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Momento Letras EAD 2020.1 ESTRATÉGIAS DE LEITURA E COMPREENSÃO TEXTUAIS Prof. Me. Neilton Lima Definida como a disciplina linguística que estuda os recursos afetivo- expressivos da língua (ou sistema, no sentido estruturalista de Ferdinand de Saussure), a Estilística é uma ciência recente (fundada no início do século XX pelo suíço Charles Bally e o alemão Karl Vossler), mas um saber muito antigo, que remonta à tradicional Retórica dos gregos. Dividida por Pierre Guiraud (1970: 62) em Estilística da língua ou da expressão (linha estruturalista de Bally: ênfase à expressividade latente no sistema) e Estilística genética ou do autor (corrente idealista de Vossler e Leo Spitzer: ênfase à criação expressiva individual), trabalha com algumas categorias básicas, como funções da linguagem, estilo, desvio e escolha. (In: Castelar de Carvalho (UFRJ, ABF) http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno12-02.html. Acesso em 28 maio 2020) http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno12-02.html Machado de Assis optou pelo desvio gramatical, para poder reproduzir com fidelidade a fala do escravo Prudêncio em Memórias Póstumas de Brás Cubas (LXVIII): “É um vadio e um bêbado muito grande. Ainda hoje deixei ele (e não deixei-o) na quitanda, enquanto eu ia lá embaixo na (e não à) cidade”. António Vieira, em que o autor, com o intuito de valorizar cada núcleo do sujeito composto, preferiu deixar o verbo no singular: “Mas nem a lisonja, nem a razão, nem o exemplo, nem a esperança bastava (e não bastavam) a lhe moderar as ânsias”. Drummond, para enfatizar a importância do deus Kom Unik Assão, não hesitou em transgredir a norma gramatical a respeito da formação do plural: “Eis-me prostrado a vossos peses / Que sendo tantos todo plural é pouco”. Quanto às relações entre a Estilística e a Gramática, cabe salientar que essas duas disciplinas não são excludentes, ao contrário, são complementares, como adverte o professor Evanildo Bechara (1999, p. 615): “Ambas se completam no estudo dos processos do material de que o gênero humano se utiliza na exteriorização das ideias e sentimentos ou do conteúdo do pensamento designativo”. Oswald de Andrade: “Pronominais” Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da raça brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro. Manuel Bandeira: “Irene no Céu” Irene preta Irene boa Irene sempre de bom humor. Imagine Irene entrando no céu: Licença, meu branco? E São Pedro bonachão: – Entra, Irene. Você não precisa pedir licença. Oxímoro (ou Paradoxo) é uma construção textual que agrupa significados que se excluem mutuamente CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA FASE A manchete tem um duplo sentido, e isso dificulta o entendimento. Considerando o objetivo da notícia, esse problema poderia ter sido evitado com a seguinte redação: a) Campanha contra o governo do Estado e a violência entram em nova fase. b) A violência do governo do Estado entra em nova fase de Campanha. c) Campanha contra o governo do Estado entra em nova fase de violência. d) A violência da campanha do governo do Estado entra em nova fase. e) Campanha do governo do Estado contra a violência entra em nova fase. Cidade Grande Que beleza, Montes Claros. / Como cresceu Montes Claros. / Quanta indústria em Montes Claros. / Montes Claros cresceu tanto, / ficou urbe tão notória, / prima-rica do Rio de Janeiro, que já tem cinco favelas / por enquanto, e mais promete. (Carlos Drummond de Andrade) Entre os recursos expressivos empregados no texto, destaca-se a: a) metalinguagem, que consiste em fazer a linguagem referir-se à própria linguagem. b) intertextualidade, na qual o texto retoma e reelabora outros textos. c) ironia, que consiste em se dizer o contrário do que se pensa, com intenção crítica. d) denotação, caracterizada pelo uso das palavras em seu sentido próprio e objetivo. e) prosopopéia, que consiste em personificar coisas inanimadas, atribuindo- lhes vida. Considerando-se a relação Veneza (cidade) — gaturamo (pássaro) como modelo, as palavras que sucessivamente completariam a relação: Califórnia — pretos — morrer — Gioconda — cem mil réis, seriam: a) estado, raça, ação, escultura, dinheiro b) país, povo, fato, escultura, valor c) província, etnia, acontecimento, literatura, moeda d) estado, raça, acontecimento, pintura, valor e) território, gente, ação, música, moeda A Internet não é simplesmente uma tecnologia; é o meio de comunicação que constitui a forma organizativa de nossas sociedades; é o equivalente ao que foi a fábrica ou a grande corporação na era industrial. A Internet é o coração de um novo paradigma sociotécnico, que constitui na realidade a base material de nossas vidas e de nossas formas de relação, de trabalho e de comunicação. O que a Internet faz é processar a virtualidade e transformá-la em nossa realidade, constituindo a sociedade em rede, que é a sociedade em que vivemos. CASTELLS, M. Internet e sociedade em rede. In: MORAES, D. (org.) Por uma outra comunicação: mídia, mundialização cultural e poder. Rio de Janeiro: Record, 2003, p. 287. Considerando o texto acima, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I. As teorias da comunicação estudam não só os meios e seus produtos, mas o ambiente simbólico que se instala a cada nova tecnologia, suas significações, seus processos e suas implicações sociais. PORQUE I. A Internet, como espaço de convergência de mídias, é o meio que possibilita uma nova configuração social, em que a lógica da “rede” redefine os processos de comunicação. Acerca dessas asserções, assinale a opção correta. A) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. B) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. C) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. D) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. E) As asserções I e II são proposições falsas. O conhecimento prévio do leitor é fundamental para a compreensão do texto, fazendo com que ele, através das inferências, alimente o texto com diversas informações, construindo o significado daquele. Além destes preceitos, temos duas atividades relevantes para a compreensão do texto escrito e/ou falado: o estabelecimento de objetivos e a formulação de hipóteses, ambas de natureza metacognitiva, refletindo e controlando conscientemente o próprio conhecimento a respeito do ato de construir o texto. Após estes dados extralinguísticos ou contextuais, temos agora os linguísticos ou cotextuais, tais como: a coesão e a estrutura do texto, suas marcas formais, além da coerência. Abelhas, leões e paixões súbitas Generalizávamos muito, Júlio e eu. Quando aprendemos, por exemplo, que não devíamos correr de leões, aplicamos a técnica a todos os outros bichos. Sabíamos que quando um leão aparece na nossa frente, devemos nos fazer de estátua. Depois de algumas horas, o leão naturalmente vai embora. Assim, certa vez, quando chupávamos picolé de limão num dia quente e enfadonho, e fomos atacados por abelhas, decidimos que era hora de aplicar nossos conhecimentos de sobrevivência na selva. Júlio congelou no ato. Boca aberta, língua de fora. Olhou para mim como quem diz: não se mexa! Eu dei sorte de estar com a boca fechada, língua para dentro. As abelhas, vendo nossa nova técnica, rapidamente chamaram as colegas. Gritaram: “Corram! Corram! Encontramos dois idiotas!” Foram pousando no picolé, nariz, aro dos óculos, língua... Júlio se manteve firme, lágrimas escorriam. Só saiu gritando depois da primeira picada, na língua. Decidi, ali, que ele era digno do meu amor. (Índigo. Cobras em compota, 2005)
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