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FMU – FACULDADES METROPOLITAS UNIDAS CURSO DE DIRETO – DIREITO PROCESSUAL PENAL – FERNANDA FISCHER TURMA 003106A04 – 6º SEMESTRE - RA 1926288 – ATIVIDADE APS KARIN CHRISTINA DE CARVALHO PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO PENAL RESUMO O presente trabalho discute os princípios constitucionais que norteiam o processo penal e seus reflexos na construção de precedentes jurisprudenciais do STF, mais especificamente acerca do princípio da presunção de inocência e da prisão em 2ª instância. 1. INTRODUÇÃO A Constituição Federal é a Carta Magna brasileira, estatuto máximo de uma sociedade que vive de forma politicamente organizada. Todos os ramos do direito positivo só adquirem a plena eficácia quando compatíveis com os Princípios e Normas descritos na Constituição Federal. Com o direito penal e o direito processual penal não é diferente. Abordaremos valores constitucionais penais que norteiam a aplicação do Direito Penal como regulador do exercício do poder punitivo do Estado, sem, contudo, deixar de observar as garantias e direitos fundamentais do cidadão. 2. PRINCÍPIOS Antes de tudo é imprescindível esclarecer o que realmente significa princípio: o que são os princípios? Regras ou Normas? Qual sua influência como instrumento jurídico? Para que servem? A palavra princípio, em latim “principium”, significa origem, começo. Para José Afonso da Silva ² "os princípios são ordenações que irradiam e imantam os sistemas de normas". Complementando, Celso Antônio Bandeira de Melo³ diz que "o princípio exprime a noção de mandamento nuclear de um sistema". A Constituição Federal Brasileira, em seu art. 1º, caput, definiu o perfil político- constitucional do Brasil como o de um Estado Democrático de Direito. Trata-se do mais importante dispositivo da Carta de 1988, pois dele decorrem todos os princípios fundamentais de nosso Estado. Tendo em vista que a Constituição Federal é nossa lei suprema, toda a legislação infraconstitucional, portanto deverá absolver e obedecer tais princípios. 2.1 Os Princípios Constitucionais Penais De acordo com GOMES, Luiz Flávio. Direito Penal. 3ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006; os princípios constitucionais penais: “Acham-se ancorados no princípio-síntese do Estado Constitucional e Democrático de Direito, que é o da dignidade humana. A força imperativa do princípio da dignidade humana (CF, art. 1.º, III) é incontestável. Nenhuma ordem jurídica pode contrariá-lo. A dignidade humana, sem sombra de dúvida, é a base ou o alicerce de todos os demais princípios constitucionais penais. Qualquer violação a outro princípio afeta igualmente o da dignidade da pessoa humana. O homem (o ser humano) não é coisa, não é só cidadão, é antes de tudo, pessoa (dotada de direitos, sobretudo perante o poder punitivo do Estado)”. De forma análoga, PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 4ª ed., São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010; afirma em seus estudos que: “Tais princípios são considerados como diretivas básicas ou cardeais que regulam a matéria penal, sendo verdadeiros pressupostos técnico-jurídicos que configuram a natureza, as características, os fundamentos, a aplicação e a execução do Direito Penal. Constituem, portanto, os pilares sobre os quais assentam as instituições jurídico-penais: os delitos, as contravenções, as penas e as medidas de segurança, assim como os critérios que inspiram as exigências político-criminais”. 2.1.1 Princípios constitucionais do Processo Penal Expressos a) Princípio da ampla defesa: encontra-se positivado no art. 5º, LV da constituição federal e se trata de uma garantia tanto para o acusado quanto para defesa. Trata-se do direito de o cidadão acusado introduzir no processo, diretamente ou mediante atuação do seu procurador, todos os argumentos ou teses definitivas bem como os meios de prova admissíveis e uteis a defesa. b) Princípio da plenitude da defesa: exercida no Tribunal do Júri, onde poderão ser usados todos os meios de defesa possíveis para convencer os jurados, inclusive argumentos não jurídicos, tais como: sociológicos, políticos, religiosos, morais etc. Destarte, em respeito a este princípio, também será possível saber mais sobre a vida dos jurados, sua profissão, grau de escolaridade etc.; inquirir testemunhas em plenário, dentre outros; e tal fato não viola o princípio do contraditório. – art. 5º, XXXVIII, a da CF/88. c) Princípio do contraditório: consiste essencialmente no direito que todas as pessoas têm de poder expor seus argumentos e apresentar provas ao órgão encarregado de decidir antes que a decisão seja tomada. É o direito à manifestação. – art. 5º, LV da CRFB. d) Princípio do juiz natural: preleciona a utilização de regras objetivas de competência jurisdicional para garantir independência e a imparcialidade do órgão julgador.