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Situação problema 1 – Módulo XV 1. Descrever inflamação e identificar os sinais cardinais que caracterizam o processo inflamatório (calor, rubor, dor, edema e perda de função). REFERÊNCIA: Fisiopatologia – Porth O processo inflamatório é uma resposta que se destina a eliminar a causa inicial de lesão celular, remover o tecido danificado e produzir um novo. O processo ocorre por meio da destruição, da digestão enzimática, da compartimentalização ou de qualquer outro modo de neutralizar os agentes nocivos, como toxinas, corpos estranhos ou microrganismos infecciosos. Estes processos preparam o terreno para os eventos que acabarão por cicatrizar o tecido danificado. Assim, a inflamação se mostra intimamente entrelaçada com os processos de reparação, que substituem o tecido danificado ou preenchem os defeitos residuais com tecido cicatricial fibroso. Inflamação é a reação de tecidos vascularizados a uma lesão. Ela se caracteriza pela ação de mediadores inflamatórios, como os do sistema complemento, o fator de necrose tumoral a, o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), os neutrófilos e o amiloide sérico, assim como pelo movimento de líquidos. O processo inflamatório geralmente localiza e elimina micróbios, partículas estranhas e células anormais e viabiliza a reparação do tecido lesionado. A descrição clássica de um processo inflamatório tem sido transmitida ao longo do tempo. No primeiro século d.C., a reação local da lesão foi descrita em termos atualmente conhecidos como sinais cardinais do processo inflamatório. Estes são rubor (vermelhidão), tumefação (inchaço), calor e dor. No século 2 d.C., foi adicionado um quinto sinal cardinal, functio laesa (perda de função). Além dos sinais cardinais que aparecem no local da lesão, podem ocorrer manifestações sistêmicas ou constitucionais (p. ex., febre) à medida que mediadores químicos (p. ex., citocinas) produzidos no local da inflamação entram no sistema circulatório. A grande variedade de manifestações sistêmicas durante um processo inflamatório agudo é conhecida como resposta de fase aguda. O grau da resposta inflamatória pode ser influenciado por vários fatores, como a duração da lesão, o tipo de agente estranho, o grau de lesão e o microambiente. 2. Descrever os eventos vasculares e celulares da resposta inflamatória, correlacionando-os com os pontos cardinais da inflamação: (vasodilatação, exsudação, compressão das terminações nervosas, migração de leucócitos). REFERÊNCIA: Fisiopatologia – Porth Fase vascular As alterações vasculares decorrentes do processo inflamatório envolvem arteríolas, capilares e vênulas da microcirculação. Essas alterações se iniciam logo após a lesão e se caracterizam por vasodilatação, alterações no fluxo sanguíneo, aumento da permeabilidade vascular e extravasamento de líquido nos tecidos extravasculares. A vasodilatação, uma das primeiras manifestações do processo inflamatório, começa depois de uma constrição transitória das arteríolas, que dura alguns segundos. A vasodilatação envolve primeiramente as arteríolas e, em seguida, resulta na abertura dos leitos capilares na região afetada. Como resultado, a área se torna congestionada, causando a vermelhidão (eritema) e o calor associados a um processo de inflamação aguda. A vasodilatação é induzida pela ação de vários mediadores, como a histamina e o ácido nítrico. A vasodilatação é rapidamente seguida por aumento da permeabilidade da microcirculação, com o transbordamento de um líquido rico em proteína (exsudato) para os espaços extravasculares. A perda de líquido ocasiona aumento da concentração de constituintes do sangue (hemácias, leucócitos, plaquetas e fatores de coagulação), estagnação do fluxo e coagulação do sangue no local da lesão. Isso ajuda a localizar a disseminação de microrganismos infecciosos. A perda de proteínas plasmáticas reduz a pressão osmótica intracapilar e aumenta a pressão osmótica do líquido intersticial, de modo que este se desloque para os tecidos e produza tumefação (i. e., edema), dor e comprometimento funcional, que são os sinais cardinais do processo inflamatório agudo. A exsudação de líquido para os espaços teciduais também serve para diluir o agente agressor. O aumento da permeabilidade característico de um processo inflamatório agudo resulta da formação de lacunas endoteliais nas vênulas da microcirculação. A ligação de mediadores químicos a receptores endoteliais provoca a contração das células endoteliais e a separação das junções intercelulares. Este é o mecanismo mais comum de derrame vascular e é induzido pela ação de histamina, bradicinina, leucotrienos e muitas outras classes de mediadores químicos. Padrões de resposta vascular. Dependendo da gravidade da lesão, as alterações vasculares que acontecem com um processo inflamatório seguem um de três padrões de resposta. O primeiro padrão é uma resposta transitória imediata, como no caso de ferimentos leves. É um tipo de resposta que se desenvolve rapidamente após a lesão e geralmente é reversível e de curta duração (15 a 30 min). Tipicamente, este tipo de derrame afeta vênulas com 20 a 60 µm de diâmetro, não afetando capilares e arteríolas. Embora não seja conhecido o mecanismo exato para que este efeito se restrinja às vênulas, pode refletir a maior densidade dos receptores no endotélio das vênulas. Além disso, tem sido sugerido que os eventos leucocitários posteriores do processo inflamatório (i. e., adesão e emigração), na maioria dos órgãos, também ocorram predominantemente nas vênulas. O segundo padrão é uma resposta sustentada imediata, que ocorre com lesões mais graves e continua durante vários dias. Esta resposta afeta arteríolas, capilares e vênulas e geralmente é o resultado de danos diretos ao endotélio. Os neutrófilos que aderem ao endotélio também podem danificar células endoteliais. O terceiro padrão é uma resposta hemodinâmica tardia, na qual se dá um aumento da permeabilidade nas vênulas e nos capilares. A resposta tardia frequentemente acompanha lesões resultantes de exposição à radiação, como queimaduras solares. O mecanismo de derrame é desconhecido, mas pode originar-se de um efeito direto do agente nocivo, que conduz a danos tardios nas células endoteliais. Fase celular A fase celular do processo inflamatório agudo se caracteriza pelas alterações nas células endoteliais que revestem o sistema vascular e pelo deslocamento de leucócitos fagocíticos para a área de lesão ou infecção. Embora a atenção tenha se concentrado no recrutamento de leucócitos do sangue, uma resposta rápida requer também a liberação de mediadores químicos a partir de células teciduais (mastócitos e macrófagos) pré- posicionadas nos tecidos. A sequência de eventos na resposta celular à inflamação inclui leucócitos de: 1. Marginação e adesão ao endotélio 2. Transmigração através do endotélio 3. Quimiotaxia 4. Ativação e fagocitose. Marginação, adesão e transmigração. Durante as fases iniciais da resposta inflamatória, os leucócitos permanecem concentrados ao longo da parede do endotélio. O crosstalk entre os leucócitos do sangue e do endotélio vascular define um evento inflamatório definitivo e garante adesão segura e aprisionamento de leucócitos ao longo do endotélio. Como consequência, os leucócitos retardam sua migração, aderem firmemente ao endotélio e começam a se deslocar ao longo da periferia dos vasos sanguíneos. Este processo de acumulação de leucócitos é denominado marginação. A liberação subsequente de moléculas de comunicação celular chamadas citocinas faz as células endoteliais que revestem os vasos expressarem moléculas de adesão celular, como selectinas, que se ligam a carboidratos localizados nos leucócitos. Esta interação retarda o fluxo e faz os leucócitos se deslocarem ao longo da superfície das células endoteliais em um movimento de rolamento, e, quando finalmente imobilizados,aderirem fortemente a moléculas de adesão intercelular (ICAM, intercellular adhesion molecules), fixando-se ao endotélio. A adesão provoca a separação das células endoteliais, possibilitando que os leucócitos estendam pseudópodes, façam a transmigração através da parede vascular e, em seguida, pela influência de fatores quimiotáticos, migrem para os espaços teciduais. Várias famílias de moléculas de adesão estão envolvidas no recrutamento de leucócitos, incluindo selectinas, integrinas (VLA5) e a superfamília das imunoglobulinas. As selectinas são uma família de três proteínas intimamente relacionadas (Pselectina, Eselectina e Lselectina) que diferem em sua distribuição celular, mas todas funcionam no processo de adesão de leucócitos a células endoteliais. A superfamília das integrinas consiste em 30 proteínas estruturalmente semelhantes que promovem interações intercelulares e entre célula e MEC. O nome integrina deriva da hipótese de que elas coordenem (integrem) sinais de ligantes extracelulares com motilidade dependente do citoesqueleto, alteração de formato e respostas de células fagocíticas do sistema imunológico. As moléculas de adesão da superfamília das imunoglobulinas incluem ICAM-1, ICAM-2 e a molécula de adesão vascular (VCAM)-1, sendo que todas interagem com as integrinas nos leucócitos para mediar o recrutamento. Quimiotaxia. Quimiotaxia é o processo dinâmico e guiado por energia de migração celular direcionada. Assim que os leucócitos deixam os capilares, eles vagam através dos tecidos orientados por um gradiente de quimioatratores secretados, como quimiocinas, resíduos bacterianos e celulares e fragmentos de proteínas produzidos pela ativação do sistema complemento (p. ex., C3a, C5a). As quimiocinas, subgrupo importante de citocinas quimiotáticas, são pequenas proteínas que orientam o tráfego de leucócitos durante os estágios iniciais do processo inflamatório ou lesão. Diversas