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Introdução Dado que a constituição estipula direitos de propriedade (não absolutos), cabe, portanto, demonstrar os princípios básicos que justificam a intervenção do Estado na propriedade. São eles: garantir o cumprimento da função social da propriedade (fatores limitantes) e do princípio da supremacia do interesse público. O segundo fundamento está intimamente relacionado à função social da propriedade. Quando se fala em intervenção do Estado na propriedade deve discutir a hegemonia do interesse público, ou seja, a intervenção do Estado não é apenas para garantir a função social da propriedade, mas também pela supremacia do interesse público. A intervenção do Estado na propriedade pode ser entendida como uma atividade estatal que visa ajustar e conciliar o uso da propriedade privada com os interesses da comunidade. É o estado, a fim de defender o interesse público, as restrições ao uso da propriedade privada. O país tem demonstrado preocupação com o bem-estar social. Para progredir nesta área, é necessário que o governo intervenha para reconciliar coisas que são particularmente benéficas para o benefício da comunidade, para garantir a segurança e as condições de ida, e para restringi-las através de vários métodos prescritos nos exemplos de intervenção do Estado na propriedade. É preciso deixar claro que tem como competência legislar diante o direito de desapropriação, de propriedade e requisição a União. No entanto, a competência para legislar as restrições e condições para o uso de bens na legislação é dividida pelos governos federal, estadual, distrito federal e municipal. Portanto, a intervenção do Estado na propriedade é uma clara demonstração da supremacia do interesse público sobre o privado. Ou seja, O estado pode estabelecer restrições unilaterais que obrigarão o proprietário de um bem a submeter- se as determinações do Estado, adequando a sua propriedade para uso do interesse público. Intervenção supressiva e restritiva A intervenção do Estado na propriedade, manifesta-se de duas formas seguimento, sendo elas restritiva ou supressiva, cada uma delas com suas especificidades e características. As intervenções restritivas restringem o direito de propriedade, permanecendo o bem como propriedade do particular, mas ficando sujeito a restrições que são impostas pelo Estado. Ou seja, na intervenção restritiva o direito de propriedade é limitado, sem a tomada de bem do particular. Esse tipo de intervenção decorre do poder de polícia que o Estado possui, regulamentado no artigo 78 do Código Tributário Nacional, onde está definido que o Estado poderá impor restrições ao exercício do gozo na disposição da propriedade privada. Como exemplos de intervenção restritiva temos: a Servidão Administrativa, as Limitações Administrativas, a Requisição, a Ocupação Temporária e o Tombamento. Em contrapartida, a intervenção supressiva retira o direito de propriedade do particular transferindo-o para o Estado. Como exemplo, temos a desapropriação, que estudaremos mais a frente. Portanto, nesta modalidade o estado encaminha, coercitivamente, para si próprio a propriedade de terceiro, visando o interesse publico, podendo ser por meio de indenização ou sem qualquer espécie de pagamento. Desapropriação A desapropriação é uma modalidade supressiva que consiste no procedimento administrativo por meio do qual o Estado transfere a propriedade privada de um determinado bem para o poder público, por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante o pagamento de indenização prévia, justa e em dinheiro. Art. 5º da Constituição Federal. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvada os casos previstos nesta Constituição; A desapropriação por utilidade pública é regulamentada pelo decreto de lei 3.365/41, lei que trás as hipóteses de utilidade pública. São situações que o Estado desapropria um bem para ele possa utilizar, seja para fazer uma obra ou prestar um serviço. Ou seja, desapropria para a sua própria utilização. Já a desapropriação por interesse social está regulamentada na Lei 4.132/62, e, tem como objetivo dar uma função social para a propriedade, podendo o Estado desapropriar para uso dele mesmo ou para passar para terceiros como em casos de reforma agrária. ou seja, o Estado não tem necessidade de utilizar a propriedade mas desapropria para que a mesma passe a ter uma função social Tanto a desapropriação por utilidade pública quanto a desapropriação por interesse social são consideradas desapropriações por interesse comum, sendo efetivadas mediante indenização em dinheiro. Todavia, além das desapropriações comuns temos as desapropriações especiais, que, são desapropriações onde as indenizações