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1 2 Sumário introdução ..............................................................................................................................................4 Psicanálise Teoria de Freud ....................................................................................................................6 O que acontece em uma sessão? .............................................................................................................8 Psicanálise Teoria de Lacan ...................................................................................................................9 O que acontece em uma sessão? ...........................................................................................................10 Psicanálise Teoria de Klein ...................................................................................................................11 O que esperar de uma sessão? ...............................................................................................................12 Psicanálise Teoria de Winnicott ..........................................................................................................13 O que esperar de uma sessão? ...............................................................................................................15 Psicologia Analítica Junguiana ............................................................................................................17 O que esperar de uma sessão? ...............................................................................................................20 Análise Bioenergética ............................................................................................................................21 O que acontece em uma sessão? ...........................................................................................................22 Logoterapia ..............................................................................................................................................23 O que esperar de uma sessão? ...............................................................................................................25 Psicodinâmica ..........................................................................................................................................26 O que esperar de uma sessão? ...............................................................................................................27 Behavorismo ............................................................................................................................................28 O que esperar de uma sessão? ...............................................................................................................30 Terapia Cognitiva Comportamental TCC ...........................................................................................31 O que esperar de uma sessão? ...............................................................................................................33 Gestalt-Terapia ........................................................................................................................................35 O que esperar de uma sessão? ...............................................................................................................37 Psicodrama ...............................................................................................................................................39 O que esperar de uma sessão? ...............................................................................................................41 Fenomenologia ........................................................................................................................................42 O que acontece em uma sessão? ...........................................................................................................43 Abordagem Centrada na Pessoa .........................................................................................................44 O que acontece em uma sessão? ...........................................................................................................46 3 As abordagens podem ser entendidas como a “lente” pela qual o psicólogo enxerga e analisa as questões discutidas nas sessões. Isso determina não só como será a relação entre profissional e paciente (cliente) nos encontros, mas também alguns detalhes do tratamento em si. 4 Buscar atendimento psicológico é uma deci- são difícil. Normalmente, a maioria das pesso- as não sabe como funciona, se é exatamente isso que precisa e, claro, há também toda a questão do preconceito e das dúvidas que es- tão envolvidas nos resultados. Porém, quem consegue compreender a situação e perceber que essa é a melhor opção, acaba se depa- rando com uma dúvida ainda mais complexa: qual psicólogo(a) deveria escolher? O universo da psicologia é muito amplo, e existem diversas abordagens e especialidades que podem, sim, fazer a diferença na hora de tratar de um ou outro determinado conjunto de sintomas ou fatores emocionais. Existem aqueles que lidarão melhor com traumas, ou- tros focados em família, os que direcionam seus estudos para a sexualidade e assim por diante. Há também o detalhe de que o próprio pa- ciente precisa entender a abordagem escolhi- da, saber com o que está lidando e como será direcionado o seu tratamento. Ou seja, é uma decisão extremamente complexa. Isso tudo seria muito mais fácil se as informa- ções a esse respeito estivessem simplesmen- te disponíveis de maneira acessível e com lin- guagem menos técnica, mas infelizmente não é o que acontece, e então muitas pessoas aca- bam tendo problemas para escolher os pro- fissionais com os quais farão suas consultas. Pensando nisso, a Vittude percebeu que era hora de trazer à tona esse assunto e juntar em um único material tudo o que você precisa saber para escolher o melhor psicólogo para sua jornada, seja ela focada em tratamento de transtornos, autoconhecimento, desenvol- vimento profissional, etc. Nasceu, então, este conteúdo que você está explorando agora! Aqui, você vai encontrar todos os detalhes que precisa conhecer a respeito desse univer- so das abordagens em psicologia para te aju- dar a decidir qual profissional combina com o seu momento. O material é extenso, mas além de estar di- vidido entre as abordagens, cada texto foi pensado para trazer os aspectos teóricos mais importantes, pareceres de um psicó- logo (a) que trabalha com aquela vertente e uma explicação sobre como serão as sessões. Vamos lá? introdução 5 Psicanálise e suas variantes 6 Sigmund Freud era médico, e é considerado o pai da psicanálise. Foi ele o idealizador da primeira escola vienense de psicoterapia. A abordagem de Freud envolve a relação entre os sofrimentos psíquicos e emoções reprimidas do passado que não foram esquecidas. Para ele, ao relembrar essas emoções e trazê-las para a consciência, os problemas seriam solucionados. A estrutura principal da psicanálise freudiana contém três pontos como formadores da psique humana, nomeadas como Teoria da Personalidade: ID - os desejos inatos da pessoa estão nessa parte. Aqui ficam as vontades mais primitivas, principalmente ligadas ao prazer e aos instintos. EGO - o ego surge da relação do ser humano com a sociedade e o ambiente em que vive. Ele “filtra” o ID e regula a realização de seus desejos impulsivos, reprimindo alguns deles. SUPEREGO - dita as regras e atua como uma diretriz para o Ego. Ele deixa claro para a pessoa o que não é socialmente aceito de acordo com os preceitos dela e aponta a ação do Ego sobre o ID. “Aquela pessoa que é mais pragmática, para quem tudo tem que ser da maneira correta, que às vezes acaba deixando de realizar seus próprios desejos para realizar os dos outros”, explica a psicóloga Laura Borges. “Nas primeiras sessões eu deixo o pa- ciente à vontade parame contar a his- tória dele. Gosto de saber como ele era enquanto criança, o relacionamento com os pais e os irmãos. Depois, nas pró- ximas, eu o deixo à vontade para falar sobre o que ele quiser, sempre deixando claro que ele pode falar o que achar ne- cessário, mesmo que não seja relevante. Depois de um certo tempo, a gente con- segue identificar a questão da transfe- rência, do quanto ele projeta a imagem de alguém importante para ele no psi- cólogo.” SIGMUND SCHLOMO FREUD Foi um médico neurologista e psiquiatra criador da psicanálise. Freud iniciou seus estudos pela utiliza- ção da técnica da hipnose no tratamento de pacientes com histeria, como forma de acesso aos seus conteúdos mentais. Ao observar a melhora dos pacientes tratados pelo médico francês