células imunológicas (p. ex., macrófagos) e não imunológicas secretam esses quimioatratores para assegurar o movimento dirigido de leucócitos até o local de infecção. Ativação de leucócitos e fagocitose. Durante a fase final da resposta celular, monócitos, neutrófilos e macrófagos dos tecidos são ativados para englobar e degradar as bactérias e os fragmentos celulares em um processo denominado fagocitose. A fagocitose envolve três etapas distintas: (1) reconhecimento e aderência; (2) englobamento; e (3) morte intracelular. A fagocitose é iniciada pelo reconhecimento e pela ligação de partículas por receptores específicos na superfície de células fagocíticas. Esta ligação é essencial para capturar o agente, o que desencadeia o englobamento e ativa o potencial de matar de uma célula. Os micróbios podem se ligar diretamente à membrana de células fagocíticas por diferentes tipos de receptores de reconhecimento de padrão (p. ex., receptores tolllike e receptores de manose) ou indiretamente, por intermédio de receptores que reconhecem micróbios revestidos por lectinas de ligação com carboidratos, anticorpos ou complemento. O revestimento de um antígeno pelo anticorpo ou complemento para melhorar a ligação é denominado opsonização. A endocitose mediada por receptores é desencadeada por opsonização e ligação do agente para fagocitar receptores da superfície celular. A endocitose é realizada por extensões citoplasmáticas (pseudópodes) que cercam e encerram a partícula em uma vesícula fagocítica delimitada por membrana, ou fagossomo. Uma vez no interior do citoplasma celular, o fagossomo se funde com um lisossomo citoplasmático que contenha moléculas antibacterianas e enzimas que sejam capazes de matar e digerir o micróbio. A morte intracelular de micróbios patogênicos pode ser conseguida por intermédio de vários mecanismos, incluindo produtos tóxicos de oxigênio e nitrogênio, lisozimas, proteases e defensinas. As vias metabólicas de ruptura que geram produtos tóxicos de oxigênio e nitrogênio (i. e., óxido nítrico, peróxido de hidrogênio e ácido hipocloroso) requerem a existência de oxigênio e enzimas metabólicas, como mieloperoxidase, nicotinamida adenina dinucleotídio fosfato (NADPH)oxidase e NOsintetase. Vias independentes de oxigênio produzem vários tipos de enzimas digestivas e de moléculas antimicrobianas (p. ex., defensinas). Indivíduos que nascem com defeitos genéticos em algumas destas enzimas sofrem de condições de imunodeficiência que os tornam suscetíveis a infecções bacterianas repetidas. REFERÊNCIA: Patologia Básica – Robbins Alterações Vasculares As principais reações vasculares da inflamação aguda são o aumento do fluxo sanguíneo resultante da vasodilatação e o aumento da permeabilidade vascular, ambos destinados a trazer células sanguíneas e proteínas para os sítios de infecção ou lesão. Enquanto o encontro inicial de um estímulo nocivo, como um microrganismo, é com os macrófagos e outras células do tecido conjuntivo, as reações vasculares induzidas por essas interações logo se seguem e dominam a fase inicial da resposta. Alterações no Fluxo e Calibre Vasculares. As alterações nos vasos sanguíneos iniciam-se rapidamente após lesão ou infecção, mas desenvolvem-se em velocidades variáveis, dependendo da natureza e gravidade do estímulo inflamatório original. • Após vasoconstrição transitória (que dura apenas segundos), ocorre vasodilatação das arteríolas, resultando em aumento do fluxo sanguíneo e abertura dos leitos capilares. Essa expansão vascular é a causa da vermelhidão (eritema) e calor observados, caracteristicamente, na inflamação aguda e mencionados anteriormente como dois sinais cardinais da inflamação. • Como a microcirculação torna-se mais permeável, o líquido rico em proteínas extravasa para dentro dos tecidos extravasculares. A perda de líquido faz com que as hemácias fiquem mais concentradas, aumentando, assim, a viscosidade do sangue e diminuindo a velocidade da circulação. Essas alterações são refletidas, microscopicamente, pela presença de numerosos pequenos vasos dilatados, repletos de hemácias, um processo chamado estase. • Quando a estase se desenvolve, os leucócitos (principalmente os neutrófilos) começam a se acumular ao longo da superfície endotelial vascular, um processo chamado marginação. Essa é a primeira etapa da jornada dos leucócitos através da parede vascular para dentro do tecido intersticial. Aumento da Permeabilidade Vascular. O aumento da permeabilidade vascular leva à saída de líquido rico em proteínas e células sanguíneas para os tecidos extravasculares. Isso provoca aumento da pressão osmótica do líquido intersticial, levando a maior efluxo de água do sangue para os tecidos. O acúmulo de líquido rico em proteínas resultante é chamado exsudato. Os exsudatos devem ser distinguidos dos transudatos, que são acúmulos de líquido intersticial, causados pelo aumento da pressão hidrostática, geralmente como consequência da redução do retorno venoso. Os transudatos contêm baixas concentrações de proteína e pouca ou nenhuma célula sanguínea. O acúmulo de líquido nos espaços extravasculares é chamado de edema; o líquido pode ser transudato ou exsudato. Os exsudatos são típicos da inflamação, ao passo que os transudatos se acumulam em várias condições não inflamatórias. Vários mecanismos podem contribuir para o aumento da permeabilidade vascular nas reações inflamatórias agudas: • Contração da célula endotelial, formando lacunas intercelulares nas vênulas pós-capilares, é a causa mais comum do aumento da permeabilidade vascular. A contração da célula endotelial ocorre rapidamente após a ligação da histamina, bradicinina, leucotrienos e muitos outros mediadores químicos aos receptores específicos e geralmente é de curta duração (15-30 minutos). Uma retração mais lenta e prolongada das células endoteliais, resultante de alterações do citoesqueleto, pode ser induzidapor citocinas, como fator de necrose tumoral (TNF) e interleucina 1 (IL-1). Essa reação pode se desenvolver em 4-6 horas após o estímulo inicial e perdurar por 24 horas ou mais. • Lesão endotelial resultando em extravasamento vascular, causando necrose e desprendimento da célula endotelial. A lesão direta às células endoteliais é vista geralmente após lesões graves (p. ex., queimaduras e algumas infecções). Na maioria dos casos, o extravasamento começa imediatamente após a lesão e persiste por várias horas (ou dias) até que os vasos danificados sejam trombosados ou reparados. Dependendo do local da lesão, todas as vênulas, capilares e arteríolas podem ser afetados. A lesão direta às células endoteliais pode induzir também o extravasamento prolongado tardio que começa após um retardo de 2-12 horas, que dura várias horas ou mesmo dias, e envolve vênulas e capilares. Os exemplos incluem lesão térmica leve a moderada, certas toxinas bacterianas e radiação X ou ultravioleta (isto é, queimadura solar que aparece ao anoitecer, após um dia no sol). As células endoteliais também podem ser lesadas como consequência do acúmulo de leucócitos ao longo da parede do vaso. Os leucócitos ativados liberam muitos mediadores tóxicos, discutidos adiante, que podem causar lesão ou desprendimento endotelial. • Aumento da transcitose de proteínas através de canais formados pela fusão de vesículas intracelulares aumenta a permeabilidade das vênulas, especialmente após a exposição a certos mediadores, como o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF). • Extravasamento de novos vasos sanguíneos. Como descrito adiante, o reparo do tecido envolve a formação de novos vasos (angiogênese). Esses brotamentos vasculares permanecem permeáveis até que as células endoteliais em proliferação se diferenciem suficientemente para formar junções intercelulares. As novas células endoteliais expressam aumento de receptores para mediadores vasoativos, e alguns dos fatores que induzem a angiogênese diretamente (p. ex., VEGF) induzem diretamente o aumento da permeabilidade vascular. Embora esses mecanismos de permeabilidade vascular sejam separáveis, todos podem participar da resposta a um estímulo em particular. Por exemplo, em uma queimadura térmica, o extravasamento resulta da contração endotelial mediada quimicamente, bem como da lesão endotelial direta e mediada por leucócito. Respostas dos Vasos Linfáticos. Além dos vasos sanguíneos, os vasos linfáticos participam também da resposta inflamatória. Na inflamação, o fluxo da linfa é aumentado e auxilia a drenagem do fluido do edema, dos leucócitos e restos celulares do espaço extravascular. Nas reações inflamatórias mais severas, especialmente aos micróbios, os linfáticos podem transportar o agente lesivo, contribuindo para sua disseminação. Os vasos linfáticos podem tornar-se inflamados secundariamente (linfangite), bem como os linfonodos de drenagem (linfadenite). Os linfonodos inflamados estão frequentemente aumentados devido à hiperplasia dos folículos linfoides e ao aumento do número de linfócitos e células fagocíticas que revestem os seios dos linfonodos. Essa constelação de alterações patológicas é chamada de linfadenite reativa ou inflamatória. Para os clínicos, a presença de estrias vermelhas, vizinhas a uma ferida na pele, constitui um sinal de infecção na ferida. Essa estriação segue o curso dos canais linfáticos e é diagnóstica para linfangite; esta pode ser acompanhada por aumento doloroso dos linfonodos, indicando linfadenite. Eventos Celulares: Recrutamento e Ativação dos Leucócitos Como mencionado inicialmente, uma importante função da resposta inflamatória é transportar os leucócitos ao local da lesão e ativá-los. Os leucócitos ingerem agentes ofensivos, destroem bactérias e outros micróbios, e eliminam os tecidos necróticos e substâncias estranhas. O preço pago pelo potencial defensivo dos leucócitos é que, uma vez