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Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa Créditos Centro Universitário Senac São Paulo – Educação Superior a Distância Diretor Regional Luiz Francisco de Assis Salgado Superintendente Universitário e de Desenvolvimento Luiz Carlos Dourado Reitor Sidney Zaganin Latorre Diretor de Graduação Eduardo Mazzaferro Ehlers Diretor de Pós-Graduação e Extensão Daniel Garcia Correa Gerentes de Desenvolvimento Claudio Luiz de Souza Silva Luciana Bon Duarte Roland Anton Zottele Sandra Regina Mattos Abreu de Freitas Coordenadora de Desenvolvimento Tecnologias Aplicadas à Educação Regina Helena Ribeiro Coordenador de Operação Educação a Distância Alcir Vilela Junior Professores Autores Edna Mara Baars Juliane Borges Ferreira Kênia Cristina G. dos Santos Nelson Nogueira Schirlei Mari Freder Sirlene S. de Amorim Pereira Revisores Técnicos Aline Delmanto Capone Donizetti Leonidas de Paiva Polise Moreira de Marchi Revisoras de Texto Ana Luiza Candido Camila Lins Técnica de Desenvolvimento Carolina Tiemi Sato Komatsu Coordenadoras Pedagógicas Ariádiny Carolina Brasileiro Silva Izabella Saadi Cerutti Leal Reis Nivia Pereira Maseri de Moraes Otacília da Paz Pereira Equipe de Design Educacional Alexsandra Cristiane Santos da Silva Ana Claudia Neif Sanches Yasuraoka Angélica Lúcia Kanô Anny Frida Silva Paula Cristina Yurie Takahashi Diogo Maxwell Santos Felizardo Flaviana Neri Francisco Shoiti Tanaka Gizele Laranjeira de Oliveira Sepulvida Hágara Rosa da Cunha Araújo Janandrea Nelci do Espirito Santo Jackeline Duarte Kodaira João Francisco Correia de Souza Juliana Quitério Lopez Salvaia Jussara Cristina Cubbo Kamila Harumi Sakurai Simões Katya Martinez Almeida Lilian Brito Santos Luciana Marcheze Miguel Mariana Valeria Gulin Melcon Mônica Maria Penalber de Menezes Mônica Rodrigues dos Santos Nathália Barros de Souza Santos Rivia Lima Garcia Sueli Brianezi Carvalho Thiago Martins Navarro Wallace Roberto Bernardo Equipe de Qualidade Ana Paula Pigossi Papalia Josivaldo Petronilo da Silva Katia Aparecida Nascimento Passos Coordenador Multimídia e Audiovisual Ricardo Regis Untem Equipe de Design Audiovisual Adriana Mitsue Matsuda Caio Souza Santos Camila Lazaresko Madrid Carlos Eduardo Toshiaki Kokubo Christian Ratajczyk Puig Danilo Dos Santos Netto Hugo Naoto Takizawa Ferreira Inácio de Assis Bento Nehme Karina de Morais Vaz Bonna Marcela Burgarelli Corrente Marcio Rodrigo dos Reis Renan Ferreira Alves Renata Mendes Ribeiro Thalita de Cassia Mendasoli Gavetti Thamires Lopes de Castro Vandré Luiz dos Santos Victor Giriotas Marçon William Mordoch Equipe de Design Multimídia Alexandre Lemes da Silva Cristiane Marinho de Souza Emília Correa Abreu Fernando Eduardo Castro da Silva Mayra Aoki Aniya Michel Iuiti Navarro Moreno Renan Carlos Nunes De Souza Rodrigo Benites Gonçalves da Silva Wagner Ferri Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa Aula 01 Empreendedorismo: uma abordagem introdutória Objetivos Específicos • Apresentar os conceitos principais da disciplina, iniciando a construção da base teórica do aluno. Temas Introdução 1 Etimologia 2 Contextualização histórica 3 Definições segundo diferentes autores 4 O empreendedorismo social Considerações finais Referências Nelson Nogueira Professor Autor Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 3 Introdução Prezado aluno, iniciamos a nossa disciplina de Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa na intenção de estimular seu comportamento empreendedor, munindo-o de ferramentas que lhe possibilitem desenvolver habilidades para criar oportunidades de negócio inovadoras que farão a diferença na construção da sua carreira profissional. Nesta disciplina, você será introduzido aos conceitos de empreendedorismo, conhecerá o perfil do empreendedor e as diferentes esferas em que encontramos tais iniciativas, assim como as motivações que levam o indivíduo a empreender. Após conhecer as principais dimensões do empreendedor, partiremos para a compreen- são do envolvimento deste com o ambiente que o cerca, por meio da análise de sua relação com a sustentabilidade e a responsabilidade social. Na sequência, conheceremos melhor os conceitos de inovação e a relação desta com o processo empreendedor, e será introduzida a noção de economia criativa e apresentadas as oportunidades dela advindas. Por fim, trataremos de ferramentas para o desenvolvimento de negócios, como design thinking, Modelo Canvas, plano de negócios e algumas opções para captação de recursos. Complementando, serão apresentadas ideias para aumentar a criatividade e incrementar as habilidades do empreendedor. Nesta primeira aula, vamos conduzir o assunto iniciando pela etimologia, o estudo da origem e história da palavra “empreendedorismo”, de onde surgiu e como evoluiu ao longo dos anos. Em seguida, vamos para a contextualização histórica, mostrando a trajetória do conceito aplicado no ambiente interno e externo da organização. Posteriormente, abordaremos as definições que foram sendo aprimoradas e incorporadas com o passar do tempo e, por fim, os aspectos do empreendedorismo social, utilizando a mesma trajetória e tópicos que utilizamos para falar do empreendedorismo. Ao final desta aula, você terá ampliado a sua visão sobre o assunto, compreendendo o empreendedorismo, a sua importância, os novos caminhos possíveis para sua carreira profissional ou até para a abertura de seu próprio negócio, independentemente da área da formação que esteja cursando. Uma sociedade que passa por constantes processos de reinvenção carece de indivíduos criativos que possam contribuir com a transformação demandada, seja criando uma nova empresa ou inovando nas organizações em que se inserem. E espero que você seja esse agente transformador, capaz de favorecer a mudança por meio de soluções inovadoras. Assim, o que se espera é que você, aluno, esteja preparado para abrir seus horizontes e perceber soluções inovadoras em sua área profissional. Desejamos que esta disciplina contribua para o seu desabrochar empreendedor. E você, está motivado para fazer a diferença em sua carreira ou no seu próprio negócio? Então vamos lá, iniciar a nossa aula. Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 4 1 Etimologia O termo “empreendedorismo” tem origem nas palavras entrepreneur e entrepreneurship, ambas com problemas de definição em qualquer língua. Assim, entrepreneur poderia ser “empresário”, mas, segundo Drucker (1986) e muitos outros autores, o empresário não é necessariamente um empreendedor e o empreendedor nem sempre é um empresário. Figura 1 – Entrepreneurship Na palavra entrepreneurship, o sufixo ship, segundo o dicionário Webster, significa: Estado, condição. A Arte ou habilidade. C Cargo, profissão. B Em termos gerais, entrepreneurship pode ser traduzido como “empreendimento”, entendendo a prática de empreender como difícil, criativa e árdua e também referindo-se ao resultado dessa prática. Em complemento, Maximiano (2006, p. 1) traduz o termo latino empreendere ou a sua derivação entrepreneur como aquele indivíduo que “realiza tarefa difícil e laboriosa” ou a “coloca em execução”. É curioso observar que, embora o termo “empreendedorismo” venha sendo utilizado no Brasil desde o final da década de 1990, não se encontram registros dessa palavra nos dicionários de português lançados antes de 2010. Esse fato mostra que o empreendedorismo é uma atividade recente no país, embora se perceba que, a cada ano, mais e mais profissionais estejam envolvidos com ele (RODRIGUES, 2008, p. 1). 2 Contextualização histórica A evolução do termo “empreendedor” ao longo da história pode ser compreendida por meio dos apontamentos em relatos e estudos que objetivavam entender esse ator no processo de criação de novos negócios e desenvolvimento econômico. Senac São Paulo – Todosos Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 5 Os primeiros relatos de noções primitivas do empreendedor aparecem após o desenvolvimento do capitalismo. Nessa conjuntura econômica, surgia a figura dos negociantes, que eram intermediários comerciais responsáveis pelas transações entre os fabricantes de mercadorias e os compradores, recebendo parcela de lucro sobre a venda/troca dos produtos. Nesta noção primitiva, os empreendedores apareciam relacionados a atividades comerciais, e já se percebe transversalmente na sua atuação a visão de risco e a visualização da oportunidade de ganhos, aspectos presentes nas teorias mais atuais que caracterizam o empreendedor. O intermediário dessa época era caracterizado por vislumbrar uma oportunidade ao adquirir um produto. Mesmo incorrendo no risco de não efetivar a venda por não encontrar comprador e, assim, perder a mercadoria, realizava a transação, pois acreditava estar diante de uma oportunidade concreta, tendo alta expectativa da venda, o que o qualficava como um empreendedor. Como exemplo de um intermediário da época, Degen (2009, p. 7) aponta Marco Polo, comerciante e explorador de Veneza, que viveu aproximadamente entre 1254 e 1354 e estabeleceu rotas terrestres de comércio com o Oriente, trazendo e levando mercadorias para revender. Figura 2 – Marco Polo Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 6 Marco Polo desenvolvia novos mercados estabelecendo contratos com comerciantes locais e assumia o risco da operação, pois intempéries podiam ocorrer nas viagens, causando a perda de barcos, suprimentos ou, inclusive, mercadorias, mas a sua atividade era financiada pelos contratantes (precursores dos capitalistas de risco da atualidade). Degen (2009, p. 7) aponta que esses contratos firmados à época previam pagamento de juros em torno de 22% sobre o capital investido. Estima-se que, ao final do período no