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Direito Processual Penal I

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CADERNO 
DE 
PROCESSO 
PENAL 
LUCAS DE OLIVEIRA 
 
2 
 
Sumário 
 
 
LUCAS DE OLIVEIRA 
 
 
CADERNO 
DE 
PROCESSO 
PENAL 
 
 
 
 
 
 
 
Juiz de Fora 
2014 
 
 
SUMÁRIO 
Sumário 
 
INTRODUÇÃO AO PROCESSO PENAL BRASILEIRO 1 
1. A instrumentalidade do processo penal 2 
2. Brevíssimas notas sobre o Decreto-lei n. 3.688 de 3 de out. de 1941 6 
3. Conceito de Direito Processual Penal 7 
3.1. Finalidade do Direito Processual Penal 8 
4. Fontes do Direito Processual Penal 8 
4.1. Fontes materiais 8 
4.2. Fontes formais 9 
5. Interpretação e integração do Direito Processual Penal 10 
6. Eficácia da lei processual no espaço (art. 1º do CPP) 11 
7. Eficácia da lei processual no tempo (art. 2º do CPP) 11 
8. Sistemas processuais. Introdução e histórico 12 
8.1. Sistema acusatório 13 
8.2. Sistema inquisitorial 14 
8.3. Sistema misto (ou sistema francês) 16 
8.4. Sistema brasileiro 17 
9. Garantias e princípios fundamentais ao processo penal 18 
9.1. Juiz natural 18 
9.1.a. Juiz natural. Criação de justiças especializadas ou de varas especializadas
 19 
9.2. Imparcialidade do juiz 20 
9.2.a. Imparcialidade do juiz. Imparcialidade subjetiva e objetiva 20 
9.2.b. Imparcialidade do juiz. Participação do juiz na investigação 22 
9.2.c. Contaminação psicológica 23 
9.2.d. Iniciativa probatória do juiz 23 
9.3. Ampla defesa 23 
9.3.a. Ampla defesa. Defesa pessoal, privada, autodefesa, material ou genérica 24 
9.3.b. Ampla defesa. Defesa técnica, processual, específica ou pública, exercida 
pelo defensor 27 
 
ii 
 
Sumário 
9.4. Contraditório 28 
9.5. Igualdade processual 31 
9.6. Presunção ou estado de inocência 32 
9.7. Direito a não autoincriminação (nemo tenetur se detegere) 36 
9.7.a. Direito a não autoincriminação (nemo tenetur se detegere). Bafômetro 37 
9.8. Publicidade 38 
9.9. Motivação das decisões 39 
9.9.a. Motivação das decisões. Breve exposição dos sistemas de valoração da 
prova 39 
9.9.b. Motivação das decisões. O juiz, a prova e a motivação 40 
9.10. Duração razoável do processo 40 
9.10.a. Duração razoável do processo. Aplicação prática 42 
INQUÉRITO POLICIAL – INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR 45 
10. Conceito e finalidade 45 
11. Características 46 
11.1. Características. Inquisitivo 46 
11.2. Características. Discricionariedade 47 
11.3. Características. Escrito 48 
11.4. Características. Sigiloso 48 
11.4.a. Características. Sigiloso. Exceções 48 
11.5. Características. Dispensável 49 
11.6. Características. Indisponível 50 
11.7. Características. Observações - Valor probatório 50 
12. Notitia criminis 51 
13. Formas de instauração do inquérito policial 51 
14. Diligências no inquérito policial 53 
15. Indiciamento 58 
16. Prazos para a conclusão do inquérito policial 58 
16.1. Prazos para a conclusão do inquérito policial. Lei dos Crimes Hediondos, 
prisão temporária e prazo para a conclusão do inquérito policial 59 
17. Encerramento do inquérito penal 60 
18. Arquivamento do inquérito 61 
18.1. Arquivamento do inquérito. Eficácia da decisão de arquivamento 62 
LUCAS DE OLIVEIRA ▪ CADERNO DE PROCESSO PENAL 
iii 
 
18.2. Arquivamento do inquérito. Desarquivamento 62 
18.3. Arquivamento do inquérito. Arquivamento implícito e arquivamento 
indireto 63 
18.4. Arquivamento do inquérito. Procedimento 64 
AÇÃO PENAL 66 
19. Ação penal 66 
20. Condições da ação de acordo com a teoria geral do processo 67 
21. A nova teoria das condições específicas do processo penal 68 
22. Pressupostos processuais 69 
23. Ação penal de iniciativa pública 69 
23.1. Ação penal de iniciativa pública. Princípios 70 
24. Ação penal de iniciativa privada 76 
25. Ação penal de iniciativa privada subsidiária da pública 80 
26. Denúncia e queixa 82 
26.1. Denúncia e queixa. Queixa-crime e procuração com poderes especiais 86 
26.2. Denúncia e queixa. Prazos 86 
26.2.a Denúncia e queixa. Prazos. Descumprimento 87 
26.3. Denúncia e queixa. Hipóteses de rejeição 87 
27. Ação civil ex delicto. Noções introdutórias 88 
28. Conceito 88 
29. Ação de cobrança de rito ordinário para indenização pelo delito (art. 64 do 
CPP) e a execução com base no título executivo judicial (art. 475-N, II, do CPC)
 90 
JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA 93 
30. Considerações preliminares 93 
31. Jurisdição comum e especial 94 
32. Espécies de competência 95 
33. Competência absoluta e relativa 97 
34.1. Guia de fixação de competência. Case study 102 
35. Competência territorial 102 
35.1. Competência territorial. Casos Especiais 106 
35.2. Competência territorial. Critério supletivo 108 
36. Competência militar 108 
 
iv 
 
Sumário 
36.1. Competência militar. Justiça Militar da União 108 
38. Competência federal 115 
38.1. Competência federal. Cotejo analítico da competência constitucional federal
 116 
39. Competência estadual 122 
41.1. Conexão Intersubjetiva (art. 76, I, do Código de Processo Penal) 124 
41.3. Conexão instrumental ou probatória (art. 76, III do Código de Processo 
Penal) 125 
42. Continência 125 
44. Separação dos processos 127 
44.1. Separação obrigatória dos processos 128 
44.2. Separação facultativa dos processos 128 
45. Avocação 129 
46. Tribunal do Júri e Desclassificação 129 
47. Competência por prerrogativa de função 132 
47.1. Regras de prerrogativa de função estabelecidas na Constituição Federal 132 
 
PRIMEIRA UNIDADE 
INTRODUÇÃO AO PROCESSO PENAL BRASILEIRO 
CAPÍTULO I – A PRIMAZIA DA NECESSIDADE DO PROCESSO PENAL EM 
RELAÇÃO À PENA 
 
Sumário ▪ 1. A instrumentalidade do processo penal; 2. 
Brevíssimas notas sobre o Decreto-lei n. 3.688 de 3 de 
out. de 1941; 3. Conceito de Direito Processual Penal; 
3.1. Finalidade do Direito Processual Penal; 4. Fontes do 
Direito Processual Penal; 4.1. Fontes materiais; 4.2. 
Fontes formais; 5. Interpretação e integração do Direito 
Processual Penal; 6. Eficácia da lei processual no espaço 
(art. 1º do CPP); 7. Eficácia da lei processual no tempo 
(art. 2º do CPP) ; 8. Sistemas processuais. 
Introdução e histórico; 8.1. Sistema acusatório; 8.2. 
Sistema inquisitorial; 8.3. Sistema misto (ou sistema 
francês); 8.4. Sistema brasileiro; 9. Garantias e 
princípios fundamentais ao processo penal; 9.1. Juiz 
natural; 9.1.a. Juiz natural. Criação de justiças 
especializadas ou de varas especializadas; 9.2. 
Imparcialidade do juiz; 9.2.a. Imparcialidade do juiz. 
Imparcialidade subjetiva e objetiva; 9.2.b. 
Imparcialidade do juiz. Participação do juiz na 
investigação; 9.2.c. Contaminação psicológica; 9.2.d. 
Iniciativa probatória do juiz; 9.3. Ampla defesa; 9.3.a. 
Ampla defesa. Defesa pessoal, privada, autodefesa, 
material ou genérica; 9.3.b. Ampla defesa. Defesa 
técnica, processual, específica ou pública, exercida pelo 
defensor; 9.4. Contraditório; 9.5. Igualdade processual; 
9.6. Presunção ou estado de inocência; 9.7. Direito a não 
autoincriminação (nemo tenetur se detegere); 9.7.a. 
Direito a não autoincriminação (nemo tenetur se 
detegere). Bafômetro; 9.8. Publicidade; 9.9. Motivação 
das decisões; 9.9.a. Motivação das decisões. Breve 
exposição dos sistemas de valoração da prova; 9.9.b. 
Motivação das decisões. O juiz, a prova e a motivação; 
9.10. Duração razoável do processo; 9.10.a. Duração 
razoável do processo. Aplicação prática. 
 