não são pagas em dinheiro, sendo criadas apenas pela Constituição Federal e surgem da regra geral do art. 5°, XXIV. Existem três desapropriações especiais regulamentadas na Constituição. O artigo 182 regulamenta a desapropriação especial urbana, quando o imóvel urbano não cumpre uma função social prevista no plano diretor da cidade, então, o poder público passa a tomar algumas providências sucessivas, notificando o proprietário para que faça o parcelamento ou a edificação do terreno, devendo no prazo de um ano apresentar o projeto e em dois anos da apresentação do projeto para que dê início as obras. Caso o proprietário não o faça aplica-se a incindência do IPTU com alíquota progressiva no tempo, ou seja, como forma de coerção o IPTU passa a aumentar progressivamente, até 15% da alíquota, pelo prazo de cinco anos. Se ainda assim o proprietário não der uma função social ao bem, incide-se a desapropriação como forma de sanção, sendo a indenização paga em títulos de dívida pública que podem ser resgatados em até dez anos a partir da emissão. Cabe ressaltar, ainda, que a usucapião especial urbana é de competência exclusiva do município, porém, apenas de municípios que possuem plano diretor, pois o plano diretor é quem define a função social da propriedade urbana. Já os 184 a 186 preveem a desapropriação especial rural, que é exclusiva da união. São imóveis que, assim como na desapropriação especial urbana, não cumprem com uma função social, e, dessa forma, é desapropriada para fins de reforma agrária, sendo essa a sua única destinação. Ademais, a indenização também não é paga em dinheiro, e sim, em títulos da dívida agrária resgatáveis em até vinte anos e a partir do segundo ano de emissão. É importante ressaltar que, o artigo 185, da CF, estabelece vedações, não sendo possível a desapropriação especial urbana sobre a pequena e média propriedade e sobre a propriedade produtiva, com pagamento com títulos da dívida agrária. Confisco Já o artigo 243, da Constituição Federal, há a desapropriação confisco ou expropriação, que é de competência da União. Essa desapropriação não é indenizada, nem com dinheiro nem com títulos, sem direito, o sujeito perde o bem. Essa desapropriação é aplicada em duas hipóteses, sobre bens imóveis utilizados para plantação de psicotrópicos ou exploração de trabalho escravo, e os bens móveis que são utilizados para o tráfico de drogas e entorpecentes, após isso serão dadas novas destinações a esses bens, conforme previsão legal, os bens imóveis rurais para reforma agrária, os imóveis bens urbanos para programas de habitação popular e os bens móveis serão destinados a um fundo especial para combater o tráfico e a recuperação de viciados. Existem dois motivosque geram esse confisco, o primeiro é o fato de no imóvel estar localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas (drogas que atuam sobre o nosso cérebro, alterando de alguma maneira o nosso psiquismo), e o segundo, o fato de no imóvel haver exploração de trabalho escravo. A doutrina no início afirmava que a desapropriação confisco deveria se limitar a área onde havia o cultivo ilícito, mas a jurisprudência não seguiu essa linha, nela foi decidido que tanto quem fizesse esse tipo de cultivo quanto quem utilizava o imóvel para mão de obra escrava sofreria essa desapropriação da propriedade, e não de apenas parte dela, mas sim dela por completo inclusive os bens móveis e os materiais que eram usados na exploração das pessoas ou no cultivo das plantas. Então a desapropriação confisco não abrange apenas a área das atividades ilícitas do referente artigo, mas também os materiais necessários para que elas ocorressem. Eis o artigo: Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei. Em seio infraconstitucional, a presente expropriação, é regulada pela Lei 8.257/91 que em seu artigo primeiro praticamente repete ipsis litteris o artigo 243 da Norma Maior. Competência para desapropriar A união detém a competência para legislar sobre o direito civil, podendo editar leis que versem acerca do direito de propriedade e outros direitos reais em conformidade com o artigo 22, I, da Constituição Federal. Todavia, deve-se atentar que a Lei complementar pode autorizar que os estados legislem em questões específicas. Já a competência declaratória é concorrente de todos entes federativos, possuindo eles autonomia para declarar a utilidade pública ou o interesse social de bens privados para desapropriação . Por fim, a competência executiva, que é incondicionada, sendo conferida, primeiramente, ao ente federativo que declarou, mas é admitida delegação à entes da administração indireta, concessionárias de serviços públicos, e, inclusive, consórcios públicos que são firmados nos moldes da