qual o empreendedor realizou suas viagens, o retorno médio dos investidores chegou a 75%, ficando Marco Polo com apenas 25%. O início dos estudos acerca da atividade empreendedora propriamente dita teve grande participação dos economistas, movidos pelo desejo de encontrar explicações para o crescimento econômico e a formação de riqueza. Destacam-se as teorias de Richard Cantillon, Jean-Baptiste Say e Joseph Schumpeter. Influenciados por suas áreas de formação e suas perspectivas de mundo voltadas ao desenvolvimento econômico, apresentam posições convergentes sobre a figura do empreendedor e, já àquela época, chamavam a atenção para esses indivíduos que marcaram positivamente suas épocas. Maximiano (2012, p. 2-3) ressalta que, dentre os economistas que se dedicaram ao estudo do empreendedorismo, os principais foram Cantillon, Say e Schumpeter, com destaque para Cantillon, um dos primeiros a observar a prática de criação de negócios no século XVIII, por volta de 1755. O economista é considerado por muitos o criador do termo “empreendedor” como se conhece na atualidade. Cantillon descrevia o empreendedor como o indivíduo que comprava insumos ou matérias- primas por um preço certo, processava-os e vendia-os a outra pessoa por um preço incerto, que cobria despesas e ainda garantia um ganho. Essa definição entende o empreendedor como um capitalista – visto que ele aproveitava a oportunidade, assumindo o risco da incerteza a fim de obter lucro – e ainda carrega a ideia de que ele é um intermediário de negócios. O empreendedor, dizia o economista francês Jean-Baptiste Say por volta de 1800, transfere recursos econômicos de um setor de produtividade mais baixa para um setor de produtividade mais elevada e de maior rendimento. Porém, a definição de Say não nos diz quem é esse empreendedor. Em 1942, o economista Joseph Schumpeter consolida seus estudos no tema e estabelece seu conceito de empreendedor, incluindo aqueles que inovam, e não somente criam invenções; que introduzem, além de novos produtos, novos meios de produção e novas formas de organização. Essa visão de descontinuidade dos processos era chamada pelo autor de “destruição criativa”, acrescentando-se ao processo empreendedor sua visão do desenvolvimento econômico, pois esses empreendedores traziam o progresso e o contínuo aprimoramento do padrão de vida da sociedade (DEGEN, 2009, p. 2-3). Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 7 A destruição criativa representa a descontinuidade de um padrão social, a exemplo da caneta-tinteiro, que foi substituída pela caneta esferográfica, revolucionando a forma de os indivíduos escreverem. Para Schumpeter, o verdadeiro sentido de desenvolvimento econômico era o rompimento do equilíbrio circular da renda na economia, acionando e colocando em marcha o motor da economia por meio da criatividade, como apontado por Degen (1989). O desenvolvimento não estava relacionado às mudanças que vinham de dentro desse fluxo, mas às que eram impostas de forma revolucionária, trazidas por modificações espontâneas e descontínuas nos processos produtivos. Tendo em vista que a sociedade se modifica, modificam-se também seus hábitos, costumes e desejos. Os bens e as tecnologias precisam ser adaptados às novas necessidades dos usuários. Surge, então, no mercado, espaço para novas oportunidades serem descobertas e exploradas, gerando novos produtos e novos serviços. Você acredita que é a sociedade que forma o empreendedor, demandando inovações, ou é o próprio empreendedor que vem criando essas rupturas econômicas? Schumpeter, em seu livro Capitalismo, socialismo e democracia (1942), trata da destruição criativa, trazendo uma noção de inovação muito difundida na nossa sociedade atual. Como já verificado por esse autor, a inovação provocava rupturas que geravam novas oportunidades de crescimento econômico a uma nação, além do bem-estar social. A destruição criativa promoveria a forma de levar os bens desejados em quantidades e preços acessíveis (DEGEN, 1989). Grandes foram as contribuições dos estudos econômicos sobre o empreendedorismo, porém, em virtude da complexidade desse fenômeno, a abordagem econômica isoladamente não foi suficiente para a compreensão do tema. Ainda mais porque a sociedade estava mudando, assim como seu foco estava saindo dos fatores produtivos e buscando a compreensão do fator humano por trás desses sistemas. Assim, os estudos sobre o tema avançam mediados por outras abordagens, que auxiliam no melhor entendimento sobre o assunto, enxergando o empreendedor por uma perspectiva psicológica, principalmente no que tange ao comportamento desse indivíduo. Neste âmbito, surgem os conceitos e as análises que tratam das características do comportamento empreendedor, que estudaremos nas aulas a seguir. Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 8 3 Definições segundo diferentes autores Segundo Maximiano (2006, p. 57), o termo “empreendedorismo”, derivado da palavra entrepreneurship, é utilizado para “designar o comportamento do empreendedor”, caracterizado pela ação de iniciar um novo negócio. Já Sampaio (2014, p. 57) afirma que o empreendedorismo é caracterizado pela ação do indivíduo com disposição ou iniciativa de começar algo novo ou transformar projetos já existentes. A autora complementa que os empreendedores “[...] são pessoas com propensão e habilidade para criar, renovar, modificar e conduzir projetos inovadores”. Outra definição é a utilizada pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM) (2013, p. 87), que conceitua empreendedorismo como: [...] qualquer tentativa de criação de um novo negócio ou novo empreendimento, como, por exemplo: uma atividade autônoma, uma nova empresa ou a expansão de um empreendimento existente. Em qualquer das situações a iniciativa pode ser de um indivíduo, grupos de indivíduos ou por empresas já estabelecidas. O Sebrae (2008) entende que empreendedorismoé a ação de criar e também gerenciar um negócio, responsabilizando-se pelos riscos e visando ao lucro. O Senac enxerga o empreendedorismo de uma forma abrangente, incluindo todos os tipos de empreendedores. O empreendedorismo seria um caminho ou um modo de pensar e agir considerando as oportunidades e utilizando a criatividade e a inovação a fim de gerar valor coletivo e individual. Esta disciplina segue a abordagem defendida por Schumpeter (2000) e Drucker (1986) e define que aquele que empreende é, na verdade, um visionário que age, pois tem iniciativa, identifica oportunidades e propõe soluções inovadoras; portanto, não se limita ao ato de começar um negócio próprio, mas vai além disso. E esse comportamento de empreendedor existe nas mais diversas áreas, cargos e momentos da vida. 4 O empreendedorismo social O empreendedorismo pode se dar em distintos âmbitos da sociedade e com propósitos diferenciados, como o empreendedorismo convencional, tradicional ou serial. Este último termo foi introduzido por Arantes e Halicki (2014, p. 36 e 85), os quais destacam que a criação de novos negócios tem o objetivo de explorar alguma atividade visando ao retorno financeiro para os sócios, por vislumbrarem uma oportunidade de mercado. Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 9 Outro âmbito em que o empreendedorismo pode atuar é o da esfera social, fazendo surgir o empreendedorismo social com suas variações terminológicas, como empreendedorismo sustentável, empreendedorismo de negócios sociais e empreendedorismo de impacto (NAKAGAWA, 2013). Essa dimensão empreendedora configura-se como uma forma do processo criativo, sendo diferenciada pelo objeto-fim desse novo negócio, que é a transformação social (promovendo o bem-estar da população) ou ambiental (afetando o coletivo). Figura 3 – Criatividade O empreendedorismo social envolve uma motivação centrada no outro, focando o bem- estar social. Conforme Arantes e Halicki (2014) apontam, é promovido por indivíduos que têm como missão construir um mundo melhor. Assim, o empreendedorismo social está sempre relacionado a causas humanitárias, que almejam mudar o mundo. Os autores citados apontam o movimento crescente, nos Estados Unidos, de um tipo especial que caracteriza o empreendedorismo social, que é o empreendedor que cria uma benefit corporation, também chamada de B corporation. Estas são empresas que desenvolvem atividades privadas para benefício dos empreendedores ou acionistas, mas que paralelamente geram, por meio do seu negócio, benefício social e, por isso, recebem incentivos do governo. Nesse sentido, qualquer empreendedor pode criar um negócio de impacto não só para si, como para a sociedade e o meio ambiente, contribuindo para a sustentabilidade e ainda explorando uma atividade comercial, mas que nesse contexto gera como resultado melhorias sociais ou ambientais. Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 10 Pode-se citar um exemplo fictício de uma empresa de desenvolvimento de tecnologias de acessibilidade para pessoas surdas. Essa empresa explora uma atividade comercial, sendo remunerada pelos seus clientes e gerando resultados financeiros para os empreendedores. Do outro lado, esse segmento de clientes, pessoas surdas, carece de atenção do mercado, no sentido de que é necessário que sejam desenvolvidos produtos e serviços que lhe sejam destinados, e é composto de indivíduos com necessidades comuns a outros indivíduos da mesma idade e que, assim, comprariam tais soluções. Esse negócio seria positivo para ambos os lados do negócio, gerando a inclusão do público-alvo, que tem poder aquisitivo e quer fazer parte do mercado consumidor. Uma das primeiras organizações voltadas ao empreendedorismo social foi a Ashoka, organização mundial sem fins lucrativos que, inclusive, criou o termo “empreendedorismo social”. A Ashoka iniciou, em 1980, atividades inovadoras visando ao social, principalmente na Índia e no Brasil, dedicando-se também ao desenvolvimento de empreendedores sociais de impacto, ação que desempenha até hoje. Visite a nossa Midiateca para ter acesso ao site da empresa. Considerações finais Nesta aula você teve a oportunidade de conhecer mais sobre o tema empreende- dorismo, numa abordagem introdutória. Caracterizado como o processo de criação de empresas que promovem a ruptura de padrões sociais e de consumo, o empreendedorismo gera emprego e renda, o que, consequentemente, promove o crescimento da economia como um todo. O fenômeno do empreendedorismo foi estudado pela perspectiva econômica, que o entende como propulsor do crescimento econômico e desenvolvimento de uma região. Esses estudos tiveram como principais representantes Say, Cantillon e Schumpeter. Este último teórico contribuiu inserindo nesse contexto o fator inovação, compreendido como causador de rupturas no modelo de fazer ou oferecer produtos, modificando a sociedade por meio da quebra de padrões culturais e paradigmas. Nesta aula, você ainda teve a oportunidade de conhecer brevemente o empreende- dorismo social, que se volta para a criação de negócios destinados a resolver ou melhorar um problema social ou ambiental, motivada pela inquietação do empreendedor em transformar o mundo e o ambiente à sua volta. Em resumo, o empreendedorismo é uma ação sistêmica propiciada pelos negócios que vislumbram oportunidades de reconstruir e inovar, levando um novo produto ou serviço ao mercado. Esses negócios, criados pelo empreendedor, podem ter o objetivo de causar um impacto social, buscando a melhoria de um problema social ou ambiental. Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 11 Esperamos que este texto tenha inspirado você a conhecer mais sobre empreendedorismo, inovação e oportunidades da economia criativa. Convidamos você a continuar nesta jornada empreendedora! Referências ARANTES, E. C.; HALICKI, Z. (org.). Empreendedorismo e realidade social. Curitiba: Intersaberes, 2014. DEGEN, Ronald J. O empreendedor: empreender como opção de carreira. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. DEGEN, Ronald J. O empreendedor: fundamentos da iniciativa empresarial. São Paulo: Makron Books, 1989. DRUCKER, Peter F. Inovação e espírito empreendedor: prática e princípios. São Paulo: Thomson Pioneira, 1986. GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR (GEM). Empreendedorismo no Brasil: Relatório Executivo. [s. l.]: IBQP; Sebrae; FGV, 2014. Disponível em: http://www.sebrae.com.br/Sebrae/ Portal%20Sebrae/Estudos%20e%20Pesquisas/gem%202014_relat%C3%B3rio%20executivo. pdf. Acesso em: 21 out. 2016. MAXIMIANO, Antonio C. A. Administração para empreendedores: fundamentos da criação e da gestão de novos negócios. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. MAXIMIANO, Antonio C. A. Empreendedorismo. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. NAKAGAWA, M. H. Empreendedorismo: elabore seu plano de negócio e faça a diferença. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2013. RODRIGUES, F. Empreendedorismo em amplo debate. O Globo, 23 mar. 2008. Caderno Boa Chance. SAMPAIO, M. Atitude empreendedora: descubra com Alice seu País das Maravilhas. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2014. SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (SEBRAE). O que é empreendedorismo? 2008. Disponível em: http://www.mundosebrae.com.br/2008/11/o-que-e- empreendedorismo. Acesso em: 2 fev. 2015. Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa Aula 02 Perfil e comportamento empreendedor Objetivos Específicos • Entender o comportamento do empreendedor, proporcionando a autoavaliação do aluno. Temas Introdução 1 Definições 2 Perfil empreendedor 3 Comportamento empreendedor 4 Avalie seu perfil Considerações finais Referências Nelson Nogueira Professor Autor Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 2 Introdução A literaturasobre perfil e comportamento empreendedor é muito vasta e cresce a cada dia. É claro que nem toda ela vem do campo da administração, mas também de outros campos, como os da psicologia, sociologia e antropologia. Algumas empresas, buscando melhorar sua competitividade, depositam em seus funcionários a esperança de que vão além de suas obrigações e responsabilidades do dia a dia e promovam grandes mudanças nos seus negócios. Elas querem novas ideias e novas soluções. Só assim conseguirão capturar as oportunidades do mercado. Por outro lado, identificam nesses colaboradores características comuns a pessoas que abandonam suas carreiras para perseguir o sonho de possuir um negócio próprio: criatividade, dinamismo, automotivação, energia, persistência, capacidade de estabelecer bons relacionamentos, articulações, inteligência, visão de futuro. Para os empreendedores, o futuro não é visto como uma continuação do passado, e sim como um desencadeamento de novidades, propostas pelo funcionário criativo, cheio de ideias, ou pelas pessoas que querem se aventurar a ter um negócio. Esta será a trajetória de nossa aula: vamos analisar conceitos importantes relacionados ao perfil do empreendedor sob a ótica de grandes autores; realizar uma comparação conceitual entre eles; observar o desenvolvimento do comportamento do empreendedor; dar algumas dicas de como se tornar um empreendedor; e, por fim, apresentar uma lista de pessoas consideradas empreendedoras ao longo de décadas. Há também, no final de nossa aula, o direcionamento para um teste para medir seu potencial empreendedor. Ele serve apenas para a sua reflexão e não deve ser encarado como algo definitivo. É importante analisar a importância desse potencial para a sua carreira e para seu negócio e pensar nas formas de melhorá-lo! 1 Definições Tendo em vista que o foco de nossa aula não é uma revisão profunda dos conceitos de perfil e comportamento dos indivíduos fora do contexto das empresas, do trabalho e do negócio, e sim no contexto do empreendedorismo, as definições adotadas para comportamento e perfil seguem as linhas organizacionais de Siqueira (2002). A todo momento lidamos com pessoas, seja no trabalho, na escola, na família, na sociedade como um todo. O perfil comportamental de cada uma é único, cada pessoa é diferente da outra. Todos nós temos cultura, personalidade e criação distintas. Esses perfis são importantes para a escolha de uma carreira, dos negócios, do trabalho, dos parceiros e sócios. Conhecê-los é essencial para sabermos quem e como somos: o porquê de nossos hábitos e atitudes e do modo como agimos. Já o conceito de comportamento Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 3 reflete a maneira de reagir, portar-se perante os estímulos externos – essas reações podem ser conscientes e inconscientes. Para Sampaio (2014, p. 33), é importante “[...] ter consciência de que existe comportamento espontâneo, ele é sempre uma ação deliberada, a escolha de uma maneira de agir diante de um desafio; outro aspecto é em que momento tomar uma decisão de mudar algo, já que o empreendedorismo sugere mudanças”. Blaug (2000 apud NAKAGAWA, 2013) comenta que Schumpeter descobriu um papel crítico dos empreendedores para o desenvolvimento econômico e social, que chamou de “destruição criativa”. O empreendedor criava algo novo que substituía (destruía) a concepção antiga. Simplificadamente, o empreendedor, no seu entendimento, era um inovador. E, ao inovar, pensava em novas e melhores soluções para os problemas da sociedade, o que era fundamental para o desenvolvimento econômico e social. Em linhas gerais, Schumpeter acreditava que sem empreendedores não havia desenvolvimento, pois tudo ficava do mesmo jeito. De posse desses conceitos de Schumpeter (2000), podemos afirmar que o empreendedor é aquele que introduz um novo bem, que pode ser um produto ou serviço – um exemplo marcante no âmbito de produtos é a Apple (que foi comandada por Steve Jobs) e, no âmbito de serviços, o Facebook (comandado por Mark Zuckerberg) – ou aquele que introduz um novo método de produção ou prestação de serviços – como Henry Ford, com sua inovadora linha de montagem que passou a ser utilizada pelo Mc Donald’s, e os pet shops delivery de uma forma geral, respectivamente. Uma outra maneira muito difundida de empreender é criando um novo mercado, gerando novos hábitos e incorporando o produto no dia a dia das pessoas. Figura 1 – Empreendedores e um novo mercado Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 4 Também é possível criar novas formas de fornecimento, como a Dell computadores, que realiza vendas diretas personalizadas, as quais possibilitam ao cliente montar seu computador do seu jeito. Outro exemplo são os chefs que vão até a casa dos clientes transformar sua cozinha em um espaço gourmet sofisticado. Finalmente, ainda dentro dos conceitos de Schumpeter, também são considerados empreendedores os novos tipos de empresas, com estruturas1 para propiciar atividades inovadoras, que se adaptam às exigências de determinados ambientes com flexibilidade e velocidade. Pense, por exemplo, nas organizações que trabalham com horários flexíveis e home office,2 dispondo de estruturas em rede que permitem que todos estejam conectados à empresa de qualquer lugar do mundo. Figura 2 – Olhando para o futuro No livro de Birley e Muzyka (apud NAKAGAWA, 2013, p. 41), encontramos esta definição: Empreendedor é a pessoa que pensa e age sobre oportunidades com criatividade e inovação para gerar valor individual e coletivo. Empreendedor não é apenas aquele que começa o seu próprio negócio. O comportamento empreendedor existe em todos os setores, em todos os níveis de carreira, em todos os momentos da vida. Outro autor que ajuda a consolidar o termo “empreendedor” é Drucker (1986, p. 20): O casal que abre uma confeitaria, ou mais, um restaurante de comida mexicana no subúrbio americano, certamente estará assumindo riscos. Mas será que eles são 1 Entenda-se a estrutura como o formato do organograma de uma empresa, suas interações internas e os recursos utilizados para um bom funcionamento. 