Charcot, elaborou a hipótese de que a causa da histeria era psicológica, e não orgânica. Essa hipótese serviu de base para ou- tros conceitos desenvolvidos por Freud, como o do inconsciente. Psicanálise Teoria de Freud “ Vale Destacar Laura Borges CRP: 06/121033 7 OUTRO PONTO IMPORTANTE a ser considerado aqui, de acordo com a profissional, é a questão dos mecanismos de defesa — manifestações do Ego diante das requisições do ID e do Superego. Veja alguns deles: Recalque - quando você não exprime o que você sente, o conteúdo é recalcado e só é trazido à tona novamente através do inconsciente com sonhos e histórias do passado, entre outros. Pode ser um trabalho longo de análise até que isso seja solucionado. Sublimação - a sublimação tem relação direta com o recalque. Quando um sentimento recalcado não é analisado e o problema solucionado, você pode transferi-lo para outros objetos de desejo ou realizações. Segundo Freud, muitas descobertas da ciência só foram possíveis devido a ela. Deslocamento - você pode ter raiva de algo que viveu no passado (mesmo na infância), e isso é deslocado para objetos, como uma criança que sofre violência e acaba destruindo brinquedos. Projeção - você projeta algo seu em outra pessoa, na maioria das vezes um defeito. Ele é seu, e você o coloca em outros e desconta sua frustração neles, mesmo sendo algo puramente seu. Identificação - quando você identifica na outra pessoa aspectos positivos, e passa a entender as razões pelas quais você gosta daquele ser humano. Negação - você nega a realidade exterior e a “repõe” em sua mente usando uma outra realidade fictícia. Regressão - é quando o Ego recua para se esquivar de conflitos atuais, como na situação em que alguém adulto deixa de lado parte de sua maturidade e se torna alguém mais infantil, para evitar lidar com problemas mais complexos. Isolamento - a defesa típica de quem tem obsessões. Trata-se de isolar um único pensamento, sentimento ou comportamento e retirá-lo da relação com os outros, como se ele não tivesse ligação com mais nada na mente, excluindo completamente o restante. Formação reativa - você tem vontade de fazer algo, mas faz o exato oposto para se defender de possíveis reações nocivas. Assim, é possível encobrir alguns pontos que seriam inaceitáveis, mostrando- se totalmente contrário a eles. Psicanálise Teoria de Freud 8 UM DOS PONTOS PRINCIPAIS da psicanálise é que deve haver pou- ca intervenção do profissional nas sessões, para que você possa projetar seus pensamentos sem interrupção. É a ideia da associa- ção livre, que envolve o paciente falar o que quiser no momento, sem julgamentos. Como o próprio conceito aponta, aqui ocorre a “cura pela fala”, ou seja, a psicanálise não é tão foca- da em exercícios ou lições de casa práticas, e sim no trabalho de re- flexão que será promovido na sua mente após a exploração do inconsciente em diferentes ses- sões. Há também a interpretação dos sonhos. É importante apontar que, em- bora haja exceções, o tratamento por meio da abordagem é nor- malmente longo, então é uma boa ideia preparar-se para algo mais cadenciado, com pontos de grande virada durante o período das sessões. No caso de psicana- listas mais ortodoxos, podem ha- ver 4 ou 5 encontros por semana. Outro ponto da prática da psica- nálise é o divã, que pode ou não ser utilizado tanto no início quan- to durante o tratamento, se for recomendado pelo profissional. O objetivo do divã é retirar qual- quer tipo de julgamento ou sen- timentos contidos que poderiam surgir ao olhar para o rosto do psicólogo. Deitar-se e olhar so- mente para o teto permite que você entre profundamente em suas próprias reflexões e fale sem se preocupar, sem nenhuma au- tocrítica ou repressão. No caso da terapia online, para que isso seja feito, o profissional pode desligar a câmera. O que acontece em uma sessão? 9 “Para Lacan, a função da terapia é aju- dar a pessoa a reconhecer seu próprio desejo para que ela não fique colada ao que se deseja dela. É a questão da alienação, estar alienado ao desejo do outro (pai, parceiros, amigos) e o que elas representam. Ainda que a pessoa possa querer o que os outros desejam para ela, a ideia é que ela encontre um caminho singular, que reconheça por onde anda o desejo dela.” Jacques Lacan foi um psicanalista francês, e é o idealizador da chamada psicanálise lacaniana. A psicóloga Pietra Manzoli explica que sua teoria, apesar de buscar novas possibilidades dentro daquela criada por Freud, também propõe um retorno às colocações do pai da psicanálise: “Lacan faz isso de um jeito diferente. Ele estuda Freud, pensa Freud, mas faz isso junto com vários atores da Filosofia e da Linguística. Torna Freud mais palatável, deixando as ideias mais abertas.” O principal aspecto de compreensão da teoria de Lacan é a linguística. Para ele, se quisermos entender o ser humano, seu inconsciente e o psiquismo de modo geral, precisamos ter conhecimento de sua linguagem. Isso faz com que o psicanalista entenda que a representação de algo é mais importante do que aquilo enquanto figura. Um exemplo seria a mãe. Enquanto para Freud a mãe é uma figura, um ser que tem esse “nome” e tem ações específicas, para Lacan o que a mãe representa está acima disso. “Para Lacan, a “mãe” não seria a “mãe”, e sim algo de nutrição, alguém que cuida, está junto. Ou seja, pode ser uma coisa, um a pessoa ou uma instituição, como a universidade, que te dá todas as respostas e ensina o que você quer saber”, aponta Pietra. Segundo a psicóloga, Lacan pega aquilo que para Freud era muito pautado em pessoas e enredos específicos e abre para um contexto de linguagem, mais voltado para a cultura em si, principalmente devido às influências filosóficas. Outro conceito importante para a psicanálise lacaniana é o desejo. No caso, “desejar” não é simplesmente querer algo, pois também há o desejo inconsciente. Pietra conta que uma pessoa em terapia pode dizer que quer realmente algo, mas na verdade há um outro querer mais forte por trás. “Um paciente pode chegar dizendo que quer autoconhecimento, mas na verdade o desejo inconsciente dele é de entender a si mesmo para não precisar falar sobre algo que o incomoda com o psicólogo. É como se ele dissesse ‘não entre tão profundamente aqui’.” Pietra Manzoli CRM: 07/32261 “ Psicanálise Teoria de Lacan 10 UMA SESSÃO regida por uma abordagem lacaniana (que não necessariamente precisa ser fo- cada na psicanálise), envolverá muito a fala e o diálogo. Diferen- temente de Freud, o tratamento é menos rígido. Entende-se que, na tentativa de encontrar pala- vras para explicar o sofrimento de maneira verbal, ao menos você conseguirá ter noção da origem dele e possivelmente curá-lo no futuro. Segundo Pietra, um ponto claro da abordagem é a ideia de ver tudo que é falado como algo mais aberto, menos limitado e criando relações com o aspecto cultural e linguístico. “Penso na função que tal acontecimento ocupa na vida da pessoa. O signi- ficado, o porquê de aquilo estar ali e ser dessa maneira e a influ- ência dessa questão na forma de o paciente agir comigo.” Há, também, uma questão curio-sa que dependerá muito do pro- fissional. Lacan propõe uma vi- são lógica do tempo de sessão, deixando em segundo plano o tempo cronológico (físico) do relógio. Para ele, mais valiam as transformações, descobertas e questionamentos atingidos no encontro do que o que havia sido programado. Portanto, os psicólogos mais ortodoxos — principalmente orientados pela psicanálise, de acordo com Pietra— podem, em certos momentos, encerrar ses- sões antes do tempo estimado. O que acontece em uma sessão? 