 
 
2 
 
Introdução ao Processo Penal brasileiro 
 1. A instrumentalidadedo processo penal ▪ Todos os indivíduos, já 
talhava perspicaz estudioso americano1, na qualidade de seres livres que coexistem 
em uma rede de interdependência e interlocução, possuem uma pessoalidade que não 
é pressuposta nem imposta, mas sim construída socialmente. A coexistência entre 
seres livres, iguais e, portanto, dotados pessoalidade, não é – como poderia parecer 
aos mais ingênuos e bondosos – tarefa das mais simples. 
 Um dos instrumentos alçados a desempenhar tal tarefa é, justamente, o 
Direito Penal. Nem sempre, contudo, esse instrumento serviu, in substantia, a tal 
propósito. Como explica ARAGONESES ALONSO,2 pode-se resumir a evolução da pena 
da seguinte forma: inicialmente a reação era eminentemente coletiva e orientada 
contra o membro que havia transgredido a convivência social. A reação social é, na 
sua origem, basicamente religiosa, e só de modo paulatino se transforma em civil. O 
principal é que nessa época existia uma vingança coletiva privada, que não pode ser 
considerada como pena, pois vingança e pena são dois fenômenos distintos. A 
vingança implica liberdade, força e disposições individuais; a pena, a existência de 
um poder organizado. Com a evolução da estrutura e da organização da 
coletividade, surge o sistema de composição, sucedâneo à vingança, e consiste no 
pagamento de um determinado valor à comunidade. No princípio, eram os parentes 
da vítima que tinham o direito de aplicar essas sanções e aceitar os pagamentos. 
Depois, o Estado assume essa tarefa. 
 O Estado, com o andar do tempo, enquanto ente jurídico e político, chama 
para si o direito e também o dever de proteger a comunidade e inclusive o próprio 
delinquente. À medida que o Estado se fortalece, consciente dos perigos que encerra 
a autodefesa, assumirá o monopólio da justiça, produzindo-se não só a revisão da 
natureza contratual do processo, senão também a proibição expressa para os 
indivíduos de tomar a justiça por suas próprias mãos. A relação entre o processo e a 
pena corresponde às categorias de meio e de fim. Assim nasce o processo penal, e na 
mesma toada, fortalece-se a ideia, bem delineada por JESCHECK e WESSELS,3 de que o 
Direito Penal tem a missão de proteger a convivência humana em comunidade, 
assegurando os valores fundamentais para tanto e garantindo a paz jurídica, pois o 
processo penal edifica-se como instrumento forçoso aos propósitos enunciados pelo 
Direito Penal. 
 Daí já se firma, pela primeira vez, a instrumentalidade do processo penal. 
Agora, convém registrar que essa instrumentalidade não é de todo igual à clássica 
noção estudada em âmbito civil. Ora, basta pensar-se que o Direito Penal é despido 
de coerção direta e, ao contrário do Direito Privado, não tem atuação nem realidade 
 
1 TAYLOR, Charles. As fontes do Self: a construção da identidade moderna. São Paulo: Loyola, 1997, cit., 
p. 42. 
2 ARAGONESES ALONSO, Pedro. Instituciones de Derecho Procesal Penal. 5. ed. Madri: Editorial Rubí Artes 
Gráficas, 1984, no prefácio. 
3 JESCHECK, Hans-Heinrich. Tratado de Derecho Penal: parte geral. 4. ed. Trad. José Luis Manzanares 
Samaniego. Granada, Comares, 1993, cit., p. 2 et seq.; WESSELS, Johannes. Direito Penal: parte geral. 
Trad. de Juarez Tavares. Porto Alegre, Sérgio Fábris, 1976, cit., p. 3. 
LUCAS DE OLIVEIRA ▪ CADERNO DE PROCESSO PENAL 
3 
 
concreta fora do processo correspondente. Na seara do Direito Privado, o processo 
civil não é instrumento imprescindível para a satisfação do direito material, à 
verdade, caminha-se no sentido oposto (desjudicialização). Assim, nas relações 
privadas, celebrado um contrato, o eventual adimplemento dos termos avençados de 
todo prescinde da instauração de um processo civil, que só terá lugar em caso de 
inadimplemento e negativa de cumprimento voluntário das obrigações pactuadas. 
Aliter, para que possa ser aplicada uma pena, não só é necessário que exista um 
injusto típico, mas também que exista previamente o devido processo penal. Neste 
quadrante, a precisão da lição do professor Aury LOPES JÚNIOR, colhendo inspiração 
em GOMEZ ORBANEJA,1 merece ser parafraseada: “A pena não só é efeito jurídico do 
delito, senão que é um efeito do processo; mas o processo não é efeito do delito, 
senão da necessidade de impor a pena ao delito por meio do processo”. 2 
 Existe uma íntima e imprescindível relação entre delito, pena e processo, 
de modo que são complementares. Não existe delito sem pena, nem pena sem delito 
e processo, nem processo penal senão para determinar o delito e impor uma pena. 
 Assim, fica estabelecido o caráter instrumental do processo penal com 
relação ao Direito Penal e à pena, pois o processo penal é o caminho necessário para a 
pena. 3 
 É o que GÓMEZ ORBANEJA4 denomina princípio da necessidade do processo 
penal (minha versão para vernáculo: principio de la necesidad del proceso penal, 
amparado no art. 1º da norma processual penal espanhola – Ley de Enjuiciamiento 
Criminal-LECrim), pois não existe delito sem pena, nem pena sem delito e processo, 
nem processo penal senão para determinar o delito e atuar a pena. O princípio 
apontado pelo autor resulta da efetiva aplicação no campo penal do aforismo latino 
nulla poena et nulla culpa sine iudicio, expressando o monopólio da jurisdição penal por 
parte do Estado e também a instrumentalidade do processo penal. 5 
 Os monopólios estatais, à evidência, são 3 (três): 
 a) Exclusividade do Direito Penal; 
 b) Exclusividade pelos Tribunais; 
 c) Exclusividade Processual. 
 
1 GOMEZ ORBANEJA,Emilio. Comentarios a la Ley de Enjuiciamiento Criminal. Barcelona Bosch, 1951, tomo 
I. p. 27 et seq. 
2 A instrumentalidade garantista do processo penal, disponível em: 
<http://www.juspodivm.com.br/jp/i/f/%7B34561569-847D-4B51-A3BD-B1379C4CD2C6%7D_022.pdf>, 
data de acesso: 25 de abril de 2014, p. 1. 
3 Idem, p. 2; presente também em: LOPES JÚNIOR, Aury. Direito processual penal. 9. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2012, p. 86. 
4 Op. cit., tomo I, p. 27. 
5 É neste sentido, outrossim, a lições de LOPES JÚNIOR, entabulado, por todas as obras, no ensaio A 
instrumentalidade garantista do processo penal, p. 4. 
http://www.juspodivm.com.br/jp/i/f/%7B34561569-847D-4B51-A3BD-B1379C4CD2C6%7D_022.pdf
 
4 
 
Introdução ao Processo Penal brasileiro 
 Conforme já se analisou, atualmente a pena é estatal (pública), no sentido 
de que o Estado substituiu a vingança privada e com isso estabeleceu que a pena é 
uma reação do Estado contra a vontade individual. Estão proibidas a autotutela e a 
“justiça pelas próprias mãos”. A pena deve estar prevista em um tipo penal e cumpre 
ao Estado definir os tipos penais e suas consequentes penas, ficando o tema completamente 
fora da disposição dos particulares (vedada, assim, a “justiça negociada”1). 
 A exclusividade dos tribunais em matéria penal deve ser analisada em 
conjunto com a exclusividade processual, pois, ao mesmo tempo em que o Estado prevê 
que só os tribunais podem declarar o delito e impor a pena, também prevê a 
imprescindibilidade de que essa pena venha por meio do devido processo penal. 
Melhor: cumpre aos juízes e tribunais declararem o delito e determinar a pena 
proporcional aplicável, e essa operação deve necessariamente percorrer o leito do 
processo penal válido com todas as garantias constitucionalmente estabelecidas para 
o acusado. 
 Nesta senda, LOPES JÚNIOR ao concluir suas explanações acerca do princípio 
da necessidade do processo penal, alicerce da instrumentalidade garantista, arrazoa, de 
forma firme e coesa, que: 
“(...) o processo penal constitui uma instância formal de controle do 
crime (Conforme explicam FIGUEIREDO DIAS e COSTA ANDRADE na 
obra Criminologia, p. 365 e ss.) e, para a Criminologia, é uma reação 
formal ao delito e também pode ser considerado como um 
instrumento de seleção, principalmentenos sistemas jurídicos que 
adotam princípios como o da oportunidade, plea bargaining e outros 
mecanismos de consenso. Ademais, da mesma forma que o Direito 
Penal é excludente (tanto quanto a sociedade), o processo e seu 
conteúdo aflitivo só agravam a exclusão, eis que se trata de inegável 
cerimônia degradante que possui seus ‘clientes preferenciais’.” 2 
 Já se encontra mais que nítida a instrumentalidade do processo penal. 
Inclusive, o Direito Penal careceria por completo de eficácia sem a pena, e a pena sem 
processo é inconcebível, um verdadeiro retrocesso, de modo que a relação e interação 
entre Direito e Processo é patente. 
 É fundamental compreender que a instrumentalidade do processo não 
significa que ele seja um instrumento a serviço de uma única finalidade, qual seja, a 
satisfação de uma pretensão (acusatória). Ao lado dela, está a função constitucional, 
 
1 O tema não escapará de uma análise detida. Porém, adiante-se que o monopólio estatal de perseguir 
e punir está sendo questionado a cada dia com mais força, com o implemento de princípios, como 
oportunidade e conveniência da ação penal, aumento do número de delitos de ação penal privada ou 
pública condicionada, e com as possibilidades de transação penal (plea bargaining). A justiça negociada 
configura uma perigosa e equivocada alternativa ao processo penal, conforme explicaremos na 
continuação. É a opinião, por exemplo, de LOPES JÚNIOR, in: Direito processual penal, p. 87, nota de 
rodapé n. 75. 
2 Direito processual penal, p. 88. 
LUCAS DE OLIVEIRA ▪ CADERNO DE PROCESSO PENAL 
5 
 
onde o processo serve como instrumento a serviço da realização do projeto democrático. 1 
Nesse soslaio coloca-se a finalidade constitucional-garantidora da máxima eficácia dos 
direitos e garantias fundamentais, em especial da liberdade individual. Inegável, assim, 
que a Constituição constitui, logo, necessariamente, orienta a instrumentalidade do 
processo penal. 2 
 A instrumentalidade do processo penal, retomando o que foi dito linhas 
acima, não pode ser confundida com a instrumentalidade elucubrada ao processo 
civil. São concepções diferentes para instrumentos com funções diferentes. O termo 
instrumentalidade do processo, em que sempre se remeteu à clássica obra da lavra de 
Cândido Rangel DINAMARCO,3 merece ser reinvestigado à luz do processo penal 
garantista. 
 Nesta senda, admirável é a apreciação de Alexandre MORAIS DA ROSA4 
quando sublinha o perigo de transmitir-se mecanicamente para o processo penal as 
lições de DINAMARCO, pois estar-se-ia a pautar a instrumentalidade pela conjuntura 
social e política, demandando um “aspecto ético do processo, sua conotação 
deontológica”. Explica MORAIS DA ROSA que “esse chamado exige que o juiz tenha os 
predicados de um homem do seu tempo, imbuído em reduzir as desigualdades 
sociais”, baseando-se nas modificações do Estado Liberal rumo ao Estado Social, mas 
“vinculada a uma posição especial do juiz no contexto democrático, dando-lhe 
poderes sobre-humanos, na linha de realização dos escopos processuais, com forte 
influência da superada filosofia da consciência, deslizando no Imaginário e 
facilitando o surgimento de Juízes Justiceiros da Sociedade”. E conclui o autor 
afirmando que a “pretensão de Dinamarco de que o juiz deve aspirar aos anseios 
sociais ou mesmo ao espírito das leis, tendo em vista uma vinculação axiológica, 
moralizante do jurídico, com o objetivo de realizar o sentimento de justiça do seu 
tempo, não mais pode ser acolhida democraticamente”. 5 
 Soçobra qualquer dúvida do acerto e valor dessas preleções, e de que esse 
perigo denunciado por MORAIS DA ROSA “é concreto e encontra em movimentos 
repressivos, como lei e ordem, tolerância zero e direito penal do inimigo, um terreno 
fértil para suas nefastas construções”. 6 
 Na feliz síntese de LOPES JÚNIOR, a noção de instrumentalidade do 
processo penal “tem por conteúdo a máxima eficácia dos direitos e garantias 
fundamentais da Constituição, pautando-se pelo valor dignidade da pessoa humana 
submetida à violência do ritual judiciário”. 7 Sagrando sua separação institucional e a 
autonomia de seu tratamento científico, o processo penal está a serviço do Direito 
 
1 É a posição amealhada por LOPES JÚNIOR a partir das lições de GERALDO PRADO. Cf. Direito processual 
penal, p. 88. 
2 Idem, ibidem. 
3 A instrumentalidade do processo. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1994. 
4 In: Direito Infracional, p. 135 et seq., citado por LOPES JÚNIOR. Direito processual penal, p. 89. 
5 Idem, ibidem. 
6 Idem, ibidem. 
7 Idem, ibidem. 
 
