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AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO DO CONCRETO PRODUZIDO COM AGREGADOS RECICLADOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL Glacieli da Cruz Costa1 Endrik Nardotto Rios2 RESUMO O setor da construção civil absorve uma quantia considerável de recursos naturais não renováveis. Sendo assim, possui grande contribuição na problemática ambiental, que envolve desde a extração até o descarte final dos Resíduos de Construção e Demolição (RCD). Neste cenário, a reciclagem de RCD se apresenta como uma promissora possibilidade de mitigação dos impactos desse processo, visando assim um crescimento mais sustentável. O objetivo do presente trabalho foi caracterizar e avaliar a resistência à compressão do concreto produzido com agregados miúdos e graúdos de RCD, e compará-las com concreto a base de agregados naturais, para fins estruturais. Para isso, foram moldados corpos de provas com diferentes teores de substituição dos agregados, e também do concreto referência, confeccionado com agregados naturais. Com a idade de 7 e 14 dias os corpos de provas foram ensaiados para determinação da resistência. Os resultados revelam possibilidade de aplicação desse resíduo para uso em concreto estrutural com faixas de substituição abaixo de 50% em mistura, seja com substituição de agregado miúdo e graúdo ou apenas agregado graúdo, oriundos de agregados reciclados. Palavras-Chave: agregados reciclados, concreto, reciclagem, resistência. ABSTRACT The civil construction department utilizes one substantial quantity of non-renewable natural resources. Therefore, it has a big contribution on the environmental problematic situation, that involves since the extraction until the final disposal of construction and demolition waste (CDW). In this scenario, the CDW recycling shows itself as a promising possibility of mitigation of these methods’ impact, therefore aiming a more sustainable growth. The goal of this work is to analyze some of the main mechanic properties of the concrete produced with CDW’s fine and coarse aggregate, and compare them with a natural aggregate concrete, to measure the viability of its use in a structural function. In this regard, specimens were shaped with different aggregate replacement percentage, and also from the reference concrete, made with natural aggregate. With ages of 7 and 14 days the specimens were tested in order to determine the compressive strength. The results reveal the possibility of application to the residue of structural use with the substitution bands of up to 50% in 1 Acadêmico de Engenharia Civil - UNESC 2 Mestre em Estruturas, Professor do UNESC 2 mixture, with the replacement of aggregate of kid and large or only aggregate of large, from recycled aggregates. Key-Words: recycled aggregates, concrete, recycling, load. INTRODUÇÃO O intenso processo de industrialização associado ao crescimento populacional tem agitado o setor da construção civil no Brasil e no mundo. Esse segmento por vezes visto como parâmetro de progresso econômico, também é encarregado por diversos problemas urbanos e ambientais enfrentados pelas cidades, devido ao volume de resíduos gerados nas diferentes etapas de construção. Os resíduos da construção civil “são os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos” (RESOLUÇÃO CONAMA Nº 307, 2002). A resolução versa ainda, que é obrigação dos geradores a correta destinação e beneficiamento do resíduo de construção e demolição (RCD), não podendo ser depositados em aterros de resíduos domiciliares, devendo ser encaminhados a áreas específicas, visando seu reuso ou reciclagem. Apesar de conter impurezas, os problemas gerados pelos RCD’s se dão basicamente pela quantidade gerada, e não por possíveis contaminações do ambiente onde é depositado. Visando combater os problemas e prejuízos decorrentes do gerenciamento inadequado dos resíduos sólidos, foi