ativados, podem induzir lesão tecidual e prolongar a inflamação, já que os produtos dos leucócitos que destroem micróbios podem também lesar os tecidos normais do hospedeiro. Os mecanismos de defesa do hospedeiro incluem vigilância e equilíbrio que assegurem que os leucócitos sejam recrutados e ativados apenas quando necessário (isto é, em resposta a invasores estranhos e tecidos mortos). De fato, a ativação sistêmica de leucócitos pode ter consequências graves, como no choque séptico. Recrutamento dos Leucócitos. Normalmente, os leucócitos fluem rapidamente no sangue e, na inflamação, eles têm de ser parados e levados ao agente agressor ou ao local da lesão tecidual, sítios tipicamente extravasculares. A sequência de eventos no recrutamento dos leucócitos da luz vascular para o espaço extravascular consiste em (1) marginação e rolagem ao longo da parede do vaso; (2) aderência firme ao endotélio; (3) transmigração entre as células endoteliais e (4) migração para os tecidos intersticiais, em direção a um estímulo quimiotático. A rolagem, a aderência e a transmigração são mediadas pela interação das moléculas de adesão nas superfícies dos leucócitos e do endotélio. Os mediadores químicos — e certas citocinas quimioatraentes — afetam esses processos, modulando a expressão ou a avidez das moléculas de adesão e estimulando a movimentação direcional dos leucócitos. Marginação e Rolamento. Como o sangue flui dos capilares para as vênulas pós-capilares, as células circulantes são deslizadas pelo fluxo laminar contra a parede do vaso. Além disso, os eritrócitos menores tendem a se mover mais rápido do que os grandes leucócitos. Como consequência, os leucócitos são empurrados para fora da coluna axial, possibilitando uma oportunidade melhor de interagir com as células endoteliais de revestimento, especialmente quando ocorre a estase. Esse processo de acúmulo de leucócitos na periferia dos vasos é chamado de marginação. Se as células endoteliais são ativadas por citocinas e outros mediadores produzidos localmente, elas expressam moléculas de adesão às quais os leucócitos aderem firmemente. Subsequentemente, os leucócitos destacam-se e rolam na superfície endotelial, aderindo transitoriamente, em um processo chamado de rolamento. As adesões rápidas e transitórias envolvidas na rolagem são mediadas pelas moléculas de adesão da família das selectinas. As selectinas são receptores expressos nos leucócitos e no endotélio contendo um domínio extracelular que se liga a açúcares (daí a parte lectina do nome). Os três membros dessa família são a E- selectina (também chamada CD62E), expressa nas células endoteliais; a P-selectina (CD62P), presente no endotélio e nas plaquetas; e a L-selectina (CD62L), na superfície da maioria dos leucócitos. As selectinas ligam-se a oligossacarídeos (p. ex., sialil-Lewis X nos leucócitos) que estão ligados às glicoproteínas semelhantes à mucina, em várias células. Normalmente, as selectinas endoteliais são expressas em níveis baixos ou não estão presentes em todas as células normais. Elas são hiper-reguladas após estimulação por citocinas e outros mediadores específicos. Portanto, a ligação dos leucócitos é grandemente restrita ao endotélio, nos locais da infecção ou da lesão (onde os mediadores são produzidos). Por exemplo, em células endoteliais não ativadas, a P-selectina é encontrada primariamente nos corpúsculos intracelulares de Weibel- Palade; entretanto, dentro de minutos de exposição a mediadores como histamina ou trombina, a P-selectina é distribuída à superfície celular, onde facilita a ligação do leucócito. De modo semelhante, a E-selectina e o ligante para L-selectina, não expressos em endotélio normal, são induzidos após estimulação por mediadores inflamatórios como IL-1 e TNF. Adesão. Os leucócitos em rolagem são capazes de sentir as mudanças no endotélio que iniciam a próxima etapa na reação dos leucócitos, que é uma firma adesão às superfícies endoteliais.Essa adesão é mediada pelas integrinas expressas nas superfícies celulares dos leucócitos e que interagem com seus ligantes nas células endoteliais. As integrinas são glicoproteínas heterodiméricas transmembrana que medeiam a adesão dos leucócitos ao endotélio e a várias células da matriz extracelular. As integrinas são expressas, normalmente, nas membranas plasmáticas dos leucócitos, em estado de baixa afinidade, e não aderem a seus ligantes apropriados até que os leucócitos sejam ativados pelas quimiocinas. As quimiocinas são quimioatraentes secretados por várias células nos locais de inflamação e estão expressas na superfície do endotélio. Quando os leucócitos aderentes encontram as quimiocinas, as células são ativadas e suas integrinas sofrem mudanças conformacionais, agrupam-se e convertem-se a um estado de alta afinidade. Ao mesmo tempo, outras citocinas, notavelmente o TNF e a IL-1 (secretadas também nos locais da lesão e infecção), ativam as células endoteliais para aumentar sua expressão de ligantes para integrinas. Esses ligantes incluem a ICAM-1 (molécula 1 de adesão intercelular), a qual se liga às integrinas LFA- 1 (CD11a/ CD18) e antígeno macrófago 1 (isto é, Mac-1 CD11b/CD18) e VCAM-1 (molécula 1 de adesão vascular), que se liga à integrina VLA-4 (Tabela 2-2). O engajamento de integrinas pelos seus ligantes leva sinais aos leucócitos que resultam em alterações do citoesqueleto que regulam a firme adesão ao substrato. O resultado final do aumento de afinidade das integrinas estimuladas por citocinas e o aumento de expressão dos ligantes de integrina é a adesão estável dos leucócitos às células endoteliais, nos locais da inflamação. Transmigração. Após a aderência na superfície endotelial, os leucócitos migram pela parede do vaso, espremendo-se entre as células ao nível das junções intercelulares (embora a passagem pelo citoplasma da célula endotelial também tenha sido descrita). Esse movimento dos leucócitos, chamado de diapedese, ocorre principalmente nas vênulas da circulação sistêmica, observado também nos capilares da circulação pulmonar. A migração dos leucócitos é orientada pelas quimiocinas, produzidas nos tecidos extravasculares, as quais estimulam a movimentação dos leucócitos em direção a seus gradientes químicos. Além disso, a PECAM-1 (molécula de aderência plaquetária, também chamada CD31), uma molécula de adesão celular expressa em leucócitos e células endoteliais, medeia os eventos de ligação necessários para os leucócitos atravessarem o endotélio. Após a passagem pelo endotélio, os leucócitos secretam colagenases que degradam focalmente a membrana basal dos vasos, atravessando-a. Quimiotaxia. Após o extravasamento, os leucócitos migram em direção ao local da lesão ou infecção, ao longo de um gradiente químico, processo chamado de quimiotaxia. Substâncias exógenas e endógenas podem atuar como fatores quimiotáticos para os leucócitos e incluem: • Produtos bacterianos, particularmente os peptídeos com terminal N-formil-metionil. • Citocinas, especialmente as pertencentes à família das quimiocinas. • Componentes do sistema complemento, em particular o C5. • Produtos da via da lipoxigenase do metabolismo do ácido araquidônico (AA), particularmente o leucotrieno B4 (LTB4). Esses mediadores, que são descritos em mais detalhes adiante, são produzidos em resposta a lesões e infecções, e durante as reações imunológicas. A infiltração de leucócitos em todas essas situações resulta de ações das várias combinações dos mediadores. As moléculas quimiotáticas se ligam a receptores específicos na superfície celular, os quais iniciam a montagem dos elementos contráteis do citoesqueleto, necessários para a movimentação. Os leucócitos se movem projetando pseudópodes que se ancoram na MEC e puxam a célula na direção da projeção. A direção desse movimento é especificada pela alta densidade de receptores de quimiocina na margem dianteira da célula. Assim, os leucócitos se movem para os sítios onde são necessários e lá são retidos. O tipo de leucócito emigrante varia com o tempo da resposta inflamatória e com o tipo de estímulo. Na maioria das formas de inflamações agudas, os neutrófilos predominam no infiltrado inflamatório, durante as primeiras 6-24 horas, sendo substituídos por monócitos em 24-48 horas. Vários fatores são responsáveis por essa abundância inicial de neutrófilos. Os neutrófilos são os leucócitos mais numerosos no sangue, respondem mais rapidamente às quimiocinas e aderem mais firmemente às moléculas de adesão que são rapidamente induzidas nas células endoteliais, como a P-selectina e a E- selectina. Além disso, após a entrada nos tecidos, os neutrófilos são de vida breve — morrem por apoptose e desaparecem dentro de 24-48 horas —, enquanto os monócitos sobrevivem mais tempo. Contudo, há exceções a esse padrão de infiltração celular. Em certas infecções, (p. ex., aquelas causadas por microrganismos Pseudomonas) o infiltrado celular é dominado pelo recrutamento contínuo de neutrófilos, por vários dias; nas infecções virais, os linfócitos são as primeiras células a chegarem; em algumas reações de hipersensibilidade, os eosinófilos podem ser o principal tipo celular. Ativação dos Leucócitos. Uma vez tendo sido recrutados para os locais da infecção ou da necrose tecidual, os leucócitos devem ser ativados para exercer suas funções. Os estímulos para a ativação incluem os microrganismos, os produtos das células necróticas e vários mediadores, descritos adiante. Os leucócitos expressam em suas superfícies diferentes classes de receptores que percebem a presença de micróbios, células mortas e substâncias estranhas. O engajamento desses receptores induz uma série de respostas nos leucócitos que são parte das suas funções normais de defesa, genericamente chamadas de ativação leucocitária. A ativação leucocitária resulta em muitas funções ampliadas: • Fagocitose