lei 11.107/05 (Lei dos Consórcios Públicos). Procedimento de desapropriação A desapropriação deverá ser realizada de acordo com os procedimentos administrativos previstos em lei, dentre os quais, garantir que o particular expropriado tenha o direito ao contraditório e ampla defesa. Não sendo resolvido em via administrativa realiza-se o procedimento em juízo. Este procedimento desenvolve-se em duas fases: fase declaratória, onde o Estado declara por meio de decreto ou Lei efeitos concretos a utilidade pública e o interesse social do bem, e, a fase executória, na qual o Estado ou alguém atuando por delegação paga e executa a desapropriação. Ação de desapropriação Caso não haja acordo do particular e do Estado, propõe-se uma ação de desapropriação onde será determinado o pagamento da propriedade, onde caberá ao juízo considerar justo ou não o valor da indenização que foi oferecido pelo Estado. A ação será por rito especial, proposta pelo ente expropriante, sendo o particular chamado para contestar a ação, podendo ser discutido apenas o quantum indenizatório no mérito da ação, vícios processuais, devendo qualquer outra ilegalidade presente no ato da desapropriação ser discutido através de ação direta, proponho ação ordinária requerendo a anulação do ato. Após a sentença, o ente federativo pagará o valor restante ao que foi depositado em juízo quando requereu a emissão provisória da posse, respeitando ordem cronológica de pagamento de precatórios. E, após a sentença transitar em julgado, transfere-se a propriedade. É importante salientar que, desse valor residual que será pago por ordem cronológica de pagamento de precatórios incidirá correção monetária, juros compensatórios, juros moratórios e honorários advocatícios, podendo esses valores ser ingressados no mesmo processo. Direito de extensão Quando o Estado desapropriar um terreno parcialmente e deixar uma área remanescente que sozinha que não poderá ser aproveitada surgirá ao proprietário o direito de extensão, ou seja, o proprietário terá o direito que o Estado estenda a desapropriação ao terreno como um todo e o indenize por todo o terreno. É possível, ainda, pleitear a extensão de desapropriação na contestação a desapropriação. Tredestinação e retrocessão A tredestinação é o desvio de finalidade no ato de desapropriação, a finalidade é alterada. O bem que seria destinado à determinada função é destinado a outra, mudando sua finalidade específica, mas mantendo a busca pelo interesse público, trata-se de uma tredestinação lícita, não havendo possibilidade anulação do ato de desapropriação. Todavia, em desapropriações especiais com destinação vinculada não pode receber outra finalidade, ainda que mantenha a busca do interesse público. Há ainda situações em que o estado desapropria ao bem para determinado fim, e, posteriormente, não dá nenhuma destinação ao bem e passa o mesmo para um terceiro, alienando-o, sendo totalmente ilícito, gerando para o antigo proprietário do bem o direito de retrocessão, ou seja, o direito de reaver o bem desapropriado. Limitação administrativa É uma intervenção restritiva na propriedade privada de caráter geral, não incidindo apenas sobre um bem e sim sobre todos os bens que possam estar na mesma situação jurídica. É uma determinação estabelecida por lei ou ato administrativo, de caráter geral e voltada para proprietários indeterminados, através da qual o Poder Público unilateralmente condiciona o exercício do direito propriedade à observância de determinadas exigência legais, que podem implicar obrigações positivas, tais como a limpeza de terrenos ou negativas, como a construção de edifícios até determinada altura preestabelecida, em benefício do bem-estar social. Em regra, não geram direito a indenização. É possível observar de forma notória que as limitações administrativas afastam o caráter absoluto do direito de propriedade e decorrem do poder de polícia conferido à Administração Pública. Poder de polícia Inicialmente analisaremos o artigo 78 do Código Tributário Nacional - Lei nº 5.172/1966, que define o conceito de poder de polícia. Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interêsse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de intêresse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. (Redação dada pelo Ato Complementar nº 31, de 1966) Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder. O poder de polícia é um instrumento do estado em uma supremacia sobre o interesse do particular que cria limitações e restrições sobre a liberdade e propriedade deste, para tornar possível a vida em sociedade. O mesmo ainda recebe o nomede limitações administrativas a liberdade e propriedade, por correntes negacionistas que rejeitam a possibilidade do estado de intervir na liberdade e propriedade do indivíduo. Carvalho Filho conceitua o poder de polícia como: “a prerrogativa de direito público que, calcada na lei, autoriza a Administração Pública a restringir o uso e o gozo da liberdade e da propriedade em favor do interesse da coletividade.” Esse poder ocorre quando o estado intervém na esfera privada do indivíduo, sendo um instrumento que o direito confere a administração pública, para que a mesma tutele valores como a ordem pública, saúde pública e tranquilidade. Sobe o fundamento da supremacia do interessante público quanto ao privado. Toda atividade que denominamos poder de polícia é uma atividade restritiva da liberdade e propriedade dos particulares, não podendo ser confundido com serviço público que se trata de uma atuação ampliativa que oferece comodidades e utilidades para o particular. O poder de polícia em regra cria para o particular, obrigações de não fazer. Porém excepcionalmente pode se apresentar para o particular de forma positiva, criando obrigações de fazer. Quando se fala nas instituições de polícia de segurança, existe uma diferenciação importante na polícia administrativa e a polícia judiciária, a polícia administrativa nas entidades de segurança pública tem uma atuação preventiva, já a polícia judiciária exerce dentro da segurança pública um caráter repressivo, como regra, atua após a decorrência do crime para apuração de autoria e materialidade. A polícia administrativa tem sua atuação regida pelo direito administrativo, enquanto que a polícia jurisdicional tem sua atuação regida pelo direito processual penal. A doutrina divide o poder de polícia em quatro ciclos, limitação, consentimento, fiscalização e sanção. A limitação consiste na própria criação de regras restritivas. O consentimento compreende aos particulares interessados em exercer uma atividade, que procurem a organização administrativa competente, abram um processo, preencham os requisitos legais e paguem uma taxa, a fim de quer o poder público libera o exercício da mesma. A fiscalização as entidades administrativas competentes no exercício de poder de polícia vão procurar os particulares, mediante denúncia ou ofício para verificar se aquela atividade que o particular exerce está licenciada, ou nos termos do alvará. Por fim, mas não mesmo importante a sanção permite que o poder público ao exercer a fiscalização do poder de polícia e constatar que o particular estar executando a atividade sem o alvará ou fora dos limites do mesmo, aplique uma punição. Diante de todos os instrumentos que o estado tem, para limitar a propriedade privada em favor do interesse público, o poder de polícia é um desses, sendo uma forma de intervenção que não suprime o domínio, ou seja, o estado cria restrições à propriedade do particular sem incorporar a propriedade ao domínio público, em outras palavras, o poder de polícia não é uma desapropriação. Outro ponto importante é a questão da delegabilidade do poder de polícia a particulares. A doutrina em regra não aceita no Brasil que o poder de polícia seja desempenhado por particulares ou pessoas jurídicas estatais do direito privado, porque o poder de polícia é uma manifestação da supremacia do direito público quanto ao privado, só podendo assim ser desempenhados por pessoas jurídicas de direito público estatal, ou seja, união, estados, Distrito Federal, municípios, e autarquias. Algumas dos atributos essências do poder de polícia são; discricionariedade, autoexecutoriedade e coercibilidade. A respeito da discricionariedade Celso Antônio Bandeira de Mello discorreu; “Em rigor, no Estado Democrático de Direito, inexiste um poder, propriamente dito, que seja discricionário fruível da Administração Pública. Há, isto sim, atos em que a Administração Pública pode manifestar competência discricionária e atos a respeito dos quais a atuação administrativa é totalmente vinculada. Poder discricionário abrangendo toda uma classe ou ramo de atuação administrativa é coisa que não existe”. (MELLO, 2009, p.829) A um juízo de conveniência e oportunidade para prática do ato. A receita federal vai fiscalizar as declarações de imposto de renda que haja indício de prejuízo, diante de caso concreto a mesma vai verificar qual atividade, infração ou multa que serão aplicados. Pode haver atos vinculados, mas como regra são discricionários. Quanto a autoexecutoriedade, permite a auto execução dos atos que emanam do poder de polícia, ou seja, a administração pública não precisa de ordem judicial para executar o exercício do mesmo, pois são realizados em via administrativa, sendo imediatos. A Coercibilidade , por sua vez demostra a imperatividade dos atos de policia, quanto ao poder de obrigar ou forçar a