implantada em 2010 pela Lei nº 12305/10 a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010), que se baseia na prevenção e redução dos resíduos, tendo como proposta a prática de adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços, além do aumento da reciclagem dos resíduos sólidos. Pesquisas já demostraram a viabilidade técnica e econômica do aproveitamento de agregados reciclados em obras de pavimentação viárias, entre outros destinos que não apresentem função estrutural. Contudo, para que a utilização dos agregados seja em maior escala, é essencial sua utilização em estruturas, sendo assim, estudos sobre o comportamento mecânico de concreto de RCD são de grande importância para o aprimoramento de técnicas que aumentem sua credibilidade e, possibilite sua utilização em demais segmentos, podendo assim, aumentar de maneira considerável o consumo dos agregados reciclados, 3 contribuindo cada vez mais com o meio ambiente. O principal objetivo desse estudo foi avaliar a resistência à compressão do concreto utilizando agregados oriundos de resíduos da construção e demolição em diferentes proporções, comparada a resistência de concreto convencional como referência. 1 DEFINIÇÃO, ORIGEM E UTILIZAÇÃO DOS RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO – RCD Também chamado de entulho, o RCD pode ser definido como todo material advindo de obras civis, como autoconstruções, demolições e reformas (DAL MOLIN & VIEIRA, 2004). De acordo com a NBR 15116 (ABNT, 2004), os resíduos podem ser: tijolos, blocos cerâmicos, concreto, solo, rocha, madeira, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica. Os resíduos são classificados ainda em classes, sendo o RCD inserido na Classe A – resíduos que podem ser reutilizados ou reciclados (CONAMA, 2002). A utilização de agregados reciclados ainda é considerada pequena no Brasil, porém vem apresentando um pequeno crescimento nos últimos anos. Seu emprego é dificultado pela heterogeneidade dos agregados, e pela falta de conhecimento de tecnologias de controle de qualidade (DAL MOLIN & VIEIRA, 2004). A heterogeneidade e a grande variabilidade dos agregados de RCD influenciam no desempenho do concreto produzido com os agregados reciclados. De acordo com Moreira (2010) o material de origem, a mineralogia, e o tipo de britador utilizado no processamento do agregado possui relação direta nas características do concreto, e de forma secundária, o fator regional também pode influenciar para o aumento da variabilidade dos resíduos. Sendo assim, o emprego de RCD com maior segurança e garantia de qualidade depende de medidas de controle das suas características indesejáveis. Em 2004 surgiu a primeira norma brasileira sobre o uso de agregados reciclados da construção civil, trata-se da NBR 15116 (ABNT, 2004). A Norma trata apenas do emprego dos agregados para camadas de pavimentação e para concretos sem função estrutural, área em que o uso tem sido mais frequente no Brasil. No entanto, pesquisas realizadas têm mostrado a possibilidade de utilização de agregados reciclados para fins que exijam uma maior resistência do concreto, inclusive com a finalidade estrutural (TENÓRIO, 2007). Em sua pesquisa, o autor 4 garante ser possível o emprego de agregados de RCD em concreto estruturais, sendo necessário apenas respeitar suas peculiaridades. 1.1 CARACTERÍSTICAS DOS AGREGADOS RECICLADOS Os agregados reciclados apresentam características diferentes dos agregados naturais. Sendo assim, o concreto composto por RCD apresentará características divergentes ao concreto com agregados naturais, logo “o desempenho de um concreto está diretamente relacionado ao desempenho dos materiais utilizados para sua produção, bem como suas proporções” (CARRIJO, 2005, p. 40). SegundoMehta e Monteiro, apud Carrijo (2005) a absorção de água, a granulometria, a forma e textura, a resistência à compressão, estão entre as propriedades físicas mais importantes dos agregados de RCD que devem ser analisadas para se alcançar um bom desempenho do concreto. 