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ANOTAÇÕES DE AULA: DIREITO PENAL O Direito Penal é dividido em duas partes: Parte geral (princípios gerais, de disposições aplicáveis a todos os crimes) Parte especial (com o tratamento dos crimes em espécie). O Direito Penal não tem apenas início no Código Penal, mas, sim, em doutrinas, jurisprudências e com princípios que são analisados antes de entrar no Código Penal. CARACTERISTICAS Trata-se de uma ciência normativa. Estudo da norma / dogmática penal. Possui caráter fragmentário (ultima ratio) Cuida apenas de uma parcela dos ilícitos, que tem relevância para seus estudos. Eventualmente, haverá alguns ilícitos no ramo do Direito que podem se confundir e também serem ilícitos penais. “tem natureza fragmentária, ou seja, somente protege os bens jurídicos mais importantes, pois os demais são protegidos pelos outros ramos do direito.” CONCEITO Conjunto de normas, regras, princípios que descrevem comportamentos reprováveis e ameaçadores da ordem social, denominados infrações criminais, e que tragam como consequência a imposição de uma sanção penal. Aspecto: Formal: norma, regras e princípios. Material: comportamentos Social: ordem social No aspecto formal, encontram-se as fontes do direito. Fonte material: “Quem” Art. 22, I – CF Fonte formal “ O que” Imediatas e mediatas. Classificação tradicional: a) Imediata: Lei – Art. 1º, CP. b) Mediata: Costumes, princípios gerais de direito. Classificação moderna Imediata: Lei, Constituição Federal, atos administrativos, jurisprudência (Súmula Vinculante 11 do STF), tratados e convenções internacionais de direitos humanos, princípios. b) Mediata: Doutrina e costumes (fonte informal de direito). INFRAÇÕES PENAIS As infrações penais dividem-se em: Crime (delito) Contravenção penal (crime anão) Art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal Diferencia-se pela pena: Crime: Reclusão / Detenção Contravenção Penal: Prisão Simples e/ou somente multa O dispositivo contido no artigo 109 da CF aplica-se somente aos crimes. Se alguém praticar uma contravenção penal contra bens, serviços e interesses da União, ele será julgado na Justiça Estadual. A única ressalva é o foro por prerrogativa de função. no PENAIS NORMA PENAL É a que estabelece a conduta criminosa e a pena cominada a essa conduta. A norma penal é dividida entre preceito primário e preceito secundário. Preceito primário: descrição da conduta delituosa Preceito secundário: Sanção penal Ex.: Código Penal Art. 121. Matar alguém (preceito primário). Pena – reclusão, de seis a vinte anos (preceito secundário). RELAÇÃO DO DIREITO PENAL COM OUTROS RAMOS DO DIREITO Unicidade do Direito: O Direito, como um todo, é uno. O objetivo do Direito é a manutenção da ordem e da paz social. Não interessa que alguns ilícitos sejam apenas punidos na esfera civil ou na esfera administrativa. Não pode haver contrariedade entre um ramo do Direito e outro Relação do DP com demais ramos. Crime Contravenção A ação penal pode ser pública incondicionada, publica condicionada ou de iniciativa privada. Sempre de ação publica incondicionada. (Art. 17, CP) Pune-se a tentativa (Art. 14, II CP) Não se pune a tentativa (Art. 4º, LCP) Há possibilidade de punição de crimes cometidos fora do território brasileiro (extraterritorialidade – art. 7º, CP) Somente se pune a contravenção cometida no território nacional (art. 2º, LCP). Competência: Justiça Estadual ou Justiça Federal Competência: Estadual, com a exceção do foro por prerrogativa de função. Direito Constituicional: Mandados de criminalização, teoria constitucionalista do Direito, princípios constitucionais. Direito Processual Penal: Meio de aplicação das sanções penais FUNÇÕES DO DIREITO PENAL Proteção dos bens júridicos Garantia: A garantia para o cidadão é de que o Estado não vai puni-lo sem fundamento. Instrumento de controle social: preserva a paz pública Ético-social: Simbólica: O governante que edita uma lei penal e se sente bem com isso porque está cumprindo a sua função de legislador. Na perspectiva da sociedade, o cidadão, ao ver as normas penais, ao saber que elas existem, se sente protegido, ainda que seja uma falsa percepção de segurança. Motivadora: Motiva o cidadão a não praticar crimes. Redução da violência estatal: O cidadão só pode sofrer a