11 “Em uma análise Kleiniana não basta trabalhar os conteúdos reprimidos. É necessário analisar como são as posi- ções de cada sujeito. O paciente pode perceber que o mundo não funciona com uma divisão, e que é permitido ter sentimentos diferentes e complexos. Não adianta trabalhar os sintomas se não trabalhar os processos que causa- ram seu surgimento.” A teoria kleiniana da psicanálise foi idealizada pela psicanalista austríaca Melanie Klein, com base nos ensinamentos de Freud. Um de seus principais focos é o atendimento infantil, e ela é considerada a criadora da psicanálise de crianças. Klein identificou que há um mal-estar muito mais primitivo nos seres humanos do que aquele que Freud considerava. Para ela, tudo começava já no início da relação entre mãe e bebê. A fim de acessar esses pensamentos no inconsciente da criança, então, a psicanalista passou a utilizar brincadeiras e jogos, comparando-os às fantasias propostas pelo pai da psicanálise. Um dos principais conceitos da análise Kleiniana é a técnica do brincar. Ela consiste em considerar o ato de brincar da criança na sessão como o discurso dos adultos durante o diálogo, com um significado emocional equivalente aos sonhos deles. De acordo com a psicóloga Carolina Ortega, esse ramo descoberto dentro da psicanálise é de extrema importância para as primeiras fases do desenvolvimento. Klein afirmava que os primeiros estágios da vida eram muito importantes, ao contrário do que dizia Freud. Nos preceitos kleinianos, o bebê nasce com uma visão simplista da vida, entendendo bom e mau, com gratificação e frustração. “A partir da elaboração e superação desses sentimentos, tem início a posição depressiva, quando a criança compreende a complexidade de que bom e mau podem habitar o mesmo espaço. Dessa forma, a divisão do mundo vai sendo abrandada.” Essa percepção de que bom e mau existem em uma totalidade constitui alguns períodos normais do desenvolvimento da vida de qualquer ser humano, e estão presentes em toda a nossa história, já que não se alteram independentemente do contexto. Carolina Ortega CRP: 05/61465 “ Psicanálise Teoria de Klein 12 AS QUESTÕES EMOCIONAIS, na análise Kleiniana, são observa- das e analisadas a partir tanto da visão simplista da vida, tam- bém chamada de posição esqui- zoparanóide, quanto da posição depressiva. A partir do tratamento feito por meio da análise desses pontos na criança, há um equilíbrio por meio do qual é possível lidar com problemas como depres- são, esquizofrenia e neuroses. Esse equilíbrio não envolve evi- tar os conflitos, mas sim te en- tregar forças para lidar com as emoções mais dolorosas. “A análise Kleiniana convida as crianças a entenderem os seus conflitos emocionais, fortalecen- do-as para que você possa en- frentar suas próprias angústias”, explica Carolina. Um consultório focado nessa abordagem, na maioria das ve- zes, contará com brinquedos e materiais para desenho, escrita, pintura, recortes, entre outros. Tudo para oferecer à criança a possibilidade de liberar seus pensamentos e sentimentos de diferentes formas, incluindo a agressividade. Sendo assim, durante uma ses- são a criança irá realmente brin- car e dar asas à imaginação, ao olhar atento do profissional que analisará cada significado das ações propostas e realizadas pelo pequeno. O que esperar de uma sessão? 13 Donald Winnicott nasceu na Inglaterra, em 1896, e é o idealizador da teoria psicanalítica que leva seu nome. Sua primeira formação foi a pediatria, o que fez com que mais tarde ele se tornasse um analista de crianças e adultos. Muito do trabalho de Winnicott é pautado pela relação existente entre mãe e filho, mas a visão é diferente da freudiana, mais voltada à pluralidade de “presenças” que a progenitora pode ter na vida dos seus filhos, e em como o meio impacta esse relacionamento. Segundo a psicóloga Roberta Domingues, a teoria winnicottiana parte do pressuposto de que o ser humano nasce “desmontado”: “Ele diz que o ser humano nasce com um conjunto de pulsões e instintos desorganizados, mas com um potencial natural de solucionar isso. Quando tudo é integrado, ele tem condições de se ver como indivíduo no mundo e interagir com o meio externo.” Psicanálise Teoria de Winnicott “É uma teoria que olha para o ser hu- mano como uma forma desorganizada no início, mas também propõe que ele tem um potencial inato para o desen- volvimento, a integração de todos os aspectos que se iniciam desordenados. A maior preocupação é prover um am- biente propício para que essa integra- ção aconteça.” Roberta Domingues CRP: 06/100709 “ 14 Um dos principais conceitos que a teoria envolve é o do desenvolvimento emocional, que propõe uma compreensão de todo o amadurecimento do ser humano dividido em três etapas: Dependência absoluta: ocorre até os seis meses, quando o bebê ainda não tem nenhuma consciência de como obter o que precisa, mal consegue expressar as necessidades. É simbolizado pelo ato de a mãe segurar o bebê no colo, que mostra uma total identificação e entrega da progenitora ao seu filho ou filha. Dependência relativa: após os seis meses até aproximadamente dois anos, o bebê passa a depender somente de maneira parcial do ambiente e das pessoas à sua volta. Nesse estágio, já consegue expor o que quer e até mesmo conseguir sozinho o que deseja. É aí também que há um retorno da mãe às suas atividades comuns, sua própria vivência, o que segundo Winnicott pode gerar falhas no desenvolvimento do bebê. Isso é descrito como uma “desadaptação gradativa”, mas para isso o ambiente gerado pela mãe anteriormente tem que ser favorável a esse amadurecimento. Rumo à independência: quando passa dos dois anos, o bebê já pode enfrentar o mundo e seus aspectos mais tensos e complicados. O mundo da criança, que antes era somente pautado pela relação e pela pessoa da mãe, passa a incluir também a família, comunidade, amigos, o pai, entre outros. Para Winnicott, não existe o conceito de independência, pois se existisse, para atingi-lo, a pessoa precisaria ficar isolada a ponto de se sentir completamente invulnerável. Ou seja: se você está vivendo, ainda há dependência. “Winnicott afirma que a idade da pessoa não caminha junto do desenvolvimento emocional apontado por ele”, explica Roberta. Durante o tratamento, a ideia é entender em que fase do desenvolvimento o paciente está e, assim, localizar uma ou mais possíveis falhas no processo de amadurecimento, permitindo à própria pessoa o autodesenvolvimento. Psicanálise Teoria de Winnicott 15 UMA SESSÃO regida pela abor- dagem winnicottiana tem come- ço, meio e fim. É, como se espera da maioria das abordagens psi- canalíticas, um diálogo em que você falará mais do que o seu psicólogo. Entretanto, diferentemente do que vemos em Freud ou até mes- mo em Lacan, de acordo com Ro- berta, há uma relação proposta por Winnicott entre profissional e paciente que envolve algumas devolutivas: “Eu faço um apa- nhado do que entendemos e de onde ela chegou com o que foi trazido, e então pontuo algo. Nem sempre é questionamento. É como se fosse um resumo para que a gente possa pensar junto. É uma relação. A pessoa traz e eu devolvo.” No caso do tratamento de crian- ças, as sessões envolvem brinca- deiras e atividades. Porém, tudo deve partir de um movimento da própria criança. Diante disso, há outras ideias propostas para as sessões. Para osadultos, não há exercí- cios ou lições de casa propos- tos na teoria winnicottiana. O paciente fala livremente, mas existem questões como músi- cas, filmes, peças de teatro e ou- tras menções. Se você menciona algum ponto e demonstra que aquilo te tocou de certo modo e trouxe reflexões ou emoções, será trazido para a discussão. Outro detalhe importante é o meio à sua volta. Um barulho, por exemplo, ou qualquer im- previsto com o qual você se co- necte durante a consulta, será colocado na sessão e aprovei- tado na discussão. Tudo parte da observação e do que você, enquanto paciente, trará para o encontro. O que esperar de uma sessão? 16 te ajuda a encontrar a melhor abordagem para a sua personalidade Encontre um Psicólogo 17 “A gente tende a achar que a consciên- cia é a maior parte, mas não é. Somos mais inconscientes do que conscientes, embora a consciência goste de estar no controle, falar que está tudo bem. O inconsciente é quem vai trazer mais informações sobre o que a gente sente, o que a gente acha. Porém, nada é lite- ralizado, então tudo precisa ser inter- pretado dentro da terapia.” Psicologia Analítica Junguiana A psicologia analítica Junguiana é uma abordagem criada com base nos estudos e técnicas propostos pelo psiquiatra Carl Gustav Jung, um discípulo de Freud. Apesar de ser entendido por todos como o “herdeiro” da psicanálise, Jung passou a discordar de seu mestre principalmente ao compreender inconsciente e consciente como questões complementares e também entender a questão da energia psíquica de maneira diferente da proposta pela psicanálise. Em dado momento, a relação passou a ser insustentável e ambos seguiram caminhos diferentes. Assim, Jung criou a Psicologia Analítica. O psicólogo Giovane Oliveira explica que, enquanto Freud entendia que energia psíquica e libido eram sinônimos, seu discípulo compreendia essa ideia como algo mais pessoal: “Jung parte do princípio de que não temos somente a libido. Temos energia psíquica e ponto final. Onde ela será aplicada vai de pessoa para pessoa.” Giovane Oliveira CRP: 06/127584 “ 18 Psicologia Analítica Junguiana Autorregulação da psique Diante disso, há um conceito muito importante para a psicologia analítica, que é a autorregulação da psique. Pense que, se você pode utilizar a sua energia como deseja, e todo o extremo tem seu oposto (dias de tempestade, dias de muito sol, nervosismo, tranquilidade...), é necessário mensurar a quantidade de energia a ser dedicada para cada ponto, ou haverá uma regulação disso. “Imagine uma pessoa muito calma, que nunca tem motivos para se estressar e fica tranquila em qualquer momento. Um dia, a raiva dela vai aparecer e ela irá explodir, porque ela precisa usar esse extremo também. A raiva precisa de espaço, que nunca foi dado, e quando ela entra em cena, a pessoa estoura”, diz Giovane. “Quanto mais longe você está do outro extremo, com mais força ele aparecerá em algum momento.” Assim surge a ideia de equilíbrio. Imagine que cada extremo é um lado de um pêndulo. O equilíbrio não é tudo estar parado, e sim ter um espaço menor entre os extremos. “Quando você consegue caminhar de uma forma mais próxima entre os extremos, você consegue acessar as polaridades de todas as formas sem ter uma estafa psíquica, mental e física”, explica o psicólogo. 