de partículas. • Destruição intracelular de micróbios e células mortas fagocitados, por substâncias produzidas nos fagossomos, incluindo espécies reativas do oxigênio e do nitrogênio e enzimas lisossômicas. • Liberação de substâncias que destroem micróbios extracelulares e células mortas, em grande parte as mesmas substâncias produzidas dentro das vesículas fagocíticas. Um mecanismo recentemente descoberto pelo qual os neutrófilos destroem microrganismos extracelulares é a formação de “armadilhas” extracelulares. • Produção de mediadores, incluindo as citocinas e os metabólitos do ácido araquidônico, que amplificam a reação inflamatória, por recrutamento e ativação de mais leucócitos. Fagocitose. A fagocitose consiste em três etapas distintas, mas inter-relacionadas: (1) reconhecimento e fixação da partícula ao linfócito fagocítico; (2) engolfamento, com subsequente formação de um vacúolo fagocítico e (3) destruição e degradação do material ingerido. Destruição e Degradação dos Microrganismos Fagocitados. A finalização da fagocitose de microrganismos é a destruição e a degradação das partículas ingeridas. As etapas-chave nessa reação são a produção de substâncias microbicidas dentro dos lisossomas e a fusão dos lisossomas com os fagossomas, expondo, seletivamente, as partículas ingeridas aos mecanismos destruidores dos leucócitos (Fig. 2-8). As substâncias microbicidas mais importantes são as espécies reativas do oxigênio (ERO) e as enzimas lisossômicas. A produção de ERO envolve as seguintes etapas: • A fagocitose e o engajamento de vários receptores celulares estimula um surto oxidativo, também chamado de burst respiratório, caracterizado por súbito aumento do consumo de oxigênio, do catabolismo do glicogênio (glicogenólise), do aumento da oxidação de glicose e da produção de ERO. A geração de metabólitos do oxigênio resulta da rápida ativação de uma NADPH-oxidase de leucócito, chamada oxidase de fagócito,que oxida o NADPH (fosfato de dinucleotídeo de nicotinamida-adenina reduzido) e, no processo, converte o oxigênio em íon superóxido (O2). • O superóxido é então convertido, por dismutação espontânea, em peróxido de hidrogênio (O2+ 2H+ → H2O2). Essas ERO atuam como radicais livres e destroem os micróbios. • As quantidades produzidas de H2O2 são geralmente insuficientes para destruir a maioria das bactérias (embora a formação de superóxido e do radical hidroxila o seja). No entanto, os lisossomas dos neutrófilos (chamados de grânulos azurófilos) contêm a enzima mieloperoxidase (MPO), que, na presença de um haloide como o Cl−, converte H2O2 em HOCl (radical hipocloroso). O HOCl é um potente oxidante e agente antimicrobiano (o NaOCl é o ingrediente ativo nos alvejantes) que destrói bactérias por halogenação ou por oxidação de proteínas e lipídios. Secreção de Substâncias Microbicidas. Os mecanismos microbicidas dos fagócitos estão contidos no interior dos fagolisossomas para proteger os leucócitos de danos a si próprios. Os leucócitos também secretam ativamente componentes granulares, incluindo enzimas, como a elastase, que destrói e digere micróbios extracelulares e tecidos mortos, bem como peptídeos antimicrobicidas. Os conteúdos dos grânulos lisossômicos são secretados pelos leucócitos para o meio extracelular por vários mecanismos: • O vacúolo fagocítico pode permanecer transitoriamente aberto para fora antes do fechamento completo do fagolisossoma (regurgitação durante o engolfamento). • Se as células encontrarem materiais que não possam ser facilmente ingeridos, como imunocomplexos depositados ou imobilizados na superfície (p. ex., membranas basais glomerulares), a inabilidade dos leucócitos em fagocitar essas substâncias (fagocitose frustrada) dispara forte ativação leucocitária e a liberação de enzimas lisossômicas no espaço extracelular. • A membrana do fagolisossoma pode ser lesada se substâncias potencialmente nocivas, como partículas de sílica, forem fagocitadas. Armadilhas Extracelulares dos Neutrófilos (NETs). Essas “armadilhas” representam redes fibrilares extracelulares, produzidas pelos neutrófilos em resposta a patógenos infecciosos (principalmente bactérias e fungos) e mediadores inflamatórios (como quimiocinas, citocinas, proteínas do complemento e ERO). As NETs contêm uma trama de cromatina nuclear preenchida com proteínas granulares, como peptídeos antimicrobicidas e enzimas. As armadilhas fornecem alta concentração de substâncias antimicrobicidas nos locais da infecção e impedem a disseminação dos micróbios prendendo-os nas fibrilas. No processo, os núcleos dos neutrófilos são perdidos, levando à sua morte. As NETs também foram detectadas em neutrófilos sanguíneos durante sepse. Tem sido postulado que a cromatina nuclear nas NETs, que inclui histonas e DNA associado, sejam uma fonte de antígenos nucleares nas doenças sistêmicas autoimunes, particularmente no lúpus, no qual as pessoas acometidas reagem contra seu próprio DNA e nucleoproteínas. Lesão Tecidual Induzida por Leucócitos. Os leucócitos secretam substâncias potencialmente prejudiciais, como enzimas e ERO, e são causas importantes de lesão em células e tecidos normais, sob várias circunstâncias: • Como parte da reação normal de defesa contra microrganismos infecciosos, quando tecidos “circunstantes” são lesados. Em algumas infecções, difíceis de erradicar, como a tuberculose e certas doenças virais, a resposta do hospedeiro contribui mais para a patologia do que o próprio microrganismo. • Como tentativa normal de remoção de tecidos lesados e mortos (p. ex., após infarto do miocárdio). A inflamação pode se prolongar e exacerbar as consequências injuriosas do infarto, especialmente sob reperfusão. • Quando a resposta inflamatória é impropriamente dirigida contra os tecidos do hospedeiro, como em certas doenças autoimunes ou quando o hospedeiro reage excessivamente contra substâncias ambientais não tóxicas, como as doenças alérgicas que induzem a asma. 3. Descrever as fases inflamatórias (irritativa, vascular, exsudativa, degenerativa, reparativa) e os eventos ocorridos em cada uma delas. REFERÊNCIA: Patologia – Bogliolo Fenômenos da inflamação Qualquer que seja a sua causa, a reação inflamatória envolve uma série de eventos, etapas ou momentos, fundamentalmente semelhantes: (1) irritação (que inclui o reconhecimento de alarminas e a liberação de mediadores); (2) modificações vasculares locais; (3) exsudação plasmática e celular; (4) lesões degenerativas e necróticas; (5) eventos que terminam ou resolvem o processo; (6) fenômenos reparativos, representados por proliferação conjuntiva ou regeneração do tecido lesado. Por essa razão, didaticamente pode-se considerar a reação inflamatória como tendo diferentes momentos ou fenômenos: irritativos, vasculares, exsudativos, alterativos, resolutivos e reparativos. Nos fenômenos irritativos são descritos os processos de reconhecimento de agressão e de geração da resposta imediata, com a síntese dos mediadores responsáveis pelo início da resposta inflamatória; entre os fenômenos vasculares, são consideradas as alterações da microcirculação que possibilitam a saída de plasma e células do sangue; nos fenômenos exsudativos são comentados os processos de saída de células e plasma; as alterações degenerativas e necróticas são abordadas nos fenômenos alterativos; entre os fenômenos resolutivos são descritos os processos pelos quais a inflamação termina; finalmente, entre os fenômenos reparativos são tratados os aspectos de regeneração tecidual e de cicatrização das lesões. Tais fenômenos não são isolados no tempo. Embora tenham seu começo em momentos sucessivos, ou seja, um se inicia depois do começo do outro, muitas vezes eles se superpõem durante o desenrolar do processo. Fenômenos irritativos, por exemplo, que promovem a liberação dos mediadores inflamatórios, podem persistir em todo o transcorrer da inflamação. Fenômenos alterativos podem aparecer desde o início do processo (representando inclusive o fenômeno irritativo) ou durante a sua evolução. Fenômenos irritativos. Toda inflamação começa com os fenômenos irritativos. Após uma agressão, surgem as alarminas, trazidas pelos agentes agressores ou geradas pela agressão. A partir do reconhecimento delas, são liberados mediadores que comandam os fenômenos subsequentes. Os fenômenos irritativos não são morfologicamente visíveis, mas a liberação de mediadores pode ser demonstrada pelo uso de seus inibidores e por sua identificação no local por meio de métodos histoquímicos e de biologia molecular. Essa etapa da inflamação é crucial para se definir o curso do processo: as alarminas Fontes dos principais mediadores da inflamação aguda, que são: (1) sistema proteolítico de contato (sistemas de coagulação sanguínea, fibrinólise, gerador de cininas e complemento); (2) lipídeos de membranas celulares; (3) células sentinelas (mastócitos e terminações nervosas); (4) células do parênquima e do estroma. Iniciado o processo, os leucócitos exsudados passam a ser a principal fonte de mediadores. PG = prostaglandinas; LT = leucotrienos; PAF = fator ativador de plaquetas. determinam a síntese de mediadores tanto pró- como anti-inflamatórios, dependendo deles o início do processo e suas intensidade e evolução. Se a agressão induz inicialmente maior quantidade de mediadores anti-inflamatórios, a inflamação pode ser suprimida na sua fase inicial (o organismo fica mais suscetível aos efeitos da agressão). Muitos parasitos conseguem se instalar no organismo porque, no momento da invasão, induzem mediadores anti-inflamatórios que minimizam a resposta inflamatória inicial. Os mediadores devem ser liberados nos momentos certos para que os fenômenos subsequentes atinjam o objetivo de defesa (eliminação ou contenção da agressão) e de reparo (regeneraçãoou cicatrização). Nesse sentido, há uma cronologia adequada