6 
 
Introdução ao Processo Penal brasileiro 
Penal, ou, para ser mais exato, da aplicação dessa parcela do direito objetivo-
substancial. Nesta toada, não pode descurar do fido cumprimento dos objetivos 
traçados por aquele, entre os quais está o de proteção do indivíduo. 1 Por tudo isso, e 
portanto, não à toa, a instrumentalidade do processo penal é adjetivada de garantista. 
2 
 2. Brevíssimas notas sobre o Decreto-lei n. 3.688 de 3 de out. de 1941 ▪ 
James GOLDSCHMIDT já em seu tempo elucubrava vivaz observação: 
“los principios de la política procesal de una nación no son otra cosa que 
segmentos de su política estatal en general. Se puede decir que la estructura 
del proceso penal de una nación no es sino el termómetro de los elementos 
corporativos o autoritarios de su Constitución. Partiendo de esta experiencia, 
la ciencia procesal ha desarrollado un número de principios opuestos 
constitutivos del proceso”. 3 
 Nesta medida, parece-me que estamos mal das pernas. 
 A reforma em pílulas é tradição na historiografia jurídica brasileira, bem 
assim tampouco é novidade reconhecer a inspiração italiana (Codice Rocco de 1930) do 
nosso Código de Processo Penal (CPP). A forte carga contragarantista do CPP4 é 
revelada já em sua própria exposição de motivos. A Itália, bom notar, reformulou sua 
legislação processual na década de 80 do século passado, chegando, finalmente, à 
democracia processual. Não por outra razão, como pondera um consolidado setor 
doutrinário, a mudança legislativa não pode vir desconectada da mudança de 
mentalidade. Isso parece óbvio, pois alguns costumes, tão caros à mentalidade dos 
membros da comunidade jurídica, já não estão em sintonia com a Carta 
constitucional. 5 
 Conforme assentado, além da origem totalitário-fascista do Código de 
Processo Penal, as reformas nele promovidas foram realizadas em migalhas, situação 
que, sem dúvidas, compromete a inteireza sistêmica do diploma. 
 Eis, aí, dois traços marcantes no desenvolvimento do Direito Processual 
Penal brasileiro. Quanto ao primeiro, não há dúvida de que a inspiração ideológica 
 
1 Idem, p. 90. 
2 As observações elucubradas neste tópico são seguidas pela doutrina majoritária: BRASILEIRO DE LIMA, 
Renato. Manual de processo penal. 2. ed. Salvador: JusPODIVM, 2014, p. 43; TOURINHO FILHO, Fernando 
da Costa. Manual de processo penal. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 13; MESSA, Ana. Curso de direito 
processual penal. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 79; PACELLI DE OLIVEIRA, Eugênio. Curso de processo 
penal. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 33-35. 
3 Problemas Jurídicos y Políticos del Proceso Penal. Barcelona: Bosch, 1935, cit., 67. 
4 O ministro Francisco Campos, que foi seu ideólogo, em sua exposição de motivos, deixa-nos 
perceber o viés antidemocrático ou contragarantista desta ao dizer que “o conceito político da 
democracia não era mais adequado aos novos ideais da vida. A liberdade individual e suas garantias 
não resolviam os problemas do homem. Eram ideais negativos, que não garantiam ao indivíduo 
nenhum bem concreto, seja no domínio econômico, seja no domínio moral, seja no domínio intelectual 
e político”. Sob tal ideologia surge o Código de ProcessoPenal que persiste em vigorar. 
5 PACELLI OLIVEIRA, Curso, p. 5-6. 
LUCAS DE OLIVEIRA ▪ CADERNO DE PROCESSO PENAL 
7 
 
fascista da teia normativa processual penal (deveria) soçobrar à forte carga cidadã da 
Constituição Federal de 1988. Quanto ao segundo, por sua vez, bem destaca LOPES 
JÚNIOR “ problema das reformas pontuais, sem desmerecer a imensa qualidade do 
trabalho realizado pela comissão de juristas, é que elas geram inconsist ncia e 
incoerência sistêmica, transformando o CPP, cada vez mais, numa imensa colcha de 
retalhos”. Esse último problema, infelizmente, necessitará de uma nova 
normatização para ser sanado. 1 
 Em síntese, a atualização do Código de Processo Penal está atrasada há 
pelo menos 26 anos. Não é mais possível compatibilizar uma Constituição Federal 
democrática, que se diz cidadã, com um CPP oriundo do Estado Novo de Getúlio 
Vargas, impregnado de conceitos fascistas. É preciso entender que a lógica mudou, 
que o acusado não é o inimigo e que no processo penal é fundamental estabelecer 
que os fins não justificam os meios, mas sim o inverso. 
 3. Conceito de Direito Processual Penal ▪ A conceituação do direito 
processual é geralmente direcionada aos dizeres de José FREDERICO MARQUES: “é o 
conjunto de princípios e normas que regulam a aplicação jurisdicional do Direito 
Penal, bem como as atividades persecutórias da Polícia Judiciária, e a estruturação 
dos órgãos da função jurisdicional e respectivos auxiliares”. 2 
 No meu peculiar entender, ainda que veladamente para uns, mas um 
tanto descaradamente para outros, o processo penal assume o viés de remédio para o 
passado – assim como o Direito Penal –, pois, já alertava Francesco CARNELUTTI, “um 
obscuro intuito tem sempre guiado os homens a crer que para o passado se tenha 
remédio”.3 Assim, para aqueles que assim pensam, o delito é uma desordem e o 
processo penal serviria para restaurar a ordem. Mas “como se faz ordem em lugar de 
desordem?” 4 
 Não há que se crer na pena ou no processo penal como remédio. Aliás, a 
distância entre as acepções é obeliscal. É preciso manter sempre vividos os relatos do 
acima citado mestre peninsular, para quem o processo é mais doloroso que a própria 
 
1 Aliás, encontra-se no Congresso Nacional o anteprojeto de novo CPP (2009) de coordenadoria do 
Ministro HAMILTON CARVALHIDO e relatoria de Eugênio PACELLI DE OLIVEIRA. Hoje, o anteprojeto já é 
Projeto de Lei do Senado n. 156 de 2009. Para acompanhar a tramitação, basta visitar o sítio eletrônico 
do Senado: << http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=90645>>. 
2 Elementos de direito processual penal. 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, v. 1, p. 20, citado, dentre outros, 
por TOURINHO FILHO, Manual, p. 13 e por CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal.15. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2012, p. 44. É interessante também, em doutrina, a experiência de definição engendrada por 
MOUGENOT BONFIM, Edilson. Curso de processo penal. 7. ed. São Paulo Saraiva, 2012, p. 33 “o processo 
penal é o instrumento do Estado para o exercício da jurisdição em matéria penal. O direito processual 
penal, portanto, pode ser definido como o ramo do direito público que se ocupa da forma e do modo (i.e.: o 
processo) pelos quais os órgãos estatais encarregados da administração da justiça concretizam a pretensão 
punitiva, por meio da persecução penal e consequente punição dos culpados. Tem como conteúdo normas que 
disciplinam a organização dos órgãos da jurisdição e de seus auxiliares, o desenvolvimento da atividade 
persecutória e a aplicação da sanção penal”. 
3 As misérias do processo penal. 3. ed. São Paulo: EDIJUR, 2013, p. 59. 
4 Idem, ibidem. 
http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=90645
 
8 
 
Introdução ao Processo Penal brasileiro 
pena, sendo, destarte, necessária a guarnição de todas as ferramentas possíveis para 
garantir a humanidade deste certame, tendo em mente que o Direito serve à pessoa, 
fim-em-si, alvo da tutela máxima do direito, e “o mais pobre de todos os homens é o 
encarcerado”1, isto é, aquele que mais precisa da proteção e garantia do Direito. 
 Portanto, no meu sentir, o processo penal não pode jamais desgarrar-se da 
ideia de constituir um instrumento através do qual sejam garantidos os direitos 
basilares ao acusado, estabelecendo um patamar de dialeticidade e intelegência na 
apuração e imputação de eventuais infrações, bem como fazendo soçobrar as 
influências externas ensejadas por clamores positivos e negativos sociais, econômicos, 
políticos e midiáticos, de modo a aplicar as normas processuais com intuito de 
conceder ao Direito penal seu soslaio imprescindível e inegável de ultima ratio. 
 3.1. Finalidade do Direito Processual Penal ▪ Ana MESSA, sintetizando os 
dizeres da doutrina coloquial, apõe que a finalidade do processo penal divide-se em 
duas espécies: 
“a) mediata: é a manutenc ão da paz social confunde-se com a 
própria nalidade do Direito Penal; 
b) imediata: é realizac ão da pretensão punitiva derivada de um 
delito, pela utilizac ão da garantia jurisdicional”. 2 
 Apesar da esquematização da autora realmente refletir a visão majoritária 
do processo penal, em meu pesar, o processo serve tão só como instrumento 
constitucional à garantia da pessoa e dos direitos do acusado. Qualquer outra 
elucubração adentra na teoria da pena ou escapa ao espírito garantista que se 
pretende empreender nestes escritos. 
CAPÍTULO II – FONTES, INTERPRETAÇÃO E EFICÁCIA DA NORMA DE DIREITO 
PROCESSUAL PENAL 
 4. Fontes do Direito Processual Penal ▪ O expressão “fonte” tem sua 
origem etimológica nos vocábulos latinos fontanus, fons, fontis, palavra de origem 
religiosa significando nascente ou manancial (fonts). A teoria das fontes do Direito 
Processual Penal, assim, busca responder à questão acerca da origem das normas que 
integram o ordenamento jurídico processual penal. 
 4.1. Fontes materiais ▪ A fonte material designa a entidade que cria o 
direito. No caso do direito processual, a União é a única fonte material, já que é a 
única entidade dotada de poder para a criação de normas que o disciplinem (art. 22, 
I, da CF). No entanto, adverte MOUGENOT BONFIM, que a competência da União é 
privativa – e não exclusiva –, de modo que, excepcionalmente, poderá a lei estadual 
 
