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CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 07 – DITADURA MILITAR III. GEISEL (1974-79) E FIGUEIREDO (1979-85) Alexandre Alves GOVERNO ERNESTO GEISEL (INTRODUÇÃO) O presidente anterior, Emílio Garrastazu Médici não conseguiu que um membro da chamada linha dura lhe sucedesse na Presidência da República. O nome escolhido foi o do General Ernesto Geisel, claro representante da Sorbonne. Geisel era membro do corpo permanente da Escola Superior de Guerra – ESG, foi Chefe da Casa Militar de Castelo Branco, além de ter ocupado importantes cargos administrativos, sendo o mais notório, o de presidente da Petrobras. Vale destacar que foram essas características administrativas e a capacidade de comando do general que foram decisivas para sua eleição e não o fato do presidente ser representante do grupo castelista. Pela primeira vez, o Movimento Democrático Brasileiro – MDB lançou um candidato para concorrer à Presidência da República. Foram eles Ulysses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho. Contudo, apesar de as regras eleitorais permitirem tal candidatura, era praticamente impossível que um político da oposição ganhasse a disputa via colégio eleitoral. A chapa emedebista, porém, tinha caráter simbólico e estava mais interessada em percorrer o país denunciando a ditadura que estava estabelecida, do que, de fato, vencer o pleito. Nesse ponto, vale lembrar que a ditadura militar brasileira teve características peculiares. Hoje é irrefutável a forma ditatorial de governo. Porém, durante o período autoritário, o regime buscou conciliar características ditatoriais com características democráticas. Isso decorria do interesse dos militares em manter um falso clima de democracia. Como vimos, na aula 05, Ditadura Militar 01 – O Golpe de 1964 e o Governo Castelo Branco, o regime por vezes ficou “envergonhado” ao ser associado a uma ditadura. Esse é, inclusive, o título de um dos livros da coletâneo do escrito ítalo-brasileiro Elio Gaspari, que escreveu “A Ditadura Envergonhada”. IMAGEM 01 – Então presidente Ernesto Geisel faz discurso durante evento em São Paulo. Fonte: Portal G1. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/memorando-da-cia-reforca-que-imagem-de-moderado-de-geisel-era-falsa-dizem- historiadores.ghtml Acesso em 14 de abril de 2021. https://g1.globo.com/politica/noticia/memorando-da-cia-reforca-que-imagem-de-moderado-de-geisel-era-falsa-dizem-historiadores.ghtml https://g1.globo.com/politica/noticia/memorando-da-cia-reforca-que-imagem-de-moderado-de-geisel-era-falsa-dizem-historiadores.ghtml CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 07 – DITADURA MILITAR III. GEISEL (1974-79) E FIGUEIREDO (1979-85) Alexandre Alves A REABERTURA POLÍTICA O presidente Ernesto Geisel ficou famoso e sua imagem é bastante associada a reabertura política iniciada em seu governo. Como veremos, diversos atos tomados durante seu mandato foram associados a transição do regime ditatorial para a democracia. Além disso, o fato de ser membro da ESG e representante da Sorbonne concluem sua imagem de moderado. Todavia, documentos recentes mostram que Geisel esteve associado e, chegou a autorizar, a execução de opositores. Ademais, vale ressaltar que também foram tomadas medidas de cunho autoritário durante seu mandato. Nenhum dos presidentes generais desse período eram democratas entusiastas, eles tendiam mais ou menos a uma democracia limitada. A abertura iniciada por Geisel foi determinada por ele próprio como sendo lenta, gradual e segura. Lenta, pois iria demorar um longo período de tempo para que a abertura fosse concluída. Gradual, pois os direitos iriam sendo retomados pouco a pouco. Por fim, seria segura, uma vez que a transição de poder seria feita para um governo alinhado aos interesses do projeto da Ditadura para o Brasil. Além disso, uma democracia relativa era o objetivo do grupo castelista desde o governo do próprio Castelo Branco. É importante mencionar que esse processo de abertura foi bastante turbulento e cheio de avanços e recuos. Alguns autores chegam a tratar desse período como o movimento de sístole e diástole, em referência aos movimentos do coração de compressão e relaxamento de forma alternada. Apesar dos ideais de Geisel, a abertura não foi segura. Isso decorreu de diversos fatores: como a linha dura que sempre esteve presente pressionando pelo endurecimento do regime e pelo abandono da ideia de abertura; pelo desejo de Geisel em controlar de perto esse processo e pela oposição democrática que ganha força na medida em a abertura vai ganhando forma. Assim sendo, esse processo avança e regride diversas vezes. A abertura vem logo após o período de maior legitimidade do regime militar, o Governo Médici. Dessa forma, é normal se questionar as razões da abertura política justamente nesse momento. Nesse sentido, diversas causas podem ser aqui elencadas. Em primeiro lugar o crescimento da oposição política, sobretudo a partir de 1973. Além disso, o confronto entre o regime e a Igreja Católica, principalmente no que tange ao uso sistemático da tortura, também era muito desgastante para a Ditadura estabelecida. Por fim, ainda podemos citar a chamada desconfiguração dos próprios princípios