2 Home office – nada mais é do que trabalhar de casa. As atividades podem ser executadas on-line, com o funcionário conectado à empresa. Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 5 empreendedores? Tudo que fazem já foi feito muitas vezes antes. Eles apostam na popularidade crescente de se comer fora, na vizinhança. E as pessoas que têm empresas que não inovam ou empreendem, o que são? Se usarmos os conceitos de Drucker, são apenas donas de um negócio, proprietárias ou empresárias. Normalmente, atuamos em empresas públicas ou privadas, de pequeno, médio ou grande porte, nos mais diferentes níveis e cargos, onde a rotina e a burocracia imperam. Entretanto, no contexto atual turbulento, com concorrência predatória e um mercado cheio de incertezas, temos apenas uma saída para sermos sustentáveis ao longo dos anos: buscar funcionários empreendedores, tornar a empresa empreendedora e, com isso, obter maior competitividade. Ao mesmo tempo, várias pessoas empreendedoras estão buscando a carreira solo, realizando o sonho de ser “dono” do próprio negócio e agindo para isso. Será que empreender seria uma saída para a falta de emprego? Você verá a seguir que pessoas com perfil e comportamento empreendedor têm oportunidade de trabalho em diferentes áreas e carreiras. 2 Perfil empreendedor Para Schermerhorn, Hunt e Osborn (1999), quando falamos de perfil empreendedor estamos nos referindo ao conjunto de características de uma pessoa, que pode ser influenciado por suas crenças e valores e está diretamente ligado com sua personalidade e predisposição para reagir de determinada maneira. A sociedade, de uma forma geral, acreditava que os empreendedores recebiam umaherança genética, nasciam prontos. Entretanto, principalmente pelos estudos e trabalhos acadêmicos de Filion (1991) e Drucker (1986), começaram a ser levantadas evidências que confirmavam que, se tivéssemos um sistema adequado de aprendizagem e envolvimento, poderíamos transformar qualquer pessoa em um empreendedor. De acordo com esse contexto, o que existe são famílias mais empreendedoras que outras, empresas mais empreendedoras que outras, cidades e regiões mais empreendedoras que outras: essa lógica vale para o mundo todo! Veja o exemplo do conhecido Vale do Silício e do que os sociólogos Rogers e Larsen (1984) chamam de “febre do Vale do Silício”. Atribui-se à presença da Universidade de Stanford, aos processos facilitados pelos governantes, aos fundos de investimentos propiciados pelos Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 6 bancos, à valorização da propriedade intelectual e às leis que a protegem3 o fato de as pessoas que residem por lá, mais cedo ou mais tarde, quererem ter um negócio. Esse exemplo ratifica o conceito desenvolvido por Filion (1991, p. 18) segundo o qual “[...] um empreendedor é uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões; com isso podemos ter como hipótese que o empreendedor é um ser social, produto do meio em que vive. Se este ambiente valoriza o empreendedor, então este terá motivação para criar um negócio”. Filion (1991 apud DONABELA, 2006, p. 36) afirma que o empreendedor tem um modelo a seguir, alguém que ele admira e imita. O meio no qual está inserido exerce grande influência sobre sua conduta. Tal influência se divide em diferentes níveis: • Nível primário: família e conhecidos representativos são a maior fonte de inspiração e, consequentemente, de geração de empreendedores. • Nível secundário: outra fonte de inspiração são os amigos, as redes sociais, a participação em clubes e associações. Aqui podem ser incluídas também a participação em comunidades, como igrejas e clubes de escoteiros. • Nível terciário: a última fonte de inspiração são os meios educacionais e de aprendizagem, como cursos, livros, viagens, feiras, simpósios e congressos, principalmente ligados às áreas de interesse. De volta ao perfil dos empreendedores, vamos comparar as características e competências citadas por alguns autores: • TIMMONS e SPINELLI (2007): comprometimento e determinação; orientação para a oportunidade; motivação para superar-se; criatividade, autoconfiança e adaptabilidade; e liderança. • KURATKO e HODGETTS (2004): comprometimento, determinação e perseverança; foco em resultados; orientação para oportunidades; iniciativa e responsabilidade; capacidade de resolução de problemas; capacidade de rápido aprendizado; controle, equilíbrio interno; tolerância à ambiguidade (riscos e incertezas); percepção de riscos; integridade e responsabilidade; tolerância a falhas; motivação; criatividade e inovação; visionário; autoconfiança e otimismo; independência e desenvolvimento de equipes. • DONABELA (2006): comprometimento e persistência; orientação para resultados; identificação de oportunidades; iniciativa; resolução de problemas; gestão de riscos e incertezas; ética e responsabilidade social; criatividade e inovação; trabalho em equipe; liderança; comunicação; negociação; autoavaliação e crescimento pessoal. Vamos listar as características e competências que são comuns à visão dos diferentes autores: 3 As patentes dão o direito de propriedade sobre uma invenção e garantem a proteção intelectual. Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 7 Quadro 1 – Características e competências comuns à visão dos diferentes autores TIMMONS e SPINELLI (2007) KURATKO e HODGETTS (2004) DONABELA (2006) • Comprometimento, determinação e perseverança. • Foco em resultados. • Orientação a oportunidades. • Iniciativa. • Resolução de problemas. • Tolerância ao risco e a incertezas. • Ética e responsabilidade social. • Criatividade, inovação. • Desenvolvimento de equipes. • Liderança. Veja o anúncio exibido no site da Unilever recrutando trainees para 2014: A Unilever procura por pessoas que tenham paixão em gerar novas ideias, disposição para enfrentar desafios grandes, inclusive fora de seu território geográfico e habilidade para superar pressões e adversidades com otimismo. Os êxitos acadêmicos são importantes, mas o candidato também precisará demonstrar outros aspectos como pensamento criativo e analítico, liderança, capacidade de trabalho em equipe e, acima de tudo, paixão por desafio. (UNILEVER, [s. d.]) Se compararmos as características e competências estudadas e a descrição da vaga para trainee da Unilever, perceberemos que grandes empresas estão buscando, além da formação acadêmica, características pessoais específicas que possam agregar talento criativo e postura empreendedora ao seu corpo funcional, visando tornar-se cada vez mais inovadoras e, consequentemente, extremamente competitivas. 3 Comportamento empreendedor O comportamento empreendedor é um conjunto de ações e reações com certo dinamismo que são motivadas ou surgem como resultado de crenças e valores (perfil empreendedor) criando sentimentos (atitude empreendedora) que influenciam a busca por um resultado pretendido (comportamento empreendedor). Tudo começa porque alguém inquieto em relação a algo (por exemplo, desejando mudar algo na empresa em que trabalha) coloca a criatividade em ação, altera a trajetória das coisas. O processo não se dá de forma automática. Precisa-se de um agente que o inicie. Se a pessoa tiver uma inquietação ligada a um sonho de buscar algo diferente para si própria, pensará em abrir um negócio, associar-se com alguém, fazendo articulações um pouco mais abrangentes. Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 8 Mas existe um caminho para sair da intangibilidade4 e caminhar para a tangibilidade.5 Veja o quadro 2: Quadro 2 – Tangibilidade × captura de valor Tangibilidade Comportamento Atitude Plano Oportunidades Sonho Captura de valor6 Fonte: adaptado de Nakagawa, Bouer e Paiva (2006). Entendendo o quadro 2: o empreendedor tem uma visão, um sonho de como poderia ser algo no futuro, do que poderia mudar no destino e, o mais importante: tem a habilidade de associar a oportunidade a essa visão. Ele mentaliza, articula seus saberes, vai na direção das oportunidades e rabisca um plano; em determinado momento, teoriza esse plano com os possíveis parceiros, identificando os obstáculos que poderiam surgir pelo caminho, preocupando-se com o ambiente externo e, principalmente, com os clientes ou com outros públicos a quem este “algo” se destina. Nesse momento, os sentimentos do empreendedor estão canalizados, estão totalmente dedicados à sua missão: ele ama o que está fazendo, é detalhista e crítico. Podemos comparar este momento com um hobby que temos. Quando o estamos praticando, o tempo passa rápido, gostamos do que fazemos, os detalhes surgem, há uma imersão, a busca da perfeição é inerente. Então, à medida que o processo progride, o sonho vai se tangibilizando, e as atitudes empreendedoras direcionam o indivíduo rumo ao comportamento empreendedor. É comum que nessa fase o empreendedor passe horas e dias aperfeiçoando os detalhes, testando a ideia com familiares e amigos. Muitas vezes, a parte financeira não é a motivação principal do empreendedor. Ela é apenas uma medida de sucesso. 4 Intangibilidade – característica dos ativos não monetários, sem substância física, como o conhecimento. 5 Tangibilidade – característica de ativos palpáveis, como bens ou mercadorias. 6 Captura de valor – ocorre quando articulamos nossos saberes para oferecer benefícios a outrem. Também podemos dizer “agregar valor”. Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 9 A cada etapa desse processo, o resultadovai ficando mais concreto e mensurável. A captura de valor é mais fácil de ser percebida, o que deixa o empreendedor cada vez mais motivado. É importante esclarecer que o valor tanto pode ser a resposta a uma oportunidade (oferta de produto ou serviço para um cliente) ou a entrega de um resultado ou meta esperada (se o empreendedor for funcionário de uma empresa). O processo descrito está muito bem ilustrado no filme O céu de outubro (1999), que conta a história verídica de quatro garotos que decidem construir modelos de foguetes em 1957, mesmo ano de lançamento do satélite soviético Sputnik. Os temas trabalhados até aqui podem ser claramente identificados na história e nos personagens, que, depois de muitas dificuldades e lançamentos fracassados, finalmente conseguem fazer os modelos experimentais funcionarem. Pensando em empreendedores brasileiros, podemos listar alguns exemplos, com suas ideias ousadas que transformaram sonhos em grandes negócios. Eles acreditaram que estavam resolvendo algum problema, que sua empresa ia crescer e gerar empregos e misturaram paixão com razão. Os sete exemplos de empreendedores escolhidos são: • Acredite em você, sempre! – Robinson Shiba (China in Box). • As conexões que movem a vida – Marcelo Sales (21212.com). • A fórmula da autoestima – Zica e Leila Velez (Beleza Natural). • A loja de brinquedos que vende felicidade – Ricardo Sayon (Ri Happy). • Acredite no impossível – Romero Rodrigues (Buscapé). • Uma história de empreendedorismo – Alexandre Costa (Cacau Show). • Do caixa da loja à bolsa de valores – Luiza Trajano (Magazine Luiza). Quer saber mais sobre as histórias de empreendedores brasileiros de sucesso? Visite a Midiateca da disciplina para ter acesso ao site da Endeavor. Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 10 Pense no seu hobby ou naquilo que gosta de fazer: você vai atrás de informações, lê tudo a respeito, participa de encontros, competições, dorme pensando naquilo. É fácil se sobressair, inovar, criar a partir do que aprendeu. Seus amigos te elogiam e querem comprar o que você faz, mesmo que não seja essa a sua intenção. Por que não colocar no papel o que gosta de fazer e já começar a pensar no assunto? Agora, estudaremos o posicionamento brasileiro quanto ao empreendedorismo, segundo o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP) (2013); o posicionamento dos jovens brasileiros quanto ao empreendedorismo, segundo a Cia de Talentos (2015); e a busca de profissionais empreendedores pelas empresas brasileiras, segundo Costa e Avediani (2009). Caso você queira saber mais sobre os empreendedores brasileiros, visite a Midiateca da disciplina para ter acesso ao link da revista Exame com a matéria “Os 20 maiores empreendedores do Brasil”. De acordo com o IBQP (2013), os brasileiros se posicionam quanto ao empreendedorismo da seguinte forma: • 43,5% sonham em ter o próprio negócio, e só 24,7% almejam seguir carreira como empregado em uma empresa. • 30,2% da população adulta, entre 18 e 64 anos, estava envolvida na criação ou admi- nistração de um negócio. Em 2002, esse índice era de 20,9% da população brasileira. • 88% dos brasileiros adultos concordam que o empreendedorismo é uma boa opção de carreira. • 70% dos empreendedores brasileiros abrem um negócio por oportunidade. Em 2002, menos da metade (42,4%) abriam o negócio em função de oportunidade. • 49,6% dos que iniciam a carreira empresarial são do sexo feminino. Já segundo a Cia de Talentos (2015), o posicionamento dos jovens brasileiros quanto ao empreendedorismo apresenta-se assim: • 46% disseram que em algum momento de sua carreira abrirão um negócio próprio, na pesquisa Empresas dos Sonhos dos Jovens 2015. • As três primeiras “empresas dos sonhos” em que esses jovens querem trabalhar são, na ordem: Google, Petrobras e Odebrecht. Ter um negócio próprio ocupa a quarta posição nesse ranking. Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 11 Quanto à busca de profissionais empreendedores pelas empresas brasileiras, Costa e Avediani (2009) fazem as seguintes considerações: • Esses profissionais têm habilidade de dar vida aos próprios projetos, tirando-os do papel e transformando-os em novos produtos, processos ou serviços, atualmente uma das qualidades mais valorizadas pelo mercado. • As empresas querem, mais do que nunca, saber que funcionários, em todos os níveis, têm a veia empreendedora à flor da pele. Esse movimento é também percebido nas organizações mais tradicionais. • “A busca por profissionais com esse perfil tem sido uma constante, dos estagiários aos executivos”, diz Sofia Esteves, sócia-diretora do Grupo DMRH, consultoria que atende clientes como Unilever, Nivea, Whirlpool, Siemens e Natura. Se você quiser saber mais sobre o empreendedorismo no mundo, visite a Midiateca da disciplina e acesse o site do Global Entrepreneurship Monitor; para saber a respeito das empresas brasileiras, acesse o site do Serviço Brasileiro de apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). 4 Avalie seu perfil Você está curioso para saber como é seu perfil em relação a empreender e ao empreendedorismo? Para isso, existem vários testes no mercado. Esses testes se originaram em levantamentos feitos junto a empreendedores considerando o que eles têm em comum, os quais depois foram transformados em critérios e questões para serem respondidas por pessoas interessadas. Visite a Midiateca da disciplina para conhecer algumas opções de teste on-line, com resultados em tempo real. Aproveite para acessar os testes elaborados pelo Sebrae e pela revista Você S/A. Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 12 Considerações finais Nesta aula apresentamos elementos conceituais e metodológicos para uma análise do perfil e do comportamento do empreendedor na visão de alguns autores referência neste assunto. Os pontos mais discutidos pelo mercado ainda hoje são os apresentados por Filion (1991): o empreendedor nasce pronto ou um indivíduo pode ser preparado para empreender? Como vimos, principalmente apoiados por Drucker (1986), o empreendedorismo não é uma ciência, tampouco uma arte – é uma disciplina. Então, pode ser ensinado. As empresas deste milênio sabem que, para sobreviver, vão ter que evoluir sempre, adotando uma postura inovadora. Como vimos no caso da Unilever e seus trainees, não existem produtos e serviços inovadores sem funcionários criativos e de comportamento empreendedor. Por isso, mesmo que você decida ser funcionário de uma empresa, agir como dono do negócio é um diferencial que é avaliado positivamente pelo seu empregador. Negócios, produtos e serviços de sucesso surgiram porque existiram, na sua concepção, pessoas determinadas e comprometidas, que conseguiram identificar uma oportunidade e buscaram, com soluções criativas e inovadoras, solucionar um problema do cliente potencial. Focadas em resultados, essas pessoas superaram riscos e incertezas, desenvolveram e lideraram equipes capazes de desenvolver e implantar empresas que entregaram produtos e serviços inovadores e de qualidade; geraram resultados financeiros; e tinham na ética e na responsabilidade social o alicerce de sua estrutura. Por fim, é difícil dissociar a imagem de um empresário bem-sucedido da de um empreendedor, qualquer que seja a área na qual ele atue. Se você realizou os testes de perfil empreendedor e o seu desempenho não foi tão bom quanto esperava, reflita sobre o seu resultado, identifique os pontos que precisam ser melhorados e trabalhe neles. Referências CIA DE TALENTOS. Empresa dos Sonhos dos Jovens 2012. Disponível em: http://www. ciadetalentos.com.br/esj/brasil.html. Acesso em: 10 set. 2015. COSTA, J. E.; AVEDIANI, R. Libere seu potencial empreendedor. Você S/A, p. 15-19, out. 2009. DRUCKER, P. Innovation and entrepreneurship. New York:HarperCollins, 1986. FILION, L. J. O planejamento do seu sistema de aprendizagem empresarial: identifique uma visão e avalie o seu sistema de relações. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, jul.-set. 1991. INSTITUTO BRASILEIRO DE QUALIDADE E PRODUTIVIDADE (IBQP). Empreendedorismo no Brasil: 2012. Curitiba: IBQP, 2013. Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 13 KURATKO, D.; HODGETTS, R. Entrepreneurship: theory, process and practice. 6. ed. USA: Harcourt College Publishers, 2004. NAKAGAWA, M. H. Faça diferente, faça a diferença. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2013. NAKAGAWA, M. H.; BOUER, G.; PAIVA, Pedro Paulo Borges Prata. Bottom-up: lessons from an entrepreneurship course turnaround. In: GLOBAL INTERNATIONALIZING EDUCATION AND TRAINING CONFERENCE, 16., 2006, São Paulo. Proceedings [...]. São Paulo, 2006. PESCE, B. A menina do vale: como o empreendedorismo pode mudar a sua vida. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2012. Disponível em: http://www.ameninadovale.com/AMeninadoVale- BelPesce.pdf. Acesso em: 17 set. 2015. ROGERS, E. M.; LARSEN, J. K. Silicon valley fever: growth of high-technology culture. New York: Basic Books, 1984. SCHERMERHORN, John; HUNT, James G.; OSBORN, Richard N. Fundamentos de comportamento organizacional. Porto Alegre: Bookman, 1999. SCHUMPETER, Joseph. Entrepreneurship as innovation In: SWEDBERG, Richard. Entrepreneurship: the social science view. Oxford: Oxford University Press, 2000. SEBRAE. O que é empreendedorismo? 4 nov. 2008. Disponível em: http://www.mundosebrae. com.br/2008/11/o-que-e-empreendedorismo. Acesso em: 2 dez. 2015. SIQUEIRA, M. M. M. Medidas do comportamento organizacional. Estudos de Psicologia, v. 7, (número especial), p. 11-18, 2002. UNILEVER. Programa de trainee da Unilever. [s. d.]