punição do Estado se tiver uma conduta incriminada. Promocional: Atuar como instrumento de transformação social. Condutas que eram consideradas crimes, hoje já não o são. PRÍNCIPIOS Principio da legalidade: “nullum crimen nulla pena sine lege”, ou seja, não há crime nem pena sem lei prévia. Principio da reserva legal: princípio da taxatividade: não basta somente haver uma lei prevendo um crime, essa norma deve ser específica. Principio da anterioridade Origem: Magna Carta Inglesa, de 1215 – Rei João Sem Terra. Fortalecimento: Revolução Francesa, em 1789 – Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Previsão constitucional e legal: CF/1988, Art. 5º, XXXIX – “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;” CP, Art. 1º – “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. ! Somente lei ordinária ou lei complementar pode criar crimes ou agravar penas ! É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria relativa a Direito Penal (CF, art. 62, § 1º, I, b) seja para prejudicar ou beneficiar o réu. Inadmissível que lei delegada verse sobre direito penal. (art. 68, § 1º e II, CF) Não é permitida a analogia in malam partem no Direito Penal, tampouco o uso de costumes para criar infrações penais. O princípio da estrita legalidade é igualmente aplicável às contravenções penais e às medidas de segurança. Aspectos da legalidade: Formal: Obediência ao devido processo legislativo. Material: Respeito aos direitos e garantias do cidadão, às normas constitucionais e aos tratados internacionais de direitos humanos. PRINCIPIO DA ANTERIORIDADE “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;” Previsão constitucional e legal: CF/1988, Art. 5º, XXXIX / CP, Art. 1º Direito fundamental de 1ª geração (dimensão), que limita o poder punitivo do Estado. PRINCIPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA A cada conduta, será aplicada uma pena individualizada. Em que pese existirem parâmetros para as penas, o quantitativo da pena que será aplicada ao indivíduo dependerá de uma série de situações. CF/1988, Art. 5º, XLVI – “a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos;” PRINCIPIO DA PERSONALIDADE OU INTRANSCÊNDENCIA Ninguém pode ser responsabilizado, punido ou sofrer qualquer consequência em razão de um ato praticado por outra pessoa. CF/1988, Art. 5º, XLV – “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;” PRINCIPIO DA ALTERIDADE Criador: Claus Roxin. Ninguém será punido por ofender somente bens jurídicos próprios. Ou seja, se o agente pratica uma conduta que venha a prejudicar somente bens jurídicos que lhe pertençam, então não há crime. Assim, para que haja crime, o agente deve ofender bens jurídicos alheios. PRINCIPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA O Direito Penal só deve atuar quando a criminalização de uma conduta for indispensável para proteger interesses. Criado pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) Subdivide-seem: Princípio da fragmentariedade Nem todos os ilícitos configuram ilícitos penais. Serão considerados ilícitos penais os que forem previstos em lei e que atentam contra valores fundamentais dos indivíduos e da sociedade. Princípio da subsidiariedade. O Direito Penal é o último recurso a ser lançado pelo Estado. o Direito Penal é subsidiário, pois a sanção penal só é imposta quando não é possível repreender uma conduta por meio dos demais ramos do Direito. PRINCIPIO DA OFENSIVIDADE OU LESIVIDADE Não há que se falar em infração penal se a conduta não causar uma lesão ao bem jurídico tutelado ou, ao menos, o perigo de lesão. Espiritualização (desmaterialização ou liquefação) de bens jurídicos no Direito Penal: O Direito Penal passa a se antecipar e punir condutas perigosas que têm potencial de gerar uma lesão futura. Ex.: crimes ambientais e crimes de perigo abstrato. PRINCIPIO DA RESPONSABILIDADE PENAL OBJETIVA A responsabilização penal depende de dolo ou culpa. Não se admite no Direito Penal a responsabilidade objetiva. Existe uma exceção a esse princípio, que é o caso da rixa qualificada (vide art. 137, § único, do CP). PRINCIPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL Conduta tipificada em lei, mas que não afronta o sentimento de justiça da coletividade, seja pelos costumes, cultura. Exemplos: colocar brincos em uma criança recém-nascida (lesão corporal), tatuagem (lesão corporal), circuncisão (lesão corporal), dentre outros. Natureza jurídica: Causa supralegal de exclusão da tipicidade (material). Ex.: ato obsceno (art. 233, CP). PRINCIPIO DA ISONOMIA OU IGUALDADE O Direito Penal se aplica a todos, independentemente de nacionalidade, classe social, etnia, sexo, idade ou condição. Entretanto, esse princípio impõe tratamento distinto para quem se encontra em posições diferentes. Ex.: réu primário e réu reincidente/Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006), que protege de maneira diferente as mulheres. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA OU DA NÃO CULPA CF/1988, Art. 5º, LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; O agente só é considerado culpado quando transita em julgado a sua sentença penal condenatória. PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM Proibição de dupla punição pelo mesmo fato. O agente não pode ser processado, julgado e condenado mais de uma vez pela mesma conduta, tampouco pode o mesmo fato ser considerado em dois momentos distintos da dosimetria da pena. Exceção: CP, Art. 8º. Aplica-se aos casos de extraterritorialidade incondicionada. Súmula n. 241, STJ: “A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial.” PRINCÍPIO DA INSIGNIFICANCIA “criminalidade de bagatela” ou “infração bagatelar própria” O Estado não deve se valer do Direito Penal quando a conduta não é capaz de lesar o bem jurídico tutelado pela norma penal, ou, pelo menos, colocá-lo em perigo. Tipicidade: Formal: refere-se ao fato típico descrito na norma penal. Quando a conduta do agente se adequa perfeitamente à norma penal. Material: efetiva lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal. Para que exista a tipicidade material é preciso que exista tanto a tipicidade formal quanto a tipicidade material. Assim, aplicando a insignificância, é excluída a tipicidade material, que exclui a tipicidade, que exclui o fato típico e exclui o crime em si. Natureza jurídica: Causa supralegal de exclusão da tipicidade. Critérios doutrinários: 1. Valor do bem Econômico (10% do salário mínimo) Sentimental 2. Condição econômica da vitima 3. Consequências do crime e o modus operandi Requisitos objetivos adotados pela Jurisprudência 1. mínima ofensividade da conduta; (MOCO) 2. nenhuma periculosidade social da ação; (NEN PESA) ausência de violência ou ameaça 3. reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; (REGRA) 4. inexpressividade da lesão jurídica provocada. (ILEJU) Requisitos subjetivos (Perfil do autor) 1. Criminosos habitual O princípio da insignificância não pode ser um salvo-conduto para o criminoso habitual 2. Militar Não se aplica o princípio da insignificância ao militar em razão do perfil do autor. O mesmo se aplica aos Delegados de Polícia, policiais em geral, juízes, promotores etc. É possível a aplicação do princípio da insignificância a reincidentes? 1ª Corrente: NÃO admite; 2ª Corrente: ADMITE – A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto (Informativo 793 do STF, HC 123108, julgado em 03/08/2015 e STF – HC 155.920/MG – 27/04/2018). O Delegado de Polícia pode aplicar o princípio da insignificância diante de uma situação flagrancial? 1ª Corrente: NÃO; 2ª Corrente: SIM. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA Furto Ao furto, aplica-se a insignificância. Entretanto, é importante observar: Não se leva em consideração somente o valor da res furtiva. Deve ser analisado o caso concreto. STJ tem negado a aplicação do P princípio da insignificância quando o valor do bem subtraído é superior a 10% do salário mínimo vigente à época dos fatos. Se for abaixo desse valor, analisa-se o caso concreto (STJ, AgRg no Resp 1.558.547/MG, 19/11/2015). Furto com ingresso na residência da vítima – não aplicação em razão da violação da intimidade (STF, HC 106.045, 19/06/2012). Furto Noturno (art. 155, § 1º, CP) Em regra, não se aplica o princípio da insignificância – STJ, AgRG no AREsp 463.487/MT, 01/04/2014. Restituição de Bens Furtados à Vítima Não gera, por si só, a aplicação do princípio da insignificância (STJ, HC 213.943/MT, 05/12/2013). O agente, porém, terá a pena diminuída em razão do arrependimento posterior (art. 16, CP). Furto Qualificado Em regra, não será aplicado o princípio da