19 Compreensão simbólica Na psicologia analítica Junguiana nenhum sintoma é tratado somente pelo que é, mas sim pelo aspecto da vida ao qual pode estar relacionado, ao sentido. Isso é a compreensão simbólica. A questão é que nós, ao lidarmos com problemas, não mantemos tudo em um único campo da vida. O mais comum é que isso seja levado a outros aspectos, que nem sempre são parte do problema em si. “A disfunção erétil, por exemplo, pode estar diretamente ligada ao medo da paternidade ou à autocobrança excessiva no momento do sexo”, aponta Giovane. “Mais do que querer tirar o sintoma ‘a fórceps’, a gente tem que entender qual a função dele para trabalhar nisso na raiz. Se a gente só corta o sintoma, isso não tem sustentação a longo prazo, pois o paciente ainda não irá saber como lidar com isso.” Complexos Complexos, para Jung, são “aglomerados de emoções” que geram algum comportamento ou reação física. Por exemplo: suponha que o indivíduo tenha um complexo X que, quando ativado, faz com que ele fique com raiva. Esse complexo engloba todas as emoções (às quais Jung se refere como afetos) que fazem com que essa pessoa sinta raiva. “É como se fosse uma pasta de documentos, em que todas as experiências referentes a um tema estão guardadas. Se a gente passa por uma situação que ativa esse tema, ele irá mexer com a gente”, explica Giovane. Individuação A individuação é o conceito central da psicologia Junguiana. Trata-se de nos tornarmos “nós mesmos”, ou a melhor versão possível de nós em termos de bem- estar, e é a nossa principal missão enquanto pessoas, de acordo com Jung. Todos os processos explicados acima nos permitem “individuar”, segundo Giovane. “O processo de autorregulação da psique é uma maneira do corpo e da própria psique darem caminhos e pistas de onde precisamos ir para cumprir nosso processo pessoal de individuação”, expõe. Psicologia Analítica Junguiana 20 UMA SESSÃO de psicologia analítica Junguiana é muito ativa, com gran- de participação tanto do psicólogo quanto do paciente. Há casos em que o paciente falará mais, e outros em que o profissional fará isso, am- pliando os questionamentos. Embora tenhamos que tirar a abor- dagem junguiana do lugar excessi- vamente místico em que ela é mui- tas vezes colocada, a arte de modo geral (e principalmente sua inter- pretação) tem um grande espaço dentro do tratamento psicológico. Outro detalhe importante são, sem dúvida, os sonhos. Diante dessas questões, há alguns exercícios que podem ser aplica- dos. Entre os principais estão: imaginação ativa - orientado pelo pro- fissional, o paciente é convidado a visi- tar e compreender questões do incons- ciente por si próprio, como sua criança interior, outros traumas e questões a serem exploradas. Sandplay - quando o psicólogo ou psi- cóloga é especializado nessa técnica, o exercício visa gerar uma compreensão de questões da vida do paciente por meio da montagem de cenas com mi- niaturas dentro de uma caixa de areia. interpretação de sonhos - os sonhos, quando lembrados, devem ser trazi- dos para a sessão e serão interpre- tados com base no atual contexto de sua vida. “Jung entendia os sonhos como uma tentativa de integração do inconsciente com o consciente, e por isso analisá-los é uma maneira de trazer parte desse inconsciente para a terapia”, explica Giovane. análise da interpretação de movi- mentos e obras artísticas - tudo que é arte e toca, de alguma maneira, a vida ou as emoções de um paciente pode ser utilizado para interpretação duran- te a sessão. Seja uma música, um filme ou um desenho. Além disso, se você for um artis- ta ou gostar de se expressar des- sa maneira, levar seus trabalhos é uma boa maneira de expandir os horizontes dentro do tratamento. Segundo Giovane, entretanto, essa não é exatamente uma técnica do setting terapêutico da psicologia analítica Junguiana, mas ajuda a compreender o paciente e amplifi- car os sentidos. O que esperar de uma sessão? 21 “A ideia é partir da premissa de que há uma interligação entre a mente e o corpo. As questões que são trabalha- das na mente podem gerar alterações corporais, e no caso da Bioenergética, vice versa. Muitos terapeutas bioener- géticos trabalham um pouco com a fala e um pouco com o corpo. Você fala um pouco, e depois são feitos exercícios de Bioenergética que facilitam essa análi- se. A mente e o corpo devem conseguir acompanhar o mesmo processo.” Análise Bioenergética A Análise Bioenergética foi criada por Alexander Lowen com base nos preceitos da proposta reichiana, de Wilhelm Reich, quefoi aluno de Freud. É uma abordagem que, além dos fatores psíquicos, envolve também a observação do corpo e certos sinais físicos no tratamento. Isso não significa, entretanto, que você não irá conversar com o psicólogo. A linguagem verbal também faz parte do processo. Não é como a psicanálise Freudiana, por exemplo, em que o diálogo é o único fator determinante para o trabalho da psicoterapia. Lembra daquela famosa frase de que “o corpo fala”? Esse é o raciocínio. Tudo é observado. De acordo com a psicóloga Marina Haddad, é importante ter uma visão integral do paciente. Os olhares dele para o profissional e a relação disso com seus comportamentos, mudanças no corpo e na postura, entre outros sinais, como dores e tensões localizadas, direcionam muito a interpretação e vão além do tratamento feito somente pela fala. Um dos principais conceitos da abordagem é o grounding, que é basicamente a ideia de estar “enraizado”, com os pés no chão. Por isso, Lowen costumava fazer suas sessões com o paciente de pé, e é assim que é feito pela Bioenergética sempre que possível. Há também o grounding feito pelo olhar, que busca trazer a pessoa de volta para essa sensação de estar aterrado, conectado ao chão e a si mesmo. Marina Haddad CRP: 78/952 “ 22 NA PRÁTICA, tudo começa com a conversa (apesar de parecer con- traditório). Segundo Marina, o psi- cólogo deve entender as questões explicadas por parte do paciente para, então, relacionar seus com- portamentos e mudanças corporais a elas. Se ao falar você tensiona certa parte do corpo, ou olha de maneira dife- rente, o profissional pode relacio- nar esse sinal com o que você diz e começar a compreender como aquilo faz você se sentir. Aos pou- cos, então, o diálogo irá ressignificar certos detalhes e fazer com que es- sas tensões diminuam. O medo é um exemplo: quando você está com medo, pode ser que tente se curvar a fim de — segundo Lowen — “proteger sua alma”, como se usasse seu corpo de escudo. Isso pode ser observado pelo psicólogo como um sinal. Às vezes você pode ter medo de algo e nem saber! Tudo isso vale para outras emoções também, como excitação, alegria, tristeza, determinação e assim por diante. De repente você não tem nem ideia de que demonstra entu- siasmo com algo, e a Análise Bioe- nergética pode reconhecer isso e fazer com que você se conheça me- lhor. Existem exercícios ao longo do tra- tamento, que podem envolver a respiração (embora esse não seja o foco exato da Bioenergética), mas que têm o objetivo de transferir as energias usadas na racionalização de certas questões para outras par- tes do corpo, para que sejam libe- radas. Alguns envolvem “descontar” a rai- va ou a frustração em almofadas, gritos e outras formas de explosão. Entretanto, também há os mais tranquilos, como massagens (e au- tomassagens) e alongamentos. Po- dem ser feitos tanto durante a ses- são quanto em outros momentos. O que acontece em uma sessão? 