. Disponível em: http://www.unilever.com. br/unilever-carreiras/graduates/uflp/index.aspx. Acesso em: 27 nov. 2015. http://www.unilever.com.br/unilever-carreiras/graduates/uflp/index.aspx http://www.unilever.com.br/unilever-carreiras/graduates/uflp/index.aspx Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa Aula 03 Os diferentes empreendedores Objetivos Específicos • Apresentar os principais tipos de empreendedores e a relação com as diversas carreiras. Temas Introdução 1 O empreendedor por necessidade 2 O empreendedor por oportunidade 3 O empreendedor social 4 O intraempreendedor 5 Empreendendo sua carreira Considerações finais Referências Nelson Nogueira Professor Autor Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 2 Introdução Ser um empreendedor, para Schumpeter (2000) e Drucker (2003), é ser uma pessoa visionária, que tem iniciativa e sabe apresentar propostas inovadoras que solucionam problemas de clientes potenciais. Por isso, empreender não significa necessariamente abrir seu próprio negócio. O comportamento empreendedor existe em todos os setores, em todos os níveis de carreira, em todos os momentos da vida. As pessoas não nascem empreendedoras, elas sofrem influência do ambiente externo e também se preparam ao longo da vida para ter atitudes e comportamentos que irão auxiliá-las a alcançar seus objetivos. As regras do jogo corporativo mudaram, e três ondas de mudanças sobrepõem- se, gerando um grande contexto de turbulência: a passagem de um regime de mercado vendedor para um mercado comprador, a globalização dos mercados e da produção e o advento da economia baseada em conhecimento. Esses fatores levam a novas formas de organizar as empresas, seja em termos de estratégia, de arranjos interempresariais, de gestão, seja em termos de quem deve, nesse novo desafio, trabalhar nesses novos formatos. Como resultado dessas transformações, temos: • Estruturas enxutas, células de trabalho multidepartamentais. • A função planejamento e desenvolvimento assumindo papel estratégico em termos de inovação de produtos e processo. • A função RH assumindo papel significativo para atrair, reter e desenvolver novos talentos. • A elevação do nível educacional do corpo de funcionários, mais comprometidos e com competências que agregam valor ao negócio. Diante desse cenário, as condições para permanecer no mercado ficaram mais difíceis, tanto para a empresa (que precisa absorver essas novas mudanças para não perder competitividade) como para o funcionário (que precisa desenvolver habilidades e conhecimentos para continuar trabalhando). Ser empreendedor é, sem dúvida, um diferencial para quem quer se inserir no mercado mesmo diante de tantos desafios. Cada tipo de empreendedor, tema desta aula, tem sua particularidade; o importante é notar que cada perfil constitui um modelo de profissional cobiçado e no qual muitos se inspiram. Vamos conhecê-los? Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 3 E agora, para onde vamos? Quais as suas expectativas em relação à sua carreira profissional? 1 O empreendedor por necessidade Segundo o Global Entrepreneurship Monitor (GEM) (2014), o Brasil continua sendo o primeiro país em empreendedores por necessidade, sendo normalmente o estopim a perda do emprego. Este desempregado, que na maioria das vezes não encontra opções de um novo trabalho para continuar o sustento de sua família, aventura-se a abrir seu próprio negócio. O problema é que este novo negócio nasce, na maioria das vezes, sem nenhum planejamento, inclusive de mão de obra, que passa a ser a da própria família. Em 2002, os relatórios do GEM mostravam que este era o tipo mais comum de empreendedorismo existente no Brasil – um tipo muito característico em países em desenvolvimento. Como, a priori, inexiste planejamento e inovação nesse modelo, este tipo de negócio tende a fechar ou não consegue ser lucrativo, acarretando dívidas e a falência dos seus sócios. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no período de 2010 a 2014, metade dessas empresas teve uma vida útil de apenas três anos. Fatores que contribuem para isso são a não atualização de seus dirigentes, a falta de inovações na busca de soluções para os clientes e o não entendimento das práticas dos concorrentes. “Quando não se consegue um emprego, você abre seu próprio negócio.” Walt Disney, em 1923, ao criar a Disney Brothers. Para Nakagawa (2013, p. 39), “[...] o exemplo comum de empreendedorismo por necessidade é aquele sujeito que não conseguiu um emprego e virou um vendedor ambulante, que escolheu balas e doces para vender, mas vislumbrou nessas balas e doces uma oportunidade de negócio”. Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 4 2 O empreendedor por oportunidade Collins e Moore (1970, p. 134) apresentaram um quadro fascinante do empreendedor por oportunidade, com base no estudo de 150 deles. Os autores acompanharam suas vidas desde a infância, através da educação formal e informal, até a criação de seus empreendimentos. O que emergiu foi um retrato de pessoas duras e pragmáticas, levadas desde a infância por poderosas necessidades de realização e independência. Em algum ponto de sua vida, cada um dos empreendedores enfrentou um rompimento e transformou seus dilemas na projeção de um negócio próprio. Em momentos de crise, eles não buscam uma situação de segurança. Eles mergulham na insegurança mais profunda e acreditam que podem obter altos ganhos em ambientes de incerteza. A motivação para o empreendedor por oportunidade é a falta de disposição para submeter-se à autoridade, a busca pela liberdade, pela independência, pela flexibilidade e pelo poder. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2005) afirmam que a estratégia do empreendedor por oportunidade é a busca ativa de novas oportunidades, os problemas são secundários. Como escreveu Drucker (1970, p. 10): “O espírito empreendedor requer que as poucas pessoas boas disponíveis sejam alocadas para oportunidadese não desperdiçadas na solução de problemas”. Além disso, segundo Stevenson e Gumpert (1985 apud MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2005), os empreendedores passam “rapidamente da identificação da oportunidade para a sua perseguição. Eles são como os camelôs com guarda-chuvas que surgem do nada [...]”. “Assim, suas ações tendem a ser ‘revolucionárias, visando ao curto prazo’, em comparação com as ações ‘evolucionárias’ dos administradores, ‘com longa duração’” (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2005). Palich e Ray Bagby (1995) também constataram que “[...] os empreendedores categorizavam cenários de forma muito mais positiva que outras pessoas, isto é, eles identificavam mais forças versus fraquezas, oportunidades versus ameaças e potencial para melhoria de desempenho versus deterioração”. A geração de estratégia na empresa empreendedora é caracterizada por grandes saltos para a frente diante da incerteza. Nesses ambientes, a estratégia move-se adiante pela tomada de grandes decisões – os “golpes ousados”. O executivo principal procura condições de incerteza pois acredita que dando esses tais “golpes ousados” sairá na frente dos concorrentes e obterá consideráveis ganhos. Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 5 “Em sua maioria, os jovens presidentes têm a necessidade de construir em vez de manipular. ‘A expansão é uma espécie de doença nossa’, disse um presidente. ‘Reconhecemos o fato’, disse outro. ‘Somos construtores de impérios. A tremenda compulsão e obsessão não é de ganhar dinheiro, mas construir um império’” (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2005, p. 106). Como as metas da organização são simplesmente a extensão daquelas do empreendedor, a meta dominante da organização que opera de modo empreendedor parece ser o crescimento, a mais tangível manifestação de realização. Bird (1992, p. 207) associou a personalidade do empreendedor à do deus Mercúrio. Vejamos a analogia: Seriam os empreendedores mercuriais? A essência do deus Mercúrio é a transição... de “flutuar livremente... delírio associativo... percepção instantânea... retrocessos e repetições retóricas e... ações secretas e roubo. Brainstorms, critérios, descobertas por sorte, intuições, o jogo dos sonhos... [são domínio de Mercúrio]” (STEIN, 1983, p. 52). Seu estilo é a ligação, simultânea ou instantânea, de lugares, pessoas e ideias. Através da sua atividade, partes conflitantes chegam ao acordo, recursos são trocados, transições ocorrem. Mercúrio também possui os atributos de ser astucioso, enganador, engenhoso e presente de forma súbita e mágica. É conhecido por sua desenvoltura, agilidade, esperteza sutil e, em seu papel como mensageiro, é articulado e importante para a condução dos negócios. Sua atitude é irônica e destituída de sentimentos. Atribuímos muitas dessas qualidades aos empreendedores. Nós os vemos como espíritos criativos, oportunistas, persuasivos e mais livres que o homem ou a mulher “organizacional”. Estudos empíricos têm constatado que muitos empreendedores possuem as características de Mercúrio, sendo indivíduos socialmente hábeis e autônomos com necessidades de afiliação, conformidade, ajuda e afeto interpessoal menores que a média. 