insignificância. Entretanto, é possível sua aplicação a depender do caso concreto. (Info. 793 do STF, HC 123108, julgado em 03/08/2015 e STF - HC 155.920/MG – 27/04/2018). Não se aplica o princípio da insignificância aos seguintes crimes: Roubo, extorsão e demais crimes cometidos com violência ou grave ameaça (em função da periculosidade social da ação). Crimes previstos na lei de drogas (Lei n. 11.343/2006) – STJ, HC 240.258/SP, 06/08/2013. Crimes contra a fé pública (ex.: moeda falsa e falsidade documental) – STJ, AgRG no AREsp 558.790 e STF, HC 117638. Crime de contrabando (art. 334-A, CP) – STJ, AgRG no Resp 1472745/PR, 01/09/2015. Estelionato contra o INSS e o FGTS – STF HC 111918 e HC 110845. Crimes relacionados a violência doméstica (Lei Maria da Penha, n. 11.340/2006): Súmula n. 589 do STJ: “É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas.” Crimes contra a Administração Pública Súmula n. 599 do STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública. Exceção: Crime de descaminho (art. 334, CP). É entendimento sumulado do STJ o fato de que o princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a Administração Pública. Aplica-se o princípio da insignificância aos seguintes crimes: Crimes contra a ordem tributária (Lei n. 8.137/1990) e descaminho (art. 334, CP) – valor pacífico no STJ e STF: Até R$ 20.000,00. Apropriação indébita previdenciária e sonegação de contribuição previdenciária – STJ, AgRg no Resp 1348074/SP, 19/08/2014. Crimes ambientais – A doutrina é contrária, mas a jurisprudência admite a aplicação deste princípio, após uma rigorosa análise do caso concreto. STJ, AgRg no AREsp 654.321/ SC, 09/06/2015 e STF HC 112563/SC, 21/08/2012. A questão da posse e do porte de armas de fogo e munições Nãose aplica o princípio da insignificância à posse ou porte de arma de fogo, seja de calibre permitido ou restrito e ainda que não acompanhado de munição – Pacífico no STJ e STF. No que concerne à posse ou porte de munições, desacompanhadas de arma de fogo, tanto o STF quanto o STJ têm entendido que, a depender do caso concreto e da quantida de de munições, é possível aplicar o princípio da insignificância. CLASSIFICAÇÕES DA LEI PENAL EM BRANCO Estrutura da lei penal: Preceito primário: descrição da conduta criminosa. Preceito secundário: sanção penal imposta a pessoa Caráter descritivo da lei penal: proibição indireta: descrição da conduta e proibição indireta. CLASSIFICAÇÃO: 1. Incriminadoras: Completas ou perfeitas: possuem todos os elementos da conduta criminosa. Ex.: art. 121, CP. Art. 55 Incompletas ou imperfeitas: normas penais que exigem complementação, que pode ser por meio de outra norma, ato normativo (norma pena em branco) ou ato do juiz. (tipo penal aberto) 2. Não Incriminadoras Permissivas justificantes: causa excludentes de ilicitude Permissivas culpantes: retiram a culpabilidade ou a imputabilidade: ex. menoridade penal Interpretativas: explicam o significado de outras normas penais. Ex. art. 327, cp De extensão ou integrativa: necessárias para incriminar condutas específicas. Ex. art. 14 cp NORMA PENAL EM BRANCO Depende da interpretação, da valoração do julgador no caso concreto para que determinada conduta seja incriminada. Art. 246, CP. (Abandono intelectual) LEI PENAL EM BRANCO Depende de complemento para que possua validade no ordenamento jurídico. O preceito primário da norma é incompleto e exige complementação de outra lei ou de ato da Administração Pública. 1. Norma penal em branco heterogênea (em sentido estrito ou própria) O complemento da norma penal possui natureza jurídica diversa e não emana do legislador, mas de fonte de produção distinta (atos administrativos). 2. Norma penal em branco homogênea (em sentido amplo ou imprópria) O complemento da norma penal possui a mesma natureza jurídica e emana da mesma fonte de produção (do mesmo órgão legislativo). Desse modo, o complemento estará previsto em lei. Divide-se em: Homogênea homovitelina: homogênea heterovitelina. Homovitelina Heterovitelina Natureza jurídica do complemento Lei Lei Diploma Legislativo A complementação encontra-se no mesmo diploma legislativo que a norma penal incriminadora A complementação encontra-se em diploma legislativo distinto da norma penal incriminadora
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