- art. 5º, incisos XXXVII e LIII. e) Princípio da publicidade: todos os atos do processo devem ser públicos, ou seja, acessíveis a todos que queiram ver (direito de informação), salvo os casos que a própria Carta Magna veda a publicidade - Art. 5 º, LX da CF/88. f) Princípio da proibição das provas ilícitas: são só admitidas provas obtidas por meios lícitos no processo penal, ou seja, é proibida prova adquirida por meios ilegais. – art. 5º, LVI da CF/88. g) Princípio da economia processual: O Estado deve assegurar a maior celeridade possível na realização dos atos processuais, a fim de economizar tempo às partes. O referido princípio esta preconizado, na Lei n. 9.099/95 no seu art. 62 – art. 5º, LXXVIII da CF/88. h) Princípio do devido processo legal: os processos devem se desenrolar de acordo com as regras da lei – art. 5º, LIV da CF/88. Ele é formado por vários princípios constitucionais, tais como a ampla defesa, o contraditório, juiz natural, promotor natural. i) Princípio da intranscedência: por este princípio, a pena não poderá passar da pessoa do réu, ou seja, da pessoa que foi atribuída à prática delituosa. Art. 5°, XLV da CF/88 j) Princípio da não autoincriminação – ninguém estará obrigado a produzir prova contra si – art. 5º, LXIII da CF/88. k) Princípio da motivação das decisões judiciais – Toda decisão dos juízes e tribunais deverão ser motivadas, sob pena de nulidade absoluta – art. 93, IX da CF/88 2.1.2 Princípios constitucionais do Processo Penal Implícitos a) Princípio do duplo grau de jurisdição: é assegurada a parte de um processo, o direito de uma nova análise da causa, por intermédio de um recurso, a ser analisado por uma categoria de jurisdição mais alta. – art. 8, 2, h do Pacto de São Jose da Costa Rica- decreto 678/92. b) Princípio favor rei ou favor libertatis (in dubio pro reo): sempre que o juiz tiver dúvida razoável se condena ou não o réu (culpado ou inocente), deve absolver o acusado. c) Princípio da iniciativa das partes: a jurisdição é inerte, logo o juiz não pode iniciar a ação sem a provocação das partes. d) Princípio da Oficialidade: cabe ao Estado a função precípua e obrigatória em se verificar a existência de um delito, e por via de consequência a correta aplicação da punição cabível. O MP é um órgão criado para promover a ação penal pública e fiscalizar a aplicação da lei, já a polícia judiciária (investigar – art. 144, § 1º, I, II, IV, § 4º da CRFB), Poder Judiciário (deve julgar – aplicação do direito ao caso concreto). e) Princípio do promotor natural: o réu tem o direito de ser acusado por Promotor ou Procurador imparcial, que deve zelar pela aplicação correta da lei, designados pela lei. f) Princípio da verdade real: o magistrado, por força deste princípio, tem o dever de buscar a verdadeira história ocorrida (a realidade dos fatos). g) Princípio do impulso oficial: o juiz deve sempre darmovimento à ação penal (depois iniciada pelos titulares da ação penal - MP e ofendido) até o seu término, nunca permitindo que ela pare de forma ilegal ou gratuita. h) Princípio da comunhão da prova: a prova não é de ninguém, a prova pertence somente ao processo, mesmo que produzida por um a das partes, todos podem se valer da mesma para a busca da verdade real. 3. Princípio da presunção de inocência e a Prisão em 2ª Instância O princípio do Estado de Inocência, também conhecido como Presunção de Inocência, ou Presunção da não culpabilidade trata-se de princípio expresso em nossa Constituição e é consagrado por diversos diplomas internacionais. A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 em seu artigo XI, 1, dispõe: “Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa”. A Convenção Americana Sobre os Direitos Humanos, conhecida como Pacto de San José da Costa Rica, em seu artigo 8º, 2, diz: “Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa”, O