1 À verdade, “cada um de nós está fechado em uma jaula que não se v . Não nos parecemos com os 
animais porque estamos na jaula, mas estamos na jaula porque nos parecemos com os animais”. Idem, 
p. 19 e 23. 
2 Curso, p. 80. 
LUCAS DE OLIVEIRA ▪ CADERNO DE PROCESSO PENAL 
9 
 
versar, através de lei complementar, sobre questões atinentes à matéria processual 
penal, de acordo com a permissividade contida no art. 22, parágrafo único, da 
Constituição Federal. 1 
 matéria de compete ncia concorrente a criac ão, o funcionamento e o 
processo dos juizados de pequenas causas (art. 2 , , da ), direito penitenciário 
(art. 2 , I, da ) e procedimentos em matéria processual (art. 24, XI, da CF). Na 
compete ncia concorrente, a nião edita as normas gerais; os Estados e o Distrito 
Federal editam as normas especí cas os Municípios são responsáveis por 
suplementar a legislac ão federal e estadual naquilo que couber (art. 24, §§ 1º ao 4º, 
combinado com o art. 30, II, ambos da CF). 
 Há que se atentar, aliás, para o fato de que o art. 1º, I, do CPP, prevê que 
os tratados internacionais também serão fontes materiais do processo penal. Esses 
são os acordos entre Estados estrangeiros ou entre Estado estrangeiro e organizac ão 
internacional. s tratados são celebrados pelo presidente da ep blica e 
posteriormente ratificados pelo Congresso Nacional, por meio de decreto legislativo. 
Depois de rati cados, são promulgados e publicados pelo presidente da ep blica. 
Se forem publicados,valerão como lei ordinária federal porém podem valer como 
emenda constitucional, desde que o tratado verse sobre direitos humanos e seja 
aprovado como uma emenda, isto é, em cada Casa do Congresso Nacional (Câmara 
dos Deputados e Senado Federal), em dois turnos e por três quintos do total; ou com 
hierarquia supralegal, quando versarem sobre direitos humanos, sem passar pelo 
procedimento da emenda. 
 4.2. Fontes formais ▪ As fontes formais são os meios de expressão do 
Direito Processual Penal, as fontes de revelac . São subdividas em duas espécies: 
(i) imediata ou direta é a fonte que contém a norma processual penal, 
isto é, a lei em sentido amplo. Há diverge ncia na enumerac ão, mas, 
numa visão majoritária, pode-se afirmar que são fontes formais 
imediatas: a Constituic ão ederal o ódigo de Processo Penal; leis 
esparsas; leis de organizac ão judiciária; e os regimentos internos de 
tribunais. Impende anotar, ainda, que no rol das fontes imediatas, há 
quem diferencie a fonte primária, que é o ódigo de Processo Penal, 
da fonte secundária, que são as leis esparsas de processo penal. 
Ademais, em relac ão s leis extravagantes, há as complementares e as 
modificativas; 
(ii) mediatas ou indiretas ou supletivas: há diverge ncia doutrinária a 
respeito da enumerac ão das fontes mediatas. A classificac ão mais 
difundida entre os estudiosos é a seguinte: (i) costumes; (ii) princípios 
gerais do direito. 2 
 
1 Curso, p. 34. 
2 Cf. MESSA. Curso, p. 83. 
 
10 
 
Introdução ao Processo Penal brasileiro 
 5. Interpretação e integração do Direito Processual Penal ▪ O processo 
penal possui cânones exegéticos que se diferenciam daqueles aplicados no Direito 
Penal, deste modo, há que se destacar espaço para análise das ferramentas de 
interpretação e integração do Direito Processual Penal. 
 Levy MAGNO adverte que a interpretac ão consiste em uma atividade 
mental realizada com o objetivo de extrair da norma legal o seu conte do, 
estabelecendo-se sua real finalidade. Interpretar uma norma processual é tirar-lhe a 
essência. 1 Além desta função clarificadora, aludida pelo esperto jurista, as regras 
referentes à interpretação prestam-se, ainda, a resolver aquelas situações em que 
sobre um mesmo fato incidem duas ou mais normas jurídicas de conteúdo 
conflitante. Trata-se das situações de conflito aparente entre normas jurídicas. 
 A integração, a seu tempo, ocorrerá sempre que inexista uma norma 
aplicável ao fato concreto, ou seja, existem casos em que o ordenamento não prevê – 
ou não prevê explicitamente – determinadas situações, colocando o aplicador do 
direito diante do que se convencionou chamar “lacuna da lei”. Nesses casos, a 
aplicação da lei deverá ser precedida pela atividade de integração. 2 
 Nesta toada, o art. 3º do PP pretendeu relacionar os critérios 
disponibilizados para interpretac ão e integração das normas processuais. Eis a 
redac ão do dispositivo “A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e 
aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito”. 
 Interpretaç é aquela que admite uma ampliação no campo de 
incidência da norma, de forma a possibilitar a regulamentac ão de determinada 
situação. 
 A analogia consiste no processo de integração da norma jurídica escrita por 
meio do qual, frente ao silêncio da lei sobre determinada situação, utiliza-se outro 
preceito legal que rege situação semelhante. Melhor: a aplicação analógica a que se 
refere o art. 3º do CPP incide, portanto, na aplicação, em face de determinado caso 
concreto, de uma norma originalmente destinada a casos diversos. 3 A analogia, 
diferentemente do Direito Penal, frente à necessidade de eficácia da persecução 
penal, admite-se a analogia in bonam partem e in malam partem, desde que não lese 
direito processual básico, cerceamento da acusação ou defesa. 
 Com efeito, não há que se confundir a aplicação analógica, prevista no art. 
3º do CPP, com a interpretação analógica. 
 A analogia consiste na aplicação de uma norma a um caso nela não 
previsto. Não é, portanto, método de interpretação, mas sim de integração. No plano lógico, 
a integração sucede à interpretação. 
 
1 Curso de processo penal didático. São Paulo: Atlas, 2012, p. 99. 
2 Cf. MOUGENOT BONFIM. Código de Processo Penal anotado. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 44. 
3 Idem, p. 45. 
LUCAS DE OLIVEIRA ▪ CADERNO DE PROCESSO PENAL 
11 
 
 A interpretação analógica é método interpretativo, que se aplica àqueles 
dispositivos legais que trazem um rol de fórmulas casuísticas (rol exemplificativo). 
Dos casos citados no texto legal, é possível inferir – por meio do raciocínio indutivo – 
uma regra genérica, que permitirá identificar outros casos aos quais a norma será, 
também, aplicável. Trata-se, portanto, de método interpretativo destinado a 
identificar casos implicitamente previstos no preceito normativo. 1 
 O art. 3º do CPP prevê, por fim, a adoção, em caráter suplementar, a fim 
de suprir as lacunas da lei, dos princípios gerais de direito. Estes são regras gerais que 
se podem inferir da apreciação do ordenamento jurídico estatal como um todo. Trata-
se, pois, de aplicar à lacuna uma regra que se coaduna com o sistema, resolvendo o 
caso concreto de forma harmônica com as normas destinadas aos outros casos. 2 
 6. Eficácia da lei processual no espaço (art. 1º do CPP) ▪ O princípio que 
rege a relação processual penal no espaço é o da territorialidade. O direito processual 
liga-se com muito mais intensidade ao território de seu Estado de origem do que o 
próprio direito material. De fato, o direito processual pode ser encarado como um 
conjunto de normas destinado a instrumentalizar o exercício do poder soberano do 
Estado (especificamente, sua parcela consubstanciada na jurisdição). 
 O art. 1º do CPP estabelece, em seus incisos, ressalvas à própria 
aplicabilidade. Além dos casos estatuídos no artigo em tela, os crimes eleitorais 
(regidos pelo Cód. Eleitoral), procedimentos previstos em leis especiais (v.g., Lei de 
Drogas, Lei Maria da Penha, Crimes de menor potencial ofensivo, crime de abuso de 
autoridade etc.), crimes de competência originária dos tribunais (Lei n. 8.038 de 1990) 
e no caso do tribunal internacional penal, ressalva-se a aplicabilidade do CPP. 
 7. Eficácia da lei processual no tempo (art. 2º do CPP) ▪ O entendimento 
majoritário é no sentido de que não importará, no caso da lei processual penal, que a 
nova legislação seja mais gravosa ao acusado, em face do princípio tempus regit actum 
(o tempo rege o ato), do qual deflui o princípio da aplicação imediata. Parte da 
doutrina, entretanto, estende os princípios informadores da aplicação das normas 
penais materiais — entre os quais o da aplicação da lei mais benéfica — também às 
leis processuais que atinjam o status libertatis do réu, em uma concepção garantista do 
processo penal. Isso ocorre no caso das chamadas normas heterotópicas e de 
natureza mista. 
 
1 É a lição de MOUGENOT BONFIM, que apresenta, inclusive, generoso exemplo de interpretação 
analógica “Por exemplo, o art. 2º da Lei n. 12.037/2009 prevê, nos incisos I a V, um rol de documentos 
que servem para atestar a identificação civil das pessoas, eximindo-as, portanto, da identificação 
criminal (art. 1º do mesmo Diploma Legal). O inciso VI do art. 2º dispõe, no entanto, que a 
identificação civil poderá ser atestada por ‘VI – outro documento público que permita a identificação 
do indiciado’. O referido inciso, a bem da verdade, é claro exemplo da interpretação analógica em 
normas processuais penais, à medida que disciplina ser possível a identificação civil com quaisquer 
outros documentos públicos, desde que guardem semelhança com o rol disciplinado nos incisos I a V 
do mesmodispositivo”. Idem, ibidem. 
2 Idem , ibidem. 
 