para que os mecanismos pró-inflamatórios antecedam os anti- inflamatórios, possibilitando que a inflamação aconteça e seja resolvida ou terminada. Um desequilíbrio nessa sequência pode impedir o desenvolvimento da reação inflamatória ou torná-la exacerbada, persistente e danosa. Alguns mediadores são mais universais e liberados logo no início de inflamações. Frente a estímulos mecânicos ou térmicos, por exemplo, mastócitos liberam histamina, enquanto terminações nervosas liberam substância P e CGRP. Se a agressão provoca hemorragia, há coagulação do sangue e geração de outros mediadores (plasmina e fragmentos de fibrina estimulam a síntese de cininas e de componentes do complemento). Células epiteliais ou mesenquimais dos tecidos agredidos respondem às alarminas com a produção de citocinas inflamatórias (TNF-α, IL-1 e IL-18). Os primeiros leucócitos exsudados passam a produzir mais citocinas, quimiocinas e mediadores lipídicos (prostaglandinas e leucotrienos) que amplificam os fenômenos vasculares e a exsudação de plasma e de células. À medida que a inflamação progride, porém, são liberados mediadores anti-inflamatórios, a maioria produzida também por leucócitos. As células do exsudato são as fontes mais importantes de mediadores pró- e anti-inflamatórios, especialmente citocinas, quimiocinas e derivados lipídicos. Leucócitos exsudados não só sintetizam vários desses mediadores como também interagem uns com os outros e com células epiteliais e endoteliais, de modo que o produto de leucócitos e/ou de outras células é capturado e transformado em outro (síntese transcelular), com atividade diferente. Neutrófilos e macrófagos interagem com plaquetas e células endoteliais ou epiteliais para produzir lipoxinas e resolvinas, potentes mediadores anti-inflamatórios. Em resumo: (1) o fenômeno irritativo inicia a liberação de mediadores da inflamação, que continua durante a evolução do processo, uma vez que um mediador induz a liberação de outros, inclusive com efeitos antagônicos (mediador pró-inflamatório induz um anti-inflamatório); (2) a inflamação se inicia e progride porque os mediadores de efeito pró-inflamatório precedem ou sobrepujam os efeitos dos mediadores anti- inflamatórios; (3) as células do exsudato são as mais importantes fontes de mediadores de progressão da inflamação e também dos que atuam na resolução do processo; (4) a mudança na expressão de receptores nos tecidos e nos leucócitos exsudados, com aumento progressivo daqueles para mediadores anti- inflamatórios, é importante na resolução da inflamação; (5) alguns mediadores da resolução participam também do processo de reparo. Fenômenos vasculares. Os fenômenos vasculares são representados por modificações na microcirculação comandadas por mediadores liberados durante os fenômenos irritativos. As principais modificações são: (1) vasodilatação arteriolar, produzida inicialmente por histamina e substância P liberadas em terminações nervosas e mantida por prostaglandinas, leucotrienos e PAF. Em consequência, há aumento do fluxo de sangue para a área agredida, gerando hiperemia ativa e fluxo sanguíneo rápido; (2) as vênulas menores dilatam-se, mas as maiores sofrem pequena constrição, aumentando a pressão hidrostática na microcirculação. Em geral, tais mediadores também aumentam a permeabilidade vascular, iniciando a saída de plasma para o interstício. Com isso, há hemoconcentração local, e as hemácias tendem a empilhar-se e a formar aglomerados, tornando o sangue mais viscoso e a circulação mais lenta. Logo depois, a hiperemia ativa torna-se progressivamente hiperemia passiva de fluxo lento. Com isso, surge hipóxia local e aumento da excreção de catabólitos, como ADP e H+, o que intensifica a vasodilatação e a abertura de capilares, aumentando a hiperemia. Lesão endotelial por hipóxia ou por redução da velocidade circulatória favorece o aparecimento de trombos na microcirculação, o que pode agravar a inflamação. Embora sempre se associe vasodilatação arteriolar com a ação de mediadores (histamina, substância P, bradicinina, PGE2, PGI 2 e PAF), é possível que fatores vasoativos produzidos pelo endotélio (NO, prostaciclina) também desempenhem papel importante nesses fenômenos. A fase inicial ou imediata da vasodilatação é mediada por histamina, substância P, bradicinina e prostaglandinas; a fase tardia e sustentada depende sobretudo de mediadores originados no plasma (derivados do complemento, coagulação e fibrinólise) e dos derivados do ácido araquidônico (prostaglandinas e leucotrienos). Logo no início da vasodilatação, quando se inicia a fase de fluxo mais lento, os leucócitos deixam a região central da corrente sanguínea e começam a deslocar-se na margem do fluxo. Os fenômenos vasculares são reconhecidos por hiperemia: a vermelhidão inicial (hiperemia ativa), que progressivamente se torna mais escura (hiperemia passiva). Fenômenos exsudativos. Os fenômenos exsudativos consistem na saída de plasma e células do leito vascular para o interstício (do latim exsudare, exsudar significa passar através de). Embora independentes, em geral a exsudação plasmática precede a exsudação celular; a predominância de uma ou de outra varia de acordo com os mediadores liberados. A exsudação de leucócitos é o elemento morfológico mais característico das inflamações. Exsudação plasmática. A exsudação plasmática começa nas fases iniciais e continua durante o processo inflamatório. O exsudato líquido pode ser rico ou pobre em proteínas, e sua quantidade varia bastante. A saída de plasma resulta da formação de poros interendoteliais por contração do citoesqueleto dessas células, induzida especialmente por histamina, substância P, prostaglandinas e leucotrienos. Em agressões pouco intensas, a exsudação ocorre principalmente por ação da histamina; em agressões mais graves, é provocada também por lesão direta no endotélio. As proteínas plasmáticas exsudadas aumentam a pressão oncótica intersticial, favorecendo a retenção de água fora dos vasos. Enzimas plasmáticas ativadas no interstício ou enzimas de células exsudadas atuam sobre a substância fundamental e quebram moléculas de proteoglicanos, aumentando a hidrofilia local. Também após o início da inflamação há aumento na síntese de ácido hialurônico por células mesenquimais, o que torna o interstício mais hidrofílico. A circulação linfática torna-se sobrecarregada, e seus vasos, comprimidos ou deformados pelo exsudato, perdem a eficiência de drenagem, agravando a retenção de água no interstício. Tudo isso contribui para a formação do edema inflamatório. A exsudação plasmática constitui também um componente importante da imunidade inata: (1) possibilita a saída de anticorpos e de complemento, que tem ações inibidora, lítica e opsonizadora sobre microrganismos; (2) o fibrinogênio exsudado polimeriza-se e forma um suporte sólido de fibrina que favorece a migração de leucócitos, além de representar uma barreira à invasão de microrganismos; (3) permite a saída de proteínas com ação inibidora sobre proteases (antiproteases) e removedora de radicais livres, reduzindo o potencial lesivo da inflamação. A saída de plasma independe da exsudação celular: há inflamações com grande edema (exsudação plasmática) e pouco exsudato celular, e vice-versa. Exsudação celular. A saída de células dos vasos é processo complexo que depende da interação de muitas moléculas. O primeiro evento é a marginação leucocitária, em que os leucócitos deixam o centro da coluna sanguínea e passam a ocupar a periferia do vaso. Em seguida, são capturados e aderem frouxamente ao endotélio, deslocando-se sobre a superfície endotelial (fenômeno de captura e rolamento); logo depois, são ativados, aderem firmemente ao endotélio e sobre ele se espraiam (fenômeno de adesão e espraiamento); finalmente, migram através da parede devênulas, passando entre as células endoteliais (migração ou diapedese). Os leucócitos saem dos vasos por processo ativo, enquanto hemácias e plaquetas o fazem de modo passivo, especialmente em capilares. A captura, o rolamento e a adesão de leucócitos são mediados por moléculas de adesão na superfície do endotélio e dos leucócitos. As moléculas de adesão no endotélio são membros da superfamília das imunoglobulinas (ICAM-1 e 2, VCAM-1, CD-31, JAM-3), selectinas P e E e resíduos de carboidratos em glicoproteínas do glicocálice (PSGL-1, CD34, Mad-CAM, Gly-CAM). Selectinas P, ICAM-2 e 3 e glicoproteínas cujos resíduos de carboidratos se ligam às selectinas L de leucócitos são expressas de forma constitutiva no endotélio; ICAM-1, VECAM, JAM-3 e selectina E são induzidas especialmente por citocinas inflamatórias (IL-1, TNF-α, IFN-γ, IL-17 e IL-18). Os leucócitos possuem selectinas (selectinas L) e integrinas, além de glicoproteínas com resíduos de carboidratos (ESL-1, PSGL-1 e CD24) que se ligam a selectinas; essas moléculas são responsáveis pela adesão de leucócitos ao endotélio, a componentes do interstício e a outros leucócitos. No momento em que os leucócitos são capturados pela interação da selectina L do leucócito com os resíduos de carboidratos no endotélio e entre a selectina P e os resíduos de carboidratos do leucócito, há chance para que quimiocinas e PAF localizadas no glicocálice de células endoteliais entrem em contato com receptores nos leucócitos, ativando-os. Selectina P e ICAM-2, que existem pré-formadas em vesículas de Weibel-Palade das células endoteliais e são rapidamente expostas na superfície celular após estímulos, são responsáveis pela aderência frouxa que “segura” o leucócito próximo ao endotélio mas permite seu deslocamento sobre a superfície endotelial, empurrado pela corrente sanguínea (captura e rolamento). A selectina P liga-se a resíduos de carboidratos de leucócitos (grupos sialil Lewis X), enquanto a selectina L de leucócitos liga-se a resíduos de carboidratos do