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Júlia Figueirêdo – PINESC I PRECEITOS DO ACOLHIMENTO E DA HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE NOS DIFERENTES SETORES DA USF: Acolher um paciente é reconhecer sua necessidade legítima e individualizada em saúde, sendo o primeiro vínculo entre o usuário e a equipe, baseado em escuta ativa e qualificada, de modo a verificar estados de vulnerabilidade que possam influir o bem-estar pessoal. Esse momento é importante, pois o paciente possui um ideal próprio de saúde que deve ser compartilhado com os profissionais inseridos na atenção básica para que esses norteiem as estratégias de cuidado de modo a incluir ao máximo essas demandas únicas, além de que diversos casos que chegam a uma UBS ou USF podem ser resolvidos localmente sem a necessidade de encaminhamento a outros setores do SUS, garantindo assim a efetividade de seus princípios doutrinários. O fluxograma abaixo delimita o encaminhamento dos pacientes que chegam a uma UBS, evidenciando os momentos de acolhimento e as ações tomadas. O acolhimento divide-se em modelagens, aplicadas conforme a necessidade do usuário e disponibilidade da equipe, sendo corrigidas e reformuladas conforme as especificidades do meio de trabalho, a saber: Acolhimento pela equipe de referência do usuário: o paciente é amparado por profissionais da equipe de referência da unidade, havendo negociação das estratégias terapêuticas aplicáveis e favoráveis às duas partes. Sua vantagem é o aumento do vínculo entre a equipe e a comunidade, ao passo que a dificuldade reside na conciliação desses momentos com as demais atividades promovidas dentro e fora da UBS; Equipe de acolhimento do dia: ocorre em locais com amis de uma equipe residente, com a participação do enfermeiro e do técnico de enfermagem como mediadores do acolhimento, amparados pelo médico em atividade. Há um direcionamento da equipe de acolhimento para a rotina diária, alternando esses momentos com a equipe responsável pelos atendimentos na UBS. A vantagem desse método é manter o exercício normal de atividades na USF, entretanto o sentimento de responsabilização e vínculo são diminuídos devido à diferenciação entre quem acolhe o paciente e quem irá efetivamente atendê-lo; Acolhimento misto (equipe de referência do usuário + equipe atuante no dia): também aplicável à locais com mais de uma equipe, há uma delimitação máxima de usuários de demanda espontânea ou horário limite para o acolhimento, sendo que um dos enfermeiros e médicos se faz disponível para atender à demanda excessiva e realizar os atendimentos solicitados. Necessita de uma boa articulação entre as equipes para sua correta gestão; Júlia Figueirêdo – PINESC I Acolhimento coletivo: se dá no primeiro momento de funcionamento da unidade, no qual toda a equipe se reúne com os usuários presentes devido à demanda espontânea e usam esse ambiente como um meio de realizar escuta ativa e conversa com o grupo, podendo haver explicações acerca do funcionamento da UBS/USF e como são efetuadas as medidas de educação em saúde. É necessário que não haja atendimentos marcados para o início do turno, de modo a garantir a presença de toda a equipe nessa roda de diálogo. Deve ser associado a outra das formas de acolhimento, uma vez que pode ser afetado pelo constrangimento individual em meio comum, afetando a identificação de fatores de risco e sofrimento, o que justifica o exercício de novas formas de escuta mais reservadas. A avaliação de risco e vulnerabilidades tem como objetivo garantir a aplicação do princípio da equidade, estabelecendo e estratificando riscos, sejam eles biológicos (agudo ou não agudo) ou socioeconômicos (relativos a situações de vulnerabilidade). Esse processo auxilia a equipe a formular medidas integrais de cuidado, podendo recorrer a outros setores da máquina pública para fazê-lo, tudo orientado pelo processo de acolhimento. A Política Nacional de Humanização (HumanizaSUS, implementada em 2003) é uma medida que busca incluir trabalhadores, gestores e usuários dos serviços de saúde pública nos processos de produção e administração do cuidado e dos mecanismos de trabalho, orientando-se por meio da abordagem e inserção das diferenças no ato de cuidar. Para esse fim, a PNH incentiva a formação de rodas de conversa, incentivando a participação nas redes e movimentos sociais, de modo a consolidar mudanças de forma compartilhada. Para que esse processo seja efetivo, cabe a cada um de seus sujeitos compreenda seu protagonismo e corresponsabilidade para as práticas públicas, garantindo a aplicação dos princípios do SUS. A PNH tem como princípios: Transversalidade: essa política deve se fazer presente em todos os setores e programas do SUS, transformando as relações de trabalho por meio da ampliação do contato e comunicação interpessoal, rompendo as relações hierarquizadas de poder. Transversalizar é ampliar a toca de saberes entre profissionais de múltiplas especialidades e a população; Indissociabilidade entre atenção e gestão: uma vez que decisões administrativas influem diretamente na prestação de cuidado, cabe a população compreender como funciona esse mecanismo administrativo, como também é de sua responsabilidade participar ativamente na tomada de decisões nesse setor, o que é feito por meio dos Conselhos e Conferências de Saúde. Além disso, para a ampliação do cuidado, a comunidade deve se responsabilizar pelo cuidado de si mesmos durante o tratamento, assumindo seu protagonismo; Protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos coletivos: refere-se ao reconhecimento da autonomia e da vontade dos fatores humanos na execução dos serviços do SUS, assegurando e valorizando a Júlia Figueirêdo – PINESC I atuação cidadã na produção de saúde coletiva. Diretrizes também se prestam a reger o HumanizaSUS de forma ética e política, sendo elas: Acolhimento; Gestão participativa e cogestão: traz a coletividade para aos processos administrativos exercidos no SUS por meio da criação de rodas de conversa e grupos que, engajados, acrescentam informações ao mecanismo de tomada de decisões; Ambiência: consiste na criação de ambientes saudáveis e confortáveis, que, respeitando a privacidade, promovam mudanças no processo de trabalho e fomentando o encontro entre pessoas, o que pode ser obtido por meio de reformas e reorganização do espaço físico; Clínica ampliada e compartilhada: promove a ampliação do processo diagnóstico a fatores não orgânicos, considerando a singularidade do sujeito, aplicando assim ferramentas teórico-práticas que garantam o enfoque global do paciente; Valorização do Trabalhador: refere-se à participação dos trabalhadores no processo de tomada de decisões, dando visibilidade à sua experiência e aplicando seus conhecimentos acerca da qualificação dos processos de trabalho em medidas mais eficazes; Defesa dos direitos dos usuários: garantir o conhecimento dos direitos preconizados pelo SUS e sua aplicação em todas as fases do cuidado.
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