1.1.1 Porosidade A porosidade dos agregados reciclados é a característica responsável pela sua maior absorção. Essa particularidade é devida a maior quantidade de interstícios presentes nos resíduos, que torna-se mais evidente nos agregados graúdos provenientes de rochas ígneas (MOREIRA, 2010). Brasileiro (2013) determinou a porosidade da brita 0 (RR 9,5) e da brita 1(RR 19) e comparou com agregados naturais, a autora encontrou valores de porosidade 8,45 vezes maior para a brita 0 reciclada, e 6,23 vezes maior para a brita 1 (Tabela 1). A autora concluiu que devido à complexidade em se obter a densidade aparente dos agregados miúdos, os valores são determinados apenas para os agregados graúdos. Para Carrijo (2005), a porosidade dos agregados de RCD interfere rigorosamente na resistência, módulo de deformação e massa específica dos concretos com eles produzidos. 5 Tabela 1 – Porosidade dos agregados graúdos Ensaio Agregados Reciclados Agregados Naturais Porosidade (%) RR 19 - 10,90 B 19 - 1,75 RR 9,5 - 15,98 B 9,5 - 1,89 Fonte: Brasileiro (2013) 1.1.2 Absorção De Água A alta absorção dos agregados reciclados está relacionada à maior porosidade dos mesmos. Para Moreira (2010), a porosidade dos agregados reciclados os torna menos resistentes, e é o ponto a ser utilizado como comparação entre os agregados de RCD e os agregados naturais, sendo um fator influenciador da resistência do concreto. A literatura mostra que a absorção de água dos agregados pode variar bastante. Tenório (2007) encontrou em sua pesquisa absorção de 9,34% para o agregado miúdo, de acordo com a Quadro 1 observa-se que este valor é 7,66 vezes maior que absorção do agregado de origem natural. Quadro 1 – Principais propriedades dos agregados miúdos Propriedade Areia natural de rio Agregado miúdo reciclado Norma Absorção de água (%) 1,22 9,34 NBR NM 30:2000 Massa específica (Kg/dm³) 2,68 2,50 BNR 9776:1987 Teor de matéria orgânica (ppm) <300 <300 NBR NM 49:2001 Fonte: Tenório (2007). Dal Molin e Vieira (2004) e Silva (2009) ao estudar a absorção dos agregados graúdos reciclados encontraram valores diferentes para agregados com massa específica com valores bem próximos, como mostra a Tabela 2 e a Tabela 3. A massa específica é uma particularidade que depende da porosidade, e será tratada mais adiante. 6 Tabela 2 – Caracterização física dos agregados Agregado Tipo de material Absorção (%) Massa Específica (Kg/dm³) Graúdo Natural 2,50 2,70 Reciclado 6,04 2,52 Miúdo Natural - 2,62 Reciclado 14,65 2,51 Fonte: Dal Molin e Vieira (2004) Tabela 3 – Características dos agregados graúdos Amostras Absorção (%) Massa Esp.Seca (kN/m³) Massa Esp. Seca Saturada (kN/m³) 1 9,98 25,94 20,66 2 9,93 25,91 20,61 3 9,00 25,97 20,57 Média 9,64 25,94 20,61 Fonte: Silva (2009) A absorção de água dos agregados reciclados causada pela porosidade é a especificidade que mais interfere no estado fresco do concreto (TENÓRIO, 2007). Para agregados naturais, essa propriedade não possui relevância significativa nas características do concreto, visto que a absorção é pequena ou inexistente como pode-se observar na Tabela 2. Devido à maior absorção dos agregados, para se obter consistência e trabalhabilidade, os concretos com agregados reciclados precisarão de mais água, o que pode influenciar na relação água/cimento – a/c do concreto se a quantidade for adicionada direto na mistura. Barra (1996) apud Leite (2001) afirma que a absorção não acontece de forma regular pelos agregados, motivo pelo qual se altera a a/c da mistura. A Figura 1 apresenta a influência da relação a/c na resistência à compressão axial do concreto estudada por Leite (2001), onde observa-se que à medida que aumenta a relação a/c, existe um decréscimo na resistência do concreto. Contudo, a literatura indica que quando é realizada uma pré-molhagem no agregado seco, reduz a possibilidade de interferência da relação a/c, solução que se apresenta como medida de controle da quantidade de água da mistura de concreto. 