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Teóricas DUE

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DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
1º Teste
Juliana Covinha
2018/2019
UNIÃO EUROPEIA ENQUANTO UNIÃO DE DIREITO
ESTADO DE DIREITO
No século XIX, segundo a teoria clássica dos elementos do Estado elaborada por Jellinek, eram três os elementos constitutivos do Estado Constitucional: povo, poder soberano e território. Esta trilogia significava a unidade e inteireza político-administrativa, territorial e populacional. O Estado é a comunidade de cidadãos politicamente organizada, que visa não só manter a paz, como também garantir a segurança e certezas jurídicas. Consegue isto, na medida em que as instituições que exercem a autoridade pública criam o direito e se vinculam a ele próprio.
Hoje em dia, os tradicionais elementos do Estado estão num processo de transformação. Segundo Lucas Pires: 
1. O território tornou-se menos estanque- as fronteiras do Estado deixaram de ser relevantes para efeitos, por exemplo, da contenção da informação que vem do exterior e da liberdade de circulação de pessoas. Habermas costuma enunciar um exemplo acerca da impossibilidade do controlo fronteiriço das inovações científico-tecnológicas: basta a construção de uma central nuclear para pôr fim às fronteiras, porque se ela explode os efeitos não se limitam aos locais onde ela se encontra localizada.
2. A população tornou-se menos exclusiva- no modelo tradicional havia um só povo homogéneo e os direitos políticos pertenciam unicamente aos nacionais, sendo que os estrangeiros eram afastados do Governo onde residiam. Hoje em dia, reconhecem-se direitos políticos aos estrangeiros, com base na reciprocidade. Assim, se na teoria de Jellinek o povo era uno, marcado por um língua e religião oficial, atualmente reina o pluralismo ético, político e religioso.
3. A soberania tornou-se menos indivisível- a soberania significa o poder supremo no plano interno (monopólio da coação física legítima e monopólio da produção normativa) e o poder independente no plano externo (não reconhecimento de qualquer poder acima do Estado e de qualquer limitação a não ser as que provinham da aceitação de convenções internacionais). Os fenómenos da globalização e integração em modelos político-económicos têm limitado o Estado nas suas atuações a nível de política externa, além das típicas limitações aceites nas Convenções Internacionais. Por exemplo, a União Europeia emite decisões vinculativas diretamente aplicáveis aos Estados-Membros, não carecendo de intermediação e vinculando as suas empresas, cidadãos. Assim, hoje em dia, estão em curso movimentos de política que implicam a partilha de poderes soberanos.
Não existe o exercício de poder legítimo sem ideia de direito, porque o direito legitima e modera o exercício do poder. Por isso, “Estado de Direito” significa que o exercício de poder público está submetido a normas e procedimentos jurídicos que permitem ao cidadão acompanhar e contestar a legalidade, regularidade e legitimidade das decisões do poder legislativo, judicial e executivo. Além da expressão “Estado de Direito”, típica do constitucionalismo moderno da Europa Ocidental, é também difundida a expressão “Rule of Law”.Não é pacifica a coincidência conceitual destas expressões.
· “Estado de Direito”- submeter o poder ao Direito
· “Rule of Law”- traduz a ideia do primado do direito e não do primado do poder. 
Num Estado de Direito, enquanto Estado democrático e comunidade politicamente organizada, é atribuída ao ordenamento jurídico e não aos outros subsistemas funcionais a tarefa de garantir os direitos subjetivos.
Ou seja, posicionar-se a favor de um estado de direito, nos termos do civil law, ou a favor do rule of law, significa defender que as instituições políticas têm rigorosamente por finalidade a garantia dos direitos fundamentais dos indivíduos. No entanto, o valor do Estado de Direito vai além da defesa contra o Estado, visando também proteger o cidadão contra o poder da União e complexos organizativos privados, com origens transversais, sem qualquer ligação com o poder dos estados e que se formam segundo um processo designado de desterritorialização do poder. Neste sentido, o poder já não é exercido territorialmente- as circunscrições eleitorais onde exercemos o direito de voto não são as mesmas onde é decidido o nosso destino coletivo.
A desterritorialização aponta para a presença de um Estado de Direito, para além do conceito de estado moderno, fragmentado e marcado pela fragilidade da democracia.
Acórdão C-64/2016- Resulta de um reenvio prejudicial do nosso STA. O direito da UE é aplicado pelos tribunais e administração pública nacional.
“Constitucionalismo, o primado do direito da união e o eterno marido”- mostra que o sistema de peso e contrapeso que orienta a ordem europeia a impede de trair os princípios que fundaram o paradigma do constitucionalismo interno dos Estados Membros. 
REENVIO PREJUDICIAL- ARTIGO 267º TFUE
CONCEITO
A ordem jurídica europeia está ao serviço de um processo integrador e a especificidade deste ordenamento radica dos instrumento jurídicos que se articulam para obter essa integração, de entre os quais se destaca o reenvio prejudicial (artigo 267º TJUE). Sendo uma ordem jurídica que aglutina e condensa 28 tradições jurídico constitucionais, culturais e sociais diferentes, ela apenas pode operar e funcionar normalmente se houver homogeneidade e uniformidade na aplicação e na interpretação do direito da união, independentemente dos contextos nacionais em que tenham de ser aplicadas. Tem de ser assim em nome da igualdade dos cidadãos, uma vez que o DUE deve ser aplicado ao mesmo momento e com idênticos efeitos em todo o território da União, sem que os Estados Membros lhe possam opor qualquer obstáculo. Neste sentido, os tribunais nacionais ganharam um papel de relevo porque se articulam, através do reenvio prejudicial, com o Tribunal de Justiça para nos litígios onde o direito da União é invocado e/ou aplicável saberem de que forma o deverão interpretar, garantindo a uniformidade da interpretação das disposições e a validade dos atos jurídicos da União Europeia, bem como a salvaguarda dos direitos que são conferidos pela União Europeia aos particulares. Isto porque, são de facto os Tribunais Nacionais que aplicam o Direito e decidem, já que o Tribunal de Justiça não funciona como uma instância de recurso, ou seja não decide aquele litígio submetido ao juiz do tribunal nacional, limitando-se a esclarecer o sentido da disposição europeia. (além do TJUE não se pronunciar sobre o direito nacional, ele oferece ao juiz nacional, através da interpretação, todos os elementos necessários à conclusão sobre a compatibilidade ou não do direito interno com o DUE)
Assim, podemos definir Reenvio Prejudicial como sendo uma forma de controlo judicial indireto e de colaboração na administração da justiça, pelo qual o TJUE interpreta ou aprecia a validade das normas comunitárias. 
Assim, a decisão proferida pelo TJUE tem natureza interlocutória ou incidental, uma vez que não consubstancia uma solução do litígio em causa, incluindo tão só sobre a validade e interpretação da norma de direito comunitário que haja suscitado polémica. O juiz nacional é então o interlocutor direto do Tribunal de Justiça da União Europeia, já que por força do reenvio prejudicial e com, com base na decisão do TJUE, os tribunais nacionais deverão analisar os factos relevantes e concretizar o direito aplicável. Deste modo, as decisões adotadas pelo TJUE são relevantes na medida em que vinculam o tribunal de reenvio: os procedimentos judiciais nacionais suspende-se enquanto o processo de reenvio prejudicial se encontre pendente.
Christiaan Timmermanns qualifica o reenvio prejudicial como sendo o único mecanismo de diálogo formal entabulado pelos tribunais nacionais com o tribunal de justiça. Este diálogo tem a capacidade de reforçar o papel do juiz nacional, porque através do que o Tribunal de Justiça da União Europeia estabelece no seu acórdão o juiz nacional pode, inclusivamente, afastar a normade direito interno incompatível com o direito da união, mobilizável para a boa decisão da causa. 
CONTEXTUALIZAÇÃO
A existência do reenvio prejudicial determinou uma mudança de comportamento e atitude processual de todos os operadores judiciários, nomeadamente o juiz e os advogados porque apesar de ser o juiz nacional o competente para realizar o reenvio, os advogados também têm de estar conscientes da sua existência, porque nada os impede de nas suas peças processuais não só invocarem o direito da união aplicável como inclusivamente sugerirem a forma de redação da questão prejudicial a submeter pelo juiz, sensibilizando os juízes nacionais para o Direito da União aplicável, quer pela faculdade ou obrigatoriedade de enviar. Deste modo, apesar partes não terem possibilidade de suscitar incidentes no processo, nada as impede de facilitar o trabalho do juiz.
No acórdão “Gomes Valente”, o STJ dá conhecimentos ao TJ que a sua questão prejudicial lhe foi oferecida por uma das partes no recurso. É nesta perspetiva de alteração de paradigma que se afirma que a norma nacional deixa de ser a referência fundamental, na medida em que existe um corpo jurídico europeu, com o qual a norma nacional tem de se compatibilizar. É esta peculiaridade que demonstra a importância da articulação do juiz nacional com o TJUE, pois só assim se verifica a sobrevivência da ordem jurídica europeia, o seu respeito e aplicação pelos tribunais nacionais. Isto é relevante, na medida em que é esta ordem jurídica europeia que muitas vezes confere direitos a particulares, isoladamente ou considerados em grupos.
OBJETIVO
Uma ordem jurídica como a União Europeia, que consagra 28 tradições jurídico constitucionais, culturais e sociais diferentes, necessita de que haja um mecanismo que permita promover uma aplicação do DUE o mais homogéneo possível. O reenvio prejudicial promove essa homogeneidade da aplicação do DUE, garantindo que se revolve com homogeneidade e uniformidade casos semelhantes, independentemente do país, para garantir a igualdade entre os cidadãos que pertencem à união europeia. Deste modo, o reenvio permite aos particulares aceder, ainda que indiretamente, ao Tribunal Justiça da União Europeia.