23 “Ao invés de perguntar para os pacien- tes por que eles fizeram isso ou agiram daquela maneira, eu pergunto ‘para quê?’, que traz o sentido. Qual o intui- to dessa ação? Naturalmente isso traz uma reflexão, já que normalmente é muito fácil as pessoas responderem ‘porque sim’, ‘porque não’. Perguntar ‘para quê’ tira do automático e faz com que a pessoa pare, reflita e busque o sentido naquela ação. Ela traz muita reflexão.” Logoterapia “[...] Há muita sabedoria nas palavras de Nietzsche: ‘Quem tem um por que viver pode suportar quase qualquer como’”. Essa citação, retirada da obra de Viktor Frankl, neuropsiquiatra fundador da logoterapia, resume um pouco o que esperar da abordagem. Essa teoria compõe a terceira escola vienense de psicoterapia (a psicanalítica, de Freud, foi a primeira, e a dos Teóricos das Relações Objetais, de Melanie Klein, a segunda). O principal ponto trabalhado pela abordagem é a busca do sentido da vida. Segundo Frankl, uma vida precisa de sentido para ser vivida. A psicóloga Ana Silvia Rivani conta uma história presente nos escritos de Viktor, que diz que ele, ao ser preso em um campo de concentração (o psiquiatra era judeu), recebia todos os dias um pedaço de pão. Ao invés de comê-lo, ele o segurava e só comia no dia seguinte, após receber a outra porção. “Se ele comesse o pão, ele não teria mais nada, então ele deu um sentido para aquele pão”, explica ela. Ana Silvia Rivani CRP: 12/12483 “ 24 A logoterapia trabalha fundamentada em três conceitos: Liberdade de vontade - todos podemos ter vontade do que quisermos, independentemente de julgamentos ou da questão de certo ou errado. Vontade de sentido - para todos os desejos, se busca um sentido (ainda que ele tenha que ser descoberto), um propósito real para se entender “para quê” realizar tais vontades. Sentido da vida - a vida tem um sentido para cada um, que todos buscamos entender e atingir. Vivemos para isso. A psicóloga explica ainda que, para a logoterapia, todos somos seres biopsicosocionoéticos. A palavra assusta, mas ela tem significados mais simples: Bio - a parte biológica, o corpo físico Psico - os fatores psicológicos Socio - vivemos em sociedade Noéticos - ter fé em algo, ter um propósito, sentido Logoterapia Ela reforça que todos esses aspectos devem ser considerados no tratamento, porque se nós damos importância só para um ou dois deles, falta equilíbrio e ficamos mal. Todos merecem atenção. Outro ponto importante da reflexão de Viktor Frankl, segundo Ana, diz respeito à relação entre a circunstância e as escolhas de todos nós. “Ele dizia que tudo que fazemos são escolhas, que não somos produtos das circunstâncias.” Ou seja, se algo acontece e você age de tal maneira, não foi o acontecimento que gerou isso, mas sim uma escolha sua em agir assim. Você tem poder sobre essa decisão, tem responsabilidade. 25 UMA SESSÃO DE LOGOTERAPIA envolve principalmente o diálogo. É uma conversa dinâmica, em que você provavelmente falará mais do que seu psicólogo, mas ele também terá sua participação e irá direcionar o caminho para a solução dos problemas por meio de técnicas e alguns exercícios. Há dentro do diálogo uma técnica chamada de questionamento socráti- co, que segundo Frankl é a principal dentro da logoterapia. Em resumo, a ideia é o psicólogo fazer as perguntas para você estimulando uma refle- xão que virá de você. Ele fará você pensar com cada questão, para que no fim você por si só tra- ga uma visão a respeito do que foi discutido com uma maior propriedade e poder de escolha sobre sua própria vida. Ana gosta de se considerar uma “amiga qualificada” quando pensa em como as sessões transcorrem. “A gente realmente bate um papo, bem aberto.” Ela explica também que a logoterapia em si não tem tanta prática por parte do paciente, como as “lições de casa”, mas que ela busca trazer isso nas sessões para ajudar em pontos específicos, como foco e atenção, procrastinação, organização da produtividade e redução da ansiedade, com meditação guiada e mindfulness, por exemplo. O que esperar de uma sessão? 26 “A ideia é trazer à tona o que é descon- fortável, seja algo atual ou do passado. A linha de trabalho é a ‘cura pela fala’ — repetir, recordar e elaborar — con- siderando o inconsciente, como Freud. Utiliza-se durante a análise diversas formas de entendimento do pacien- te, como os mecanismos de defesa, a análise e interpretação dos sonhos. O objetivo é chegar na supressão dos sin- tomas.” Psicodinâmica Ava Valerie CRM: 06/146404 “A abordagem psicodinâmica pode ser considerada um conjunto de técnicas de abordagens focadas no trabalho relacionado ao inconsciente e às questões que não estão explícitas em nosso comportamento ou na fala, necessariamente. Podemos incluir aqui as psicanálises, a terapia junguiana e a psicoterapia com orientação analítica, não descartando aquelas que são mais breves. Há quem diga que, como “pai da psicanálise”, Freud também seria o precursor dapsicodinâmica, visto que esta é um conjunto de técnicas que se inicia com seus estudos, como explica a psicóloga Ava Valerie: “A base é a teoria psicanalítica, e então terão os seus desdobramentos. Um profissional será lacaniano, outro kleiniano, winnicottiano, e assim por diante.” A psicóloga ainda aponta que é necessário desmistificar um pouco a visão que se tem da psicanálise, já que na psicodinâmica há uma “evolução” das teorias ortodoxas de Freud, como uma menor utilização do divã e do número maior de sessões. 27 PENSANDO NO CONCEITO DA ASSOCIAÇÃO LIVRE, nas sessões você provavelmente falará mais, sobre tudo o que desejar e sem muitas intervenções ou impedimen- tos. Não há uma questão de importância. Tudo que você achar que precisa colocar na sessão é válido. Com isso, o psicólogo irá começar a entender aos poucos os principais problemas que fazem parte do seu dia a dia. “Pela fala vamos entendendo tudo, com uma escuta ana- lítica muito expressiva”, explica Ava, “Certas maneiras de falar de uma pessoa podem levar a conclusões precisas, como um abuso ou falta de conexão. Assim, vamos res- significando aquilo com o paciente.” Enquanto você expressa algo pela fala, você mes- mo reflete e elabora essas questões em sua men- te, e o psicólogo irá intervir quando necessário. “É uma construção. É como se fôssemos a tela projetiva do paciente, como se o paciente se visse através de mim durante o processo terapêutico.” O que esperar de uma sessão? 28 “Comportamento é relação. Há um exemplo incrível, que realmente nos faz entender: água é somente água. Se eu pego pedras, isoladas, também são só pedras. Agora, a relação da água que cai sobre as pedras, como uma cachoei- ra ou uma cascata, essa interação, isso é comportamento. É para isso que ire- mos olhar durante o tratamento.” Behavorismo Ana Luísa Suguihura CRP: 11/14034 “É importante entender que o Behaviorismo não é exatamente uma abordagem e nem exatamente um conjunto delas. Na verdade, trata-se de uma filosofia criada pelo psicólogo americano John B. Watson, e posteriormente repensada por Burrhus Frederic Skinner, outro autor e psicólogo dos Estados Unidos. Em resumo, o primeiro criou o chamado Behaviorismo clássico, enquanto o segundo é idealizador do que chamamos de Behaviorismo Radical (vem de raiz, que é a parte da planta que não pode ser observada), que foi criado em oposição ao inicial. Dessa vertente de pensamento surgem as abordagens psicológicas relacionadas ao comportamento, mas enquanto o que foi criado por Watson ignorava o mentalismo no que toca o modo humano de agir, as ideias de Skinner adicionam essas relações aos estudos. A análise do comportamento é apoiada pelo Behaviorismo Radical. Isso porque, enquanto abordagem, entende que os fatores psicológicos que influenciam as ações também são importantes. Mente e corpo são vistos como um só. A psicóloga Ana Luísa Suguihura explica: “Entendemos que comportamento é aquilo que é observável, o comportamento público, mas também aquilo que não é observável, que é o privado. Isso tudo pode ser acessado por meio da fala.” 29 Entende-se, aqui, o comportamento enquanto interação com o ambiente e outras pessoas. Isso influencia e modifica o ser humano, e vice-versa. “Na prática clínica, essa interação também é fundamental e é uma das nossas fontes de informação. Como a pessoa se coloca na relação com o profissional? Isso que ela traz, provavelmente é como aquilo se dá fora do atendimento psicológico”, diz a profissional. É uma teoria de aprendizagem, aponta Ana Luísa: “O paciente, quando vai aprendendo a ter esse olhar, fazer essas relações, ele começa a fazer as próprias análises, e isso o empodera, promove seu desenvolvimento. Um dos sinais da progressão do processo terapêutico, inclusive, é quando ele, ao trazer as questões, já expõe a análise dentro da sessão, e posteriormente fora dela.” Dentro dessa questão, a abordagem entende que ninguém nasce exatamente de um jeito, e sim aprende a ser de uma maneira ou de outra. Nesse âmbito, se o jeito de agir que foi aprendido não funciona mais, não traz mais aspectos bons da vida à tona, é possível aprender a ser diferente, buscando mais qualidade de vida. Behavorismo 30 ANA LUÍSA ESCLARECE a importância da participação do paciente: “O paciente é fundamental. Ele precisa ter um papel muito ativo nessa interação. A gente puxa muito isso. É uma prática muito conversada, dialogada, refletida, muitas perguntas são feitas para ajudar o psicólogo a entender como é essa relação en- tre indivíduo e ambiente.” Você pode esperar de uma sessão “behaviorista” uma conversa muito aberta e livre, em que você e o pro- fissional conversarão normalmente, sem o aspecto de livre associação visto na psicanálise. Um ponto importante é o fato de que, por ser rela- cionada ao comportamento, a abordagem é extrema- mente personalizável. Portanto, em termos de exercí- cios na sessão ou “lições de casa”, você só saberá o que esperar após os primeiros encontros com o psicólogo. A ideia é que, com a ajuda do psicólogo, você apren- da a se observar e entenda as raízes de seus compor- tamentos. O autoconhecimento é muito estimulado: “É uma ferramenta que transforma a gente, nossa qualidade de vida e o bem-estar, mas para o processo andar, é necessário o comprometimento.” O que esperar de uma sessão? 