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Psicologia da Educação Professora Mestre Sonia Maria de Campos Diretor Geral Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino e Pós-graduação Daniel de Lima Diretor Administrativo Eduardo Santini Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Jorge Van Dal Coordenador do Núcleo de Pesquisa Victor Biazon Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Projeto Gráfico e Editoração André Oliveira Vaz Revisão Textual Kauê Berto Web Designer Thiago Azenha UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.unifatecie.edu.br As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock FICHA CATALOGRÁFICA CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFATECIE. Credenciado pela Portaria N.º 527 de 10 de junho de 2020, publicada no D.O.U. em 15 de junho de 2020. Núcleo de Educação a Distância; CAMPOS, Sonia Maria de. Psicologia da Educação. Sonia. Maria de Campos. Paranavaí - PR.: UniFatecie, 2020. 103 p. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Zineide Pereira dos Santos. AUTORA Sou a professora Sonia Maria de Campos ● Mestre em Gestão do Conhecimento nas Organizações pelo Unicesumar; ● Especialista em Gestão Escolar: Supervisão e Orientação pela Univale; ● Especialista em Psicopedagogia abrangência Institucional e Clínica pela Univale; ● Especialista em Docência no Ensino Superior pelo Unicesumar ● Especialista em Tecnologias Educacionais e Inovação pelo Unicesumar; ● Especialista em EAD e as Novas Tecnologias Educacionais pelo Unicesumar. ● Graduada em Pedagogia pela Ulbra. ● Cursando Psicologia pela Unifamma. Desenvolvo pesquisas e tenho experiência na área de Educação. Atuei na Educa- ção básica, tendo neste período trabalhado com a Educação Infantil e Primeiros anos do Ensino Fundamental, também coordenei a Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Atuei na Coordenação Pedagógica no Ensino Fundamental Séries Finais e Ensino Médio. Atualmente trabalho como Professora em curso de Graduação e Pós-Gra- duação, ministro palestras, produção de material pedagógico escrito e audiovisual. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/7371131120808017 http://lattes.cnpq.br/7371131120808017 http://lattes.cnpq.br/7371131120808017 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo(a)! Prezado(a) aluno(a), convido você a compreender a educação pela psicologia da educação. Partindo do pressuposto que o homem é um ser social e, por isso, constituído dos aspectos culturais, políticos, econômicos e educacionais, portanto, o homem é um ser construído pelo meio. E para entender essas relações determinantes que o livro Psicologia da Educação se dispõe a demonstrar os caminhos percorridos na formação do ser humano e os aspectos da educação. Por isso, mais do que entender a Psicologia da Educação e seus feitos, esse estudo nos fará entender a educação e o quanto somos influenciados pelo meio que nos cercam, na medida em que somos herdeiros de tudo que foi criado até então. Na Unidade I vamos conhecer o que reflete o Comportamentalismo e as Rela- ções com a Educação. Em que, no primeiro momento você vai compreender sobre o comportamentalismo de Watson, que traz a compreensão dos comportamentos reflexos ou respondentes, os quais são explicados pela relação entre um estímulo antecedente, estímulos eliciadores a uma resposta involuntária do organismo como salivar, sudorese, taquicardia. Em seguida você irá saber mais sobre a construção do conhecimento para Gu- thrie, influenciado por Watson. Em sua teoria, entende que se houver uma combinação de estímulos que levou a um movimento ocorrer outra vez, tenderá a ser seguida por este movimento. Na sequência, falaremos a respeito da aprendizagem para Thorndike, além das Leis criadas por ele, outro aspecto estava nos comportamentos observáveis e mensuráveis do ser humano. E finalizando esse primeiro momento de estudo com os conhecimentos de Skinner e desenvolvimento humano, que entende que a aprendizagem ocorre por meio de estímu- los externos que levam a pessoa agir por conta de seus comportamentos. Ou ainda uma necessidade em que leve a uma ação/resposta/comportamento que satisfaça o indivíduo, e o que satisfaz ou diminui a necessidade serve como um reforço da resposta, deixando-a mais forte. Já na Unidade II você irá saber mais sobre O Construtivismo e os Processos Edu- cacionais. A unidade foi organizada no primeiro momento abordando sobre a educação nos aspectos do construtivismo de Piaget, que trata dos progressos cognitivos como uma capacidade maior de pensar de maneira abstrata, denominado pensamento operacional formal, em que se pode alcançar a capacidade de compreender e lidar com conceitos abs- tratos, especular a respeito de possibilidades e alternativas e ainda raciocinar em termos hipotéticos. Seguindo, buscou-se compreender o construtivismo de Vygotsky, que entende que a prática educativa possibilita e permite à criança aprendiz envolver-se nas atividades de forma independente, apesar de estar contando com a ajuda de outros. Bem como a teoria construtivista do ensino de Bruner, que entende ser possível ensinar qualquer assunto de maneira coerente a qualquer criança, em qualquer estágio de seu desenvolvimento E o construtivismo de Ausubel, que traz que caso conseguíssemos separar um úni- co fator como o mais relevante na aprendizagem cognitiva, ele destaca ser o que o aprendiz já sabe, ou o conhecimento que está na estrutura cognitiva com clareza, estabilidade e diferenciação. Com isso, o ensino deveria reconhecer tal conhecimento e, para isso, seria necessário averiguá-lo previamente. Vergnaud traz como referência a relevância do próprio conteúdo do conhecimento e faz ainda uma análise conceitual do domínio do conhecimento do indivíduo. Para Johnson-Laird, o modelo mental é uma representação que pode ser totalmente ou parcialmente analógica, e ainda parcialmente proposicional, que pode tanto ser distinta de uma imagem, mas relacionada a ela. Na sequência, na Unidade III, falaremos a respeito do Humanismo e a Educação. Iniciamos pela teoria de Rogers, que ficou conhecida como humanista por se embasar na visão otimista do homem, acreditando que o organismo humano entende o que é melhor para ele e, para isso, usa dos sentidos aprimorados ao longo da evolução da espécie. Em seguida, a teoria humanista de Novak, que entendia que educação pertence a um conjunto de experiências, como: as questões cognitivas, efetivas e psicomotoras, que auxiliam no engrandecimento do ser humano e, com isso, apresenta uma proposta em que a aprendizagem significativa subjaz à integração construtiva entre pensamentos, sentimentos e ações que conduzem ao crescimento do ser humano. Outro teórico relevante para esse estudo é Gowin. Para o teórico, o ensino se consolida quando o significado do material captado pelo aluno é o significado que o docente almeja que esse material reflita para o aluno, que é o significado compartilhado no meio da matéria de ensino. Gowin é conhecido por um instrumento heurístico denominado Vê. Ainda se tem a teoria de Freire, que se destacou por trazer uma pedagogia libertadora, por uma educação política, que entende ser saberes necessários à prática educativa. Em nossa Unidade IV vamos finalizar o conteúdo dessa disciplina com a Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento, em que destaca a Periodização do desenvolvimento psíquico estabelecido por Freud, que define as zonas do funcionamento mental do ser humano. As Práticas educativas à luz da concepção humanizadora de homem, que destaca que, para o humanismo, a educação não deveria se limitar aos saberesnecessários para um exercício profissional específico. O humanismo aparece inserido em quase todas as concepções pedagógicas do século XX e que se faz presente em muitas ações educacio- nais. A Psicologia histórico-cultural em diálogo com a pedagogia trata dos processos mentais e entende o indivíduo a partir de seus processos sociais. Entende que o desen- volvimento desses processos é mediado por instrumentos e signos construídos social, histórica e culturalmente no meio social em que ele está situado. Finalizamos com a aprendizagem na concepção da teoria histórico-cultural, que não se trata, no entanto, somente de considerar o meio social como uma variável importante no desenvolvimento cognitivo, como muitos pensam ser. É abordagem embasada nos estudos de muitos autores, entre eles Vygotsky, que defende que o desenvolvimento cognitivo do ser humano é a conversão de relações sociais em funções mentais. Desejo que no decorrer de seus estudos tenha um momento de reflexão sobre todos os aspectos aqui tratados. Muito obrigada e bom estudo! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 8 Comportamentalismo e as Relações com a Educação UNIDADE II ................................................................................................... 25 Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais UNIDADE III .................................................................................................. 49 Humanismo e a Educação UNIDADE IV .................................................................................................. 