militares. Explicando melhor, com o estabelecimento do aparelho repressor, um militar de patente baixa poderia decidir sobre a vida e morte de alguém sem que seu superior pudesse, muitas vezes, impedir. Essa quebra de hierarquia era vista por alguns setores militares como danosas para a própria corporação. Em termos econômicos, podemos citar ainda a Primeira Crise Internacional do Petróleo no ano de 1973. Apesar do impacto desse evento, seus efeitos foram em parte limitados no cenário brasileiro. Para entender melhor, o Primeiro Choque do Petróleo corresponde ao forte aumento dos preços do produto devido ao controle da produção por parte dos países do Oriente Médio. O preço do barril quase triplica em um curto período de tempo, causando fortes impactos econômicos nas nações capitalistas. Dessa forma, o Brasil que tinha empréstimos fáceis no exterior passa a enfrentar uma maior escassez de recursos. Porém, o milagre econômico vigente não acaba com essa crise. CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 07 – DITADURA MILITAR III. GEISEL (1974-79) E FIGUEIREDO (1979-85) Alexandre Alves No final de 1974, Geisel permitiu que eleições legislativas ocorressem enquanto tentava controlar a Linha-Dura no interior das Forças Armadas. Esperava-se uma vitória fácil da ARENA, porém observou-se o contrário. O MDB teve acesso ao rádio e a televisão para realizar sua campanha política. Era esperado, por parte dos militares, que essa manifestação fosse suficiente para que a situação obtivesse a maioria dos votos. Dessa forma, os resultados foram uma grande surpresa. “Da soma de votos válidos para o Senado, em um total de 24,5 milhões, o MDB obteve cerca de 14,5 milhões de votos, ou seja, 59%. Conquistou dezesseis das 22 cadeiras em disputa e a ARENA apenas seis. A ARENA, no entanto, continuou a ser majoritária, pois apenas parte do Senado foi renovada em 1964. Para a Câmara Federal, na contagem geral dos votos a ARENA superou o MDB por pequena maioria. Obteve 11,8 milhões (52%) contra 10,9 milhões de votos (48%). O partido do governo conquistou 204 cadeiras contra 160 da oposição; mas era evidente o avanço do MDB com relação às eleições de 1970.” (FAUSTO. 2006. p. 490 e 491) A partir de 1975, Geisel alternou medidas mais liberais com medidas autoritárias. Nesse sentido, podemos citar, por exemplo, a suspensão da censura prévia aos meios de comunicação, como medida mais liberalizante; e a repressão violenta contra membros do antigo PCB feita pelo ministro da Justiça Armando Falcão que julgavaser eles responsáveis pela vitória do MDB na eleição anterior, como medida mais dura e autoritária. Como mencionado, a abertura política foi cheia de avanços e recuos, ora se avançava no sentido da liberalização, ora regredia para medidas mais autoritárias. Isso em parte se justifica devido a necessidade de controlar as opiniões divergentes entre setores mais Castelistas e setores mais Linha-Dura dentro das Forças Armadas. Esse controle da Linha-Dura nem sempre foi fácil. Em 1975-1976 isso fica evidente dado o confronto entre o Governo e o aparelho repressor em São Paulo. Explicando melhor, em outubro desse mesmo ano, Vladmir Herzog, jornalista da TV Cultura, vai ser chamado para depor no DOI-CODI em São Paulo sob acusações de existir comunistas na emissora. Herzog vai ser interrogado, torturado e acaba morto nas dependências da polícia. Aparentemente, não era de interesse dos militares que sua morte ficasse evidente como consequência da tortura, dessa forma, eles forjam uma cena onde Herzog teria se suicidado. Contudo os laudos médicos apontam o contrário. A morte do jornalista causou forte comoção inclusive nos meios populares, que tiveram acesso a notícia devido ao fim da censura prévia. A missa de sétimo dia do jornalista feita por Dom Evaristo Arns que contou ainda com um pastore protestante e um rabino foi um verdadeiro ato político. A Catedral da Sé em São Paulo ficou lotada, mesmo com os entraves feitos pela polícia local para obstruir o trânsito na região. O caso Herzog não havia sido o primeiro de grande repercussão. Em 1973 nas mesmas circunstâncias, o estudante de geologia da Universidade de São Paulo, Alexandre Vannucchi Leme foi preso, interrogado e torturado até a morte no DOI-CODI. A versão dos militares apontou para suicídio, alegando que o jovem teria se jogado na frente de um caminhão. A versão claramente não batia com as marcas de tortura presente no corpo do jovem. A missa de sétimo dia do estudante, realizada por Dom Evaristo Arns reuniu cerca de cinco mil pessoas na Catedral da Sé. Um terceiro caso nas mesmas circunstâncias ocorreu em 1976. O líder operário Manuel Fiel Filho foi chamado a depor no DOI-CODI sob alegação de pertencer ao Partido Comunista Brasileiro. O metalúrgico comparece, é interrogado, torturado e morto. A versão oficial dos militares aponta para suicídio por enforcamento com as próprias meias. Mais uma vez a versão não bate com as marcas de tortura presente no corpo do operário. CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 07 – DITADURA MILITAR III. GEISEL (1974-79) E FIGUEIREDO (1979-85) Alexandre Alves IMAGEM 02 – Famosa fotografia que mostra a cena armada pelos militares para forjar o suicídio do Jornalista Vladmir Herzog. O laudo dos médicos legistas