31 “A nossa forma de pensar e interpre- tar a realidade exerce uma influência direta sobre nossas emoções, e estas impactam sobre os nossos comporta- mentos. Para ajudar o paciente, es- timulamos sua percepção a respeito do contexto das situações vividas em seus relatos. Queremos saber o que ele sentiu em determinados momentos e quais emoções que surgiram, assim te- mos pistas para começar a investigar o pensamento dele por trás disso.” Terapia Cognitiva Comportamental TCC Rodrigo Romano CRP: 11/14034 “Fundada pelo neurologista e psiquiatra britânico Aaron Beck no início dos anos 60, a Terapia Cognitivo-Comportamental, conhecida popularmente como TCC, é um desdobramento de outra abordagem: o Behaviorismo. A TCC tem como principal linha de pensamento a relação entre a compreensão de certos acontecimentos por parte das pessoas e os comportamentos que derivam disso. Tudo é conectado a como o indivíduo interpreta a realidade. Há um conceito muito importante nessa abordagem, que é o Modelo Cognitivo. O psicólogo Rodrigo Romano explica que ele é composto pela sequência: situação - pensamentos - emoções -comportamentos. “Nossa forma de interpretar a realidade exerce uma influência direta em nossas emoções. De acordo com elas, então, a gente age.” Beck, fundador da TCC, faz referência a raízes filosóficas. Segundo ele, a abordagem está diretamente ligada ao estoicismo. “Para os estoicos, uma pessoa sábia não era vulnerável aos infortúnios, pois sabia controlar pela razão suas paixões e impulsos”, explica Rodrigo. 32 Terapia Cognitiva Comportamental TCC Um dos principais objetivos das técnicas propostas pela Terapia Cognitivo-Comportamental é provocar mudanças em padrões de pensamentos automáticos e disfuncionais. Um pensamento disfuncional é aquele que não necessariamente corresponde à realidade. É como se aquele evento, pessoa ou qualquer elemento passasse por uma “lente” interna do indivíduo e fosse distorcido, fazendo ele acreditar que o que ele pensa sobre aquilo é o que realmente aconteceu ou acontecerá. Pensar dessa maneira pode gerar, então, emoções e comportamentos igualmente automáticos e disfuncionais, seguindo o modelo cognitivo da abordagem. Outro conceito fundamental da TCC é o das crenças nucleares. Elas se formam de acordo com a história de vida de cada um e seu desenvolvimento pessoal. Podem ser positivas ou negativas, sendo que neste último caso, são rígidas e generalizantes. Rodrigo aponta que elas interferem diretamente na percepção de mundo dos indivíduos: “São os motivos pelos quais diferentes pessoaspodem ter interpretações diferentes de uma mesma situação, gerando pensamentos e comportamentos distintos.” Elas podem ser divididas em três categorias: Crenças de desamor: relacionadas a sentimentos de ser indesejado, incapaz de ser amado, sem atrativos e muita solidão. Crenças de desvalor: sentimentos de incapacidade, ineficiência, equívocos constantes, de ser defeituoso em algum sentido, fracassado. Crenças de desamparo: relacionadas a sentimentos de impotência, fragilidade, vulnerabilidade. Essas crenças, então, geram os chamados comportamentos de segurança, que têm como objetivo evitar algo que possa gerar fobia ou desconforto. Costumam ter um viés catastrófico, como “não vou entrar no chuveiro pois posso escorregar e quebrar uma perna”. O tratamento, então, avalia os pensamentos recorrentes e ajuda o paciente a buscar alternativas mais funcionais para lidar com suas emoções e seus comportamentos. Isso é chamado de reestruturação cognitiva. 33 A TCC BUSCARÁ, por meio do diálogo, entender suas crenças nu- cleares e trazer à tona seus pensamentos e comportamentos dis- funcionais. O comum é que seja um tratamento menos demorado e mais preciso, determinado. A ideia, segundo Rodrigo, é que quanto mais específico for o caso, mais eficiente e breve será o tratamento. A conversa irá estimular a reflexão por meio do questionamento socrático (o psicólogo faz perguntas e colocações com o objetivo de fazer com que você, enquanto paciente, reflita e chegue às suas pró- prias conclusões). Após certo tempo, as sessões ajudarão você a quebrar esse fluxo repetitivo de pensamentos e emoções. Com isso, é possível viver de maneira mais tranquila, produtiva, plena e feliz, tendo consciência das questões disfuncionais e mais autocontrole diante delas. “É importante lembrar o paciente que podemos criar nossos pró- prios problemas às vezes. Ele precisa se dar conta de que seus pen- samentos representam muito mais a sua compreensão da realidade do que a realidade em si”, aponta Rodrigo. Há, também, alguns exercícios comuns na abordagem: Questionamento socrático - tem o objetivo de fazer o paciente re- fletir a respeito do que está sendo dito por meio de questões colo- cadas pelo psicólogo na sessão. Não são perguntas com respostas, exatamente, e sim para gerar reflexão como: “O que você diria que estava passando em sua mente naquele momento?” O que esperar de uma sessão? 34 Cartão de enfrentamento - escrito e preenchido pelo paciente, deve conter alguma reflexão obtida após o questionamento socrático referente a algum pensamento disfuncional específico. Então, ao sentir que esse pensamento está voltando, a qual- quer momento do dia a dia, ele pode pegar e ler o que está ali para lidar melhor com aquela situação. Técnica do ACALME-SE - funciona para lidar com crises de ansiedade, e é estrutura- da por etapas: Aceite sua ansiedade Contemple à sua volta Aja em relação à ansiedade Libere o ar dos pulmões Mantenha os passos anteriores e repita Examine seus pensamentos Sorria, você está quase conseguindo Espere o futuro sem hesitar Técnica das setas: é uma técnica que ajuda a entender os medos subjacentes dos quais os pacientes não têm consciência. É como mergulhar até o fundo da crença partindo de um pensamento ou evento, a partir do qual são desenhadas setas que levam às implicações desses pensamentos ou eventos a partir dos questionamen- tos feitos pelo psicólogo. Exame de evidências: é uma técnica que permite examinar as evidências a favor e contra um pensamento negativo, com o objetivo de avaliar ambos os lados e com- pará-los, testando assim a validade de sua crença. Existem muitos outros exercícios e técnicas que não foram abordados aqui, mas que podem ser utilizados pelo psicólogo. Isso dependerá principalmente do profis- sional e de como caminhará seu tratamento. O que esperar de uma sessão? A C A L M E S E 35 “É uma abordagem humanista, ou seja, que acredita na capacidade do ser hu- mano de se autorregular, de desenvol- ver seu próprio potencial. É necessário que a pessoa se conecte com ela mes- ma e desenvolva algumas estratégias para lidar com suas situações, sejam do cotidiano ou de crises vivenciadas ante- riormente. O psicólogo traz isso para o presente e trabalha isso no agora, pro- porcionando uma nova vivência, sem deixar que o paciente esteja preso aos sentimentos do passado.” Gestalt-Terapia Helio Malka CRP: 05/44779 “A Gestalt-Terapia surgiu entre 1940 e 1950, e é uma união dos conceitos e estudos terapêuticos com a teoria geral da Gestalt. A ideia foi criada por sete intelectuais, com destaque para Fritz Pearls. Baseada no “aqui-agora”, a abordagem tenta permitir que as pessoas possam restaurar o contato com elas mesmas, os outros e o mundo. Ela acredita que todo ser humano tem capacidade de se auto realizar e desenvolver seu próprio potencial. Aqui, a pessoa é compreendida como uma totalidade, envolvendo ações, comportamentos, falas e sentimentos. Nos preceitos da abordagem, os aspectos físico, mental e espiritual são indivisíveis e estão relacionados, o que faz inclusive com que se assemelhe a uma terapia corporal, segundo o psicólogo Helio Malka, que aponta que a prática envolve um olhar holístico para o paciente. 