75 Teoria Histórico-Cultural e a Construção do Conhecimento 8 Plano de Estudo: • O comportamentalismo para Watson; • A construção do conhecimento para Guthrie; • A aprendizagem para Thorndike; • Skinner e desenvolvimento humano. Objetivos de Aprendizagem: • Conceituar as teorias comportamentais; • Compreender os tipos e os padrões evolutivos normais e patológicos do processo de aprendizagem; • Estabelecer a importância de compreender as teorias e a aprendizagem humana; • Contextualizar as teorias comportamentais e a relação com a educação. UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação Professora Mestre Sonia Maria de Campos 9UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação INTRODUÇÃO Para estudarmos o Comportamentalismo e as Relações com a Educação, preci- samos entender, primeiramente, as teorias comportamentalista, que são embasadas no condicionamento de estímulo-resposta e tem como estudiosos Pavlov, Watson, Guthrie, Thorndike e Skinner. Vamos iniciar pelos estudos da teoria comportamental de Pavlov e Watson. Watson é considerado o pai do comportamentalismo ou behaviorismo. Pavlov (1976) é seguidor de Watson (1878-1958) e, em seus estudos, explica os comportamentos reflexos aprendidos ou respondentes aprendidos. Tratamos sobre a construção do conhecimento para Guthrie (1973b), um combo da aquisição de novos comportamentos, que são incorporados ao repertório individual de cada ser, capacita e habilita o indivíduo para adquirir novos comportamentos, e é por meio da aprendizagem, que poderá modificar comportamentos anteriormente já adquiridos. No terceiro tópico vamos analisar a aprendizagem para Thorndike, que traz um conceito conhecido como a Lei do Efeito, ou seja, as consequências do comportamento como determinantes das conexões estímulo-resposta (E-R) do que que é aprendido. E finalizaremos com Skinner e o desenvolvimento humano, que visa compreender o que ocorre após a resposta, ou seja, da consequência que pode ser reforçadora ou não. Que neste início dos seus estudos traga a vontade de continuar a buscar mais sobre os assuntos aqui abordados. Bons estudos! 10UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação 1 O COMPORTAMENTALISMO WATSON Para entender o comportamentalismo é preciso fazer um resgate histórico e filosó- fico, que traz os aspectos relacionados aos comportamentos observáveis e mensuráveis do ser humano, ou ainda, é uma consequência observada por meio de respostas que dá a estímulos externos. Nessa teoria o comportamento ocorre pelas respostas observadas e relacionadas com os fatos que as precedem, sendo elas os “estímulos”, e com o que se sucedem que é as “consequências”. Com isso, podemos compreender que o com- portamentalismo visa estabelecer as relações funcionais ou leis por meio dos estímulos e consequências, sejam boas ou más. REFLITA O que é uma teoria? Fonte: a autora. Vamos imaginar as teorias como uma grande árvore que em cada lado os galhos manifestam o vento em suas folhas de maneiras diversas, com o mesmo objetivo: o conhe- cimento. Veja! 11UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação Figura 1 - Árvore das teorias do desenvolvimento do conhecimento Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/%C3%A1rvore-floresta-tronco-natureza-576847/ Neste momento vamos buscar compreender o comportamentalismo que, segundo Peréz Goméz (2000), as principais teorias da aprendizagem estão embasadas nas teorias comportamentalista, que tem base no condicionamento de estímulo-resposta; os principais estudiosos são Pavlov, Watson, Guthrie, Thorndike e Skinner. E por meio de seus estudos pode notar em suas hipóteses sobre o comportamento do ser humano, que este depende do que são aprendidos pelos mesmos; a aprendizagem tem relevante importância; desta- cam maior poder ao ambiente; o ser humano é produto do meio. Podemos concluir que a aprendizagem ocorre por meio da aquisição de novos comportamentos, que são incorpora- dos ao repertório individual de cada ser, capacita e habilita o indivíduo para adquirir novos comportamentos, e é por meio da aprendizagem que poderá modificar comportamentos anteriormente adquiridos. Caro(a) aluno(a), você vai encontrar que John B. Watson (1878-1958) é considera- do o pai do comportamentalismo ou behaviorismo. Foi por volta do século XX que Watson destaca em seus estudos uma análise feita no comportamento animal, e por meio dessa, contribuído, nas aplicações para o estudo do comportamento humano, com o objetivo de fazer análise e comparações, sem “aproximar” o ser humano de outros animais. Na visão de Watson (1971), a observação tem por objetivo um método adequado para compreender o comportamento animal, que poderia contribuir na análise do com- portamento humano. Ele analisava a associação de um estímulo que iniciava neutro a uma resposta, por meio do treinamento ou repetição. Era o início para a compreender o comportamento. https://pixabay.com/pt/vectors/%C3%A1rvore-floresta-tronco-natureza-576847/ https://pixabay.com/pt/vectors/%C3%A1rvore-floresta-tronco-natureza-576847/ 12UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação Watson (1971) buscou compreender os comportamentos reflexos ou respondentes, são explicados pela relação entre um estímulo antecedente, estímulos eliciadores a uma resposta involuntária do organismo, como salivar, sudorese, taquicardia. Figura 2 - Princípios defendidos por Watson (1971) Fonte: a autora. Influenciou o condicionamento clássico de Ivan Pavlov (1849-1936), que enaltece mais os estímulos do que as consequências. Defendia a aprendizagem ligada ao estímulo- -resposta em termos de condicionamento clássico, mas aliava ao reforço ou pela punição, que seria a consequência, como construção da aprendizagem. Pavlov (1849-1936) explica, em seus estudos, sobre comportamentos reflexos aprendidos ou respondentes aprendidos. O estudo de tais comportamentos é fundamental na compreensão sobre as emoções dos seres humanos, incluindo situações em contexto educacional. 13UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação 2 A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO PARA GUTHRIE O norte-americano Edwin Guthrie (1886-1959), notado já nas origens do comporta- mentalismo, foi influenciado por Watson e pelo condicionamentoclássico, mas a sua forma de trazer a teoria construtivista não entende que a resposta é eliciada no decorrer de um procedimento. Para Guthrie, se uma combinação de estímulos, que ocorreu uma vez e foi acompanhada de uma resposta, viesse a ocorrer novamente, tenderia a ser seguida por essa mesma resposta. Podemos entender que se algo fosse feito em um determinado momento, é bem provável que poderia ocorrer outra vez frente à mesma situação. Como também a inten- sidade observada em meio à associação estímulo-resposta, entendida por Guthrie como “hábito”, que teria sido alvo no primeiro pareamento e não seria reforçada pela prática. Com isso defendia que o importante era a contiguidade. Diante disso, podemos notar que Guthrie, se dedicou em quebrar paradigmas e traz três métodos: 14UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação Figura 3 - Métodos de Guthrie Fonte: a autora. REFLITA O que você acha dessa teoria? Até que ponto você concorda que a aprendizagem for- mada por condicionamento é duradoura no indivíduo? Fonte: a autora. Podemos entender que a teoria de Guthrie se assemelha à de Watson, porém mais geral, pois entende que se houver uma combinação de estímulos que levou a um movimen- to ocorrer outra vez, tenderá a ser seguida por esse movimento. Para tanto, nesta teoria de Guthrie não se considerava o conceito de reforço para explicar a quebra de hábitos. 15UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação 3 A APRENDIZAGEM PARA THORNDIKE Também norte-americano, Edward L. Thorndike (1874-1949) foi influenciado pelo behaviorismo. Traz um conceito conhecido como a Lei do Efeito, ou seja, as consequências do comportamento como determinantes das conexões estímulo-resposta (E-R) do que que é aprendido. Thorndike defende que as conexões estímulo resposta estão ligadas à natureza fisiológica, enaltecida pelo uso e pela natureza satisfatória das consequências e enfraque- cidas quando tais consequências são desconfortáveis. Com isso, a concepção de aprendi- zagem por meio das conexões E-R dependia de três leis principais. Figura 4 - Leis Principais da concepção de aprendizagem Fonte: a autora. 16UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação A primeira Lei é a do Efeito, pode ser observado que uma conexão é seguida de uma consequência, sendo satisfatória se fortalece, como também pode ser enfraquecida quando a consequência é insatisfatória; conforme for a situação, terá um aumento ou uma diminuição na frequência da resposta. Já na Lei do Exercício as conexões são fortalecidas por meio da prática (lei do uso) e o enfraquecimento ou esquecimento com a inexistência da prática (lei do desuso). A terceira Lei é a da Prontidão: que pode ser observada quando há uma organiza- ção para a ação, a sua concretização é satisfatória e a não concretização é irritante. Além destas, Thorndike propôs várias outras leis subsidiárias ou subordinadas. E aqui é preciso que entenda que são essas as primeiras teorias comportamenta- listas, que se ocupam de conexões estímulo-resposta, sem levar em questão o que ocorre na mente do ser humano quando ocorre tal associação. Outro ponto a se destacar é de que a preocupação estava nos comportamentos observáveis e mensuráveis. SAIBA MAIS Quando a educação é concebida em termos de experiência, uma consideração se des- taca em relação às demais. Tudo o que possa ser considerado como matéria de estudo, seja aritmética, história, geografia ou qualquer uma das ciências naturais, deve derivar de materiais que, originalmente, pertençam ao escopo da experiência da vida cotidiana. Nesse aspecto, as propostas educacionais mais atuais se diferenciam radicalmente dos processos pedagógicos que se iniciam a partir de fatos e verdades que se encontram fora do âmbito das experiências vivenciadas pelos alunos e que, por isso, enfrentam o problema de ter que descobrir meios de relacioná-los com tais experiências Fonte: Mendonça e Adaid (2018). Essas teorias tiveram sucessivas outras teorias de grande influência no ensino e nos recursos utilizados em sala de aula, ainda são muito presente na escola da atualidade. 17UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação 4 KINNER E DESENVOLVIMENTO HUMANO B. F. Skinner (1904-1990) é norte-americano. Em seus estudos vamos notar que visou compreender o que ocorre após a resposta, ou seja, da consequência, que pode ser reforçadora ou não. Para Skinner (1968/1972), há três variáveis de “entrada”: Figura 5 - As três variáveis de entrada estabelecida por Skinner Fonte: a autora. Falaremos sobre estímulo, reforço positivo e contingências de reforço. O estímulo o evento que afeta os sentidos do ser humano, o reforço positivo é o que leva ao aumento da frequência da resposta, as contingências de reforço tratam-se do instante e da quantidade de reforço ao arranjo de situações reforçadoras (SKINNER,1968/1972). Para compreender as variáveis de “saída”, podemos notar que são as respostas do indivíduo, que podem ser respondentes ou operantes. Vamos compreender as variáveis no Comportamento Reflexo ou Respondente: é inato, ou seja, já nascemos sabendo manifestá-lo e que, para isso, não precisamos ter 18UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação passado por um processo de aprendizagem. No comportamento reflexo o estímulo é com- preendido como todo e qualquer causa que possa dar uma resposta na pessoa. Sendo o estímulo (S) que vai sempre implicar uma resposta (R), que é representado: S -> R (SKINNER,1968/1972). Diante disso, o comportamento reflexo é algo natural no ser humano, biológico, em que, para conseguir se proteger e sobreviver, o nosso corpo emite alguns sinais de compor- tamento que leva a compreensão de outras pessoas de que estamos precisando de ajuda. Como exemplo disso podemos observar o comportamento de uma criança recém-nascida quando chega próximo ao seio materno (estímulo), sua ação imediata é sugar (resposta). O comportamento “sugar” não foi ensinado, a criança já sabia (SKINNER,1968/1972). Outro exemplo de comportamento reflexo é quando alguém bate palmas próximo aos nossos olhos os fechamos rapidamente, ou quando levamos um choque na mão temos a reação imediata de puxar o nosso braço. Essas reações não foram aprendidas, são rea- ções naturais do corpo para se defender de algo que está o atacando. A variável do Comportamento Operante é o “comportamento que produz alterações no ambiente e é afetado por essas alterações” (MOREIRA, 2007, p. 86). O indivíduo age e concebe uma mudança no seu meio, que vai lhe influenciar. Um comportamento emitido ou resposta (R) leva a uma consequência (C), representado por: R -> C (SKINNER,1968/1972). Sendo assim, dependendo do comportamento, o sujeito terá uma consequência e, com isso, pode controlar suas ações para obter benefícios. Por exemplo: se você trabalhar com dedicação (resposta), poderá ser promovido em seu setor (consequências). Diante disso, tanto reflexo ou operante, ambos os comportamentos têm aspectos de condicio- namento, podendo ser produzidos conforme o interesse de quem os controla. Skinner (1968/1972, p. 5) define que “o ensino consiste no arranjo das contingências de reforço”, em que a aprendizagem acontece por associação de algumas respostas a um reforço. Nessa visão teórica, para que o indivíduo seja motivado a emitir certo comportamento, é necessário que esse comportamento vá sendo reforçado por várias vezes, até que a pessoa seja condicionada a ele. Portanto a aprendizagem vai ocorrer por meio de estímulos externos, que levam a pessoa a agir por conta de seus comportamentos. Ou ainda uma necessidade em que leve a uma ação/resposta/comportamento que satisfaça o indivíduo, e o que satisfaz ou diminui a necessidade serve como um reforço da resposta, deixando-a mais forte. E se comparar esse reforço com o aluno em sala de aula, podemos notar que está relacionadocom a motivação, pois para a formação da aprendizagem, dependendo da 19UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação maneira com que os componentes curriculares forem ofertados e estiverem associados ao reforço que realizam a certas necessidades do aluno. As recompensas e os reforços são essenciais no processo de ensino e aprendizagem e isso pode ser de ações mínimas do professor, colegas e outros que estejam envolvidos com a formação do aluno, pode ser um elogio, um gesto de carinho, boa nota obtida nas avaliações e assim por diante, levando a se motivar a continuar se dedicando aos estudos, ou seja, o aluno está emitindo determinado comportamento devido ao interesse em alcançar um reforço. Mas, Centrar-se em aprender apenas para conseguir um prêmio pode resultar numa aprendizagem que não irá permanecer, sendo ineficaz, pois não res- ponde à necessidade de realização pessoal. Quando se estuda apenas para cumprir uma obrigação, para obter uma nota, esquece-se muito mais rápido do que quando se estuda a matéria porque se gosta (PILETTI; ROSSATO, 2011, p. 154). A aprendizagem se torna mecânica e essencialmente dependentes de uma ação de estímulos e respostas, tornando-a mecânica e dependente dos estímulos para ter uma resposta que deverá seguir algumas etapas: identificação do problema, questionamentos acerca dos problemas, hipóteses, escolha das hipóteses, verificação, generalização. O cérebro a utilizará ao identificar problemas futuros semelhantes. 20UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação CONSIDERAÇÕES FINAIS No decorrer dos estudos vamos observar outras teorias que embasam os proces- sos de desenvolvimento do conhecimento, todas essas teorias apresentam importantes compreensões e análises de como podem ser as ações nos processos de desenvolvimento da aprendizagem a favor do ser humano. Esperamos que no decorrer dos estudos você tenha compreendido, caro(a) alu- no(a), que as teorias que foram apresentadas nessa unidade definem que a aprendizagem ocorre por meio da aquisição de novos comportamentos, que são incorporados ao repertório individual de cada ser, capacita e habilita o indivíduo para adquirir novos comportamentos, e é por meio da aprendizagem que poderá modificar comportamentos anteriormente adqui- ridos. Contudo, é preciso que dê sequência em seus estudados e vá estabelecendo relações necessárias dos assuntos aqui abordados, o que irá contribuir para que você consiga atingir os objetivos propostos em sua formação educacional. 21UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação LEITURA COMPLEMENTAR “De que modo uma pessoa aprende? Como facilitar aprendizagens de importância? Quais os pressupostos teóricos envolvidos?” Rogers (1969) traz algumas sugestões em relação a estas questões, Rogers (1969, p. 157-163) e Rogers (1977, p. 159-164): 1. Os seres humanos têm uma potencialidade natural para aprender. As pessoas são curiosas e têm uma tendência natural e um desejo para descobrir, ampliar o conhecimento e a experiência. Essas características são facilmente observadas em disciplinas de ciências que utilizam a aprendizagem através da experimen- tação científica. Segundo Moreira (2011, op. cit.), esse primeiro princípio “[...] reflete a característica básica do enfoque rogeriano à educação: o aluno tem um desejo natural de aprender, e esta é uma tendência na qual se pode confiar”. 2. A aprendizagem significante ocorre quando a matéria de ensino é percebida pelo aluno como relevante para seus próprios objetivos. O aluno aprende de forma mais rápida quando percebe que um determinado conteúdo é relevante para atingir seus próprios objetivos pessoais (autorrealização). Rogers cita, nesse caso, o exemplo de dois estudantes de um curso de estatística: um deles desenvolvendo um projeto no qual necessita utilizar o conteúdo de determinada disciplina para essa finalidade, e outro aluno apenas assistindo às aulas, para obtenção de créditos. Não há dúvida quanto à diferença na aprendizagem nesse exemplo dos dois alunos. 3. A aprendizagem que envolve uma modificação da organização pessoal – na percepção de si mesmo – é ameaçadora e tende a suscitar resistência. Para a maioria das pessoas, parece que na medida que outros estão certos, elas estão erradas. Nesse caso, a aceitação de valores externos pode ser profundamente ameaçadora aos valores que a pessoa já tem, nascendo uma resistência a essa aprendizagem. 4. As aprendizagens que ameaçam o eu (self) são mais facilmente percebidas e assimiladas quando essas ameaças externas são minimizadas. Rogers ilustra esse princípio através do exemplo de um aluno com dificuldade em leitura, que, por isso, sente-se ameaçado e desajustado perante seus colegas. Quando é forçado a ler em voz alta na frente de toda turma, quando é ridicularizado, 22UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação quando recebe notas baixas, não progride nessa dificuldade. Ao contrário, se esse aluno estiver em um ambiente de apoio e compreensão, sem exposição ri- dicularizadora, sem avaliação por notas e, ao contrário, fizer sua autoavaliação, essas ameaças externas se reduzirão a um mínimo, fazendo-o progredir. 5. Quando é pequena a ameaça ao eu, pode-se perceber a experiência de maneira diferenciada. Quando o aluno se sente seguro e não ameaçado, a diferenciação crescente dos componentes da experiência e a assimilação dos seus significa- dos pode ser percebida e a aprendizagem pode prosseguir. 6. Grande parte da aprendizagem ocorre através da ação. Um dos meios mais efi- cazes de promover a aprendizagem consiste em colocar o aluno em confronto experiencial direto com problemas práticos – de natureza social, ética, pessoal ou filosófica – ou com problemas de pesquisa. Esse princípio descrito por Ro- gers é o fundamento da metodologia denominada atualmente de aprendizagem baseada na resolução de problemas ou simplesmente ABP. 7. A aprendizagem é facilitada quando o aluno participa responsavelmente do processo de aprendizagem. Quando o aluno escolhe suas próprias direções, descobre seus próprios recursos de aprendizagem, decide seu próprio curso de ação, ele se torna sujeito ativo desse processo, permitindo, inclusive, dominar e controlar de forma autônoma o progresso de seu conhecimento. Esse princípio descrito por Rogers é o fundamento das novas metodologias ativas de apren- dizagem. 