apontou para morte devido a tortura. A Ordem dos Advogados do Brasil se colocou a disposição da esposa de Vladimir para processar o Estado. Fonte: Jornal O Povo. Disponível em: https://www.opovo.com.br/noticias/brasil/2020/05/04/juiz-rejeita-denuncia-morte-de-vladimir-herzog-nos-poroes-da- ditadura.html Acesso em 18 de abril de 2021. Quando o terceiro caso de grande repercussão ocorreu em São Paulo, mesmo sob o descontentamento manifestado pelo presidente em relação aos eventos da Linha-Dura, Geisel afastou o comandante do Segundo Exército Ednardo D’Ávila Melo e todos os envolvidos no caso de tortura e morte de presos e interrogados em São Paulo e substituiu por militares de sua confiança. Quem assume o Segundo Exército no lugar de Ednardo é o General Dilermando Gomes Monteiro, militar de confiança do presidente. Em 1976 ocorre ainda a chamada Lei Falcão que limitou a manifestação de candidatos no rádio e na TV. Em 1977, foram tomadas uma série de medidas conhecidas como Pacote de Abril. Esses eventos serão tratados de forma específica em um tópico separado do atual. A continuidade da abertura política segue em 1978 com um avanço muito importante, a revogação do Ato Institucional número 05. Lembrando que o AI 05 é considerado o maior instrumento de repressão utilizado pelos militares durante a Ditadura. Esse ato foi baixado no dia 13 de dezembro de 1968. Estabeleceu de vez o caráter ditatorial do regime iniciado em 1964, uma vez que concentrou ainda mais os poderes no Executivo e consolidou de vez a tese de que os militares permaneceriam no poder. https://www.opovo.com.br/noticias/brasil/2020/05/04/juiz-rejeita-denuncia-morte-de-vladimir-herzog-nos-poroes-da-ditadura.html https://www.opovo.com.br/noticias/brasil/2020/05/04/juiz-rejeita-denuncia-morte-de-vladimir-herzog-nos-poroes-da-ditadura.html CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 07 – DITADURA MILITAR III. GEISEL (1974-79) E FIGUEIREDO (1979-85) Alexandre Alves O presidente passou a concentrar em si muitos poderes, o que é típico das ditaduras. O presidente poderia decretar o recesso do legislativo, passando a legislar por conta própria sobre qualquer matéria. Passou a ser possível a nomeação de interventores para atuar nos Estados e Municípios. Permitia ao chefe do executivo cassar mandatos e direitos políticos, além de decretar o estado de sítio ao seu bel prazer. Além disso, o fim do direito de habeas corpus permitiu que muitos fossem presos de forma injusta. Além disso, esse ato, diferentemente dos anteriores, não tinha um prazo de vigência estabelecido. A estabilidade no serviço público foi perdida, o mesmo vale para a vitaliciedade dos magistrados. O que desencadeou uma nova onda de expurgos no funcionalismo público. Além disso, iniciou-se a chamada censura prévia. A revogação ao AI 05 ocorreu pela Emenda Constitucional número 05 de 1979. A extinção dessa lei autoritária é um ponto muito importante para a abertura política, o que permitiria uma maior liberdade para a oposição e para manifestação de uma forma geral. Contudo, não podemos nos enganar, a revogação do Ato é uma medida liberalizante, mas o Brasil ainda estava muito longe de ser uma democracia exemplar. Além disso, o regime ditatorial permanecia, mesmo com a falsa sensação democrática devido as eleições legislativas que ocorreram em 1974 e 1976. Além disso, o governo ainda ficou com as chamadas “salvaguardas”, quando regime poderia adotar medidas autoritárias em caráter emergencial. O PACOTE DE ABRIL Antes de tratar do chamado Pacote de Abril, é preciso tratar da Lei Falcão. Com a proximidade das eleições municipais de 1976, vigorava um receio com relação ao possível resultado favorável ao MDB. Isso porque, em 1974 a oposição havia ganhado a maior parte das cadeiras em disputa. Nesse sentido, o Ministro da Justiça Armando Falcão, idealizou a chamada Lei Falcão, ou Lei 6.339/1976. A mesma restringia a propaganda eleitoral no rádio e TV a simples apresentação do nome, número do candidato e currículo. A propaganda eleitoral era algo novo e servia para o MDB manifestar suas ideias e propostas, além da falar mal do regime. Com a nova lei, isso ficava inviável. “Art 1º O artigo 250 da Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965, alterado pelo artigo 50 da Lei nº 4.961, de 4 de maio 1966, passa a vigorar com a seguinte redação: § 1º Nas eleições de âmbito municipal, as emissoras reservarão, nos 30 (trinta) dias anteriores à antevéspera do pleito, uma hora diária, sendo trinta minutos à noite entre vinte e vinte e três horas, para a propaganda gratuita, respeitada as seguintes normas: I - na propaganda, os partidos limitar-se-ão a mencionar a legenda, o currículo e o número do registro dos candidatos na Justiça Eleitoral, bem como a divulgar, pela televisão, suas fotografias, podendo, ainda, anunciar o horário local dos comícios.” (BRASIL, LEI Nº 6.339, DE 1º DE JULHO DE 1976. Dá nova redação ao artigo 250 da Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965, alterado pelo artigo 50, da Lei número 4.961, de 4de maio de 1966, e ao artigo 118 da Lei nº 5.682, de 21 de julho de 1971. Diário Oficial da União. 