7 Figura 1 – Influência da relação a/c na resistência do concreto. Fonte: LEITE (2001). Para a determinação da quantidade de água a ser adicionada ao traço, a bibliografia apresenta valores entre 50 a 70% da absorção para agregados graúdos, que se trata do valor aproximado de absorção para os primeiros 10 minutos após a molhagem. Contudo, esses valores podem variar bastante, Tenório (2007) constatou que quase 90% da água foi absorvida pelos agregados graúdos neste intervalo (Figura 2), enquanto Carrijo (2005) encontrou valores variando entre 70 e 86% também para agregados graúdos, o que indica que essa característica depende da composição dos agregados. Em contrapartida, Leite (2001) observou que tanto agregados miúdos quanto graúdos absorviam 50% da água no tempo de 10 minutos. Figura 2 – Curva de absorção em função do tempo para agregados graúdos reciclados. Fonte: TENÓRIO (2007). Na curva de absorção em função do tempo que pode ser observada na Figura 2, verifica-se que a absorção vai retardando a partir do décimo minuto, motivo que fundamenta a utilização apenas da absorção que acontece até este período. Outro argumento é apresentado por Nevile (1997) citado por Moreira (2010), onde a autora 8 defende que o cobrimento dos agregados pela pasta de cimento interrompe a absorção dos agregados reciclados, preenchendo os poros e impedindo a maior absorção, o que dispensaria a pré-molhagem. 1.1.3 Massa Específica Como citado no item 1.1.2 a massa específica está diretamente ligada à porosidade dos agregados reciclados. Conhecer a massa específica dos materiais utilizados na produção do concreto é de extrema relevância, e serve como base para determinar a quantidade de materiais utilizados na dosagem do concreto (CARRIJO, 2005). Carrijo (2005) estudou a influência da massa específica dos agregados graúdos reciclados no desempenho mecânico do concreto, utilizando a densidade dos materiais como principal parâmetro de comparação entre as misturas. A autora constatou que a resistência do concreto diminui com o decréscimo da massa específica do agregado (Figura 3). A literatura apresenta resultados que apontam valores de densidade mínima entre 2,2 a 2,3 g/cm³ (ANGULO, 2005 apud ARAÚJO et al.,2015). Figura 3 – Influência da massa específica do agregado graúdo reciclado na resistência à compressão do concreto. Fonte: CARRIJO (2005). 1.1.4 Forma e Textura Os agregados de RCD habitualmente apresentam textura mais rugosa e forma mais angulares que agregados naturais. Dessa maneira, agregados reciclados 9 favorecem um maior travamento à mistura, necessitando assim de uma quantidade maior de pasta de cimento para obter trabalhabilidade (RASHWAN e ABOURIZK, 1997 apud MOREIRA, 2010). 1.2 RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO E TRATAMENTO A determinação da resistência à compressão do concreto é o ensaio mais pertinente a ser realizado no concreto em seu estado endurecido (ARAGÃO, 2007). Devido às características dos agregados, concretos de RCD tendem a apresentar valores de resistências inferiores aos concretos convencionais, pesquisas apontam valores de resistência à compressão de concretos de RDC entre 60 a 100% dos concretos naturais (VÁSQUEZ et al., 2001, HANSEN, 1992, TOPÇU & GANCAN, 1995 apud CARRIJO, 2005). Contudo, com a adoção de medidas de controle, encontram-se na literatura valores de resistência à compressão atrelada ao concreto de RCD maiores queao concreto natural, como pode ser observado na Tabela 4 (ARAÚJO et al., 2015). Tabela 4 – Resistência à compressão para diferentes percentuais de mistura Substituição (%) fcm,j=7 (MPa) fcm,j=28 (MPa) fctm,sp,j=28 (MPa) Ec,j=28 (GPa) C-0 0 26,95 ± 4,02 36,39 ± 1,56 3,88 ± 0,12 29,86 ± 1,00 C-19 19 33,97 ± 1,39 41,23 ± 0,59 3,95 ± 0,02 28,04 ± 0,06 C-43 43 32,79 ± 3,55 39,60 ± 1,98 3,63 ± 