DIMENSÕES
Assim, à dimensão objetiva do reenvio prejudicial, ou seja, àquela que o perspetiva como diálogo formal entre os tribunais nacionais e o tribunal de justiça, adicionou-se uma dimensão subjetiva, porque leituras mais recentes do reenvio prejudicial reconhecem-no como um mecanismo ao serviço da tutela jurisdicional efetiva, a qual só ganha observância se for aplicada com a devida finalidade para que foi criada, isto é, como um mecanismo de proteção, pelos tribunais, dos direitos decorrentes da ordem jurídica europeia. 
Note, se que além do diálogo formal, existe ainda um diálogo informal: delegações do TJUE vão aos Tribunais nacionais, receção do TJUE de juízes nacionais para discussão em sistema de mesa redonda dos casos que tenham em mãos, e outras atividades de proximidade promovidas entre os Tribunais Nacionais e o TJUE.
No Acordão Klober, de 2013, o Tribunal de Justiça da União Europeia, pronunciando-se quanto aos contornos da responsabilidade do estado juiz por ausência de reenvio, afirma expressamente que a falta de reenvio prejudicial compromete a tutela jurisdicional efetiva dos direitos dos particulares. O reenvio permite que em qualquer processo se promova a homogeneidade da interpretação e da validade dos atos adotados pelas instituições europeias permitindo-se que a mesma norma seja igualmente aplicada em todo o território da união.
FUNCIONAMENTO
O juiz nacional, precisando de aplicar norma de DUE no processo que tramita perante ele, pode ou está obrigado a colocar as suas questões de interpretação ou validade ao Tribunal de Justiça da UE. Em termos processuais tal significa que o processo interno seja suspenso (há suspensão da instância). No ponto 13 das recomendações, o Tribunal de Justiça da UE dá um alerta aos juízes dizendo-lhes que, mesmo quando não sejam quem decide em última instância, devem ainda assim reenviar a fim de promoverem a aplicação uniforme do DUE. 
No acórdão “Rheinmuller Dusseldorf”, o TJ explicou que o reenvio prejudicial ainda que facultativo significa sempre uma faculdade ilimitada do juiz para reenviar. Como a própria expressão indica tal significa que os juízes nacionais ainda que não estejam obrigados a reenviar poderão de forma ilimitada fazê-lo por conta daquela necessidade de aplicação uniforme do direito da união e da tutela jurisdicional efetiva do particular. Por sua vez, ainda que nenhuma das partes no litígio tenha invocado o Direito da União, por conta desta faculdade ilimitada, o juiz pode oficiosamente proceder ao reenvio prejudicial. 
OBJETO DO REENVIO- artigo 19, nº3, alínea b) TUE; artigo 267º
· Reenvio de interpretação- O juiz nacional visa obter do TJ o sentido material das disposições do Direito da União Europeia que ele considera mobilizáveis para a decisão da causa, ou seja, visa determinar o sentido e o alcance da disposição europeia, quer esta seja de direito originário (normas contidas no Tratado da União Europeia, na Carta dos Direitos Fundamentados ou no TFUE) quer se trate de direito derivado (diretivas e decisões- caráter vinculativo; instruções e pareceres- não têm caráter vinculativo). 
O Reenvio de interpretação é, por regra facultativo, exceto se a dúvida surgir em última instância, onde já não cabe recurso ordinário. Contudo, se a questão prejudicial surgir em 1º ou 2º instância, o tribunal goza de faculdade ilimitada para reenviar desde o Acórdão Rheinmuhlen- Dusseldorf. Surgindo alguma dúvida relativa à interpretação de uma determinada disposição, é recomendável que o reenvio prejudicial seja feito logo em 1º instância, de modo a termos uma resolução mais rápida e eficiente.
Efeitos materiais de um acórdão interpretativo: O juiz do Tribunal Nacional está vinculado a respeitar a decisão emitida pelo Tribunal de Justiça da UE, bem como todos os restantes juízes nacionais e demais instâncias internacionais que venham a contactar com o processo, devido à uniformização do DUE. A interpretação da disposição que é emitida pelo TJUE é como se se incorporasse na própria norma- efeito erga-omnes de ato interpretado- artigo 264º, 2º parágrafo TFUE.
· Reenvio de validade- tem em vista obter a apreciação de validade dos atos emitidos pelas instituições europeias, ou seja, serve para aferir da validade ou invalidade de direito derivado da ordem jurídica europeia, na medida em que o reenvio não serve para questionar a validade das disposições dos Tratados e da Carta dos Direitos Fundamentais. Isto porque, o direito originário é direito constituinte, que serve como referência para averiguar a compatibilidade das normas de direito derivado com o Direito da União.
Em questões prejudiciais de validade, o TJUE apenas pode retirar a norma do ordenamento jurídico se a concluir inválida. O Reenvio de validade é sempre obrigatório desde o Acórdão Photo-Frost, independentemente do processo estar em 1º instância ou já não couber recurso.
· Embora os órgãos jurisdicionais dos Estados Membros possam rejeitar os fundamentos de invalidade perante eles invocados, a possibilidade de declarar inválido um ato adotado por uma instituição, órgão ou organismo da União é, em contrapartida, da exclusiva competência do Tribunal.
· Qualquer órgão jurisdicional nacional deve, portanto, apresentar um pedido de decisão prejudicial ao Tribunal, quando tenha dúvidas sobre a validade do tala to, indicando as razões pelas quais considera que o mesmo pode ser inválido
· No entanto, quando tenha dúvidas sérias sobre a validade de um ato adotado por uma instituição, órgão ou organismo do União, em que se baseia um ato interno, esse órgão jurisdicional pode excecionalmente suspender, a título temporário, a aplicação deste último ou adotar qualquer outra medida provisória a seu respeito. Nesse caso, é obrigatório colocar a questão de validade ao Tribunal, indicando as razõespelas quais considera que o referido ato não é válido. 
Que vícios podem conduzir à invalidade dos atos jurídicos europeus (direito derivado)?
Os vícios que podem gerar a invalidade de uma norma de direito derivado são os que figuram no artigo 263º, segundo parágrafo do TFUE, que diz respeito ao recurso de anulação e que aqui são aplicáveis por analogia.
· Incompetência:
· Interna: quando dentro da própria instituição, os órgãos que a constituem e que praticam os atos violam suas competências; 
· Externa: quando a instituição que adotou o ato se imiscui nas competências de outra instituição ou extravasa as competências da própria União elencadas nos primeiros artigos do TUE- é uma incompetência “ultra viris”.
· Violação de formalidades essenciais- não segue os trâmites necessários, por exemplo: 
· Falta de publicação em DR 
· Insuficiências de fundamentação- é exigida no artigo 296º, nº2 TFUE.
· Violação do Tratado ou de uma norma que o aplique: há uma dimensão escondida, afere-se a violação dos princípios gerais do DUE e dos próprios direitos fundamentais consagrados na Carta dos direitos fundamentais
· Desvio do poder: quando o ato jurídico serve à prossecução de fins diversos daqueles para os quais o ato teria de ser adotado.
Efeitos materiais dos acórdãos de validade: 
· O TJUE pronuncia-se como um juiz negativo: ou se pronuncia pela invalidade ou não invalidade (semelhante ao TC);
· Quando há uma declaração de invalidade, essa invalidade vai determinar que o juiz nacional que reenviou não aplique o ato declarado inválido e, nesse sentido, a jurisprudência.
Efeitos temporais: À partida produz efeitos retroativos. A regra é, a da retroatividade, quer para os reenvios de validade, quer para os de interpretação. No entanto, por questões de segurança jurídica e de situações económicas, nos reenvios de validade poderá suceder que, excecionalmente, o TJUE indique que tipo de efeitos um ato declarado inválido poderá ainda produzir durante um determinado período de tempo,. Isto resulta da aplicação análoga do artigo 264º, 2º parágrafo TFUE.
O reenvio prejudicial, assume-se nos processos nacionais, como um incidente processual, isto é, como uma figura jurídico-constitucional. Assim, o valor das despesas a ser suportado também é determinado pelo Tribunal Nacional.
NATUREZA
· Reenvios obrigatórios:
· Nos reenvios de interpretação, estes só são obrigatórios para o juiz que decide em última instância por força do artigo 267º, 3º parágrafo;
· Os reenvios de validade serão sempre obrigatórios, ainda que realizados em 1º instância, por força da jurisprudência Foto Frost e confirmado pela jurisprudência IATA.
· Reenvios facultativos: Os reenvios de interpretação são de caráter facultativo nas vezes em que não sejam decididos em última instância, além disso o juiz goza de faculdade ilimitada de reenviar (acórdão Rheinmuller-Dusseldorf). A obrigação só se coloca para os que decidem em última instância, exceto: doutrina do ato claro- isenta o Tribunal Nacional de reenviar quando é clara e evidente a maneira como o Direito da União Europeia se deverá aplicar e se já existir jurisprudência do TJUE nessa matéria.
INADMISSIBILIDADE DO REENVIO
Vigora uma presunção de pertinência do reenvio prejudicial: quando são apresentados reenvios é porque há uma efetiva relevância dos mesmos para a resolução do caso concreto, ou seja, o reenvio é essencial à boa decisão da causa (acórdãos “Cartesio 2008” e “Elchinov 2012”).