2.7.1976) Apesar da tentativa da Lei Falcão em limitar a manifestação da oposição no rádio e TV, o MDB conseguiu vencer nas principais cidades, onde o eleitor é mais independente. Das 100 maiores cidades do Brasil, nesse momento, o MDB conseguiu obter a maioria na Câmara Municipal em 59. Era evidente o avanço da oposição no Governo Geisel. CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 07 – DITADURA MILITAR III. GEISEL (1974-79) E FIGUEIREDO (1979-85) Alexandre Alves O presidente Ernesto Geisel adotou uma medida mais autoritária em abril de 1977 após uma crise entre o Executivo e o Legislativo. Essas medidas ficaram conhecidas como Pacote de Abril, uma vez que foram aprovadas nesse mês. Entre as principais medidas do “pacote” podemos citar: O Congresso entrou em recesso e o presidente passou a emendar a Constituição Federal e baixar decretos-leis; Foram criados os Senadores Biônicos, legislados que seriam escolhidos via colégio eleitoral e não pelo voto popular; Alteração do critério de proporcionalidade, de forma que o nordeste (onde a ARENA é mais forte) passou a ter mais peso; Aplicação das determinações da Lei Falcão para as demais eleições e; Alteração do mandato presidencial de cinco para seis anos. IMAGEM 03 – Presidente General Ernesto Geisel (ao centro) e o Ministro da Justiça Armando Falcão (a direita de Geisel) durante evento em Fortaleza. Fonte: FGV CPDOC. Disponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo- pessoal/EG/audiovisual/ernesto-geisel-armando-falcao-valdemar-alcantara-paulo-machado-mauricio-rangel-reis-gustavo- morais-rego-e-outros-na-inauguracao-de-parte-do-sistem Acesso em 18 de abril de 2021. Resumidamente, o Pacote de Abril foi uma tentativa do presidente de concentrar maiores poderes e continuar a abertura. Mesmo que pareça contraditório, Geisel adotava medidas autoritárias e medidas liberalizantes. O Pacote entre nesse contexto, da mesma forma que fechava o Congresso, também aumentava o mandato presidencial como forma de dar mais estabilidade para o presidente seguinte, que seria um sucessor de sua confiança, para concluir a abertura. Criava senadores biônicos como forma de manter a maioria da ARENA e evitar que a oposição chegasse rapidamente ao poder. http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo-pessoal/EG/audiovisual/ernesto-geisel-armando-falcao-valdemar-alcantara-paulo-machado-mauricio-rangel-reis-gustavo-morais-rego-e-outros-na-inauguracao-de-parte-do-sistem http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo-pessoal/EG/audiovisual/ernesto-geisel-armando-falcao-valdemar-alcantara-paulo-machado-mauricio-rangel-reis-gustavo-morais-rego-e-outros-na-inauguracao-de-parte-do-sistem http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo-pessoal/EG/audiovisual/ernesto-geisel-armando-falcao-valdemar-alcantara-paulo-machado-mauricio-rangel-reis-gustavo-morais-rego-e-outros-na-inauguracao-de-parte-do-sistem CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 07 – DITADURA MILITAR III. GEISEL (1974-79) E FIGUEIREDO (1979-85) Alexandre Alves ECONOMIA A política econômica de Geisel ficou conhecida como “Marcha Forçada”, isso porque, mesmo com o cenário exterior nada favorável, os dirigentes do país apostaram no crescimento e forçaram pelo avanço da Economia. Também como forma de manter a legitimidade do regime. O primeiro evento econômico, antecede o próprio Governo Geisel, trata-se da Primeira Crise Internacional do Petróleo. Esse evento decorre do conflito entre países árabes e israelenses na chamada Guerra do Yom Kippur ou dia do perdão. Como retaliação os países árabes reduzem a produção de Petróleo, fazendo com que os preços do produto tripliquem de valor. Tal aumento é danoso para o Brasil que importava a maior parte de sua produção. Além disso, as taxas de juros internacionais ficam mais altas, em um período que o Brasil é dependente de empréstimos externos. A crise do petróleo fez com que o Brasil buscasse alternativas para reduzir a dependência desse produto. Nesse sentido, é lançado em 1975 o Programa Nacional do Álcool – Pro Álcool. No comando da Fazenda sai Delfim Neto e entra Mário Henrique Simonsen e no Planejamento entra João Paulo dos Reis Veloso. A tática da equipe econômica de Geisel ficou estabelecida com o II Plano Nacional de Desenvolvimento que consolida a proposta de crescimento a todo custo ao invés de frear o carro da Economia nacional até o passar da crise. O governo avança no sentido de substituição de importações, de forma que o país fosse autossuficiente inclusive em bens de capital. A base do programa e o que garantiu os bons resultados foram as empresas estatais. Petrobras, Eletrobras e Embratel. Além disso, manteve-se a opção por obras de grande porte, as chamadas Obras Faraônicas. São desse período as Usinas Nucleares Brasileiras e a Usina Hidrelétrica Binacional de Itaipu, por exemplo. Existem opiniões divergentes quanto aos resultados da política econômica de Geisel. Por um lado, teria avançado no sentido da industrialização brasileira e na substituição de importações. Por outro lado, teria aumentado ainda mais a dívida externa brasileira e acentuado os problemas que vão estourar no final da ditadura e na redemocratização, causando a chamada década perdida (anos 80). Para financiar os grandes projetos o Brasil continuou a obter empréstimos no exterior, agora com taxas ainda mais altas, o que aumentou