princípio da presunção de inocência ou presunção da não culpabilidade foi positivado no Direito Brasileiro com a Constituição de 1988 no inciso LVII do artigo 5º diz que: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”, Notamos que a CFB trouxe uma ampliação ao direito da não culpabilidade, pois o garante até o transito em julgado da sentença penal, e não apenas até quando se comprove a culpa do acusado, como posto na Declaração Universal e no Pacto de San José da Costa Rica. Tal direito garante ao acusado todos os meios cabíveis para a sua defesa (ampla defesa), não sendo declarado culpado enquanto o processo penal não resultar em sentença que declare sua culpabilidade, e até que essa sentença transite em julgado, o que assegura ao acusado o direito de recorrer. Nas palavras de Renato Brasileiro de Lima, em sua obra Manual de Processo Penal, volume 1 o princípio da Presunção de Inocência: "Consiste no direito de não ser declarado culpado senão mediante sentença transitada em julgado, ao término do devido processo legal, em que o acusado tenha se utilizado de todos os meios de prova pertinentes para sua defesa (ampla defesa) e para a destruição da credibilidade das provas apresentadas pela acusação (contraditório)". Por óbvio incumbe à parte acusadora o dever de comprovar a culpabilidade do acusado, não deixando ensejar nenhuma dúvida quanto a ela, então diz-se que não se prova a inocência, mas a culpa. Em caso de não haver certeza da culpa do acusado não deverá o juiz incriminá-lo.. Para Renato Brasileiro: "Não havendo certeza, mas dúvida sobre os fatos em discussão em juízo, inegavelmente é preferível a absolvição de um culpado à condenação de um inocente, pois, em juízo de ponderação, o primeiro erro acaba sendo menos grave que o segundo." O acusador deverá comprovar a existência de todos os fatos que alegar, respeitando o devido processo legal. O princípio do in dubio pro reo é um princípio fundamental em direito penal que prevê o benefício da dúvida em favor do réu, isto é, em caso de dúvida razoável quanto à culpabilidade do acusado, nasce em favor deste, a presunção de inocência, uma vez que a culpa penal deve restar plenamente comprovada. Do princípio da presunção de não culpabilidade, obtemos que o réu ou indiciado, em regra, responde ao processo penal em liberdade. A prisão preventiva se dá em caráter de excepcionalidade, tendo que obedecer aos requisitos do artigo 312 do CPP, quais sejam: "A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria. Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares." Justo por isso compete ao órgão acusador (e somente a ele) demonstrar a veracidade dos fatos alegados na denúncia/queixa, isto é, o cometimento de uma infração penal punível (crime ou contravenção) com todos os seus elementos essenciais e acidentais. Mais concretamente: é dever seu provar que houve um crime (v.g., um homicídio, não um suicídio), praticado dolosamente, e não por imprudência, que não concorreram excludentes de tipicidade, de ilicitude, de culpabilidade (erro de tipo, legítima defesa, erro de proibição inevitável etc.) ou causas extintivas de punibilidade (prescrição etc.). Além de fazer prova da prática de um delito, deve também provar eventuais circunstâncias qualificadoras, causas de aumento de pena e agravantes (v.g., emprego de veneno, motivo fútil ou torpe, reincidência etc.). Se houver dúvida razoável quanto aos fatos, ao direito ou quanto às circunstâncias, deverá favorecer o imputado. O princípio in dubio pro reo vale, pois, para as questões fáticas e jurídicas, para os temas principais e acessórios. Assim, não cabe ao acusado provar o seu álibi (embora recomendável que o faça), nem demonstrar a presença de causas de justificação (legítima defesa etc.). Mas isso não quer dizer que a defesa deva se limitar a fazer alegações sem se preocupar com a prova e a verossimilhança de suas teses, seja em razão dos riscos inerentes a tal postura, seja em virtude da possibilidade de anulação do processo por ausência de defesa. De acordo com a Súmula 444 do STJ, é vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base. Não é possível, por isso, aumentar-se a pena a pretexto de o condenado responder a inquéritos, a ações penais ou já ter contra si outras condenações (não transitadas em julgado), sob pena de violação ao princípio da presunção