Assim, o reenvio prejudicial só não será admitido em 3 situações concretas (situações em que o TJUE se declara incompetente:
1. Quando o litígio não tem qualquer relação com o Direito da União Europeia;
2. Quando a questão nada tenha a ver com o litígio ou com o seu objeto;
3. Se o juiz formular questões hipotéticas
O pressuposto único do reenvio prejudicial é que a questão ajude, de facto, no litígio e que tenha conexão com o direito europeu. É ao juiz nacional que cabe aferir se a questão ajuda na resolução do litígio ou não. Além disso, aquando do reenvio, o tribunal nacional deverá referir normas relevantes para a questão, especialmente no que toca a normas nacionais de aplicação ao caso concreto.
Por conta da presunção de pertinência do reenvio prejudicial, o TJUE pode reformular as questão prejudiciais que lhe foram colocadas, ou para proceder ao seu aproveitamento ou eventualmente para mudar a tipologia do reenvio prejudicial, ou seja, o Tribunal nacional até lhe dirigiu uma questão de interpretação e o TJ considera que a questão se prende com a validade do ato e vice-versa. No despacho de reenvio também por conta desta presunção de pertinência o juiz nacional deverá expor quais os factos pertinentes, qual o momento processual em que o litígio se encontra e as normas nacionais relevantes. 
O reenvio pode operar-se em qualquer fase do processo interno, mas é preferível que se realize depois do contraditório já se ter realizado.
O TRIBUNAL OPTA POR NÃO REENVIAR
· Quando a questão é tão óbvia e tão fácil de resolver, que o juiz nem coloca a hipótese de reenvio (teoria do ato claro); no entanto, o acórdão Clifit vem afirmar que, como é difícil determinar, com segurança, a clareza da questão, é melhor reenviar;
· Quando já existe jurisprudência reiterada nesse sentido.
A Doutrina do Ato Claro foi introduzida no acórdão Cilfit de 1982, e baseava–se na ideia que estando perante uma disposição clara e tão evidente os tribunais não necessitavam de reenviar. No entanto, surgiu um paradigma porque todos os tribunais começavam a justificar os não reenvios com a suposta clareza das disposições. Deste modo, o TJUE em 1984 adotou o seguinte entendimento: o órgão jurisdicional obrigado a submeter a questão prejudicial fica dispensado deste encargo se estiver diante de:
· Um disposição cujo sentido seja tão claro e evidente que não deixe lugar a qualquer dúvida razoável sobre a solução da questão de Direito em causa e a correta aplicação do DUE.
· Um pronunciamento firme ou jurisprudência consolidada do TJUE naquele domínio, jurisprudência essa que resulta de uma dúvida coincidente com a dúvida a ser atualmente tratada , ou seja, se a questão de Direito em causa já tiver sido resolvida pelo TJUE. Além disso, o juiz nacional era obrigado a consultar as várias versões linguísticas para conferir a real coincidência entre as duvidas e verificar o sentido dos termos de modo a garantir que aquela interpretação é, de facto, óbvia para todos os Estados Membros. O precedente vinculativo funciona mesmo que não esteja diante de uma situação factualmente idêntica.
PROCESSOS JUDICIAIS
Nos termos do artigo 96º do Regulamento do Processo do TJUE e do artigo 23º dos Estatutos do TJ, quando o reenvio é recebido pela secretaria do Tribunal de Justiça da União Europeia são notificadas as seguintes partes/entidades:
· Partes do processo principal;
· Todos o Estados-Membros;
· Comissão Europeia;
· Instituição Europeia autora do ato objeto de pedido de interpretação ou de validade.
Na tramitação comum, segue-se uma fase escrita, na qual os entes notificados dispõem de um prazo de 2 meses para se pronunciarem através de observações escritas, nos termos do artigo 23º, 2º parágrafo. Quando todo o processo da fase escrita está concluído, o relator elabora o relatório preliminar
A esta fase escrita pode seguir-se uma fase oral, nos termos do artigo 20º, 4º parágrafo do estatuto do TJ e artigo 70º do Regulamento do Processo do TJ. A regra geral é a dispensabilidade da fase oral. Para que esta fase se realize terá de ser apresentado um pedido nos termos do artigo 23º do estatuto do TJ. 
Havendo fase oral, ocorre a audição das conclusões dos seguintes intervenientes: 
- Os advogados das partes;
-Os outros intervenientes que foram notificados pela secretaria, independentemente de terem ou não apresentado observações escritas: o advogado geral, as testemunhas (é uma raridade) e os peritos.
Nos termos do artigo 101º do regulamento do processo do Tribunal de Justiça, o Tribunal de Justiça pode a qualquer momento pedir esclarecimentosadicionais ao tribunal nacional.
TRAMITAÇÃO DO REENVIO
Quanto à tramitação do reenvio, ela pode seguir 1 de 3 formas:
1. Tramitação comum: aquilo que foi explicado até agora. Dura mais ou menos 14,6 meses, o que se justifica pelo facto de todos os atos serem objeto de tradução para as 24 línguas oficiais da união europeia. 
2. Tramitação acelerada: artigo 23º-A do estatuto do TJ e artigo 105º do regulamento processual. Esta tramitação tem em vista avaliar o reenvio em circunstâncias de urgência e será adotada a requerimento do juiz nacional, ou excecionalmente por iniciativa do TJ. O prazo desta tramitação é de mais ou menos 6 meses. O prazo de observações escritas é comprimido de 2 meses para 15 dias.
3. Tramitação urgente- artigo 23º- A do estatuto e artigo 107º do Regulamento Processual. A tramitação urgente é adotada quando a questão objeto do reenvio, se trata de matérias relativas às liberdades, segurança e justiça, ou seja, uma das matérias elencadas no artigo 67º do TFUE. Nestas, de forma objetiva, verifica-se um periculum in mora ou seja, verifica-se um perigo na demora excessiva que pode, eventualmente, também decorrer do tempo que processualmente um reenvio prejudicial decidido através da tramitação comum poderá determinar.
É adotada com base num pedido fundamentado do órgão jurisdicional de reenvio, sendo que o pedido deve expor as circunstâncias de direito e de facto comprovativas da urgência. 
Mesmo que o Tribunal Nacional não solicite esta tramitação, o Tribunal de Justiça pode adotá-la oficiosamente, quando tal se justifique (no entanto, se o juiz nacional não lhe der conhecimento do oficio, ainda que o TJ tenha essa competência, embora a titulo excecional, o seu uso será muito pouco frequente). Um processo que demora em média 14,6 meses, pode passar a tramitar em 3 meses.
Quando no processo estão envolvidos menores (Acórdão McB) ou quando existe privação de liberdade de uma das partes do processo, o tribunal nacional, aquando do reenvio, pode solicitar ao TJ uma tramitação urgente e acelerada. Contudo, se o TJ assim o entender, pode fazê-lo oficiosamente, em situações que ele próprio entenda que é necessário acelerar o processo. A figura da tramitação está prevista no artigo 23º- A do Estatuto do Tribunal de Justiça da União Europeias, no artigo 105º a 114º Regulamento Proc. TJ e artigo 267º TFUE.
QUANTO AOS PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO
Os princípios gerais podem ser submetidos a questões de reenvio prejudicial. Além disso, podem servir de base de invalidade dos atos.
PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
PRINCÍPIO DO ESTADO DE DIREITO APLICADO Á UNIÃO DE DIREITO
A melhor forma de explicar a UE é através de uma UNIÃO DE DIREITO. A União Europeia não é um Estado na conceção moderna, mas cria Direito como se o fosse, criando normas jurídicas que vinculam obrigatoriamente as instituições europeias, Estados Membros e particulares. Neste sentido, no Acórdão Costa/ ENEL, o TJUE lembrou que, diferentemente dos demais tratados internacionais, os tratados constitutivos instituíram um ordenamento jurídico autónomo que cumpre às autoridades nacionais fazer respeitar. Daí dizer-se que a União Europeia funciona como uma União de direito, por alusão à expressão estado de direito- tal como o poder do estado se encontra subordinado e vinculado ao Direito que ele cria, também o exercício do poder público na União Europeia se encontra submetido ao direito que ela própria cria. De facto, tal não poderia ser de outra forma, uma vez que quando a União Europeia desenvolve os poderes que os Estados Membros lhe atribuíram, ela afeta a esfera jurídica dos particulares, pelo que a sua atuação se deve reger por normas e procedimentos jurídicos. Além disso, ao fazer atos jurídicos (regulamentos, diretivas, recomendações, pareceres e decisões- artigo 288º TFUE) ela rege-se pela base jurídica desta União de Direito, ou seja, pelos tratados constitutivos que funcionam como a Constituição da União Europeia, na medida em que consagram uma ordem jurídica fundamental que vincula todo o poder público europeu. São as normas que compõem os tratados constitutivos, que legitimam e fundamentam toda a atuação da Ordem Jurídica Europeia. Tal supremacia dos tratados possibilita a anulação, pelo TJUE, dos atos das instituições europeias que lhes sejam desconformes- tal como se de uma verdadeira Constituição se tratasse. Os tratados constitutivos, tal como uma Constituição preveem:
· Os objetivos a serem realizados pela União;
· Um quadro institucional próprio que obedece ao princípio do equilíbrio de poderes;
Um sistema contencioso próprio (mecanismos jurisdicionais que asseguram a proteção dos interesses individuais, os tribunais);
· Um sistema de fontes de Direito;
· Sistema de atos jurídicos/normas que podem afetar diretamente os particulares;
De facto, as leis da nossa ordem jurídica são maioritariamente de direito europeu e não de direito nacional- a União Europeia publica uma diretiva e o Estado tem um prazo para a transpor, em lei ou decreto-lei. 
O Tribunal de Justiça da União Europeia, com sede no Luxemburgo, tem duas jurisdições: 
1. Tribunal de Justiça propriamente dito- aprecia os reenvios prejudiciais e mediante as suas decisões deduzem-se princípios da união Europeia. 