a dívida externa. Uma parte desses recursos foram mal empregados e trouxeram poucos resultados de fato para a Economia do país. Contudo, a equipe econômica conseguiu manter bons resultados, o PIB cresceu em média de 6,7% a 4,2% durante os anos Geisel. O NOVO SINDICALISMO Apesar de toda a repressão exercida pelo aparelho militar, os sindicatos não desapareceram. Muito pelo contrário, esse período é marcado pelo avanço do sindicalismo rural, por exemplo. Surgem diversos sindicatos nas áreas rurais do Brasil, sobretudo ligados a Confederação dos Trabalhadores Agrícolas – CONTAG, e da Comissão Pastoral da Terra – CPT, esses grupos tinham grande foco na luta pela posse da terra. Surgem também os chamados sindicatos do colarinho branco, representando os profissionais historicamente tidos como liberais que passam a trabalhadores diplomados, necessitando assim, de representação. CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 07 – DITADURA MILITAR III. GEISEL (1974-79) E FIGUEIREDO (1979-85) Alexandre Alves No entanto, o eixo de maior relevo está no ABCD paulista (Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra). Isso ocorre por conta da concentração as indústrias automobilísticas nesse local. Essas multinacionais concentram grande quantidade de trabalhadores em uma única empresa, fazendo com que os sindicatos assumam uma nova feição na sua organização. “O eixo mais combativo se deslocou das empresas públicas para a indústria automobilística, que tinha sido um setor pouco atuante até 1964. A grande concentração de trabalhadores em um pequeno número de empresas e a concentração geográfica no ABC paulista foram fatores materiais importantes para a organização do novo movimento operário.” (FAUSTO. 2006. p. 499) Esse momento é bastante importante para a história nacional. Em 1977 o governo divulgou que os índices inflacionários de 1973-74 foram manipulados, dessa forma, o ajuste salarial dos trabalhadores foram feitos de forma errônea, causando perda real do poder de consumo. Iniciou-se uma forte campanha dos sindicatos pela correção do salário. Esse movimento foi iniciado pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema e culminou nas grandes greves de 1978 e 1979. Essas manifestaçõescontaram com importante participação do líder operário Luís Inácio Lula da Silva. A greve iniciada pelos metalúrgicos teve repercussão em outras classes, como a dos professores, que também entraram em greve. Além disso, teve impacto na própria sindicalização, aumentando o número de trabalhadores sindicalizados. IMAGEM 04 – Luís Inácio Lula da Silva durante um dos grandes comícios no Estádio da Vila Euclides durante as greves de 1978-79. Fonte: Rede Brasil Atual. Disponível em: https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2019/05/lula-aos- metalurgicos-do-abc-nunca-esqueci-de-onde-eu-vim/ Acesso em 18 de abril de 2021. https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2019/05/lula-aos-metalurgicos-do-abc-nunca-esqueci-de-onde-eu-vim/ https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2019/05/lula-aos-metalurgicos-do-abc-nunca-esqueci-de-onde-eu-vim/ CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 07 – DITADURA MILITAR III. GEISEL (1974-79) E FIGUEIREDO (1979-85) Alexandre Alves O GOVERNO FIGUEIREDO (INTRODUÇÃO) Ernesto Geisel conseguiu fazer seu sucessor e garantiu a continuidade de seu projeto de abertura política do regime. Foi eleito em 1979 o General João Batista Figueiredo e como vice o civil Aureliano Chaves, ex-governador do estado de Minas Gerais. Figueiredo não era um típico membro da Sorbonne, mas coube a ele a missão de conter a Linha-Dura e avançar na abertura política. Apesar de tudo, conseguiu atender essas duas demandas. O último governo militar tem uma característica peculiar, que muito consideravam ser algo inconciliável. Figueiredo conseguiu conciliar crise econômica com abertura política. Contudo, a sucessão não foi tão simples. No colégio eleitoral, Figueiredo venceu a chapa do MDB formada por Euler Bentes Monteiro e Paulo Brossard. Contudo, o maior desafio foi em relação ao Ministro do Exército Sylvio Frota. Representante da Linha-Dura, Sylvio se lançou como candidato representando os favoráveis a um maior endurecimento do regime, desrespeitando o calendário eleitoral de Geisel. O então presidente demitiu Sylvio do ministério e afastou o militar, inferior a Geisel na hierarquia, o que impediu a escalada da Linha-Dura. IMAGEM 05 – João Batista Figueiredo recém empossado (sentado ao centro) e Ernesto Geisel (em pé ao seu lado). Fonte: Acervo O Globo. Disponível em: https://acervo.oglobo.globo.com/incoming/figueiredo-general-presidente- 22249300 Acesso em 26 de abril de 2021. Figueiredo havia sido Chefe do Gabinete Militar de Emílio Garrastazu Médici e, durante o Governo Geisel, Chefe do Serviço Nacional de Informações – SNI. Nessa última função, era possível ao seu ocupante ter acesso privilegiado as informações nacionais caras a um presidente. A escolha não era atoa, o chefe do SNI possuía dados relevantes para um chefe de nação. Médici também havia ocupado esse cargo. Outro nome relevante que esteve nessa posição foi, Golbery do Couto e Silva que, apesar de não ter sido presidente, esteve presente de forma ativa nos governos