de inocência, independentemente do nome que se dê à circunstância judicial (personalidade voltada para o crime, maus antecedentes, má conduta social etc.). Apesar disso, há precedentes do próprio STJ contra a aplicação da causa de redução de pena do art. 33, §4°, da Lei n° 11.343/2006, que exige primariedade e bons antecedentes, se o agente responder a inquéritos ou a processos. A contradição é evidente, já que, se não há maus antecedentes para fins de majorar a pena-base, tampouco haverá para efeito de negar o privilégio da referida lei de drogas (redução de 1/6 a 2/3). Num e noutro caso, o fundamento para impedir a valoração contra o réu é precisamente o mesmo: violação ao princípio da presunção de inocência. O princípio é aplicável também à execução penal, já que sempre que houver dúvida, por exemplo, sobre se o condenado praticou ou não falta grave, se tem ou não direito à progressão de regime, se violou ou não as regras do livramento condicional, tal contará em seu favor. Quanto à revisão criminal (CPP, art. 621), cabe ao condenado fazer prova das alegações que autorizariam a rescisão da coisa julgada. Mas, ao contrário do que pretende parte da doutrina, havendo dúvida razoável sobre a legitimidade da condenação, é possível desconstituí-la. Assim, por exemplo, se o autor da revisão alega inocência e as novas provas produzidas instalam dúvida razoável sobre a plausibilidade da condenação, é justo anulá-la. Afinal, não seria razoável manter uma condenação que possivelmente encerra um erro judiciário. 4. O posicionamento do Supremo Tribunal Federal 5. Desde 2009 o STF vinha se posicionando no sentido de ser vedada a execução antecipada da pena, mas, em decisão no julgamento do Habeas Corpus 126292/SP, fixou o entendimento de que a execução da sentença penal condenatória após a confirmação da sentençaem segundo grau não ofende a presunção de inocência, mesmo pendente o julgamento de recursos constitucionais. O entendimento foi totalmente modificado quando, em 2009, ao julgar os HC 84.078 e 83.868, de relatoria do Ministro Eros Grau, o Supremo Tribunal Federal concluiu que, antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, a execução da pena seria atentatória ao princípio da presunção de inocência (Gilmar Mendes - 2015). A ementa do acórdão é bastante extensa, razão pela qual serão recortados apenas trechos essenciais para a compreensão ora pretendida. Nesse sentido, o núcleo da decisão está na afirmação de que a “prisão antes do trânsito em julgado da condenação somente pode ser decretada a título cautelar” (BRASIL, 2016), evidenciando que o trânsito em julgado seria um conceito essencial para a compreensão da presunção de inocência. Mais ainda, verifica-se que o STF avançou com relação à consequência da culpabilidade intrincada no princípio em exame, que não se restringiria apenas à inscrição do réu no rol de culpados, mas, exatamente, na privação da liberdade decorrente da pena. O posicionamento foi adotado em julgamento ocorrido em 5 de fevereiro de 2009. Desde então, deixaram a composição da casa os então ministros Ellen Gracie, Cezar Peluso, Ayres Britto, Joaquim Barbosa, Eros Grau e Menezes Direito, ingressando na casa 6 novos ministros, Dias Toffoli, Luiz Fux, Rosa Weber, Teori Zavascki, Roberto Barroso e Edson Fachin. A substituição dos ministros da corte, associada certamente a fatores jurídicos e sociais, trouxe-nos até o cenário de modificação do entendimento. Em maio de 2016, foi publicado acórdão do plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC 126292 modificando substancialmente o entendimento anterior, sendo assim ementado: “CONSTITUCIONAL. HABEAS CORPUS. PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA (CF, ART. 5º, LVII). SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA CONFIRMADA POR TRIBUNAL DE SEGUNDO GRAU DE JURISDIÇÃO. EXECUÇÃO PROVISÓRIA. POSSIBILIDADE. 