0,41 28,04 ± 0,56 C-75 75 29,34 ± 1,52 35,79 ± 0,48 3,66 ± 0,09 26,34 ± 0,91 C-100 100 28,77 ± 1,38 38,30 ± 1,07 3,60 ± 0,18 28,15 ± 0,88 CT-26 26 32,75 ± 1,70 37,82 ± 1,39 3,79 ± 0,05 27,83 ± 0,48 fcm,j=7 : resistência à compressão média aos 7 dias; fcm,j=28: resistência à compressão média aos 28 dias; fctm,sp,j=28: resistência à tração média por compressão diametral aos 28 dias; Ec,j=28 : módulo de elasticidade médio aos 28 dias Fonte: Araújo et at. (2015) O tratamento dos agregados trata-se de medidas que visam restabelecer algumas características dos resíduos, e reduzir as propriedades indesejáveis. Chen et al (2003) pesquisaram a influência da lavagem dos agregados graúdos reciclados, os resultados apresentaram o crescimento em torno de 15% da resistência em 10 comparação com agregados não lavados. Araújo et al (2015) realizaram um tratamento mecânico através do equipamento de abrasão “Los Angeles” o que resultou em agregados graúdos com massa específica com valores bem próximos a agregados naturais. Moreira (2010) utilizou em sua pesquisa o tratamento mecânico por meio de jigue, o processo resultou em agregados menos porosos e com menor consumo de cimento. De modo geral, submeter os agregados a algum tipo de tratamento resultou em concretos com maiores valores de resistência à compressão. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Os agregados reciclados utilizados na pesquisa são provenientes de uma usina de reciclagem localizada no município da Serra – ES, a qual forneceu agregados selecionados conforme granulometria específica: agregado graúdo como brita zero e agregado miúdo como areia média. Os agregados naturais foram provenientes da região de Colatina – ES. O cimento utilizado na confecção do concreto foi o CP V – ARI e, para manutenção da plasticidade e trabalhabilidade do concreto, foi utilizado um aditivo superplastificante da marca ADITIBRAS. A figura 04 ilustra uma visão geral da empresa de reciclagem de resíduo da construção civil. Figura 4 – Pátio da empresa fornecedora dos agregados provenientes de resíduos da construção e demolição. A determinação do traço para o concreto referência, e para os concretos com agregados reciclados foi realizada pelo método ABCP – Associação Brasileira de Cimento Portland, método adaptado a partir da tradução da American Concrete Institute – ACI - 211. O método define o traço através das características dos agregados, para isso são necessários os seguintes ensaios: determinação da 11 composição granulométrica (ABNT, NBR NM 248:2003); determinação da massa unitária (ABNT, NBR 7251:1982); determinação da massa específica do agregado miúdo (ABNT, NBR NM 52:2002); determinação da massa específica do agregado graúdo (ABNT, NBR NM 53:2009). A preparação do concreto foi realizada da seguinte maneira: Mistura na betoneira de 50% dos agregados mais o cimento por cerca de 2 minutos; inserção de metade da água com o aditivo misturando por 1 minuto; adição do restante dos agregados misturando por mais 1 minuto; adição do restante da água de amassamento misturando por mais 3 minutos. Os corpos de prova foram moldados de acordo com a ABNT, NBR 5738, e desmoldados após 24 horas, sendo mantidos em câmara úmida para cura até o momento dos ensaios de resistência. Em seu estado endurecido avaliou-se a resistência à compressão do concreto (ABNT, NBR 5739:2007). Foram ensaiados três corpos de prova cilíndricos (10 x 20 cm) com a idade de 7 dias e três aos 14 dias. Todos os ensaios foram realizados no laboratório de Materiais de Construção do Centro Tecnológico de Engenharia Civil do UNESC, campus I, Colatina – ES (Figura 5). Figura 5 – Laboratório de Materiais de Construção Civil – UNESC, campus I, Colatina - ES. Tendo como variável relevante neste trabalho o percentual de substituição dos agregados naturais pelos agregados reciclados, determinou-se as seguintes taxas de substituição: 100% graúdo e miúdo, reciclados; 50% graúdo e miúdo, reciclados; 25% graúdo e miúdo reciclados; 100% somente graúdo reciclado e; 50% somente graúdo reciclado. Ficou determinado ainda, que os agregados miúdos e graúdos serão peneirados visando reduzir os finos e melhorar a trabalhabilidade do concreto, e também será realizada a pré-molhagem para controle da absorção dos agregados. 