militares. https://acervo.oglobo.globo.com/incoming/figueiredo-general-presidente-22249300 https://acervo.oglobo.globo.com/incoming/figueiredo-general-presidente-22249300 CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 07 – DITADURA MILITAR III. GEISEL (1974-79) E FIGUEIREDO (1979-85) Alexandre Alves ECONOMIA A equipe econômica de Figueiredo foi chefiada inicialmente por Mário Henrique Simonsen e em seguida por Delfin Neto que passou brevemente pela pasta da agricultura. Se com Geisel, o milagre econômico ainda manifestava alguns sinais, com Figueiredo eles terminam. Isso ocorre em boa medida decido a uma Segunda Crise Internacional do Petróleo, que eleva ainda mais os preços do produto. Dessa vez, as causas estão na Revolução Iraniana e na Guerra Irã-Iraque. Com o corte da produção, o preço do barril de petróleo bate recordes. O Brasil que era dependente do óleo vindo de outros países passa a ter as contas pressionadas. Além disso, em boa medida, as causas do Milagre estavam nos volumosos empréstimos obtidos no exterior. Com a crise e a moratória mexicana em 1982, as fontes de recursos para países como o Brasil se esgotam. Nesse cenário, a recessão econômica foi inevitável. O Brasil enfrentou um quadro negativo sobretudo na indústria de bens de consumo duráveis. Durante os anos de 1981 e 1982 e a partir de então vigorou no Brasil um quadro econômico denominado de estagflação. Nesse cenário, o país viveu estagnação econômica associado a elevada inflação. O aumento geral dos preços decorria de diversos fatores, mas a principal causa nesse momento era o aumento nos custos do barril de petróleo, o aumento da dívida externa brasileira em parte associada a juros flutuantes e a escassez de crédito para o país no mercado internacional. Nesse contexto, e apesar de ter sido relutante nesse sentido, o Brasil recorreu ao FMI. A partir do recebimento dos recursos, iniciou-se um processo de discordância entre o país e o órgão. Sobre esse assunto é relevante as considerações de Boris Fausto, p. 503: “Em troca de uma modesta ajuda financeira e da tentativa de restaurar sua credibilidade internacional, o país aceitou a receita do FMI. Ela consistia sobretudo em um esforço para melhorar as contas externas do país, mantendo-se o serviço da dívida. Internamente, previam-se cortes de despesas e a compressão ainda maior dos salários. Estes iriam variar em 80% de um índice de preços ao consumidor que já se situava abaixo da inflação real. Seguiu-se uma série de discordâncias entre o Brasil e o FMI. No Brasil havia pressões contra as medidas restritivas e o pagamento dos juros da dívida; O FMI mostrava-se insatisfeito porque o acordo não era cumprido. Nesse clima, os credores internacionais não concederam ao país novos prazos para o pagamento da dívida – o reescalonamento – nem taxas mais favoráveis de juros, como fizeram com o México.” (FAUSTO. 2006. p. 503) Apesar de todas as divergências, a economia brasileira voltou a crescer ainda durante os Governos Militares no ano de 1984. Contudo, manteve-se um forte de quadro de inflação. Isso porque, o Brasil emitia papel-moeda para honrar os compromissos firmados. Além disso, com o avanço das exportações, o país precisava de mais recursos para honrar os compromissos de comércio, já que a balança ainda era deficitária. A solução dessas questões passa por medidas inflacionárias. Ao fim do governo Figueiredo, a inflação já estava em patamares assustadores. Por fim, vale apenas destacar que o fim da Ditadura Militar também é marcado como o fim do processo de Substituição de Importações no Brasil. Isso porque o país conseguiu internalizar toda a sua cadeia produtiva. O Brasil produzia desde bebidas e alimentos industrializados até aviões. Outra característica questionada até pelos conservadores apoiadores do regime, era a forte intervenção estatal na Economia. CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 07 – DITADURA MILITAR III. GEISEL (1974-79) E FIGUEIREDO (1979-85) Alexandre Alves A CONTINUIDADE DA ABERTURA POLÍTICA Apesar de ter sido chefe de um órgão repressivo da Ditadura Militar, coube a João Batista Figueiredo a tarefa de concluir a abertura política iniciada por Ernesto Geisel. O primeiro grande marco de seu governo, nesse sentido, foi a Lei de Anistia. A Lei 6.683 de 28 de agosto de 1979 traz no seu artigo primeiro “É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexo com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta, de fundações vinculadas ao poder público, aos Servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário,aos Militares e aos dirigentes e representantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institucionais e Complementares”. Apesar de conceder a anistia, ainda no seu artigo primeiro, essa lei excluir aqueles que se envolveram com atos terroristas, assaltos, sequestros e atentado pessoal. Dessa forma, exclui-se da Lei aqueles que se envolveram na luta armada. Esse inciso foi bastante polêmico. Boa parte da esquerda que lutou pela democracia durante os anos ditatoriais pegou em armas, realizaram assaltos a bancos, sequestraram pessoas importantes, etc. Todo esse grupo permaneceu a margem da anistia. A polêmica reside no fato que a lei foi parcial. Isso porque perdoou os agentes do regime que