1. A execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau de apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não compromete o princípio constitucional da presunção de inocência afirmado pelo artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal.” (BRASIL, 2016) O julgamento não foi unânime, sendo vencidos 4 ministros, e os ministros que votaram pela modificação do entendimento manifestaram-se conforme fundamentos diversos, para permitir a execução provisória da pena. O plenário alterou a jurisprudência afirmando ser possível a prisão após 2ª instância. Na ocasião, a guinada jurisprudencial foi capitaneada pelo ministro Teori Zavascki. O entendimento foi firmado em um remédio heroico, quer dizer, só dizia respeito ao caso concreto. A mudança gerou insegurança jurídica: os próprios ministros da Corte passaram a decidir, monocraticamente, de formas distintas. Em outubro de 2016, o novo posicionamento foi mantido, mas em julgamento de liminares das ADCs 43, 44 e 54 ajuizadas pelo PEN – Partido Ecológico Nacional (atual Patriota), o Conselho Federal da OAB e o PcdoB – Partido Comunista do Brasil com o objetivo de examinar a constitucionalidade do artigo 283 do CPP, que prevê, entre as condições para a prisão, o trânsito em julgado da sentença condenatória. Finalmente em novembro de 2019, o plenário do STF finalizou o polêmico julgamento da possibilidade de prisão após condenação em 2ª instância. Por 6 a 5, os ministros decidiram que não é possível a execução da pena depois de decisão condenatória confirmada em 2ª instância. No entendimento dos Ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e a ministra Cármen Lúcia, a possibilidade do cumprimento da pena após a condenação em 2º grau não desrespeita o princípio da presunção de inocência. A ministra Cármem Lúcia ressaltou a importância da eficácia do Direito Penal, que se afirma pela certeza do cumprimento das penas daqueles que cometeram delitos. Para ela, caso contrário, o que se impera é a crença da impunidade. Votaram contra a prisão em 2ª instância os Ministros Rosa Weber, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Dias Toffoli acompanhando o relator, Marco Aurélio de Mello. Para o relator, a CF é clara quanto ao princípio da presunção de inocência e não abre campo para controvérsias semânticas. Gilmar Mendes ressaltou a constitucionalidade de dispositivo do CPP, afirmando que ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva. Abaixo podemos ver o julgado com o atual entendimento da Corte: EMENTA “PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. INÍCIO DO CUMPRIMENTO DA PENA. TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA PENA CONDENATÓRIA. POSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE AFROTNA À CONSTITUIÇÃO . WRIT PREJUDICADO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I - Após o agravante ter sido processado e julgado, originariamente, pela Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, teve seu recurso extraordinário negado, bem como os sucessivos agravo regimental e embargos declaratórios, operando-se o trânsito em julgado em 28/11/2018. II - O trânsito em julgado da sentença penal condenatória possibilita o início do cumprimento da pena sem qualquer afronta à garantia constitucional da presunção de inocência. III – Agravo regimental a que se nega provimento. STF - AG.REG. NO HABEAS CORPUS AgR HC 135650 GO GOIÁS 4002461- 26.2016.1.00.0000 (STF) – Jurisprudência • Data de publicação: 28/02/2019” Conclusão A Constituição Federal de 1988 definiu barreiras, em seu art. 60, 4º, denominadas de cláusulas pétreas, a saber: a forma federativa de Estado; o voto direto, secreto, universal e periódico; a separação dos Poderes; e os direitos e garantias individuais. A presunção de inocência integra a cláusula pétrea dos direitos e garantias individuais. A Constituição trata da norma abstrata, e a Código de Processo Penal, da questão concreta. A Carta fala "ninguém será considerado culpado", e o CPP, “ninguém poderá ser preso”. Não é uma questão de semântica. "Culpado" quer dizer "culpado", condição irrecorrível que é dada pela Justiça. Se existe o recurso, "culpada", perante a lei, a pessoa ainda não é, mesmo que se tenha a certeza de ser ela a responsável pelo fato gerador da ação penal. E "trânsito em julgado" significa que se chegou ao limite instransponível da decisão, não havendo mais espaço para arguição de nenhuma natureza. O Código de Processo Penal trata da prisão, não da culpa; A prisão decorre da culpa, não o contrário. Há que se optar por prestigiar o princípio da segurança jurídica e manter a jurisprudência da Casa. Embora sejam pertinentes as ponderações suscitadas nos votos contrários não se pode falar em alterar uma cláusula pétrea e ignorar o princípio da presunção de inocência.
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