2. Tribunal Geral- para o qual os particulares se dirigem com a hipótese de recurso para o tribunal de justiça propriamente dito.
Quanto ao Tribunal de Justiça propriamente dito, este percebeu que a União Europeia se deve reger por um conjunto de princípios, uma ordem jurídica autónoma constitucionalizada. Deduziu jurisprudencialmente dos tratados o princípio da União de Direito, ainda que tal não esteja consagrado expressamente. Este princípio funciona simultaneamente como um limite à atuação das Instituições Europeias e dos Estados Membros quando aplicam o direito da união ou quando entram no âmbito de aplicação deste direito e como uma garantia dos direitos dos cidadãos quando afetados por disposições europeias. Por isso se diz que a forma de direito europeu é predominantemente constitucional-a união europeia comporta-se como se a sua base jurídica fosse uma ordem constitucional, reconhecendo os tratados constitutivos como a sua Constituição e constitucionalizando o Direito Europeu.
A CONSTITUIÇÃO EUROPEIA concebida nestes termos é muito diferente das Constituições Nacionais concebidas e elaboradas por um poder constituinte, porque a Constituição Europeia deriva de um processo de constitucionalização dos Tratados e de um diálogo entre todas as Constituições dos Estados Membros, assumindo, segundo Poiares Maduro, a forma de uma Constituição Plural. Assim, o Constitucionalismo Europeu assenta numa legitimidade plural porque radica de uma pluralidade de fontes constitucionais. Ao contrário das ordens jurídicas nacionais, a União Europeia não tem uma constituição formal, mas apenas material, porque não foi criada pela Assembleia Constituinte. É um novo constitucionalismo, que procura uma nova plataforma de entendimento entre as várias perspectivas dos 27 Estados-membros, e superar a ideia de que o poder político e a sua Constituição estão vinculados a um território e a um povo. 
Pelos mesmos motivos, Gomes Canotilho defende que o processo de integração europeia deve ser estudado a partir da teoria da interconstitucionalidade, ou seja, a partir de uma rede de constituições nacionais a conviverem no mesmo plano político e onde não existe uma hierarquia normativa, na medida em que as normas provêm de distintas fontes. No entanto, esta rede de constituições nacionais não altera o papel do estado enquanto agente insubstituível e termos de prestações sociais, decisões. De qualquer forma, não há como negar as novas circunstâncias políticas da integração europeia. A União Europeia é uma nova forma de organização do poder político, de tal forma dinâmica, que o direito constitucional nacional já não consegue captar o dinamismo do direito europeu.
Princípio do primado do direito europeu sobre o direitonacional acórdão Costa /ENEL
Acórdão Costa/Enel- 1964- neste acórdão a jurisprudência assentou as bases da prevalência do direito da União Europeia sobre o direito nacional, ou seja, definiu as coordenadas do primado do direito da União Europeia sobre o Direito Nacional. Costa era acionista de uma empresa que foi nacionalizada e integrada na ENEL. O governo italiano alegava que o reenvio prejudicial era inadmissível e que o juiz nacional tinha que se limitar a aplicar a legislação interna. O Tribunal de Justiça da União Europeia retorquiu, afirmando que não será ele que vai decidir o caso, nem apreciar a conformidade do direito da UE com o direito nacional. No entanto, ele podia interpretar o direito nacional, de modo a que o juiz nacional tirasse as devidas conclusões acerca da compatibilidade de ambas as ordens jurídicas ou então respondesse ao caso mediante o direito da união. O TJUE relembrou ainda, que a transferência de competências pelos Estados Membros em favor das instituições europeias implica uma limitação definitiva dos seus poderes soberanos naqueles domínios, sendo que a consequência de tal limitação é a impossibilidade dos estados Membros fazerem prevalecer uma medida unilateral contra à ordem jurídica europeia que é resultado de um consenso de todos os estados membros. Isto porque, os tratados constitutivos da UE instituíram um ordenamento jurídico autónomo que necessita ser respeitado pelas ordens jurídicas e não pode encontrar limitações em legislações nacionais ou em direito internacional. 
O Tribunal afirma também, que se a efetividades das disposições europeias variasse de um estado membro para o outro em função de normas internas maximu de normas constitucionais, isso colocaria em causa a realização dos objetivos da lealdade europeia que é um principio determinante para o funcionamento da União (artigo 4º, nº3 do TUE) e geraria uma desigualdade em função da nacionalidade (proibida pelo atual artigo 18º TFUE). O direito da União Europeia tem que ser aplicado de pleno direito, ao mesmo tempo e com idênticos efeitos em todo o território, sem que os Estados Membros lhes possam opor qualquer obstáculo. Caso contrário, pôr-se-ia em causa a integração europeia e a igualdade jurídica (igualdade de submissão jurídica de todos os estados membros ao direito da união + igualdade de posições jurídicas dos distintos cidadãos dos EM, que é salvaguardada pelos constantes diálogos), que caracterizam e mantêm unidas 28 tradições normativas, jurisprudenciais, com marcadas diferenças. Assim, o Tribunal de Justiça, ao dialogar com os tribunais nacionais, esclarece-os e vincula-os acerca da interpretação jurídica de certas disposições europeias, assumindo um papel impulsionador no processo de integração.
Neste acórdão, o TJUE realça ainda que os Estados Membros não se podem subtrair das obrigações decorrentes dos Tratados, sendo que os casos em que Estados têm o direito de agir unilateralmente se encontram indicados. Para o TJUE a prevalência do direito da União encontra confirmação, na disposição do artigo 288º do TFUE, segundo a qual os regulamentos são obrigatórios e diretamente aplicáveis em todos os Estados Membros.
Assim, este acórdão vem afirmar a autonomização do direito da União Europeia, deixando claro que o direito europeu e as normas nacionais que transpõem disposições europeias e executam o direito da UE não pode ser aplicadas à luz do constitucionalismo nacional, mas sim à luz do constitucionalismo plural da UE, uma vez que assenta numa reivindicação de autoridade normativa própria e na construção de uma comunidade política emergente. Assim, é no próprio direito da União que encontramos o fundamento e os critérios da sua interpretação e aplicação, não sendo os tribunais nacionais que decidem os termos em que as normas vão ser aplicadas. (*)
O princípio do primado do Direito da União sobre o Direito Nacional, impõe a prevalência do Direito da União sobre o direito nacional que lhe seja desconforme. Ou seja, se uma norma nacional e uma norma europeia entrarem em conflito, as instituições nacionais estão não só autorizadas como obrigadas a afastar a norma nacional e a aplicar o direito de União Europeia, sendo obrigadas a tomar todas as medidas que facilitem a efetividade do direito da União. Ou seja, quem assegura a prevalência europeia sobre a norma nacional é a Administração Pública e o juiz nacional, cabendo-lhes, não só a não aplicação do direito nacional incompatível com o direito da União, como também a supressão de todas as consequências de um ato nacional contrário ao direito da União e o controlo da aplicação do direito da União, sancionando o seu desrespeito. 
Este primado do direito da União Europeia não resolve problemas de convivência de toda e qualquer norma (apenas entre normas provenientes de diferentes fontes, designadamente normas nacionais e europeias), nem qualifica todo e qualquer ato jurídico europeu, mas apenas os atos emitidos em conformidades com os tratados constitutivos (que funcionam como a constituição da UE). Como diz García de Enterría, a prevalência da ordem geral trata-se de uma “necessidade funcional da qual depende a própria sobrevivência do sistema enquanto tal.”
Além disso, não converte a União num superior hierárquico dos Estados Membros- só existe hierarquia de normas entre normas procedentes do mesmo sujeito e neste caso temos uma relação entre dois ordenamentos, onde sequer se fala de invalidade, mas de preferência e prevalência aplicativa do direito europeu em benefício da própria funcionalidade sistémica. Ou seja, o primado não se fundamenta na hierarquia, mas na aplicação preferente de umas normas sobre outras de distinta fonte, sendo todas em princípio válidas. Logo não há qualquer incompatibilidade entre o princípio da constitucionalidade (artigo 3º, nº3 CRP) e o princípio do primado do Direito da União.
Assim, as constituições nacionais perderam a primazia de outrora, porque são agora constituições dos estados-membros da UE, cujo conteúdo deve estar adaptado e ser interpretado de acordo com a construção europeia, porque o direito europeu prima sobre as normas constitucionais dos estados-membros, algo que a nossa CRP consagra nos artigos 8 nº4 (reconhece o primado 
Apesar da União Europeia funcionar como um sistema federativo, ou seja, como união onde se partilham os poderes com vista à prossecução de objetivos comuns, o facto é que nos distintos Estados Membros os cidadãos não contactam com uma administração federada mas sim com autoridades nacionais que atuam nas vestes das entidades europeias. Deste modo, os cidadãos vão assimilando as normas europeias. 
PRINCÍPIO DA LEALDADE EUROPEIA
Do compromisso cooperativo estabelecido entre os vários Estados Membros envolvidos na integração europeia, decorre um princípio de lealdade europeia (ou cooperação leal), com consagração expressa no artigo 4º, nº3 do TUE. (*)Dele resulta que não existem fundadas razões para temer o direito derivado da União (atos jurídicos emitidos pelas instituições europeias), nem o princípio da primazia do Direito Europeu sobre o direito nacional porque segundo este princípio, a União e os Estados Membros apoiam-se e respeitam-se mutuamente no cumprimento dos tratados, ou seja, os Estados Membros comprometem-se a adotar medidas necessárias ao cumprimento dos objetivos dos tratados e a não adotar medidas legislativas, administrativas e judicias que possam comprometer a prossecução dos objetivos da UE, e a UE, por sua vez, respeita a igualdade dos Estados Membros, as suas identidades constitucionais, instituições e funções tradicionais. Assim, este princípio equilibra o relacionamento entre os Estados Membros e a União Europeia, estabelecendo uma “obrigação de fidelidade ao conjunto”. Da lealdade europeia, resulta que a eventual violação da entidade constitucional ou do núcleo essencial da Constituição de um Estado Membro por um ato jurídico europeu, leva à invalidade desse ato europeu por violação da ordem jurídica europeiae o TJUE terá de o declarar. 