realização do que foi imposto. O particular que for sujeito ao exercício do poder de polícia, é obrigado a cumprir o auto de infração. Posto isto, concluísse a importância do poder de policia para conciliar os interesses privados e os interesses da coletividade. Servidão administrativa A servidão trata-se de um direito real da coisa alheia incidindo sobre bens específicos e imóveis, para servir entes a prestação de um determinado serviços públicos, sendo a mesma perpétua, todavia, podendo ser desfeita caso não haja mais interesse público na utilização do bem, se o bem desaparecer ou se houver de consolidação A Constituição Federal prevê a possibilidade de intervenção do Estado na propriedade privada, nas hipóteses em que a mesma não esteja cumprindo sua função social . Dessa forma, o Estado utiliza esses meios de intervenção como forma de assegurar que o exercício do direito de propriedade efetive-se e cumpra a sua finalidade social. A Servidão administrativa é uma modalidade de intervenção restritiva que consiste em exercer o direito pelo poder público, pode ser mais especificamente definido como o direito real de gozo do Poder Público (União, Estados, Município.) sobre propriedade alheia de acordo com o interesse da coletividade. Maria Sylvia Zanella di Pietro conceitua servidão administrativa como sendo: "o direito real de gozo, de natureza pública, instituído sobre imóvel de propriedade alheia, com base em lei, por entidade pública ou por seus delegados, em face de um serviço público ou de um bem afetado a fim de utilidade pública". Como característica da servidão podemos citar, ônus real de uso imposto pela Administração, ela ocorre para a realização de obra ou serviço público de interesse coletivo, a mesma incide apenas sobre bens imóveis, ainda, Instituída por decreto e efetivada por acordo administrativo ou sentença judicial e deve ser registrada no Cartório de Registro de Imóveis para possuir efeito erga omnes Artigo 10 e 40 do Decreto Lei nº 3.365 de 21 de Junho de 1941 Art. 40. O expropriante poderá constituir servidões, mediante indenização na forma desta lei. (Vide Decreto nº 35.851, de 1954). Art. 10. A desapropriação deverá efetivar-se mediante acordo ou intentar-se judicialmente, dentro de cinco anos, contados da data da expedição do respectivo decreto e findos os quais este caducará. (Vide Decreto-lei nº 9.282, de 1946). Neste caso, somente decorrido um ano, poderá ser o mesmo bem objeto de nova declaração. Parágrafo único. Extingue-se em cinco anos o direito de propor ação que vise a indenização por restrições decorrentes de atos do Poder Público. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001). http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 Tombamento O tombamento é a forma de intervenção do Estado na propriedade que visa proteger e conversar o patrimônio cultural brasileiro, tuteladopelo art.216 da CF/88, impondo ao proprietário obrigações positivas, como promover reformas e outras obras de conservação; negativas, como não alterar determinadas características do bem; ou permissivas, que deverão permitir a fiscalização do órgão responsável, com relação ao bem tombado. O patrimônio brasileiro compõe o chamado meio ambiente cultural. O art. 1° do Decreto-Lei 25/37, que regula o tombamento, conceitua patrimônio histórico e artístico nacional como: “O conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. Conforme disposto no art. 24, VII, da CF/88, a competência para legislar sobre proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico é concorrente entre a União, os Estados e o Distrito Federal. Mas a competência material para instituir o tombamento é comum dos entes federados. Podem ser tombados bens móveis ou imóveis, de natureza material ou imaterial, públicos ou particulares de interesse cultural ou ambiental. O tombamento não retira do proprietário o domínio do bem, que pode inclusive ser vendido, mas apenas limita o direito de usar; gozar e dispor da coisa tombada. Tratando-se de bens imóveis, o proprietário não poderá fazer alterações, com reformas, reparos, pinturas etc., sem antes buscar a assistência e autorização dos órgãos responsáveis. Deverá também promover diversas medidas de conservação do bem, estabelecidas por ocasião do tombamento, devendo comunicar ao órgão responsável caso não tenha condições financeiras de suportar o custo de tais medidas, sob pena de ser multado. Neste caso, caberá ao Poder Público o custeio das intervenções necessárias à conservação. Por fim, os proprietários são obrigados a se submeter a fiscalização dos órgãos administrativos competentes. Requisição administrativa A requisição administrativa tem sua base no artigo 5°, inciso XXV da Constituição Federal, sendo um