endotélio. Essas ligações são frouxas e instáveis, desfazendo-se se o leucócito não for ativado. O endotélio expõe na membrana citoplasmática PAF e quimiocinas que ativam os leucócitos que estão rolando sobre o endotélio. Essa ativação promove: (1) reposicionamento de integrinas, que se deslocam para o lado do leucócito em contato com o endotélio; com isso, o leucócito achata-se e espraia-se sobre o endotélio; (2) ativação de integrinas, aumentando sua adesividade às ICAM e VECAM; (3) reorientação do citoesqueleto do leucócito, que emite pseudópodes em direção à parede vascular, exatamente na face em que reconhece a quimiocina que o estimulou, iniciando a migração ou diapedese. Os pseudópodes penetram entre as células endoteliais, separam-nas pela liberação de moléculas queladoras de cálcio e, por força mecânica, rompem as ligações entre moléculas de adesão do tipo CD31. Ao mesmo tempo, os leucócitos ligam-se a essas moléculas por meio de β2-integrinas, de modo que não fica espaço livre entre a membrana do leucócito e a membrana das faces laterais da célula endotelial, o que impede a saída de plasma. Desse modo, o leucócito atravessa o espaço interendotelial aderido às células endoteliais por meio da ligação integrinas-CD31 de modo semelhante a uma cremalheira; quando termina de atravessar a barreira endotelial, as CD31 vão se unindo atrás como um “zíper” que se fecha logo após a passagem do leucócito. Para atravessarem a membrana basal, os leucócitos utilizam metaloproteases. No interstício, deslocam-se com facilidade porque aderem, por meio de integrinas, a moléculas de fibronectina e, por meio desta, à fibrina exsudada, que servem como verdadeiros trilhos de orientação. A diapedese é bem evidente pela formação de manguitos leucocitários em torno das vênulas nas fases iniciais da inflamação. Na fase inicial da maioria das inflamações, as células encontradas em maior número são polimorfonucleares neutrófilos (PMN), por serem mais numerosas no sangue circulante e por apresentarem receptores para vários agentes quimiotáticos; por isso são as células predominantes do exsudato nas primeiras 24 h. A rapidez na mobilização de neutrófilos é importante, porque esses leucócitos têm grande capacidade de matar microrganismos por meio de produtos microbicidas armazenados nos grânulos e de grande habilidade de produzir radicais livres. Embora muito eficazes na defesa, são potencialmente perigosos, razão pela qual não podem residir nos tecidos, sendo mantidos em grande número sequestrados dentro dos vasos e na medula óssea. Como os macrófagos são fagócitos com poder microbicida imediato menor, podem migrar e residir nos tecidos, sem grande ameaça à integridade do organismo. Esses dois fagócitos profissionais, semelhantes no que fazem (fagocitam e matam microrganismos, um já diferenciado para essa ação imediata e o outro após ativação), trabalham em cooperação para garantir defesa rápida e eficaz contra patógenos invasores. Macrófagos residentes e células dendríticas são as células que reconhecem rapidamente as agressões e que produzem fatores necessários para o afluxo inicial de neutrófilos e de monócitos patrulhadores. Existem monócitos que, constitutivamente, rolam sobre o endotélio (monócitos patrulhadores, diferentes dos monócitos convencionais ou inflamatórios); logo após saírem dos vasos, são ativados e, juntamente com macrófagos residentes e células dendríticas, produzem citocinas (IL-6, IL-1) e quimiocinas (CXCL 1, 2, 5, 8) que atraem PMN, os quais exsudam em grande quantidade. Uma vez exsudados, PMN ativados passam a produzir quimiocinas (CCL 2, 3, 4, 8, 9, 20 e 23), que atraem monócitos clássicos (monócitos inflamatórios). Monócitos clássicos ou inflamatórios são ativados para macrófagos M1, ativos para matar microrganismos. Desse modo, há grande afluxo de monócitos inflamatórios, passando a ser as células dominantes depois de 48 h. Linfócitos, células NK (natural killer) e células linfoides da imunidade inata (ILC 1, 2 e 3) também migram precocemente, mas em geral em pequeno número, razão pela qual não são facilmente notados no exsudato nas primeiras horas. Embora sejam células de vida muito curta, PMN e monócitos têm sua vida média aumentada por ação de citocinas, especialmente CSF-M e CSF-GM, que ativam vias antiapoptóticas. O padrão do exsudato celular depende de dois fatores: (1) moléculas de adesão (em leucócitos e endotélio); (2) em leucócitos, de receptores para o agente quimiotático que o endotélio expõe. As moléculas de adesão variam bastante e são um elemento importante na seleção do leucócito que deve migrar. No entanto, os leucócitos que exsudam dependem fundamentalmente de quimiocinas. Em inflamações provocadas por ovos ou larvas de helmintos, por exemplo, há grande exsudação de eosinófilos, em virtude da produção de quimiocinas CC com efeito eosinotático. Em inflamações agudas virais, há exsudação precoce de grande quantidade de linfócitos T e células NK porque há indução de quimiocinas CXCL 9 e 10, para as quais essas células possuem receptores. A mudança progressiva do tipo de células do exsudato deve- se à modificação nos tipos de quimiocinas liberadas durante o processo. Fenômenos alterativos. Os fenômenos alterativos (degenerações e necrose) são causados pela ação direta ou indireta do agente inflamatório e podem aparecer no início ou na evolução de uma inflamação. Algumas vezes, os fenômenos alterativos representam o efeito imediato da ação do agente inflamatório; a partir deles inicia-se a irritação, com liberação de alarminas e de mediadores dos fenômenos vasculares e exsudativos. É o que ocorre, por exemplo, na agressão pela soda cáustica sobre a mucosa do esôfago: o agente tóxico causa necrose imediata na parede do órgão, a partir da qual surgem alarminas que induzem os mediadores dos fenômenos vasculares e exsudativos.Degenerações e/ou necrose em inflamações, no entanto, resultam principalmente da atividade de produtos das células do exsudato, de trombose na microcirculação ou de fenômenos imunitários. Em algumas inflamações, necrose é componente comum e muito importante na doença (p. ex., tuberculose). Fenômenos resolutivos | Mecanismos anti-inflamatórios naturais. Até há poucos anos, admitia-se que o decréscimo da resposta inflamatória significava que, desaparecendo a irritação, diminuiria também a produção de mediadores, e, em consequência, os fenômenos vasculares e exsudativos se reduziriam. No entanto, não é somente a redução de mediadores que leva ao término da inflamação. Durante a resposta inflamatória, entram em ação mecanismos anti-inflamatórios locais que neutralizam o efeito dos fatores pró- inflamatórios. Além desses, componentes da reação de fase aguda (ver adiante, Manifestações sistêmicas de inflamações) têm efeitos anti-inflamatórios, especialmente por meio de antiproteases e removedores de radicais livres, de glicocorticoides e de mediadores do sistema nervoso autônomo. A existência de mecanismos anti-inflamatórios induzidos durante a inflamação é conhecida há muito tempo. Em um animal no qual se produz inflamação estéril em uma pata (p. ex., talco estéril), ocorre, nas 24 h subsequentes, inibição parcial da inflamação se o talco é injetado na pata contralateral. Foi a partir de experimentos desse tipo que, analisando-se o sangue de veias de drenagem de áreas inflamadas, demonstrou- se a existência de substâncias anti-inflamatórias no plasma. Os fenômenos de resolução começam nas fases iniciais da inflamação e deles depende sua progressão, com cura ou cronificação. O tempo de cura de inflamações agudas, que se instalam e terminam em até 12 semanas, relaciona-se com a eficácia dos processos de eliminação da causa e dos mecanismos de resolução. Inflamações crônicas, caracterizadas por duração acima de 24 semanas, cronificam-se porque os mecanismos de eliminação da causa fracassaram ou porque surgem fenômenos de autoagressão imunitária; nesse tipo de inflamação, os mecanismos de resolução são ineficientes. Desequilíbrio entre mecanismos pró- e anti- inflamatórios permite a cronificação de uma inflamação tanto quando se exacerbam os primeiros como quando fracassam os segundos. Uma inflamação crônica, principalmente de natureza infecciosa, não se cura porque: (1) os mecanismos pró-inflamatórios estão parcialmente inibidos pelos mecanismos anti- inflamatórios, diminuindo a eficácia naeliminação do agente, que mantém a inflamação; (2) os mecanismos anti-inflamatórios estão ineficientes, permitindo ação exagerada dos mediadores pró-inflamatórios, o que favorece a eliminação do agressor mas também aumenta a probabilidade de autoagressão imunitária. Falha nos mecanismos anti-inflamatórios naturais pode ser componente importante na origem de doenças por autoagressão imunitária. Os mecanismos de resolução de inflamações podem ser locais ou sistêmicos. Mecanismos locais de resolução de inflamações. Os mecanismos locais de resolução de inflamações envolvem: (1) modificações em receptores nas células do exsudato e dos tecidos; (2) geração de mediadores com efeito anti-inflamatório; (3) mudança no comportamento das células do exsudato, que tendem a apoptose ou, quando sobrevivem, passam a exercer função anti-inflamatória; (4) exsudação de células com função reguladora. Mudança em receptores para mediadores da inflamação. O início de uma inflamação deve-se não só ao predomínio de mediadores pró-inflamatórios como também ao maior número de seus receptores nos leucócitos exsudados. No entanto, após sua liberação nas fases iniciais da inflamação, alguns mediadores pró-inflamatórios induzem, nos leucócitos e nas células dos tecidos agredidos, mudança na expressão de seus receptores. A partir daí, nos leucócitos ocorre aumento de receptores que geram sinais intracelulares para reduzirem a síntese e a liberação de mediadores