8. A aprendizagem espontânea que envolve a pessoa do aprendiz como um todo – sentimentos e intelecto – é mais duradoura e abrangente. Esse princípio de Rogers menciona como uma descoberta de sua experiência em psicoterapia, quando a aprendizagem é mais eficaz se a pessoa se deixa envolver, totalmen- te, por si mesma. É uma aprendizagem completa, muito mais que cognitiva, mas também afetiva. 9. A independência, a criatividade e a autoconfiança são todas facilitadas quan- do a autocrítica e a autoavaliação são privilegiadas, em relação à avaliação realizada pelos outros. Se o objetivo é tornar o aluno criativo, independente e autoconfiante, não se deve permitir que as críticas e avaliações negativas de outros “sufoquem” essas metas. 10. A aprendizagem mais útil no mundo moderno é aquela do “aprender a aprender”, uma contínua abertura à experiência e à incorporação, dentro de si mesmo, 23UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação dos processos de mudança. Essa aprendizagem é uma das mais importantes dentro do contexto científico atual, de crescimento exponencial do conhecimen- to, em que o aluno deve estar em um processo de educação permanente e continuado, que de forma ideal deve estar presente também ao longo de toda a vida profissional desse indivíduo. Esses princípios descritos por Rogers se difundiram amplamente no campo educa- cional, e foram assimilados através de diversas metodologias de ensino e aprendizagem, muitas em plena utilização nos diasatuais, incluindo a aprendizagem centrada no aluno, a aprendizagem baseada em problemas (ABP), a aprendizagem experiencial, a autoapren- dizagem, a educação humanística, a aprendizagem reflexiva e as modalidades de apren- dizagem ativa (HEIM, 2012). Diversos modelos atuais de ensino por tutoria também foram desenvolvidos a partir do contexto da aprendizagem centrada no aluno e na aprendizagem baseada em problemas, apesar de muitos autores não mencionarem ou admitirem os pres- supostos de Rogers como o referencial teórico destas metodologias (HEIM, 2012). Fonte: Konopka (2015). 24UNIDADE I Comportamentalismo e as Relações com a Educação MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Teorias da Aprendizagem: um encontro entre os pensa- mentos filosóficos, pedagógicos e psicológicos Autor: Makeliny Oliveira Gomes Nogueira e Daniela Leal. Editora: InterSaberes Ano: 2015 Sinopse: A reunião de perspectivas da pedagogia, da psicologia e da filosofia contribui enormemente para o aprofundamento de discussões científicas que investigam o desenvolvimento humano e os diferentes mecanismos de aprendizagem. Assim, essa obra analisa como conhecimentos dessas três áreas podem nos aju- dar a solucionar os desafios que encontramos hoje nos sistemas educacionais, revelando aspectos fundamentais dos processos de ensino-aprendizagem. Junte-se a nós nesse estudo e dê início a sua própria investigação sobre caminhos que possam levar a processos educacionais mais eficazes e significativos. FILME/VÍDEO Título: Gênio Indomável Ano: 1997 Sinopse: O jovem Will Hunting, servente de uma universidade, revela-se um gênio em matemática. Com algumas passagens pela polícia, ele é obrigado a fazer terapia. O tratamento só começa a dar certo quando ele se identifica com o terapeuta Sean Maguire. Comentário: Nesse filme, o protagonista, interpretado por Matt Damon, é um rapaz com uma inteligência extraordinária, porém precisa da ajuda de um mentor comprometido para orientá-lo a explorar o seu potencial infinito. WEB Caro(a) aluno(a), vou sugerir a leitura do artigo Facilitar a apren- dizagem: ajudar aos alunos a aprender e a pensar. Vai auxiliar na compreensão da importância do desenvolvimento da aprendi- zagem, é um texto interessante que expõe as responsabilidades da escola, da família e do próprio educando na sua maneira de adquirir conhecimentos. Web: <http://www.scielo.br/pdf/pee/v6n2/v6n2a06.pdf> http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572002000200006&lang=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572002000200006&lang=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572002000200006&lang=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572002000200006&lang=pt 25 Plano de Estudo: • O construtivismo de Piaget; • O construtivismo de Vygotsky; • A teoria de ensino de Bruner; • O construtivismo de Ausubel, Vergnaud e Johnson-Laird. Objetivos de Aprendizagem: • Compreender as especificidades da psicologia cognitiva de Piaget; • Analisar os aspectos cognitivos por Vygotsky; • Compreender o comportamento humano na visão de Bruner; • Compreender como ocorrem os processos mentais. UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais Professora Mestre Sonia Maria de Campos 26UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), a aprendizagem é um processo fundamental para a vida humana, portanto se tornou alvo de preocupação da humanidade. Muitos cientistas pesquisaram, o estudo da subjetividade que vem organizando meios para tornar o processo de apren- dizagem mais eficiente. Aí reside a justificativa para a importância que se dá ao estudo da aprendizagem para a psicologia e para a educação. A natureza do ensino e da apren- dizagem está relacionada à maneira como planejamos nossa intervenção educacional e pedagógica, tanto do ponto vista da educação formal, quanto da educação não formal. Para tanto, esta unidade foi organizada tratando a educação nos aspectos do cons- trutivismo de Piaget, que aborda dos progressos cognitivos como uma capacidade maior de pensar de maneira abstrata, denominado pensamento operacional formal em que pode se alcançar a capacidade de compreender e lidar com conceitos abstratos, especular a respeito de possibilidades e alternativas e ainda raciocinar em termos hipotéticos. Do construtivismo de Vygotsky (1988), que entende que a prática educativa pos- sibilita e permite à criança aprendiz envolver-se nas atividades de forma independente, apesar de estar contando com a ajuda de outros. A teoria construtivista do ensino de Bruner (1990) entende ser possível ensinar qualquer assunto, de maneira coerente, a qualquer criança, em qualquer estágio de seu desenvolvimento. E no construtivismo de Ausubel (1963), que traz que, caso conseguíssemos separar um único fator como o mais relevante na aprendizagem cognitiva, ele destaca ser o que o aprendiz já sabe ou o conhecimento que está na estrutura cognitiva com clareza, estabili- dade e diferenciação; com isso, o ensino deveria reconhecer tal conhecimento, então, seria necessário averiguá-lo previamente. Vergnaud (1990) traz como referência a relevância do próprio conteúdo do conhecimento e faz uma análise conceitual do domínio do conhe- cimento do indivíduo. E para Johnson-Laird (1983) o modelo mental é uma representação que pode ser totalmente ou parcialmente analógica, e ainda parcialmente proposicional, que pode tanto ser distinta de uma imagem, mas relacionada a ela. Então, temos um desafio pela frente, convido você a segui-lo comigo. 27UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 1 O CONSTRUTIVISMO DE PIAGET Para entender a teoria de Piaget (1896 -1980), vamos iniciar observando o que traz em relação a sala de aula. Como bem sabemos, é um espaço que faz parte da escola, ou ainda, o local onde os sujeitos se reúnem para aprender. Porém, sabemos que a sala de aula é compreendida como espaço destinado à aprendizagem, mas não o único. O espaço da escola é constituído pelas mudanças sociais com fins próprios e es- pecíficos e, com isso, podemos notar que a escola, bem como os modos de ensinar, vem passando por mudanças no decorrer dos tempos e tomando “modelagens”. É por meio das diferentes “modelagens” da sala de aula e a relação com a percepção epistemológica que, para cada momento, se embasa na verdade do momento histórico. Com isso, a forma de entender a construção do conhecimento também precisa mudar. Pois se o conhecimento é compreendido a partir de uma perspectiva epistemológica empirista, o que podemos entender sendo uma réplica da realidade, ou “[...] que ele vem de fora, está na sociedade, os outros os possuem e nos transmitem, enquanto que nós nos limitamos a nos apoderar dele e incorporá-lo [...]” (DELVAL, 2007, p. 116), evidenciando, com isso, que a sala de aula, por ser um espaço de construção de conhecimentos e de trocas, precisa acompanhar as mudanças e estar aberta para compartilhar outros assuntos para que se alcance o desenvolvimento cognitivo do sujeito. Mas, se analisar que o “[...] conhecimento provém do sujeito e não pode vir da experiência. A própria capacidade de aprender não pode ser resultado de nossa experiên- cia. [...]” (DELVAL, 2007, p. 117), pode-se notar que se trata da epistemologia de cunho elitista, quando traz que a sala de aula é um espaço para aprender, não será a mesma 28UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais daquela defendida na epistemologia empírica. Isso ocorre pelo fato de o conhecimento partir de lugares pré-estabelecidos, já no empirismo o conhecimento está na experiência e no inatismo no próprio sujeito. Que Piaget (1998) defende, que é possível encontrar três direções epistemológicas. Uma delas, fiel as velhas tradições anglo-saxônicas, continua orientada para um associacionismo empirista,o que reduziria todo o conhecimento a uma aquisição exógena, a partir da experiência ou das exposições verbais