artigo autoexplicativo, ele estabelece uma regra simples de requisição, vejamos: XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano; Ou seja, em situações de iminente perigo público o estado poderá requisitar o bem de um particular para que possa resolver a situação de perigo, e, posteriormente, caso haja dano, o estado indenizará. Cabe ressaltar que, a competência legislativa para tratar de requisições é privativa da união como previsto artigo 22, inciso III, da Constituição Federal, compete privativamente à união legislar sobre requisições civis e militares em caso de iminente perigo e em tempo de guerra. Um grande exemplo de requisição administrativa é em casos enchentes onde há grande destruição de moradias, e, consequentemente, várias pessoas ficam desabrigadas e o Estado requisita um galpão ou outro local diverso de um particular e coloca essas pessoas. Então a requisição é uma situação de perigo, requisita-se o bem do particular e em caso de dano, posteriormente, o mesmo será indenizado, tendo um prazo de 5 (cinco) anos para solicitar a indenização. Ademais a requisição pode incidir sobre bens móveis, imóveis e sobre serviços. Celso Bandeira de Mello nos traz um exemplo claro de requisição administrativa de serviços ao afirmar que, os homens são reservistas, e, caso haja uma guerra, o Estado poderá requerer os serviços para a guerra e caso venha a morrer indeniza-se a família do de cujus, não havendo problema algum nesta indenização posterior em caso de dano. É possível, ainda, a requisição de bens consumíveis, classificado no direito civil com aquele bem que no primeiro uso perde a sua utilidade. Todavia no momento que se requisita esse bem já se sabe que após o uso não há o interesse de devolver, devendo então pagar o valor dele. No entanto há uma ressalva, para que não confundamos essa requisição de bens consumíveis com desapropriação. A doutrina diz que os bens consumíveis podem ser requisitados desde que eles sejam fungíveis, ou seja, se o estado tiver como requisitar e depois devolver outro bem exatamente igual. Entretanto, se for um bem consumível e infungível, que o Estado não terá como devolver outro bem igual, não se caracterizará como requisição e sim como desapropriação, porque o Estado estará tomando o bem sabendo que não haverá a possibilidade de devolver igual. Então, por exemplo, o Estado pode requisitar roupas de uma loja para que possa garantir agasalho de pessoas, mas não pode requisitar roupas de um particular porque essas peças são pessoalizadas, ou seja, são infungíveis. Ademais, É importante ressaltar que, em nosso momento atual de enfrentamento da COVID-19, o poder público pode requisitar e assumir o controle de um hospital particular, é o que fundamenta o artigo 15, XIII, da lei 8.080/90 e a recente lei 13.9979/2020 em seu artigo 7°, VII. Ocupação Temporária A ocupação temporária é a forma de intervenção do Estado em que há a utilização temporária e compulsória pela Administração de bens imóveis privados, com ou sem remuneração, como local de apoio para a execução de obras ou serviços públicos em áreas vizinhas, como a utilização de terreno para alocação de maquinário durante obras em estradas. O art. 36 do Decreto-Lei 3.365/41 permite “a ocupação temporária, que será indenizada, afinal, por ação própria, de terrenos não edificados, vizinhos às obras e necessários à sua realização”. Neste caso específico, que pode ocorrer durante o processo de desapropriação, será devida a indenização, porque se pressupõe que o imóvel vizinho ao que foi desapropriado ficará ocupado por longo período. Nos demais casos de ocupação temporária, a indenização somente será devida pelos prejuízos efetivamente comprovados pelo proprietário. Conclusão Podemos notar que, a intervenção do Estado na propriedade privada a modifica totalmente, levando a mesma a cumprir um interesse público ou função social, visando beneficiar o coletivo, e, dessa maneira, surgindo um maior aproveitamento e finalidades diversas de alcance do bem-estar social. Todavia, necessita-se que o nosso poder judiciário tenha disposição pra empenhar de maneira significativa como meio garantidor de direitos individuais e coletivos, aplicando em cada caso concreto a melhor “tática” para que se alcance e proteja o direito de todos de maneira efetiva. Referências: BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 02 abr. 2021. ________. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Lei Orgânica da Saúde. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília, set. 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm>. Aceso em : 02 abr. 2021. ________. Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020. 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