A União Europeia é provavelmente o único sistema federativo suja Constituição (tratados constitutivos) adota formalmente tal princípio; noutros ordenamentos jurídicos, as justiças constitucionais tiveram de o deduzir do espírito das correspondentes Constituições
O princípio da lealdade Europeia é o princípio mãe de muitos outros princípios da UE no processo da constitucionalização dos tratados (processo de converter todas as normas num tratado de base mediante diálogo com os Tribunais nacionais), o que quer dizer que deste princípio o Tribunal de Justiça da União Europeia deriva jurisprudencialmente uma série de outros princípios que enformam a ordem jurídica europeia:
· Princípio do primado do Direito da União Europeia sobre o direito nacional (este não consta dos tratados e nem é imperioso que conste- porque o princípio da lealdade já basta para que a justiça europeia dele derive a exigência do primado do Direito da União). 
· Princípio da efetividade do Direito da União
· Princípio da interpretação conforme
· Princípio do efeito direto das normas europeias
· Princípio da tutela jurisdicional efetiva
· Princípio da responsabilidade do estado por violação das obrigações europeias
Tem-se verificado um desenvolvimento federativo da justiça europeia, ancorado no princípio da lealdade. Exemplos:
1. No Acórdão Deutsche Grammophon de 1971, o TJUE ressaltou que os tratados enunciam um “dever geral de cooperação entre Estados-Membros e Comunidade na aplicação do Direito Comunitário”.
2. No acórdão Comissão Contra República Helénica de 1989, o TJUE afirmou que a lealdade europeia obriga as autoridades nacionais a procederem, no que se refere às violações do Direito da União, “com a mesma diligência com que atuam na aplicação das normas nacionais correspondentes”.
3. No acórdão Factofarme de 1990, o TJUE lembrou que, por força do princípio da lealdade europeia, os órgãos jurisdicionais nacionais devem assegurar a proteção jurídica dos particulares (ou a tutela jurisdicional efetiva dos direitos decorrentes da ordem jurídica europeia.
4. No acórdão Franchovich de 1991, o TJUE usou a lealdade europeia para fundamentar a obrigação de reparação dos danos causados aos particulares por violação do direito da União por parte dos Estados-Membros.
A jurisprudência do TJ é reconhecida como sendo uma Jurisprudência principialista, ou seja, a tendência seguida pelas jurisdições dos Estados Membros da União Europeia e pelas jurisdições da União Europeia é que o TJ diga o caso concreto manejando a interpretação de princípios gerais e direitos fundamentais. 
Vale, deste modo, empregar a máxima: diz-me se um tribunal aplica princípios, que dir-te-ei que justiça ele faz- porque os princípios, na medida em que transportam a prescrição de um valor, são e devem ser as normas fundamentadoras das decisões. Isto não significa que a jurisprudência possa ou deva desprezar regras jurídicas precisas e densas- estas nunca podem ser desprezadas porque o direito não pode ser só enformado por princípios.
Na obra de Dworkin deduzimos que os princípios transportam a prescrição de um valor e as regras são normas jurídicas que regulam uma situação jurídica especifica. Ou seja, o conteúdo dos princípios é mais abstrato e cada principio como norma jurídica que é, protege e proíbe algo, tem um ângulo de aplicação muito definido.
Esta visão principialista do Direito corresponde a uma exigência das sociedades pluralistas e interculturais dos nossos tempos: porque os princípios ressoam para cada um de nós seja qual for a nossa inclinação religiosa, filosófica e político partidária. São eles que oferecem substantividade ao Ordenamento Jurídico, sendo indispensáveis ao seu funcionamento. 
Como diz, Zagrebelsky, os princípios correspondem a uma tentativa de positivação de conteúdos de justiça.
PRINCÍPIO DA UNIÃO DE DIREITO ACÓRDÃO “OS VERDES” DE 1986
O Acórdão “Os Verdes”, juntamente com o Acórdão “Costa Enel” ajudam a construir a perspetiva jurídico constitucional da UE, ou seja, a ideia da União Europeia como uma União de Direito. 
O princípio da União de Direito foi deduzido e densificado do acórdão “Os verdes” no qual o Tribunal de Justiça da União Europeia afirma que a Comunidade Económica Europeia era uma comunidade de direito no sentido de que nem os Estados Membros que a integram, nem as instituições europeias estão subtraídas ao controlo de conformidade dos seus atos com a Carta Constitucional de base da União. Neste acórdão, estava em causa um recurso de anulação- recurso próprio para atracar a validade de atos diretamente num tribunal geral com possibilidade de recurso para o tribunal superior (63º TFUE)- sobre decisões de reembolso de despesas de uma campanha eleitoral sobre a qual os verdes não concordavam. 
No âmbito do recurso era necessário saber se o tribunal seria competente para reconhecer desse recurso, porque naquela altura o recurso estava limitado a atos do Conselho e da Comissão Europeia e não a atos do parlamento europeu, porque este, tendo em conta o processo de democratização, tinha funções de controlo político e não tinha o poder de adotar atos com efeito na esfera jurídica de terceiros. O TJ decidiu que toda a atuação das instituições europeias deve estar subordinada ao direito e acabou por anular as decisões do parlamento europeu.
Deste modo, neste acórdão, o Tribunal reconhece a União Europeia como uma União de Direito e os tratados como a base e constituição da União Europeia, realçando que o paradigma da construção Europeia é constitucional.
Um dos acórdãos que muito relevou para a ideia de União Europeia como União de direito foi o acórdão Mecanarte C-348/89- aulas práticas. Este é um acórdão que releva não tanto pela matéria mas pela afirmação do juiz nacional, como uma peça essencial da Ordem jurídica europeia. O Tribunal de Justiça afirma que o reenvio fornece um meio para o juiz nacional superar as dificuldades que porventura possam resultar das exigências da efetividade do direito da UE. O mais importante do acórdão é o pronunciamento do TJ sobre a questão da inconstitucionalidade: o TN que reenviou perguntou ao Tribunal de Justiça o que fazer perante uma controvérsia atinente ao DUE e que contraria também a Constituição europeia. 
Nos termos do artigo 280º CRP, quando o juiz se recusa a aplicar com fundamento na inconstitucionalidade cabe recurso para o Tribunal Constitucional. 
O TJ diz que a obrigatoriedade de recurso para o Tribunal Constitucional não perturba a faculdade ou se for caso disso a obrigatoriedade de reenvio para o Tribunal de Justiça. Ou seja, o Tribunal Nacional antes de suscitar a fiscalização da constitucionalidade tem de proceder ao reenvio prejudicial, porque a questão de direito não se confunde com a questão da inconstitucionalidade. Além disso, os critérios de aplicação e interpretação do direito da União continuam a ser definidos por ele próprio, daí que em 1º lugar se resolva o problema do direito da UE e se a questão não ficar resolvida pela via do direito da união então, resolve-se pela via da constitucionalidade.
Acórdão Arselor – C127/07- (ver conclusões do advogado poiares maduro)- dele resulta que a validade de um ato jurídico europeu tem de ser apreciada à luz do direito da UE, ainda que alegadamente infrinja normas constitucionais. Se se pudesse invocar as Constituições Nacionais dar-se-ia uma aplicação seletiva e discriminatória das normas da União, o que comprometeria o principio da União de Direito, porque compromete a lealdade e a não discriminação em função da nacionalidade. Assim, em 1º lugar é necessário proceder à averiguação da compatibilidade dessa norma cujo conteúdo transcreve uma norma europeia, com o direito da União Europeia ou aferir a validade da disposição europeia da diretiva.
A OJ portuguesa, no artigo 8º, nº4 CRP reconhece o primado do direito da UE sobre o Direito Interno e Gomes Canotilho e Vital Moreira referem que o direitoda UE prevalece sobre normas nacionais porque a jurisprudência sempre se pronunciou neste sentido. Assim, o DUE não pode ser declarado inconstitucional nem desaplicado por alegada inconstitucionalidade .
Neste acórdão: 
Os recorrentes eram empresas do setor siderúrgico que solicitaram às autoridades francesas que revogassem normas de um decreto que transpõe normas da diretiva relativa à emissão de gases com efeito de estufa, porque violavam normas de valor constitucional da Constituição francesa: principio da igualdade. O setor dizia ser alvo de diferença de tratamentos injustificados perante outros setores como o plástico. Ao pôr em causa a constitucionalidade das normas, ele põe em causa a constitucionalidade das diretivas, quando devia começar por ter questionado a validade das normas da diretiva na qual o decreto se baseia, ou seja, verificar a validade das normas mediante os parâmetros da União Europeia. 
O TN reenvia e pergunta se a diretiva é valida à luz da Constituição Francesa e o TJ diz que o principio da igualdade de tratamento à luz da união exige que situações iguais não seja tratadas de modo diferente, e que situações diferentes não sejam tratadas de modo igual, exceto se a diferenciação for justificada. O TJ disse que os relatórios científicos demonstravam que as emissões do setor cirúrgico eram superiores aos restantes setores e por isso o principio da igualdade (fundamento da suposta invalidade) não se revela suscetível de afetar a validade da diretiva. 