ou audiovisuais dirigidas pelo adulto. A segunda se caracteriza por um retorno inesperado aos fatores de inatismo e maturação interna [...]; sendo assim, a educação se resumiria em grande parte no exercício de uma “razão” já pré formada de saída (PIAGET, 1998, p. 10). Até aqui, você já deve ter percebido, portanto, que a partir do que Piaget (1998) traz em relação às direções que as ações pedagógicas podem tomar vai depender da corrente epistemológica eleita, e ainda de como ocorre o entendimento psicológico do de- senvolvimento cognitivo que se manifesta como verdadeiro, mas que, tanto a epistemologia empírica e a inatista, por si só, não conseguem explicar todo o processo de conhecer realizado pelo sujeito cognoscente. A Epistemologia piagetiana entende que é preciso depositar importância na expe- riência para que ocorra o conhecimento, assim como dar oportunidade ao sujeito como parte fundamental para esse processo cognitivo acontecer. Podemos perceber a diferença entre o empirismo e o inatismo ao analisar a radicalidade e a força que designam à experiência, assim como para o sujeito do conhecimento, respectivamente. Vamos para a terceira direção epistemológica de Piaget (1998), sendo a sua própria epistemologia, que tem uma natureza construtivista. A terceira direção, que é decididamente a nossa (e que nos leva a atribuir os começos da linguagem às estruturas construídas pela inteligência sensorial preexistente), é de natureza construtivista, isto é, sem preformação exóge- na (empirismo) ou endógena (inatismo) por contínuas ultrapassagens das elaborações sucessivas, o que do ponto de vista pedagógico, leva incontes- tavelmente a dar toda ênfase às atividades que favoreçam a espontaneidade da criança (PIAGET, 1998, p. 11). SAIBA MAIS O conhecimento não inicia no sujeito, nem tão pouco no objeto, mas no resultado entre a interação do sujeito e objeto pela ação do sujeito, ou seja, é um ponto invisível aos olhos, mas seria como se estivesse em um intervalo entre a ação e objeto. É nesse ponto que ocorre a aprendizagem humana. Fonte: Piaget (1998). 29UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais Diante disso, pode-se notar que no entendimento epistemológico piagetiano o co- nhecimento é formado por meio de uma construção contínua, ou seja, ele não está pronto e acabado, nem no externo e nem no indivíduo do conhecimento. Mas depende sim de uma elaboração, que se faz uso de elementos endógenos (internos) e exógenos (externos) da pessoa. Para Piaget (1998), a aquisição do aprendizado acontece quando há um desequi- líbrio entre dois processos: o de assimilação e o de acomodação, definindo a acomodação como qualquer modificação ocorrida dentro de uma estrutura. A pessoa passa por estágios “[...] começa por uma reconstrução, em um novo plano, das estruturas elaboradas no curso do precedente, e esta reconstrução é necessária às construções ulteriores que ultrapassam o nível precedente [...]” (PIAGET, 2003, p. 172). Neste sentido, se algum sistema não corresponde às características de um objeto, ou seja, se há um desequilíbrio, é preciso modificar todo o esquema, a fim de que o equi- líbrio seja restaurado. Piaget (1998) organiza o desenvolvimento como um processo de estágios que são sucessivos, os quais são: Quadro 1 - Fases do Desenvolvimento da criança segundo Piaget Período Faixa etária aproximada Sensório Motor Nascimento até 1 ½ a 2 anos Pré-operatório De 2 anos a 7 anos Operatório concreto De 7 anos a 11 anos Operatório formal 11 anos a 15 anos Fonte: a autora. O período Sensório Motor é o estágio dos reflexos, refere-se aos primeiros dias de vida e vai aos dois anos de idade. É caracterizado pelo conhecimento da realidade por meio da exploração motora. Nessa fase, a criança utiliza dos órgãos sensoriais para explorar o mundo a sua volta, por isso é comum nesta fase morder, jogar e pegar objetos. [...] todas as suas ações são construídas a partir de reflexos inatos que vão se modificando e se diferenciando tornando-se mais complexos e maleáveis. Dentre as principais aquisições do período sensório-motor, destaca-se a noção do “eu” através do qual a criança diferencia o mundo externo do seu próprio corpo (PIAGET, 1998, p. 40). Para Piaget e Inhelder (2003), o bebê ainda não apresenta pensamento e a sua afetividade ainda não está ligada a representações, neste sentido, não sente necessidade de chamar as pessoas ou pedir certos objetos na ausência destes. Em resumo: 30UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais ● Essa fase é caracterizada pelo comportamento motor. ● A criança não pensa conceitualmente. ● Há grandes mudanças no decorrer desse período, iniciando com comportamen- tos que são reflexos e terminando com o desenvolvimento da fala. ● Inicia o desenvolvimento da afetividade. Um fato destacável nesse período é que a criança já consegue compreender que alguns objetos existem, mesmo que não estejam vendo. Miranda (1988, p. 27) destaca que [...] “a construção da realidade está subordinada à evolução da inteligência, que nessa etapa é caracterizada pela prática e corresponde desde os esquemas sensórios - motores mais elementares até o surgimento de esquemas simbólicos ou funções semióticas”. Sendo um dos fatos que fica bem perceptível no início da representação mental e passando para o período pré-operacional, e a atividade sensório-motora depende da atividade mental. O período pré-operatório corresponde às atividades que a criança desenvolve dos dois anos até sete anos de idade, é caracterizado pelas representações. Também chamado de inteligência verbal ou intuitiva, a criança nessa fase se vê em meio a um mundo de repre- sentações, ou seja, ela utiliza das representações, sejam elas símbolos, imagens, conceitos ou signos, como um substituto da realidade que não está presente. Nessa fase também há o enriquecimento da linguagem e o início da construção do raciocínio lógico, uma vez que ela consegue ver o mundo somente a partir da sua perspectiva (PIAGET; INHELDER, 2003). Segundo Oliveira (1997, p. 93), “o início do período ocorre com o aparecimento da função simbólica, que permite o uso das palavras de maneira simbólica, e termina quando a criança é capaz de organizar seu pensamento mediante operações concretas”. Coll et al. (2007, p. 144) apresentam algumas limitações do pensamento que são comuns nesta fase: 31UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais Quadro 2 - Limitações do pensamento no estágio pré-operatório Limitações do pensamento no estágio pré-operatório Aparência perceptiva / traços não ob- serváveis: A criança não realiza inferências a partir de propriedades não observáveis diretamente Centração / descentração O foco está em um só ponto de vista (o pró- prio) evitando outras possíveis dimensões Estados / transformações Não faz relação dos estados iniciais e finais de um processo Irreversibilidade / reversibilidade Não refaz mentalmente o processo seguido até voltar ao estágio inicial Raciocínio transdutivo / pensamento lógico Faz associações imediatas entre as coisas raciocinando do particular ao particular Fonte: Coll, Marchesi, Palacios e Cols (2004, p. 144). Atividades que a criança desenvolve dos sete aos onze anos de idade são vistas no período operatório concreto. É caracterizado pelo aparecimento do pensamento lógico, somente com conteúdo mais simples. No entanto, no decorrer do processo, a criança vai desenvolvendo processos que podem ser aplicados a problemas reais, ou seja, concretos (PIAGET; INHELDER, 2003). Nesse período a criança: ● Consegue resolver problemas com conservação e apresenta argumentos que justifiquem a resposta correta. ● Tomam decisões lógicas. ● Começa a sair do egocentrismo e apresenta a fala com a finalidade decomuni- cação. ● O raciocínio lógico é aplicado em situações concretas. Por fim, o período lógico formal corresponde às atividades que a criança-adoles- cente desenvolve dos onze aos quinze anos de idade, é caracterizado pelo período em que o pensamento lógico atinge a sua máxima expressão, ou seja, é aplicado de forma sistemática e coerente. O jovem ou adulto é capaz de raciocinar sobre todas as situações possíveis em situações hipotéticas ou reais (PIAGET; INHELDER, 2003). Do ponto de vista cognitivo o jovem ou adulto possui: ● Capacidade de realizar raciocínio lógico com situações hipotéticas e não so- mente reais. ● Busca hipóteses para explicar fatos observados. ● Pensa sobre os seus pensamentos e sentimentos como se fossem objetos. ● Raciocina além das observações. 32UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais Essas etapas não são pré-estabelecidas, sendo somente uma média de idade em que predominam determinadas construções de pensamento, mas pode ocorrer antes ou um pouco depois das idades descritas, os pais podem observar cada uma com características próprias, constituindo um determinado tipo de equilíbrio. Assim, a epistemologia piagetiana é de cunho construtivista por designar que o “[...] conhecimento se dá por um processo de interação radical entre o sujeito e o objeto, entre o indivíduo e a sociedade, entre o organismo e o meio” (BECKER, 2001, p. 36). Com isso, cada etapa do desenvolvimento da criança é importante para compreen- der os processos da aprendizagem. Dessa forma, cabe a todos os envolvidos em sua formação e entre eles os seus familiares a respeitar o processo de maturação de cada fase da criança, estimulando e oferecendo atividades que possibilita o desenvolvimento cognitivo. 33UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 2 CONSTRUTIVISMO DE VYGOTSKY Vygotsky (1998) defende que o processo de aprendizagem ocorre a partir de níveis de desenvolvimentos reais e potenciais, esse intervalo de níveis foi denominado como zona de desenvolvimento proximal. Podemos notar que entra em acordo com as etapas do desenvolvimento observadas por Piaget (1982). [...] a aprendizagem não é em si mesma desenvolvimento, mas uma correta organização da aprendizagem da criança conduz ao desenvolvimento men- tal, ativa todo um grupo de processos de desenvolvimento, e esta ativação não poderia produzir-se sem a aprendizagem. Por isso, a aprendizagem é um momento intrinsecamente necessário e universal para que se desenvolvam na criança essas características humanas não naturais, mas formadas histó- ricamente (VYGOTSKY, 1998, p. 47). Entretanto, para Vygotsky (1998), para gerar aprendizagem efetiva, podemos con- tar com o próprio movimento de aprender e acessar conhecimento. Sendo uma ação que deve ocorrer de fora para dentro, ou seja, do meio social para o indivíduo. REFLITA A pergunta que fazemos a você é: como podem ser convertidas no indivíduo as relações sociais em funções psicológicas? Fonte: a autora. 34UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais Para Vygotsky (1998), isso se dá por meio da mediação ou atividade mediada indi- reta. Ou seja, é pela mediação que o sujeito internaliza, e isso ocorre através da “reconstru- ção interna de uma operação externa, de atividades e comportamentos sócio-históricos e culturais” (GARTON, 1992, p. 89). Isso quer dizer que a conversão de relações sociais em funções mentais superiores não é direta, é mediada, mas para que isso ocorra, precisa do uso de instrumentos e signos. Outro aspecto a ser observado é que para que ocorra esse processo de interiori- zação, depende da mediação essencialmente humana e semiótica na qual a linguagem e, em particular, a palavra, é essencial. A palavra é o meio privilegiado, é o elemento, matéria comum entre locutor e interlocutor, “carregada de conteúdo ou de sentido ideológico, é uma espécie de molécula do pensamento verbal, i.e., da intersecção entre pensamento e fala” (TUNES, 2000, p. 38). A palavra está presente em todos os atos de compreensão e em todos os atos de interpretação. Todos os signos não verbais, embora não possam ser substituídos por palavras, “banham-se no discurso”, apoiam-se nas palavras e são acompanhados por elas... a palavra não é uma coisa que o indivíduo possui, mas é mediação, elemento móvel e mutável na dinâmica das intera- ções verbais (SMOLKA, 2000, p. 65). Para Vygotsky (1998), o desenvolvimento precisa da linguagem para ocorrer. O autor não refuta a ideia de Piaget, mas defende outra concepção evolutiva do ser humano. Pois, para Piaget (1982), a estruturação do organismo vem antes do desenvolvimento e, para Vygotsky (1998), é o próprio processo de aprendizagem que desenvolve as estruturas mentais superiores do indivíduo. Além da mediação, Vygotsky (1998) traz o signo, sendo algo que significa alguma coisa. Como os ícones nos computadores, são signos; as palavras são signos linguísticos. A linguagem é um sistema articulado de signos; a matemática também. Podemos notar, com isso, que vivemos em uma sociedade que constrói instrumentos e sistemas de signos; bem como são construídos ao longo dos tempos e modificam, mudam, são influenciados e influenciadores no desenvolvimento social e cultural. É por meio da apropriação dessas construções sócio-históricas e culturais, ao interagir no meio social, que o ser humano se desenvolve cognitivamente. E ainda, quanto mais interagir e utilizar variados signos e sistemas de signos, mais modifica as operações psicológicas que ele é capaz. Como também, quanto mais instrumentos o sujeito vai apren- dendo a manusear tanto mais se ampliam suas práticas e atividades nas quais pode aplicar as novas funções psicológicas. 35UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais E, assim, pode-se observar que o desenvolvimento das funções mentais superiores vai necessariamente por uma fase externa. Pois no desenvolvimento cognitivo de uma criança toda função aparece duas vezes. Figura 1 - Funções mentais superiores Fonte: a autora. Em que a criança primeiro vai se relacionar entre pessoas (interpessoal, interpsi- cológica) para só depois internalizar, dando-se no interior da própria criança (intrapessoal, intrapsicológica). SAIBA MAIS As funções mentais superiores são de origem das relações entre seres humanos. Fonte: Vygotsky (1988). Outro aspecto é a zona de desenvolvimento proximal que é especificada por Vygo- tsky (1988, p. 97) Como a distância entre o nível de desenvolvimento cognitivo real do indivíduo, tal como medido por sua capacidade de resolver problemas independente- mente, e o seu nível de desenvolvimento potencial, tal como me dido através da solução de problemas sob orientação de alguém (um adulto, no caso de uma criança) ou em colaboração com companheiros mais capazes. A zona de desenvolvimento proximal (ZDP) destaca as funções que ainda não amadureceram, mas que estão no processo de maturação. É meio ou medida do potencial de aprendizagem; representa a parte na qual o desenvolvimento cognitivo se estabelece e ocorre; é dinâmica e está sempre mudando. Sendo um dos pontos centrais da teoria vygostskyana, defendendo a ideia de formação do conhecimento no intervalo entre o co- 36UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais nhecimento real e o conhecimento potencial. Ou seja, a ZDP é o espaço existente entre o que o indivíduo já conhece e aquilo que ele tem potencialidade de aprender. A teoria Sócio-interacionista estuda o pensamento como produto da história social ou o resultado das atividades do indivíduo e das condições materiais, conhecidas como cultural e histórica. Vygotsky (1988) defende a aprendizagem como aspecto necessário e universal ligado ao processo de desenvolvimento das funções psicológicas humanas. 37UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 3 A TEORIADE ENSINO DE BRUNER Para a teoria Bruner, o que importa são os fatores intrínsecos, racionais do indiví- duo. Como ser humano racional, é que vai decidir o que deseja ou não aprender. Como também, “sem os signos externos, principalmente a linguagem, não seriam possíveis a internalização e a construção das funções superiores” (RUSSO, 2015, p. 72). Elaborada inicialmente por Dewey (1959) e seguido por Bruner, a teoria entende a aprendizagem como solução de problemas. Com isso, concebe que é por meio da solução dos problemas no dia a dia que os seres humanos se ajustam a seu ambiente. Do mesmo modo deve proceder no ambiente escolar, levando o pleno desenvolvimento do aluno para que consiga melhorar sua capacidade para resolver problemas do cotidiano, sendo [...] que a aprendizagem seja instigada através de problemas ou situações que procuram de uma forma intencional gerar dúvidas, desequilíbrios ou perturbações intelectuais. O método “dos problemas” valoriza experiências concretas e problematizadoras, com forte motivação prática e estímulo cog- nitivo para possibilitar escolhas e soluções criativas (PEREIRA et al., 2009, p. 158). Na teoria “a aprendizagem deve estar baseada na resolução de problemas” (HENZ; SANTOS; SIGNOR, 2018, p. 146), em que o aluno, quando tem a convicção que precisa entender o componente de Matemática, por verificar as necessidades que tem em suas vivências sociais, com isso, irá sentir prazer em aprender, considerando a sua utilidade. Defendendo que o indivíduo precisa aprender por ter isso intrínseco, e vai entender que a recompensa que terá está no seu exercício ou aprendizagem. 38UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais [...] O reforçamento externo pode, sem dúvida, conservar o desempenho de uma determinada ação e pode mesmo levar à sua repetição. Mas ele não nu- tre o longo curso da aprendizagem pelo qual o homem constrói lentamente, a seu próprio modo, um modelo útil do que o mundo é e do que ele pode ser (KLAUSMEIER, 1977, p. 259-260). Levando em consideração mais o desenvolvimento cognitivo do que a personalida- de, ou seja, as ações do indivíduo no seu ambiente e o processo cognitivo de experiências (TABILE; JACOMETO, 2017). Entende que o indivíduo vai aprender algo novo na medida que já tenha algum conhecimento prévio do que está por aprender. Diante disso, no am- biente escolar, o professor precisa valorizar os saberes do aluno acerca do assunto que será ensinado. Porém não pode deixar de auxiliar o aluno até que este consiga sistematizar e organizar os novos conhecimentos, fazendo associações com o seu conhecimento prévio. Mais do que preparação para a vida, a educação deve ser vida: permitir a cada sujeito, pela comunicação ética com os outros, adquirir e mobilizar um conjunto de hábitos e atitudes que lhe permitam viver condignamente (DEWEY, 1988, p. 57). Para o autor, o conhecimento não se acaba, é uma habilidade que o ser humano adquire, que leva a integração social, o crescimento intelectual e moral de cada um e do meio em que vive, de maneira racional e emocional entre o indivíduo, a sociedade e a educação. “A Educação é conseguida com as próprias experiências vividas inteligentemente. Simultáneamente vivemos, experimentamos e aprendemos.” (DEWEY,1964, p. 16). Diante disso, é por meio do conhecimento que o indivíduo terá consequências, experiências e crescimentos decorrentes de sua relação e trocas com outras pessoas que leva a construir o seu raciocínio, experiência e pensamento crítico. SAIBA MAIS Quando a educação é concebida em termos de experiência, uma consideração se des- taca em relação às demais. Tudo o que possa ser considerado como matéria de estudo, seja aritmética, história, geografia ou qualquer uma das ciências naturais, deve derivar de materiais que, originalmente, pertençam ao escopo da experiência da vida cotidiana. Nesse aspecto, as propostas educacionais mais atuais se diferenciam radicalmente dos processos pedagógicos que se iniciam a partir de fatos e verdades “que se encontram fora do âmbito das experiências vivenciadas pelos alunos e que, por isso, enfrentam o problema de ter que descobrir meios de relacioná-los com tais experiências” Fonte: Mendonça e Adaid (2018, p. 149). 39UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais A aprendizagem coincide com as maneiras que a pessoa resolve problemas, para isso, Dewey (1959) entende que é preciso que o sujeito capaz de provocar um tipo de inquirição que é o pensamento reflexivo, o qual se caracteriza “por um ativo, prolongado e cuidadoso exame de toda crença ou espécie hipotética de conhecimento” (DEWEY, 1959, p. 18), em que no processo de formação do pensamento a pessoa precisa passar por etapas de tratamento, que são: ter uma dúvida; noção de problema; esclarecimento do problema; seleção da hipótese mais provável; verificar a hipótese ou refletir; generalização, dar significado à resposta e crer. Para tanto, a teoria entende que o papel da escola para esse desenvolvimento no aluno de resoluções de problemas precisa ser compreendido e trabalhado respeitando as fases de aprendizagens de cada aluno, pois “a tendência a aprender-se com a própria vida e a tornar tais condições da vida que todos aprendam com o processo de viver, é o mais belo produto da eficiência escolar” (DEWEY, 1959, p. 55). Bruner (1976, p. 48) define quatro características principais de uma teoria de ensino Em primeiro lugar, deve apontar as experiências mais efetivas para implantar em um indivíduo a predisposição para a aprendizagem – aprendizagem em geral, ou qualquer caso particular dela... deve, em segundo lugar, especificar como deve ser estruturado um conjunto de conhecimentos, para melhor ser apreendido pelo estudante. A “estrutura ótima” será constituída de uma série de proposições da qual poderá decorrer um conjunto de conhecimentos de maiores dimensões, sendo característica a dependência da sua formulação para com o grau de adiantamento do campo particular do conhecimento... em terceiro lugar, uma teoria de ensino deverá citar qual a sequência mais eficiente para apresentar as matérias a serem estudadas. Se alguém quer ensinar a estrutura da teoria da Física Moderna, como deve fazê-lo?... deve, finalmente, uma teoria da instrução deter-se na natureza e na aplicação dos prêmios e punições, no processo de aprendizagem e ensino. Intuitivamente parece claro que, com o progresso da aprendizagem, chega-se a um ponto em que é melhor abster-se de premiações extrínsecas – como elogios do professor, em favor da recompensa intrínseca, inerente à solução de um problema complexo. Esse processo é uma espécie de rede que ocorre sempre, em que cada elemento é relevante ao próximo passo, que leva ao crescimento após passar por isso e vai desen- volvendo o seu modo de “Aprender a Aprender” (DEWEY, 1959, p. 48). 40UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais SAIBA MAIS “Uma amiga, ao visitar uma escola, recebeu um convite para examinar os alunos de geografia. Depois de olhar um pouco o livro, perguntou: - Suponha que você abra um buraco no chão e chegue a uma grande profundidade. Como seria o fundo do buraco? Seria mais quente ou mais frio que a superfície? Como ninguém na classe respondeu, a professora disse: - Eu estou certa de que eles sabem, mas você não perguntou corretamente. Vou ex- perimentar. Pegou então o livro e perguntou: - Em que condição está o interior do globo? Recebeu a imediata resposta de metade da classe: - O interior do globo está numa condição de fusão ígnea” Fonte: Mouly (1973, p. 310). O exemplo traz que a dificuldade dos alunos em responder a primeira indagação, devido ter somente memorizado a resposta, sem ter feito o real entendimento da unidade temática do componente de geografia. A mediação entre aprendizagem e o desenvolvimento acontecem do plano social para o individual.Os sujeitos mais experientes de uma cultura auxiliam os menos expe- rientes, o que se torna possível a apropriação das significações culturais e a construção de conhecimentos compartilhada, o que, de fato, se torna muito importante para a educação (TABILE; JACOMETO, 2017). 41UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais 4 O CONSTRUTIVISMO DE AUSUBEL, VERGNAUD E JOHNSON-LAIRD 4.1 A Teoria da Aprendizagem Significativa Aprendizagem significativa está ligada à teoria cognitiva, que visa descrever como ocorre o processo da compreensão, transformação, armazenamento e uso da informação na cognição. Aprendizagem é entendida como significativa quando um novo conhecimento leva o aprendente a obter significados por meio de ancoragem em aspectos importantes encontrados na estrutura cognitiva preexistente do indivíduo, podendo ser um conceito, ideia ou proposições. Ausubel (1918-2008) é quem compreendeu a teoria, defendendo a ideia de que o fator relevante que influencia o aprendizado é o conceito que o aluno já conhece. Não-arbitrariedade e substantividade são as características da aprendizagem significativa. Para Ausubel (1963, p. 58), “a aprendizagem significativa é o mecanismo humano, por excelência, para adquirir e armazenar a vasta quantidade de ideias e informa- ções representadas em qualquer campo de conhecimento”. [...] Não-arbitrariedade: significa que o conhecimento significativo se relacio- na de maneira não-arbitrária com o conhecimento já existente na estrutura cognitiva do aluno. E a Substantividade: significa que o que é incorporado à estrutura cognitiva é a substância do novo conhecimento, das novas ideias, não as palavras precisas usadas para expressá-las. Assim, uma aprendi- zagem significativa não pode depender do uso exclusivo de determinados signos em particular (AUSUBEL, 1963, p. 41). 42UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais Com isso, podemos compreender que a essência da aprendizagem significativa está no que ocorre com o relacionamento não-arbitrário e substantivo de conhecimentos relevantes da estrutura do sujeito, ou seja, a pessoa já possui algum conceito significativo em relação a nova informação para interagir. Diante disso, fica claro que, na perspectiva ausubeliana, o conhecimento já exis- tente, que é a estrutura cognitiva do aprendiz, é o ponto crucial para a aprendizagem sig- nificativa. E se caracteriza pela interação que ocorre entre conhecimentos prévios e novos de maneira acessível e livre. Levando os novos conhecimentos adquirem significado para o indivíduo e os conhecimentos prévios se transformam em novos significados ou maior estabilidade cognitiva. 4.2 O Construtivismo Gérard Vergnaud Discípulo de Piaget (1998), Vergnaud (1982) traz de uma forma mais redireciona do que a teoria piagetiana, em que destaca o funcionamento cognitivo do “sujeito-em-situação”. “Além disso, diferentemente de Piaget, toma como referência o próprio conteúdo do conhe- cimento e a análise conceitual do domínio desse conhecimento” (FRANCHI, 1999, p. 160). Vergnaud (1982) entende que Piaget (1998) contribui grandemente com sua teoria, principalmente quando destaca os conceitos de adaptação, desequilibração e reequilibração como princípio da investigação em didática das Ciências e da Matemática. Porém entende que o grande legado de Piaget (1998) é o conceito de esquema. Em que, esse conceito é fundamental para a construção da teoria de Vergnaud (1982), como também se embasou na teoria de Vygotsky (1998) em sua teoria dos campos conceituais. Vergnaud (1982, p. 40) toma como premissa que o “conhecimento está organizado em campos conceituais cujo domínio, por parte do sujeito, ocorre ao longo de um largo período de tempo, através de experiência, maturidade e aprendizagem”. Com isso, o campo conceitual é, para Vergnaud (1982), um conjunto informal e apresenta diferente estrutura de problemas, situações, conceitos, relações, estruturas, conteúdos e operações de pensamento, conectados uns aos outros e, provavelmente, entrelaçados durante o processo de aquisição. O domínio de um campo conceitual não ocorre em alguns meses, nem mesmo em alguns anos. Ao contrário, novos problemas e novas proprie- dades devem ser estudados ao longo de vários anos se quisermos que os alunos progressivamente os dominem. De nada serve tentar contornar as dificuldades conceituais; elas são superadas na medida em que são encontradas e enfrentadas, mas isso não ocorre de um só golpe (VERG- NAUD, 1983, p. 401). 43UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais Para tanto, não é uma teoria de ensino de conceitos explícitos e formalizados. Mas sim, uma teoria psicológica do processo de conceitualização da realidade que leva a localizar e estudar sequências e rupturas entre conhecimentos do ponto de vista de seu conteúdo conceitual. Vergnaud (1983, p. 393) define conceito como um tripleto de conjuntos C = (S, I, R), que são: S é um conjunto de situações que dão sentido ao conceito; I é um conjunto de invariantes (objetos, propriedades e relações) sobre os quais repousa a operacionalidade do conceito, ou o conjunto de invariantes operatórios associados ao conceito, ou, ainda, o conjunto de invariantes que podem ser reconhecidos e usados pelos sujeitos para analisar e dominar as situações do primeiro conjunto; R é um conjunto de representações simbólicas (lingua- gem natural, gráficos e diagramas, sentenças formais, etc.) que podem ser usadas para indicar e representar esses invariantes e, consequentemente, representar as situações e os procedimentos para lidar com elas. Figura 2 - Teoria psicológica do processo de conceitualização da realidade Fonte: a autora. Isso mostra que para compreender o desenvolvimento e uso de um conceito, no decorrer da aprendizagem ou de sua utilização, é preciso considerar esse tripé de modo simultâneo. Por outro lado, um conceito sozinho não se refere a uma situação ou uma única situação não pode ser analisada com um só conceito. Por tudo isso se faz necessário compreender os campos conceituais. 