12 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO As Tabelas 5 e 6 retratam a caracterização dos agregados miúdo e graúdo, respectivamente. Tabela 5 – Caracterização física do agregado miúdo: natural e reciclado Agregado Miúdo Módulo de Finura Massa específica real Absorção - (g/cm³) (%) Natural 2,39 2,69 - Reciclado 3,16 2,12 8,001 1valores médios encontrados na literatura para agregado miúdo reciclado: A partir de Leite (2001) e Silva (2009). Fonte: Autor Tabela 6 – Caracterização física do agregado graúdo: natural e reciclado Agregado graúdo Massa Unitária Compactada Massa Específica Real Absorção Diametro Máximo Característico (g/cm³) (g/cm³) (%) (mm) Natural 1,52 2,51 1,25 9,50 Reciclado 1,29 2,28 7,58 9,50 Fonte: Autor As massas específicas dos agregados de RCD apresentaram valores menores que os agregados naturais. O agregado graúdo reciclado apresentou massa específica maior que 2,2 g/cm³, valor mínimo recomendado para utilização estrutural, como afirma Araújo et al. (2015). A absorção do agregado graúdo reciclado foi 6,06 vezes maior que o natural, valor bem próximo do encontrado por Dal Molin e Vieira (2004). Ficou definido que 50% da absorção será compensada através da pré- molhagem dos agregados, que deverá ocorrer 10 minutos antes do início da produção do concreto. Os agregados reciclados e naturais apresentaram pouca ou nenhuma umidade, sendo esta característica desconsiderada no desenvolvimento do traço. Com base nos valores encontrados, foi definido o traço do concreto referência, produzido apenas com agregados naturais, e o traço do concreto reciclado. O 13 mesmo traço foi mantido para todos os percentuais de substituição. Na Tabela 7 são apresentados os traços encontrados. Tabela 7 – Traços do concreto natural e reciclado. Cimento Areia Brita 0 a/c Agregado Natural 1,00 1,55 1,89 0,49 Agregado Reciclado 1,00 1,51 1,39 0,49 Fonte: Autor A princípio optou-se por manter fixa a quantidade de aditivo, porém devido à perda de trabalhabilidade foi necessário ajustar a medida em algumas misturas. Sendo assim, nos traços com concreto natural, 100% graúdo e miúdo, e 25% graúdo e miúdo foi adicionado 5 ml de aditivo por quilo de cimento, e os traços com 50% graúdo e miúdo, 100% somente graúdo e 50% somente graúdo foi adicionado 7 ml de aditivo para cada quilo de cimento. A Tabela 8 mostra os resultados médios (desvio padrão entre parênteses), em MPa, da resistência à compressão nas idades de 07 e 14 dias, para as amostras de concreto moldados conforme as porcentagens substituídas dos resíduos. Cabe ressaltar que os resultados “referência” são representativos do controle amostral sem qualquer substituição, ou seja, moldados com agregados naturais. Tabela 8 – Resultados em MPa da resistência à compressão em média e desvio padrão para as diferentes amostras de concreto, conforme o delineamento experimental. Referência Substituição dos agregados miúdo e graúdo Substituição do agregado graúdo 100% 50% 25% 100% 50% 7 dias 29,65 (0,13) 19,23 (4,65) 25,43 (2,96) 22,88 (4,25) 18,54 (2,17)30,64 (2,10) 14 dias 30,31 (2,05) 17,88 (1,18) 25,55 (2,72) 26,44 (3,54) 26,35 (7,02) 27,04 (1,23) Fonte: Autor As substituições dos agregados naturais pelos resíduos da construção e demolição representam um declínio da resistência à compressão em qualquer idade com exceção da mistura com substituição de 50% do agregado graúdo na idade de 07 dias com média de 30,64 MPa. Leite (2001) trabalhando com várias relações a/c 14 evidenciaram redução na resistência à compressão do concreto para qualquer substituição parcial ou completa de agregados de RCD. As