Por tudo isso, Gomes Canotilho e Vital Moreira dizem que a abertura da constituição portuguesa e a construção da UE representam uma transformação radical do paradigma de estado constitucional e da estadualidade portuguesa porque se deu uma evolução que fez com que a ordem constitucional de todos os EM da UE seja uma ordem parcial. Ou seja, as ordens dos EM estão inseridas numa Ordem supranacional, a Ordem Jurídica Europeia. Por isso, é que a introdução do artigo 8º CRP foi uma das mais importantes alterações constitucionais, na medida em que dela decorre que o direito nacional não pode servir de obstáculo a vigência do direito da união europeia e que o direito da UE não pode ser declarado inconstitucional ou desaplicado por alegada inconstitucionalidade. A jurisprudência te vindo a afirmar este primado do Direito da União sobre o Direito Nacional. O reconhecimento pela CRP de que é o direito da UE que define os critérios da sua aplicação ou interpretação, seja o direito originário ou derivado da união, é uma manifestação de competências próprias do direito da UE.
PRINCIPIO DA EFETIVIDADE DO DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
O DUE resulta de uma evolução contínua para a qual concorreu a jurisprudência do TJ mas sobretudo o envolvimento dos Tribunais Nacionais através do mecanismo do reenvio prejudicial. Os juízes nacionais, juntamente com o grande contributo dos advogados, ao questionar o Tribunal de Justiça sobre a interpretação ou validade de normas, reconhecem-lhe autoridade decisória. Deste modo, este poder e autoridade não advêm apenas dos tratados constitutivos, mas em grande escala do diálogo estabelecido por via do reenvio prejudicial. 
Por força do princípio da lealdade que orienta o funcionamento do sistema multinível e federativo que é a União Europeia, o Tribunal de Justiça deduziu o princípio da efetividade em sentido amplo, com consagração no artigo 19º do TUE. Este princípio postula que as autoridades nacionais devem garantir o efeito útil das disposições europeias. 
As normas criadas pela União Europeia e que compõem o Direito da UE são, de facto, aplicadas nos distintos membros pela Administração Pública Nacional, sendo os tribunais nacionais quem zela pela sua aplicação. Num sistema em que o juiz nacional é também juiz europeu, a efetividade em sentido amplo do direito da UE não implica inferioridade dos tribunais nacionais ou do direito nacional, na medida em que é o mesmo juiz que aplica o mesmo direito e por isso o conflito entre normas europeias e nacionais é resolvido pelo papel da rede europeia, dando-se preferência à aplicação do DUE.
A alternativa a este modelo em rede, em que o juiz e a AP são ao mesmo tempo nacionais e europeus, seria uma administração federal em que temos juízes federais e tribunais nacionais. Mas isto não pode ocorrer porque a salvaguarda do direito europeu é feita através dos vários direitos processuais internos dos EM. 
Esta ideia de efetividade em sentido amplo e a obrigação de garantir o efeito útil das disposições europeias acarreta que os tribunais nacionais e, nomeadamente, o juiz nacional sejam autorizados a adotar por autoridade própria as medidas necessárias para afastar obstáculos de direito interno que afetem a aplicação do direito da UE, o que se pode traduzir numa obrigação de abstenção (não aplicar normas incompatíveis com o direito da União) ou obrigação positiva (criar ex novo vias de direito adequadas à plena efetividade do direito da união). Desta forma, o juiz nacional é fortalecido muito para além dos limites do direito interno. Mas tudo exige uma mudança de paradigma: que os operadores jurídicos compreendam que a norma interna está inserida num ordenamento jurídico global, supranacional que atende aos seus próprios fins e objetivos. É este ordenamento jurídico supranacional que integra os OJ parciais quem determina os critérios de aplicação e interpretação da norma nacional que transpõe ou executa o direito da UE.
A assimilação das exigência do primado do DUE não foi problemática, quer em Portugal, quer nos EM que não enviam frequentemente com a intensidade necessária como foi o caso português há algum tempo. Isto porque, através dos operadores jurídicos os EM não hesitaram em reconhecer a prevalência do direito da UE ou afastar normas nacionais incompatíveis com o direito da UE. Durante muito tempo os TN portugueses decidiram sobre o direito da União sem reenvio prejudicial, o que não favorecia a uniformidade e homogeneidade do direito da UE.
Acórdãos relevantes: 
1. Acórdão “Kempter” de 2008- C-2/06- estava em causa saber se o princípio da lealdade obsta ou não à aplicação de dois artigos do CPA alemão relativos à reabertura de processos encerrados por um ato administrativo que se tornou definitivo. Tais artigos estabeleciam o prazo de 3 meses, a contar do conhecimento dos factos. A kempter era uma empresa alemã que entre 1990 e 1992 exportou bovinos para países árabes e ex-jugoslávia, e por isso recebeu restituições à exportação por parte do Serviço Aduaneiro. No entanto, no âmbito de uma ação de fiscalização verificou-se que parte dos animais tinham morrido ou foram abatidos durante o transporte para países terceiros. Assim, o serviço aduaneiro exigiu a Kempter o reembolso das restituições à exportação por si recebidas.
A Kempter interpôs recurso judicial dessa decisão até à última instância, mas foi-lhe negado provimento ao recurso e a decisão tornou-se definitiva em 1995.
Posteriormente, em 2000, no Acórdão Emsland-Starke, o TJUE interpretou uma disposição europeia num sentido favorável à posição defendida por Kempter, rejeitando os controlos a posteriori. Nesse acórdão, o Tribunal havia rejeitado os controlos feitos após o pagamento das restituições à exportação. Kempter requereu assim a revogação do reembolso em causa, mas teve a sua pretensão rejeitada. Dirigiu-se aos tribunais alemães e por via de reenvio o Tribunal de Justiça da União Europeia foi chamado a pronunciar-se. O juiz nacional pretendia (1) saber se a AP tem a obrigação de reexaminar ou ratificar uma decisão que adquiriu caráter definitivo embora a kempter numa tenha falado de interpretação equivocada do direito da UE e (2) saber se o pedido de reexame da decisão contrária ao direito da UE estaria limitado temporalmente. 
O TJ disse que o reexame da decisão administrativa definitiva, à luz de uma posterior jurisprudência do TJUE, não depende de que o recorrente no processo principal tenha invocado a interpretação equivocada, porqueé o juiz nacional quem zela pela efetividade do DUE. Da mesma forma que o Tribunal Nacional não aplica normas em desconformidade com o direito da constituição, independentemente da invocação das partes, ele também não aplica normas contrárias ao direito da união. Além disso, o Direito da União não impõe qualquer limite temporal à apresentação de um pedido de reexame de uma decisão administrativa definitiva. Os EM devem fixar prazos de recursos razoáveis, mas sempre em conformidade com os princípios da efetividade e da equivalência, ou seja, o prazo de recurso não deve ser menos favorável do que aqueles previstos para situações análogas em direito interno e não pode dificultar ou impossibilitar o exercício dos direitos conferidos pela Ordem Jurídica da União.
2. Acórdão “Lucchini” de 2007- C-119/05
Estava em causa a recuperação de auxílios de Estado por parte da administração italiana, que tinham sido declarados incompatíveis com o direito da UE. A empresa lucchini recusava-se a devolver os montantes porque o pagamento do auxilio teria adquirido força da caso julgado. Isto porque antes de ser proferida a decisão da Comissão que declarou o auxílio incompatível com o mercado interno, a Lucchinni acionou judicialmente as autoridades italianas competentes a fim de que fosse reconhecido o seu direito ao pagamento do auxílio completo inicialmente pedido- e os tribunais italianos deram-lhe provimento. Para fazer valer os seus interesses recorre aos tribunais. O juiz nacional através do reenvio pergunta se é juridicamente possível a recuperação de um auxilio de Estado por parte da Administração Italiana, não obstante uma sentença cível que declara a obrigação de pagamento à Lucchinni ter adquirido força geral? O TJUE vem dizer que a autoridade no caso julgado não pode obstaculizar a correta aplicação e efetividade do direto da união europeia, ou seja, o DUE tem que ser respeitado, ainda que o princípio do caso julgado seja um principio geral do direito. Assim, o direito da União opõe-se ao caso julgado quando isto obsta ao reembolso do montante que havia sido concebido em violação do Direito da União.
Acerca destas questões relativas ao princípio da autoridade das decisões administrativas definitivas e ao caso julgado: o TJUE afirma que as disposições processuais nacionais relacionadas com autoridade das decisões administrativas definitivas se opõem à garantia efetiva dos direitos decorrentes do Direito da União. 
O ordenamento interno não pode valer-se no princípio da autoridade do caso julgado para subverter o direito da UE.
PRINCÍPIO DO EFEITO DIRETO E PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME
Principio do efeito direito e interpretação conforme- surgiram diretamente associados às dificuldades que se sentiram na aplicação homogénea do direito da União adotado por diretivas. Nos termos do artigo 288º do TFUE a diretiva é um tipo de ato legislativo que tem como destinatários os Estados membros e portanto, demanda que estes adotem meios tendentes à observância dos seus fins. Significa isto, portanto, que a diretiva é vinculativa quanto aos fins a atingir deixando, no entanto, margem de discricionariedade quanto aos meios para atingir tais fins. Esta obrigação decorre do princípio da lealdade europeia e impõem-se a todas as autoridades dos Estados Membros. No entanto, na história da integração europeia foi-se detetando que nem sempre os Estados membros interpretavam tas fins no sentido confluente, o que fazia com que diferentes sentidos fossem adotados para a mesma disposição das diretivas. Já para não falar dos casos em que os Estados Membros não as transponham no tempo conferido para o efeito. Chamado a pronunciar-se o Tribunal de Justiça teve a necessidade de encontrar meios que garantissem ou restabelecessem a cooperação leal tal como a mesma se encontra consagrada nos tratados.