12 
 
Introdução ao Processo Penal brasileiro 
 O problema prático consiste em identificar corretamente essa zona 
cinzenta, 1 distinguindo verdadeiramente a natureza jurídica da norma – se 
processual ou substantiva –, impedindo a indevida caracterização de “norma penal” 
para aquilo que, de regra, consiste em norma processual. 
 De qualquer modo, entende a doutrina que a regra da incidência imediata 
da lei processual penal não se aplicaria, uma vez que se refere tão somente às normas 
que tenham por conteúdo matéria exclusivamente processual. Para estas, aplicar-se-á 
o princípio da retroatividade da lei mais benéfica ao acusado, estatuído no art. 2º, 
parágrafo único, do Código Penal, posição que tem sido sustentada majoritariamente 
pela jurisprudência, especialmente por aqueles que entendem serem tais normas 
mistas, indecomponíveis, razão pela qual não poderiam retroagir para prejudicar o 
réu, tampouco poderiam ter aplicação parcial. 
 As normas de conteúdo misto são aquelas que, embora tenham reflexos no 
processo penal, dizem respeito, também, a pretensão punitiva do Estado e as 
garantias individuais. 
 Repise-se: se a lei for somente processual, não cabe analisar o caráter mais 
benéfico da lei nova, pois essa se aplicará de modo imediato. 
 A lei nova, contudo, não pode violar um direito adquirido. Exemplo: 
aberto o prazo para recurso, mesmo que a lei nova extinga o recurso, altere-o ou 
impeça-o, o ato não afeta a parte. 
CAPÍTULO III – SISTEMAS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 8. Sistemas processuais. Introdução e histórico ▪ Conforme já dito, os 
princípios de política processual de uma nação não são outra coisa do que segmento 
da sua política estatal em geral; e o processo penal de uma nação não é senão um 
termômetro dos elementos autoritários ou democráticos da sua Constituição. 2 
 Neste quadrante, a oscilação entre períodos mais e menos democráticos 
não é absurdo ou catástrofe excepcional na história. Essa movimentação é explicada, 
inclusive, pela teoria das formas de governos. A alternância, inegavelmente, acaba por 
repercutir na estruturação sistemática do direito à época produzido. Nesta senda, 
tenho por curial remontar a Políbio, historiador da antiguidade que teceu algumas 
considerações sobre as constituições – de sua época – em geral. Nessa teoria expõe-se, 
sobretudo, três teses que merecem ser enunciadas, ainda que brevemente : 1) existem 
fundamentalmente seis formas de governo – três boas e três más; 2) essas seis formas 
se sucedem umas as outras de acordo com determinado ritmo, constituindo um 
 
1 É a missão posta por RAMOS, João Gualberto Garcez. A tutela de urgência no processo penal brasileiro. 
Belo Horizonte: Del Rey, 1998, p. 101 et seq. 
2 “los principios de la política procesal de una nación no son otra cosa que segmentos de su política estatal en 
general. Se puede decir que la estructura del proceso penal de una nación no es sino el termómetro de los 
elementos corporativos o autoritarios de su Constitución. Partiendo de esta experiencia, la ciencia procesal ha 
desarrollado un número de principios opuestos constitutivos del proceso”. In: GOLDSCHMIDT. Problemas 
Jurídicos y Políticos del Proceso Penal, p. 67. 
LUCAS DE OLIVEIRA ▪ CADERNO DE PROCESSO PENAL 
13 
 
determinado ciclo, repetido no tempo; 3) além dessas seis formas tradicionais, há 
uma sétima – exemplificada, pelo sábio, pela constituição romana – que é a melhor 
de todas enquanto síntese das três formas boas. Com a primeira tese, Políbio 
confirma a teoria tradicional; com a segunda, fixa num esquema completo, embora 
rígido, a teoria dos ciclos (ou, para empregar a terminologia dos gregos, da 
“anaciclose”), que Platão já tinha exposto com a terceira, formulada pela primeira 
vez, de modo completo, a teoria do governo misto. 
 A divergência de inspirações não se altera tão só em virtude do tempo, 
mas, também, por força do espaço. Engenhos mais e menos democráticos se 
amotinam ao redor do mundo. Sistemas democráticos também se alteram de país 
para país. 
 Assim sendo, o Direito Processual Penal não escapa a tais oscilações, de 
modo se constatar, com facilidade, a vigência de sistemas mais ou menos 
democráticos em determinados espaços-tempo, confirmando a construção clássica da 
teoria dos ciclos polibianos. Doravante, analisar-se-á cada um destes sistemas. 
 8.1. Sistema acusatório ▪ O sistema acusatório caracteriza-se, pois, 
notadamente, por ser uma disputa entre duas partes em paridade de armas, uma 
espécie de duelo judiciário entre a acusação e a defesa, disciplinado por um terceiro 
imparcial, o juiz ou o tribunal, que, ocupando uma situac ão de supremacia e 
independência relativamente ao acusador e ao acusado (actum trium personarum), não 
pode promover o processo (ne procedat judex ex officio) nem condenar para além da 
acusac ão (sententia debet esse conformis libelo). 1 
 LOPES JÚNIOR,2 em agradável incursão histórica, ensina-nos que a origem 
do sistema acusatório remonta ao Direito grego, o qual se desenvolve referendado 
pela participação direta do povo no exercício da acusação e como julgador. Vigorava 
o sistema de ação popular para os delitos graves (qualquer pessoa podia acusar) e 
acusação privada para os delitos menos graves, em harmonia com os princípios do 
Direito Civil. 
 No sistema acusatório, a acusação era por escrito e indicava as provas, bem 
como o procedimento era oral, predominando a publicidade. À verdade, os julgamentos 
eram públicos, com os magistrados votando ao final sem deliberar. 
 Presunção era de inocência, logo, a regra era que o acusado permanecesse 
solto durante o processo. 
 
1 Cf. SILVA, Germano Marques da. Curso de direito processual penal. Lisboa: Babel, v. I, 2010. 
2 Direito processual penal, p. 124. Sobre o tema, adenda o mestre BRASILEIRO DE LIMA “ sistema 
acusatório vigorou durante quase toda a Antiguidade grega e romana, bem como na Idade Média, nos 
domínios do direito germano. A partir do século XIII entre em declínio, passando a ter prevalência o 
sistema inquisitivo. Atualmente, o processo penal inglês é aquele que mais se aproxima de um sistema 
acusatório puro”. In Manual, p, 46. 
 
14 
 
Introdução ao Processo Penal brasileiro 
 A atuação dos juízes era passiva, no sentido de que eles se mantinham 
afastados da iniciativa e gestão da prova, atividades a cargo das partes. 1 
 No sistema acusatório, tem-se um processo de partes, em que autor e réu 
são sujeitos de direito e constroem através de um confronto a solução justa do caso 
penal. Havia, destarte, contraditório e direito de defesa. Assim, a con ssão isolada não é 
suficiente para a condenac ão e todas as provas possuem valor relativo. uanto s 
provas, vigora o sistema do “livre convencimento motivado”. 
 Havia a adoção do princípio ne procedat iudex ex officio, ou seja, o juiz não 
pode iniciar a persecuc ão penal de ofício, deve se ater iniciativa do órgão acusador, 
que é a parte legítima. Ademais, não se admitia a denúncia anônima nem processo 
sem acusador legítimo e idôneo, sendo que estava apenado o delito de denunciação 
caluniosa, como forma de punir acusações falsas e não se podia proceder contra réu 
ausente. á um procedimento contínuo a ser seguido, com atos previamente 
determinados. 
 E, que de todas caracteres é a mais fundamental, as atividades de acusar e 
julgar estão encarregadas a pessoas distintas. 
 8.2. Sistema inquisitorial ▪ O sistema dito inquisitorial tem origem 
canônica, remontando ao século XIII, propagando-se por toda a Europa continental, 
sendo utilizado inclusive pelos tribunais civis até o século XVIII. Tem como principal 
característica o fato de concentrarem-se no juiz as funções de acusar, defender e julgar, 
passando a ser alcunhado de juiz inquisitor.2 
 E se no início predominava a publicidade dos atos processuais, isso foi 
sendo gradativamente substituído pelos processos à porta fechada. As sentenças, que 
na época Republicana eram lidas oralmente desde o alto do tribunal, no Império 
assumem a forma escrita e passam a ser lidas na audiência. O processo inquisitivo 
passa a ser, em regra, escrito e sigiloso. 
 Com a reunião de funções em uma figura só acaba-se por matar o 
contraditório. Ora, nem seria concebível falar em contraditório, uma vez que sendo o 
juiz julgador, defensor e acusador, faltaria a necessária contraposição. 
 A partir daí, os juízes começaram a proceder de ofício, sem acusação 
formal, realizando eles mesmos a investigação e posteriormente dando a sentença. O 
juiz inquisidor passa a ser dotado de ampla iniciativa probatória. 
 No sistema inquisitorial, o acusado é mero objeto do processo, não sendo 
considerado sujeito de direitos. Impende notar, neste quadrante, que se considerava 
possível a descoberta de uma verdade pura ou absoluta, admitindo-se, assim, uma 
ampla atividade probatória – que recai nas mãos do juiz –, quer em relação ao objeto 
do processo, quer em relação aos meios e métodos para descoberta da verdade. Nesta 
 
1 A gestão das provas é função das partes, cabendo ao juiz um papel de “garante das regras do jogo”. 
Idem, ibidem. 
2 Cf. BRASILEIRO DE LIMA. Manual, p. 44. 
LUCAS DE OLIVEIRA ▪ CADERNO DE PROCESSO PENAL 
15 
 
senda, na busca da verdade pura, admitia-se que o acusado fosse torturado para que 
uma confissão fosse obtida. 
 A confissão assume caráter de principal prova, sendo conseguida de 
qualquer forma (v.g., tortura, escravidão etc.). O processo penal canônico (antes 
marcado pelo acusatório) contribuiu definitivamente para delinear o modelo 
inquisitório, mostrando na Inquisição Espanhola sua face mais dura e cruel. 
 Com se nota, há nítido entrelaço entre o processo penal e a natureza do 
Estado que o institui. A característica fundamental do processo inquisitório é a 
concentração de poderes nas mãos do juiz, então chamado de inquisidor, à semelhança da 
reunião de poderes de administrar, legislar e julgar nas mãos de uma única pessoa, 
de acordo com o regime político do absolutismo. 1 
 É ululante, ex positis, que o processo inquisitório é incompatível com os 
direitos e garantias fundamentais, violando os mais basilares princípios processuais. 
Sem a presença de um julgador afastado da investigação e equidistante às partes, não 
há como falar em imparcialidade, resultando, obviamente, em violação às tábuas 
axiológicas mínimas da modernidade, como, por exemplo, a Constituição Federal de 
1988 e à própria Convenção Americana sobre Direitos Humanos (CADH, art. 8º, 1). 2 
 
 
1 É cátedra precisa de BRASILEIRO DE LIMA. Manual, p. 45. 
2 Idem, ibidem. 
 
