ➢ A fêmea mede 4 a 5 cm de comprimento, apresenta ovário seguido do útero contendo muitos ovos não embrionados, que se abre na vulva, localizada na proximidade da junção entre esôfago e intestino. Ovos Medem de 50 a 54 µm de comprimento por 22- 23 µm de largura; Formato elíptico, com poros salientes e transparentes em ambas as extremidades, preenchidos por material lipídico; Casca do ovo é formada por três camadas: uma camada lipídica externa, uma camada quitinosa intermediária e uma camada vitelínica interna, que favorece a resistência destes ovos a fatores ambientais. Hábitat São parasitos do intestino grosso de humanos; ➢ Em infecções leves e moderadas, os vermes habitam principalmente o ceco e o cólon ascendente do hospedeiro; ➢ Nas infecções intensas ocupam também cólon distal, reto e porção distal do íleo; Alice Bastos É um parasito tissular: toda a região esofageana do parasito penetra na camada epitelial da mucosa intestinal do hospedeiro, onde ingere muco e células, principalmente restos dos enterócitos lisados pela ação de enzimas proteolíticas secretadas pelas glândulas esofaganas do parasito; ➢ A porção posterior de T. trichiura permanece exposta ao lúmen intestinal, facilitando a reprodução e a eliminação dos ovos. Ciclo biológico Monoxeno (um hospedeiro); Fêmeas e machos que habitam o intestino grosso reproduzem-se sexuadamente e os ovos são eliminados para o meio externo juntamente com as fezes; A sobrevivência máxima dos vermes adultos no homem é estimada em cerca de 3 a 4 anos; ➢ Geralmente 1 a 2 anos; A maioria dos estudos indica que a fêmea fecundada elimina em média 3.000 a 5.000 ovos por dia; ➢ Dados recentes: fêmeas podem produzir 18.000 ovos por dia; Os ovos são eliminados através das fezes de pessoas infectadas; No ambiente, estes ovos sofrem embriogênese formando uma larva de primeiro estágio; ➢ O período para completar a embriogênese depende de condições ambientais (principalmente temperatura e umidade); ➢ Quanto maior a temperatura, mais rápido é o processo; Os ovos são muitos sensíveis a dessecação, não sobrevivendo por mais de 15 dias quando a umidade relativa é menor que 77% ou em áreas com insolação direta; ➢ Já em condições ambientais favoráveis, os ovos contendo larvas infectantes pode permanecer viáveis por longo período de tempo; Ovos contendo larva de primeiro estágio são infectante para o hospedeiro; ➢ Geralmente são ingeridos juntamente com alimentos sólidos ou água contaminados; As larvas eclodem através de um dos poros presentes nas extremidades do ovo, no intestino delgado do hospedeiro; ➢ A eclosão das larvas é estimulada pela exposição sequencial dos ovos aos componentes do suco gástrico e do suco pancreático; As larvas L1 penetram preferencialmente nas criptas cecais, penetrando na mucosa intestinal onde as larvas habitam células da camada epitelial, formando túneis sinuosos na superfície epitelial da mucosa; ➢ Durante este período, as larvas se desenvolvem em vermes adultos, passando pelos quatro estágios larvais; A primeira muda ocorre entre 9 e 11 dias após a penetração, a segunda ocorre a partir de 17 dias, a terceira após 22 dias e a última muda do ciclo ocorre a partir de 32 dias de infecção; ➢ O crescimento e desenvolvimento dos vermes levam ao rompimento das células epiteliais e a exposição da porção posterior do corpo de T. trichiura à luz intestinal do hospedeiro; Alice Bastos Apenas uma pequena parte (5 a 22%) dos ovos infectantes ingeridos completam o desenvolvimento até vermes adultos; Período pré-patente (tempo entre a infecção até a eliminação dos ovos pelas fezes do hospedeiro) é de aproximadamente 60 a 110 dias. Transmissão Ingestão de alimentos ou água contaminados; ➢ Os ovos podem ser disseminados pelo vento, água ou por moscas que transportam os ovos do parasito do local onde as fezes foram depositadas até o alimento. Patogenia A gravidade depende da carga parasitária; ➢ Também depende de fatores como a idade do hospedeiro, o estado nutricional e a distribuição dos vermes adultos no intestino; ➢ Podem aparecer casos de crianças desnutridas com sintomatologia grave sem necessariamente ter uma infecção intensa ou de adultos bem nutridos com infecção intensa, mas sem sintomatologia correspondente; Infecções leves: menos que 1.000 ovos/g fezes; ➢ Maioria dos pacientes é assintomática ou apresenta sintomatologia intestinal discreta e pouco específica; ➢ Vermes encontram-se restritos à região do ceco e cólon ascendente, consequentemente a inflamação se apresenta discreta e localizada, não interferindo significativamente nos processos fisiológicos do hospedeiro → em infecções moderadas também; Infecções moderadas: pacientes eliminam entre 1.000 e 9.999 ovos/g fezes; ➢ Geralmente apresentam dores de cabeça, dor epigástrica e no baixo abdome, diarreia, náusea e vômitos em grau variado, que podem resultar em diminuição da ingestão de alimentos e aumento de perdas nutricionais, comprometendo o estado nutricional do hospedeiro; Infecções graves: número superior a 10.000 ovos/g fezes; ➢ Síndrome disentérica crônica: se pode observar uma diarreia intermitente com presença abundante de muco e algumas vezes sangue, dor abdominal com tenesmo (vontade constante de evacuar), anemia, desnutrição grave caracterizada por perda de peso e, algumas vezes, prolapso retal (extravasamento de parte do intestino para fora do organismo); ➢ O prolapso pode ser resultado do esforço continuado de defecação associado a possíveis alterações nas terminações nervosas locais → é reversível após a eliminação dos vermes e a resolução da reação inflamatória local; ➢ Quando os vermes atingem o reto, o processo inflamatório pode ser intenso, sendo observado intenso sangramento da mucosa local e edema, o qual produz um inchaço da mucosa local (responsável por iniciar o reflexo de defecação, mesmo na ausência de fezes no reto; ➢ A inflamação da mucosa intestinal pode resultar em colite e apendicite; ➢ O processo inflamatório pode ser particularmente intenso quando os vermes atingem o reto, sendo observado edema e intenso sangramento da mucosa local; Como não existe migração sistêmica das larvas em humanos, as principais lesões provocadas pelas larvas e vermes adultos estão confinadas ao intestino; Ocupa preferencialmente a mucosa da região do ceco do hospedeiro, entretanto, em infecções intensas o verme pode atingir todo o intestino grosso, o reto e o íleo distal; Alice Bastos O parasito vive em túneis constantemente formados na camada epitelial através da penetração da região anterior do verme; A alimentação e a movimentação destes vermes causam lesões ao epitélio e à lâmina própria intestinal do hospedeiro, podendoser observado um aumento na produção de muco pela mucosa intestinal, áreas de descamação da camada epitelial e infiltração de células mononucleares na lâmina própria; Eosinófilos são também encontrados associados à região dos esticossomos (glândulas da região esofageana); Há um aumento da permeabilidade intestinal; ➢ Pode ser consequência da produção de IgE e desgranulação de mastócitos; A infecção crônica por Trichuris afeta a microbiota intestinal, levando a uma grande redução da diversidade bacteriana e um aumento da abundância de bactérias do gênero Lactobacillus → reflete no balanço da resposta imune intestinal; A lesão da mucosa intestinal pode gerar sangramento, sendo relatado que em casos de infecção intensa a evacuação pode ser mucossanguinolenta; A combinação das alterações observadas em pacientes intensamente infectados pode resultar em sintomas sistêmicos como anemia, desnutrição e no caso de crianças, retardamento do desenvolvimento físico e comprometimento cognitivo; Crianças com síndrome disentérica crônica apresentam elevados níveis de TNF-α e redução dos níveis plasmáticos do hormônio IGF-1 (hormônio produzido pelo fígado e células de origem mesenquimal, sendo que a produção adequada deste hormônio está associada a um crescimento normal) e de um precursor do colágeno tipo 1 (principal componente da matriz orgânica dos ossos. Imunidade Induz aumento dos níveis séricos de IgE e IgG, eosinofilia, mastocitose intestinal, diferenciação de células caliciformes e aumento da produção de muco, alterações controladas pela produção de citocinas IL-4, IL-13 e IL-5 (produzidas durante resposta predominantemente do tipo 2); Estudos sugerem que após o tratamento, o desenvolvimento de uma imunidade protetora esteja envolvido na diminuição da intensidade da infecção observado em adultos → mecanismo responsável pela proteção ainda é desconhecido; A produção de IgA sérica e secretora específica contra o parasito está associada à diminuição da intensidade da infecção, podendo ser um importante fator no desenvolvimento da imunidade protetora; Resposta imune TH-2, que é caracterizada pelo aumento da produção de interleucina (IL-) 4, IL- 5, IL-9 e IL-13 está associada à proteção contra o parasito; Elementos da resposta imune controlados por IL-13, mas não IL-4, estão envolvidos no desenvolvimento de mecanismos responsáveis pela eliminação deste parasito que vive no epitélio da mucosa intestinal; Produção de citocinas do tipo 2, especialmente IL-13, induz uma grande renovação das células epiteliais, que é o hábitat do parasito, podendo favorecer a eliminação do mesmo; O aumento da produção de IL-13, IL-4 e IL-9 também podem atuar sob células da musculatura lisa intestinal, provocando aumento da contratilidade intestinal, que também pode facilitar a eliminação do nematódeo. Diagnóstico Clínico: a maioria dos pacientes infectados são assintomáticos ou apresentam sintomatologia pouco característica, que não permite o Alice Bastos diagnóstico específico, logo, a confirmação é feita com diagnóstico laboratorial; Laboratorial: o diagnóstico específico normalmente realizado pela demonstração dos ovos do parasito nas fezes do paciente; Para estudos epidemiológicos em áreas endêmicas, o método mais utilizado é o e Kato- Katz (permite uma avaliação qualitativa e quantitativa); Técnicas de McMaster e Flotac (baseadas na flutuação dos ovos de helmintos em soluções mais densas que a água) são métodos eficientes para a identificação de ovos de T. trichiura. Tratamento Anti-helmínticos: albendazol, mebendazol, levamisol e pamoato pirantel; ➢ O tratamento utilizando os anti- helmínticos em dose única é insatisfatório, pois apresenta baixa taxa de cura → por isso, múltiplos tratamentos ou associações de drogas têm sido recomendados; ➢ A combinação de albendazol com outros fármacos com atividade anti-helmíntica produzem melhores resultados no controle de T. trichiura.
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