A lealdade europeia é composta por uma relação triangular na medida em que esta pressupõe que a União Europeia haja/atue com lealdade para com os Estados Membros, que os Estados Membros atuem com lealdade para com a União Europeia e que os Estados Membros atuem com lealdade entre si. Encontrando-se consagrado no artigo 4º nº3 do TUE, o TJ começou a dele derivar um conjunto de outros princípios gerais a que a doutrina tem dado o nome de corolários. Entre estes e com particular importância para a análise do acórdão Marybel Dominguez encontramos o princípio do efeito direto por um lado e por outro o princípio da interpretação conforme.
Desde o surgir do principio do efeito direto na jurisprudência do TJ, este princípio confere a faculdade/suscetibilidade a um particular, entenda-se pessoa singular ou pessoa coletiva, de invocar uma disposição de uma diretiva contra o Estado, mediante o preenchimento de certos requisitos:
1) a disposição da diretiva conferir direitos ou criar obrigações (com impacto na esfera jurídica do particular);
2) de forma clara, precisa e incondicionada (a disposição está apta a produzir os seus efeitos sem necessidade de qualquer medida complementar) 
3) em sentido vertical, ou seja no sentido do particular contra o Estado. 
4) depois de decorrido o prazo de transposição da diretiva
Por isso, o efeito direto surgiu desde sempre para reforçar a posição jurídica dos particulares perante o incumprimento do DUE por parte dos Estados Membros, porque este direito impõe obrigações aos estados membros dos quais se realçam direitos subjetivos para os particulares, que as autoridades têm que zelar.
O efeito direto distingue-se da aplicabilidade direta: suscetibilidade de aplicação de disposição europeia na ordem interna sem necessidade de transposição ou reconhecimento por parte de um EM. As normas constantes de uma diretiva não gozam de aplicabilidade direta mas podem gozar de efeito direto, nomeadamente vertical, uma vez que carecem de um texto de transposição.
O acórdão Van Gend & Loos - 26/62, é considerado o pronunciamento mais importante de sempre do TJUE, no qual se começou a desenvolver o principio do efeito direto, uma vez que o TJUE reconheceu que os particulares podiam invocar as normas constantes dos Tratados contra os estados membros, se esses tratados estabelecessem obrigações de abstenção para os Estados Membros de forma clara e incondicionada. Neste acórdão, o TJUE fala de uma vigilância exercida pelos particulares no contexto da UE, com grande revelo para a salvaguarda da correta aplicação da UE. 
A Van Gend era uma empresa de transportes que propôs uma ação de repetição do indevido contra a Administração fiscal irlandesa, pelo facto da Administração nacional ter cobrado direitos aduaneiros em desconformidade com o direito da UE. O desfecho do caso dependia de se saber se o particular podia invocar diretamente o atual artigo 30º do TFUE que prevê a proibição de cobrança de direitos aduaneiros de exportação e importação no âmbito dos Estados Membros. O TJUE reconheceu o efeito direto do atual artigo 30º TFUE, ou seja, os EM não podem cobrar entre si pela importação ou exportação entre EM. Isto porque, a imposição do artigo 30º cria direitos subjetivos para os particulares, que devem ser salvaguardados pelos EM. Cria ainda uma obrigação clara, precisa e incondicionada (não está sujeita a prazo), uma obrigação de não fazer para o Estado Membro, sendo que essa norma não estava sujeita a qualquer medida de concretização e transposição por parte do EM. Assim, essa obrigação de não fazer tinha efeitos diretos entre as relações dos particulares com os EM. 
O efeito direto foi afirmado para reforçar a tutela jurisdicional efetiva da qual depende a integração europeia. Assim, o TJUE reconhece que os direitos nascem no contexto do direito da União não apenas das situações dos tratados mas também por contrapartida das obrigações que são impostas aos Estados Membros, particulares e União.
Para gozar de efeito direto a norma precisa de ser clara, precisa e incondicionada: mas o TJ já reconheceu que a disposição basta que seja suscetível de ser clarificada por interpreta
ransposta.nsporta de modotil.EM onde a direta nidade com o DUE, porque a obrigaç mas midade estados menbros,mto, um limite inção judicial. Além disso a disposição deve ser apta a produzir os seus efeitos sem necessidades de intervenção do Estado e para tal basta que ela não confira um poder discricionário a quem concretiza a disposição para regular ex novo a relação entre a disposição e o particular.
Ao longo do tempo, o TJ foi flexibilizando os critérios paralelamente ao principio da interpretação uniforme. 
RELATIVAMENTE AO EFEITO DIRETO HORIZONTAL: Segundo a jurisprudência do TJUE as disposições de diretivas não produzem/ gozam de efeito direto horizontal, não criando, por si só, obrigações na esfera jurídica dos particulares. Assim, não podem ser invocadas por um particular contra outro particular com o intuito de excluir a aplicação de uma norma interna eventualmente em desconformidade com o DUE, porque as diretivas têm como destinatários os Estados Membros (288º TFUE), não vinculando diretamente o particular. (Note-se, no entanto, que o artigo 288º TFUE não diz que a diretiva obriga apenas os EM, tendo tal interpretação resultado do TJUE). 
Esta ideia foi sendo desenvolvida no acórdão Marshall – 152/84.
Mas ao longo do tempo, a ausência do efeito horizontal das disposições das diretivas foi tentado ser compensada, de modo a ultrapassar a situação de fragilidade a que estão sujeitos os particulares dos Estados Membros onde a diretiva não foi transposta em tempo útil ou foi mal transposta. Deste modo, perante casos em que uma disposição da diretiva confira direitos de forma clara, incondicionada, depois de já ter decorrido o prazo de transposição, mas sendo invocada por um particular contra outro particular, o TJUE decidiu através da proteção de direitos fundamentais ou pela proclamação de outros princípios gerais de direito acautelar o mesmo efeito útil que resultaria se se tivesse reconhecido o efeito direto horizontal.
· Assim, em 1º lugar o TJUE desenvolveu o princípio da interpretação conforme- postula que o intérprete e o aplicador do direito nacional devem interpretar as disposições nacionais de acordo com o direito da União (no caso, devem interpretar à luz do texto e da finalidade da diretiva, para atingir o resultado por ela pretendido), desde a entrada em vigor da diretiva- e não apenas a partir do momento em que se esgota o prazo para a sua transposição. Isto porque, é durante o prazo previsto para a transposição da diretiva que os Estados Membros devem tomar as medidas necessárias para garantir que o resultado imposto pela diretiva seja atingido quando o prazo expirar. Além disso, a lealdade europeia impede os Estados Membros de adotarem medidas suscetíveis de comprometer seriamente o resultado prescrito por uma diretiva e os impele a assegurar o cumprimento das obrigações decorrentes da ordem jurídica europeia (artigo 4º TUE).
Mesmo que o Estado transponha mal uma diretiva, quem a vai interpretar e aplicar, deve fazê-lo à luz do espírito da norma europeia. A interpretação conforme deve ser feita de acordo com os limites da interpretação extensiva do Ordenamento Jurídico interno.
A obrigação da interpretação conforme decorre da conjugação dos artigos 4º, nº3 do TUE com o artigo 288º, nº3 do TFUE e foi pensada para zelar pelos imperativos de efetividade e boa aplicação do Direito da União- que decorrem do princípio da lealdade europeia e obrigam a todos os órgãos do Estado Membro. Ocorre que esta exigência da interpretação foi adquirindo proporções mais arrojadas e hoje reconhece-se que todo o direito nacional aplicável deve ser interpretado em conformidade com o direito da União.
· Mas se o direito interno não puder ser aplicado por via da interpretação conforme, o particular lesado pode acionar o Estado numa ação de responsabilidade por violação do direito da UE desde que a diretiva tenha por objetivo a atribuição de direitos aos particulares, desde que o conteúdo possa ser identificado com base nas disposições da diretiva e haja um nexo entre a obrigação que incumbe ao estado e os danos sofridos pelo particulares.
Historicamente a interpretação conforme surge depois do efeito direto na jurisprudência do TJUE, como corolário da cooperação leal ou da lealdade europeia. Este princípio impõe quer à AP nacional, quer aos tribunais nacionais sempre que se deparem com legislação nacional aparentemente contrária ou com sentido conflituante com o direito da UE, antes de mais tentar atribuir às disposições nacionais um sentido conforme ou compatível com as disposições europeias. Só deixam de aplicar a disposição de direito interno, se a interpretação conforme não for possível e ela não será possível quando se conhecem alguns dos seus limites:
· Limite de uma interpretação contra legem: a interpretação não pode conduzir à interpretação contra legem do direito interno;
· Limite da observância dos princípios gerais do direito interno: não pode conduzir à violação dos princípios gerais do ordenamento jurídico interno.
Como já vimos esta foi uma das vias encontradas para fazer face às limitações decorrentes do não reconhecimento do efeito direto horizontal. No entanto, ao longo do tempo o próprio TJUE tem vindo a privilegiar este princípio só despoletando o efeito direto em segunda instância, quando a interpretação conforme não permitir solucionar o problema. Tal deve-se ao facto de que conduzir uma interpretação conforme ou compatível do direito interno à luz do direito da União terá um efeito menos nefasto na ordem jurídica interna porque apenas promoverá que a norma nacional seja interpretada em conformidade enquanto o efeito direto poderá determinar a desaplicação da norma incompatível e a sua substituição no caso concreto pela disposição de direito da União
Daqui resulta, que todas as disposições europeias podem ser invocadas em juízo no sentido de obter uma interpretação do direito interno conforme ao direito europeu. Começa assim a atenuar-se a ideia de ausência de efeito direto das disposições das diretivas. Acórdãos relevantes:
· Acórdão Maria Pupino de 2005 C-105/03- o TJUE reconheceu que os particulares têm o direito de invocar disposições que não gozam de efeito direto com vista a obter uma interpretação do direito nacional em conformidade com o direito da UE. Por isso se diz que se o Tribunal Nacional estiver atento ás obrigações que decorrem da interpretação conforme ao direito da UE então a distinção entre o que pode ou não gozar de efeito direto é menos relevante do que parece.