36 Existem 6 conceitos propostos pela Gestalt-Terapia: 1. O todo e a parte: o todo sempre será maior do que a soma das partes, principalmente por sua complexidade e interpretação. A depressão, por exemplo, tem diversos sintomas (que seriam as partes), mas para quem sofre com ela, o transtorno (o todo) é muito mais do que isso. 2. Figura e fundo: tudo é importante, mas há uma questão prin- cipal (a figura) sempre terá um histórico ou algo que a apoia por trás (o fundo). Ambos devem ser analisados. 3. Aqui e agora: tudo deve ser trazido para o presente, deixando as queixas do passado de lado e focar em como elas influenciam o agora. 4. Autorregulação organísmica: com base no que o ser humano vivencia, ele mesmo vai se autorregulando e entendendo como reagir ou agir diante dos acontecimentos. 5. Awareness: em resumo, é a ideia de “dar-se conta” de si mes- mo. De acordo com Helio, é entender a sua própria existência e que só se existe no presente, que se renova a cada segundo. 6. Teoria de campo: como o ser humano se relaciona com as ou- tras pessoas e com o ambiente onde está inserido. Ninguém vive isolado do mundo. Somos seres sociais. Gestalt-Terapia 37 HELIO DIZ QUE UMA SESSÃO FEITA POR MEIO DA GESTALT-TERAPIA é bem dinâmica, com grande participação do psicólogo nos diálogos. A ideia é provocar você para que entenda como age e perceba certos aspectos, que de outra maneira não entenderia. Por exemplo: você realmente sabe porque fica nervoso ou estressado com alguma questão? Às vezes, uma provocação que joga essa raiva para você pode deixar claro que essa não é a melhor maneira de lidar com aquele acontecimento. A observação por parte do psicólogo envolve os movimentos, a maneira de olhar, a fala, como se dá a relação entre ele e o paciente, entre ou- tros aspectos. Por meio de perguntas e conversa, o profissional busca juntar informações para formular uma hipótese, que será testada nas sessões. Helio compara isso a um quebra-cabeça, em que cada novida- de é uma peça, e cabe ao psicólogo uni-las. Há alguns exercícios clássicos da Gestalt-Terapia: Exercício da cadeira “quente”, ou “vazia”: o psicólogo coloca uma cadeira vazia na sua frente, para que você possa interagir com al- guém que não está ali, mas faz parte do assunto discutido na sessão. Exercício da linha do tempo: o psicólogo pede para que você cons- trua uma linha do tempo do início de sua vida até hoje, e marque os pontos mais importantes. Exercícios textuais: é comum que o psicólogo te peça para escrever alguns textos ao longo das sessões, sobre temas específicos ou até mesmo cartas para certas pessoas. O que esperar de uma sessão? 38 Exercícios de vivência: o profissionaltraz uma questão do passado e faz com que você possa vivenciá-la de novo, para que tenha uma outra experiência e perceba isso de outra maneira, já que o tempo presente é diferente daquele em que tal acontecimento afetou sua vida. Por meio dessas novas vivências e dos diálogos, o psicólogo tentará aos poucos solucionar aquela questão do passado agora, no presente, para que seja possível passar para as próximas. A isso se dá o nome de “fe- char a Gestalt”. Helio aponta que, apesar de ser ótima para todos os tipos de proble- mas, a Gestalt Terapia é especialmente eficiente em casos de quem precisa de autoconhecimento com objetividade, para resolver pontos específicos. O que esperar de uma sessão? 39 “Dentro da teoria de papéis, há fases de tomada de papel, tudo analisando a criança e como ela se desenvolve. Pri- meiro é por imitação, ela imita tudo que vê, e depois vai criando seu próprio jeito. O saudável, pela leitura feita pelo psicodrama, é o momento em que o indivíduo consegue criar. É a potência máxima, quando ele passa pelas três fases: sabe o que quer, o que fazer e como se relacionar com o outro e pas- sa a ser criador, cria em cima do que aprendeu e passa a ter seu jeito próprio de ser no mundo.” Psicodrama Naiara Vitoy CRP: 06/149854 “Criada por Jacob Levy Moreno, um psicólogo, filósofo e dramaturgo romeno, o Psicodrama é uma abordagem que tem como principal foco a relação entre as pessoas. Um detalhe importante é que, na verdade, o Psicodrama em si é parte de um conceito maior criado por Moreno: a Socionomia (estudo das leis que regem os grupos humanos), mas com o tempo ambos passaram a ser citados como sinônimos. A psicóloga Naiara Vitoy reforça que a socionomia inclui três conceitos. Juntos, contemplam o estudo, a identificação e o tratamento das relações humanas: Sociodinâmica - envolve a dinâmica do grupo, principalmente como estão os vínculos entre os componentes. “Aqui estão inseridas as técnicas do psicodrama”, aponta Naiara. Sociometria - estudo da métrica social. Envolve uma pesquisa para entender como estão as relações dentro de determinados grupos, como os indivíduos se escolhem entre si e se as relações são recíprocas. Sociatria - diz respeito à transformação social, à terapia. É a parte que toca a questão do tratamento em si. 40 Diante das questões envolvendo os relacionamentos, naturalmente o Psicodrama foi criado inicialmente para terapia em grupo. Entretanto, depois passou a ser adaptado para a clínica individual, em uma situação na qual é avaliada a relação do paciente consigo mesmo. Segundo Naiara, é possível dividir o progresso do tratamento psicodramático em três fases: O indivíduo ainda não sabe ao certo o que deseja, o que sente. É como um bebê por volta de seus dois anos. “O mundo precisa ajudá-lo, como se a pessoa e o mundo fossem a mesma coisa, estivessem fundidos”, explica a psicóloga. Chamada de fase do espelho, o psicólogo se coloca no lugar do paciente para que ele se veja, como se o protagonista (paciente) fosse levado à plateia (sociedade) na posição de espectador (outras pessoas). “A pessoa tem essa fase de executar, de correr atrás, mas não necessariamente sabe o que quer”, diz Naiara. A ideia é que o afastamento de si mesmo leve o paciente a compreender como a sociedade o vê, e amplie o que ele conhece e entende a respeito de si. A fase da inversão de papéis é entendida como uma empatia. Conseguir ver o mundo com os olhares das outras pessoas. Cabe ao psicólogo diagnosticar e entender em qual fase dessas a pessoa está. Naiara deixa claro que não necessariamente o profissional irá explicar a questão da fase para o paciente, com termos específicos, mas é fundamental para o tratamento que o psicólogo saiba em que ponto o indivíduo que será tratado está. Psicodrama 41 O PSICODRAMA É UMA ABORDAGEM cujo tratamento funciona por meio de ações, representações para estimular a compreensão que você tem do mundo e de você. A ideia é trazer algo concreto, palpável. Por isso, além das conversas, espere uma sessão ativa, com exercícios, muitas dinâmicas e improviso: “Tem sessões que a gente sai até suado”, aponta Naiara. A psicóloga lista alguns exercícios comuns, que você provavelmente verá durante o tratamento com o psicodrama: Duplo ou espelho: o psicólogo reflete o que você fala, assim você pode se ver e entender como está agindo diante de certa situação. “Eu vou lá e maximizo aquilo tudo, para o paciente poder se ver mais diretamente.” Solilóquio: pensar em voz alta, dar voz para o que está passando pela sua cabeça. Átomo social: você representa as pessoas à sua volta com objetos, desenhos ou de outra maneira. Há também muita expressão e valorização de sentimentos reprimidos: “Se o paciente chega em uma sessão com raiva de algo ou alguém, a gente vai valorizar esse sentimento e dar liberdade de expressão, uti- lizando até mesmo alguns itens para representar aqueles elementos, humanos ou não.” Isso tudo acontece aos poucos ao longo da sessão, com exercícios de aquecimento (fase 1), respiração e trabalho com o corpo. Aí então ocor- re a dramatização (fase 2) e o compartilhamento (fase 3), quando há uma conversa sobre aquela representação proposta. Além disso, o psicólogo sempre avisará quando for fazer um exercício como esse, então nada acontecerá de repente. Naiara diz que sempre há uma explicação antes, seja para fazer um espelho ou qualquer outro tipo de atividade. O que esperar de uma sessão? 