cometeram crimes, como a tortura. Mas não perdoou a oposição que lutou pelo retorno a democracia. É importante salientar ainda que a oposição que optou pela luta armada acreditava que essa era a única forma de retornar o país a democracia. A esquerda nesse momento não era coesa quanto ao momento político que poderia ser um incentivo para, além de derrubar o regime, instalar uma ditadura do proletariado. Essas pessoas realizaram assaltos a bancos porque era a forma de conseguir dinheiro para lutar contra a ditadura. Eles sequestravam personalidades, como o embaixador dos EUA, pois era a forma de conseguir que prisioneiros fossem libertados. Esses grupos não realizavam tais atos para espalhar o terror ou simplesmente fazer o mal. Era a forma encontrada por eles para lutar pela democracia. Como veremos, os militares da Linha-Dura também realizaram atos terroristas como forma de desestabilizar o regime e justificar um maior endurecimento do mesmo, bem como o abandono ao processo de abertura política. Ainda em 1979, o Governo conseguiu aprovar no Congresso Nacional, a Nova Lei Orgânica dos Partidos. Essa lei pôs fim ao AI 02. Dessa forma, os partidos oficiais ARENA e MDB estavam extintos, e estaria permitido a criação de novas legendas. A regra dizia ainda que seria obrigatório o uso da palavra “partido” nos nomes oficiais das novas agremiações. Da mesma forma que era um avanço no sentido da abertura política, essa lei também serviu para enfraquecer a oposição. Explicando melhor, o bipartidarismo acabou servindo como armadilha para o Governo. Isso porque os votos dos congressistas passaram a ser basicamente contra ou a favor da situação. O MDB reunia toda sorte de posicionamentos ideológicos que eram contra o regime militar ditatorial. Entre Lula e José Serra havia muitas diferenças, mas estavam reunidos em uma mesma agremiação. Esse arranjo fazia sentido pelo fato de existir a ARENA, um inimigo em comum. Com a reabertura e a saída gradual dos militares não fazia mais sentido que essa oposição se mantivesse coesa. E assim aconteceu, novos partidos foram criados representando melhor as ideologias existentes nesse momento. CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 07 – DITADURA MILITAR III. GEISEL (1974-79) E FIGUEIREDO (1979-85) Alexandre Alves De forma resumida, podemos dizer que a ARENA virou o Partido Democrático Social – PDS. O MDB apenas acrescentou a palavra “partido” em seu nome oficial, tornando-se PMDB. Formou-se ainda o Partido Popular – PP – que reuniu membros mais conservadores do antigo MDB e alguns representantes da antiga ARENA. O Partido Trabalhista Brasileiro – PTB – ficou com Ivete Vargas, sobrinha-neta do ex-presidente Getúlio. Leonel Brizola que teve o direito ao PTB negado, fundou o Partido Democrático Trabalhista – PDT. Das lutas do ABCD paulista, dos movimentos sociais, de membros da Igreja Católica e de trabalhadores em geral, fundou-se o Partido dos Trabalhadores – PT. A nova legenda buscava reunir os assalariados na luta por direitos sociais que pudessem abrir caminho para o socialismo. A definição de qual socialismo seria o objetivo do partido não foi muito bem definido. A liderança da legenda ficou em grande medida na figura do líder sindical Luís Inácio Lula da Silva. Aulas adiante falaremos dos Governos Petistas, quando esse grupo alcança o poder. O Partido Comunista Brasileiro – PCB - permaneceu na ilegalidade até o fim da ditadura. Mais adiante trataremos ainda do Partido da Frente Liberal – PFL. Esse partido surgiu de divergências entre os membros do PDS na disputa pela sucessão via colégio eleitoral. Essa diverg6encia origina a Frente Liberal, posterior Partido da Frente Liberal. Em 1982 ocorreram eleições livres para governador dos estados e para Câmara e Senado. Contudo, algumas peculiaridades marcaram essa eleição. Primeiro, a Lei Falcão ainda permanecia vigente. Ademais, foi aprovado o voto vinculado. Nessa modalidade, só era válido o voto caso fosse feito em representantes de um único partido em todas as esferas. O objetivo era tentar usar a força local do PDS para puxar os votos nas demais esferas. O Partido Democrático Social obteve maioria dos votos tanto para a Câmara como para o Senado. Para Governador, no entanto, a oposição conseguiu vitórias mais expressivas. Como a vitória de Brizola no Rio de Janeiro e Tancredo Neves em Minas Gerais. É de se imaginar que a Linha-Dura e setores militares contrários a abertura política manifestassem contra o processo que estava em curso. Sobre esse assunto é interessante saber o pensamento de Boris Fausto em História do Brasil p. 505. “O processo de abertura continuou a ser perturbado no Governo Figueiredo pela ação da Linha Dura. Bombas explodiram em jornais da oposição e na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Uma carta-bomba, enviada ao presidente da OAB, estourou na sede da entidade, matando sua secretária. Figuras da Igreja ou ligadas à Igreja, como o Bispo de Nova Iguaçu, Dom Adriano Hypólito e o jurista Dalmo Dallari, foram vítimas de sequestros. Os atos criminosos culminaram na tentativa de explodir bombas no centro de convenções do Riocentro, a 30 de abril de 1981. Aí se realizava um festival de música, com a presença de milhares de jovens. Uma das bombas não chegou a ser colocada. Explodiu no interior de um carro, ocupado por um sargento e um capitão do exército; o sargento morreu no local e o capitão ficou gravemente ferido. A outra bomba explodiu na casa de força do Riocentro. O governo conduziu um IPM que confirmou uma absurda versão dos fatos, isentando os responsáveis. Para tanto, chegou-se o ponto de substituir um coronel que vinha realizando uma investigação séria. O pedido de demissão de Golbery da chefia da chefia da casa civil, em agosto de 1981, teve certamente a ver com a manipulação do inquérito.” (FAUSTO. 