16 
 
Introdução ao Processo Penal brasileiro 
SISTEMA INQUISITORIAL SISTEMA ACUSATÓRIO 
Posic : não tinha imparcialidade, tinha 
iniciativa probatória na busca da verdade 
material dos fatos; investigava, acusava e julgava 
(dominus do processo); julgava com base no que 
constava dos autos e nas provas por ele 
coletadas os juízes eram permanentes e 
irrecusáveis; 
Posic : imparcialidade não podia agir 
de ofício (ne procedat iudex ex officio) não podia 
condenar além da acusac ão cava afastado da 
iniciativa e da gestão da prova; tinha a apreciac ão 
objetiva do caso que lhe era submetido pela 
acusac ão e decidia de acordo com a livre-
apreciac ão das provas, com a devida 
fundamentac ão. 
Distribuic : reuniam-se na mesma 
pessoa as func es de acusar, defender e julgar 
(juiz inquisitor); 
Distribuic : havia uma distribuic ão 
das func es de acusar, defender e julgar para 
pessoas distintas (observa ncia do actum trium 
personarum – ato de tre s personagens juiz, autor 
e réu) 
Garantias processuais: o processo corria em 
segredo (sigiloso para o p blico e para o réu), 
sem contraditório e ampla defesa o réu era mero 
objeto de persecuc ão não havia igualdade 
jurídica entre acusador e acusado; 
Garantias processuais: observa ncia do 
contraditório, da ampla defesa, acesso justic a, 
devido processo legal, juiz natural, igualdade de 
direitos; 
Iniciativa do processo: era feita de ofício pelo 
juiz havia possibilidade de den ncias ano nimas 
e secretas; 
Iniciativa do processo: a iniciativa do processo 
cabia parte acusadora, que poderá ser o 
ofendido ou seu representante legal, ou qualquer 
do povo, ou órgão do Estado; 
Formalidades: procedimento escrito, com a 
documentac ão de todos os atos; 
Formalidades: a acusac ão era por escrito e 
indicava as provas; o processo era p blico (era 
admitido de forma excepcional o sigilo na prática 
de determinados atos); e havia predomina ncia da 
forma oral para os atos processuais; 
Verdade: como se admitia o princípio da 
verdade real, o acusado não é sujeito de direitos, 
sendo tratado como mero objeto do processo, daí 
porque se admitia inclusive a tortura como meio 
de se obter a verdade absoluta; 
Verdade: O princípio da verdade real é 
substituído pelo princípio da busca da verdade, 
devendo a prova ser produzida com observância 
ao contraditório e à ampla defesa; 
Prova: a coleta de provas cabia ao juiz, sendo 
adotado o sistema tarifado; a con ssão era a 
“rainha das provas” e o testemunho a “prostituta 
das provas” a con ssão era elemento su ciente 
para condenac ão a tortura era válida para obter 
con ssão as provas eram apreciadas com regras 
mais aritméticas do que processuais. 
Prova: con ssão do réu não implicava 
necessariamente em sua condenac ão; a iniciativa 
probatória era atribuída s partes; ause ncia de 
tarifa probatória. 
 8.3. Sistema misto (ou sistema francês) ▪ Finalmente, no século XVIII e 
XIX, a Revolução Francesa e suas novas ideologias e postulados de valorização do 
homem levam a um gradual abandono dos traços mais cruéis do sistema inquisitório. 
 Este novo modelo, ensina a doutrina, ganha rosto com o surgimento do 
famoso C d d’ ruc cr m ll francês, em 1808. 
 Com efeito, o sistema se diz misto pois não tem um princípio básico 
identificador. Esse sistema funcionaria como uma fusão dos dois modelos anteriores. 
 A natureza mista deste sistema se explica, no entender de BRASILEIRO DE 
LIMA e PACELLI DE OLIVEIRA , pois o processo se desdobra em duas fases distintas: (i) a 
LUCAS DE OLIVEIRA ▪ CADERNO DE PROCESSO PENAL 
17 
 
primeira é tipicamente inquisitorial, com instrução escrita e secreta, sem acusação e, 
por isso, sem contraditório, sob a presidência de um magistrado – os Juizados de 
Instruc ão –, visando apurar a materialidade e a autoria do fato delituoso (fase de 
investigação); (ii) a segunda é de viés acusatório, onde o órgão acusador apresenta a 
acusação – a acusac ão criminal cava a cargo de outro órgão (o Ministério P blico) 
que não o juiz, característica já essencial do sistema acusatório –, o réu se defende e o 
juiz julga, vigorando, em regra, a publicidade e a oralidade. 1 
 A classificação em sistema misto é alvo de muita crítica em doutrina. 2 
 8.4. Sistema brasileiro ▪ Quando o CPP entrou em vigor, prevalecia o 
entendimento de que o sistema nele previsto era misto. Explica BRASILEIRO DE LIMA 
que isso se dava, pois, a fase inicial da persecução penal, singularizada pelo inquérito 
policial, era de natureza inquisitorial. Contudo, uma vez iniciado o processo, tinha-se 
uma fase notadamente acusatória. 3 
 Bem verdade que, ainda hoje, há de se registrar que uma pequena parcela 
da doutrina, capitaneada por Guilherme de Souza NUCCI,4 entende que o sistema 
processual brasileiro é o misto. 
 Concessa maxima venia, com o advento da Constituição Federal, que prevê 
de maneira expressa a separação das funçõesde acusar, defender e julgar, 5 estando 
assegurado o contraditório e a ampla defesa, além do princípio da presunção de não 
culpabilidade, torna-se inegável a natureza acusatória do sistema pátrio. Esse é o 
entendimento que prevalece amplamente na doutrina6 e na jurisprudência do 
Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça. 
 Contudo, é bem verdade que não se trata de um sistema acusatório puro. 7 
Com justeza, a própria inspiração fascista do Código já indica a correção do 
pensamento anteponto. A cátedra de RANGEL é reveladora: 
 
1 BRASILEIRO DE LIMA. Manual, p. 47 e PACELLI DE OLIVEIRA. Curso, p. 10. 
2 Por todos, LOPES JÚNIOR. Direito processual penal, p. 133 et seq. 
3 BRASILEIRO DE LIMA. Manual, p. 47. 
4 Cf. l r d c c m m d r r c l. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 
147. 
5 umpre informar que no direito positivo, vários dispositivos denotam que o rasil adotou o sistema 
processual acusatório, em especial o art. 12 , I, da , que concede ao Ministério P blico a 
titularidade exclusiva da ac ão penal p blica; e o art. 30, do CPP, que confere a iniciativa da ac ão penal 
privada ao ofendido ou a quem tenha legitimidade para representá-lo. Percebe-se com facilidade a 
nítida separac ão das func es de acusar, defender e julgar (o “actum trium personarum”). MAGNO. Curso, 
p. 33. 
6 Neste sentido: LOPES JÚNIOR. Direito processual penal, p. 123 et seq.; BRASILEIRO DE LIMA. Manual, p. 47; 
Magno. Curso, p. 33; DEMERCIAN, Pedro Henrique; e ASSAF MALULY, Jorge. Curso de Processo Penal. 8. 
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 28; GOMES, Luiz Flávio. Estudos de Direito Penal e Processo Penal. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 182; RANGEL, Paulo. Direito processual penal, 18. ed. Rio de 
Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 85, entre outros. 
7 É a opinião de, entre outro, GOMES. Estudos de Direito Penal e Processo Penal, p. 182; RANGEL. Direito 
processual penal, p. 85 e BRASILEIRO DE LIMA. Manual, p. 47. 
 
18 
 
Introdução ao Processo Penal brasileiro 
“O Brasil adota um sistema acusatório que, no nosso modo de ver, 
não é puro em sua essência, pois o inquérito policial regido pelo 
sigilo, pela inquisitoriedade, tratando o indiciado como objeto de 
investigação, integra os autos do processo, e o juiz, muitas vezes, 
pergunta, em audiência, se os fatos que constam do inquérito policial 
são verdadeiros. Inclusive, ao tomar depoimento de uma testemunha, 
primeiro lê seu depoimento prestado, sem o crivo do contraditório, 
durante a fase do inquérito, para saber se confirma ou não, e, depois, 
passa a fazer as perguntas que entende necessárias. Neste caso, 
observe o leitor que o procedimento meramente informativo, 
inquisitivo e sigiloso dá o pontapé inicial na atividade jurisdicional à 
procura da verdade processual. Assim, não podemos dizer, pelo 
menos assim pensamos, que o sistema acusatório adotado entre nós é 
puro. Não é. Há resquícios do sistema inquisitivo, porém já 
avançamos muito”. 1 
CAPÍTULO IV – GARANTIAS FUNDAMENTAIS DE DIREITO PROCESSUAL 
PENAL 
 9. Garantias e princípios fundamentais ao processo penal ▪ O 
fundamento legitimante da existência do processo penal democrático é sua 
instrumentalidade constitucional, ou seja, o processo enquanto instrumento a serviço 
da máxima eficácia de um sistema de garantias mínimas. Nesta toada, as garantias e 
princípios fundamentais ao processo penal tem importância mater na filtragem 
constitucional que visa estabelecer uma (inafastável) tábua de valores mínimos 
àqueles que participam do árduo certame processual penal. 2 
 O processo é um instrumento de poder. Se de natureza penal, o processo 
pode ser uma poderosíssima arma à ruína de outrem. Então, se é verdade que todo 
poder tende a ser autoritário e precisa de limites, as garantias processuais 
constitucionais são verdadeiros escudos protetores3 contra o (ab)uso do poder estatal. 4 
 Neste prisma, fundamentais são os Decretos ns. 678 (art. 8º) e 592 (art. 14), 
ambos de 1992. Trata-se de garantias mínimas, que se somam aquelas encampadas 
no art. 5º da CF, formando o arcabouço garantístico-axiológico mínimo ao processo. 
 9.1. Juiz natural ▪ Inicialmente, cumpre recordar a garantia do juiz natural, 
enquanto portadora de um tríplice significado: 
a) somente os órgãos instituídos pela Constituição podem exercer 
jurisdição; 
 