4.3 Modelos Mentais Johnson-Laird A teoria construtivista de Johnson-Laird (1983) propõe uma forma representacional que são os modelos mentais. Sendo o modelo mental uma maneira que pode ser totalmente sem o uso das tecnologias, ou parcialmente, e “parcialmente proposicional, que é distinta de uma imagem porém relacionada a ela” (EISENCK; KEANE, 1990, p. 235). 44UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais Figura 3 - Três tipos de construtos representacionais Fonte: Sternberg (2006, p. 255). Em que os modelos mentais e as imagens são representações das mais relevantes para compreender a cognição humana. Mesmo que, o processamento mental seja feito por meio de algum código proposicional, até para imagens e modelos mentais, pois, para compreender a cognição humana é importante analisar como o ser humano usa estas re- presentações de alto nível. Para isso Johnson-Laird (1983) compara as imagens e modelos mentais com as linguagens de programação de alto nível, como BASIC, PASCAL e outras. Quando a ferramenta computacional trabalha com zeros e uns e compreende linguagens de máquina, porém os programadores podem trabalhar sem dificuldades utilizando as linguagens de alto nível que podem ser traduzidas em linguagem de máquina quando compiladas. Pois, analogamente, as imagens e os modelos mentais permitem a cognição humana operar diretamente com algum código proposicional básico que traz à linguagem de máquina dos computadores. Para tanto, os modelos mentais são, ento, análogos estruturais do mundo. Em que os indivíduos entendem o mundo construindo modelos mentais (i.e., modelos de trabalho, modelos que predizem e explicam eventos) dele em suas mentes. Uma característica importante das proposições, na óptica de Johnson-Laird é que elas geralmentesão indeterminadas, tal como as representações linguísticas. A escolha da estrutura sintática das representações mentais proposicionais não está governada por nenhuma consideração lógica ou analógica (JOHNSON-LAIRD, 1987, p. 209). Com isso, compreender um evento é entender como ele é causado, o que resulta dele como provocá-lo, influenciá-lo, evitá-lo. Na linguagem de Johnson-Laird (1983), é ter um modelo de trabalho, um análogo estrutural mental, desse evento. 45UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao chegar até aqui, caro(a) aluno(a), espero que tenha compreendido que atual- mente as palavras de ordem são aprendizagem significativa, mudança de modelos de ensino centrado no aluno. O que foi explicitado, que para se ter um bom ensino é preciso ter um modelo construtivista, estar centrado no estudante, promover a mudança conceitual e facilitar a aprendizagem significativa. Para Piaget, não se deve enfatizar o conceito de aprendizagem. Mas sim o desen- volvimento cognitivo, não de aprendizagem. Ele defende um aumento de conhecimento, para que isso ocorra quando o esquema de assimilação sofre acomodação. Já para Vygotskyana, a aprendizagem humana depende da interação social, em que o indivíduo não tem que descobrir o que significam os signos ou como são usados os instrumentos. Ele precisa se apropriar dessas construções via interação social. Para Bruner, o papel da estrutura da matéria de ensino, suas relações e ideias são fundamentais. E ficou evidente que na perspectiva ausubeliana a estrutura cognitiva do aprendiz é a variável relevante para a aprendizagem significativa. Vergnaud (1998) define conceito como uma tríade de conjuntos C = (S, I, R), em que o primeiro conjunto (S = situações) é o conceito, o segundo (I = invariantes operatórios) é o que significa o conceito, o terceiro (R = representações simbólicas) é o significante. Para tanto, ao estudar o desenvolvimento e uso de um conceito, ao longo da aprendizagem ou de sua utilização, é preciso compreender esses três conjuntos ao mesmo tempo. E ainda, entender que um único conceito não se refere a um só tipo de situação e uma única situação não pode ser compreendida com um só conceito. E finalizamos com os conceitos de Johnson-Laird, que defende as representações proposicionais como cadeias de símbolos que correspondem à linguagem natural, modelos mentais são análogos estruturais do mundo e imagens são modelos vistos de um determi- nado ponto de vista. Que este estudo possa despertar a sua curiosidade em continuar pesquisando e enriquecendo suas aprendizagens em relação a teoria construtivista. 46UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais LEITURA COMPLEMENTAR Uma Concepção de Educação Quando falamos em método piagetiano, estamos nos referindo a uma abordagem de pesquisa e não a uma estratégia de trabalho pedagógico, como acabamos de ver. Se quisermos buscar alguma analogia nesse terreno, entretanto, não será difícil perceber que os procedimentos da pesquisa piagetiana inspiram atitudes em sala de aula bastante diferentes daquelas que seriam aprovadas por uma pedagogia tecnicista, voltada para a mensuração de resultados. Ao passo que o uso de testes psicológicos padronizados está mais de acordo com uma visão tecnicista da aprendizagem, a perspectiva piagetiana vai ao encontro de pro- cessos pedagógicos em que os alunos são tratados de acordo com suas particularidades cognitivas. O que está em causa não é o binômio acerto-erro nas atividades escolares, mas sim, o potencial dessas mesmas atividades para promover o progresso intelectual de cada um dos educandos. Mas é realmente no âmbito das teorias do conhecimento que se encontra a maior afinidade das ideias de Piaget com a educação escolar, mais precisamente com uma certa pedagogia. Seus conceitos epistemológicos fundamentam-se em concepções da esfera filosófica, originadas antes mesmo de sua época, que consistem em considerar o conhe- cimento como possível somente quando o Sujeito, aquele que irá conhecer, e o Objeto, aquilo que será conhecido, relacionam-se de uma determinada maneira: o Sujeito age sobre o Objeto. Nessa perspectiva, temos, primeiramente, a existência de algo que impulsiona o Sujeito Epistêmico em direção ao Objeto. Estando em níveis diferentes, como se houvesse um desequilíbrio entre eles, o Sujeito é naturalmente atraído pelo Objeto, como que para superar o desnível em que se encontram. O Objeto exerce pressão perturbadora sobre o Sujeito, contribuindo para fornecer-lhe motivação interna e criar seu envolvimento pessoal com o Objeto, do que resulta o impulso para a ação. Em segundo lugar, temos a atividade do Sujeito, que se traduz propriamente em atitudes de busca, desvendamento, pesquisa, enfim, ação sobre o Objeto a ser conhecido. Ao visualizar essa concepção epistemológica na sala de aula, compreendemos que o aluno deve ser despertado para a relevância daquilo que vai ser ensinado. Relevância 47UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais pessoal, imediata e não simplesmente formal. De nada adianta dizer a ele, como fazem muitos professores, que aquele assunto do currículo é importante porque será útil mais tarde. Se não houver vínculos desafiadores entre o indivíduo e a matéria de ensino, víncu- los que ativem a percepção do desnível existente entre o aprendiz e o conteúdo escolar, o educando não será impulsionado a estudar aquilo. Não havendo motivação, o aluno deixa de se posicionar de modo ativo diante da matéria. O mesmo acontece quando o professor privilegia a passividade da criança e a leva a manter-se quieta, apenas ouvindo, como se o mundo pudesse escoar para dentro de seu cérebro por meio da audição. Sem vontade e sem iniciativa para desvendar e descobrir, não há conhecimento. Observe-se que a esse último processo corresponde uma concepção epistemológi- ca em que o Objeto é inserido no Sujeito, como que depositado ou impresso em sua mente. O professor dita a matéria, o aluno faz exercícios de fixação do conteúdo e reproduz os tópicos solicitados na avaliação. O resultado disso não pode ser chamado de conhecimen- to, embora seja possível verificar objetivamente que o Sujeito tem o Objeto retido em sua memória – quando o estudante obtém uma boa nota na prova, por exemplo. Dizemos que esse outro processo não resulta em conhecimento porque ele não produz qualquer modificação no aprendiz. Para haver conhecimento, devemos conceber que o Sujeito atue para superar o desequilíbrio existente entre ele e o Objeto, isto é, para colocar-se no nível em que ainda não está. Por meio da ação que empreende para desvendar o Objeto, o Sujeito sofre mudanças internas, sai do estado atual – de menor conhecimento – e passa ao estado superior em que domina o Objeto. Essa mudança inter- na é conhecimento, algo que não pode ser assegurado pelo processo em que o Objeto é simplesmente depositado na mente do aluno. Essa concepção epistemológica aproxima as ideias de Piaget de todas as cor- rentes pedagógicas que enfatizam a atividade do educando e a estruturação de um am- biente escolar que corresponda às características pessoais do aluno – seus interesses, sua personalidade, seu conhecimento cotidiano. Historicamente, as pesquisas de Piaget vieram endossar os movimentos educacionais renovadores, contrários ao chamado ensino tradicional verbalista, impositor de restrições à participação do aluno, centrado no saber supremo do professor. Fonte: CUNHA (2008). 48UNIDADE II Entendendo o Construtivismo e os Processos Educacionais MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Cultura da Educação Autor: Jerome Bruner Editora: Edições 70 Sinopse: nesta época de mudança, em que a sociedade se inter- roga sobre qual o papel da escola, Jerome Bruner apresenta-nos uma notável obra sobre as possibilidades e os limites da educação;
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