· Acórdão Mangold de 2005 C-144/04- neste acórdão o TJUE reconhece que uma disposição constante de uma diretiva que concretize uma disposição geral do DUE não depende do prazo de transposição para afastar uma norma interna em desconformidade com a diretiva.
O litígio prendia-se com uma diferenciação de tratamento em função da idade e o prazo para transposição da diretiva ainda não havia expirado quando se deu o contrato. O TJUE decidiu que à luz da diretiva e à luz do principio da igualdade que ela concretiza, a idade do trabalhador não pode ser o único critério para o que a norma nacional concretiza. Relativamente ao facto do prazo para transposição da norma ainda não ter decorrido, o TJUE vem afirmar que o respeito pelo principio da igualdade de tratamento e pela não discriminação não pode depender do termo do prazo concedido ao EM para transpor a diretiva destinada a aplicar um quadro geral de luta contra as discriminações em razão da idade. Ou seja, daqui decorre que o Tribunal nacional não deve aplicar disposições contrarias ao principio da igualdade, salvaguardando a efetividade do direito da união e a igualdade jurídica.
Assim, o TJUE escudou-se no principio da igualdade e no princípio da não discriminação em função da idade para contornar o problema da ausência do efeito direto das disposições das diretivas. 
· Acórdão Coleman: a senhora Coleman trabalhava num escritório de advogados (entidade privada) e é adotada uma diretiva que promove a igualdade no acesso ao emprego. Mas essa diretivanão foi transposta e o prazo de transposição já tinha passado. A senhora tinha um filho com deficiência o que fazia com que ela faltasse muitas vezes ao trabalho. O advogado geral foi Poiares Maduro. 
Ela tentou mostrar que há uma disposição de diretivas que lhe confere direitos de forma clara, precisa e incondicionada, depois de decorrido o prazo de transposição da diretiva e isso não ter acontecido. Mas o problema é que ela invoca a disposição contra o escritório de advogado o que configura uma relação de efeito direto horizontal.
O TJUE nunca proibiu o efeito direto horizontal, apenas confrontado com o mesmo decidiu trilhar um caminho alternativo, concretamente no acórdão o TJUE entende que a senhora deveria ser protegida em razão da deficiência do seu filho mas para isso, tal direito emerge do principio da discriminação acolhido no ordenamento jurídico da UE, e simultaneamente acolhido no ordenamento dos diversos estados membros. 
Desde a entrada em vigor da CDFUE, muitos dos direitos aí contemplados gozam de efeito direto horizontal e são concretizados sob a forma de diretivas. Isso acarreta a invocabilidade das disposições dessas diretivas em caso de litígios entre particulares? 
· Processo Seda Kucukdeveci C-555/07: o advogado geral sugeriu que o TJUE refletisse se a identificação de direitos garantidos como diretivas permitiria ou não reforçar a invocação das disposições de diretivas caso essas diretivas concretizassem direitos fundamentais. Neste acórdão estava em causa um litígio entre seda e a entidade trabalhadora e que se prendia com a discriminação em função da idade concretizada por uma diretiva. A não discriminação em função da idade não estava consagrada na constituição alemã ou portuguesa.
Visto o principio da não discriminação em função da idade se opor à legislação nacional em causa, o TJUE entendeu que essa disposição nacional deve ser afastada. É com base no principio da igualdade, tal como concretizado pela diretiva, que se deve avaliar se o DUE se opõe ou não a uma norma nacional como aquela que releva. Ou seja, a norma de referência para o TJUE foi o principio da igualdade. 
O TJ não quis equiparar as diretivas aos regulamentos e para compensar incongruências ele converteu o principio da igualdade de tratamento numa válvula de escape para afastar normas nacionais que se opõe as disposições de uma diretiva.
· Acórdão AMS- C-176/12: o TJUE limitou a extensão do acórdão Seda pois entendeu que o principio da igualdade, mais concretamente o artigo 21º da CDFUE basta para limitar uma disposição nacional. Mas isso não sucede com outros direitos fundamentais, como o direito à informação e consulta dos trabalhadores (27º CDFUE) porque da redação destes direitos resulta que para que o artigo produza plenamente os seus efeitos ele deve ser precisado por disposições de direito da UE e direito nacional e, nessa medida, as disposições não gozam de efeito direito. Assim, o artigo 27º da carta não pode ser invocado num litígio entre particulares a fim de afastar a aplicação de normas nacionais eventualmente incompatíveis com a diretiva 2002/14 que regula esse direito à informação, mas podia dar aso a responsabilização do Estado por violação do DUE se ficarem preenchidos os requisitos desta responsabilidade. Os direitos sociais são direitos a prestações e dependem de concretização por parte dos estados e por isso é que o TJ recuou e afirmou o não efeito direto.
PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE DO ESTADO POR VIOLAÇÃO DO DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA
Não encontra consagração expressa, autónoma, em nenhuma norma dos Tratados. No entanto, enquanto corolário da lealdade europeia, foi derivado do artigo 4º, nº3 do Tratado da União. De facto, dentre as obrigações decorrentes da lealdade europeia para os Estados Membros encontra-se aquela de eliminar as consequências ilícitas de uma violação do direito da União. Como o próprio tribunal de justiça diz no acórdão GÜNTER FUß, trata-se de um princípio inerente ao próprio sistema dos Tratados. 
O Tribunal densifica a questão da inerência mediante dois princípios:
· Princípio da efetividade do Direito da União Europeia- é preciso proteger os direitos que se reconhecem aos particulares;
· Princípio da cooperação leal: é uma norma positivada que impõe que se eliminem as consequências resultantes da violação do direito da união: obrigação de reparar.
Implica para os Estados membros a obrigação de repararem os danos causados aos particulares, decorrentes da violação de direito da união que lhes seja imputável. Na sua jurisprudência, o TJUE ressalta que, para fins de responsabilidade, o Estado Membro é considerado na sua globalidade (unidade), ou seja, a responsabilidade ser-lhe-á sempre exigida independentemente da autoridade pública que esteja concretamente na origem do dano, e a quem incumba o ónus, da reparação. Deste modo, vamos ter várias dimensões, Estado legislador, Estado Judicial ou Estado administração. Isto facilita o trabalho do TJUE e do particular que não têm, para se pronunciar ou intentar a ação, conhecer a organização interna do Estado em questão.
A ação de responsabilidade é proposta perante os Tribunais Nacionais do Estado Membro, cabendo a estes a disponibilização de uma via de direito adequada à invocação de tal princípio pelos particulares lesados.
Quanto ao órgão jurisdicional competente para resolver litígios em matéria de responsabilidade do Estado e determinar a indemnização, resulta da jurisprudência do TJUE que será um Tribunal Nacional, mas sempre em “conformidade com as orientações fornecidas para o efeito pelo Tribunal de Justiça”.
Para que o Estado Membro seja obrigado a ressarcir os prejuízos causados ao particular em decorrência do incumprimento do Direito da União é necessário o preenchimento de três condições cumulativas:
1) A Norma de Direito da União Europeia que confere Direitos aos particulares tenha sido violada (não implica que a norma seja provida de efeito direto e muito menos de aplicabilidade direta. Mesmo que uma norma europeia não produza originariamente efeito direto- como é o caso das disposições constantes das diretivas- pode criar direitos para os particulares em decorrência das obrigações que impõe aos Estados);
 
2) Essa violação seja suficientemente caracterizada- É um conceito indeterminado e implica apreciações de facto e de direito.*
3) Haja um nexo de causalidade entre a violação da obrigação que incumbe ao Estado e o dano sofrido pelo particular.
Sendo pressupostos cumulativos, se um destes pressupostos não verificar não emerge responsabilidade do Estado por violação de direito da união. Da leitura sobre os vários acórdãos sobre a responsabilidade do Estado, verificaremos que o Tribunal de justiça normalmente se pronuncia pelo preenchimento ou não dos dois primeiros pressupostos, devolvendo a aferição de preenchimento do nexo de causalidade ao Tribunal nacional, porque é perante este que a prova se vai produzir e se vai verificar se o dano derivou da violação daquela disposição de direito da União. 
Nesse contexto a doutrina tem entendido que uma violação será suficientemente caracterizada:
· Quanto maior for o grau de precisão e clareza da norma violada;
· Quanto menor for o âmbito da margem de apreciação que a norma violada deixa às autoridades nacionais, (quanto menor for a discricionariedade). 
*O Tribunal de Justiça deu exemplos concretos de casos paradigmáticos de uma violação suficientemente caracterizada:
· Ausência de reenvio prejudicial quando era obrigatório- a obrigatoriedade de reenvio prejudicial cria direitos para os particulares cuja violação é “em si mesma” suscetível de responsabilizar o Estado. Daqui resulta, que o artigo 267º do TFUE concede autonomamente direitos aos particulares decorrentes das obrigações impostas aos Estados Membros.
· Existência de uma disposição de uma diretiva cujo efeito direto já tenha sido reconhecido- se a norma violada gozar de efeito direto, automaticamente o segundo pressuposto da norma ser suficientemente

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