1 Direito processual penal, p. 85. 
2 Cf. LOPES JÚNIOR. Direito processual penal, p. 183. 
3 A expressão é de BINDER, Alberto. Introdução ao Direito Processual Penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 
2003, p. 85. 
4 Cf. LOPES JÚNIOR. Direito processual penal, p. 183. 
LUCAS DE OLIVEIRA ▪ CADERNO DE PROCESSO PENAL 
19 
 
b) ninguém poderá ser processado e julgado por órgão instituído 
após o fato; 
c) há uma ordem taxativa de competência (art. 5º, LIII, da CF) entre os 
juízes pré-constituídos, excluindo-se qualquer alternativa deferida à 
discricionariedade de quem quer que seja.1 
 Trata-se de verdadeira exclusividade do juiz legalmente instituído para 
exercer a jurisdição, naquele determinado processo, sem que seja possível a criação 
de juízos ou tribunais de exceção (art. 5º, XXXVII, da CF). É fundamental vedar-se a 
atribuição de competência post facto, evitando-se que a juízes ou tribunais sejam 
especialmente atribuídos poderes (após o fato) para julgar um determinado delito. 
Por fim, a ordem taxativa de competência é indisponível, não havendo possibilidade 
de escolha. 
 O princípio do juiz natural não é mero atributo do juiz, senão um 
verdadeiro pressuposto para a sua própria existência. Assim, cumpre analisar, 
primordialmente, a competência do juiz e a seu estabelecimento prévio e ex lege. Fita-
se, mormente, a preservação da imparcialidade e independência do juiz. 
 Nesse tema, indispensável é a leitura da precisa obra Adelino MARCON,2 
que considera o princípio do juiz natural como um princípio universal, fundante do 
Estado Democrático de Direito. Consiste, na síntese do autor, no direito que cada 
cidadão tem de saber, de antemão, a autoridade que irá processá-lo e qual o juiz ou 
tribunal que irá julgá-lo, caso pratique uma conduta definida como crime no 
ordenamento jurídico-penal. 
 Com efeito, ninguém pode ser beneficiado pelo juiz ad hoc, nem 
perseguido pelos Tribunais de exceção. 
 Apesar do princípio do juiz natural não constar com essas letras no texto 
da CF, não há como negar sua sede constitucional. O art. 5º, XXXVII, preceitua, e.g., 
que “não haverá juízo ou tribunal de exceção”. Em complemento, o inciso LIII, do 
mesmo artigo, estabelece que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela 
autoridade competente”. 
 Aliás, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos também prevê 
que toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um 
prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido 
anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, 
ou para que se determinem seus direitos e obrigações de natureza civil, trabalhista, 
fiscal ou de qualquer natureza (art. 8º, 1, do Decreto n. 678/1992). 
 9.1.a. Juiz natural. Criação de justiças especializadas ou de varas 
especializadas ▪ Alerta BRASILEIRO DE LIMA que: 
 
1 SCARANCE FERNANDES, Antônio. Processo penal constitucional. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2002, p. 127. 
2 O Princípio do Juiz Natural no Processo Penal. Curitiba: Juruá, 2004, p. 47 et seq. 
 
20 
 
Introdução ao Processo Penal brasileiro 
“Da vedação aos juízos ou tribunais de exceção não se pode concluir 
que exista qualquer impedimento à criação de justiças especializadas 
ou de varas especializadas. Em relação a tais justiças, não se dá a 
criação de órgãos para julgar, de maneira excepcional,determinadas 
pessoas ou matérias. Ocorre, sim, simples atribuição a órgãos 
jurisdicionais inseridos na estrutura judiciária fixada na Constituição 
de competência para o julgamento de matérias específicas, com o 
objetivo de melhor atuar a norma substancial”. 1 
 Pacífico, então, que não afeta a garantia do juiz natural a criação de 
justiças especializadas, desde que a medida esteja prevista em lei e seja abstrata, não 
visando um caso específico, fitando acelerar a prestação jurisdicional. 
 9.2. Imparcialidade do juiz ▪ Não basta a garantia do juiz natural, isto é, 
não é suficiente ter um juiz legal e previamente constituído, é necessário que ele 
reúna algumas qualidades mínimas, para estar apto a desempenhar seu papel de 
garantidor. 
 Com efeito, a complexidade da imparcialidade é de relevante monta. Basta 
pensar: o juiz imparcial pressupõe juiz independente e independência pressupõe 
garantias constitucionais que visem dar segurança ao juiz de que, no exercício de 
suas funções, não sofrerá coações políticas ou funcionais, constrangimentos que 
possam ameaçá-lo da perda do cargo. A imparcialidade do juiz, portanto, tem como 
escopo afastar qualquer possibilidade de influência sobre a decisão que será 
prolatada, pois o compromisso com a verdade, dando a cada um o que é seu, é o 
principal objetivo da prestação jurisdicional. 2 Não se trata de princípio de fácil 
alcance. 
 Apesar da complexidade, a imparcialidade do órgão jurisdicional é um 
“princípio supremo do processo” e, como tal, imprescindível para o seu normal 
desenvolvimento e obtenção do reparto judicial justo. Sobre a base da imparcialidade 
está estruturado o processo como tipo heterônomo de reparto. 
 9.2.a. Imparcialidade do juiz. Imparcialidade subjetiva e objetiva ▪ 
Desde o caso Piersack, de 1982, entende-se que a imparcialidade subjetiva alude à 
convicção pessoal do juiz do caso concreto, que conhece de um determinado assunto. 
Desse modo, a imparcialidade subjetiva do juiz caracteriza-se na sua falta de “pré-
juízos”. 
 Já a imparcialidade objetiva diz respeito à condição do juiz se encontrar em 
uma situação dotada de garantias bastantes para dissipar qualquer dúvida razoável 
acerca de sua imparcialidade. Em suma, é a aparência de imparcialidade. 
 A imparcialidade subjetiva, portanto, é interna, sendo, em consequência, 
controlada pelo próprio julgador. Aliter, a imparcialidade objetiva é externa, 
 
1 Manual, p. 75. 
2 RANGEL. Direito processual civil, p. 51. 
LUCAS DE OLIVEIRA ▪ CADERNO DE PROCESSO PENAL 
21 
 
configurando a imparcialidade aos olhos dos outros, que devem enxergar no juiz um 
sujeito imparcial. 
 Em ambos os casos, a parcialidade cria a desconfiança e a incerteza na 
comunidade e nas suas instituições. Não basta estar subjetivamente protegido; é 
importante que se encontre em uma situação jurídica objetivamente imparcial (é a 
visibilidade). 
 I. TEDH - caso Piersack vs Bélgica. O Tribunal Europeu de Direitos 
Humanos (TEDH), especialmente nos casos Piersack, de 01/10/82, e de Cubber, de 
26/10/1984, consagrou o entendimento de que o juiz com poderes investigatórios é 
incompatível com a função de julgador. Ou seja, se o juiz lançou mão de seu poder 
investigatório na fase pré-processual, não poderá, na fase processual, ser o julgador. 
É uma violação do direito ao juiz imparcial consagrado no art. 6.1 do Convênio para 
a Proteção dos Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais, de 1950. Segundo 
o TED , a contaminação resultante dos “pré-juízos” conduzem falta de 
imparcialidade subjetiva ou objetiva. 
 Destaca o Tribunal uma fundada preocupação com a aparência de 
imparcialidade que o julgador deve transmitir para os submetidos à Administração da 
Justiça, pois, ainda que não se produza o “pré-juízo”, é difícil evitar a impressão de 
que o juiz (instrutor) não julga com pleno alheamento. Isso afeta negativamente a 
confiança que os tribunais de uma sociedade democrática devem inspirar nos 
justiçáveis, especialmente na esfera penal. 
 II. STF - HC 94641/BA, rel. Original Ellen Gracie, rel. para acórdão Joaquim 
Barbosa. O Supremo Tribunal Federal, no HC 94641/BA, Rel. orig. Min. Ellen Gracie, 
Rel. p/ o acórdão Min. Joaquim Barbosa, julgado em 11/11/2008, “a Turma, por 
maioria, concedeu, de ofício, habeas corpus impetrado em favor de condenado por 
atentado violento ao pudor contra a própria filha, para anular, em virtude de ofensa 
à garantia da imparcialidade da jurisdição, o processo desde o recebimento da 
denúncia. No caso, no curso de procedimento oficioso de investigação de 
paternidade (Lei n. 8.560/92, art. 2º) promovido pela filha do paciente para averiguar 
a identidade do pai da criança que essa tivera, surgiram indícios da prática delituosa 
supra, sendo tais relatos enviados ao Ministério Público. O Parquet, no intuito de ser 
instaurada a devida ação penal, denunciara o paciente, vindo a inicial acusatória a 
ser recebida e processada pelo mesmo juiz daquela ação investigatória de 
paternidade. Entendeu-se que o juiz sentenciante teria atuado como se autoridade 
policial fosse, em virtude de, no procedimento preliminar de investigação de 
paternidade, em que apurados os fatos, ter ouvido testemunhas antes de encaminhar 
os autos ao Ministério Público para a propositura de ação penal". 
 No mesmo processo, o voto-vista do Min. Cezar Peluso, concluiu que, 
“pelo conte do da decisão do juiz, restara evidenciado que ele teria sido influenciado 
pelos elementos coligidos na investigação preliminar. Dessa forma, considerou que 
teria ocorrido hipótese de ruptura da denominada imparcialidade objetiva do 
 