pró-inflamatórios e para inibirem a adesão e a quimiotaxia. Com isso, neutrófilos e monócitos passam a expressar maior número de receptores adrenérgicos e colinérgicos, receptores purinérgicos P2 para adenosina e receptores H2 para histamina, todos indutores de respostas anti-inflamatórias quando ativados pelos seus agonistas. Desse modo, um mediador pró- inflamatório, como a histamina, passa a ter efeito anti-inflamatório ao atuar em receptores H2em leucócitos (inibe a migração) e em mastócitos (reduz a liberação de histamina). Alarminas, sobretudo adenosina e ADP, atuam em maior número de receptores P2, induzindo efeitos anti-inflamatórios. Aumento na expressão de receptores anti-inflamatórios acompanha-se da redução na expressão de receptores para moléculas pró- inflamatórias. Mediadores anti-inflamatórios. Os ácidos graxos têm papel importante na geração de mediadores tanto pró- como anti-inflamatórios. Prostaglandinas e leucotrienos são produzidos e liberados em grande quantidade nas fases iniciais da inflamação, atuando nos fenômenos vasculares e na exsudação plasmática e celular. Em neutrófilos e macrófagos, PGE2ativa vias pró-inflamatórias, inclusive a síntese de COX-2; aumento da expressão desta aumenta a síntese de PGE2 e de PGD2. PGE2 aumenta a expressão das lipo- oxigenases 12 e 15 (LOX-12 e 15), importantes na síntese de lipoxinas e de resolvinas. Desse modo, leucócitos ativados na fase inicial da inflamação dispõem de enzimas para a síntese de leucotrienos e prostaglandinas, mas progressivamente se armam com as ferramentas necessárias para sintetizar lipoxinas e resolvinas (anti-inflamatórias). A COX-2 induz também a síntese de PGD2, precursora de PGJ2 (ciclopentenonas), com ação anti-inflamatória. Assim, ao promover a síntese de PGE2 e PGD2, a COX-2 tem efeitos pró-inflamatórios mas também aumenta a síntese de mediadores anti-inflamatórios. Experimentalmente, inibição de COX-2 nas fases iniciais da inflamação retarda sua cura. A mudança do perfil de utilização de ácidos graxos poli-insaturados em inflamações modifica a síntese de mediadores pró- e anti-inflamatórios. Ácidos graxos ômega-6 (ácido araquidônico, AA) são mais consumidos nas fases iniciais da inflamação; eles sofrem ação de COX-1 e LOX-5 e geram prostaglandinas e leucotrienos, pró- inflamatórios. Já os ácidos graxos ômega-3 (eicosapentaenoico [EPA] e docosa-hexaenoico [DHA]), geradores de resolvinas e neuroprotetinas, são mais utilizados nas fases tardias, quando a inflamação está se resolvendo. Continua com o outro objetivo. 4. Diferenciar inflamação de infecção. REFERÊNCIA: Patologia Geral – Bogliolo Inflamação ou flogose (do latim inflamare e do grego phlogos, que significam “pegar fogo”) é uma reação dos tecidos a um agente agressor caracterizada morfologicamente pela saída de líquidos e de células do sangue para o interstício. Como será comentado ao longo do capítulo, a reação inflamatória constitui um dos componentes mais importantes da execução da resposta imunitária e, embora faça parte dos mecanismos defensivos contra grande número de agressões, em muitos casos ela própria pode também causar danos ao organismo. Agressões exógenas (físicas, químicas ou biológicas) ou endógenas (estresse metabólico) constituem o que se denominam agentes inflamatórios. Inflamação pode ser causada por grande número de estímulos, infecciosos ou não, sendo, portanto, um evento muito frequente. A reação inflamatória e a resposta imunitária são indissociáveis. Nos programas de Patologia Geral, a inflamação é estudada em separado da resposta imunitária, porque é dada maior atenção ao aspecto mais evidente do processo, que é a saída de leucócitos e de plasma para o interstício, o que caracteriza morfologicamente uma inflamação. A reação inflamatória, no entanto, nada mais é do que a expressão morfológica da resposta imunitária; por isso mesmo, esses dois processos devemser considerados em conjunto. Como a resposta imunitária, a inflamação é um processo regulado: algumas moléculas induzem mediadores pró-inflamatórios, enquanto outras estimulam mediadores responsáveis por limitar e terminar o processo. Uma vez que os efeitos lesivos de uma inflamação dependem do balanço entre mecanismos pró-inflamatórios e anti-inflamatórios, o conhecimento deles é essencial para possibilitar a introdução de medicamentos mais eficazes para tratar as doenças cuja natureza básica é inflamatória. Infecção e inflamação são termos que não devem ser usados como sinônimos. A infecção, como dito anteriormente, diz respeito à penetração, multiplicação e/ou desenvolvimento de um agente infeccioso no organismo humano ou de outro animal. A inflamação já diz respeito à reação do organismo aos danos causados por agentes químicos, físicos ou biológicos. 5. Diferenciar inflamação crônica e aguda, identificando suas fases e seus principais aspectos. REFERÊNCIA: Fisiopatologia - Porth O processo inflamatório pode ser dividido em dois tipos: agudo e crônico. O processo inflamatório agudo tem duração relativamente curta, variando de alguns minutos até muitos dias, e caracterizase pela exsudação de líquidos e componentes do plasma e pela emigração de leucócitos, predominantemente neutrófilos, para os tecidos extravasculares. O processo inflamatório crônico tem duração mais longa, que varia de 1 dia até anos, e está associado à existência de linfócitos e macrófagos, à proliferação de vasos sanguíneos, à fibrose e à necrose tecidual. Frequentemente, essas formas básicas de inflamação se sobrepõem, e muitos fatores podem influenciar seu curso. Infamação aguda. Um processo inflamatório agudo consiste em reação precoce (quase imediata) dos tecidos locais e seus vasos sanguíneos em resposta à lesão. Tipicamente, dá-se antes do estabelecimento da imunidade adaptativa e se destina, principalmente, a remoção do agente nocivo e limitação da extensão do dano tecidual. O processo inflamatório agudo é desencadeado por uma grande variedade de estímulos, incluindo infecções; reações imunológicas; traumatismo contuso e penetrante; agentes físicos ou químicos (p. ex., queimaduras, congelamento, radiação, produtos químicos cáusticos) e necrose do tecido a partir de qualquer causa. 6. Identificar o papel das células envolvidas no processo inflamatório (macrófagos, neutrófilos, mastócitos, basófilos, eosinófilos, células dendríticas e endoteliais, fagócitos). REFERÊNCIA: Fisiopatologia – Porth Células de inflamação. O processo inflamatório agudo envolve duas fases principais: fase vascular e fase celular. Diversos tipos de tecidos e células estão envolvidos nessas fases, bem como células endoteliais que revestem os vasos sanguíneos, leucócitos que circulam no sangue, células do tecido conjuntivo (mastócitos, fibroblastos, macrófagos e linfócitos) e componentes da matriz extracelular (MEC). A matriz extracelular é composta por proteínas fibrosas (colágeno e elastina), glicoproteínas adesivas e proteoglicanos. No nível bioquímico, os mediadores inflamatórios, agindo em conjunto ou em sequência, amplificam a resposta inicial e influenciam sua evolução por https://mundoeducacao.uol.com.br/doencas/infeccao-infestacao-inflamacao.htm meio da regulação das respostas vasculares e celulares subsequentes. Células endoteliais. Constituem o revestimento epitelial com espessura de uma única célula dos vasos sanguíneos. Elas produzem agentes antiplaquetários e antitrombóticos que mantêm a permeabilidade do vaso, assim como vasodilatadores e vasoconstritores que regulam o fluxo sanguíneo. As células endoteliais também são fundamentais para a resposta inflamatória e apresentam alterações significativas em pessoas com doenças inflamatórias. As células endoteliais funcionais fornecem uma barreira de permeabilidade seletiva para estímulos inflamatórios exógenos (microbianos) e endógenos; regulam o extravasamento de leucócitos pela expressão de moléculas de adesão celular e receptores; contribuem para a regulação e a modulação da resposta imune pela síntese e liberação de mediadores inflamatórios; e regulam a proliferação de células imunes pela secreção de fatores estimuladores de colônias hematopoéticas (CSF, colony- stimulating factor). As células endoteliais também participam do processo de reparo que acompanha a inflamação por meio da produção de fatores de crescimento que estimulam a angiogênese (formação de novos vasos sanguíneos) e a síntese de MEC. As células endoteliais circulantes podem ser utilizadas como indicador da tendência de disfunção vascular em pessoas com lúpus eritematoso sistêmico (LES), mesmo em pessoas com LES sem doença cardiovascular diagnosticada. Plaquetas. Plaquetas ou trombócitos são fragmentos de células circulantes no sangue envolvidos nos mecanismos celulares de hemostasia primária. Plaquetas ativadas também liberam vários mediadores inflamatórios potentes, aumentando, assim, a permeabilidade vascular e alterando as propriedades quimiotáticas, adesivas e proteolíticas das células endoteliais. Quando uma plaqueta sofre ativação, mais 300 proteínas são liberadas. Embora apenas uma proporção relativamente pequena tenha sido identificada, parece que um número significativo são mediadores inflamatórios. A associação entre plaquetas e doenças inflamatórias é realçada pelo número de processos patológicos inflamatórios (p. ex., aterosclerose, enxaqueca, LES) comprovadamente associados à ativação plaquetária. Neutrófilos e monócitos (macrófagos). Neutrófilos e macrófagos são leucócitos fagocíticos existentes em grande número e são evidenciados no local da inflamação em um intervalo de poucas horas. Os dois tipos de leucócitos expressam diversos receptores de superfície e moléculas envolvidas na sua ativação. Isso inclui receptores de manose, que se ligam a glicoproteínas de bactérias; receptores tolllike, que respondem a diferentes tipos e componentes