42 Fenomenologia A fenomenologia enquanto conceito não é, exatamente, uma abordagem. Na verdade, o termo se refere à corrente filosófica usada para sustentar a análise psicológica conhecida como psicologia-fenomenológica-existencial. Alguns de seus principais teóricos são Husserl (conhecido como o criador da fenomenologia), Jean-Paul Sartre, Kierkegaard e Martin Heidegger. Esses nomes podem até não significar muito para você nesse momento, mas é importante entender que essa abordagem é pontuada por conceitos filosóficos, pois isso será presente em seu tratamento. Uma das ideias principais aqui é que você, enquanto pessoa, está o tempo todo relacionada com o mundo à sua volta, partindo do pressuposto de que se algo acontece, é porque você tomou consciência disso. Um exemplo: uma mochila só é uma mochila porque você sabe que ela é aquele objeto. O mesmo acontece para fenômenos (e daí o nome da fenomenologia). Se há um acidente em algum lugar e ele não envolve pessoas, ninguém viu, ninguém ouviu, basicamente ele não existe, pois não está relacionado a nenhum ser. Outro conceito chave aqui é a chamada Epoché fenomenológica, que é o distanciamento do profissional de suas hipóteses e percepções para permitir que a única interpretação do fenômeno seja a do paciente. Um exemplo seria: você chega em uma sessão com muita preocupação a respeito de uma viagem que fará no dia seguinte. Por mais que seu psicólogo tenha as noções dele do porquê disso, ele deixará tudo de lado e irá buscar desdobrar aquele fenômeno para saber, por meio de perguntas, como ele traz esse tipo de sentimento para você e quais os possíveis sentidos daquilo. 43 “É uma perspectiva mais filosó- fica. Na fenomenologia a gente vê que não tem um modo de ser característico e único para todo mundo, é uma perspectiva mais de a pessoa dizer o que é a vida para ela e o psicólogo tentar ajudar dentro dessa perspecti- va. Por mais que a gente tente o tempo todo procurar coisas em comum e achar padrões, é meio frustrante. Ninguém vai ter uma experiência igual, ain- da que o fenômeno seja o mes- mo. A gente tenta tornar a vida da pessoa mais autêntica para ela mesma.” Ana Cecília Canário CRP: 17/4451 “Segundo a psicóloga Ana Cecília Canário, caso você vá fazer uma sessão com essa abordagem, o mais provável é que você fale mais do que ouvirá. Isso porque a ideia aqui é você explicar o que está sentindo e falar dos “fenômenos”, enquanto cabe ao psicólogo o distanciamento (epoché)e as perguntas. As perguntas, inclusive, são uma parte essencial na abordagem fenomenológica. É por meio delas que o profissional vai levar você a entender como aquela questão afeta sua vida e, então, você por si só começará a compreender melhor toda a situação dentro de sua existência. Sobre isso, ainda, Ana reforça que há um aspecto da teoria de Heidegger que é o fato de que vivemos na “Era da técnica”, em que precisamos ser produtivos o tempo todo, resolvendo tudo de maneira prática e direta, com o ser humano sendo visto como máquina. Ela explica que, se isso é seguido na terapia e o psicólogo simplesmente te explica como “não ser mais triste”, por exemplo, sem perguntar em momento algum o porquê de você estar sentindo isso, mostra uma posição que não está buscando o seu bem, e sim como você pode voltar a ser produtivo rapidamente. Normalmente, não há nas diretrizes da abordagem uma programação de exercícios específicos ou “lições de casa”, embora possam ser aplicados por alguns psicólogos. O processo terapêutico fenomenológico-existencial envolve um entendimento completo de quem você realmente é, descobrindo respostas. De acordo com a psicóloga, o objetivo é permitir que o paciente possa ter mais poder e fazer suas próprias escolhas com base naquilo que acredita, independentemente da noção de “isso é bom” ou “isso é ruim”. É realmente a questão de buscar ser totalmente quem você é, sem julgamentos, com seus desejos, anseios, vontades e concepções. O que acontece em uma sessão? 44 “O enfoque da nossa sessão é o acolhi- mento. A gente acolhe aquele ser hu- mano e tenta resolver aquilo por meio do diálogo. Tentamos deixá-lo cada vez mais autônomo, para escolher melhor seus caminhos e a melhor forma de li- dar com suas questões, para se tornar mais autêntico. Colocamos em primei- ro lugar como o ser humano vai se sen- tir e o que ele está precisando naquele momento. É uma terapia breve, em que o psicólogo caminha junto do paciente, para que ele se questione e tenha as decisões de sua vida em suas mãos.” Abordagem Centrada na Pessoa Alvianne Alves CRP: 03/008933 “ A Abordagem centrada na pessoa foi idealizada pelo psicólogo americano Carl Rogers. Ela trabalha com o cliente (como Rogers chamava seu paciente) para colocá-lo como o ponto central da sua própria história, e sua base são as correntes de pensamento humanista. A ideia do psicólogo foi criar um tipo de atendimento que permitisse total confiança e uma relação mais transparente entre profissional e paciente (ou cliente), para que a própria pessoa atendida pudesse encontrar soluções para seus problemas. A abordagem segue o conceito de que todo mundo, naturalmente, busca o crescimento e a atualização de si mesmo, para compreender suas vivências e o que elas simbolizam para os seres humanos. Segundo a psicóloga Alvianne Alves, por isso mesmo o mais comum é que o próprio cliente escolha os temas que irá tratar na sessão. Ela também reforça que não é uma terapia que irá caminhar ao lado do cliente durante todo o tempo. É algo mais direcionado para a questão a ser trabalhada, e caso seja necessário, outras poderão ser vistas futuramente. 45 Abordagem Centrada na Pessoa Há três pilares que se destacam na abordagem: Empatia: o profissional deve colocar-se no lugar da pessoa que atende, para avaliar as questões com mais proximidade e mostrar para o paciente que ele está sendo totalmente compreendido. Aceitação incondicional positiva: cabe ao psicólogo aceitar o cliente com todas as suas crenças, valores e percepções, sem julgamentos ou críticas a respeito de quem ele realmente é. Congruência: o psicólogo deve passar para o cliente o que experimenta internamente a respeito das questões trabalhadas, entregando a ele a possibilidade de refletir e ter conclusões a respeito de si mesmo. Aqui se trabalha com o preceito de que a solução dos problemas virá naturalmente. Ser verdadeiro e genuíno é o mais importante, sempre direcionando o cliente para que ele possa ter autonomia e todas as ferramentas necessárias a fim de escrever sua própria história e lidar com suas experiências. Segundo Alvianne, devido à naturalidade com que tudo ocorre, é comum que você, ao fazer o tratamento, em algum momento, sinta- se pronto para enfrentar os desafios da vida sem a necessidade do atendimento. Assim, você “dá alta” para si mesmo, às vezes até mesmo sem perceber que suas próprias reflexões trouxeram o resultado esperado. 46 UMA SESSÃO feita por meio da abordagem centrada na pessoa envolve, como a própria teoria aponta, uma conversa muito franca a respeito de questões específicas. Você vai falar para o psicólogo o que precisa tratar, no que precisa de ajuda, e ele vai te ajudar a entender como você pode lidar com isso em sua vida. Alvianne diz que o objetivo das sessões é provocar reflexão. “É comum que o cliente chegue em uma consulta e fale que ficou refletindo sobre o que falamos na outra semana até aquele momento.” Isso porque a própria abordagem trabalha dessa maneira: você, enquanto cliente, é questionado e direcionado para chegar às suas próprias conclusões. Há um ponto importante sobre como funciona o tratamento de certos transtornos. Como você é visto por inteiro, as questões físicas se aplicam. Ou seja, segundo a profissional, caso você tenha uma depressão profunda ou ansiedade patológica em níveis severos, o mais provável é que os sintomas físicos sejam tratados com a ajuda de medicamentos e o apoio de um psiquiatra,. Para a psicóloga, a melhor palavra para definir o objetivo da abordagem é a autonomia: “O próprio cliente me fala ‘Olha, já estou bem’, e se despede.” Ela explica que criar esse poder de decisão, de a pessoa saber quando está pronta para seguir a vida e se colocar no centro de tudo, é a maior intenção de todo o processo Rogeriano. O que acontece em uma sessão? 47 Agende sua primeira sessão! Acesse o nosso blog! Já sabe os detalhes do psicólogo ou psicóloga que você quer chamar de seu? Quer ver mais conteúdos como este e conhecer os outros materiais da Vittude? Obrigado por chegar até aqui. =) Esperamos que este material tenha te ajudado a entender um pouco mais sobre o uni- verso da psicologia e das principais abordagens. Agora, uma dica final. Tenha em mente que, apesar de esse conhecimento todo ajudar muito, há algo ain- da mais importante: o vínculo que você cria com o psicólogo ou a psicóloga que irá te atender. É essencial ter uma relação de confiança, conforto e total liberdade com o(a) profissio- nal durante todas as consultas, seja online ou presencialmente! Leve isso em conta, sempre, e busque aquele que combina com o seu momento. Não acertou de primeira? Continue sua busca, e se precisar de ajuda conte com a Vittude! Quero ver meu match agora! https://www.vittude.com.br/busca?age=&symptoms=&timezone= https://www.vittude.com/blog/ https://www.vittude.com/encontre-seu-psicologo 48 Curadoria de conteúdo: Tatiana Pimenta CEO / @Vittude Fábio Camilo Responsável técnico e revisor @Vittude Lucas De Vivo Redator / @Vittude Gustavo Alencar Designer Gráfico / @Vittude 49 /vittude
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