22 
 
Introdução ao Processo Penal brasileiro 
magistrado, cuja falta, incapacita-o, de todo, para conhecer e decidir causa que lhe 
tenha sido submetida.” 
 Verifica-se que o ponto fundamental para a anulação foi: viola a garantia da 
imparcialidade o fato de o juiz ter realizado atos de natureza instrutória de ofício, apurando 
fatos e ouvindo testemunhas. 
 Finalmente parece que os julgadores brasileiros, especialmente os 
tribunais superiores, abriram os olhos para algo que já é falado há mais de duas 
décadas pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos: juiz que vai atrás da prova está 
prevento e não pode julgar. 
 Interessante, ainda, como o voto do Min. Cezar Peluso menciona 
exatamente os mesmos fundamentos, de imparcialidade objetiva e subjetiva, 
empregados pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos desde o Caso Piersack, de 
1982. 
IMPARCIALIDADE SUBJETIVA IMPARCIALIDADE OBJETIVA 
- convicção pessoa do magistrado; - condição em que se encontra o magistrado 
na hora de julgar, i. e., nutrido de garantias 
suficientes para aniquilar qualquer dúvida 
alheia acerca de sua imparcialidade; 
- viés interno; - viés externo; 
- ausência de pré-juízos. - aparência de imparcialidade. 
 9.2.b. Imparcialidade do juiz. Participação do juiz na investigação ▪ 
Ainda que a investigação preliminar suponha uma investigação objetiva sobre o fato 
(consignar e apreciar as circunstâncias tanto desfavoráveis como favoráveis ao sujeito 
passivo), o contato direto com o sujeito passivo, com os fatos e com os dados pode 
provocar no ânimo do juiz instrutor uma série de “pré-juízos” e impress es a favor 
ou contra o imputado, influenciando no momento de sentenciar. 
 Dessa forma, há uma presunção de parcialidade do juiz-instrutor, que lhe 
impede julgar o processo que tenha instruído. 
 Em definitivo, pensamos que a prevenção deve ser uma causa de exclusão 
da competência. O juiz-instrutor é prevento e como tal não pode julgar. Sua 
imparcialidade está comprometida não só pela atividade de reunir o material ou 
estar em contato com as fontes de investigação, mas pelos diversos prejulgamentos 
que realiza no curso da investigação preliminar (como na adoção de medidas 
cautelares, busca e apreensão, autorização para intervençãotelefônica etc.). 1 
 O problema, é importante destacar, não está apenas nas decisões que 
profere, mas sim no fato de ir atrás da prova (e assim permite o art. 156 do CPP, 
 
1 Amealhando a cátedra de LOPES JÚNIOR. Direito processual penal, p. 204. 
LUCAS DE OLIVEIRA ▪ CADERNO DE PROCESSO PENAL 
23 
 
especialmente problemático é o inciso I, sublinhe-se) e depois decidir sobre o 
material que ele mesmo colheu. Essa é a duplicidade perigosa e que deve ser 
analisada no caso concreto. 
 9.2.c. Contaminação psicológica ▪ Crer na imparcialidade de quem está 
totalmente absorvido pelo labor investigador é o que GOLDSCHMIDT denomina erro 
psicológico. 1 Foi essa incompatibilidade psicológica que levou ao descrédito do 
modelo inquisitório. 
 São esses processos psicológicos interiores que levam a um “pré-juízo” 
sobre condutas e pessoas. O problema é definir se o juiz tem condições de proceder 
ao que se chama de uma ideia sobre a pequena história do processo, sem intensidade 
suficiente para condicionar, ainda que inconscientemente – e ainda que seja 
certeiramente – a posição de afastamento interior que se exige para que comece e 
atue no processo. 
 Trata-se de situação clarividente se toma o exemplo da prova ilícita. Desta 
forma, é inegável que o juiz que tem acesso a uma prova robusta, que não obstante 
ilícita, que indica a autoria do crime, ficará mentalmente contaminado e influenciado 
a decidir conforme aquele conteúdo apresentado. Nesta toada, é óbvio que o juiz que 
conheceu a prova ilícita não pode julgar, pois está contaminado. Nesses casos, 
conforme alerta LOPES JÚNIOR, “não basta desentranhar a prova; deve-se 
‘desentranhar’ o juiz!”. 2 A afirmativa é verídica, refletindo a repostas da indagação 
de que “Quem nos garante que o juiz não está decidindo a partir da prova ilícita, ainda que 
inconscientemente (até porque a emoção é mais intensa) e, na fundamentação, apenas cria 
uma blindagem argumentativa de que a decisão foi tomada com base na prova lícita?”. 3 
 9.2.d. Iniciativa probatória do juiz ▪ Forte celeuma diz respeito a ponto-
fim com que o juiz pode ostentar iniciativa probatória. O ônus da prova recai – a 
priori – sob a acusação, em virtude da presunção de inocência. Ao atuar de ofício, o 
juiz estará atuando como se acusação fosse, violando o princípio básico da hermética 
separação das funções. 
 Não é da nossa cultura, à verdade, venerar juízes totalmente inertes, sendo 
admissível em linha de doutrina a atividade probatória do juiz, contudo, tão só até 
certo ponto, sendo sempre subsidiária. 
 Aliás, os arts. 209 e 212, parágrafo único, do CPP, trazem regras expressas 
no sentido de que é viável, desde que subsidiária, a atividade probatória do juiz. 
 9.3. Ampla defesa ▪ O estudo não pode escapar de tintar que ninguém será 
privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal (art 5º, LIV, da 
CF). A garantia do due process of law é dúplice. O processo, no primeiro tomo, é 
imprescindível à aplicação de qualquer pena, conforme a regra nulla poena sine 
judicio, significando o devido processo como o processo necessário (intrumentalidade 
 
1 Problemas Jurídicos y Políticos del Proceso Penal, p. 29. 
2 Direito processual penal, p. 622. 
3 Idem, p. 624. 
 
24 
 
Introdução ao Processo Penal brasileiro 
garantista). No tomo segundo, o devido processo legal significa o adequado processo, 
ou seja, o processo que assegure a igualdade das partes, o contraditório e a ampla defesa. 
Essa última é nosso objeto de análise agora. 
 O art. 5º, LV, da CF, assegura aos litigantes, em processo judicial ou 
administrativo, e aos acusados em geral, o contraditório e a ampla defesa, com os 
meios e recursos a ela inerentes. A ideia de ampla defesa se materializa, no processo 
penal, na garantia ofertada ao réu de oferecer argumentos em seu favor e de 
demonstrá-los, nos limites em que isso seja possível1. Atrela-se, assim, às garantias de 
igualdade e do contraditório. 2 Conforme arrazoa MOUGENOT BONFIM, “não supõe o 
princípio da ampla defesa uma infinitude de produção defensiva a qualquer tempo, 
mas, ao contrário, que esta se produza pelos meios e elementos totais de alegações e 
provas no tempo processual oportunizado por lei”. 3 
 O direito de defesa está, então, estruturado no binômio: 
1. defesa privada, autodefesa, material ou genérica; 
2. defesa técnica, processual, específica ou pública, exercida pelo 
defensor. 
 9.3.a. Ampla defesa. Defesa pessoal, privada, autodefesa, material ou 
genérica ▪ Junto à defesa técnica (analisada infra), existem também atuações do 
sujeito passivo no sentido de resistir pessoalmente à pretensão estatal. Através dessas 
atuações, o sujeito atua pessoalmente, defendendo a si mesmo como indivíduo 
singular, fazendo valer seu critério individual e seu interesse privado. Em síntese: 
“Autodefesa é aquela exercida pelo próprio acusado, em momentos cruciais do 
processo”. 4 
 A chamada defesa privada ou autodefesa manifesta-se de várias formas, 
mas encontra no interrogatório policial e judicial seu momento de maior relevância. 
Classificamos a autodefesa a partir de seu caráter exterior, como uma atividade 
positiva ou negativa. O interrogatório é o momento em que o sujeito passivo tem a 
 
1 Há que se tomar extremo cuidado com os possibilismos. Com efeito, os limites do possível devem 
ganhar projeções semi-utópicas, jamais se podendo dispensar chance a defesas ainda que 
minimamente viáveis. O fio de cabelo representativo da esperança já é de inestimável monta ao 
acusado. 
2 BRASILEIRO DE LIMA, aliás, adianta-se a nós e faz perspicaz comentário acerca da relação entre esses 
dois princípios “ direito de defesa está ligado diretamente ao princípio do contraditório. A defesa 
garante o contraditório e por ele se manifesta. Afinal, o exercício da ampla defesa só é possível em 
virtude de um dos elementos que compõem o contraditório – o direito à informação. Além disso, a 
ampla defesa se exprime por intermédio de seu segundo elemento: a reação. (...) Apesar da influência 
recíproca, os dois não se fundem. (...) Como se vê, a defesa e o contraditório são manifestações 
simultâneas, intimamente ligadas pelo processo, sem que daí se possa concluir que uma derive da 
outra”. Manual, p. 57. 
3 Curso, p. 70. 
4 BRASILEIRO DE LIMA. Curso, p. 63. 
LUCAS DE OLIVEIRA ▪ CADERNO DE PROCESSO PENAL 
25 
 
oportunidade de atuar de forma efetiva – comissão –, expressando os motivos e as 
justificativas ou negativas de autoria ou de materialidade do fato que se lhe imputa. 
 A autodefesa, apesar de indispensavelmente garantida, pode não ser 
exercida, ostentando, neste viés, caráter disponível, isto é, renunciável. 
 O acusado tem: 
(1) direito de estar presente em todos os atos da instrução; 
(2) direito de audiência; 
(3) direito de ficar em silêncio ou não comparecer (autodefesa 
negativa). 
(4) direito de oferecer alegações e provas pessoalmente (vide art. 189 
do CPP). 
(5) direito de recorrer em causas próprias, mesmo quando o seu 
defensor não tenha recorrido (vide art. 577 e art. 623 do CPP). 
 I. O direito de estar presente em todos os atos da instrução (vide arts. 367, 564, I, 
e, segunda parte, e 577, todos do CPP). Aliás, entendemos que o interrogatório deve ser 
encaminhado de modo a permitir a defesa do sujeito passivo e, por isso, submetido a 
toda uma série de regras de lealdade processual, que pode ser assim resumida: a) 
deve ser realizado de forma imediata, ou, ao menos, num prazo razoável após a 
prisão; b) presença de defensor, sendo-lhe permitido entrevistar-se prévia e 
reservadamente com o sujeito passivo; c) comunicação verbal não só das imputações, 
mas também dos argumentos e resultados da investigação e que se oponham aos 
argumentos defensivos; d) proibição de qualquer

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