2006. p. 505) CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 07 – DITADURA MILITAR III. GEISEL (1974-79) E FIGUEIREDO (1979-85) Alexandre Alves IMAGEM 06 – Uma das bombas explodiu no carro e matou um dos militares. Fonte: Acervo O Estado de Minas. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2019/08/28/interna_politica,1080477/stj-julga-se-reabre-o- caso-do-atentado-a-bomba-no-riocentro.shtml Acesso em 28 de abril de 2021. AS DIRETAS JÁ Em 1983 não havia nada decidido de forma definitiva com relação a sucessão presidencial. Nesse mesmo ano, o PMDB lançou a proposta de eleições diretas para presidente da república, de forma não oficial, durante um pequeno comício em Goiânia, capital do estado de Goiás. Formou-se a Frente Única, que era composta por PMDB, PT, PDT, CUT e Conclat. Esse movimento realizou manifestações importantes em São Paulo em prol de eleições Diretas. Em Curitiba foram realizados grandes comícios. O mesmo se pode dizer para aqueles organizados por Franco Montoro na Praça da Sé em São Paulo. A população civil de uma forma geral se envolveu no movimento. Foi grande a adesão popular pela proposta de eleições diretas para presidente. Era como se o voto direto pudesse resolveros problemas do país. A população aderiu e participou de forma ativa durante os eventos, sobretudo nas manifestações em São Paulo. Merece destaque a liderança de Ulysses Guimarães, importante membro do PMDB nesse momento e futuro presidente da Assembleia Nacional Constituinte que vai redigir a Constituição de 1988, documento que inaugura a nova ordem constitucional brasileira. Ordem essa que vigora ainda nos dias de hoje. O desejo pelas eleições diretas para presidente da república foi oficializado com a Proposta de Emenda a Constituição Dante de Oliveira. Nome do deputado do PMDB do Mato Grosso que propôs a mesma, inicialmente na Câmara. Apesar de toda a adesão popular e dos partidos, havia um grande https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2019/08/28/interna_politica,1080477/stj-julga-se-reabre-o-caso-do-atentado-a-bomba-no-riocentro.shtml https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2019/08/28/interna_politica,1080477/stj-julga-se-reabre-o-caso-do-atentado-a-bomba-no-riocentro.shtml CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 07 – DITADURA MILITAR III. GEISEL (1974-79) E FIGUEIREDO (1979-85) Alexandre Alves abismo entre o Congresso e a realidade popular. Dessa forma, a emenda não passou. Para que isso ocorresse ficou faltando 22 votos. Mesmo alguns membros do PDS votaram a favor da emenda. Contudo, alguns especialistas defendem que mesmo se a emenda tivesse passado na câmara, seria muito difícil que passasse pelo senado, dominado por ex-integrantes da ARENA. IMAGEM 07 – Grande manifestação por eleições diretas no Vale do Anhangabaú, SP. Fonte: R7. Disponível em: https://noticias.r7.com/sao-paulo/local-estrategico-e-palco-da-historia-anhangabau-segue-trajetoria-de-sp-09082020 Acesso em 28 de abril de 2021. A Emenda Dante de Oliveira não passou. Dessa forma, a sucessão presidencial ocorreria de forma indireta via colégio eleitoral. Na prática a disputa ficou entre Tancredo Neves pelo PMDB e Paulo Maluf pelo PDS. Maluf, no entanto, conseguiu gerar uma cisão no seu partido tão forte, que vários membros romperam no sentido de apoiar Tancredo. Por conta disso, candidato pemedebista venceu fácil a disputa. A oposição finalmente chegaria ao poder dentro das próprias regras estabelecidas pelo regime. No entanto, Tancredo morreu antes mesmo de assumir. Dessa forma, seu vice, José Sarney foi quem de fato subiu ao poder. Sarney foi importante membro da ARENA e sua figura em nada se aproximava da pauta democrática. A sucessão será melhor tratada na aula seguinte. https://noticias.r7.com/sao-paulo/local-estrategico-e-palco-da-historia-anhangabau-segue-trajetoria-de-sp-09082020 CURSO: HISTÓRIA, GESTÃO PÚBLICA E DIREITO DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO RESUMO 07 – DITADURA MILITAR III. GEISEL (1974-79) E FIGUEIREDO (1979-85) Alexandre A. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A maior e mais ousada iniciativa do nacional‑desenvolvimentismo. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=3297&catid=28&It emid=39#:~:text=motores%20do%20crescimento.- ,O%20II%20PND%20priorizava%20o%20aumento%20da%20capacidade%20energética%20e,plano %20econômico%20do%20ciclo%20desenvolvimentista. Acesso em 18 de abril de 2021. Arquivos Pessoais. CPDOC FGV, 2021. Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/acervo/arquivospessoais Acesso em 06 de fevereiro de 2021. Biografias de Resistência. Memórias da Ditadura Org. 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