de micróbios; receptores de comunicação celular, que reconhecem quimiocinas e citocinas específicas produzidas em resposta a infecções e lesão tecidual; moléculas de adesão celular, que afetam a adesão de leucócitos; e receptores do complemento, que reconhecem fragmentos degradados de complemento depositados na superfície microbiana. O neutrófilo é o primeiro fagócito a chegar ao local da inflamação, geralmente em um intervalo de 90 min após a lesão. Esses leucócitos têm núcleos divididos em três a cinco lobos. Portanto, são frequentemente chamados de neutrófilos polimorfonucleares (PMN) ou neutrófilos segmentados (segs). Um leucócito identificado por grânulos citoplasmáticos distintivos é chamado de granulócito. Os grânulos citoplasmáticos dos granulócitos, que resistem à coloração e continuam a apresentar cor neutra, contêm enzimas e material antibacteriano utilizados na destruição de micróbios que foram engolfados e de tecido morto. Os neutrófilos são capazes de produzir oxigênio (peróxido de hidrogênio) e produtos nitrogenados (óxido nítrico [NO]) que auxiliam na destruição dos resíduos engolfados pela célula fagocítica. O número de neutrófilos no sangue muitas vezes aumenta substancialmente durante um processo inflamatório, especialmente com infecções bacterianas. Após serem liberados da medula óssea, os neutrófilos circulantes têm vida útil de aproximadamente 10 h, portanto precisam ser constantemente substituídos para que a contagem permaneça adequada. Isto exige aumento de leucócitos em circulação, condição chamada leucocitose, frequentemente elevada quando há infecções bacterianas e lesão tecidual. Com a demanda excessiva por fagócitos, formas imaturas de neutrófilos são liberadas da medula óssea. Estas células imaturas muitas vezes são chamadas de bastões porque têm o núcleo em formato de ferradura. Monócitos circulantes, que têm um único núcleo em forma de rim e são os maioresleucócitos circulantes, constituem de 3 a 8% da contagem de leucócitos do sangue. Os monócitos são liberados da medula óssea para agir como macrófagos. As células mononucleares chegam ao local da inflamação logo depois dos neutrófilos e desempenham suas funções fagocíticas durante vários dias. Monócitos e macrófagos produzem potentes mediadores vasoativos, incluindo prostaglandinas e leucotrienos, fator de ativação plaquetária (FAP), citocinas inflamatórias e fatores de crescimento que promovem a regeneração dos tecidos. Os macrófagos englobam partículas maiores e uma quantidade maior de material estranho do que os neutrófilos. Estes fagócitos de vida mais longa ajudam a destruir o agente causador, auxiliam nos processos de sinalização de imunidade, servem para extinguir o processo inflamatório e contribuem para a iniciação dos processos de cicatrização. Também desempenham papel importante no processo inflamatório crônico, no qual podem rodear e cercar materiais estranhos que não podem ser digeridos. Eosinófilos, basófilos e mastócitos. Eosinófilos, basófilos e mastócitos produzem mediadores lipídicos e citocinas que induzem o processo inflamatório. Embora esses três tipos de células apresentem características específicas, todos contêm grânulos citoplasmáticos que induzem o processo inflamatório. São particularmente importantes nos casos de inflamação associada a reações de hipersensibilidade imediata e distúrbios alérgicos. Os eosinófilos circulam no sangue e são recrutados para os tecidos, de modo semelhante aos neutrófilos. A quantidade destes granulócitos aumenta no sangue durante reações alérgicas e infecções parasitárias. Os grânulos de eosinófilos, que se tingem de vermelho com o corante ácido de eosina, contêm uma proteína altamente tóxica para vermes parasitos grandes que não podem ser fagocitados. Também desempenham papel importante nas reações alérgicas por meio do controle da liberação de mediadores químicos específicos. Basófilos são granulócitos sanguíneos semelhantes estrutural e funcionalmente aos mastócitos do tecido conjuntivo. São derivados de células progenitoras da medula óssea e circulam no sangue. Os grânulos dos basófilos, que se tingem de azul com um corante básico, contêm histamina e outros mediadores bioativos de inflamação. Tanto basófilos quanto mastócitos se ligam a um anticorpo, a imunoglobulina E (IgE), secretada por células do plasma por meio de receptores na sua superfície celular. A ligação com IgE provoca a liberação de histamina e de agentes vasoativos dos grânulos dos basófilos. Os mastócitos derivam das mesmas célulastronco hematopoéticas que os basófilos, mas não se desenvolvem até que deixam a circulação e se alojam nos tecidos. A ativação dos mastócitos resulta na liberação do conteúdo pré-formado de seus grânulos (histamina, proteoglicanos, proteases e citocinas como o fator de necrose tumoral-a [TNFa] e a interleucina [IL]16); na síntese de mediadores lipídicos derivados de precursores da membrana celular (metabólitos do ácido araquidônico, como prostaglandinas e FAP); e na estimulação da síntese de citocinas e quimiocinas por outras células inflamatórias como monócitos e macrófagos. Os mastócitos estão envolvidos nas reações acionadas por IgE e no combate a infecções por helmintos. 7. Caracterizar mediadores inflamatórios – tipos, fontes e funções. REFERÊNCIA: Fisiopatologia – Porth Mediadores inflamatórios Embora o processo inflamatório seja precipitado por infecção e lesão, seus sinais e sintomas são produzidos por mediadores químicos. Os mediadores podem ser originados do plasma ou de células. Os mediadores derivados do plasma, sintetizados no fígado, incluem os fatores de coagulação e as proteínas do complemento. Estes mediadores são encontrados no plasma em uma forma precursora, que precisa ser ativada por uma série de processos proteolíticos para adquirir suas propriedades biológicas. Mediadores derivados de células normalmente são sequestrados em grânulos intracelulares que precisam ser secretados (p. ex., histamina a partir de mastócitos) ou são sintetizados conforme a necessidade (p. ex., citocinas), em resposta a um estímulo. Embora plaquetas, neutrófilos, monócitos/macrófagos e mastócitos sejam as principais fontes destes mediadores, células endoteliais, do músculo liso, fibroblastos e a maioria das células epiteliais podem ser induzidos a produzir alguns dos mediadores. A produção de mediadores ativos é desencadeada por micróbios ou por proteínas do hospedeiro, como as dos sistemas complemento, cinina ou de coagulação, que são ativadas por micróbios ou tecidos danificados. Os mediadores podem atuar sobre uma ou algumas célulasalvo e têm diversos alvos ou diferentes efeitos sobre os tipos distintos de células. Uma vez ativados e liberados da célula, a maioria dos mediadores têm curta duração. Eles podem ser transformados em metabólitos inativos, inativados por enzimas, ou eliminados ou degradados de outro modo. Os mediadores inflamatórios podem ser classificados por função: • Aqueles com propriedades vasoativas e de contração da musculatura lisa, como a histamina, os metabólitos de ácido araquidônico (prostaglandinas e leucotrienos) e FAP • Proteases plasmáticas que ativam membros do sistema complemento, fatores de coagulação da cascata de coagulação e peptídios vasoativos do sistema cinina. • Fatores quimiotáticos, como fragmentos de complemento e quimiocinas • Moléculas reativas e citocinas liberadas de leucócitos, que, quando lançadas no ambiente extracelular, podem afetar o tecido e as células circundantes. Histamina. É encontrada em reservas pré-formadas em células e, portanto, é um dos primeiros mediadores a serem liberados durante uma reação inflamatória aguda. A histamina pré-formada está amplamente distribuída nos tecidos, sendo que as concentrações mais elevadas são encontradas no tecido conjuntivo adjacente a vasos sanguíneos. Também é encontrada em plaquetas e basófilos no sangue circulante. A histamina pré-formada é encontrada em grânulos de mastócitos e liberada em resposta a uma variedade de estímulos, incluindo traumatismo e reações imunológicas que envolvem a ligação com anticorpos IgE. A histamina causa dilatação de arteríolas e aumenta a permeabilidade de vênulas. Ela atua no nível da microcirculação por ligação a receptores de histamina do tipo 1 (H1) em células endoteliais e é considerada o principal mediador da fase transitória imediata de aumento da permeabilidade vascular na resposta inflamatória aguda. Antihistamínicos (antagonistas do receptor H1), que se ligam aos receptores H1, atuam competitivamente para antagonizar muitos efeitos da resposta inflamatória imediata. Metabólitos do ácido araquidônico. O ácido araquidônico é um ácido graxo insaturado com 20 átomos de carbono encontrado nos fosfolipídios das membranas celulares. A liberação de ácido araquidônico por fosfolipases inicia uma série de reações complexas que conduzem à produção dos mediadores inflamatórios da família dos eicosanoides (leucotrienos, prostaglandinas e metabólitos relacionados). A síntese dos eicosanoides segue uma de duas vias: a via da ciclooxigenase, que culmina com a síntese de prostaglandinas, e a via da lipooxigenase, que culmina com a síntese de leucotrienos (Figura 14.4). Diversas prostaglandinas são sintetizadas a partir do ácido araquidônico pela via metabólica da ciclo- oxigenase. As prostaglandinas (p. ex., PGD2; PGE2; PGF2α e PGI) induzem inflamação e potencializam os efeitos da histamina e de outros mediadores inflamatórios. A prostaglandina tromboxano A2 promove agregação de plaquetas e vasoconstrição. O ácido acetilsalicílico e os medicamentos antiinflamatórios não esteroides (AINE) reduzem a inflamação por inativação da primeira enzima na via da ciclooxigenase para síntese de prostaglandina. Do mesmo modo que as prostaglandinas, os leucotrienos
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