misturas com 100% de agregados reciclados em qualquer situação, principalmente nas primeiras idades, não alcançam o valor mínimo exigido para caracterizar um concreto estrutural com resistência mínima de 20 MPa. Já as misturas com 50% e 25 % dos dois agregados atenderam ao valor mínimo que caracterizasse concreto estrutural. Entretanto na mistura de 50% dos dois RCD’s, mostrou-se uma queda de 14,2% e 15,7% na resistência à compressão para as idades de 7 e 14 dias, respectivamente e, as misturas com 25% dos dois RCD’s geraram uma queda de 22,8% e 12,1% na resistência à compressão para as idades de 7 e 14 dias. Sabendo-se que quanto mais se avança na idade do concreto maior a tendência de torná-lo mais resistente, no geral é essa a tendência como visto na Tabela 8. Entretanto no resultado com mistura de 100% de agregados de RCD a resistência a compressão caiu em torno de 7%, fato que não é comum, o que mostra que o resultado torna-se não confiável, seja pela não homogeneidade dos materiais ou até mesmo pela falta de identificação da composição exata do RCD. Araújo et al. (2015) e Leite (2001) observaram em todos os ensaios uma tendência de incremento de resistência à compressão para todas as misturas de RCD quando se avança na idade. O resultado com substituição apenas de agregado graúdo em 50% mais se aproximou e equiparou ao concreto “referência”, fato este devido à completa utilização do agregado miúdo natural. Os resultados utilizando apenas agregado graúdo em 100% houve um decréscimo de 37% na resistência à compressão comparado ao concreto “referência”. De maneira similar ao trabalhado dessa pesquisa, Leite (2001) observou uma queda de 16% na resistência, evidenciando que a substituição total do agregado graúdo natural contribui de forma razoável na queda da resistência à compressão. CONCLUSÃO Os resultados encontrados relatam uma grande possibilidade da utilização dos RCD’s na produção de concreto estrutural, quando se trata da resistência à compressão. Fica evidenciado que margens de 100% de substituição dos agregados de RCD, seja na substituição dos dois agregados ou apenas na substituição do 15 agregado graúdo, geram resultados insatisfatórios inviabilizando tal dosagem. Faixas menores de substituições da ordem de 50% e 25 % geram uma confiabilidade maior, os resultados indicam uma queda inferior diante dessa situação. Os resultados apresentados confirmam a viabilidade da aplicação do concreto reciclado para fins estruturais, no entanto com extrema cautela nos altos teores de substituições de RCD. A literatura mostra, no geral, uma tendência a se aceitar o RCD para produção de concreto para fins estruturais, no entanto torna-se imprescindível estudos específicos voltados para efeitos ainda pouco estudados com esse tipo de material, como por exemplo, a fluência e retração, que trata do comportamento do concreto ao longo da sua vida útil. AGRADECIMENTOS O UNESC campus de Colatina, pela oportunidade de trabalhar com pesquisa científica. A empresa URESERRA, localizada no município da Serra - ES, pela pronta disponibilidade em fornecer material reciclado da construção civil para esta pesquisa. REFERÊNCIAS ARAGÃO, Hélio G. “Análise Estrutural de Lajes Pré-moldadas Produzidas com Concreto Reciclado de Construção e Demolição”. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2007, 126 p. ARAÚJO, Daniel Lima, et al. "Influência de Agregados Reciclados de Resíduos de Construção em Propriedades Mecânicas do Concreto” (doi: 10.5216/reec. V11i1. 35467)." REEC-Revista Eletrônica de Engenharia Civil 11.1 (2016). ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND. Dosagem de concreto: importância, parâmetros e ajustes laboratoriais (Método ABCP) . Disponível em < http://www.abcp.org.br/cms/download/dosagem-de-concreto- importancia-parametros-e-ajustes-laboratoriais-metodo-abcp/ >. Acesso em 12 de Outubro de 2016. 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