2.1 Reflexões de um empreendedor Vamos agora analisar algumas reflexões de Branson (1986, p. 13-18) sobre o pensamento de muitos empreendedores. “O maior risco que qualquer um de nós pode assumir é investir dinheiro em um negócio que não conhece.” Este é um equívoco muito comum entre os pretendentes a empreendedores. Gerir um negócio de sucesso será mais fácil se o empreendedor conhecer profundamente todas as etapas do processo de produção do bem ou serviço que ele vende. Gostar de comer pizzas não qualifica o empreendedor a abrir uma pizzaria. Abrir uma pizzaria Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 6 significa ter um negócio, e não apenas fazer um produto. Para ter um negócio, é preciso administrar a área financeira, de compras, vendas, atendimento, pensar o desenvolvimento de um produto inovador, etc. “Não dependo dos outros para fazer levantamentos ou pesquisas de mercado ou para desenvolver grandes estratégias. Sou da opinião de que os riscos são reduzidos pelo meu próprio envolvimento nos detalhes do novo negócio.” Os detalhes são importantes, entretanto, o conhecimento do mercado em que se está inserido é fundamental para o sucesso; o conhecimento profundo de todos os aspectos do negócio serve como um guia para tomar decisões. “Sempre existe outro negócio.” Focar e insistir em determinado segmento de negócio limita suas ações e dificulta o processo de inovação. Verifique possibilidades de ampliar, modernizar o negócio ou, de repente, de atuar dentro do mesmo segmento com um foco diferente. Por exemplo: se você gosta de cozinhar, há várias oportunidades de negócio, como um restaurante, uma cozinha industrial, uma fábrica de congelados, etc. “À medida que as empresas crescem, cuidado para que a gerência não perca contato com o básico – normalmente o cliente.” Se focarmos no negócio, no produto ou serviço, podemos perder o cliente ou nos distanciar dele. Produtos e serviços são criados e aperfeiçoados a partir de dados que chegam da clientela, a maior fonte de informações para ajustarmos nosso negócio. “Nossa regra – ‘mantenha simples’ – possibilita a um número de gestores o desafio e a excitação de dirigir seus próprios negócios.” Simplicidade parece fácil, mas as pessoas complicam muito as coisas. Retire toda a burocracia, as operações repetitivas, a papelada, faça fluírem os processos; o cliente também não gosta de encontrar dificuldades, ele quer agilidade. “Siga a estratégia do ‘compre, não faça’.” Uma tendência do mercado é terceirizar ao máximo aquilo que não é sua especialidade. Você deve se concentrar naquilo que faz de melhor. Quando uma empresa decide fazer tudo, perde o foco e acaba não fazendo nada direito. Existem vários fornecedores que podem ajudar no negócio. “Depois de avaliar um investimento e tendo decidido fazê-lo, não hesite. Vá em frente!” São características do empreendedor: iniciativa, perseverança, determinação e coragem para correr riscos. Não fique parado. Se esperar muito, a oportunidade passa. Estima-se, segundo dados do GEM (2014, p. 6), que há, no Brasil, 45 milhões de empreendedores iniciais e estabelecidos entre 18 e 64 anos. Isso representa 34,5% da população brasileira nesta faixa etária, estimada em 130,7 milhões de indivíduos.1 1 Projeção da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNDA) para 2014. Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 7 Do total de empreendedores brasileiros, 70,6% tornaram-se por oportunidade. A razão entre oportunidade e necessidade alcançou 2,4. Isso indica que, para cada empreendedor que iniciou suas atividades por necessidade, 2,4 o fizeram por oportunidade. Vejamos um comparativo das características de um empreendedor iniciante e de um já estabelecido: De um lado, temos os empreendedores iniciais: em termos de atividade empreendedora inicial, homens e mulheres são igualmente ativos; indivíduos na faixa etária de 25 a 34 anos são mais ativos; indivíduos com primeiro grau incompleto e nível superior completo são igualmente ativos; indivíduos com escolaridade inferior ao primeiro grau incompleto são os menos ativos; indivíduos com renda familiar acima de três salários mínimos são os que apresentam maior atividade (GEM, 2014). Do outro lado, temos os empreendedores já estabelecidos: em termos de atividade empreendedora em estágio estabelecido, os homens são mais ativos do que as mulheres; indivíduos com escolaridade até o segundo grau incompleto são os mais ativos; indivíduos com escolaridade superior ao segundo grau completo são os que apresentam menor atividade; indivíduos com renda familiar acima de seis salários mínimos apresentam maior atividade.Percebeu as diferenças? Para conhecer o relatório completo sobre o empreendedorismo no Brasil, visite a Midiateca da disciplina. Em todos os segmentos ou áreas, temos exemplos de empreendedores. Alguns são conhecidos pelo público, através da mídia, em razão de seus serviços ou produtos inovadores. Há outros, porém, que não têm grande repercussão pública, mas desenvolvem um trabalho bastante interessante, que vale ser destacado. Seguem alguns exemplos: • Caio Maia, aos 36 anos, comanda uma rede de 130 pontos de venda, da rede Chili Beans. “Percebi que as pessoas usavam óculos, cada um ao seu estilo, e geralmente compravam de vendedores de praia, em quiosques, a um preço bem baixo. Foi quando senti que podia trazer o conceito para cá.” • Mesiara desenvolve o projeto Quadros Vivos. Criou técnicas de plantio vertical, com fibra de coco, com um sistema especial de impermeabilização e de irrigação. “Quando criei os quadros vivos, sabia que poderia vendê-los no mundo inteiro – todos querem ter plantas e não ter trabalho. Por ter nascido pobre e ter conhecido o outro lado da moeda, quero ajudar outras pessoas a romper com sua realidade.” (SAMPAIO, 2007) Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 8 3 O empreendedor social O conceito e o termo “empreendedorismo social” foram desenvolvidos por Bill Drayton, fundador da Ashoka,2 ao estudar indivíduos que combinam pragmatismo, compromisso, resultados e visão de futuro com a intenção de realizar profundas transformações sociais. Segundo Sampaio (2014), o empreendedor social é uma pessoa visionária, criativa, prática e pragmática, que sabe como ultrapassar obstáculos para criar mudanças sociais significativas e sistêmicas. Possui uma proposta verdadeiramente inovadora, já com resultados de impacto social positivo na região onde atua, e demonstra estratégias concretas para disseminação dessa ideia nacionalmente e/ou internacionalmente. O empreendedor social não tem a intenção de ajudar os mais sensíveis e vulneráveis em recursos com a doação de materiais e até dinheiro. Ele acredita que isso não resolve nada, é apenas uma ação de curto prazo. Como é visionário, aponta tendências e fornece soluções inovadoras para os problemas sociais e ambientais sob uma ótica diferenciada. Com isso, acelera o processo de mudanças e inspira outros atores a se engajarem em torno de uma causa comum. Para entender melhor, precisamos falar um pouco de negócios sociais. De acordo com o documento Métricas em negócios de impacto social (ICE-MOVE, 2013, p. 5), dois grandes conceitos levam à definição de negócios sociais, marcados por uma distinção da distribuição dos dividendos: Primeiro: de acordo com a proposta de Muhammad Yunnus, prêmio Nobel da Paz e fundador do Grameen Bank, iniciativa pioneira de investimentos dessa natureza, os negócios sociais devem gerar impacto para populações de baixa renda, e excedentes financeiros (dividendos) reinvestidos na organização, sem possibilidade de distribuição de lucros para os sócios. Segundo: outro segmento dos fundos de investimento de impacto defende que os dividendos podem ser remetidos para os responsáveis pela iniciativa. Entende-se que articular apenas uma definição para negócios sociais não se torna uma barreira para o desenvolvimento desse campo. Entretanto, é importante construir mecanismos capazes de informar o impacto social gerado. Conhecer a capacidade de um negócio gerar impacto social é aspecto determinante para a constituição de sua identidade. Para além das tradicionais categorias de análise de um portfólio de um fundo, que se centram no “retorno” e no “risco”, os negócios sociais incorporam uma terceira dimensão que exige atenção e apresentação de resultados: impacto. 2 A Ashoka é uma organização mundial sem fins lucrativos pioneira no campo da inovação social, trabalho e apoio aos empreendedores sociais – pessoas com ideias criativas e inovadoras capazes de provocar transformações com amplo impacto social. Saiba mais no link: http://brasil. ashoka.org/conceito. Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 9 Alguns exemplos de empreendedores sociais são: • Criadora do Projeto Recicla Jeans, que forma artesãos para a reciclagem de jeans. “São 40 artesãos da favela que, através da orientação de estilistas, redesenham, transformam, põem apliques e retrabalham roupas produzidas com jeans e resíduos têxteis, que a entidade recebe como doação de fabricantes, lojas e pessoas físicas.” • Rodrigo Baggio, fundador e diretor executivo do Comitê para Democratização da Informática. Iniciou uma campanha junto a empresas de computadores para criar escolas de informática em favelas. Após uma palestra em Seattle, Estados Unidos, conseguiu o apoio do pai de Bill Gates. Um dos seus lemas define suas ideias inovadoras: “É preciso diminuir o apartheid digital”. (SAMPAIO,2007) O empreendedor social, como pessoa ou empresa, não é uma instituição de caridade, uma ONG; o conceito é mais abrangente. Para entender melhor e se aprofundar na temática dos negócios sociais, existe o manual Métricas em negócios de impacto social. Para acessar o link, visite a Midiateca da disciplina. Um caso que repercutiu pelo mundo é de Muhammad Yunus, ganhador do prêmio Nobel da Paz em 2006. A esse respeito, sugerimos o vídeo Empresas sociais – Danone-Grameen, que narra uma história interessante. 4 O intraempreendedor Segundo o Instituto Brasileiro de Empreendedorismo (IBIE), “intraempreeendedores ou empreendedores corporativos são funcionários e/ou colaboradores que se comportam como empreendedores em benefício próprio e da empresa”. Nenhuma empresa ostenta alto desempenho perpétuo: a mesma empresa pode brilhar hoje e ser desastrosa amanhã; os setores se encontram em processo de constante recriação e expansão ao longo do tempo. Os trabalhos de Fleury e Plonski (2004) explicam o porquê da necessidade de um intraempreendedor. Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 10 Figura 1 – Evolução da competição Inovação Flexibilidade Rapidez Qualidade Custo Por que empresas apoiam o intraempreendedorismo? Ev ol uç ão d a co m pe tiç ão Fonte: adaptado de Fleury e Plonski (2004). A resposta pode ser percebida pela evolução da competição. Ainda há muitas empresas que competem por custo, com produtos baratos. Entretanto, sempre teremos aqueles mais baratos, como os dos concorrentes desleais que não pagam impostos ou que trazem produtos de outros países em que a mão de obra é duvidosa, sempre no sentido de baratear os custos. No segundo degrau, temos a qualidade. Podemos enxergar esta palavra sob vários pontos de vista, mas o mais importante é aquele expresso pelo cliente: qualidade não pode ser um diferencial, ela é obrigação. Se compro algo, quero que funcione e que as promessas do fabricante sejam cumpridas. O próprio mercado vai eliminando as empresas que não produzem qualidade; há uma seleção natural, ficam os bons. No terceiro degrau, temos a rapidez – empresas rápidas, com tecnologias de entrega de ponta. Nisso há uma limitação, pela própria logística e administração de materiais. Em prol da maior rapidez possível, os custos podem subir e ser repassados aos clientes. É preciso também tomar cuidado, pois a qualidade pode ser comprometida pela rapidez. No quarto degrau, temos a flexibilidade. Produtos personalizados, customizados para cada tipo de cliente, dificultam a administração da produção e dos estoques e o custeamento. Será que todos são lucrativos? E os tempos de fabricação, como ficam? Imagine-se fazendo um pedido na pizzaria: meia muçarela com massa fina e meia portuguesa com massa grossa, além de borda de catupiry apenas na metade portuguesa! Será que as empresas podem oferecer tamanha flexibilidade em seus produtos e serviços? E, por último, no quinto degrau, temos a inovação.As empresas competem através da inovação – parece uma febre: todos na atualidade dizem que seus produtos e serviços são inovadores, que seus processos são mais eficientes e sustentáveis, exclusivos. Entretanto, para ter isso, é necessário ter funcionários com comportamento empreendedor, ou seja, Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 11 visionários, com iniciativa, que identifiquem oportunidades, arrisquem e ofereçam soluções inovadoras. Veja, em detalhes, no quadro 1, o comparativo entre um empreendedor e um intraempreendedor atuando em empresas com foco em inovação: Quadro 1 – Comparativo do empreendedor × intraempreendedor Empreendedor Usa capital próprio ou de terceiros. Cria toda a estrutura operacional. Tem maior poder de ação sobre o ambiente. Fracasso parcial significa perda de $$. Fracasso total significa falência. É o chefe. Monta sua própria equipe. 99 “não” e 1 “sim”: oportunidade de sucesso! Salário? Depende. Intraempreendedor Usa o capital da empresa. Usa a estrutura operacional da empresa. Atua com maior dependência das características da cultura corporativa. Fracasso parcial significa apenas erro e realinhamento do projeto. Fracasso total significa aborto do projeto e, no máximo, demissão. Reporta-se a um (ou mais!) chefe(s). É obrigado a se relacionar com quem já está na empresa. 99 “sim” e 1 “não”: fracasso! Salário? Depende. Fonte: adaptado de IBIE (2013). Alguns exemplos de intraempreendedores são: • José Eduardo Querido, primeiro brasileiro a presidir a Singer do Brasil. Foi contratado para gerente de engenharia na Singer, depois foi encarregado da montagem da manufatura da Singer Xangai, na China. Retornou ao Brasil para dirigir a área industrial do grupo em 2005, depois assumiu a presidência. A reforma que duplicou a unidade nordestina foi concluída e fixaram a meta de aumentar a produção em 50%. “Sou um empreendedor, não nos moldes tradicionais, sou o que se chama de intraempreendedor.” • Antonio Maciel Neto, engenheiro paranaense, dirigiu o Grupo Itamarati, a Ferronorte, a Ferropasa e a Cecrisa. Foi contratado para dirigir a filial brasileira da Ford em um momento em que a marca definhava no país. Ele foi responsável pela reestruturação da companhia, que teve um aumento de 178% em relação ao resultado de 2004. Em 2006, deixa a Ford para se tornar CEO da Suzano Papel e Celulose. “Eu vim à Ford para fazer parte de uma das mais exitosas viradas da indústria automotiva brasileira, que está concluída.” (SAMPAIO, 2007) • Chieko Aoki, fundadora e presidente da rede Blue Tree Hotels. Hoje, ela é uma das empresárias mais respeitadas do país – em 2013 foi eleita pela revista Forbes a segunda Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 12 mulher de negócios mais poderosa do Brasil. Seus 22 hotéis estão distribuídos por 17 cidades e empregam mais de 2.300 pessoas. (FUNDAÇÃO ESTUDAR, 2015) Visite a Midiateca da disciplina e conheça as dicas de Chieko Aoki para oportunidades na carreira! 5 Empreendendo sua carreira A Empreender Endeavor (2010, p. 3) afirma que atualmente existem alguns motivos limitantes quando o assunto é a escolha do futuro caminho profissional: • Não há tantos bons empregos com ótimos salários assim – com certeza existem muitos bons empregos com ótimas remunerações, mas em número limitado. • As condições de emprego estão se alterando rapidamente – lealdade e tempo de casa continuam importantes para os empregadores, mas desempenho individual torna-se cada vez mais relevante na manutenção do emprego. • A competição pelas melhores ocupações sempre aumenta – há cada vez mais candidatos por vaga; isto acontece não só no momento da conquista do emprego, mas durante o crescimento profissional dentro da empresa. As novas gerações chegam ao mercado mais preparadas, desafiando os funcionários antigos que muitas vezes são os mais caros da empresa. Por isso não importa a sua área de formação e atuação; a essência do seu sucesso é a criatividade, o espírito empreendedor, o desejo de mudança, a aceitação de desafios e riscos. O mais interessante disso tudo é que as empresas inovadoras ou aquelas constituídas de intraempreendedores sabem como lidar com eles e motivá-los. Veja a figura 2, que mostra os fatores que motivam o desempenho de intraem- preendedores. Observe que os três fatores que mais motivam o intraempreendedor são: satisfação pessoal; contribuição para a imagem e crescimento da empresa; e intenção de melhorar ou facilitar a execução do próprio trabalho. Vamos explicar um pouco melhor. A satisfação pessoal vem em primeiro lugar – trabalhar no que se gosta é imprescindível, faz com que a ida ao trabalho seja prazerosa e envolvente. Em segundo lugar, aparece a contribuição para a imagem e o crescimento da empresa – como o intraempreendedor se sente em casa e a empresa possui características como as de uma grande família, ele luta para que ela vá bem no mercado, cresça, pois sabe que, se a empresa crescer, ele cresce junto. Em terceiro lugar, está a intenção de melhorar ou facilitar a execução Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 13 do próprio trabalho, ter autonomia para mudar – as mudanças no processo não só ajudam o próprio intraempreendedor, mas podem agilizar e flexiblizar as atividades operacionais, reduzindo custos e tempos de execução. Figura 2 – Motivação do intraempreendedor Satisfação pessoal Reconhecimento moral por parte da empresa e dos colegas Intenção de melhorar ou facilitar a execução do próprio trabalho Promoção de cargo Contribuição para a imagem e crescimento da empresa Aumento de salário – – – – – – 34% 12% 17% 6% 9% 22% Fonte: Costa e Avediani (2009 apud NAKAGAWA, 2013). Onde estão as suas oportunidades para desenvolver uma carreira de sucesso? Muitos profissionais de sucesso vão além da consolidação da carreira profissional, associando-a à realização pessoal e à criação de um mundo melhor. Eles querem fazer mais e melhor. Existe um teste de realidade desenvolvido pela metodologia Empreender Endeavor (2010, p. 6) que propõe que você liste suas paixões pessoais, seus conhecimentos e as necessidades do mercado que você pode suprir para descobrir oportunidades de negócios. Figura 3 – Teste de realidade Paixões Mercado Conhecimento Carreira / Negócio Quais são as suas paixões pessoais? Quais são os seus conhecimentos? Quais são as necessidades do mercado que você pode suprir? Senac São Paulo – Todos os Direitos Reservados Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa 14 Por exemplo: uma pessoa tem paixão por elaborar comidas e pesquisar temperos surpreendentes. Ela possui conhecimentos apreendidos por meio de um curso de gastronomia e da participação em eventos internacionais. A partir dessas duas variáveis, vamos descobrir quais negócios podem satisfazer sua paixão e utilizar seus conhecimentos. Temos algumas opções: abrir um restaurante; dar consultorias a restaurantes; ser um distribuidor de temperos; fabricar refeições e distribuir no mercado; associar-se a uma padaria e ficar com a parte das refeições; dar aulas sobre o assunto, tendo sempre em mente o mercado e as oportunidades que surgem no dia a dia. Howard Schultz, empreendedor da Starbucks, maior rede de cafeterias do mundo, afirma: “Eu não posso dar nenhuma receita de sucesso, nenhum plano perfeito para o mundo dos negócios. Mas minha própria experiência sugere que é possível começar do nada e chegar além daquilo que você sonhava” (SCHULTZ, 2009, p. 19). Você concorda? Considerações finais Nesta aula, discutimos os empreendedores por necessidade e por oportunidade, além do empreendedor social, o
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